Você está na página 1de 15

3

As resistências africanas

1. As resistências africanas
Entre 1880 a 1900, a África tropical apresentava um estranho e brutal paradoxo. Por causa da
irreversível revolução tecnológica, pela primeira vez, os brancos tinham uma vantagem
decisiva nas armas e, também com as ferrovias, a telegrafia e o navio a vapor permitiam -lhes
oferecer resposta ao problema das comunicações no interior da África. A penetração dos
europeus no interior da África foi difícil, devidos as forças populacionais africanas; e porque a
Europa não empregou na batalha recursos tecnológicos. A resistência africana era importante,
já que provava que os africanos nunca se haviam resignado a pacificação europeia.

1.1. As resistências na África ocidental

1.1.1. Senegal
Senegal é um país da África ocidental, e faz limite com os seguintes países: ao norte
Mauritânia, ao sul Guine Bissau, este Mali e oeste Oceano Atlântico.
No Senegal, a conquista teve inicio em 1854, a França dispunha em 1880 de sólidos pontos de
apoio, com a anexação de Walo, da parte setentrional 1 de Cayor e de Jander. O protectorado
francês tinha sido imposto aos Estados do Alto Senegal desde 1860. Por magros que fossem,
estes resultados, não haviam sido alcançados sem dificuldades. Embora expulso em 1864 pela
Franca, o damel de Cayor, Lat- Dior, nem por isso deixou de optar pela estratégia do
confronto, prosseguindo na luta contra os franceses. (UNESCO, 2010:132).
Em 1871, com a derrota2 da França pela Prússia, o governador do Senegal renunciou a
anexação de Cayor e reconheceu novamente Lat-Dior como damel. Desde então,
estabeleceram-se entre Lat-Dior e a administração francesa do Senegal relações verdadeiras.
Em 1879, o governador Briere de l’Isle obteve do damel autorização para construir uma
estrada ligando Dakar a Saint-Louis. Mas, em 1881, ao saber que de fato se tratava de uma
estrada de ferro, Lat-Dior declarou- se contrario ao projecto. Não desconhecia que a estrada
de ferro punha fim a independência de Cayor. Nesse mesmo ano, informado de que a obra ia
começar imediatamente, tomou providências para impedir isso. Foram dadas ordens a todos
os chefes para punir severamente todos os súbditos3 de Cayor que fornecessem fosse o que
fosse aos trabalhadores franceses. Em seguida, foram enviados emissários a Ely, emir de
Trarza, a Abdul Bokar Kan, de Futa Toro, e a Albury Ndiaye, de Jolof. Lat-Dior os convidava

1
Pessoa natural ou habitante das regiões do Norte
2
A Guerra Franco-Prussiana (1870-1871) foi um conflito entre a França de Napoleão III e a Prússia.
3
Subordinado de alguém ou ajudante.
4
As resistências africanas

a organizar uma santa aliança e a sincronizar a luta para facilitar a expulsão dos franceses da
terra dos ancestrais.
A 17 de Novembro de 1882, Lat-Dior o damel, enviou uma carta ao governador Servatius
proibindo-lhe o início da obra que iria ligar Dakar a Saint- Louis, mesmo nos subúrbios do
território que era parte integrante de Cayor.
Enquanto eu for vivo, fica certo, vou me opor com todas as minhas forcas a
construção da estrada de ferro [...] A vista das espadas e das lanças e
agradável aos nossos olhos. E por isso que, cada vez que eu receba de ti uma
carta relativa a estrada de ferro, responderei sempre não, não, e jamais te
darei outra resposta. Mesmo quando eu for dormir o ultimo sono, meu cavalo
Malaw te dará a mesma resposta. (LAT – DIOR Apud UNESCO, 2010:133).

Com a persistência do governador em materializar o projecto, Lat – Dior proibiu os seus


subordinados em produzirem amendoim julgando que os franceses voltariam a França. Ainda,
Lat - Dior obrigou as populações que viviam perto dos postos franceses a mudarem-se para o
interior de Cayor. As aldeias dos recalcitrantes foram incendiadas e seus bens confiscados.

Em Dezembro de 1882, o coronel Wendling invadiu em Cayor, a frente de uma coluna


expedicionária composta principalmente de atiradores africanos e de auxiliares dos territórios
anexados. Já tendo combatido os franceses desde 1861, Lat-Dior sabia que tinha poucas
possibilidades de vence-los em combate clássico. Recuou a chegada de Wendling e foi se
instalar em Jolof. Em Cayor, Wendling entregou o poder a Samba Yaba Fall, primo de Lat-
Dior. Em Agosto de 1883, foi destituído e substituído por Samba Laobe Fall, sobrinho de Lat-
Dior. O governador estava persuadido de que Lat-Dior jamais faria guerra contra o sobrinho.
Não se enganou. Lat-Dior fez um acordo com o sobrinho, que o autorizou a voltar para Cayor,
em 1885.

Depois da expulsão de Lat-Dior de Cayor, ficou revoltado. No dia 27 de Outubro de 1886, por
volta das 11 horas, surpreendeu os franceses seus aliados no poço de Dekle, causando-lhes
pesadas perdas. Portanto, veio a perder a vida ai, junto com os seus dois filhos e oitenta dos
seus militantes. Essa morte de Lat-Dior, pôs o fim à independência de Cayor e viria a facilitar
o domínio dos franceses sobre o resto do país.

1.1.2. O país Ashanti (Costa do Ouro) actual Ghana


O actual Ghana encontra-se localizado no ocidente de África, concretamente ao norte das
duas curvas divergentes do Senegal e do Níger. (RECAMA, 2006: 62)

Em nenhuma outra parte da África ocidental houve tão longa luta entre os africanos e os
europeus como entre os Ashanti e os britânicos na Costa do Ouro. Os conflitos surgiram por
5
As resistências africanas

volta de 1760 e culminaram com um choque militar em 1824 quando os Ashanti derrotaram as
forças britânicas e seus aliados, matando-lhes o comandante, sir Charles Mac Carthy que era
o governador da Costa do Ouro. Dois anos mais tarde, os ingleses foram retaliar na batalha de
Dodowa. Em 1850 e 1863, a guerra foi evitada por pouco tempo (UNESCO, 2010:173).

1.1.2.1. Os Ashanti
Entre 1869 e 1872 os Ashanti lançaram um ataque triplo que resultou na ocupação dos
Estados costeiros e meridionais da Costa do Ouro. Para afugentar os Ashanti, o governo
britânico lançou por sua vez, uma das campanhas mais bem organizadas da época, sob o
comando de um dos mais célebres oficiais ingleses do seu tempo, o general Garnet Wolseley.
Equipados com as armas mais modernas, seus soldados conseguiram fazer recuar o exército
dos Ashanti para a outra margem do rio Pra, onde ocuparam e saquearam Kumasi, em
Fevereiro de 1874.

A derrota decisiva dos Ashanti pelos britânicos, em 1874, teve como consequência, a
desintegração do império Ashanti. E pelo tratado de Fomena, os Ashanti reconheciam a
independência de todos os Estados vassalos localizados ao sul do Pra. Aproveitando a
debilitação do poderio militar dos Ashanti, os Estados vassalos do norte do Volta se
separaram. Ate o que ainda restava do império começava agora a desmoronar.

No desejo de impedir a sua restauração, os britânicos incitaram alguns dos Estados membros
da União Ashanti a proclamar a sua independência, pelo que Dwaben, Kokofu, Bekwai e
Nsuta começaram a desafiar o asantehene.

Com incitação dos britânicos aos reinos locais criou um conflito entre eles como Kumasi e
Dwaben um conflito que resultou numa guerra civil, a qual terminou com a derrota de
Kumasi, provocando a emigração em massa da população para a colónia da Costa do Ouro,
que os britânicos acabavam de constituir. Alem disso, o asantehene foi destituído,
principalmente em função dos resultados da guerra de 1874.

Com a subida do poder Prempeh, três anos depois chegou de reconstituir a União Ashanti e
ate convenceu o Dwaben a reintegra-la. Alarmados por sua vez com o renascimento dos
Ashanti e a concorrência francesa e alemã na região, os britânicos propuseram a eles que se
colocassem sob a sua colónia; mas a recusa foi categórica. Prempeh, em seguida, atacou e
derrotou os Nkoransa, os Mo e os Abeas em 1892 reinos que tinha laços britânicos. Por sua
6
As resistências africanas

vez os britânicos reagiram propondo a instalação de um residente em Kumasi, em troca do


pagamento de uma renda anual ao asantehene e aos principais reis dependente dele.

O asantehene não só rejeitou a proposta como enviou uma missão a rainha da Inglaterra,
dotada de vastos poderes para expor a Sua Majestad e diversos problemas referentes ao bom
estado do seu reino.

Os britânicos, aproveitando o pretexto da recusa, organizaram uma grande Expedição contra


os Ashanti, sob o comando de sir Francis Scott. Este tomou Kumasi em Janeiro de 1896 sem
disparar, já que Prempeh e seus conselheiros tinham resolvido não entrar em luta com os
britânicos e aceitar o seu protectorado. Prempeh, a rainha-mãe, seus tios e alguns chefes
militares, não obstante, foram detidos e deportados, primeiro para Serra Leoa e depois para as
Seychelles (UNESCO, 2010:175).

Os Ashanti decidiram não se opor, aos britânicos; porque Prempeh pensava que podia romper
com a tradição e recorrer a diplomacia em vez das armas. Mas naquela época de espera a
concorrência imperialista estava intensificando; e sua superioridade militar britânicos, era
mais objectiva e forte.

1.2. As resistências na África do norte

1.2.1. Argélia
Argélia é um país da África do norte e faz limite com os seguintes países: ao sul Mali; Nigeria
e península de Adrar; norte Mar Mediterrâneo; este Líbia e Tunísia; oeste Marrocos.
Império argelino (Otomano) foi anexo por árabes: Khair-ad-Don e seu irmão Aruj, que
estabeleceram as actuais fronteiras argelinas ao norte e fizeram da costa uma importante base
de corsários. As actividades dos corsários atingiram seu pico por volta do século XVII.
Ataques constantes de navios norte americanos no mediterrâneo resultaram na primeira e
segunda guerra berbere (povo). Sob o pretexto de falta de respeito para com seu cônsul a
França invade a Argélia em 1830. E a forte resistência de personalidades locais e da
população dificultou a tarefa da França, que só no século XX obtém o completo controle do
país.
Mesmo antes da obtenção efectiva desse controle, a França já havia tornado a Argélia parte
integrante de seu território; uma situação que só acabaria com o colapso da Quarta República.
Milhares de colonizadores da França, Itália, Espanha e Malta se mudaram para a Argélia para
7
As resistências africanas

cultivar as planícies costeiras e morar nas melhores partes das cidades argelinas,
beneficiando-se do confisco de terras populares realizado pelo governo francês.

A Argélia é obrigada a enfrentar uma guerra prolongada de libertação em virtude da


resistência dos colonos franceses que dominam as melhores terras. Em 1947, a França estende
a cidadania francesa aos argelinos e permite o acesso dos muçulmanos aos postos
governamentais, mas os franceses da Argélia resistem a qualquer concessão aos nativos.
Nesse mesmo ano é fundada a Frente de Libertação Nacional (FLN), para organizar a luta
pela independência.

1.3. As resistências na África austral


África austral é uma parte de África, localizada a sul do continente africano, tendo como os
limites seguintes. Ao norte República Democrática de Congo e Tanzânia; sul entre as aguas
do oceano índico e atlântico; este pelo oceano índico; oeste oceano atlântico.

Para estudar a resistência africana face a colonização no sul do continente africano, por volta
do século XIX, é importante compreender bem o ambiente cultural e social em que ela se
verificou. As principais forças históricas eram o expansionismo colonial, a cristianização e o
ensino dos missionários, a revolução Zulu e seus corolários (o Mfecane e as migrações dos
Nguni. Na época da Conferencia de Berlim sobre a África ocidental (1884-1885), que se
caracterizou por uma concorrência febril entre as nações europeias, queria ampliar os
processos coloniais africanas; havia mais de 70 anos que os britânicos e africanos disputavam
os territórios da África meridional.
Os colonos europeus do sul da África, ao contrário dos, do resto do continente, que
projectavam, desde o inicio, fundar estabelecimentos permanentes nessa região que os atraia
pelo clima temperado, pela fertilidade das terras através, pela mão-de-obra barata e, enfim,
pela riqueza mineral (UNESCO, 2010:219).

1.3.1. África do Sul


É um país da África austral com os seguintes limites: ao norte faz limite com Namíbia,
Botsuana e Zimbabwe; ao sul pelas águas do oceano Índico e atlântico; este pelo oceano
indico e nordeste Moçambique, oeste oceano atlântico.

A revolução zulu e as suas consequências


Com a presença dos europeus na África do sul a situação político-militar, e económica
agravou por causa dos acontecimentos decisivos que se tinham desencadeado no sul da África
8
As resistências africanas

no início do século XIX. Dos acontecimentos destacam-se: a revolução Zulu e o Mfecane na


África do Sul, as migrações dos Nguni (Ndebele) para Rodésia do Sul (actual Zimbabué), a
dos Kololo para a Rodésia do Norte (actual Zâmbia), a dos Nguni para a Niassalândia (actual
Malawi) e Tanganica.

O factor missionário
A cristianização e o ensino levados a cabo pelos missionários também constituíram factores
importantes da evolução e da natureza da resistência sul-africana para conquista colonial. Os
missionários tinham criado uma classe de pequenos burgueses africanos (catequistas,
professores, jornalistas, homens de negócios, advogados e empregados de escritório), que
reconheciam a pretensa inferioridade cultural dos africanos, aceitando a colonização branca
como facto consumado; e admiravam os brancos por seu poderio, riqueza e técnica. Com
efeito, considera-se Tiyo Soga (1829-1871), como primeiro missionário africano ordenado
pela Igreja Presbitérias da Inglaterra, fundador da missão de Mgwali, onde pregava tanto aos
africanos como aos europeus (UNESCO, 2010:222).

Para Tiyo Soga, o episódio do abate do gado, em 1857, pelos Xhosa era um suicídio nacional
cometido por aqueles “pobres compatriotas perdidos”, que se tinham deixado “enganar por
impostores”. Mas ele esperava que essa “infelicidade servisse – com a grande bondade de
Deus – para o progresso espiritual dos Cafres”. E clamava que “as calamidades as vezes
fazem parte dos desígnios de Deus. No seu actual infortúnio, creio ver a futura salvação de
meu povo, tanto no plano físico como no plano moral”. Dube condenou a revolta de Bambata
(1906- 1908) no seu jornal Ilanga lase Natal e aconselhou os Zulus a aceitarem o cristianismo
e a educação, em vez de se rebelarem.

As elites estavam divididas entre o mundo utópico dos missionários, filantropos e liberais
brancos, o mundo da tradição das massas africanas, que elas por vezes desprezavam, e o
mundo colonialista, alicerçado no racismo, na exploração e na opressão, que lhes dominava a
vida e determinava seu real status.

Essa elite, criou para si um mundo moralizador, para o qual procuraram atrair africanos e
colonos. Cometeram o erro de assimilar a conquista colonial a cristianização e a difusão da
cultura e da técnica, rejeitando a resistência africana como manifestação de paganismo e
barbárie. Ao condenarem a África tradicional, não fizeram mais do que sustentar e reforçar a
ideologia colonialista, que procuravam combater. Ademais, com suas pregações, seu estilo de
vida e suas crenças, ajudaram a minar psicologicamente a capacidade de resistência dos
9
As resistências africanas

africanos a propaganda dos missionários e dos colonos e, de certa forma, impediram o


desenvolvimento de uma consciência racial e histórica autenticamente africana, que
conduzisse a libertação. Sua atitude, assim como a dos africanos convertidos que os seguiam,
eram ou isolar-se no papel de observadores ou refugiar-se nas missões, em vez de cerrar
fileiras com a resistência armada contra a conquista e a ocupação coloniais.

Resistência sul-africana
Partindo dos dizeres que acima referenciamos, vários foram os factores que influenciaram a
natureza e a intensidade das reacções africanas diante do avanço da colonização e do
imperialismo europeu.

Os zulos
Cetshwayo, rei dos Zulu, e Lobengula, rei dos Ndebele, resolveram, portanto, adoptar uma
estratégia de confronto, a princípio usando a táctica da diplomacia e, depois, a da resistência
armada. De acordo com essa estratégia, Cetshwayo deu andamento, de inicio, à política
externa pacifista e isolacionista de seu antecessor, Mpande. (UNESCO, 2010:226).

Em face da inveterada hostilidade dos bóeres do Transval, mantinha sólida aliança com os
colonos ingleses de Natal e relações amistosas com Theophilus Shepstone, o celebre
secretário dos Negócios Indígenas de Natal. Mas, quando os britânicos uniram o Transval, em
1877, e nomearam Shepstone administrador, o sistema da aliança montado por Cetshwayo
desmoronou rapidamente.

Shepstone passou a apoiar os afrikaners que haviam cruzado o rio Buffalo, penetrado em
território zulu, ocupado fazendas e que então reclamavam títulos de posse das terras. O novo
alto-comissário britânico para a África do Sul, senhor Bartle Frere, só tinha como
preocupação concretizar a federação das colónias brancas. Portanto, Shepstone persuadi-lo de
que tal federação só seria realizável na África austral com o desmantelamento da potência
militar zulu, já que a simples existência dessa nação africana ameaçava a segurança e o
desenvolvimento económico de Natal.

No dia 11 de Janeiro de 1879, um exército britânico, sob o comando de lorde Chelmsford,


com mais de 7 mil soldados, uns mil voluntários brancos e 7 mil auxiliares africanos, invadiu
três pontos do território Zulu. No dia 22 de Janeiro, o exército Zulu obteve uma vitória
memorável na batalha de Isandhlwana, durante a qual 1600 atacantes foram mortos. Mas, em
4 de Julho, as tropas britânicas voltaram e esmagaram a nação Zulu. Cetshwayo foi para o
10
As resistências africanas

exílio, no Cabo, e a Zululândia foi dividida em l3 circunscrições diferentes, colocadas sob a


direcção de fantoches. Entre eles figuravam um rival de Cetshwayo, chamado Zibhebhu, seu
primo Hamu, que tinha desertado e aderido as forças inglesas no curso da guerra (UNESCO,
2010:253).

A partilha da Zululândia representava um caso clássico de destruição premeditada de uma


nação, levada a cabo pela política de “dividir para reinar”. Para sustentar essa politica, os
novos chefes receberam ordens de dissolver todas as organizações militares existentes, proibir
a importação de armas e aceitar a arbitragem de um residente britânico. A nação Zulu,
debilitada, foi então colocada sob a chefia de Dinzulu, filho de Cetshwayo, de 15 anos de
idade, cujos poder e autoridade dependiam do apoio dos brancos. Assim os Zulu
desapareceram definitivamente por colonização britânica.

Ndebele
De 1870 a 1890, Lobengula, tal como Cetshwayo, na Zululândia, seguiu com êxito uma
estratégia diplomática bem concebida, para proteger os interesses vitais da nação Ndebele.
Regulamentou a imigração e informou aos estrangeiros brancos que não desejava abrir-lhes o
pais para a prospecção mineira ou para a caca. Alem disso, desenvolveu diversas tácticas,
como a de se deslocar constantemente de uma capital para outra e de jogar dois países, duas
empresas ou dois europeus, um contra o outro. Adiava as decisões para frustrar os confusos e
impacientes concessionários. Sua estratégia, a longo prazo, consistia em procura uma aliança
militar e o estatuto de protectorado junto do governo britânico, a fim de se opor aos alemães,
aos portugueses e aos afrikaners, fresando a descontrolada expansão colonial da África do
Sul.
A guerra angla Ndebele de 1893 foi uma reprodução quase exacta da guerra anglo zulu de
1879, com Rhodes fazendo o papel de senhor Henry Frere, o dr. Leander Starr Jameson
(administrador da companhia na Mashonalandia), o de Shepstone, e o incidente de Vitoria
(Agosto de 1893) substituindo o de Sirayo. Tal como, antes dele, Cetshwayo, Lobengula
tentou, em vão, impedir a guerra. Apelou a Jameson, a Rhodes e ao governo britânico. Mas já
não contava então com nenhum apoio, nem entre os brancos nem entre os africanos. As forcas
que invadiram a Matabelelandia, vindas da Mashonalandia e da África do Sul, compreendiam
1200 soldados brancos (incluindo 200 soldados imperiais da policia de fronteiras da
Bechuanalandia). Contavam com mil auxiliares africanos, shona, mfengu, khoi-khoi, mestiços
e 600 cavaleiros Ngwato, comandados por Kgama. Em vez de lançar seu exército, estimado
em 20 mil homens, num combate suicida contra os colonos, fortemente armados, e seus
11
As resistências africanas

auxiliares africanos, Lobengula preferiu evacuar a Matabelelandia e fugir com seu povo para
a Rodésia do Norte. Como Cetshwayo, morreu durante a fuga, não se sabe se de varíola ou de
problema cardiaco. Sem seu chefe, a nação Ndebele se decompôs. Um após outro, os induna
renderam- se a Jameson ao pé da arvore dos Indaba (de reunião do conselho). Os colonos
cuidaram imediatamente de delimitar e registrar suas novas explorações e concessões
mineiras. A companhia confiscou 280 mil cabeças de gado dos Ndebele, guardando 240 mil e
distribuindo o resto aos soldados brancos e a alguns “bons” africanos. Após a conquista da
Matabelelandia, o governo Inglês promulgou o decreto de 18 de julho de 1894 relativo aos
Matabele, que autorizava a companhia a baixar o imposto de palhota e criava um “Native
Department” para controlar todo o território da Rodesia do Sul. Em fins de 1895, a companhia
tinha estabelecido uma administração africana calcada nas da Colónia do Cabo e de Natal,
incluindo o imposto de palhota, as reservas e os passes, com o propósito de desapossar os
africanos de suas terras, de seu gado e de seus recursos minerais e coagi-los a trabalhar para
os brancos.

1.3.2. Moçambique
Moçambique é um país da África austral que faz limite com os seguintes países: ao sul faz
limite com a África do sul; ao norte faz com a Tanzânia; este oceano índico; oeste faz com
Zimbabwe, Zâmbia e Suazilândia.

O Processo De Luta De Resistência Em Moçambique


O processo de luta de resistência em Moçambique deu-se primeiro pela corrida imperialista e
o traçado das fronteiras no nosso país. É de salientar que quando as colónias se tornaram uma
componente fundamental da fase imperialista do modo de produção capitalista, na segunda
metade do século XIX, os principais financiadores e credores de Portugal (Inglaterra,
Alemanha e França) procuraram tirar o máximo partido de exploração das colónias
portuguesas. Foi neste contexto que entre conflitos, arbitragens e tratados, se inseriu o traçado
das actuais fronteiras.

Sul de Moçambique
Foi entre conflitos, arbitragens e tratados que se traçou à fronteira do sul de Moçambique, os
ingleses pretendiam anexar a baia de Maputo, pois, por um lado, com a colonização do Natal,
tinham necessidade de mão-de-obra. Por outro lado, os ingleses pretendiam controlar as vias
de comunicação por onde os zulus importavam armas e cumprir o objectivo de anexar a
12
As resistências africanas

República do Transval, Maputo e as suas vias de comunicação que eram de importância


estratégica para as operações inglesas.

Nwamantibjana, chefe do Zixaxa, e Mungunduane, chefe de Moaba, recusou a aliança com os


portugueses e juntaram-se aos guerreiros de Mahazule. Face aos ataques destes, Portugal
envia mais exércitos chefiados por António Enes ao governador de Lourenço Marques,
Mouzinho de Albuquerque.

Foi neste contexto que Ngungunhana, imperador de Gaza, foi preso a 28 de Dezembro de
1895 e, juntamente com Nwamantibjane, foi deportado para o arquipélago dos Açores, onde
viria a morrer em 1906,levando assim, o domínio português começa a afirmar-se em
Moçambique.

Causas da derrota
São as causas das derrotas: a superioridade das armas dos portugueses em relação às dos
moçambicanos; a falta da unidade entre os moçambicanos; a traição de alguns chefes nativos.

Os principais intervenientes
Como personagens da resistência do sul de Moçambique referem-se: Ngungunhane,
Mahazule, Nuamantibjana, Maguiguane,Kanyemba,Matakenya e Nguaanaze.

Centro de Moçambique
Em 1887,surgiu uma disputa entre o britânico Cecil Rhodes e o português Henriques Barros
Gomes na sequência de uma colisão de interesses, porque, Rhodes, pretendia unir e fazer um
corredor “cairo-cabo”, isso na zona norte e sul de África, ao passo que Barros propunha o
“mapa-cor-de-rosa” para unir Moçambique e Angola.

Entretanto, Rhodes, com as suas tropas de BSAC (British South Africa Company), prende
Paiva de Andrade e constrói o forte de Salisbury, em 1891,estabelecendo-se a fronteira com a
Zâmbia, Malawi, Zimbabwe e Natal, a qual é mantida ate hoje. Mas para evitar que os
britânicos viessem a ocupar novas regiões, os portugueses encetaram “campanhas de
pacificação ”par dominar os povos e estabelecer uma ocupação efectiva dos territórios.

Esta zona tinha um elevado grau de militarização das formações políticas da região herdada
do período de caca e do tráfico de escravos. Dai que Portugal, para vencer esta região, teve e
pedir muita ajuda, quer interna assim como externa e grande mobilização de recursos bélicos.
Barué (fruto de desagregação de Mutapa), criou muitos problemas aos portugueses, que
13
As resistências africanas

conseguiram domina-lo recorrendo ao recrutamento de tropas em Angola, Lourenço Marques,


Nguni e ao auxílio militar da Rodésia e da Niassalândia, em 1902.Barue só viria ser
subjugado no ano de 1917.

Representantes da resistência na zona centro de Moçambique


Destacam-se chefes da resistência de Barué: Mafunda,Cadendere,Macombe,Hunga e
Cambuemba,que reunia os seus guerreiros com os A-chicundas dos prazos ,e empreendera as
fortificações Aringas (espécies de Zimbabwe).

Uma característica importante desta rebelião foi o facto de ela ter surgido entre o próprio
povo, que assim ultrapassou a autoridade de alguns chefes tribais. Demasiado comprometidos
com o colonialismo, estes tinham-se recusado a dirigir a luta. Foi o que sucedeu, por exemplo,
com os chefes do Monomotapa e do Barué, e esta rebelião também foi sufocada, devido à
grande superioridade técnico militar dos colonialistas portugueses.
Mais recentemente, no princípio do século XIX, as atrocidades cometidas pelos governadores
de Cabo Delgado levaram a população desta região a revoltar-se.
Os chefes Muane, Cherejo e Movera, dirigiram essa revolta, de 1800 a 1810 os portugueses
não conseguiram lá penetrar, e finalmente, organizaram uma grande expedição militar, com
muitas armas de fogo e, integrando os árabes de Quitongonha como aliados,conseguiram
vencer aqueles chefes.

Norte de Moçambique
Na região do norte de Moçambique são notórios, na resistência à ocupação portuguesa, os
Namarais, então habitantes de Monapo e da ilha de Moçambique, com destaque para os
chefes Mucutu-muno e Ibraimo.

O ataque a Parapato, em 1905,levou à destruição de vários armazéns e quartéis portugueses e


com Farelahi preso em 1910 e deportado para Guiné onde veio a morrer dois anos depois isso
em 1912,e por vias fluviais, os portugueses conseguiram dominar Nampula entre os anos de
1890-1897 e Niassa em 1920.

Outros casos de resistência activa contra a ocupação efectiva e a exploração colonialista


portuguesa foram dirigidos pelos chefes tribais por exemplo, em 1899, no Niassa, onde o
chefe Mataca era senhor de imensos territórios e como tal reconhecido pelas populações que o
habitavam.
14
As resistências africanas

Tentando aliá-lo ao governo português, o Governo-Geral da colónia enviou-lhe emissários


Corri propostas e ofertas nesse sentido o chefe Mataca recusou-se e mandou matar esses
emissários. Dirigindo o seu exército, ele preparou-se para fazer frente às represálias, mas uma
expedição fortemente armada derrotou-o e reprimiu cruelmente as populações que lhe eram
fiéis.
Também por essa altura o sultão de Angoche, Mussa Quanto e, depois o seu sucessor
Farelahy, levantaram-se contra a administração portuguesa aliando-se em fins do século XIX
com os chefes Namarrais, Maraves e Nhampacos de Angoche, eles derrotaram os portugueses
e em 1910 Farelahy foi vencido e preso.
Em 1896, os Namarrais, aliados aos Maraves e aos Matibanas, derrotaram os portugueses na
batalha de Mugenga. Só mais tarde o Estado de Namarral foi ocupado, quando o chefe
Mucutu-Muno e os seus sucessores foram obrigados a submeter-se à coroa portuguesa.
Após 1885, e para seguirem a norma ditada pela Conferência de Berlim sobre a ocupação
efectiva de Moçambique, os portugueses lançaram grandes campanhas militares para
submeterem o povo moçambicano à sua dominação.
Desde os primeiros tempos dessa “ocupação efectiva” de Moçambique, verificou-se o
aumento dos movimentos de resistência em diversos pontos do País. As populações
manifestavam-se de várias maneiras: recusavam-se a pagar impostos, não respeitavam as
autoridades portuguesas e não permitiam a penetração dos comerciantes no interior, a este
tipo de resistência, chamamos resistência passiva.

Representantes da luta de resistência colonial em Moçambique:


Para além dos líderes acima supracitados, temos outros tais como Farelahi, em Angoche;
Mataca,no Niassa,e Mussa-Quanto, em Nampula.

Conclusão

Depois de um processo longo de pesquisa e rotação deste trabalho que tem como tema as
resistências africanas, podemos concluir que a penetração europeia criou instabilidade nas
sociedades africanas. Caso este que levou povos africanos a desencadear vários confrontos
15
As resistências africanas

pelos europeus. Assim, no desenvolvimento deste trabalho destacamos as resistências da


África ocidental e na África meridional actualmente África austral.

Na África ocidental destacamos as resistências de Senegal pela ocupação francesa; resistência


dos Ashanti (Costa de Ouro) actual Gana, que teve como colonizadores os britânicos;
resistência Argelina, E na África austral temos como referencias as resistências sul-africanas
(Zulo e Ndebele) que confrontaram contra a ocupação britânica. Por último temos as
resistências moçambicanas (sul, centro e norte), que dificultou penetração e ocupação colonial
português. Portanto falar das resistências africanas, trata-se de grupos de guerreiros militares
organizados pelos grandes chefes dos reinos e impérios para lutar contra a ocupação colonial
em África.

Bibliografia
RECAMA, Dionísio Calisto: História de Moçambique, de África e Universal-10ª à 12ª
classe, plural Editores,Maputo 2006.

História geral da África, VII: África sob dominação colonial, 1880-1935 / editado por
Albert Adu Boahen, 2a ed. Brasília: UNESCO, 2010.
16
As resistências africanas

Índice
Introdução................................................................................................................................3

1. As resistências africanas..................................................................................................4
17
As resistências africanas

1.1. As resistências na África ocidental..............................................................................4

1.1.1. Senegal......................................................................................................................4

1.1.2. O país Ashanti (Costa do Ouro) actual Ghana.........................................................6

1.1.2.1. Os Ashanti.............................................................................................................6

1.2. As resistências na África do norte................................................................................7

1.2.1. Argélia......................................................................................................................7

1.3. As resistências na África austral..................................................................................8

1.3.1. África do Sul.............................................................................................................9

1.3.2. Moçambique...........................................................................................................12

Conclusão..............................................................................................................................16

Bibliografia............................................................................................................................16

Você também pode gostar