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Segunda Guerra dos Bôeres

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A Segunda Guerra Boer (ou dos bôeres),
Segunda Guerra dos Bôeres
travada entre 11 de outubro de 1899 e 31 de
maio de 1902, foi um conflito lutado entre o Guerra dos Bôeres
Império Britânico e as duas nações Bôer, a
República Sul-Africana (ou República de
Transvaal) e o Estado Livre de Orange, sobre o
domínio da África do Sul. Ficou conhecida
também simplesmente como Guerra Boer ou
Guerra Anglo-Boer. No começo do conflito,
os bôeres tomaram a iniciativa e tiveram
alguns sucessos, porém os britânicos reagiram,
mandando reforços, e infligiram grande
derrotas as duas nações sul-africanas. Os
bôeres iniciaram então uma ampla e violenta Guerrilheiros bôeres durante a Batalha de Spion
Kop (janeiro de 1900).
campanha de guerrilha que durou dois anos.
Data 11 de outubro de 1899 – 31 de maio de
Os britânicos responderam brutalmente e
1902[1][2]
adotaram políticas de represália, queimando
fazendas, destruindo casas e mandando Local Sul da África (atual África do Sul,
Lesoto e Suazilândia)[3]
milhares de civis para campos de
concentração. A guerra foi extremamente Desfecho Vitória britânica (assinatura do Tratado
de Vereeniging)
brutal e teve um enorme impacto na região por
anos. No final, os bôeres se renderam e um Beligerantes
tratado foi firmado entre as partes envolvidas. Império Britânico Estado Livre de
Orange
Reino Unido República Sul-
Contexto Colônia do
Africana
Cabo Voluntários bôeres
O conflito foi uma sequência direta da
Colônia de da Colônia do Cabo
Primeira Guerra dos Bôeres, dentro do Natal Voluntários
contexto da disputa entre o povo boêr e os Rodésia estrangeiros
britânicos pelo controle de partes do sul da Índia britânica
África. Austrália
Canadá
A recém criada República Sul-Africana sofria Nova Zelândia
com a falta de pessoal qualificado e seu Ceilão britânico
potencial industrial era pequeno. No período
Comandantes
entre os dois conflitos com o Reino Unido, foi
descoberto ouro na área de Witwatersrand. O
governo sul-africano, relutantemente, aceitou
novamente a chegada de imigrantes
(chamados de uitlander) vindos da Europa,
principalmente da Inglaterra, que começaram
a chegar em peso no final do século XIX à
região de Transvaal. Os Bôeres, observando a Robert Gascoyne- Paul Kruger
vinda de imigrantes ingleses em escala cada Cecil Louis Botha
Joseph Chamberlain Schalk W. Burger
vez maior, começaram a temer que logo seriam Alfred Milner Koos de la Rey
sobrepujados em número, gerando tensões Redvers Buller Martinus Steyn
étnicas, que logo se manifestaram em atos de Herbert Kitchener Christiaan de Wet
Frederick Roberts Piet Cronjé
violência. Enquanto isso, o governo britânico Piet Joubert
continuou sua expansão territorial pelo sul da
África (instigada por homens como Cecil Forças

Rhodes). A partir de 1895, imigrantes Britânicos: Bôeres:


britânicos começaram a exigir direitos iguais 347 000 soldados 25 000 de Transvaal
com relação aos bôeres, o que levaria a 15 000 do Estado
Tropas coloniais:
algumas pequenas revoltas na região de Livre
Joanesburgo (como a famosa Jameson Raid 153 000 soldados 6 000 – 7 000 da
Colônia do Cabo
envolvendo 500 cavaleiros).[4] O governo de
Transvaal mandou soldados para reprimir Outros:
essas manifestações e rebeliões. Com as
10 000 milicianos
tensões na África do Sul crescendo, africanos negros
negociações começaram para tentar encontrar 5 400 voluntários
algum meio termo. As autoridades bôeres estrangeiros brancos
tentavam, de todas as formas, limitar ao Baixas
máximo o poder político e acesso aos
benefícios econômicos por parte dos novos 22 092 mortos (7 882 Militares:
em combate, 14 210 de 6 189 mortos, 24 000
imigrantes (uitlander), a maioria de origem doenças) prisioneiros enviados
inglesa. Enquanto isso, o governo britânico em 934 desaparecidos para o exterior
22 828 feridos
Londres ainda mantinha suas ambições de re- Civis:
controlar a região toda, pretendendo tornar 46 370, incluindo 27 927
Transvaal e o Estado Livre de Orange em uma bôeres mortos em
campos de
confederação sob seu controle direto. Como a concentração, junto com
esmagadora maioria dos imigrantes que 20 000 negros também
chegavam a África do Sul eram de origem mortos
115 000 africanos
britânica, os bôeres temiam que dar direitos encarcerados
políticos a eles resultaria na perda do controle
sobre seu próprio país.[5][6]

Negociações começaram então em Bloemfontein e, em 1899, Secretario de Estado britânico para


as colônias, Joseph Chamberlain, exigiu total direito a voto e a representação política por parte dos
imigrantes britânicos na região de Transvaal. Tais negociações falharam rapidamente e então o
presidente da República Sul-Africana, Paul Kruger, mandou um ultimato ao governo inglês, a 9 de
outubro de 1899, exigindo a retirada de todas as suas tropas das regiões próximas a fronteira do
seu país. Londres rejeitou o ultimato, resultando, dois dias depois, numa declaração de guerra por
parte da República Sul-Africana e do Estado Livre de Orange.[6]

O Conflito
Os Britânicos começaram a guerra confiantes, embora estivessem despreparados.[7] Os Bôeres
estavam bem armados e organizados e então resolveram atacar primeiro, cercando as cidades de
Ladysmith (em KwaZulu-Natal), Kimberley (em Cabo Setentrional) e Mahikeng (em North West)
já no começo de 1900, vencendo ainda batalhas em Colenso, Magersfontein e Stormberg.
Atordoados, os britânicos trouxeram mais tropas (incluindo da sua Commonwealth). O general
Redvers Buller foi então substituído pelos lordes Roberts e Kitchener no comando. As três cidades
cercadas foram libertadas e as duas nações Bôer (o Estado Livre de Orange e a República Sul-
Africana) foram ocupadas militarmente por tropas britânicas ao final do ano de 1900. Frente a
esses revezes, as forças bôeres modificaram sua estratégia e passaram a evitar grandes confrontos
tradicionais contra o Exército Britânico, adotando técnicas de guerrilha, mergulhando as forças
britânicas numa guerra de atrito sangrenta. Mesmo assim, os britânicos assumiram o controle de
boa parte do território da África do Sul, forçando a liderança política bôer local para o exílio.
Assim, a "guerra convencional" acabou. Em março de 1900, militares britânicos tomaram
Bloemfontein após vencerem a Batalha de Poplar Grove. Dois meses mais tarde, o Estado Livre de
Orange e Transvaal foram formalmente anexados pelas autoridades britânicas. Os esforços
britânicos foram ajudados por forças das colônias do Cabo e Natal, além de forças africanas
nativas e combatentes de todos os seus territórios ultramarinos (como australianos, canadenses,
indianos e neozelandeses). As grandes potências europeias declararam neutralidade, mas algumas
vocalizaram sua hostilidade aos britânicos, especialmente após as primeiras denúncias de crimes
contra a humanidade que estariam sendo perpetrados. Embora simpática ao público britânico no
começo, a guerra foi ficando cada vez mais impopular conforme os anos foram passando.[8]

Embora o conflito em forma de guerrilha fosse


custoso para os britânicos, eles tinham recursos
mais do que o suficiente para prosseguir com as
hostilidades. Para punir os insurgentes bôeres, o
exército britânico adotou uma política de terra
arrasada, destruindo fazendas, queimando
plantações e casas de civis, causando grande
sofrimento para a população local. Ainda assim, os
Bôeres se recusaram a se render, resistindo por
mais de dois anos. Os generais Louis Botha, Jan
Smuts, Christiaan de Wet e Koos de la Rey
expandiram a campanha de guerrilha, com Uma casa de um fazendeiro bôer destruída pelos
combates se alastrando pelo país, ainda que de britânicos.
intensidade reduzida, mas igualmente violentos e
sangrentos. Os britânicos sofreram e adotaram
táticas violentas de contra-insurgência, brutalizando a população civil por apoiar os guerrilheiros,
por exemplo. Apesar das represálias, a guerrilha continuou. Os insurgentes bôeres lutavam sem
uniformes, com roupas comuns, se misturando com os fazendeiros locais. Os britânicos então
tomaram diretamente as propriedades de tais fazendeiros e mandaram milhares de civis bôeres,
principalmente mulheres e crianças, para campos de concentração, onde muitos acabaram
morrendo devido a privações e doenças. Os britânicos finalmente adotaram novas táticas,
dividindo suas forças em unidades móveis montadas para perseguir os guerrilheiros Bôeres. As
batalhas então se tornaram pequenos confrontos, com poucas baixas (a maioria dos mortos,
naquela altura, viria por causa de doenças).[9]

Finalmente, em maio de 1902, os Bôeres se renderam e ambos os lados firmaram o Tratado de


Vereeniging. Nos termos deste tratado, os Bôeres de Transvaal e do Estado Livre de Orange
manteriam a autonomia política, embora estivessem submetidos formalmente a Coroa Britânica.
Em questão de poucos anos, os líderes sul-africanos e britânicos passaram a cultivar um bom
relacionamento e a nova situação política passou a ser amplamente aceita. Pela nova legislação,
Bôeres e os imigrantes britânicos teriam agora direitos iguais, porém os negros (que na verdade
eram a maioria da população na região) permaneceram excluídos da vida pública-política. Em
1910, os dois territórios Bôeres eventualmente se juntaram e formaram a União Sul-Africana, que
perduraria até 1961. Ainda assim, para a população civil, as sequelas da guerra seriam sentidas por
décadas, causando muitas animosidades, transformando profundamente a sociedade sul-
africana.[9]

Consequências
A Segunda Guerra Bôer jogou uma sombra na
história da África do Sul por muitas décadas. A
sociedade predominantemente agrária da antiga
república dos bôeres foi profunda e
fundamentalmente afetada pela política de terra
arrasada feita pelos lordes britânicos Roberts e
Kitchener. Os bôeres e os africanos negros sofreram
nos campos de concentração e milhares de pessoas
foram expulsas de suas casas e a falta de bens de
subsistência, como comida, levou a uma queda na
qualidade de vida da população, afetando a África
do Sul como um todo, demograficamente, de forma Mulheres e crianças bôeres num campo de
intensa. Muitos exilados e refugiados nunca concentração.

conseguiram retornar para os seus lares; muitos


bôeres que tentaram recuperar suas fazendas
acabaram encontrando-as em situação lastimável e impraticáveis para trabalho agrícola devido aos
danos causados pelos soldados britânicos que queimaram as plantações e jogaram sal no solo. Isso
forçou um fluxo migratório para as cidades, alimentando a massa de trabalhadores não
qualificados com boêres pobres e africanos negros, agora competindo com os "uitlanders"
(imigrantes britânicos) por oportunidades nas minas.[10]

Para o Reino Unido, a Segunda Guerra dos Bôeres foi o conflito mais longo, mais caro (£ 200
milhões de libras gastos, ou quase £ 22 bilhões em valores de 2015) e mais sangrento travado pelo
país entre 1815 e 1914, com mais de 22 000 combatentes a serviço da Coroa mortos (a maioria
devido a doenças).[11]

As técnicas de contra-insurgência e as lições aprendidas durante a guerra bôer (a restrição de


movimento, a contenção do espaço, fazer tudo de alvo de forma implacável e indiscriminada,
destruição de tudo que puder suportar uma guerrilha, constantemente importunar as forças
inimigas, manobras e contramanobras de inteligência, e o cultivo de aliados nativos) foram
importantes para as forças militares britânicas e acabaram empregadas, por exemplo, contra os
rebeldes comunistas durante a chamada Emergência Malaia. Na Primeira e Segunda Guerras
Mundiais, técnicas aprendidas dos comandos Bôeres ajudariam as forças britânicas que, em 1940,
criariam os seus próprios Comandos, que se distinguiriam por suas habilidades.[12]

Politicamente, a guerra foi muito popular no Reino Unido no começo, junto com vitórias em
outros conflitos e a rápida expansão colonial. O Partido Conservador então conquistou uma vitória
fácil nas eleições de 1895, capitalizando nesses sucessos. Com o conflito já a todo o vapor, o Lorde
Salisbury convocou novas eleições, em 1900, tentando capitalizar ainda mais nas notícias que
contavam a respeito de mais vitórias das tropas da Coroa nas colônias. A guerra ainda gerava
muito entusiasmo no povo britânico, o que garantiu outro triunfo eleitoral do governo conservador
inglês. Contudo, com a guerra se prolongando, Arthur Balfour substituiu Salisbury como primeiro-
ministro. Então, em 1906, os Conservadores foram arrasados na eleição para o Parlamento. O
arrastamento do conflito e as denúncias de crimes de guerra perpetrados pelos militares britânicos
contra civis, enojaram o povo inglês e acabou lançando a popularidade dos governantes britânicos
muito para baixo. Estes, porém, viram o perigo de ir a uma guerra sem aliados e a política de não
alinhamento começou a ser desmantelada, o que levaria o país a forjar alianças mais firmes, algo
que seria importante no desenrolar de eventos que levou a Primeira Grande Guerra.[12]

Imagens

Guerrilheiros bôeres durante a Combatentes britânicos mortos


batalha de Mafeking (outubro de durante a batalha de Spion Kop, em
1899-maio de 1900). janeiro de 1900.

Um campo de concentração Lizzie van Zyl, uma menina bôer


britânico para bôeres em encarcerada pelos britânicos em um
Bloemfontein (cerca de 26 mil campo de concentração. Ela faleceu
pessoas morreram nestes campos, de febre tifoide em maio de 1901,
a maioria mulheres e crianças). aos 7 anos de idade.

Ver também
Primeira Guerra Boer

Referências
1. Gooch 2000, p. 92.
2. Raugh 2004, p. 51.
3. Jones, Huw M. (Outubro de 1999). Neutrality compromised: Swaziland and the Anglo-Boer
War, 1899–1902 (http://rapidttp.co.za/milhist/vol113hj.html). Military History Journal. 11. [S.l.:
s.n.]
4. Pakenham, Thomas (1970). The Scramble for Africa: The White Man's Conquest of the Dark
Continent from 1876 to 1912 (em inglês). Londres: Random House. pp. 489–490. ISBN 0-349-
10449-2
5. Berger, Carl (1970). The Sense of Power; Studies in the Ideas of Canadian Imperialism: 1867–
1914. [S.l.]: University of Toronto Press. pp. 233–34. ISBN 978-0-8020-6113-3
6. «South African War (British-South African history)» (http://www.britannica.com/EBchecked/topi
c/555806/South-African-War). Encyclopædia Britannica (em inglês). Britannica.com. 31 de
março de 2011. Consultado em 23 de julho de 2013
7. Millard, Candice (2016). Hero of the Empire: The Boer War, a daring escape, and the making
of Winston Churchill (https://www.amazon.com/Hero-Empire-Daring-Winston-Churchill/dp/0385
535732). New York: Doubleday. ISBN 9780385535731. Consultado em 14 de abril de 2017
8. «Case Name: Anglo-Boer: Britain's Vietnam (1899–1902)» (https://web.archive.org/web/20161
027014601/http://www1.american.edu/ted/ice/boerwar.htm). American University of
Washington D.C Trade Environment projects. Consultado em 17 de junho de 2018. Arquivado
do original (http://www1.american.edu/ted/ice/boerwar.htm) em 27 de outubro de 2016
9. Judd, Denis; Surridge, Keith (2013). The Boer War: A History 2ª ed. Londres: I. B. Tauris.
ISBN 978-1780765914
10. Onselen, Charles van (1982). "Capítulo 1: New Babylon". Studies in the Social and Economic
History of the Witwatersrand, 1886–1914. Londres: Longman. ISBN 9780582643840.
11. Pakenham, Thomas (1979). The Boer War (https://books.google.com/?id=aoFzAAAAMAAJ).
New York: Random House. ISBN 0-394-42742-4
12. Onselen, Charles van (1982). «Chapter 1:New Babylon». Studies in the Social and Economic
History of the Witwatersrand, 1886–1914. London: Longman. ISBN 9780582643840

Bibliografia
Gooch, John. The Boer War: Direction, Experience, and Image. Routledge, 2000. ISBN
071465101X. ISBN 9780714651019.
Raugh, Harold E. The Victorians at War, 1815-1914: An Encyclopedia of British Military
History. ABC-CLIO, 2004. ISBN 1576079252. ISBN 9781576079256.

Ligações externas
The Boer War (https://www.youtube.com/watch?v=WCsm4HvzRQo&list=PLieZXU6naIJK9dW
4WowLHxDuHJ8aQN_Q7), uma série documental em 2 partes exibida na televisão britânica
(1999).
Americanhistoryprojects.com: links to books & articles on Second Boer War (http://www.americ
anhistoryprojects.com/downloads/military.htm#H.) (em inglês)
Scrapbook of Boer War, MSS P 456 (http://archives.lib.byu.edu/repositories/14/resources/774
8) at L. Tom Perry Special Collections, Harold B. Lee Library, Brigham Young University (em
inglês)
The Concentration Camps 1899 - 1902 por Hennie Barnard (http://www.boer.co.za/boerwar/hel
lkamp.htm) (em inglês)
British Commanders of the Boer War, Link (em inglês)

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