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RESUMO DE GEOGRAFIA 2ªTP

2003 Bonasser

SUMÁRIO:
1) Motivações inglesas para colonizar os EUA;

2) O processo de colonização dos EUA;

3) O processo de independência dos EUA;

4) Introdução à marcha dos EUA;

5) Fronteira, Oeste e identidade nacional;

6) As paisagens, o cinema e a dualidade Oeste x Sul;

7) A Guerra Civil Americana;

8) Era Progressista;
1) Motivações inglesas para colonizar os EUA

Durante as grandes navegações, o processo de colonização da


américa pelos ingleses demorou a ocorrer, pois a Inglaterra não tinha um
projeto de expansão marítima ao contrário dos portugueses com a Escola
de Sagres. Além disso, o processo de formação tardio do estado inglês
dificultou a realização de sua expansão marítima.
Entretanto, houve grandes investimentos em atividades marítimas
durante o reinado de Elisabeth I, no século 16. O principal exemplo são os
corsários, piratas ingleses que assaltavam navios espanhóis carregados de
metais preciosos. Eles eram autorizados pela coroa inglesa para realizar
seus ataques.
No século 17, as leis de cercamento, na Inglaterra, fizeram com que
muitos camponeses fossem expulsos de suas terras e buscassem emprego
nos centros urbanos. Porém, a situação de deixar o campo e ir trabalhar nas
cidades era muito difícil para o camponês, pois não havia um mercado de
trabalho que pudesse absorver toda essa massa camponesa.
Nessa mesma época, havia duas companhias de comércio inglesas
(companhia de comércio de Londres e companhia de comércio de
Plymouth) que recebiam investimentos da coroa inglesa. Essas companhias
incentivaram muitos camponeses a ir para a América e ofereceram os
navios delas como meio de transporte para eles chegarem até lá. Estima-se
que 70% dos colonos ingleses que chegaram à América eram camponeses.
Além desse motivo, muitas famílias inglesas fugiram das perseguições
políticas e religiosas que ocorriam na Inglaterra durante as revoluções
inglesas. Na república de Cromwell, havia uma intensa perseguição política
contra aqueles que não eram a favor do seu regime, sob risco de morte.
Durante a restauração da dinastia dos Stuart, houve intensas perseguições
religiosas a calvinistas ingleses(puritanos).

Resumindo os principais motivos:

- Política de cercamento;
- Perseguições políticas;
- Perseguições religiosas;
- Busca por melhores oportunidades;
- Interesse da Inglaterra em ampliar suas relações comerciais;

2) O processo de colonização dos EUA


O território americano pertencente aos ingleses foi dividido em 13 partes
as quais foram denominadas de 13 colônias. A colonização dessas terras se
deu principalmente por povoamento, porém as colônias do sul foram
colonizadas por exploração. As colônias foram divididas em norte, sul e
intermediárias.

● Colônias do norte (Nova Inglaterra): colônias de povoamento,


minifúndio e policultura. A produção era voltada para o mercado
interno, e a mão de obra era do tipo livre, familiar e assalariada. As
principais atividades econômicas da região eram: agricultura, pecuária,
pesca, comércio e produção manufatureira.

● Colônias intermediárias: colônias


de povoamento, minifúndio. Ocupadas por
imigrantes refugiados e colonos da Nova
Inglaterra. As principais atividades econômicas
da região eram: agricultura, pecuária e
extração de madeira. Foram importantes, pois
serviram de vias de penetração para o oeste.

● Colônias do sul: colônias de


exploração, seguiam o sistema de plantation
(bizu do LEME: Latifúndio, Exportação,
Monocultura, Escravidão). A produção era
voltada para o mercado externo (comércio com
a metrópole), e a mão de obra era escrava
(negro africano). As principais atividades
econômicas eram: agricultura (produção de
arroz, tabaco e algodão) e extração (índigo).

De forma geral, o pacto colonial entre Inglaterra e as 13 colônias era


bastante brando. Os próprios colonos possuíam autonomia administrativa
em suas colônias e não havia leis inglesas que regulassem a atividade
comercial das colônias. O comércio triangular evidencia a variedade de
relações comerciais que as 13 colônias tinham com povos de outros
continentes. O comércio triangular é o nome de um circuito econômico
realizado entre os 3 continentes (África, Europa e América).
3) O processo de independência dos EUA

✔ Contexto

No século 18, A Inglaterra participou de guerras como: a guerra de


sucessão espanhola, a guerra de sucessão austríaca, a guerra dos 7 anos,
entre outras. Nesse sentido, vale ressaltar a Guerra dos 7 anos cujo motivo
foi a disputa entre França e Inglaterra por territórios da América do Norte. O
resultado dessa guerra foi a vitória para os ingleses, porém os gastos e os
prejuízos gerados por esses conflitos acarretaram numa grave crise
econômica para a Inglaterra. Diante disso, a Inglaterra precisava adotar
algumas medidas para se reconstituir dessa crise e, para isso, criaram
novos impostos, aumentaram algumas tarifas e o controle administrativo
sobre o território das 13 colônias. Tais atitudes enrijeceram o pacto colonial
entre a Inglaterra e os EUA, e podem ser exemplificadas pela lei do selo, lei
do chá, lei do açúcar e pelas leis intoleráveis. É importante ressaltar
também que a Inglaterra, a partir de 1760, estava vivenciando a primeira
revolução industrial, e necessitava receber matéria-prima da colônia e
ampliar o seu mercado consumidor. Por isso, eles fortaleceram o exclusivo
comercial com os Estados Unidos.

✔ A revolução americana

Diante da postura da Inglaterra, delegados representantes das 13


colônias reuniram-se no 1º congresso continental da Filadélfia em 1775. A
decisão da reunião foi o envio de uma carta solicitando o fim das medidas
restritivas da metrópole. Contudo, o rei inglês não aceitou e decidiu
aumentar o número de soldados britânicos no território estadunidense.
Em 1776, ocorre o 2º congresso continental da Filadélfia, na qual a
declaração da independência é assinada por Thomas Jefferson. Após isso,
acontece a Guerra de Independência que foi marcada por intensos conflitos
entre as tropas britânicas e o exército continental americano. O resultado foi
a vitória para os americanos com a ajuda da França e da Espanha, e o
reconhecimento da independência dos Estados Unidos pela Inglaterra no
Tratado de Paris (1783).
4) Introdução à marcha dos EUA

✔ A curta marcha para a hegemonia

O processo de formação da hegemonia estadunidense é apelidado de


“curta marcha’’, pois o país se constituiu como a principal potência mundial
em um curto período de tempo. Até o final do século 18, era uma colônia;
até o final do século 19, se firmou como uma grande potência; no final da 1ª
Guerra Mundial, era a maior economia do mundo, e no final da 2ª Guerra
Mundial, estabeleceu-se como potência hegemônica.

Essa parte do resumo abordará o significado de fronteira, a ocupação do


meio oeste, a formação da identidade nacional americana e como a alegoria
do destino manifesto influenciou esses assuntos. É importante perceber
que, após a independência dos Estados Unidos, os americanos irão romper
com o eurocentrismo, ideia do europeu no centro do mundo e seus valores,
cultura e religião prevalecendo sobre um povo. Eles irão constituir uma nova
sociedade (o “oeste”) e começarão a construir seus valores e sua cultura
com base no meio onde vivem.

✔ A alegoria do destino manifesto

A alegoria do destino manifesto é uma ideologia baseada na doutrina


calvinista, a qual acredita que o povo americano foi escolhido por Deus para
ocupar as terras do Novo Mundo. Ela se baseou em interpretações bíblicas
que concluíram uma analogia entre o povo hebreu e o povo americano. O
povo americano, antes de chegar às 13 colônias, sofria perseguições na
Inglaterra assim como os hebreus sofreram no Egito; o povo americano,
para chegar ao Novo Mundo, teve de atravessar um longo e perigoso
oceano assim como os hebreus tiveram de atravessar o deserto de Sinai; os
americanos recebiam indicações divinas de uma nova terra assim como os
hebreus. Nesse sentido, a alegoria do destino manifesto vai dar à luz uma
nova ideia, a ideia de que os americanos foram um povo predestinado e
eleito para conquistar a nova terra prometida por Deus. Tal visão influenciou
o avanço da fronteira para o interior dos Estados Unidos, evidenciando uma
política de expansionismo e imperialismo interno.
5) Fronteira, Oeste e identidade nacional

✔ A teoria da fronteira

O historiador Frederick Turner ressalta a importância da fronteira na


história dos Estados Unidos. O significado de fronteira está além do seu
sentido político (uma linha que divide o território de cada estado e delimita o
espaço geográfico), a fronteira está relacionada ao povoamento, no sentido
de que ela se desloca por meio da ocupação do meio oeste do
país(interiorização). Além disso, a fronteira pode ser interpretada como o
encontro entre a civilização (os colonos) e a barbárie (os povos nativos da
América). Esse conflito é fortemente marcado pelo embate, o confronto
entre os índios e os colonos, o qual resultou na dizimação de alguns povos
indígenas e no seu isolamento em reservas nativas.

✔ Imperialismo interno, doutrina Monroe


e destino manifesto
O processo de formação territorial dos
Estados Unidos é caracterizado como
um imperialismo interno. Assim como
um império conquista territórios,
impondo sua vontade e poder sobre
outros povos, os Estados Unidos assim
o fez. Por meio da ocupação de
territórios indígenas, do avanço das
fronteiras de territórios pertencentes a
países europeus e guerras contra
países latino-americanos como o
México, os Estados Unidos foram se
instalando e explorando essas áreas
sem o consentimento dos outros povos.
Apenas depois, através de tratados e
acordos, os Estados Unidos tiveram
seus territórios conquistados
reconhecidos formalmente por outros países.
Esse ideal de ocupação e expansão da fronteira foi influenciado pela
alegoria do destino manifesto, a qual afirmava a ideia de que o povo
americano foi eleito por Deus para ocupar as terras livres da América.
Dessa forma, essa ideologia incentivava o avanço da fronteira e a ocupação
das terras do meio oeste, ratificando a política imperialista americana.
Em 1815, alguns países europeus formaram um grupo chamado Santa
Aliança com a intenção de recolonizar suas ex-colônias, que já haviam se
tornado independentes. Em reação a isso, o presidente James Monroe
fundou a doutrina Monroe, a qual negava qualquer tipo de intervenção de
algum país europeu nas nações da América. Dessa forma, essa doutrina
favoreceu os Estados Unidos no sentido de que eles puderam intervir nos
países americanos sem a interferência das nações europeias, construindo
assim uma “América para os estadunidenses”. Um exemplo disso foi a
guerra entre Estados Unidos e México, em que não houve a interferência de
nenhum país europeu no conflito, e a guerra terminou com a vitória e a
anexação de terras como a California e o Texas para os norte-americanos.

✔ A fronteira como projeto de potência

A expansão da fronteira, em seu sentido geográfico, auxiliou no projeto


de potência estadunidense. Ao conquistarem as saídas para o oceano
Atlântico e Pacífico, houve o fortalecimento do seu poder marítimo em 2
âmbitos: Marinha de guerra e Marinha mercante. No quesito comercial, a
ampliação do comércio marítimo com a Ásia e os países latino-americanos,
no quesito naval, o aumento na instalação de bases navais em locais
estratégicos. Além disso, a expansão territorial aumentou a quantidade de
recursos naturais disponíveis, servindo como fonte de matéria-prima e
energia para atividades industriais. Por último, pode-se citar o aumento na
quantidade terras férteis disponíveis por meio da expansão da fronteira
agrícola, que vai contribuir para que os Estados Unidos se tornem uma
potência agrícola e agroexportadora.
O processo de interiorização americano pode ser divido em 4
períodos:

- Século 16: ocupação das praias da Virgínia;


- Século 17 e 18: o território vai até os Montes Apalaches;
- Final do século 18 e início do 19: avanço em direção ao vale
do Mississipi (importante rio de interiorização);
- Final do século 19: conquista das Montanhas rochosas.
A anexação dos territórios conquistados pelos Estados Unidos vai ser
formalizada (oficialmente reconhecida) por meio de tratados, acordos e
compras com a França, Inglaterra e Espanha, porém, alguns territórios
mexicanos como o Texas e a California foram conquistados por meio de
guerras e conflitos separatistas. A anexação de parte do México foi
influenciada pelo corolário Polk, política adotada pelo pelo presidente John
Knox Polk para justificar a expansão sobre o México.

✔ O meio oeste

Na historiografia de Turner, o Oeste é o lugar ideal, o sonho a se


conquistar. A conquista do meio oeste pode ser explicada por 3 motivos: a
necessidade de incorporar novas terras para as atividades industriais ao
norte; a expansão agrícola para a produção de gêneros subtropicais
(tabaco, algodão) ao sul; e os norte-americanos que não possuem terras e
nem emprego vão procurar melhores oportunidades no oeste, lugar onde
há terras livres e férteis, em que a pessoa possa morar e exercer seu
trabalho.
Contudo, seria necessário passar por um caminho repleto de perigos,
desafios e mistérios para chegar a esse lugar. O Oeste, também chamado
de wilderness (desconhecido), é marcado pela grande variedade de
paisagens naturais com uma diversidade de animais e biomas, que não era
conhecida pelos estadunidenses. Dessa forma, eles tiveram de se adaptar
às condições do meio, dominar, controlar e domesticar a natureza
daquele ambiente, além de lutar contra os povos indígenas, expulsando-os
de suas terras.
É importante entender que o processo de expansão da fronteira para o
meio oeste foi, na verdade, um processo econômico e social, forma-se um
novo tipo de sociedade. Uma sociedade adaptada às condições do meio em
que vivem, ou seja, a natureza transformou a sociedade que nela se
estabelecia. É uma sociedade
democrática, caracterizada pelo direito à
propriedade privada, pela igualdade de
direitos, igualdade de oportunidades e
liberdade, porém apenas para os
brancos. Havia uma economia livre,
voltada para o capitalismo moderno,
composta por comerciantes, fazendeiros,
vaqueiros, caçadores, trappers, agentes
históricos que contribuíram para o processo de expansão.

✔ A democracia para os brancos

Os ideais da democracia ficaram restritos somente para os brancos, ou


seja, os índios e negros foram excluídos do processo de formação da
sociedade do meio oeste, não havia a ideia de miscigenação nem com o
índio e nem com o negro. O índio era visto como um ser primitivo, um
obstáculo a ser vencido pelos americanos no processo de expansão da
fronteira. A população indígena sofreu um intenso extermínio físico e
cultural, tendo suas terras apropriadas pelos homens brancos e suas
reservas empurradas para longe de sua terra de origem. Além disso, o povo
negro estava ligado às sociedades aristocráticas e escravagistas do sul,
uma experiência desvinculada da ideia de fronteira, de Oeste. O Oeste
representa a liberdade, a ruptura com o antigo regime, um sonho a ser
alcançado, enquanto que o Sul representa a escravidão, o antigo regime,
uma sociedade retrógrada.
✔ A identidade nacional

Para Turner, o processo de formação da identidade nacional


estadunidense se inicia com os homens simples, os vaqueiros, pois eles
são as pessoas que enfrentam as dificuldades do dia a dia, lidam com as
condições do ambiente e superam os obstáculos da fronteira. Dessa forma,
há o surgimento de um americano genérico, um herói popular conhecido
como frontierman (homem da fronteira), que será cultuado em artes visuais
e no cinema popular.
Com a ocupação do meio oeste, os americanos constituem um novo tipo
de sociedade, baseada não mais na cultura e no modo de vida europeu,
mas sim numa identidade própria, num estilo único. A natureza estava
inserida no seu cotidiano, o uso da camisa de caça e o mocassim como
vestimentas é um exemplo disso; a influência da religião calvinista na
sociedade, a ideia de enxergar o enriquecimento não como um pecado, mas
sim como consequência do próprio esforço, trabalho.
Em resumo, o começo da formação da identidade dos Estados Unidos se
dá, primeiramente, pela ruptura com a Europa e, após isso, por um
processo de luta com a natureza e expansão da fronteira.
6) As paisagens, o cinema e a dualidade
Oeste x Sul

✔ As paisagens naturais e os seus


significados
As paisagens naturais vão ter um papel importante na construção da
identidade dos Estados Unidos. As imagens e os cenários paisagísticos não
estão presentes nos filmes e nas artes apenas como pano de fundo, mas
eles possuem um significado maior. As paisagens representam a
grandiosidade e a diversidade dos Estados Unidos, a natureza do país vai
ser exaltada e valorizada, começa a ser criada uma ideia de nacionalismo
que vai sendo consolidada por meio do cinema e dos filmes, os quais vão
fortalecer o soft power dos Estados Unidos.
Dentre algumas paisagens se destacam: o deserto e as montanhas
rochosas, representando os desafios e os obstáculos enfrentados e
superados pelos vaqueiros; as planícies centrais, as quais significam a
grandiosidade, imensidão das terras estadunidenses; a bacia do Mississipi e
Missouri que serviu como meio de interiorização dos Estados Unidos; e as
florestas temperadas com sua policromia( diversidade de cores), indicando
uma vivacidade da natureza americana.
Barbosa caracteriza, em seu texto, as paisagens naturais americanas
como hiper-reais, ou seja, elas se articulam, influenciam e interagem com a
sociedade. Elas representam o dinamismo da sociedade americana, o
espaço transforma a sociedade, e a sociedade transforma o espaço. Por
isso, pode-se afirmar que a natureza foi essencial na construção da
identidade nacional americana.
✔ O papel do cinema

No cenário de construção da identidade


nacional, o cinema americano teve como
função divulgar e valorizar as paisagens
naturais por meio dos filmes de gênero
western, de ação, de romance, entre
outros. Além disso, os filmes pretendiam
despertar o mito do wilderness no
imaginário coletivo. O mito do wilderness (desconhecido) representa a ideia
de uma natureza desconhecida, repleta de desafios e obstáculos, mas que
vai ser enfrentada, controlada e domesticada pelo homem. A finalidade dos
filmes era reviver as histórias de aventuras e mistérios, que fazem parte do
espírito americano, um espírito corajoso, viril e desbravador.

✔ A dualidade Oeste x Sul

O cinema e a literatura construíram duas visões no imaginário coletivo


durante muito tempo, a visão do Oeste e a visão do Sul.
O Oeste era caracterizado como a terra dos sonhos, das
oportunidades e do paraíso, onde há democracia e liberdade. Os filmes
buscavam retratar paisagens do oeste como vivas, exuberantes e
policromáticas.
Por outro lado, o Sul representa uma sociedade aristocrática,
escravagista, o legado do antigo regime mesmo após a independência. O
cinema procurou enfatizar as marcas do passado do Sul, o estigma da
escravidão, além de representar cenários fantasmagóricos, melancólicos e
monocromáticos.
Segundo Barbosa, o Sul era a sociedade do passado e a negação da
terra livre, portanto, do homem livre, enquanto que o Oeste era geografia
sem passado, página em branco, a sociedade do presente e do futuro para
os homens livres e iguais. O Oeste era é a utopia do “self-made man”, e o
Sul, a negação do sonho. O escritor enquadra o Oeste e o Sul em
binarismos como: bem x mal; sucesso x fracasso, progresso x decadência,
felicidade x melancolia, etc., afirmando que os dois opostos constituem as
fronteiras do American Dream, a crença de que todas as pessoas possam
ascender socialmente e economicamente por meio do esforço pessoal,
independentemente de sua classe, religião ou do lugar em que nasceu.
7) A Guerra Civil Americana

Também chamada de Guerra de Secessão, ela contou com a


participação dos estados do norte (economia industrial, voltada ao mercado
internacional) e os estados do sul (economia mercantilista, voltada para
exportação).
No capítulo 7 serão abordados o contexto internacional e nacional da
Guerra Civil Americana, as três correntes de interpretação dessa guerra e o
desenrolar dos acontecimentos desse conflito.

✔ Correntes de interpretação da guerra


civil
O escritor Martin afirmou que havia duas correntes de interpretação sobre
a Guerra Civil americana, a corrente sociológica e a geopolítica.

1) Corrente sociológica: A guerra se deu por um embate entre as classes


sociais pela questão da escravatura. Enquanto que o Norte pretendia abolir
a escravidão, o Sul lutou pela manutenção do sistema escravocrata. Essa
corrente afirmava que o Norte queria a abolição, pois tinha a intenção de
lutar pela garantia da igualdade e liberdade de todos os habitantes do país.

2) Corrente geopolítica: corresponde a visão de que os federalistas estavam


intervindo nas políticas de outros estados, não respeitando o direito de
autogoverno dos estados escrito na constituição.

No início do século 20, à medida que os EUA se tornavam uma das


principais potências mundiais, surgiu uma nova corrente de interpretação
acerca dos eventos da Guerra Civil, a corrente capitalista.

3) Corrente capitalista: havia uma intenção dos estados federais (do Norte)
em sobrepor o capital industrial em relação ao agrário. Eles queriam acabar
com a escravidão para fortalecer a economia industrial e enfraquecer a
economia agrária, baseada na mão de obra escrava. Para essa corrente,
não havia uma intenção libertadora por igualdade de direitos, mas sim uma
motivação para obter lucro como todo sistema capitalista.

Essa nova corrente gerou um debate entre os políticos de esquerda e


os conservadores, levando a duas posições opostas:
● Políticos de esquerda: eles acreditam que existe uma grande
desigualdade social nos Estados Unidos, e é necessário lutar pela
igualdade racial para que os negros tenham os mesmos direitos que
os brancos.
● Políticos conservadores: acreditam que não há desigualdade
entre os negros e os brancos nos Estados Unidos. A igualdade e os
direitos civis foram conquistados por todos os cidadãos após o fim da
Guerra Civil Americana.

✔ Contexto nacional estadunidense

No século 19, a configuração geoeconômica do território dos Estados


Unidos se dava da seguinte forma:

Norte, nordeste e Grandes Lagos: regiões onde há uma grande


concentração industrial e expansão populacional, com destaque para: Nova
Iorque, Boston e Filadélfia.

Centro e Sul: regiões onde há o desenvolvimento de uma agricultura de


latifúndio e de mão de obra escrava, porém de baixa produtividade, com
destaque à expansão das plantações de algodão e tabaco ao oeste.

Apesar de possuírem objetivos diferentes, ambos os estados (do Norte


e do Sul) queriam ocupar o meio oeste para concretizar seus interesses.
Contudo, havia uma desigualdade social e econômica muito grande entre
eles. Enquanto que o Norte era uma democracia com uma economia
dinâmica, em que todos os cidadãos são iguais perante a lei, o Sul era uma
aristocracia com uma economia mercantil (voltada para o mercado externo)
e ruralizada, onde há a escravidão, a negação da liberdade. Dessa forma,
haverá um conflito de interesses entre a burguesia industrial abolicionista do
Norte e a aristocracia rural escravagista do Sul, o qual irá provocar a Guerra
Civil Americana.
✔ Contexto internacional

A partir de 1850, o mundo entra na 2ª Revolução Industrial, e novos


meios, indústrias e políticas são incorporadas ao sistema capitalista
mundial. Dentre essas inovações, podemos destacar:

- Surgimento de indústrias petroquímicas, siderúrgicas,


metalúrgicas, navais, automobilísticas, entre outras.

- Revolução dos meios de transporte: trens, navios a vapor,


automóveis, ferrovias.

OBS: durante a Guerra Civil Americana, as malhas ferroviárias serviam


para transportar soldados, produtos, mantimentos, etc. Vale ressaltar que a
rede ferroviária mais desenvolvida do Norte dos EUA foi uma vantagem na
guerra sobre a malha ferroviária pouco desenvolvida do Sul.

- Capitalismo monopolista com as grandes empresas;

- Crescimento do capitalismo financeiro, mercado de ações e


bolsa de valores;

- Imperialismo do século 19: foi um período marcado pela


competição entre as principais potências industriais por territórios,
mercado consumidor, matéria-prima e mão de obra nos países da
África e da Ásia.
✔ Motivos:

● Políticas econômicas: Havia divergências entre as políticas


econômicas do país. O Norte era a favor de medidas protecionistas
como tarifas alfandegárias, pois isso estimularia a produção industrial
interna, gerando competitividade com as indústrias internacionais. Já o
Sul era contra essas medidas, pois ele era dependente do mercado
externo e importava equipamentos e tecnologias de outros países
como a Inglaterra. Taxar esses produtos, essa tecnologia seria
prejudicial ao Sul, pois isso encareceria os produtos. Além disso, o Sul
teria dificuldades em vender seus produtos, pois outras nações
taxariam seus produtos também.

● Motivo social: Os estados do norte queriam abolir a escravidão,


enquanto os estados do sul queriam mantê-la. Para o Norte, a
escravidão impedia o aumento do mercado consumidor, pois escravos
não recebem salário, nenhuma remuneração em capital. Em uma
sociedade de economia dinâmica e industrial, é fundamental constituir
um mercado consumidor para comprar os produtos. Por outro lado, o
Sul era dependente da mão de obra escrava africana, recusando a
proposta abolicionista do Norte.

● Disputa territorial: Havia uma disputa entre o Norte e o Sul


pelas terras do meio oeste. O Sul pretendia usar as terras para
expandir a produção de tabaco e algodão e instituir uma sociedade
escravagista. O Norte tinha a intenção de usar os espaços para
desenvolver uma economia capitalista moderna com atividades
industriais.

● Disputa política: O congresso dos Estados Unidos era


formado por deputados e senadores representantes de cada estado do
país. No século 19, o país americano era divido em estados e
territórios; para que um território possa escolher seus representantes,
é necessário que o território seja elevado à categoria de estado. Não é
importante entender esse processo, o que interessa é que os políticos
do Sul e os políticos do norte disputavam entre si para que os
deputados e senadores dos recém-estados(antigos territórios)
aderissem a um dos lados de modelo de sociedade: livre(Norte) e
escravagista(Sul). Em outras palavras, esses políticos deveriam
escolher se eram a favor da abolição ou da escravidão, por isso havia
uma disputa entre Norte e Sul para ver quem influenciava mais os
políticos do Oeste.

● Eleição de Abraham
Lincoln: Em 1860, Abraham
Lincoln (político representante dos
estados do Norte) ganha as eleições
presidenciais dos Estados Unidos.
O resultado gera insatisfação nos
políticos do Sul, intensificando os
conflitos entre os nortistas e os
sulistas.
✔ Antecedentes

Após a eleição de Abraham Lincoln, houve uma divisão entre os estados


dos EUA em estados confederados e federais. Os estados
confederados(sul) eram os estados separatistas da União, que queriam se
separar do país, os estados federais(norte) são os estados que
permaneceram na União, no país.
O estopim da guerra ocorre quando as tropas confederadas atacam as
tropas da união no Forte Suster em abril de 1861.

✔ A Guerra

A guerra aconteceu no território do sul dos EUA e durou de 1861 a 1865.


As tropas sulistas tinham um bom manuseio de armas, sabiam montar a
cavalo e tinham conhecimento do território. As tropas nortistas estavam em
maior número, pois havia uma população maior no norte do que no sul, e o
norte possui uma rede ferroviária mais ampla e desenvolvida do que o Sul,
facilitando o transporte de soldados, mantimentos, suprimentos para a
guerra.
Em meados da guerra, Lincoln estabelece um bloqueio econômico ao
sul, medida que diminui a exportação de algodão do sul e
consequentemente os lucros para a compra de armas, mantimentos,
equipamentos, etc. O Sul achava que iria receber apoio da França e da
Inglaterra, mas não receberam nada. Vários soldados sulistas abandonaram
a guerra, e escravos foram colocados para repor o lugar desses soldados,
porém eles aproveitaram a oportunidade para fugir dos estados sulistas.
Como consequência, a economia do sul foi destruída, poucos escravos,
pouca exportação, poucos lucros, enquanto que a economia do norte foi
preservada. Em 1865, ocorre a abolição da escravatura e algumas terras
sulistas foram confiscadas pelos nortistas, o que caracteriza vitória dos
estados federais sobre os estados confederados.
8) Era Progressista

A guerra civil gerou consequências sociais e econômicas para os


Estados Unidos.
No âmbito econômico, o país unificou o seu modelo econômico, isto é,
antes o norte era capitalismo industrial, e o Sul era capitalismo mercantil,
depois o Sul passou a adotar o modelo capitalista industrial, havendo
apenas um modelo econômico no país.
No âmbito social, apesar da abolição da escravatura, os negros ainda se
encontravam em posição de desigualdade perante os brancos. Os governos
adotaram leis de segregação racial, instituindo separação entre negros e
brancos em estabelecimentos e transportes, proibição do casamento
inter-racial, entre outras medidas.

● Consequências da imigração: No início do século 20,


os Estados Unidos receberam um grande contingente de
imigrantes que buscavam melhores condições de vida,
emprego e fugir da 1ª Guerra Mundial. Eles vão compor grande
parte da mão de obra necessária para as indústrias e vão se
estabelecer em cidades como Nova Iorque, Chicago, Filadélfia,
que, posteriormente, tornar-se-ão grandes metrópoles.
A Era Progressista foi uma fase de políticos expansionistas no
governo aliados a grandes elites econômicas e intelectuais com
projetos IMPERIALISTAS (a Era Progressista foi o marco do
imperialismo estadunidense). O grande projeto dessa época foi
expandir a fronteira para além do território americano.

OBS: Expansão da fronteira significa projetar os interesses


estadunidenses sobre outros lugares como América Central, México
e ilhas do Pacífico. Lembrando que os Estados Unidos, assim como um
império, visaram conquistar seus interesses exercendo seu poder
militar, econômico e cultural sobre outros povos.

● Âmbito ideológico
No âmbito ideológico, os intelectuais aliados do governo defendiam
o imperialismo baseando-se na doutrina do darwinismo social, uma
doutrina que afirmava que a evolução tecnológica e cultural de
algumas sociedades evidencia sua superioridade em relação a outras.
Tal doutrina era usada para justificar a superioridade americana
sobre os países latino-americanos e a criação de políticas de
segregação racial e discriminatórias para índios, mexicanos e outros
imigrantes.

● Âmbito social
No âmbito social, as grandes elites econômicas e intelectuais
estenderam a ideia de darwinismo social para o próprio país. A ideia
de que o grande poder político-econômico refletia o sucesso
natural dos mais aptos na sociedade justificava o fato de existirem
pessoas que trabalham e vivem em péssimas condições, enquanto que
outras são ricas e possuem uma ótima qualidade de vida.

Houve o surgimento de
movimentos sociais como
feministas, sindicalistas,
socialistas, negros os quais criticavam a falta de direitos políticos,
sociais, a alta concentração de renda da população mais rica, a
miséria, a questão dos Robber Barons que exploravam os
trabalhadores, pagavam salários baixíssimos e ganhavam dinheiro
sujo. Também surgem movimentos ligados a profissionais liberais como
advogados, médicos, jornalistas e alguns setores da classe média que
denunciavam a corrupção e as injustiças sociais do país. A Era
Progressista foi uma fase de descompasso entre a economia e a
sociedade americana, o crescimento econômico contrastava com as
péssimas condições sociais dos trabalhadores, negros, indígenas e
imigrantes.
● Âmbito econômico

No âmbito econômico, ocorre a substituição da economia


artesanal (produção manufatureira) pela economia industrial
(maquinofatureira). Na economia agrícola, os grandes produtores
passam a ser os complexos agroindustriais substituindo a mão de
obra familiar e individual. Em suma, as grandes indústrias da
segunda revolução industrial, os grandes complexos agroindustriais
e a ascensão de uma classe média especializada em serviços e em
mão de obra vão conduzir o país à condição de maior potência
econômica mundial no início do século 20.
Contudo, os Estados Unidos passam por uma crise capitalista no
final do século 19. Essa crise é decorrente do descompasso entre
superprodução e baixo mercado consumidor. As grandes
indústrias pagavam salários baixíssimos a seus operários, o
desemprego aumentou por conta da crescente substituição da mão de
obra humana pelas máquinas, e a concentração de renda nas mãos
dos mais ricos começou a aumentar, logo grande parte da população
não tinha condição financeira para adquirir produtos
industrializados, que são de alto valor agregado(caros). O que
aconteceu foi que as indústrias superproduziam, mas poucos
compravam seus produtos. Qual foi a solução das grandes elites
econômicas para resolver a crise? Expandir seu mercado
consumidor.
✔ O neocolonialismo estadunidense

O neocolonialismo foi uma política imperialista adotada pelas grandes


potências econômicas mundiais, que visava expandir o mercado
consumidor desses países, recrutar mão de obra e buscar mais
matérias-primas. Também pode ser definido pela busca por novos
espaços onde se possa absorver o excedente de capital. A crise
capitalista no final do século 19 foi uma crise do excedente do capital, ou
seja, como as indústrias estavam vendendo menos produtos,
consequentemente o lucro( excedente de capital) também diminuiu,
dessa forma a grande sacada dos industriais foi expandir sua produção,
suas indústrias e seu mercado consumidor em outros territórios como:
África, Ásia, América Latina, ilhas, etc., a fim de investir o capital nesses
espaços para aumentar seus lucros. No caso dos Estados Unidos, eles vão
intervir e exercer o controle em países da América Latina e em algumas
ilhas do Pacífico por conta de interesses políticos, econômicos e
militares, que serão vistos mais pra frente.
O neocolonialismo reforça o argumento de que a verdadeira intenção da
doutrina Monroe era de estabelecer uma América não para os
americanos, mas sim para os estadunidenses.
O imperialismo estadunidense interveio nos países latino-americanos e
exerceu um grande controle político-econômico de acordo com seus
interesses, além disso tal doutrina procurou evitar a intervenção de outros
países europeus na América mas como os Estados Unidos não tinham um
forte poder militar até o final do século 19, esse objetivo de afastar os
europeus não deu muito certo no início.
Outro argumento que reitera a tese de que a América era para os
estadunidenses é como a maioria das pessoas se referem aos
indivíduos que nascem nos Estados Unidos ou a qualquer coisa que
vem de lá, por exemplo: quem nasce nos Estados Unidos é americano, “
comprei um carro americano”, “a revolução americana” se referindo ao
processo de independência dos Estados Unidos. Portanto, o controle dos
Estados Unidos sobre a América Latina não é apenas uma questão
histórica, mas também cultural.

✔ Crescimento do poder naval americano


Até metade do século 19, a Marinha americana era pequena e detinha
pouco poder. Após a influência de alguns estrategistas e especialistas em
guerra como Alfred Mahan, o estado americano passou a investir em seu
poder naval por meio de investimentos em indústrias de construção
naval. Como consequência, os Estados Unidos eram considerados a
segunda Marinha mais forte do mundo no início do século 20, apenas
atrás da Inglaterra.
Outro fator que motivou a ascensão do poder naval americano foi a
geografia do território: o país, por ter uma característica insular (saída
pra dois grandes oceanos), seria dificilmente invadido se tivesse uma
Marinha forte e fosse amigo de seus países terrestres vizinhos.
Uma grande demonstração de seu poder marítimo foi quando o
presidente Roosevelt enviou 54 navios de guerra na região da América
Central e do Caribe para negociar questões diplomáticas com a Inglaterra e
Alemanha, após isso a Inglaterra( maior Marinha do mundo) reconheceu a
soberania da Marinha estadunidense em algumas regiões da América
Central.

✔ Guerra hispano-americana (1898)

É considerada o marco do
imperialismo dos Estados
Unidos na América Latina. A
presença de possessões
espanholas na região do
Caribe dificultava a expansão
estadunidense, dessa forma os
americanos adotaram uma
estratégia de aliança com
movimentos insurgentes, que
visavam a independência
desses países do Caribe, para
enfraquecer o domínio
espanhol na América Central.

Por que interferir nesses países? De acordo com a teoria da baleia (será
explicada mais adiante) de Alfred Mahan, os Estados Unidos consolidariam
sua hegemonia marítima se conseguissem estabelecer um canal pela
América Central que ligassem os dois grandes oceanos, interligando a
Marinha do oeste e a Marinha do leste dos Estados Unidos. Nesse
sentido, o interesse era de estabelecer pontos estratégicos para fortalecer
a defesa de seu território.
A guerra entre os Estados Unidos e a Espanha durou oito meses,
ocasionando a vitória americana devido a superioridade da Marinha
americana em relação à espanhola, e a Espanha cede os territórios de
Porto Rico, Cuba e vende as Filipinas para os Estados Unidos.
Em 1898, ocorre a anexação do Havaí ao território americano, e os
Estados Unidos passam a exercer controle em ilhas do Pacífico como:
Guam, ilhas Samoa e Filipinas. Vale ressaltar que não era de interesse
estadunidense transformar esses territórios em colônias, pois os
produtos tropicais dessas ilhas como: açúcar, tabaco e algodão poderiam
concorrer com os produtos do sul dos Estados Unidos, prejudicando
os comerciantes.

✔ O governo de Roosevelt (1901-09)

Theodore Roosevelt se tornou presidente dos Estados Unidos em 1901,


as principais políticas internacionais adotadas por ele foram o corolário
Roosevelt e o Big Stick.
O corolário Roosevelt permitia a intervenção americana em qualquer
país da América Latina que agisse contra os interesses econômicos e
políticos dos Estados Unidos.
A política do big stick seria a aplicação do corolário Roosevelt e é
conhecida pela seguinte frase: “Fale com suavidade e tenha à mão um
grande porrete”. Isso significa que o estado americano usava a diplomacia
para convencer os governos da América Latina a se aliarem aos interesses
estadunidenses, caso eles não aceitassem, o Estados Unidos iria intervir
militarmente nesses países.
Roosevelt foi o condutor da construção do Canal do Panamá, além de
ter apoiado a independência do país. Ele era contra os Robber Barons e
contra os grandes magnatas do aço, das ferrovias, banqueiros, oligopólios,
trustes e holdings, inclusive propôs uma lei de combate a esses grupos,
porém não foi aprovada.

✔ Intervenções norte americanas

O Estados Unidos, ao longo do século 20, interviu em diversos países


como: Cuba, Porto Rico, Haiti, República Dominicana, Granada, etc. Em
1902, o estado americano criou a Emenda Platt, a qual foi incorporada à
constituição cubana após sua independência e nela constava os seguintes
direitos:

● Direito de intervir em Cuba para preservar sua independência e


assegurar a manutenção de governos que respeitassem a liberdade
individual, a propriedade e o direito à vida (na real eles só queriam
manter um controle político sobre Cuba).
● Direito de exercer construções navais na costa cubana, um
exemplo é a base naval americana na Baía de Guantánamo.
● Direito de instalar propriedades americanas produtoras de açúcar e
tabaco em território cubano.
Outros grandes exemplos são as diversas intervenções políticas e
econômicas no Haiti e na República Dominicana exercidas pelos
americanos.
Motivos das intervenções: No âmbito político, os Estados Unidos
queriam assegurar o controle político sobre os países latino americanos
desfazendo movimentos insurgentes e derrubando governos contra
interesses americanos. No âmbito econômico, manter o controle da
arrecadação de tarifas alfandegárias e da produção de gêneros
tropicais nas ilhas.

✔ Construção do canal do Panamá


(1903-14)
Influenciados pela Teoria da Baleia (melhor explicada no tópico:
características gerais do imperialismo norte americano), os Estados
Unidos tinham a intenção de construir um canal que ligasse o Oceano
Pacífico e o Oceano Atlântico por meio da América Central. O primeiro
projeto foi a construção do Canal da Nicarágua, porém, devido aos altos
custos envolvidos naquela época, a obra foi abandonada. Dessa forma, o
segundo projeto foi construir esse canal no Panamá, e Roosevelt foi
fundamental na condução desse projeto.
Nessa época, o Panamá pertencia ao território da Colômbia e tinha
intenções de separar do país e conquistar sua independência. O estado
colombiano recusou a presença dos Estados Unidos em seu território para a
construção do canal. Diante disso, os americanos apoiaram os movimentos
separatistas do Panamá e ajudaram-no a conquistar sua independência. Em
troca, o Panamá cedeu uma porção de seu território para que os Estados
Unidos pudessem construir o canal.
Esses dois projetos exemplificam mais uma vez o intervencionismo
americano em prol de seus interesses econômicos e militares. Por meio de
derrubadas de governos e de estímulo a independências e revoluções
nos países latino americanos, os Estados Unidos foram conquistando sua
hegemonia militar e econômica frente aos povos americanos.
✔ Revisão das principais características do
imperialismo norte americano do final do
século 19 até início do século 20

● A teoria da baleia: elaborada pelo almirante Alfred Mahan, defendia


a ideia de que os Estados Unidos era um país quase impossível de ser
invadido devido ao fato de ser um país insular. Os Estados Unidos
não possuem inimigos terrestres e são aliados do México e do
Canadá. O único modo possível de invasão seria por meio do mar,
então, para Mahan, seria necessário conquistar uma hegemonia
marítima. Para isso, o governo americano deveria investir
pesadamente em sua Marinha, manter a América Central como
zona de influência e construir um canal que ligasse o Oceano
Pacífico ao Oceano Atlântico pelo Mar do Caribe, dessa forma a
Marinha da costa oeste e leste dos Estados Unidos estaria interligada
aumentando a defesa do território.

● Corolário Roosevelt: permitia a intervenção americana em países


latino americanos que agissem contra os interesses econômicos e
políticos estadunidenses. Foi baseada na doutrina Monroe e no
darwinismo social, fortaleceu a indústria, o comércio, o Exército e a
Marinha americanos.

● Política do Big Stick: implementada por Roosevelt, uso da diplomacia


para convencer os países latino americanos dos interesses
americanos, caso agissem contra, sofreriam intervenção militar dos
EUA.

● Emenda Platt: emenda incorporada na constituição cubana de 1902,


garantia o direito de intervenção política por parte dos Estados Unidos,
direito de instalação de bases navais na costa de Cuba e direito de
instalar propriedades americanas produtoras de açúcar e tabaco no
país.

● Intervencionismo missionário: adotado pelo presidente Woodrow


Wilson em 1913, defendia a ideia de que os Estados Unidos deveriam
intervir nos países latino americanos, pois eles não sabiam se auto
governar. Pelo fato de serem subdesenvolvidos e inferiores, a
população desses países não era capaz de eleger bons
representantes (bons no sentido de estar de acordo com os
interesses americanos) e necessitava da intervenção estadunidense.
Segundo essa doutrina, os Estados Unidos tinham o direito de
esclarecer e elevar os povos.

✔ Conclusão
Durante esse período, os EUA fizeram uso de seu poder econômico e
militar para promover a assunção de governos que estariam de acordo
com os interesses americanos. Sua política externa pode ser
caracterizada como paradoxal: o processo de construção da democracia
dos países latino americanos deveria ser exclusivamente nacional,
entretanto, os EUA impuseram a democracia e forçaram a liberdade e a
emancipação de alguns países, ou seja, interviam militarmente e os
controlavam sob o pretexto de estarem ajudando na formação da
democracia de um dado país.
A política externa intervencionista é uma reafirmação do destino
manifesto baseada no anglo-saxonismo: ideia de que a nação norte
americana era superior do ponto de vista racial e tinha uma missão
civilizatória, a de levar a democracia, liberdade e outras virtudes para
nações subdesenvolvidas. Dessa forma, o mundo estaria sendo beneficiado
com essa expansão já que os países subdesenvolvidos, portanto, inferiores
não seriam capazes de se autogovernar.

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