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Educação - Jogos

e Brincadeiras
Material Teórico
Breve História dos Jogos e Brincadeiras

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Pascoal Fernando Ferrari

Revisão Textual:
Prof. Esp. Vera Lídia de Sá Cicaroni
a
Breve História dos Jogos
e Brincadeiras

• Introdução;
• Os Seres Humanos são Seres Brincantes;
• A Criança e a Cultura Lúdica;
• Na Escola Também se Brinca.

OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Fazer alguns apontamentos históricos sobre os Jogos e Brincadeiras;
• Investigars as ideias de Frederico Froebel (1782 – 1852), filósofo alemão do período romântico;
• Ver como os Jogos e Brincadeiras se relacionaram com a escola no decorrer dos tempos.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de
aprendizagem.
UNIDADE Breve História dos Jogos e Brincadeiras

Contextualização
Nossa sugestão, para o momento de contextualização, é que você assista a
dois vídeos:
• A Importância do Brincar: O vídeo é uma entrevista com a professora Tizuko
Kishimoto, que fala sobre o direito de brincar da criança e sobre a importância
do protagonismo infantil.
Explor

A Importância do Brincar, acesse em: https://youtu.be/HpiqpDvJ7-8

• A importância do Brincar e Jogar: O vídeo é uma iniciativa da TV Educador


e traz uma importante reflexão sobre o desenvolvimento infantil relacionado
aos jogos e brincadeiras.
Explor

TV Educador 01 - A importância do Brincar e Jogar: https://youtu.be/6vHT5IX9fVM

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Introdução
Sejam bem-vindos à unidade da disciplina Educação: Jogos e Brincadeiras. Espe-
ramos que gostem e que construam conhecimentos pertinentes à sua área de estudo.

Nesta unidade pretendemos investigar a história dos jogos e das brincadeiras.


Faremos alguns apontamentos históricos sobre a Antiguidade Greco-romana, pas-
sando pela Idade Média até chegarmos à Modernidade histórica. Faremos uma
análise mais profunda sobre a inclusão dos jogos e brincadeiras na educação.

Vamos iniciar nossos estudos com uma simples pergunta: Você já brincou hoje?

Os Seres Humanos são Seres Brincantes


Brincar com crianças não é perder tempo, é ganhá-lo; se é triste ver me-
& ninos sem escola, mais triste ainda é vê-los sentados enfileirados em salas
sem ar, com exercícios estéreis, sem valor para a formação do homem.
*
(CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE)

Se pensarmos na história social do homem, vamos, em muitos casos, encontrá-lo


jogando e brincando. Parece-nos natural a brincadeira para a criança; elas brincam
e ponto. E, como diz Drummond, brincar é ganhar tempo.
-
O homem é um ser complexo e alcança diversas dimensões. Podemos pensar
no homo culturalis (que produz e é produzido pela cultura), ou no homo faber
(o que faz, produz) ou na dimensão do homo sapiens (o que conhece e aprende),
ou ainda, no homo ludens (o que brinca, o que cria). Esta é a dimensão humana
que iremos abordar em nossa investigação.
natual
-

O jogo e a brincadeira são fenômenos culturais que estão presentesemna vida hu-
mana desde a Pré-história. Parece-nos que esses fenômenos são inatos nos seres
humanos e também nos animais; i como exemplo, o leão aprende a caçar e a lutar
brincando e jogando com seus pais ou irmãos. É através de jogos e brincadeiras que
construímos nossos conhecimentos.

Os antigos gregos já sabiam da importância do brincar e do jogar para o desen-


volvimento físico e mental do homem. Hoje sabemos que, além do aspecto físico e
mental, o brincar favorece o desenvolvimento afetivo e social, o que facilita a nossa
convivência em sociedade. ↳ facilitando
Ligados ao esporte, os Jogos Olímpicos são um grande exemplo da importância
dada ao jogo na antiguidade grega. Esses jogos consideravam a disputa entre pes-
soas. Pressupõe-se que foram iniciados em 776 a.C. e eram realizados em honra a
Zeus. Observe as imagens a seguir:

9
9
UNIDADE Breve História dos Jogos e Brincadeiras

Figura 1 e 2 – As imagens da escultura e da cerâmica grega


mostram como os jogos estavam presentes na vida grega
Fonte: Wikimedia Commons

Na educação grega, de caráter militar, não era diferente. Os gregos valorizavam


o desenvolvimento mental e físico de seus aprendizes; os jogos e exercícios físicos
eram usados como instrumentos de ensino.

Na Idade Média, essa configuração da educação mudou; os jogos e brincadeiras


foram afastados da escola. O conceito de ser criança era confuso na Idade Média e
não era muito considerado pelos adultos da época.

Vamos observar a imagem a seguir:

Figura 3 – Pieter Bruegel, 1560. Museu de Viena, Óleo sobre painel. Dimensões 118 × 161 cm
Fonte: Wikimedia Commons

10
A obra é do artista Pieter Bruegel, feita no ano de 1560. Bruegel chamou-a de Jogos
Infantis. Mostra mais de 80 brincadeiras e jogos infantis, mas, ao olharmos mais aten-
tamente, veremos que muitos personagens da pintura são jovens e adultos. A falta de
clareza sobre o que era a condição humana de ser criança é notória na imagem.
Com
No período medieval, a infância tinha pequena duração. Ao alcançar seis ou
sete anos de idade, o indivíduo deixava de ser criança, pois, a partir dessa idade,
considerava-se que a criança já compreendia o que os adultos falavam e, sendo
assim, passava a acompanhar o adulto do mesmo gênero, executando, de forma
parecida, as mesmas atividades da vida adulta. O período da adolescência dos indi-
víduos não era considerado, consequentemente, as crianças eram entendidas como
adultos em miniatura e assim eram tratadas pelos adultos. Observe a seguir mais
uma imagem medieval:

Figura 4 – Maximiliano I e família, Bernhard Strigel , Áustria, século 15


Fonte: Wikimedia Commons

Observe que as roupas vestidas pelas crianças possuem padrões de adultos e


suas feições não lembram, nem um pouco, o universo infantil.

Na chegada do século XV, uma nova concepção sobre ser criança estava em
curso e trazia mudanças que apontavam para o entendimento da criança como ser
social, ocupando um papel importante nas relações familiares e na comunidade
onde crescia e se desenvolvia: um indivíduo com características e necessidades pró-
prias, passível de ser educado através de uma ação pedagógica que reconhecesse
suas diferenças individuais e a sua condição de ser criança.

11
11
UNIDADE Breve História dos Jogos e Brincadeiras

Podemos afirmar que a concepção de infância que conhecemos hoje vem evo-
=@⑧·
luindo e mudando com o decorrer do tempo. É no final do século XV que, de fato,
podemos observar alguma diferença no trato e no entendimento da infância. Como
exemplo, podemos citar a instituição escolar. A princípio, o que existiam eram salas
de aula, frequentadas, ao mesmo tempo, por alunos de todas as idades - crianças,
S

jovens e adultos -, geralmente do gênero masculino. As salas continham muitos


alunos e não havia uma distinção acentuada entre as classes sociais.
Sem

A partir do século XVI, as crianças adquiriram o direto de estarem mais próximas


de seus pais graças à pressão exercida pela sociedade em função da necessidade de
cuidado com as crianças pequenas e de se desenvolver uma atitude social de afetivi-
dade fraterna pelos filhos.

Alguns importantes pensadores de século XVII e XVIII foram, particularmente,


fundamentais para a mudança do conceito de infância, destacando o respeito à
condição de ser criança e a valorização da brincadeira e dos jogos na educação
das crianças pequenas. Pensadores que romperam com a educação tradicionalista
proposta pelos jesuítas. A educação adquiria um caráter humanista, valorizando o
que se pressupunha natural e sensorial na criança, mediante a utilização de jogos e
materiais didáticos e uma pedagogia voltada para a criança. São eles:
• Comenius: 1593 - 1670;
• Rousseau: 1712 - 1778;
• Pestalozzi: 1746 - 1827.

Para saber mais a respeito desses pensadores, indicamos os artigos a seguir que podem am-
Explor

pliar seu referencial teórico. Entre nos sites e leia os artigos da revista Nova Escola:
• Comênio, o pai da didática moderna: http://bit.ly/2Upllbp
• Jean-Jacques Rousseau, o filósofo da liberdade como valor supremo: http://bit.ly/2Ut0vYD
• Pestalozzi, o teórico que incorporou o afeto à sala de aula: http://bit.ly/2UncOpj

falando
No entanto, quando falamos em jogos e brin-
cadeiras na educação escolar, um nome, em espe-
cial, deve ser lembrado: Froebel.

Frederico Froebel é considerado um filósofo


do período romântico; nasceu na Alemanha em
1782 e morreu 1852. Além de Filosofia, estu-
dou Biologia, Matemática e Psicologia. Sua famí-
lia pertencia à Igreja Luterana, o que influenciou
fortemente sua obra e pensamento e também o
individualismo burguês predominante no perío-
do. Em sua teoria, o autor discute a relação entre
o Homem, a Natureza e Deus. Acreditava que a
educação, desde o nascimento, traria uma unida-
de entre essas três forças. Figura 5 – Frederico Froebel

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Veja o que Kishimoto (2002) diz sobre a união dessa tríade proposta por Froebel:
Froebel mostra a unidade entre o homem, seu criador e a natureza, sua
conexão interna, aponta como a educação pode garantir essa unidade,
desde a infância por meio da natureza. Valoriza a individualidade do ser
humano, que se completa na coletividade. Ao perceber a unidade ou con- ↑

tinuidade entre a infância, juventude e maturidade, verifica a necessidade


de educar a criança desde que nasce para garantir o pleno desenvolvimen-
to do ser humano. (KISHIMOTO, 2002, p. 60)
ele -

Segundo Kishimoto, Froebel indica, como caminho do desenvolvimento humano,


-

essa unidade, formada entre o ser humano, o seu criador e a natureza. Diferente das
ideias medievais, esclarece o fato de que o desenvolvimento passa por diferentes es-
tágios, como a infância, a adolescência e a vida adulta.
D

Froebel valorizava a livre expressão através do jogo e da brincadeira na educação,


apontando a relevância dessas duas atividades na vida pré-escolar da criança. Com esse
↳isso
pensar, ele criou a ideia de “Jardim de Infância”, (Kindergarten, em alemão), desenvol-

La vendo uma metodologia baseada nos dons e ocupações.


-
Froebel conheceu e trabalhou com Pestalozzi, pedagogo suíço que revolucionou
e humanizou nosso entendimento sobre o que seja infância. A partir das ideias deb
Pestalozzi, ele criou o Jardim de infância, um lugar onde a criança poderia conviver
com outras e desenvolver-se de forma espontânea, tendo respeitada a sua condição
de ser criança.
podete side - -

Podemos considerar que o jardim de infância tenha sido a primeira proposta


curricular escolar para a infância com um enfoque teórico-prático, trabalhando com
tecelagem, desenho, pintura, recorte, colagem, entre outras atividades práticas.
Dessa forma, foi concebida uma educação que promove a criatividade, a esponta-
neidade e a autorrealização da criança.
-
Froebel, para desenvolver sua proposta pedagógica, criou os Dons, que são ma-
11

teriais, como bola, cubo, varetas, anéis etc., que permitem atividades denominadas
Ocupações. Essa proposta tem os jogos e as brincadeiras como eixo da pedagogia.
19 11

Veja a relação dos dons:

Tabela 1 – Relação dos dons


1. seis bolas de borracha, cobertas de tecidos de várias cores; 11. material para picar;
2. esfera, cubo e cilindro de madeira; 12. material para alinhavo;
3. cubo dividido em oito cubinhos; 13. material para recortes de papel e combinação;
4. cubo dividido em oito partes oblongas; 14. papel para tecelagem;
5. cubo dividido em metade ou quartas partes; 15. varetas para entrelaçamentos;
6. cubo consistindo em partes oblongas, duplamente divididas; 16. réguas com dobradiças – (goniógrafo);
7. tabuazinhas quadradas e triangulares para compor figuras; 17. fitas para entrelaçamento;
8. varinhas para traçar figuras; 18. material para dobradura;
9. anéis e meio anéis para compor figuras; 19. material para construção com ervilhas;
10. material para desenho; 20. material para modelagem.

13
13
UNIDADE Breve História dos Jogos e Brincadeiras

Veja os exemplos de Dons:

Figura 6
educat as contat 1
e

A pessoa que iria cuidar das crianças e educá-las Froebel denominou de Jardineira,
l a qual seria responsável pelo desenvolvimento das atividades do Jardim da Infância.
A teoria de Froebel indicava que as Jardineiras criariam momentos pedagógicos di-
eles

rigidos, com base nos dons, e deixariam momentos livres em que a criança poderia
escolher de qual jogo ou brincadeira gostaria de participar naquele momento. Assim a
criança se desenvolveria de forma autônoma.
desenvolvendo as

Certamente, as ideias de Froebel deram início a um novo entendimento sobre


os jogos e as brincadeiras aplicadas e desenvolvidas no ambiente escolar infantil.

Para saber mais sobre a vida e a obra de Froebel, visite o site da revista Nova Escola, onde
Explor

você encontrará quatro textos: 1- O formador das crianças pequenas; 2- Treino de habilidades;
3- Educação espontânea; 4 Biografia e contexto histórico.
Disponível em: http://bit.ly/2UrHFkk

esser
Na contemporaneidade, os jogos e brincadeiras são vistos como fundamentais
no
para o processo de ensino e aprendizagem das crianças. A resistência inicial dos
educadores a incluírem esses tipos de atividades no currículo escolar foi se desfa-
zendo com o tempo e a nova prática foi ganhando espaço no âmbito educacional.

:- Get
Veja como o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI)
trata a questão:
Os jogos, as brincadeiras, a dança e as práticas esportivas revelam, por
seu lado, a cultura corporal de cada grupo social, constituindo-se em ati-
vidades privilegiadas nas quais o movimento é aprendido e significado.
(BRASIL, 1998, p.20)

14
-
Para a criança, os momentos de jogos e brincadeiras são ricos para a sua aprendi-
- -

zagem e desenvolvimento, além


o de serem momentose de expressividade
n das crianças;
-

são momentos que, segundo o RCNEI, revelam uma cultura corporal por influência
- -

do grupo social em que a criança está inserida.

O documento ainda ressalta a importância do jogo na escola, principalmente em


e -

relação ao estabelecimento de regras.


-
As instituições devem assegurar e valorizar, em seu cotidiano, jogos motores e brin-
- -
-

cadeiras que contemplem a progressiva coordenação dos movimentos e o equilíbrio


-
-

das crianças. Os jogos motores de regras trazem também a oportunidade de aprendi-


- - -
SOCIAL

zagens sociais, pois, ao jogar,


-- edo
-
as crianças aprendem a competir, a colaborar umas com -
-

as outras, a combinar e a respeitar regras (BRASIL, 1998, p. 35).


- -

No documento, é claro o incentivo à apropriação dos jogos e das brincadeiras


-
pela escola, inicialmente, tendo em vista o desenvolvimento físico da criança e, em
-
-

A laestaRdescobrir a existência de regras estabelecidas e aprender


seguida, pelo fato de
a respeitá-las. Esse aprendizado, de estabelecer e respeitar as regras, se levado para
-

além dos muros da escola, contribuirá para que a criança aprenda, também, a viver i
port
- -

em uma sociedade democrática e cidadã.


-

Finalizamos esta breve história dos jogos e brincadeiras e de sua inserção na es-
cola, sugerindo que você observe o quadro síntese a seguir, que retrata a visão dos
s
-

jogos e brincadeiras em diferentes épocas:


-

an

fattoloda
-

war

0
- Jogos e Brincadeiras

Na -Antiguidade, No Renascimento, a
-

brincadeira passou a No Romantismo, o Jogo


eram importantes
- -
Na Idade Média, o
- ser vista como “conduta
-

apareceu com conduta


na educação. jogo era visto
-

típica e espontânea da
-

- -
-
livre”, que desenvolve a
Momento de
-

como “não sério” e inteligência e facilita o criança. Apresentava a


e

- - --
relaxamento
-
estudo. O 0
“Lúdico” criança com sua
era relacionado a -

natureza “boa”, que se


substituiu as formas
-
-

necessário às
-

-
jogos de azar. -

mais tradicionais de
-
expressa espontanea-
atividades físicas
-

aprendizagem (casti- mente através do jogo.


-

e mentais. gos, palmatórias). -

Figura 7

15
15
UNIDADE Breve História dos Jogos e Brincadeiras

L >
A Criança e a Cultura Lúdica
se
↳-
A dimensão lúdica do homem, que prevê o jogo,->>>
-

tenha
R um melhor entendimento do ser
⑧ humano.
jogo é uma categoria primária da vida, surgindo
-ene
com o próprio jogo.
e
deve ser consideradaI para que
Huizinga
-

(1996) entende que o


antes da cultura,⑧
que

O se desenvolve
-
-
-

-
ele TITLP
L
-

Huizinga (1996) conceitua o jogo da seguinte forma:!


-

Parece-nos que essa noção poderá ser razoavelmente bem definida· nos
-
-

seguintes termos: o jogo é uma atividade ou ocupação voluntária, exercida


-
-

dentro de certos e determinados limites de tempo e de espaço, segundo


- -
regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de
-
n

um
com fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e de
->
-
-
alegria e de uma consciência de ser diferente da “vida quotidiana”. Assim
-

definida,-a noção parece capaz de abranger tudo aquilo a que chamamos


“jogo”
-m entre os animais, as criançase e os adultos: jogos
i dee
força e de des-
treza, jogos de sorte, de adivinhação, exibições de todo o gênero. Pareceu-
-

-nos que a categoria deFu jogo fosse suscetível de ser considerada um dos
-

elementos espirituais básicos da vida. (HUIZINGA, 1996, p. 24)


-
Para ele

O autor entende que a existência do jogo é inegável na vida humana, um elemen-


to básico da vida; demostra que há vários gêneros de jogos e que somos capazes de
diferenciar entre uma situação de jogo e a vida real. Reconhece, também, a cultura
como possuidora de um caráter lúdico. O jogo adquire uma função significante na
vida humana, inclusive o caráter de competição que os jogos apresentam.

Para aprofundar o conceito de Homo Ludens sugerimos o livro de Johan Huizinga: Homo
Explor

Ludens: o jogo como elemento da cultura. O livro é uma importante referência para com-
preendermos a relação entre o homem e o jogo do ponto de vista histórico e cultural.

disso
A partir dos jogos e brincadeiras, o homem cria uma cultura lúdica. Gilles Brougère,
autor francês, propicia-nos interessantes ideias sobre essa manifestação cultural, contri-
buindo para entendermos melhor esse conceito:
A cultura lúdica é, então, composta de um certo número de esquemas
que permitem iniciar a brincadeira, já que se trata de produzir uma reali-
dade diferente daquela da vida quotidiana: [...]

A cultura lúdica compreende evidentemente estruturas de jogo que não


se limitam às de jogos com regras. [...]

Mas a cultura lúdica compreende o que se poderia chamar de esquemas de


brincadeiras, para distingui-los das regras stricto sensu. Trata-se de regras
vagas, de estruturas gerais e imprecisas que permitem organizar jogos de
imitação ou de ficção. [...] (BROUGÈRE, 1998, s/p.)

16
eler
Segundo Brougère (1998), a cultura lúdica também se estabelece com as brin-
cadeiras ou jogos de faz-de-conta. Essas brincadeiras, como diz o autor, são porta-
doras de “regras vagas”. Nesse sentido, muitas brincadeiras e jogos não possuem
regras claras, tornado, assim, uma regra maleável, que pode ser modificada ou
retirada da ação de brincar por intencionalidade da criança.
pelar
A cultura lúdica torna-se
- uma referência para o brincar. O brincar parte&
.da reali-

dade imediata da criança, que pressupõe os brinquedos que estão ao seu alcance ou
-
qualquer objeto que possaEsser ressignificado (uma caixa vazia pode se transformar
l

em um carrinho, por exemplo) e as suas referências vindas da cultura lúdica (tipos


diferentes de brincadeira, determinadas pelo tempo histórico e o espaço geográfico
em que a criança se insere). A criança irá, então, misturar em suas brincadeiras a
realidade e a fantasia.

O- autor lembra que é brincando que a criança constrói sua cultura lúdica; são
- as suas experiências lúdicas, iniciadas pelas primeiras brincadeiras do bebê, que
irão constituir esse universo cultural lúdico. E mergulhada nesse universo,
* a criança
-constitui e é constituída por essa cultura através de suas brincadeiras e jogos.
pelan

Na Escola Também se Brinca


2x -
corno
Sendo uma agência socializadora e promotora de cultura, a escola pode ser tam-
bém entendida como lugar privilegiado para a criança aprender a brincar e a jogar.
Não nascemos sabendo brincar, as brincadeiras e jogos são aprendidos com os me-
mofercous
diadores desses conhecimentos. Nesse sentido, a brincadeira pode ter um fim em si
.

mesmo ou, ainda, ser um instrumento prazeroso de aprendizagem.

Dos 4 aos 5 anos, a criança estará, teoricamente, na modalidade da Educação


Infantil; essa é uma idade rica para o aprendizado. Nesse período, as crianças estão
em

desenvolvendo o autocontrole das emoções. Diante de situações de medo, como,


por exemplo, gritos, medo de ficar sozinha no escuro, entre outros, que são fruto de
Etc
uma insegurança própria da idade, a escola pode e deve trabalhar essas questões.
.

Todavia esse é, também, um período em que os pequenos gostam de mostrar o


que sabem fazer, suas conquistas vindas das superações dos desafios que se apre-
sentam em seu cotidiano; é uma fase de curiosidades e descobertas; é quando eles
experimentam o prazer de brincar junto com outros indivíduos, crianças ou adultos.

Como construtora de conhecimentos, a escola pode trabalhar muitos conteúdos


a partir de jogos e brincadeiras infantis. Recursos como contar e ouvir histórias, par-
ticipar de jogos de regras, dançar, dramatizar, desenhar, entre outras proposições
Coisas
pedagógicas, constituem recursos prazerosos de aprendizagem e desenvolvimento
físico, cognitivo e afetivo dos aprendizes.

17
17
UNIDADE Breve História dos Jogos e Brincadeiras

Há muitos benefícios nas atividades lúdicas, tanto pela dimensão da diversão e


-

prazer, como um fim em si mesmo, quanto pela dimensão da aprendizagem, como


recurso pedagógico. Através dos jogos e brincadeiras, desenvolvemos inúmeras
habilidades; também vivenciamos o ambiente e a cultura em que estamos inseridos.
É jogando e brincando que as crianças incorporam e/ou questionam as regras e os
papéis sociais que são a ela apresentados.

A brincadeira e o jogo devem ocupar um lugar de destaque na prática pedagógica;


a sala de aula deve torna-se um lugar privilegiado para desenvolver as atividades lúdicas
ser
e a escola, espaço de prazer e de boas lembranças quando a criança se tornar adulta.

Porém há um mito no interior da escola que precisa ser desfeito. A brincadeira e a


aprendizagem, em muitos casos, são consideradas processos com finalidades bastan-
te diferentes e que não podem coexistir em um mesmo espaço e tempo. Muitas vezes,
a criança, na escola, é impossibilitada de conhecer e desenvolver sua corporeidade,
passando horas imobilizadas em uma carteira escolar, e o brincar, quando acontece,
restringe-se aos intervalos entre as aulas, e não sendo aceito durante as aulas.

A formação dos educadores dos anos iniciais deve discutir mais cuidadosamente
o brincar e os jogos. É importante que o professor tenha um repertório maior de
brincadeiras para serem trabalhadas em aula. As crianças gostam de brincar com
adultos; são ótimas referências, por exemplo, para o esclarecimento e aprendi-
zagem de regras, para apresentar novas brincadeiras e jogos. O professor, como
mediador de brincadeiras, é fundamental; mediar oportuniza o brincar juntos. Brin-
car juntos acentua os laços afetivos; a participação do educador na brincadeira faz
crescer o nível de interesse da criança pela brincadeira.

Compreender e interpretar o fazer lúdico da criança é importante. Nesse sentido,


a formação do educador deve prestigiar essa área do conhecimento, para que esses
profissionais possam se apropriar dos jogos e das brincadeiras, a fim de utilizá-los na
construção do aprendizado da criança.

E assim, finalizamos a unidade I. Esperamos que tenha gostado e tenha constru-


ído novos conhecimentos a partir da que foi proposto.

Agora refazemos e ressignificamos a pergunta inicial, caso a resposta a ela tenha


sido negativa: E amanhã, você irá brincar?

18
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Livros
A ludicidade na educação: Uma atitude pedagógica
RAU, Maria Cristina Trois Dorneles. A ludicidade na educação: Uma atitude
pedagógica. Editora: Ibpex, 2011. Série: Dimensões da Educação. O livro traz
importantes informações, conceitos e práticas para a utilização do lúdico nas aulas da
Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental.

19
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UNIDADE Breve História dos Jogos e Brincadeiras

Referências
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Funda-
mental. Referencial curricular nacional para a educação infantil. Secretaria de
Educação Fundamental. — Brasília: MEC/SEF, 1998. 3v.: il.

BROUGÈRE G. A criança e a cultura lúdica. Rev. Fac. Educ. [online]. 1998,


vol. 24, n.2, pp. 103-116. ISSN 0102-2555. Disponível em: <http://dx.doi.
org/10.1590/S0102-25551998000200007>. Acesso em: 20/03/2013.

HUIZINGA, Johan, Homo Ludens: O Jogo Como Elemento da Cultura. São


Paulo: Perspectiva, 1996.

KISHIMOTO, T. M. O brincar e suas teorias. São Paulo: Pioneira, 2002.

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