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Ijuí
2021
2021, Editora Unijuí
Editor
Fernando Jaime González
Diretor Administrativo
Anderson Konagevski
Capa
Alexandre Sadi Dallepiane
Imagem de capa:
Gabriel Wildner
Responsabilidade Editorial, Gráfica e Administrativa
Editora Unijuí da Universidade Regional
do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul
(Unijuí; Ijuí, RS, Brasil)
Catalogação na Publicação:
Biblioteca Universitária Mario Osorio Marques – Unijuí
E82
O estudo da cidade [recurso impresso e eletrônico]: das vivências
à formação cidadã / Helena Copetti Callai ...[et al.]. – Ijuí : Ed. Unijuí,
2021. 126 p. – (Coleção Ciências Sociais)
Formato impresso e digital.
ISBN 978-65-86074-77-2 (impresso)
ISBN 978-65-86074-76-5 (digital)
1. Educação. 2. Formação cidadã. 3. Cidades. 4. Cidadania.
5. Sociologia urbana. I. Callai, Helena Copetti. II. Série.
CDU: 911.3
Bibliotecário Responsável
Ginamara de Oliveira Lima
CRB10/1204
A
Coleção Ciências Sociais é um projeto editorial da Editora Unijuí em
colaboração com o Departamento de Humanidades e Educação (DHE) da
Unijuí, constituindo-se em espaço de interlocução que objetiva problematizar
as diferentes dimensões da experiência humana e que são objeto do que se convenciona
denominar área das Ciências Sociais, experiência essa que é objeto da pesquisa e da
extensão como fazeres da universidade e campo do conhecimento escolar, em especial da
Geografia, da História e da sociologia. Destina-se a Coleção a um público leitor dedicado
à pesquisa, ao fazer educativo e àqueles todos interessados nessa instigante problemática.
Conselho Editorial
Alfonso Garcia de la Vega (Universidad Autónoma de Madrid – Espanha)
Ana Maria Colling (Universidade Federal Grande Dourados – Brasil))
Beatrice Borghi (Universitá di Bologna – Itália)
Cláudia Eliane Ilgenfritz Toso (Instituto de Formaçao e Pesquisa J. Barcaro)
Cristhian Moreira Brum (Universidade Federal de Pelotas)
Dirce Maria Antunes Suertegaray (Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Brasil)
Edemar Rotta (Universidade Federal Fronteira do Sul – Brasil)
Enio Waldir da Silva (Unijuí – Brasil)
Francisco Florentino Garcia Perez (Universidad de Sevilla – Espanha)
Francisco Xosé Armas Quintá (Universidad de Santiago de Compostela – Espanha)
Helena Copetti Callai (Unijuí – Brasil).
Ivo dos Santos Canabarro (Unijuí – Brasil)
Jaeme Luiz Callai (Unijuí – Brasil)
Jussara Mantelli (Universidade Federal de Rio Grande – Brasil)
Marcelo Garrido Pereira (Universidad Metropolitana de Ciencias de la Educación –
Santiago de Chile)
Martin Kuhn (URI-FW – Brasil)
Raquel Pulgarin (Universidad de Antioquia – Colômbia)
Rosane Marcia Neumann (PPGH – Furg – Brasil)
Sérgio Claudino Loureiro Nunes (Universidade de Lisboa – Portugal)
Xosé Carlos Macía Arce (Universidad de Santiago de Compostela – Espanha)
Walter Frantz (Unijuí – Brasil)
Comitê de Redação
Enio Waldir da Silva
Helena Copetti Callai – Presidente
Jaeme Luiz Callai
Fernando Jaime González
Ivo dos Santos Canabarro
Walter Frantz
CIDADE
Se percorro a cidade
Se me exponho
E nela me movo
Me encontro
E me percebo
Ao perceber seus traços
Seus becos
Seus bairros
Suas praças e ruas
Ao analisar seus contornos
[...]
O todo
Do qual a cidade faz parte
É também o espaço
Que é seu
Nosso
É espaço do cidadão
Para se ver
Se perceber
Se pensar no pensar seus grupos
As suas comunidades
Sua multiculturalidade
E seu movimento contínuo
Entre lugar e mundo
Presente nas relações possíveis
Pela interação natureza-sociedade
Se me movo na cidade
Silencio minha voz
Jamais minha mente
E sigo atento
E continuamente mudo
Percorro
Percebo
Sinto
E sigo seu fluxo
Buscando entender de espaço,
De lugar, de território, de gente...
Recorro ao conhecimento
À escala geográfica
Que me sustenta epistemologicamente
Organizo as interpretações que faço
Considerando sempre
A cidade entre lugar e mundo
A cidade como território vivo
Como território que dialoga
E por vezes é tornado mudo
E muda a cada dia, cada segundo
Entre disputas, conflitos, poder,
Entre decisão, diálogo, desafio...
[...]
Cidade
De tanto jeito
De tanta gente
De tantos sonhos...
Tem gente cidadã
Gente com voz ativa
Outras tantas submissas
Invisibilizadas
Nem um pouco percebidas
E que precisam, todo dia,
Um pouco mais de dignidade
Para compreender a cidade
É preciso olhar o todo
Vivê-la com intensidade
Deslocar-se...
Conhecer seus patrimônios
Sentir suas diversidades
Pensar e repensar o lugar
Pertencimento e identidade
E, também, sua relação
Com outros tantos lugares
Que constituem o mundo
E, nessa relação sempre intensa
Construir-se cidadão
para compreender a realidade.
Carina Copatti
PREFÁCIO 1
Ou Sobre “Existir e Resistir” na/para a Cidade................13
PREFÁCIO 2
Palavras de Professora ..................................................19
CAPÍTULO 1
Um Projeto de Pesquisa, Seus Conceitos
Fundamentais e os Caminhos Percorridos......................25
CAPÍTULO 2
O Lugar: conceito e conteúdo no estudo da cidade........33
CAPÍTULO 3
Estudar Geografia: a cidade e a formação cidadã............49
CAPÍTULO 4
Os Princípios Geográficos e o Texto Literário
no Estudo da Cidade......................................................67
CAPÍTULO 5
A Escala de Análise Geográfica como Ferramenta
Teórico-Metodológica para o Ensino da Cidade.............85
CAPÍTULO 6
A Educação Patrimonial no Ensino da Cidade
e a Formação para a Cidadania ...................................105
REFERÊNCIAS...............................................................117
SOBRE OS AUTORES.....................................................123
PREFÁCIO 1
Ou Sobre “Existir e Resistir”
na/para a Cidade
Maio de 2021
PREFÁCIO 2
Palavras de Professora
1
Grupo de pesquisa Ensino e Metodologias em Geografia e Ciências Sociais (EMGEOCS,
Unijuí.)
2
“Escala de análise como ferramenta intelectual para educação cidadã: O estudo da
cidade como lócus de vida da população”, realizado a partir do edital 02/2017-PqG/
Processo de Outorga: 17/2551-0001 173-2.
22 Os Autores
Os autores
Capítulo
~~ 1 ~~
UM PROJETO DE PESQUISA,
SEUS CONCEITOS FUNDAMENTAIS
E OS CAMINHOS PERCORRIDOS1
1
Neste texto apresentamos os aspectos teóricos e metodológicos que orientaram a
pesquisa referida e que serve, aqui, para situar os nossos entendimentos acerca do
estudo da cidade.
26 Helena Copetti Callai – Alana Rigo Deon – Maristela Maria de M o r a e s – T a rc i s i o D o r n de Oliveira
2
Para Sposito (2004) os conceitos são elaborações teóricas tendo por base uma
referência inicial que pode ser científica ou filosófica, elaborada por meio da
descrição de um fenômeno e surgem do interior da linguagem humana, assim
expressando o sentido de um determinado fenômeno. Já as categorias são
frequentemente utilizadas como sinônimo de conceitos, contudo elas funcionam
como elementos epistemológicos que permitem em associação com o método
desenvolver um conjunto de conceitos.
CAPÍTULO 1 – UM PROJETO DE PESQUISA , SEUS CONCEITOS FUNDAMENTAIS E OS CAMINHOS PERCORRIDOS 27
3
Essas questões são todas abordadas em textos de capítulos de livros e de artigos
publicados em periódicos científicos pelos membros do grupo da pesquisa.
CAPÍTULO 1 – UM PROJETO DE PESQUISA , SEUS CONCEITOS FUNDAMENTAIS E OS CAMINHOS PERCORRIDOS 31
O LUGAR:
Conceito e Conteúdo
no Estudo da Cidade
um sujeito que tem vida própria e que está vivendo num mundo
que ora lhe concede benefícios, ora lhe impõe limites, às vezes
extremamente severos. E nesse intuito constituem-se as possibi-
lidades de compreender o lugar, não por sua exclusividade, mas
na interdependência com os outros lugares dos quais as mesmas
pessoas fazem parte.
Isso remete à escala social de análise1 (já referida) que, ao
ser considerada, relativiza as verdades e as ações das pessoas, num
contexto de amplitude de espaços e tempos. Se de um lado a
clareza teórica e a percepção do significado e da importância de
considerar a escala de análise é condição para a ação, de outro está
bem presente a dimensão política de pensar, planejar e colocar em
prática ações para melhorar as condições de vida da população.
Isso é importante para reforçar as condições internas do lugar, e
para ter clareza de como encaminhar questões que só poderão ser
resolvidas pelo poder público municipal ou estadual, ou aquelas
que podem ser encaminhadas e solucionadas pelos moradores
do lugar.
Os desafios que a população tem é o de como se organizar
para fazer a resistência e encontrar as alternativas para viver como
cidadãos tendo os direitos republicanos atendidos, mas também
tendo a clareza de que as decisões e as ações podem ser externas
aos interesses de quem vive no lugar. Segundo Santos (1996, p.
272), “A ordem global busca impor, a todos os lugares, uma úni-
ca racionalidade. E os lugares respondem ao mundo segundo os
diversos modos de sua própria racionalidade”. E para justificar os
entendimentos dessa relação global-local acrescenta-se que “A
ordem global é ‘desterritorializada’, no sentido de que separa o
centro da ação e a sede da ação [...] a ordem local reterritorializa, é
o espaço banal [...] Cada lugar é, ao mesmo tempo, objeto de uma
razão global e de uma razão local, convivendo dialeticamente”
(Ibidem, p. 272-273).
A vida cotidiana é o cerne da ligação entre os fenômenos
que ocorrem no lugar, tendo referência com os dados da nature-
za, do mundo físico, e das relações sociais situadas num espaço e
1
Também entendida aqui como escala de análise geográfica. A escala também pode
ser considerada como social, pois é uma escolha do pesquisador sobre qual recorte
melhor explica o fenômeno a ser analisado.
CAPÍTULO 2 – O LUGAR: Conceito e Conteúdo no Estudo da Cidade 45
ESTUDAR GEOGRAFIA:
A Cidade e a Formaçao Cidadã
1
Entendemos que esta questão merece ser aprofundada, pois por meio do Manifesto
dos Pioneiros da Educação em 1932, é produzido um documento que procura propor
inovações na educação brasileira, o que não realizamos neste texto.
2
A Geografia Física seria mais objetiva e mais científica (e neutra?) que a Geografia
Humana.
CAPÍTULO 3 – ESTUDAR GEOGRAFIA: A Cidade e a Formaçao Cidadã 53
3
Segundo os autores dessa obra, Vidal de La Blache teve papel fundamental na
evolução da Geografia em finais do século 20 e início do século 21.
54 Helena Copetti Callai – Alana Rigo Deon – Maristela Maria de M o r a e s – T a rc i s i o D o r n de Oliveira
Cidade e Cidadania
Pensemos, então, nas crianças e jovens estudando a sua
cidade onde vivem e construindo os seus conhecimentos para
articular a compreensão do mundo. Enfim, guardadas as devidas
características, o que se dizia em 1930, no Brasil, o que era a refle-
xão de La Blache na França de seu tempo, o que se aborda hoje,
e o que queremos com a aprendizagem da Geografia coloca-se na
perspectiva de pensar uma disciplina e um ensino que tenham
a ver com a vida, e por isso a nossa preocupação constante com
o estudo do lugar. É importante voltar a destacar que existem
CAPÍTULO 3 – ESTUDAR GEOGRAFIA: A Cidade e a Formaçao Cidadã 57
4
Ver o texto “A cidade como conceito e como conteúdo” de autoria de Helena C.
Callai, no livro “A cidade para além da forma” (CALLAI; OLIVEIRA; COPATTI,
2018).
Capítulo
~~ 4 ~~
OS PRINCÍPIOS GEOGRÁFICOS
E O TEXTO LITERÁRIO
NO ESTUDO DA CIDADE
Os Princípios da Geografia
e as Possibilidades de Interdisciplinaridade
Ao considerarmos a importância de um ensino não frag-
mentado e que instigue os alunos na produção do conhecimento,
buscamos alternativas para uma aprendizagem significativa, que
considere os seus conhecimentos e vivências. Desse modo, per-
ceberemos uma aproximação no que diz respeito aos princípios
geográficos e o texto literário, uma vez que este tem suas bases na
realidade, ainda que seja na recriação desta. Assim, nosso interes-
se no estudo da Literatura não se restringe a usar o texto literário
para estudar os princípios, mas uma possibilidade de percebermos
uma relação entre a Literatura e a Geografia principalmente a
partir do gênero romance.
Tal aproximação nos permite um estudo interdisciplinar,
que valoriza a individualidade de cada disciplina, mas também
considera as aproximações de conceitos. Levando isso em consi-
deração, apresentamos essa relação a partir da obra “O Cortiço” de
Aluísio Azevedo, e os princípios geográficos no estudo da cidade.
Para isso, primeiramente apresentamos a obra. Em seguida esta-
belecemos uma relação entre a obra e os princípios geográficos
em um movimento de interpretação, compreensão e reflexão com
CAPÍTULO 4 – OS PRINCÍPIOS GEOGRÁFICOS E O TEXTO LITERÁRIO NO ESTUDO DA CIDADE 71
A ESCALA DE ANÁLISE
GEOGRÁFICA COMO FERRAMENTA
TEÓRICO-METODOLÓGICA PARA
O ENSINO DA CIDADE1
1
A discussão do tema com maior profundidade foi realizada na tese de Doutorado
intitulada “A escala geográfica como método de ensino para a geografia escolar: a relação
entre pensamento e linguagem”, de autoria de Alana Rigo Deon, defendida em março
de 2021 no Programa de Pós-Graduação em Educação nas Ciências da Unijuí.
86 Helena Copetti Callai – Alana Rigo Deon – Maristela Maria de M o r a e s – T a rc i s i o D o r n de Oliveira
2
É importante referir que apesar de ambas as escalas possuírem relação nos estudos
da Geografia, a escala cartográfica está ligada à representação do espaço, ou seja, o
mapa, em sua forma geométrica, perspectiva do espaço absoluto, enquanto a escala
geográfica exprime a representação das relações existentes no espaço, ensejando o
caráter relacional desse conceito.
CAPÍTULO 5 – A ESCAL A DE ANÁLISE GEOGRÁFICA COMO FERRAMENTA TEÓRICO-METODOLÓGICA PARA O ENSINO DA CIDADE 89
3
Segundo o Dicionário de Filosofia de Japiassú e Marcondes (2001, p. 12), a análise
compreende “Divisão ou decomposição de um todo ou de um objeto em suas partes,
seja materialmente (análise química de um corpo), seja mentalmente (análise de
conceitos).”
CAPÍTULO 5 – A ESCAL A DE ANÁLISE GEOGRÁFICA COMO FERRAMENTA TEÓRICO-METODOLÓGICA PARA O ENSINO DA CIDADE 91
4
Os princípios científico-didáticos já foram referidos anteriormente no capítulo 4.
Utilizamos para essa discussão uma publicação mais recente do grupo espanhol sobre
o tema, em que há o alargamento de alguns princípios.
CAPÍTULO 5 – A ESCAL A DE ANÁLISE GEOGRÁFICA COMO FERRAMENTA TEÓRICO-METODOLÓGICA PARA O ENSINO DA CIDADE 93
escola, que
5
Os mapas podem ser encontrados nos sites das prefeituras ou mesmo no IBGE.
CAPÍTULO 5 – A ESCAL A DE ANÁLISE GEOGRÁFICA COMO FERRAMENTA TEÓRICO-METODOLÓGICA PARA O ENSINO DA CIDADE 97
98 Helena Copetti Callai – Alana Rigo Deon – Maristela Maria de M o r a e s – T a rc i s i o D o r n de Oliveira
6
Para Santos (2014c, p. 69) “a forma é o aspecto visível de uma coisa. Refere-se,
ademais, ao arranjo ordenado de objetos, a um padrão. Tomada isoladamente, temos
uma mera descrição de fenômenos ou de um de seus aspectos num dado instante
de tempo. Função, [...] sugere uma tarefa ou atividade esperada de uma forma,
pessoa, instituição ou coisa. Estrutura implica inter-relação de todas as partes de um
todo; o modo de organização ou construção. Processo pode ser definido como uma
ação contínua desenvolvendo-se em direção a um resultado qualquer, implicando
conceitos de tempo (continuidade) e mudança”.
CAPÍTULO 5 – A ESCAL A DE ANÁLISE GEOGRÁFICA COMO FERRAMENTA TEÓRICO-METODOLÓGICA PARA O ENSINO DA CIDADE 99
100 Helena Copetti Callai – Alana Rigo Deon – Maristela Maria de M o r a e s – T a rc i s i o D o r n de Oliveira
CAPÍTULO 5 – A ESCAL A DE ANÁLISE GEOGRÁFICA COMO FERRAMENTA TEÓRICO-METODOLÓGICA PARA O ENSINO DA CIDADE 101
7
Educating Cities. Educating Cities vídeo concept. Youtube. Disponível em: https://
www.youtube.com/watch?v=qySZwtTosp8&feature=youtu.be. Acesso em: fev. 2021.
102 Helena Copetti Callai – Alana Rigo Deon – Maristela Maria de M o r a e s – T a rc i s i o D o r n de Oliveira
CAPÍTULO 5 – A ESCAL A DE ANÁLISE GEOGRÁFICA COMO FERRAMENTA TEÓRICO-METODOLÓGICA PARA O ENSINO DA CIDADE 103
A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL
NO ENSINO DA CIDADE E A
FORMAÇÃO PARA A CIDADANIA
1
Para Corrêa (2017, p. 28-29) a forma “é o aspecto visível, exterior, de um objeto,
seja visto isoladamente, seja considerando-se o arranjo de um conjunto de objetos,
formando um padrão espacial. Uma casa, um bairro, uma cidade e uma rede urbana
são formas espaciais em diferentes escalas. Ressalta-se que a forma não pode ser
considerada em si mesma, sob o risco de atribuir a ela uma autonomia que não
é possuidora. Se assim fizermos estaremos deslocando a forma para a esfera da
geometria, a linguagem da forma, caindo em um espacialismo estéril. Por outro lado,
ao considerarmos isoladamente a forma espacial, aprenderíamos apenas a aparência,
abandonando a essência e as relações entre esta e a aparência”.
Milton Santos em seu livro “A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção” afirma
2
3
No mundo, algumas experiências dessa natureza foram relatadas em uma edição
especial da Revista Museum, em 1984, com o tema Le rôle éducatif du musée.
Nesta publicação oficial da Unesco encontram-se relatos de diferentes países, como
Canadá, França, Estados Unidos, Equador e Quênia. No Brasil, muitas experiências
educativas foram desenvolvidas por museus brasileiros a partir da década de 80. Em
1983 ocorre o 1º Seminário sobre o Uso Educacional de Museus e Monumentos,
realizado no Museu Imperial de Petrópolis/RJ. Nesse evento introduz-se a
expressão educação patrimonial como uma metodologia inspirada no Modelo da
Heritage Education. Este Modelo consiste em trabalhos pedagógicos desenvolvidos
na Inglaterra sobre educação patrimonial, por meio de um conjunto de novas
experiências educativas em museus e instituições culturais, das quais resultaram
novas relações entre os sujeitos e seus patrimônios. A partir desse Modelo é marcado
o surgimento da expressão educação patrimonial no Brasil.
4
A partir do Modelo da Heritage Education, importantes discussões acerca da
necessidade de se aprofundar o conhecimento e a preservação do patrimônio
foram observadas no Brasil. Em 1999, então, Maria de Lourdes Parreiras Horta,
Evelina Grunberg e Adriana Queiroz Monteiro lançam o Guia Básico de Educação
Patrimonial, que se torna o principal material de apoio para ações educativas
realizadas pelo Iphan. A partir de uma proposta pedagógica que envolve quatro
etapas progressivas de apreensão concreta de objetos e fenômenos culturais –
observação, registro, exploração e apropriação – as autoras reivindicam a natureza
processual das ações educativas, não se limitando a atividades pontuais, isoladas e
descontínuas.
CAPÍTULO 6 – A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL NO ENSINO DA CIDADE E A FORMAÇÃO PARA A CIDADANIA 109
mas que ele não é mágico na busca dos resultados e nem pode
ser uma “camisa de força” a ser cumprida, mas é adequado ter e
considerar o movimento no decorrer das ações, que podem gerar
reordenação dos caminhos.
Horta, Grunberg e Monteiro (1999) afirmam que uma vez
definido o objeto, fenômeno ou tema de estudo, a prática educa-
tiva pode se desenvolver ao longo de etapas metodológicas, e com
esta base apresentamos um plano de ação a ser seguido.
Quadro 1 – Etapas metodológicas para o estudo do patrimônio
Etapas Recursos/Atividades Objetivos
1. Observação Percepção visual/sensorial. Identificação do
Elaboração de questionamentos; objeto função e
significado.
Manipulação do objeto.
Medição.
Comparação.
2. Descrição/ Anotação e descrição escrita Aprofundamento da
Registro ou por meio de desenhos das observação e análise
formas e suas particularidades. e das informações
Registro fotográfico. coletadas.
Maquetes.
Plantas baixas do local.
3. Exploração Análise das formas. Análise crítica e
Levantamento de hipóteses e interpretação dos
questionamentos. dados coletados
tendo como base
Busca de fontes como
os conceitos e
bibliografias, biblioteca,
bibliografias
arquivos, instituições como a
estudadas.
prefeitura, jornais, entrevistas.
4. Construção Recriação, releitura, Compreensão
de interpretação por diferentes do movimento
Conhecimento meios de expressão como realizado e possível
desenhos, textos, charges, valorização e
música, poesia, filme. reconhecimento
do bem cultural
pesquisado.
Fonte: Adaptado de Horta, Grunberg e Monteiro (1999, p. 9).