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HISTÓRIA 1 CURSO ASCENSÃO

V - VIKINGS
Embora viking signifique guerreiro, os vikings eram um povo das enseadas abundantes tanto na Dinamarca,
país de planícies arenosas, através das quais se desenhavam tortuosos canais marítimos, como na Noruega, pátria dos
fjords, gargantas escarpadas que levam as ondas até o coração dos montes, em alguns pontos por centenas de milhas.
Aqui e além, ao longo do curso sinuoso desses fjords, um pedaço de terra fértil entre o precipício e o estuário dava
lugar a campos de trigo e a um grupo de casinhas de madeira. Próximo, uma encosta alcantilada trazia a espessa
floresta até a borda da água, atraindo o lenhador e o construtor de barcos. Ao cimo de tudo, os cordões nus das
montanhas erguiam-se até os campos gelados e os cumes glaciais, dividindo os povoados dos fjords uns dos outros,
como pequeninos reinos, atrasando por séculos a união política da Noruega e lançando os habitantes intrépidos para o
mar, em busca de alimento e fortuna. Traficantes de peles, caçadores de baleias, pescadores, mercadores, piratas e ao
mesmo tempo assíduos cultivadores do solo, os escandinavos tinham sempre constituído um povo anfíbio. Desde que
ocuparam a sua terra, em data indeterminada da Idade da Pedra, o mar fora sempre o seu caminho de povoado para
povoado e o único meio de comunicação com o mundo exterior. Até o fim do século VIII, a área da pirataria dos
vikings confinara-se principalmente às costas do Báltico. Tinham-se contentado eles em se saquearem
reciprocamente e aos vizinhos mais próximos, mas no tempo dos romanos, ao que parece, já infestavam as costas da
Gália Belga e da Bretanha. Ao que consta só na época de Carlos Magno começaram a atravessar o oceano e a atacar
os países cristãos do ocidente. Foram precisos séculos de experiências e sem dúvidas inúmeros naufrágios para que os
vikings aprendessem a conhecer as etapas e as épocas favoráveis. Pouco a pouco eles aprenderam a passar de ilha em
ilha aproveitando o bom tempo e a construir navios maiores.
Desde o fim do século VIII ou do começo do IX, quando seus exércitos e suas frotas aumentaram em número e
em importância as expedições vikings alongaram-se. Essas expedições regularizaram-se em seguida, cada burgo
fornecendo um número determinado de navios. O sucesso das primeiras expedições de grande envergadura e o
superpovoamento relativo do norte contribuíram assim, em grande medida, para arrancar homens de seus lares,
particularmente em certas regiões, como as ilhas dinamarquesas, onde, por força de lei, uma parte do povo devia
emigrar desde que o superpovoamento se acentuasse. A fome, depois de uma má colheita nesses climas inóspitos, por
vezes, lança povoados inteiros em busca de novas terras pois os homens do norte sentiam a falta de águas piscosas e
de terras abundantes em caça. O caminho dos cisnes como cantavam em suas canções, fornecia-lhes o que recusava a
terra mal cultivada ou estério ou a pesca insuficiente para remediar a fome. Tornando-se mais audaciosos nas suas
navegações, empreenderam viagens que mesmo depois da agulha magnética foram apenas renovadas. Foram três as
rotas básicas escandinavas durante a era viking. Primeiro, a oriental, seguida principalmente pelos suecos, que
penetraram no coração dos territórios eslavos até Novgorod e Kiew, fundando o primeiro estado russo e daí descendo
pelo Dnieper abaixo para atravessar o mar Negro e importunar as muralhas de Constantinopla. As outras duas rotas
desenhavam-se ao ocidente. Havia a rota seguida principalmente pelos noruegueses, a qual poderemos chamar a linha
exterior, levava às mais aventurosas viagens marítimas, ao povoamento da Islândia e da Groenlândia, à descoberta da
América do Norte; conduzia às Orkneys, Saithness, Ross, Galloway e Dunfries, onde grande escandinavas trouxeram
o primeiro elemento nórdico à vida dos Higlands e do sudoeste da Escócia. Foram ainda os noruegueses que
conquistaram as Hébridas, a oeste da Escócia, e descobriram 35 ilhas que chamaram de Faroe. O Mainland e as 45
ilhas que a cercaram, ilhas famosas pela pesca do arenque, foram também descobertas pelos vikings. Por essa linha
exterior, vieram estabelecer-se importantes colônias norueguesas em Cumberland, Westmoreland, Lancashire,
Cheshire e na costa da Gales do Sul. A Irlanda foi durante algum tempo invadida, e Dublin, Cork, Limerick, Wicklow
e Waterford foram fundadas como cidades Dinamarquesas. Enquanto os suecos dirigiam-se para Rússia e para a Ásia,
os noruegueses descobriam a rota para a Irlanda pelo norte da Escócia e, mesmo fazendo escala na Groenlândia, iam
até a América procuram pelos e os Dinamarqueses tinham escolhido a rota interior que, mais próxima de seu país,
conduzia às costas da Escócia, da Northumbria e da Neustria.
É em 787 que pela primeira vez a crônica anglo-saxônia descreve a chegada à Inglaterra de três navios de
homens do Norte, vindos do país dos ladrões. A partir do ano de 793, as curtas notas anuais da crônicas contem,
quase todas, referências a alguma incursão dos pagãos. Ora eles pilhavam um convento e massacravam os monges,
ora as ordas pagãs espalhavam a devastação entre os Northumbrios. Pouco a pouco a importância das frotas inimigas
cresceu. Em 851, pela primeira vez os pagãos passaram o inverno na ilha de Thanet; no mesmo ano, 300 de seus
barcos vieram a embocadura do Tamisa, e suas guarnições tomaram de assalto Cantuária e Londres.
Lentamente, durante 50 anos ou mais, antes que o movimento atinja seu zênite, toda a Noruega e toda a
Dinamarca despertam para a verdade de que não havia poder marítimo a defender as Ilhas Britânicas ou o famoso
império Carolíngio; que os anglo-saxões e os francos eram gente terrestre e que os irlandeses utilizavam pequenos
barcos de couro. O mundo estava assim exposto ao poder marítimo viking.
Nos anos seguintes, os pagãos foram chamados por seu nome real, dinamarqueses, e as crônicas referem-se aos
movimentos dos exércitos, fortes, às vezes de dez mil homens. Bem equipados, bem armados, muito hábeis em
construir campos fortificados, obedecendo cegamente aos reis do mar, seus chefes, os vikings, guarneciam, em
grupos de 60 a 70 homens, os seus navios de sólida construção, as drakkas e desembarcavam em locais de onde
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pudessem enfrentar com êxito a reação dos habitantes do país invadido. Foi assim que Noirmontiers tornou-se sua
base no litoral da França, Thanet no da Inglaterra e a ilha de Man no mar da Irlanda. Os que operavam na França
vinham, sobretudo, da Dinamarca, reunidos em pequenas flotinhas que perlongavam a costa. Subiam os rios,
saqueavam as igrejas e destruíam as cidades, ou para poupar o país faziam-se pagar um resgate calculado em libras de
prata. Os primeiros bandos haviam aparecido antes dos fins do reinado de Carlos Magno, mas, depois doa meados do
século IX, esses invasores estabeleceram-se com suas famílias em campos entrincheirados junto à embocadura dos
rios, donde todas primaveras partiam para agir no interior. Além da ilha Noirmontiers, os normandos instalaram-se na
foz do rio Sena e subiram o rio Garona, Saqueando as cidades. Até cerca de 860, entretanto, ocuparam na França
apenas pontos da costa e algumas ilhas, fazendo ocasionalmente expedições de saque pelo interior. Depois, as
expedições transformaram-se em verdadeiras migrações. Nos anos seguintes, os normandos embrenharam-se pelo
interior da França, devastando uma enorme região e chegando mesmo a sitiar Paris em 886.
Os vikings que seguiam a linha exterior e os que seguiam a linha interior muitas vezes se cruzavam no
caminho. Encontravam-se dinamarqueses e noruegueses na Normandia, no sul da Irlanda e no norte da Inglaterra, e
ambos penetravam indiferentemente na Hispânia, no Mediterrâneo e no Levante.
Toda essa espantosa exploração que tocou a costa norte americana 5 séculos antes de Colombo, esse habitual e
quase diário desafio das tempestades da Costa Wratch e das Hébridas, foi levado a cabo em longos barcos
descobertos, impelidos a remos manobrados pelos próprios guerreiros com o auxílio de uma única vela. A coragem e
a perícia naval de marinheiros que se aventuraram em tais barcos a empreender tais viagens, nunca foram
ultrapassadas na história marítima. Muitas vezes pagaram a sua ousadia. O Wessex, no tempo do rei Alfredo, salvou-
se uma vez graças ao naufrágio de uma esquadra inteira, quando uma tempestade lançou 120 galés dinamarquesas
contra os penhascos de Swanage.
Em quase todas as regiões em que dominaram pelas armas, os vikings acabaram assimilados pelas populações
vencidas. Na Grã-Bretanha, os dinamarqueses e noruegueses ou foram repelidos ou fundiram-se com os anglo-saxões
com o decorrer dos anos. Na França, não são bem conhecidas as circunstâncias segundo as quais o rei dinamarquês
Rollon obteve território que veio constituir o Ducado da Normandia. Estabelecidos nos férteis campos da França,
pouco a pouco os normandos perderam os hábitos violentos e adotaram a língua e a cultura francesa.
Nos séculos que se seguiram, o espírito aventureiro dos descendentes dos vikings levou-os a participarem de
muitas empresas guerreiras, tais como a conquista da Inglaterra em 1066 por Guilherme, o Conquistador, a expulsão
dos árabes do sul da Itália e da Sicília, e as Cruzadas. Em poucas gerações, contudo, os normandos mudaram
radicalmente seus hábitos antigos, e a Normandia converteu-se numa região conhecida tanto pela excelência de seus
rebanhos e de seus pomares quanto pela fama de seus marinheiros e pescadores.
Em síntese, a história dos nórdicos é um flagrante exemplo da influência da geografia na evolução de um povo.
Talvez mas ainda que nas histórias gregas e fenícias, a natureza especial das regiões escandinavas explique a epopéia
viking.

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A IDADE MÉDIA (476 d.C – 1453 d.C)

VI – A FORMAÇÃO DAS MONARQUIAS CENTRALIZADAS

1 - FRANÇA
O desenvolvimento comercial e urbano encontrou um
sério obstáculo na permanência das estruturas feudais. A
diversidade regional e política, típica do feudalismo, com os
vários feudos e seus poderes locais, constituíam um estorvo ao
comércio, na medida em que diversos senhores interferiam nas
relações comerciais, cobrando impostos dos mercadores. Além
disso, inexistia unidade monetária legal ou mesmo de pesos e
medidas na Europa, dificultando as transações comerciais.
Dessa forma, para a nascente burguesia européia, ou seja, os
comerciantes, seria conveniente um poder centralizado que
impusesse normas e facilitasse o comércio, sobrepondo-se aos
poderes locais da nobreza feudal.
Ao mesmo tempo, os diversos reis europeus tinham
interesse em promover a centralização política, como forma de
reforçar sua autoridade, subordinando a nobreza e limitando o
poder da Igreja. A comunhão de interesses entre rei e burguesia
acabou levando à gradativa aproximação de ambos durante a
Baixa Idade Média, o que transformaria inteiramente as
relações e desencadearia o processo de formação das
monarquias centralizadas.
O processo de centralização francês tem sua origem, a
partir do século XII, na atuação dos reis da dinastia
capetíngia, fundada em 987 por Hugo Capeto e estendo-se até
1328.
O primeiro dos reis capetíngios importantes para o
processo centralizador francês foi Felipe Augusto ou Felipe II
(1180-1223). Usando como pretexto a necessidade de combater
os ingleses que ocupavam o norte da França, esse monarca
iniciou a cobrança de impostos em todo o território francês,
seguida da montagem de um poderoso exército que garantiria o
poder real e o domínio de um território unificado.
Tinha o início a transformação da monarquia feudal,
centrada nos feudos e comandada pelos susersanos/vassalos
locais, em Estado centralizado. Após derrotar os ingleses,
utilizou seu poder armado para impor à nobreza, nomeando
fiscais reais, chamados bailios ou senescais. Estes percorriam
todo o reino, não apenas garantindo a cobrança de impostos
como também fazendo prevalecer as leis e a justiça real sobre
as dos nobres locais. A aliança com a burguesia se expressava
igualmente na venda de cartas de franquia aos burgos que
quisessem contar com a proteção real contra a recusa dos
senhores feudais em liberar os burgos de seu controle.
Luís IX (1226-1270) levou adiante o processo de centralização, organizando uma rede de tribunais reais e
instituindo uma moeda de circulação nacional. Participou da sétima e da oitava cruzadas, ambas fracassadas,
falecendo na última delas. Após sua morte, foi canonizado pela Igreja como São Luís.
Felipe IV, o Belo (1285-1314) deu continuidade ao empreendimento iniciado por seus antecessores.
Herdando um Estafo já fortalecido, preocupou-se com sua legitimação, criando, em 1302, a assembléia dos Estados
Gerais, os poderes dos quais o primado da soberania real. Compunha-se dos representantes das três parcelas que
formavam a sociedade francesa: clero, nobreza e comerciantes das cidades, excluindo as camadas pobres da
população. Tal assembléia tinha caráter meramente consultivo, não constituindo um corpo legislativo, e era
convocada de acordo com a vontade do monarca.

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Apoiado pela assembléia Felipe IV decidiu em favor da taxação sobre os bens da igreja. Teve início, então,
grave crise, envolvendo a participação do papa Bonifácio VII, que chegou até a ameaçar o rei de excomunhão. A
morte do papa em 1303 fez com que Felipe IV interferisse na escolha do sucessor, impondo o nome de um cardeal
francês, que viria a ser o papa Clemente V, e forçando a transferência da sede da igreja de Roma para cidade de
Avignon, no sul da França.
Tal episódio iniciou o período que ficou conhecido como cativeiro de Avignom: durante 70 anos os papas
submeteram-se à autoridade do rei da França, o que demonstra claramente o fortalecimento desses monarcas. A
nomeação de um outro papa em Roma, no mesmo período, desencadeou o Cisma dos Cem Anos, com a divisão da
autoridade suprema da Igreja católica entre dois papas.
De qualquer forma, tudo apontava para a formação de um sólido Estado centralizado na França, país que se
encontrava na vanguarda da marcha centralizadora européia. Entretanto, sobreveio a Guerra dos Cem Anos, que
abortaria, ainda que temporariamente, o fortalecimento do poder monárquico no país.
Necessitando da nobreza para fortalecer seu exército em meio a
uma guerra particularmente violenta e prolongada, a monarquia
francesa passou por relativo enfraquecimento. A insatisfação burguesa
com as primeiras derrotas na guerra, a fome generalizada no país e o
advento da peste negra só dificultaram a situação. Finalmente,
eclodiram as rebeliões camponesas, chamadas jacqueries (uma alusão
à expressão francesa Jacques Bonhomme, que equivale em português a
“joão-ninguém”); a mais importante delas em 1358, caracterizada pela
invasão de castelos e assassinatos de senhores.
Somente a partir do início do século XV, os franceses
obtiveram vitórias militares decisivas, por ocasião de um grande
levante popular contra os ingleses, quando prevaleceu um forte
sentimento nacionalista encarnado, sobretudo na figura de Joana
D’arc. Filha de camponeses humildes, Joana D’arc tornou-se o
principal mito da época e colocou definitivamente entre os maiores
mártires franceses de todos os tempos.
Dizendo-se enviada por Deus para guiar seus compatriotas na
expulsão de exército inglês, ela participou de diversos combates que
resultaram em vitória para os franceses. Também velou Carlos VII a
ser coroado em Reims, segundo as antigas tradições dos francos. Após
ter sido aprisionada e entregue aos ingleses, em 1430, Joana D’arc foi
acusada de heresia e condenada à morte por um tribunal eclesiástico.
Os franceses continuaram a luta contra o inimigo inglês, terminando por expulsá-lo definitivamente de seu
território em 1453. Foi nesse contexto que se organizou e consolidou o Estado nocional francês.

2 – INGLATERRA
No início da Idade Média, a ilha da Grã-Bretanha foi ocupada
por bárbaros germânicos, especialmente anglos e saxões. No ano de
1066, os normandos – vindos do norte da atual França – invadiram a
Inglaterra e, chefiados pelo rei Guilherme, o Conquistador,
derrotam os anglo-saxões na batalha de Hastings. Essa invasão tardia
ajudou a fortalecer as estruturas feudais na ilha, ao contrário do que
acontecia no continente. Guilherme dividiu o reino em condados, os
shires, controlados pela nobreza e fiscalizados por funcionários
chamados sheriffs.
Em 1154 a dinastia normanda foi substituída pela angevina ou
Plantageneta, cujo primeiro rei foi Henrique II (1154-1189). Esses
monarcas buscaram o fortalecimento do podre real por meio do
estabelecimento da justiça real e da common law, conjunto de leis a
ser aplicado em todo o território.
Seu sucessor, Ricardo I, ou Ricardo Coração de Leão (1189-1199),
envolveu-se em guerras com a França e na terceira cruzada, e sua
ausência contribuiu para debilitar o poder real na Inglaterra. A
insatisfação da nobreza com o rei atingiu seu ponto culminante no
reinado do sucessor de Ricardo, seu irmão João sem Terra (1199-
1216).
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Tomando parte em guerras contra a França e indispondo-se com o papa, esse monarca gerou
descontentamento crescente entre a população com a cobrança de impostos cada vez mais elevados, inclusive com a
tentativa de taxação dos bens da Igreja. Enfrentou a revolta da nobreza que acabou por lhe impor a Magna Carta
(1215), que determinativa que, a partir de então, o monarca só poderia criar novos impostos ou alterar leis com a
aprovação do Grande Conselho, órgão formado por membros do clero e da nobreza.
Desse modo, o poder real foi fortemente limitado na Inglaterra, retardando o processo de centralização
política. O grande Conselho pode ser considerado o embrião do atual Parlamento inglês. Na medida em que era
controlado inicialmente por membros da velha ordem feudal, seu caráter era relativamente conservador. Só que em
1265 novas medidas estabeleceram a admissão de burgueses no Grande Conselho.
Mantendo uma estrutura política descentralizada, a Inglaterra envolveu-se na Guerra dos Cem Anos contra a
França. Nas origens da guerra, estava a disputa por territórios no norte da França, notadamente a próspera região
têxtil de Flanders (atual Bélgica). Disputas sucessórias desencadearam a conflito em 1337.
Os ingleses obtiveram vitórias iniciais importantes, o que não impediu que passassem por dificuldades
internas durante a guerra. Assim como na França, a peste negra e as rebeliões camponesas (destacando-se levante
liderado por Wat Tyler e John Ball, em 1381) transtornaram a vida da população, e o prolongamento da guerra ajudou
a enfraquecer a nobreza.
Ao seu final, no século XV (1453), iniciou-se uma disputa pela sucessão do trono inglês que enfraqueceria
ainda mais a nobreza. A Guerra das Duas Rosas, como ficou conhecida, devido às rosas que faziam parte do brasão
das duas famílias em disputa, York e Lancaster, abriu caminho para a centralização política do país.

3 – PORTUGAL E ESPANHA
Inicialmente povoada por iberos, celtas e ligures, a península Ibérica sofreu a invasão dos visigodos, no final do
império Romano, e dos árabes, no século VIII. A formação dos Estados nacionais da região está estreitamente
vinculada à Guerra de Reconquista dos territórios tomados pelos muçulmanos, na Baixa Idade Média.
A religião islâmica foi levada para a península Ibérica, onde já existia o cristianismo, pela invasão árabe,
iniciada em 711. Devido ao avanço muçulmano, os cristãos só conseguiram manter reinos independentes no norte da
península, na região montanhosa das Astúrias. Seria daí que partiria o movimento da Reconquista, a partir do século
XI.
Durante esse processo, organizaram-se os reinos de Leão, Navarra, Castela e Aragão. Os dois últimos, além de
anexarem os demais reinos, uniram-se em 1479, por meio do casamento de seus monarcas, Fernando de Aragão e
Isabel de Castela, os chamados “reis católicos”.
Essa união real deu origem ao Estado centralizado espanhol, que, no entanto, só se consolidaria com a
conquista de Granada, último reduto árabe ao sul na península, e a conseqüente expulsão dos mouros, 1942.
Quanto a Portugal, suas origens remontam à doação de terras feitas pelo rei Afonso VI de Leão a Henrique de
Borgonha, nobre francês participante da Guerra de Reconquista. [Lembre-se de que não havia exércitos nacionais e
que, em caso de guerras, as forças militares eram formadas por nobres cavaleiros. Essa era uma forma de os nobres
que sofriam as conseqüências da lei da primogenitura obterem terras e rendas.]
O feudo foi doado a Henrique de Borgonha juntamente com seu
compromisso matrimonial com a filha ilegítima do rei, Dona Teresa. As terras
doadas correspondiam ao condado Portucalense. A independência desse feudo
em relação ao reino de Leão seria conseguida, após muitas disputas familiares,
em 1139. Nessa ocasião, o filho de Teresa e Henrique, D. Afonso Henriques,
teria expulsado sua mãe de Portugal por defender a sujeição a Leão, para
garantir a independência do território.
Assegurada a independência, inicia-se a dinastia de Borgonha, a primeira
de Portugal, dando prosseguimento à guerra contra os muçulmanos e
expandindo as fronteiras do reino para o sul. À medida que se estendia o
território, a monarquia fazia doações de terras à nobreza guerreira, sem, no
entanto, lhes dar a posse hereditária. Desse modo, em Portugal, ao contrário do
que aconteceu no resto da Europa, evitou-se a formação de uma nobreza
proprietária e autônoma, mantendo-se a hegemonia da autoridade real.
O setor mercantil da sociedade portuguesa medieval, por sua vez,
consolidou-se com a transformação de Portugal em escala da rota marítima que
ligava o Mediterrâneo ao norte da Europa. Essa rota ganhou maior importância,
principalmente, a partir do século XIV, quando a insegurança gerada pela crise
européia, em um panorama marcado por guerras e a peste negra, levou à busca
de novos entrepostos comerciais.
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Em 1383, a morte de Fernando I, o último rei da dinastia de Borgonha sem herdeiros diretos, desencadeou
acirrada disputa sucessória. Parte da nobreza apoiava a entrega da coroa portuguesa ao genro de D. Fernando, o rei de
Castela, representante de uma política eminentemente feudal.
Os comerciantes, aliados a setores populares, entretanto, conseguiram impor o nome de D. João, ao trono. Foi
chamada Revolução de Avis. Em 1385, na batalha de Aljubarrota, a derrota das tropas castelhanas garantiu a
ascensão de D. João ao trono, dando origem à dinastia de Avis. A nova dinastia foi marcada pela aproximação dos
interesses da monarquia com os do setor mercantil: os comerciantes buscavam ampliar seus mercados e o rei desejava
se fortalecer por da cobrança de impostos sobre o florescente comércio. Essa alianaça de interesses terminou por
desencadear o por conhecido por expansão marítima portuguesa, a partir do século XV.

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VII – REPÚBLICAS MARÍTIMAS ITALIANAS

PISA – GÊNOVA – VENEZA

1 – PISA
Aproveitando a foz de um rio navegável, o Arno, nasceu e
cresceu Pisa, que se transformou em importante centro comercial
desde o século V. Apesar do belo e abrigado estuário, não havia
montanhas que protegessem a cidade; por outro lado, a vizinhança
com Lucas, em fase de expansão, dificultava o crescimento de Pisa.
Estes fatores fizeram o povo de Pisa voltar os olhos para o mar.
Pisa era o único porto abrigado no mar Tirreno, enquanto que
Gênova, mais a noroeste, era alvo constante de investidas
muçulmanas.
No fim do século XI, devido à ameaça muçulmana, Pisa e
Gênova coligaram-se e lançaram repetidos ataques contra cidadelas
árabes. Sardenha e Sicília – esta com o seu porto de Palermo
contando com 300 mil habitantes – foram conquistadas por pisanos
e genoveses, que juntos também invadiram a costa africana e
saquearam a cidade de Mehedia, em 1087, que abrigava piratas da
região.
As frotas pisanas e genovesas percorriam o mar e expandiam o comércio. O governo de Pisa mantinha controle
sobre as atividades marítimas pisanas, pensando até em levá-las até o Oriente, caminho marítimo ainda desconhecido,
grande atrativo para o comércio.
Pisa viu com simpatia o movimento das Cruzadas que se iniciavam, não só pelas lutas dos cristãos contra os
não-cristãos (os infiéis), mas pelas possibilidades econômicas daí decorrentes. A primeira Cruzada, de 1096 a 1099,
valeu para Pisa privilégios na costa da Síria e da Palestina. Entre 1108 e 1124 a frota pisana ajudou a conquista de
Laodicéia e obteve como recompensa partes das cidades de Antióquia (acima da atual Beirute) e de Constantinopla.
A segunda e rápida Cruzada, em 1145, favoreceu-lhe o comércio nas costas italianas e sicilianas. Os pisanos também
se sentiam atraídos por Alexandria e pelo Cairo, o que os levou a assinar um tratado comercial em 1154 com o califa
Fatimita, rompido três anos depois. Pisa, então, passou para o lado do rei Almarico, de Jerusalém. Pisa ainda tentou
invadir Alexandria em 1167, com uma frota naval, mas não teve sucesso.
Com a conquista do Egito pelo muçulmano Saladino, em 1171, os pisanos logo passaram a negociar com o
novo conquistador. Na terceira Cruzada, de 1189 a 1192, navios de Pisa transportaram tropas da Toscana e
aproveitaram para fazer bons negócios.
O sucesso de Pisa no comércio provocou obviamente a animosidade das cidades vizinhas, especialmente de
Gênova, que àquela altura já não era tão aliada. Em 1194, os pisanos destruíram o empório genovês em Messina, na
Sicília, à custa da perda de 13 navios. Mais tarde, Pisa viu-se atacada por mar e por terra, sendo seu porto destruído
em 1284. Para tanto, os genoveses lançaram enormes blocos de pedra trazidos da ilha de Capri e os lançaram na foz
do rio Arno, formando uma espécie de molhe, que retinha os sedimentos. A derrota naval de Melória, logo depois,
selou a sorte de Pisa. Na paz estipulada em 1299, em Gênova, Pisa viu-se obrigada a ceder partes da Sardenha e da
Córsega e a não armar embarcações durante quinze anos. Terminava o esplendor comercial de Pisa.

2 – GÊNOVA
Gênova era um porto bem situado, ao norte de Pisa, com os Apeninos ao fundo, separando a cidade do Vale do
Pó. Embora a agricultura fosse razoável, era insuficiente para alimentar a população. Assim, os genoveses também
cedo buscaram as vias marítimas.
Em coligação com Pisa, como vimos anteriormente, os genoveses chegaram a lugares distantes, como a Síria,
em 1065, e Caffa, no mar Negro.
Os armadores e navegantes genoveses, tal como os pisanos, criaram a “Campagna”, uma nobreza de origem
mercantil, diferente da nobreza feudal, pois era constituída de governantes que seguiam por norma ter a propriedade
de estabelecimentos comerciais e a navegação, ao contrário do feudalismo, em que a propriedade da terra e da casa
era fundamental. A nobreza fornecia os governadores de cada cidade e indicava os comandos das forças navais.
A primeira Cruzada (1096-1099) permitiu a Gênova fundar diversos empórios na costa da Síria e da Palestina,
como aconteceu com Pisa. Em 1206, foi criado por Gênova o “Consolato del Mare”, uma organização que cuidava
somente da parte financeira dos empreendimentos marítimos.
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Os cidadãos de Gênova, para aumentar a expansão marítimo-comercial, criaram uma associação de caráter
militar – a “Maona” – constituída de proprietários de navios que se responsabilizavam pelos gastos financeiros das
expedições; eles agiam sob a direção de uma instituição chamada “Comuna”. A “Comuna” nomeava o almirante
responsável pelas atividades no mar. O lucro das empresas envolvidas revertia para a “Comuna”, deduzidas as
despesas. A primeira “Maona” que se conhece foi a de Ceuta, em 1234, dispondo de cem navios. Outras “Maonas”
foram a da ilha de Chios, no mar Egeu, em 1346, capturada pelos venezianos, e a da ilha de Chipre, em 1374. Onde
foi fundada importante colônia.
No início do século XIV, Gênova ajudou a restaurar o Império Romano do Oriente, o que lhe rendeu vários
empórios, em Constantinopla, Pera e Galata. Gênova, nessa época, foi a primeira cidade a começar a organizar
viagens para fora do estreito de Gibraltar, chegando a Londres, cerca de 1300.
Depois do colapso de Pisa, as operações de comércio ficaram circunscritas a Gênova, em todas as partes do
Mediterrâneo, especialmente no chamado Levante (Países da Ásia e da Europa). Todos os mares foram percorridos
pelos comerciantes genoveses: o mar Negro, o Golfo Arábico, o Volga, o mar Adriático, o mar Cáspio, o Golfo
Pérsico, o mar Vermelho; nas ilhas mediterrâneas pontificavam postos genoveses no arquipélago grego, em Chipre,
Córsega, Sardenha, Malta e Sicília. Havia companhias genovesas fora do Mediterrâneo, nos Países Baixos e na
Inglaterra.
Cinquenta anos após, no século XIV, já se notavam os primeiros sinais de decadência de Gênova. As vitórias
navais de Melória e de Curzola, sobre Pisa, haviam exigido um esforço imenso de Gênova, pois sua marinha não era
composta por mercenários, mas sim por cidadãos genoveses que, mortos em combate, faziam falta à metrópole.
Outras guerras com a concorrente Veneza, a fracassada campanha em Chioggia (1378 a 1381) e os treze anos de
dominação francesa de Carlos VI (1396 a 1409) foram alguns acontecimentos que aceleraram o declínio do outrora
magnífico centro comercial.

3 – VENEZA
Nas lagunas do mar Adriático surgiu a cidade que liderou, na Idade Média, todas as demais, pela riqueza
econômica e o poderio marítimo: Veneza.
Inicialmente habitada por pescadores, logo se transformou em refúgio de outros povos, fugidos das guerras ou
perseguições. Nas lagunas havia poucas áreas cultiváveis acima das águas, a água potável era escassa. No entanto,
essas ilhas ocupavam excelente posição geográfica, perto de uma região plana e vasta da península itálica.
Os habitantes das lagunas tiveram que adaptar a terra às suas necessidades, ao contrário do que geralmente
ocorre, cavando canais, construindo diques, preparando bacias para seus navios, cultivando trigo e vinhedos,
recolhendo da chuva a sua água.
Veneza chegou a conseguir o monopólio do comércio de sal na Itália. Mantinha também relacionamento com
Constantinopla, sede do Império Romano do Oriente, o que lhe dava status político e favorecimentos comerciais. A
localização geográfica tornava Veneza mais defensável e permitiu apenas uma conquista curta, a de Carlos Magno. O
“Ducado de Veneza Marítima” constituído em 697 concentrou em uma só mão a administração das ilhas,
permanecendo Veneza como parte do Império do Oriente, mantendo, no entanto, sua independência. A decadência de
Ravenna e de Aquiléia deixou o campo comercial aberto para Veneza.
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HISTÓRIA 1 CURSO ASCENSÃO
Até o fim do século VIII, o Império Romano do Oriente controlou a entrada do mar Adriático, por força da
recuperação do território romano. Todavia, as devastações árabes na Itália ameaçaram bloquear o Adriático. Pouco a
pouco Veneza foi conquistando a supremacia no mar, fundando mais empórios, desimpedindo o mar Adriático. Para
Veneza passaram então a convergir as rotas que levavam ao interior da Europa. Veneza passou a ter acesso à madeira
retirada dos altos planaltos, que era levada para os portos da Dalmácia (costa da antiga Iugoslávia), no mar Adriático., e ao
trigo e ao vinho do sul da Itália.
Em 1082, Veneza obteve do Império Romano do Oriente prioridade para comerciar em toda a extensão daquele
Império. Por ocasião da primeira Cruzada (1096), colocou à disposição dos Cruzados a frota necessária ao transporte de
homens, cavalos e víveres para a Terra Santa, ao mesmo tempo que comerciava com Alexandria, em poder dos não-
cristãos (infiéis). Na quarta Cruzada (1204), Veneza possibilitou a tomada de Constantinopla pelos Cruzados, com a
criação do efêmero “Império Latino do Oriente”. Para negociar, ao que parece, Veneza não tinha amigos ou inimigos.
Com o fim do Império Grego, Veneza recebeu vastos territórios na partilha. Mas isso não despertava muito interesse
e sim a expansão comercial marítima, com bons locais para abrigar sua frota. Como colônias de fato, os venezianos só
mantiveram a ilha de Creta e alguns pontos da costa, facilmente defensáveis pela sua marinha.
Tal como Pisa e Gênova, o governo veneziano controlava as atividades marítimas. O Estado era responsável pelas
“esquadras de tráfego”, dirigidas para o Egito, para a França, para a Espanha, para a Síria, para a Inglaterra e para outros
locais que propiciassem intercâmbio comercial. Eram formadas seis esquadras, contando com mais de 3 mil embarcações e
guarnições de 36 mil homens a cada ano. Com Portugal, Veneza manteve ativo relacionamento comercial no fim do século
XV, com navios portugueses levando para Veneza cana de açúcar da ilha da Madeira, até que em 1498 houve saque e
aprisionamento de navios venezianos pelos portugueses. Além do mais, a expansão marítima portuguesa em busca do
caminho para as Índias despertava preocupação no governo veneziano.
O Estado veneziano regulava e dirigia a produção dos estaleiros, nos mínimos detalhes. Os interesses da defesa
militar determinavam que os navios mercantes pudessem ser facilmente transformados em embarcações de combate. A
renovação da frota era feita com rapidez.
O ano de 1423 (século XV) marcou o apogeu do poderio marítimo veneziano no mundo. Nessa época, cerca de três
mil venezianos eram mercadores viajantes pelo mar.
Ainda durante o século XVI Veneza, provida de uma marinha grandiosa, pode conservar um prestigio invejável,
além de grande importância política e comercial. O seu declínio, todavia, teve início e acentuou-se com o passar do tempo,
prosseguindo até o final do século XVIII, quando Napoleão extinguiu o Estado Veneziano.

4 - GUERRA E COMÉRCIO NA IDADE MÉDIA


Durante toda a Idade Média, o comércio marítimo intensificouse no Mediterrâneo, tendo como principais
intermediários as cidades italianas, verdadeiras potências mercantis e financeiras da Europa. Mantinham elas grandes
frotas comerciais, realizando as trocas através de entendimentos com os árabes, já que as mercadorias orientais, de grande
aceitação na Europa, antes de chegarem às margens mediterrâneas passavam pelas terras do Oriente. Mesmo após a
descoberta da rota marítima para o Oriente, contornando o continente africano, o comércio mediterrâneo se manteve,
embora em declínio, constituindo grande preocupação para Veneza e outras cidades italianas que o monopolizavam. No
Atlântico, os empreendimentos náuticos foram de caráter diverso. Durante a Idade Média já se realizavam viagens
costeiras entre o mar Mediterrâneo e o norte da Europa, com fins comerciais. A Guerra dos Cem Anos ativou
particularmente esse comércio marítimo, em face da conflagração nos territórios continentais. A Inglaterra, sempre notável
pela maneira de resolver seus problemas, apresentou um sistema interessante para o emprego dos navios. Havia um acordo
entre o rei e os armadores, pelo qual estes cediam seus navios ao governo em caso de necessidade, para que servissem
como navios de guerra. Para isso, os navios mercantes sofriam uma pequena alteração. Na proa e na popa construíam-se
armações de madeira, no formato de torres, destinadas a abrigar os soldados embarcados caso o navio fosse abordado, para
que dali pudessem prosseguir no combate. Isso porque a tática naval da Idade Média, mesmo para navios a pano, como era
o caso dos que navegavam no Atlântico, era a abordagem. As manobras eram no sentido de aproximar os navios para
permitir essa abordagem. O pouco poder ofensivo dos primitivos canhões impunha que essa arma fosse empregada contra
o homem e não contra o material, já que neste não faria dano considerável. Geralmente, a tripulação vencida era jogada
pela borda. Sendo fracos em seu poder ofensivo, esses canhões navais primitivos eram chamados de men killers, por só
causarem dano forte nos homens. Só mais tarde, aperfeiçoando-se os canhões navais e aumentando-se seus tamanho e
poder, eles foram chamados de ship killers, porque danificavam os navios fortemente. Com o tempo, verificou-se que as
tais armações construídas na proa e na popa dos navios mercantes, para abrigar soldados no caso de abordagem, eram úteis
mesmo em tempo de paz, pois facilitavam a defesa do navio contra piratas. Com isso, os navios mercantes passaram a
manter essa adaptação em caráter permanente. O que deu origem aos castelos de proa e de popa dos navios, que ainda hoje
se vêem na arquitetura naval. Essa integração entre marinha de guerra e marinha mercante foi significativa, pois não
podemos compreendê-las isoladamente. E a Inglaterra, que mais tarde dominou os mares, só organizou sua marinha de
guerra como força militar independente e regular no reinado de Henrique VIII (1509-1547), já no século XVI. Daí em
diante, sempre no interesse da expansão de seu comércio marítimo e de suas atividades coloniais, os ingleses fizeram
crescer proporcionalmente sua Royal Navy, até vê-la a maior e a mais poderosa do mundo.

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5 – O NAVIO DE GUERRA MEDIEVAL
Todas essas lutas no mar eram realizadas a bordo de navios a remo. Na Alta Idade Média um tipo de navio
comumente empregado foi o drômon, palavra significando “navio rápido” ou “navio corredor”. Tinha duas ordens de
remos, conduzindo uma tripulação de cerca de 300 homens; “no meio desse navio elevava-se um grande castelo construído
com traves e com seteiras para os arqueiros. No castelo de proa elevava-se uma espécie de pequena torre, talvez giratória,
da qual, desde a invenção do fogo grego, certos tubos, que eram uma espécie de canhões primitivos, lançavam uma
substância inflamada sobre os conveses do adversário. O drômon tinha dois mastros de velas latinas e 30 a 40 remos em
cada bordo”. Tanto os cristãos como os árabes combatiam com esse tipo de navio. O navio a remos ainda foi amplamente
usado no mar Mediterrâneo para fins militares. Depois da invenção do canhão, este foi adaptado à proa das galeras, de
modo a atingir o inimigo pela frente, durante a aproximação das esquadras. De outra forma não podia ser, aliás, já que os
bordos eram tomados pelos remos, que compunham o aparelho propulsor dos navios. Por ocasião das disputas entre a
cristandade e os mouros, durante o século XVI, no mar Mediterrâneo, deu-se a última grande ação entre navios de remos
na história naval. Foi a Batalha de Lepanto, travada em 1571, junto à península Helênica, que resultou em vitória para os
cristãos, sem, contudo, grande significação estratégica, já que não foi explorada devidamente. A Batalha de Lepanto é das
poucas ações navais importantes sem estar ligada a alguma campanha terrestre. Foi o caso das batalhas navais da guerra
entre Inglaterra e Holanda no século XVII, de objetivos puramente marítimos.Embora reduzidos em sua ameaça contra a
Europa, os muçulmanos, ainda por muitos anos, mantiveram atividades predatórias que fustigavam o comércio marítimo
mediterrâneo. No próximo capítulo veremos que o navio a remos ainda foi usado por piratas até o século XVIII.

6 – DESENVOLVIMENTO DA ARTILHARIA
O aparecimento da pólvora veio dar novas dimensões à guerra e criou na mente dos homens pacíficos um grande
temor, muito se- melhante, guardadas as devidas proporções, com o que hoje se observa em relação às armas nucleares. A
pólvora já era conhecida dos chineses talvez desde a época em que viveu Cristo. Marco Polo conta que viu belos fogos de
artifício na China. Mas sabe-se que, pelo menos uma vez, os chineses empregaram a pólvora na guerra, sob a forma de
foguetes. Foram os árabes que transmitiram aos europeus a fórmula da pólvora. Na Europa, três nomes estão ligados à sua
divulgação, por coincidência, todos três religiosos: Rogério Bacon, Bertoldo Schwartz e Alberto, o Grande. As primeiras
armas chamadas de fogo foram os canhões; só muito depois é que surgiram as armas portáteis. Os foguetes que, como já
vimos, foram anteriores aos canhões, só voltaram a ter importância no século XX. A invenção do canhão determinou
profundas alterações na História e não apenas de caráter militar. Contribuiu para o fim do feudalismo, já enfraquecido
pelas cruzadas, em benefício do poder dos reis, porque estes, apoiados pela burguesia, tinham mais recursos financeiros
para comprar a nova arma. A arma de fogo portátil, então, contribuiu sensivelmente para diminuir a desigualdade social,
porque permitia que “qualquer miserável plebeu abatesse o mais nobre dos cavaleiros”, como disse, horrorizado, um
cronista da época. De fato, o plebeu era o homem que lutava a pé e que pouca chance tinha no combate contra o nobre
pesadamente armado a cavalo, até então. Na marinha, o canhão forçou lentamente o abandono do navio a remos que,
embora mais manobreiro que o navio a vela, não podia conduzir o mesmo número de canhões que este. Nós, homens do
século XX, que tanto nos impressionamos com a bomba de hidrogênio, talvez ainda não nos tenhamos dado conta que o
canhão foi muito mais importante para a História em geral do que a bomba (pelo menos até agora!).

7 - GLOSSÁRIO
CAMPAGNA Um tipo de administração consular. Era diferente do feudalismo, no qual os empreendimentos imobiliários
(a casa) e a terra (trabalhada pelos servos) eram os pilares para a nobreza. Na Campagna, estabelecida por uma nobreza
mercantil, os estabelecimentos comerciais além-mar e a navegação é que se tornavam fundamentais. Tratava-se de um
conjunto de armadores (donos das embarcações) e navegantes (os que se faziam ao mar) em Pisa e Gênova, cerca de 1087.
CONSOLATO DEL MARE Uma instituição criada cerca de 1206, em Gênova (e encontrada também em Pisa),
destinada a cuidar apenas da parte financeira dos empreendimentos marítimos. Era dependente do poder central.
MAONA Tratava-se de uma instituição em moldes militares, cerca de 1200, na qual proprietários de navios (os
armadores) e outros cidadãos de Gênova bancavam as despesas com os empreendimentos marítimos, visando a expansão
comercial. Essa instituição ficava sob a direção de um órgão chamado Comuna, que nomeava o almirante responsável
pelas atividades navais. Os lucros advindos do comércio das expedições revertiam para a Comuna, depois de ressarcida a
Maona das despesas efetuadas com as expedições.
ESQUADRAS DE TRÁFEGO Seis esquadras formadas e armadas pelo governo de Veneza e alugadas aos mercadores
venezianos, para estabelecerem comércio além-mar. Uma vez por ano o governo abria a navegação a essas esquadras, que
totalizavam cerca de 3.300 embarcações e 36 mil homens. O governo determinava o destino das esquadras de tráfego,
geralmente três direções principais: uma para o Egito, levando mercadorias para serem trocadas com os árabes em
Alexandria e Cairo (os árabes levavam as mercadorias para o outro lado do mar Vermelho); outra direção para a Terra
Santa, levando peregrinos, na volta trazendo mercadorias daquele local; a terceira direção para noroeste do mar
Mediterrâneo, para trocas comerciais; nessas ocasiões às vezes entravam em guerra com barcos genoveses, que também lá
estavam com propósitos comerciais.
IMPÉRIO LATINO DO ORIENTE Em 1204, por ocasião da 4ª Cruzada, os Cruzados tomaram Constantinopla, com a
ajuda de Veneza. Foi então estabelecido no território um efêmero Império Latino do Oriente, havendo até um imperador
nomeado por Veneza para governar uma parte da cidade. A 4ª Cruzada trouxe descrédito para o movimento, pois nenhum
cruzado chegou à Palestina.
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II - O PAPEL DAS MARINHAS NAS DISPUTAS EUROPÉIAS PELA COLÔNIA PORTUGUESA NA AMÉRICA

1 – INVASÕES FRANCESAS (Análise contextutal – Livro Brasil 500 anos)

1.1 – FRANCESES NA GUANABARA


Durante o século XVI, os corsários franceses freqüentavam o litoral brasileiro, retirando o ibirapitanga nativo,
atividade que se mostrava cada vez mais arriscada, tendo em vista o progresso da colonização portuguesa. Melhor seria
empenharem-se na fundação de um núcleo permanente. A França vivia dias agitados; católicos e calvinistas (huguenotes)
não se entendiam, e a intolerância desses grupos antagônicos provocava distúrbios políticos. Uma colônia na América
serviria de refúgio a todos que desejassem viver e prosperar em paz.
Constituíram, estas, as razões que nortearam a criação da França Antártica. Henrique II, reinando na França, resolveu
enviar às terras brasileiras o piloto e cartógrafo do Havre, Le Testu, com o objetivo de colher informações sobre a costa.
Essa viagem, ocorrida em 1551, teve a duração de seis meses. Le Testu confeccionou 56 portulanos.
Concebeu a expedição colonizadora o Vice-Almirante da Bretanha (cargo político e não militar) Nicolas Durand de
Villegagnon, cavaleiro de Malta, senhor de Tercy, Marquês de Villegagnon e personagem de destaque na Corte francesa.
Com habilidade, despertou o interesse do cardeal de Lorena, acenando-lhe com a difusão do catolicismo, e do Almirante
Gaspard de Coligny, simpático à Reforma, possuidor de valimento junto ao Rei Henrique 11. Uma viagem exploratória foi
realizada por Villegagnon ao Brasil com um ou dois navios, tendo os franceses visitado a área de Cabo Frio e adjacências
Villegagnon concluiu ser a Guanabara o melhor sítio para instalar a sua colônia. Ao retomar para a França, conseguiu a
aprovação de seu plano e a dotação de dez mil francos.
Com dois navios de 200t e um menor para carga e quatrocentos homens, católicos e huguenotes da ralé de Paris e
Rouen, a expedição largou do Havre em agosto de 1555 e entrou na Baía de Guanabara em de novembro do mesmo ano,
instalando-se numa ilha que os índios chamavam de Serigipe (hoje Villegagnon, onde funciona a Escola Naval). Todos
ajudaram a levantar um forte, que tomou o nome de Coligny, para servir de abrigo e defesa da posição.
Villegagnon desenvolveu uma grande atividade. Impôs uma disciplina férrea entre os colonos que, por isso, passaram
a detestá-Io, urdindo, mesmo, uma conspiração para matá-Io que, descoberta, levou à morte, na forca, dois responsáveis.
Conseguiu, porém, o chefe francês o desenvolvimento da colônia, a implantação de uma agricultura e a amizade dos índios
tamoios (que o chamaram de Paicolás), por ele cativados com astúcia.
Em 1557, chegou à Guanabara Bois-Ie-Comte, sobrinho de Villegagnon, com três navios, neles embarcados trezentos
colonos, cinco mulheres e teólogos calvinistas (Pierre Richer e Guillaume Chartier), provocando muitas discussões, bem
ao sabor da época. Alguns insatisfeitos preferiram retirar-se do forte, estabelecendo-se na Carioca, construindo, ao lado,
uma olaria: a Briqueterie. Outros embrenharam-se pelas matas.
Desiludido, Villegagnon retomou à Europa (em 1559) prometendo voltar, o que nunca cumpriu, ganhando, assim, dos
calvinistas, o apelido de Caim da América. Conseguiu, no entanto, uma indenização por parte do governo português e, do
governo francês, uma carta de corso contra os portugueses; mas não a usou, preferindo negociá-la com Portugal,
recebendo a soma de trinta mil ducados

1.2 - PRIMEIRO ATAQUE PORTUGUÊS


O Governador Mem de Sá encontrava-se em Ilhéus quando recebeu notícias dos franceses por um que desertara: Jean
de Coynta, senhor de Bouléz, que, em troca da liberdade, lhe forneceu as informações que precisava sobre a posição
militar de seus patrícios e do Forte de Coligny.
A situação não permitia delongas; os jesuítas aconselhavam a fundação de um núcleo na Guanabara: Nóbrega, em
carta de 2 de setembro de 1557 ao Padre Miguel de Torres, em São Vicente, afirmava esse ponto de vista, "como sempre
se desejou". Chegados, enfim, os reforços tão insistentemente pedidos, a 30 de novembro de 1559, chefiados por
Bartolomeu de Vasconcelos da Cunha, Men de Sá reuniu mais homens, em duas naus e três navios menores, e dirigiu-se
para a Guanabara. O ataque ao Forte de Coligny verificou-se a 5 de março de 1560; resistiram os itrusos por dois dias.
Orientados por Bou léz, dois portugueses (Manoel Coutinho e Jonso Martins Diabo) conseguiram entrar no forte e
explodir seu paiol de pólvora, causando grande confusão. Os franceses se retiraram escondendo-se nos matos próximos,
com a ajuda dos tamoios; 74 renderam-se. Esse combate é historiado em carta do Padre Nóbrega, que o assistiu, datada de
O 1.06.1560, ao Cardeal D. Henrique
Mem de Sá limitou-se a arrasar o forte. Não dispunha de gente nem meios para criar um núcleo de povoamento
permanente, o que seria aconselhável. Da Guanabara, dirigiu-se a São Vicente e, depois, para Salvador. No Espírito Santo,
aceitou a renúncia do donatário Vasco Fernandes, nomeando Belchior de Azevedo para administrar a região. Bouléz ficou
em São Vicente, mas, hostilizado pelos habitantes, foi remetido para Salvador, onde enfrentou processo como herege,
mandado, em seguida, preso, para a Inquisição de Lisboa e desterrado para a índia
Os franceses, orientados pelos tamoios, tomaram novas posições na Ilha de Paranapuan (hoje Governador). Insuflando
os indígenas, conseguiram que o chefe unhambeba os reunisse para o ataque a São Vicente e ao Colégio dos Meninos de
São Paulo. Compreendendo o perigo que se avizinhava das povoações portuguesas, o Padre Manoel da Nóbrega e o irmão
José de Anchieta entrevistaram-se com os chefes indígenas. Duraram cinco meses as negociações, três dos quais Anchieta

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ficou como refém (quando então compôs o poema à Virgem), terminando com o armistício de Iperoig (próximo de
Ubatuba) os portugueses não mais seriam atacados (14.09.1563).
Da terra do Brasil não cessavam de chegar a Lisboa pedidos no sentido de se fundar uma povoação no Rio de Janeiro.
Constitui documento valioso a carta de 3rás Cubas a D. Sebastião de 25 de abril de 1562.
O Governador Mem de Sá confiou a Estácio de Sá seu primo ou sobrinhoj a delicada tarefa de obter, na Corte, novos
recursos contra os franceses e a licença para a fundação de uma cidade

1.3 - ESTÁCIO DE SÁ E A FUNDAÇÃO DO RIO DE JANEIRO


A metrópole, compreendendo o perigo que representavam os franceses na guanabara, resolvia enviar reforços sob o
comando de Estácio de Sá, igualmente incumbido de fundar uma cidade, ponto de apoio para garantir o êxito da empresa
Com seis caravelas e duzentos homens, Estácio de Sá aportou a Salvador, em 1 de maio de 1563, onde obteve alguns
voluntários. Logo, iniciou viagem para o sul, passando no Espírito Santo, ali apanhando o chefe Araribóia e seus
temiminós, que se incorporaram à expedição com a finalidade de se vingarem dos tamoios.
Estácio de Sá entrou na Guanabara, apresou uma nau francesa, tendo permanecido por dois meses observando as
posições (janeiro/fevereiro de 1564). Seguiu, depois, para São Vicente, onde passou o resto do ano em preparativos. No
princípio do ano de 1565, reuniu todos e, a primeiro de março, chegou ao Rio de Janeiro, desembarcando em ponto
estratégico previamente escolhido (hoje é a praça de esportes da Escola de Educação Física do Exército, na Urca),
fundando, assim, a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro Ergueram-se casas rústicas, em torno do marco da fundação,
cercadas por um muro artilhado de madeira e barro; no centro instalaram a câmara e cadeia, a casa do governador e a
capela, sob a orientação do Padre Gonçalo de Oliveira e do irmão Anchieta, abrigando a estátua do Padroeiro. Nada de
grandioso, apenas um estabelecimento militar. Os primeiros funcionários receberam suas incumbências.
Durante dois anos, ficaram portugueses e franceses em luta, sem haver, contudo, um encontro aberto. Famoso ficou o
Combate das Canoas, durante o qual se diz ter aparecido o próprio São Sebastião em auxílio dos lusos

1.4 – EXPULSÃO DOS FRANCESES


Instado por Anchieta que, passando pelo Rio de Janeiro, observara quão frágil era a posição dos portugueses, resolveu
o governador dar uma ajuda pessoal. Aproveitando estar no porto de Salvador a esquadra (três galeões) de Cristóvão de
Barros, nela embarcou-se, acompanhado do Bispo D. Pero Leitão, do Padre Inácio de Azevedo (visitador da Companhia) e
de muitos voluntários. Chegaram ao Rio a 18 de janeiro de 1567. Acertaram iniciar o ataque a 20, dia do Santo Guerreiro,
protetor da cidade e do Exército de Portugal em Uruçu-Mirim (hoje Glória). Os franceses perderam heroicamente.
Alvejado por uma seta ervada, Estácio de Sá entrou em agonia, morrendo um mês depois. A raridade de documentos não
nos permite hoje conhecer esse personagem; situa-se entre os muitos jovens idealistas que Portugal produziu, plasmando,
com sua presença, os instantes decisivos do nascimento da cidade (a Igreja de S. Sebastião guarda seus restos mortais).
Seguiu-se o ataque ao reduto de Paranapuã, com dois dias de duração. Os franceses escaparam em quatro navios que
possuíam e ainda incomodaram os habitantes de Recife.
Expulsos os estrangeiros (que por muito tempo ainda ficaram em Cabo Frio), resolveu o Governador Mem de Sá
garantir a posse da região contra outros ataques. Assim, no primeiro dia de março de 1567, transferiu a cidade para o
Morro do Descanso, depois chamado do Castelo (já demolido), porque todo o conjunto lembrava um castelo medieval,
excelente sob o ponto de vista estratégico e livre dos ares pouco salubres da baixada. Nomeando seu sobrinho Salvador
Correa de Sá (04.03.1568) para o governo da cidade, rumou satisfeito para o norte. Para Araribóia deu terras onde hoje é o
Rio Comprido; em 1573, o chefe índio mudou-se, com sua gente, para o lado oposto da baía, conhecido por Praia Grande,
fundando o aldeamento de São Lourenço, que deu origem a Niterói (= água escondida). Toda a região foi erigida em
capitania da Coroa, a segunda, portanto, apesar de pertencer a Martim Afonso de Sousa, que ainda vivia, por ele não foi
reclamada.

1.5 - AINDA OS FRANCESES NO RIO DE JANEIRO


Os corsários franceses fixaram-se, então, em Cabo Frio. E não tardaram em investir sobre a desguarnecida Cidade do
Rio de Janeiro Em 18 de maio de 1568, surpreenderam os seus habitantes entrando, de imprevisto, na baía com quatro
naus, oito lanchas e várias canoas e se prepararam para o ataque à taba de Araribóia que ainda não se havia transferido
para a Praia Grande. Contando com pequeno reforço (35 homens) enviado pelo Governador Salvador Correa de Sá,
Araribóia optou por desferir um ataque de surpresa. O êxito obtido foi notável: em pouco tempo os invasores partiram
confusos e envergonhados
Os habitantes da cidade, animados por essa vitória, resolveram persegui-los. Embarcaram em canoas e, a 8 de junho,
avistaram o reduto francês em Cabo Frio, protegido por uma nau de 200t. Iniciou-se o combate que pendeu para os lusos
após a morte do comandante francês atingido na viseira de sua armadura por certeira flecha. A nau, abordada em seguida,
caiu em mãos portuguesas; conduzida para o Rio de Janeiro, teve a artilharia aproveitada para as defesas da cidade.
No segundo governo de Salvador Correa (1577 a 1598) o Rio de Janeiro sofreu outra incursão de franceses como
resultado da ajuda que a Rainha Catarina de Médicis prestou a D. Antônio, Prior do Crato, a fim de que este pudesse obter
o trono português vago com a morte do Cardeal D. Henrique em 1580. O florentino Filippe Strozzi, primo da rainha,
recebeu o título de vice-rei do Brasil e se apressou em vir apoderar-se do Rio de Janeiro. Três naus apresentaram-se à

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entrada da Baía de Guanabara (1583). O governador achava-se ausente; mas a população, liderada por sua mulher, D. Inês,
acendeu fogueiras e iludiu os intrusos com falsos movimentos que deram a impressão de grande número de pessoas. O ata-
que não chegou a se consumar
Poidemil de Soson, capitão da nau Le Volant, guarnecida de 116 homens, aportou (1595) em Sergipe no desejo de
retirar madeira; capturados por Diogo de Quadros, foram, na condição de prisioneiros, para Salvador, morrendo todos
enforcados. No mesmo ano, Elisee de La Tramblade, capitão da nau Le Saige, com 75 homens, visava igualmente ao
comércio do pau-brasil; o Governador D. Francisco de Sousa, que os capturou, concedeu-Ihes a liberdade. Ainda no
mesmo ano, outros franceses desembarcaram em Ilhéus, afugentando os moradores e procuraram saquear as casas; alguns
poucos destemidos, liderados pelo mestiço Antônio Fernandes, alcunhado de Catucadas, organizaram-se e revidaram con-
tra os intrusos, logrando eliminar vários, inclusive o chefe, motivo pelo qual os Ingleses se retiraram. Entre 15 e 18 de
agosto de 1597, uma armada francesa, composta de 13 navios, investiu sobre Forte do Cabedelo, na Paraíba; o
comandante, contando com 20 homens e cinco peças de artilharia, resistiu, morrendo heroicamente. Os franceses
retiraram-se para o norte.

1.6 – FRANCESES NO MARANHÃO


Para os franceses seria mais seguro o estabelecimento de uma empresa definitiva onde lançariam as bases de uma
ocupação permanente. A costa equinocial do Brasil servia aos seus intentos.
Entre 1596 e 1597, o Capitão Jean Guerard de Dieppe, andou explorando a costa norte. É quase certo que outros
marujos franceses comerciaram com os tupinambás. Acredita-se que em 1594, Jacques Riffault, bom conhecedor desta
costa norte do Brasil imaginou criar uma colônia na região que permanecia abandonada. Regressando ao seu país, Riffault
cativou um gentil-homem de Saint Maure de Touraine, chamado Charles des Vaux, com o projeto de um estabelecimento
duradouro no Maranhão. Armaram três navios e partiram em 15 de março de 1594, mas acabaram perdendo um deles em
frente à Ilha Upaomeri (depois batizada de São Luís). Os franceses deixaram-se ficar nela, misturados ao gentio, obtendo a
sua estima. Desgostoso com seus companheiros, Riffault, reduzido a um único navio, retornou à França deixando ainda
vários colonos sob a orientação de Charles des Vaux. Depois de alguns anos aproveitando um dos navios de Dieppe, des
Vaux conseguiu regressar à Europa e procurou interessar a Corte francesa no sentido de erguer uma colônia naquelas
paragens.
O Rei Henri IV determinou a Daniel de La Touche, senhor de La Ravardiere, de seguir para o Maranhão para
assegurar-se do que dizia des Vaux. La Ravardiere deixou Cancale em 12 de janeiro de 1604 regressando em agosto. E,
com o posto de vice-almirante da costa do Brasil, velejou, outra vez, para a América em 1607, estando entre os seus
tripulantes Des Vaux. Após 18 meses, retornou à França acreditando ser possível a colonização francesa na costa
equinocial.
O assassinato do rei (14/05/1610) impediu um apoio oficial e rápido. Parece que La Ravardiere se entusiasmou com
as possibilidades da região. Mas a empresa exigia dinheiro. Depois de alguns meses, La Ravardiere obteve o amparo de
François de Rasilly, senhor de Aumelles, que obteve os bons ofícios do Conde de Soissons, Charles de Bourbon, príncipe
de sangue, bem como do banqueiro Nicolas de Harlay de Sancy, Barão de Bolle e de Gros-Bois. Em 1612, concluía-se os
aprestos da expedição. Em três navios (Régent, Charlotte e Sainte’Anne), Daniel de La Touche embarcou colonos,
soldados, fidalgos e quatro padres capuchinhos
Partiram de Cancale a 19 de março de 1612; passaram por Fernando de Noronha, costearam o Nordeste e, a 26 de
julho, aportaram a ilha do Maranhão. Em 6 de agosto começaram a erguer um povoado fortificado, com a ajuda indígena,
inaugurando-o no primeiro dia de novembro de 1612, com o nome de São Luís.
Na verdade, os franceses não alcançaram as riquezas prometidas nem encontraram metais e pedras com os quais
sonhavam. Doenças e dificuldades várias geraram descontentamentos, diante das regras estabelecidas pelos chefes, em
observância aos desejos dos padres capuchos. A ausência da continuidade do amparo oficial contribuiu para o desânimo
geral. Apesar de Rasilly, que retornou à França em 7 de dezembro, ter pelejado pela empresa do Maranhão, conduzindo
consigo alguns índios, que receberam batismo diante de Luís XIII. A ajuda que recebeu, de seis mil escudos da rainha-mãe
serviu apenas para armar de novo o Régente para retornar ao Maranhão com alguns reforços e transportando dez padres
capuchinhos sob o comando do Padre Archange Pembroke.
Sabedores, os portugueses, desse estabelecimento francês, procuraram logo eliminá-lo antes que aumentasse. O
Governador Gaspar de Sousa organizou uma expedição com oito navios e a confiou a Jerônimo de Albuquerque, neto do
tuxaua Arcoverde, tendo como segundo o Sargento-mor Diogo de Campos Moreno (que, em 1615, escreveu Jornada do
Maranhão); a esta expedição agregou-se Martim Soares Moreno quando passou pelo Ceará. Nessa região, em
Jericoaquara, construíram um forte costeiro (NS do Rosário) e exploraram a terra e a marinha em direção ao Maranhão.
Em cumprimento desta missão, Martim Soares fez-se tanto ao largo com o seu navio que se viu arrastado pelas correntes
até as Antilhas de onde se passou à Europa
Com segurança, avançou Albuquerque e desembarcou com seus homens em Guaxenduba (hoje Tajuaba), a 26 de
outubro de 1614; construíram um reduto, sob orientação de Francisco de Frias de Mesquita, e lhe deram o nome de S.
Maria; contavam com trezentos soldados e duzentos índios.
Não perderam tempo os franceses em atacá-los, a 11 de novembro, tomando três embarcações e fazendo prisioneiros,
e a 19 (Combate de Guaxenduba) com duzentos homens brancos e 1.500 índios, todos em sete naus e 46 canoas,

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combatendo-se com água pela cintura a maior parte desse dia. Ficaram mortos 115 franceses e prisioneiros, nove;
Albuquerque teve 2 mortos e 18 feridos, entre estes um filho.
Apesar da superioridade numérica, os franceses sofreram derrota tão grande que La Ravardiere solicitou um
armistício, aceito imprudentemente por Albuquerque. Seguiram representantes diplomáticos para as respectivas cortes
européias (Capitão Du Prats e Gregório de Albuquerque para Paris e Sargento-mor Diogo Moreno e Mathieu Maillard para
Lisboa), onde não despertaram interesse. Albuquerque passou-se para a ilha, nela fundando o Fortim de S. José de
Itaparica
Ignorando a autorização do Rei Filipe II permitindo que os franceses permanecessem em terras do Maranhão, o
Governador Gaspar de Sousa determinou que Alexandre de Moura, Capitão-mor de Pernambuco, se preparasse para
repelir os franceses O próprio governador deslocou-se para Recife a fim de, pessoalmente, incentivar os derradeiros
aprestos.
Assim, em outubro de 1615, grossos reforços (seiscentos soldados em nove navios) portugueses aportaram ao
Maranhão, chefiados por Alexandre de Moura, que, juntando as suas forças com as de Jerônimo de Albuquerque, cercou a
fortificação francesa (São Luís), guarnecida com duzentos homens e 17 peças de artilharia. La Ravardiere optou pela
capitulação firmada no dia 4 de novembro de 1615; no dia imediato, o forte foi entregue aos portugueses
Os franceses retiraram-se quase todos La Ravardiere e des Vaux foram conduzidos a Pernambuco e desta capitania
para Lisboa, onde permaneceram encarcerados na Torre de Belém, nela morrendo des Vaux. La Ravardiere foi solto após
três anos.
Jerônimo de Albuquerque, que apôs ao seu nome o de Maranhão, foi designado governador das terras conquistadas.

2 – INVASÕES HOLANDESAS

2.1 - RAZÕES DAS INVASÕES HOLANDESAS


A inabilidade com que o Rei Filipe II tratou o problema religioso nos Países 3aixos originou uma guerra de libertação
que acabou sendo vitoriosa. Nascia um "novo país, a República das Províncias Unidas dos Países Baixos, a futura
Holanda, em rivalidade com a Espanha. Esta fechou seus portos aos navios batavos, cônscia do poderio marítimo que
desfrutava Para a Holanda que surgia afigurava-se indispensável a libertação dos mares, mas só a iria obter através de lutas
Desenvolvendo-se rapidamente, graças aos capitais judeus provenientes da Península Ibérica, a Holanda organizou
empresas mercantis que deram origem ao seu império A primeira foi a Companhia das Índias Orientais (1602). seguindo-
se a das Índias Ocidentais, criada por Willen Usselinx em (1621), com um capital inicial de 7.108.106 florins. A sua
administração compunha-se de 19 diretores, o chamado Conselho dos Dezenove, que funcionava em Amsterdã e
Midelburg. Essas duas companhias constituíam empresas mercantis paraestatais, de amplos poderes, pouco influindo nelas
os stathouders dessa República das Províncias Unidas dos Países Baixos durante esse período que interessa ao Brasil
(Moritz, de 1584a 1625, Frederich-Henrich, de 1625 a 1647, Willen ll, de 1647a 1650, elohan van Witt, de 1650 a 1672).
Para justificar a expansão marítima de sua pátria, Hugo von Groot escreveu Mare jiberum, em 1609, tendo provocado uma
grande polêmica na Europa.
Deduz-se, portanto, que o procedimento de Filipe II atiçou os holandeses a procurarem nas próprias fontes os
produtos que distribuíam na Europa; a paralisação do mecanismo de revenda dos mesmos representaria a morte da nação,
que fundamentava a sua economia no comércio.
O desejo de dominar as terras produtoras de açúcar não consistiu a única razão das invasões holandesas em terras do
Brasil; desestabilizar o império espanhol e português no Atlântico consistia em objetivo primordial.
Por isso, alguns holandeses andaram investigando o nosso litoral Osquert, comandando uma urca holandesa,
participou do assalto à Bahia impetrado pelos corsários ingleses Withringhton e Lister. Em 9 de fevereiro de 1599, Olivier
van Noortt, utilizando as boas qualidades do seu navio Eendracht, tentou desembarcar no Rio de Janeiro, mas foi repelido.
No mesmo ano, Hartman e Broer, com sete embarcações, assolaram o recôncavo baiano conseguindo alguma presa. Em
1604, Paulus van Carden, com sete navios, aventurou-se na Bahia, apoderando-se de muito açúcar Dez anos depois, loris
van Spilberg, com seis navios, ocupou a Ilha Grande, efetuando depredações em São Vicente e em Santos. Pouco depois,
em 1615, o Governador do Rio de laneiro, Constantino Menelau, afugentou holandeses que se encontravam em Cabo Frio,
logrando fazer alguns prisioneiros, enviados para o governador geral
Os holandeses interessaram-se, também, pela Amazônia; sabe-se que Pieter Adriaansz fundou, em 1616, uma colônia
na margem do Rio Paru. Um comércio intenso e regular se estabeleceu. Os portugueses reagiram enviando uma expedição
sob o comando de Luís Aranha de Vasconcelos, que destruiu redutos holandeses e apresou uma nau capitaneada por
Adriaansz. Um outro holandês, Nikolaas Oudaen, associou-se ao irlandês Purcell e fundou um núcleo na foz do Rio Xingu
(Mandiutuba) arrasado por Pedro Teixeira, jerônimo de Albuquerque e Pedro da Costa Favela (23.05.1625) Oudaen
escapou levando muitos em sua companhia. Teixeira e seus companheiros perseguiu-os atingindo os fortes da ilha dos
Tucujus, que combateram e tomaram no dia seguinte, regressando a Belém com prisioneiros Oudaen morreu no campo de
batalha.
Afigurava-se melhor, concluíram, ocupar a Zuickerland, isto é, a terra do açúcar. Foi o que aconselhou à Companhia,
em 1624, jan Andries Moerbeeck no escrito que intitulou Motivos porque a Companhia das índias Ocidentais deve tirar ao
rei da Espanha a terra do Brasil

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2.2 - A INVASÃO DA BAHIA (1624 A 1625)


O Governador do Estado do Brasil, Diogo de Mendonça Furtado, prevenido pela metrópole da iminente invasão,
recebera ordens de preparar a defesa (veja-se Vieira, Sermão de Reis, 1641). Organizaram-se milícias e todos aguardavam
os holandeses, que não apareceram, mas o Bispo D. Marcos Teixeira, cioso da Sé que estava construindo, não admitiu a
paralisação dos trabalhos; desentendeu-se com o governador prejudicando a defesa
Quando, na manhã de 9 de maio de 1624, chegaram os holandeses, Salvador estava desguarnecida. Apresentaram-se
com um total de 26 navios e 3.300 homens, sob o comando do Almirante Jacob Willekens, sendo o Coronel Joan van
Dorth o encarregado do desembarque e ocupação
Os holandeses pisaram em terra entre o Forte de Santo Antônio e a cidade; a população masculina, armada em guerra,
procurou resistir. Sentindo a inutilidade de barrar o passo do inimigo, fugiram todos para o interior e ergueram o Arraial
do Rio Vermelho, permanecendo o governador e 17 auxiliares, bem como os jesuítas, que foram aprisionados e enviados
para a Holanda. Estavam vitoriosos os intrusos, pois haviam conquistado com facilidade a capital da Colônia. Apesar de
uma proclamação democrática e do apelo que fez para que todos voltassem aos seus afazeres, van Dorth governou uma
cidade vazia. A população havia se reunido em torno do bispo e decidiu cercar Salvador e empregar o método de
emboscadas, levando em conta o conhecimento melhor do terreno. Formaram 27 companhias de ataque, com vinte a
quarenta homens em cada, que apareciam nos lugares mais diversos e mantinham o inimigo assustado. Numa dessas
emboscadas (17 de junho), Francisco Padilha e seu primo, Francisco Ribeiro, mataram van Dorth, e, noutra, o seu
sucessor, Albert Schouten (3 de setembro). Durante quase um ano permaneceram em luta; o bispo, esgotado pelas duras
fainas, durante as quais procurara-se redimir de suas atitudes iniciais, faleceu a 8 de outubro, substituído, em 3 de
dezembro, por Francisco de Moura, que apertou o cerco contra Salvador Com morosidade, o Rei Filipe IV (e III de
Portugal) organizou uma expedição militar de libertação, conhecida como jornada dos Vassalos, composta de 38 navios
espanhóis, 20 portugueses e 4 napolitanos, todos sob o comando de D. Fadrique de Toledo Osório, Marquês de Valdueza;
os napolitanos achavam-se dirigidos pelo Marquês de Coprani, sendo seu Sargento-mor Giovani Vicenzo Sanfelice, feito
depois Conde de Bagnoli com notável atuação na invasão holandesa em Pernambuco. Entraram na Baía de Todos os
Santos em 29 de março, exatamente 86 anos depois da chegada de Tomé de Sousa. Durante o mês de abril, procedeu-se o
desembarque das tropas e se destruiu ou apresou o material flutuante inimigo; alguns combates ocorreram no centro de
Salvador. Cercados, os holandeses, pela mão de seu chefe, Johann Ernst Kijf, assinaram a paz e se retiraram do Brasil no
primeiro dia de maio de 1625. A Companhia das índias Ocidentais não obtivera os lucros que sonhara. Antes, só adquirira
prejuízos advindos dos graves erros de planejamento da empresa. Pensou que atacando a capital conquistaria toda a
Colônia; menosprezou o adversário, supondo que ele não teria competência ou que não se unisse; não conservou sua força
naval, perdendo, assim, o domínio do mar. Contudo, aprendera que o melhor ponto da costa era Pernambuco. Nesse
mesmo ano de 1625, 12 e 13 de março, Pieter Hein investiu sobre Vitória, no Espírito Santo; mas os habitantes repeliram
os intrusos. Em 1627, o mesmo Hein, com nove navios e 1.500 homens, efetuou uma sortida contra Salvador apresando
diversos navios mercantes. Hein continuou assolando o recôncavo; em um desses combates, no Rio Pitanga (12 de junho)
com os habitantes, perdeu a vida o Capitão Francisco Padilha. No ano seguinte, Hein conseguiu apreender 15 naus
componentes da esquadra da Prata, comandada por D. Juan de Benavides. Foi com o lucro dessa presa, calculado em 15
milhões de florins, que a Companhia pode preparar outra expedição contra o Brasil. Mas Pieter Hein não ganhou as glórias
do comando: morreu em 1629.

2.3 - INVASÃO DE PERNAMBUCO (1630 A 1654)


Entretanto não se acreditava em uma segunda invasão, nem nas advertências de Frei Antônio Rosado, que clamava
que de Olinda para Holanda não havia mais que uma diferença de um i para um a... Os espanhóis, tomando conhecimento
que se tramava a ocupação de Pernambuco, determinaram que o seu Capitão-mor, Matias de Albuquerque, regressasse ao
Brasil, concedendo-lhe uma ajuda de 27 soldados e três caravelas. Albuquerque fez o que pôde para a defesa da capitania.
Em 14 de fevereiro de 1630, surgiram os holandeses em frente a Olinda. Era uma armada de 69 velas, entre as quais
35 grandes naus, e 7.280 homens, entre marujos e soldados. Todos comandados pelo Almirante Hendrick Corneliszoon
Lonck e do Coronel Diederik Van Waerdenburch Forçaram o porto sem conseguir entrar, por estar a barra obstruída,
preferindo desembarcar 2.948 homens mais ao norte, na praia do Pau Amarelo, guiados pelo judeu Antônio Dias, que
morara em Pernambuco. Matias de Albuquerque, com 850 homens, ofereceu combate junto ao Rio Doce, perdendo, apesar
da bravura de seus comandados. Ainda houve resistência em Olinda, mas Matias de Albuquerque retirou-se para Recife
onde ainda esboçou um contra-ataque. Percebendo que a permanência em Recife se mostrava arriscada, destruiu os
armazéns, navios com preciosas cargas e se retirou para as margens do Rio Capiberibe, a uma igual distância entre os dois
núcleos, fundando o Arraial do Bom Jesus (04/03/1630), formado com todos aqueles que fugiam dos holandeses. Com a
capitulação do Forte de São Jorge, comandado por Antônio Lima, os holandeses ocuparam Recife (03/03/1630).
Enquanto o arraial se tornava uma fortificação capaz de resistir aos inimigos, os nossos organizaram-se no sistema de
guerrilhas que bom resultado dera na primeira invasão. Os mais diversos elementos se confraternizaram para combater os
intrusos, destacando-se os índios do bravo Poti (depois Antônio Filipe Camarão) e diversos negros sob o comando de
Henrique Dias. As guerrilhas predispunham os invasores a um permanente estado de sobreaviso, causando, assim, intenso
nervosismo nos holandeses, que se viram em situação constrangedora. Por isso, construíram as fortificações do Brum, de
Cinco Pontas e Três Pontas.
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Logo receberam reforços: 16 navios e cerca de mil homens sob o comando de Adriaen Jansen Pater. Por isso,
animaram-se a ocupar a Ilha de Itamaracá, onde ergueram o Forte Orange.
Entretanto, o governo espanhol aprestou uma esquadra que visava a compelir os invasores a uma capitulação.
Comandava-a D. Antonio de Oquendo. Este atingiu Salvador em 13 de julho (1631); em setembro, fez-se ao mar para
conduzir reforços para Matias de Albuquerque Os holandeses estavam, porém, vigilantes; Oquendo tentou safar-se
dirigindo-se para o sul; Pater seguiu-o. Rencontraram-se as duas esquadras no dia 12 de setembro de 1631, em Abrolhos,
travando o primeiro combate naval de larga envergadura da história brasileira. Oquendo dispunha de vinte navios de
guerra, com 439 peças, comboiando navios que transportavam açúcar e 12 caravelas com tropas de apoio, sob o comando
do Conde de Bagnoli Pater tinha 16 navios com 472 peças. Às nove horas de manhã, começou a batalha que durou até o
anoitece~Oquendo repeliu o ataque adversário provocando a sua fuga, tendo sido, portanto, o vencedor, apesar de ter tido
tantas perdas quanto Pater, que morreu nesse dia, afundando com sua capitânia Prinz Willen. Complementando a sua
missão, Oquendo conseguiu desembarcar o destacamento militar comandado pelo Conde de Bagnoli; pouco depois, esta
força juntou-se aos que seguiam Albuquerque. A posição dos holandeses estabilizara-se. Dispunham, nesse momento, de
sete mil homens. Seu comandante, Coronel Waerdenburch, firmou-se na Ilha de Itamaracá; a direção do Forte Orange foi
entregue ao Coronel Crestofle d'Artischau Arciszewsky, mercenário polonês. Por ordem de Albuquerque, Bagnoli e
trezentos napolitanos dirigiram-se para o Cabo de Santo Agostinho, onde erigiram o Forte de Nazaré. Em 25 de novembro,
Waerdenburch incendiou Olinda e se concentrou no Recife. Tentou conquistar o Forte Cabedelo, na foz do Rio Paraíba,
sem sucesso; a pequena expedição do Capitão Smient atingiu o Forte Ceará e não foi mais feliz; e a investida sobre o Forte
dos Reis Magos redundou em fracasso. Mas, a traição de Calabar (20 de abril de 1632) mudou a sorte dos acontecimentos.
Domingos Fernandes Calabar era um natural da terra, nascido em Porto Calvo; seu interesse residia na ambição de
enriquecer Desentendendo-se com Albuquerque, talvez por causa do contrabando de alimentos, foi expulso do arraial. Os
holandeses, agora dirigidos por um homem de valor, o General Sigmund von Schkoop, e tendo o apoio de um conhecedor
da terra, conseguiram desarticular as guerrilhas e alcançar inúmeras vitórias partindo do Forte de Orange, na Ilha de
Itamaracá, dominaram toda a ilha, expulsando o Capitão Salvador Pinheiro e sua gente; assaltaram Igaraçu; cercaram o
forte do Rio Formoso, onde o Capitão Pedro de Albuquerque e vinte homens resistiram a quatro ataques mas morreram 19;
o capitão, ferido, foi conduzido ao Recife e se restabeleceu, seguindo para as Antilhas e daí para a Europa. Waerdenburch
retirou-se para a Europa, sendo substituído (24.03.1633) pelo Major Rembach. Ainda com a participação de Calabar, uma
expedição, sob o comando de Lichtardt ocupou Natal e cercou o Forte dos Reis Magos, no Rio Grande do Norte,
capitulando a sua guarnição (12.12.1633). Em 16 de dezembro (1634), os holandeses conquistaram o Forte de Cabedelo na
Paraíba; em seguida, assaltaram o Forte de Santo Antônio, situado na margem esquerda do Rio Paraíba, e investiram sobre
Filipéia, que passou a se chamar Frederícia. Continuando sob a orientação de Calabar, os holandeses ocuparam Porto
Calvo e obtiveram a rendição do Forte de Nazaré (02.07. 1635). Em seguida, cercaram o Arraial do Bom Jesus, que se
rendeu em 8 de julho, apesar dos esforços de seu comandante, Coronel André Marin. Cerca de sete mil pessoas encetaram
penosa marcha para o sul, em direção a Alagoas. Reagiu Sebastião do Souto cercando Porto Calvo e obrigando a renderse
o Major Picard, com seus 402 homens, entre os quais se encontrava Calabar. Albuquerque, sabedor deste episódio
vitorioso, acorreu em Porto Calvo e ordenou o enforcamento de Calabar, que, assim, ocorria, por ironia da História, na
terra que nascera (22 de julho de 1635). Nada nos induz a apresentar Calabar a não ser como um traidor, nem conseguimos
aceitar as tentativas de reabilitação, colocando-o como precursor da libertação dos povos.
Esses fatos sacudiram a Corte do rei espanhol que mandou um reforço de 1.700 soldados, sob o comando do General
D. Luis de Roias y Sorja, Duque de Gandia, substituto de Albuquerque, recolhido preso ao Reino. Resolveu o afoito duque
oferecer combate aberto. Em Mata Redonda, próximo a Porto Calvo, alinhou seus combatentes, 1.100, contra 1.300 do
Coronel Arciszewsky, perdendo espetacularmente, sendo morto logo aos primeiros tiros (18.01.1636). Seu exército contou
duzentas baixas e recuou para Porto Calvo; os holandeses tiveram quarenta mortos e 85 feridos, mas não souberam
aproveitar a vitória O duque foi substituído por Sagnoli, que prudentemente volveu ao sistema de guerrilhas.

2.4 - GOVERNO DE NASSAU (1637 A 1644)


Firmava-se, assim, o Domínio Holandês. As exportações de açúcar aumentavam gradativamente, bem como o pau-
brasil e outros produtos; a população voltava aos seus afazeres normais. Por isso, a Companhia procurou um homem que
reunisse o gênio militar à capacidade administrativa para consolidar seus domínios A escolha recaiu no Conde Johan
Mouritz von Nassau-Siegen, natural de Dilenburg (17061604), dotado de aguda inteligência e educação humanista
esmerada; falava alemão, holandês, francês e latim com fluência. Contava, então, com 33 anos de idade O príncipe alemão
chegou no Recife a 23 de Janeiro (1637), com o título de governador geral. Capitão-general e almirante, enfeixando,
assim, todos os poderes militares e civis. Trouxe soldados, colonos, artesãos, cientistas e artistas.
Desenvolveu-se logo uma atividade militar. Expulsou Bagnoli de Alagoas, após a vitória de Comandaituba
(18/02/1637), ribeiro que deságua no Rio das Pedras, ao sul de Porto Calvo, Alagoas. Nassau atacou, com 4.400 homens, o
destacamento de 1.180 do Tenente-Coronel Alonso Ximenes de Almirón, que sofreu grandes perdas (Henrique Dias teve a
metade de seu braço esquerdo amputada). Bagnoli retirou-se para o sul com sua gente, deixando ainda alguns no forte de
Porto Calvo que capitulou em 6 de março.
Em Penedo, à margem do São Francisco, Nassau levantou um forte; devastou Sergipe e absorveu parte do Ceará até
Fortaleza No ano seguinte, 16 de abril, uma esquadra holandesa, comando de Joan van der Mast, contando com a presença
do Conde de Nassau, entrou na Baía de Todos os Santos desejando ocupar Salvador. Desembarcaram em praia deserta e

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avançaram sobre a cidade defendida pelo Conde de Bagnoli e sua gente. O Governador Geral, Pedro da Silva, depois
cognominado "o Duro", a tudo proveu. Verificaram-se vários combates isolados, salientando-se ataque noturno de Nassau
em 18 de maio, ganho pelos luso-brasileiros graças à investida que Luis Barbalho fez na retaguarda do inimigo. No dia 25,
Nassau desistiu de ocupar Salvador: regressou com sua gente aos navios velejando para Pernambuco. O Rei Filipe IV
recompensou o governador dando-lhe o título de Conde de São Lourenço e ao Conde de Bagnoli, a dignidade de príncipe e
o feudo do Monteverde. Nassau dirigiu, então, o seu interesse para a costa da África: conquistou São Jorge da Mina, de
onde obteve muitos escravos. Recife foi feita sua capital com o nome de Cidade Maurícia (Mouritz-stadt). Nela levantou o
seu palácio, o Vriburg (Retiro), cujo chão é ocupado hoje pela sede do governo de Pernambuco (Palácio das Princesas).
Nassau caracterizou o seu governo pela inteligência, sobriedade e bom senso. Procurou logo embelezar a sua capital a
fim de dotá-la de todo o conforto, melhorando o padrão de vida da população. Diversas ruas e praças receberam
calçamento de tijolos esmaltados à moda holandesa; pontes foram construídas e os alagados foram drenados por meio de
canais, muitos dos quais projetados pelo engenheiro Frederik Pistor. Fundou o primeiro observatório astronômico da
América, dirigido por Georg Marcgrave. Nele também atuou o cosmógrafo Michiel de Reyter Marcgrave que se associou a
Willen Piso, que era médico do conde e ambos escreveram a História Naturalis Brasiliía (Leyden, 1648). Algumas
expedições procuraram devassar o interior e descobrir riquezas, destacando-se aquela que Gidean Morris de Jorge dirigiu.
As artes floresceram, com os pintores Franz Post (irmão de Pieter). O alemão Zacharias Wagener, o desenhista Albert
Ekhout. Estabeleceu a liberdade de fé, cada qual podia ter a religião que quisesse. Com essa política, Nassau conseguiu
atrair muitos brasileiros e portugueses, chegando a conceder-lhes assentos nos conselhos de Escabinos (Schepenen) que
substituíram as câmaras de vereadores, cujo presidente, o escolteto, defendia os interesses da Companhia e possuía o poder
de polícia. Os judeus abriram sinagogas, sendo duas na capital do Brasil Holandês Zur Israel e Maguen Abrahan.
A lavoura da cana renasceu, permitindo lucros fabulosos, graças ao funcionamento de engenhos, cuios antigos
senhores receberam atenções e mercês. Um desses, João Fernandes Vieira, nascido na Ilha da Madeira, obteve importante
posição. Nassau preocupou-se com a plantação da mandioca, alimento popular, e impediu a derrubada de cajueiros, cuios
frutos serviam para alimentação dos pobres.
A importância que Recife atingiu no século XVII como sede do Brasil Holandês explica, igualmente, a presença de
estrangeiros, devendo-se registrar o comerciante francês Louis Heins, católico, mas existiram alguns calvinistas, como
Joachim Soler (franceses aderiram aos luso-brasileiros contra os holandeses, sendo interessante lembrar a figura de
François Dumont, que se especializou em artifícios militares de fogo). Diversos ingleses viveram no Recife como
mercenários da Companhia das Índias. Os irlandeses dedicaram-se ao comércio ambulante. Numerosos, também, foram os
alemães, alguns mercenários, como o Coronel Von Schkoppe. Muitos israelitas se estabeleceram no Recife, aproveitando-
se do clima de liberdade; é o caso do médico Abraão Mercalo e do rabino Isaac da Fonseca.
Não haviam desanimado os portugueses. Da metrópole, vinha o Conde da Torre, D. Fernando de Mascarenhas, novo
governador, com 26 galeões e outros navios menores transportando reforços Era 20 de janeiro de 1639. André Vidal de
Negreiros e Antônio Dias Cardoso dirigiram-se para a Paraíba para organizarem guerrilhas contra os holandeses. Nessa
oportunidade, diversos paulistas, incluindo Antônio Raposo Tavares, atingiram Salvador a fim de integrar a força do
Conde da Torre.
O conde preparou-se por quase um ano, fazendo-se ao mar em novembro, com 48 navios de guerra e vários
transportes, levando uma tropa de reforço de diversas capitanias brasileiras, todas sob o comando do Príncipe de Bagnoli.
Nassau mandou-lhe ao encontro uma esquadra de 41 navios, dirigida pelo Almirante Willelm Cornellizoon Loos. A 12 de
janeiro, encontraram-se ao norte de ltamaracá, na altura da Ponta de Pedras, morrendo Loos nesse dia; segundo combate
travou-se no dia seguinte em frente ao Cabo Branco; o terceiro, no dia 14, ocorreu na altura da Paraíba, havendo perda de
ambos os lados; o último encontro verificou-se no dia 7, perto da Baía Formosa, tendo o Conde da Torre repelido os
holandeses que perderam três navios. O conde determinou o desembarque de l00 soldados em Touros (Rio Grande do
Norte) Estes, conduzidos por Luis Barbalho, atravessaram território inimigo, travando vários combates, atingindo, enfim,
Salvador após quaro meses de marcha.
Substituído o Conde da Torre, mandado preso para Lisboa, onde findou nos cárceres de S. Julião, chegava D. Jorge de
Mascarenhas, Marquês de Montalvão, o primeiro a possuir o título de vice-rei do Brasi, empossado a 26.05.1640, sem que
o Brasil fosse elevado à categoria de vice-reinado.

2.5 - A RESTAURAÇÃO EM PORTUGAL


Com a aclamação do Duque de Bragança como rei de Portugal (01/12/1640) findava a dominação espanhola.
Todo o Brasil recebeu a notícia com alegria, o mesmo acontecendo nos domínios holandeses. Esse fato mudou as
relações entre as duas nações que se combatiam na América a 12 de junho de 1641. Celebraram um tratado de aliança e
uma trégua por dez anos na área colonial. Mas como o Rei D. João IV demorou até 18 de novembro para ratificar o
tratado, o Conde de Nassau aproveitou-se para ampliar os domínios da Companhia. Seguindo instruções diretas da referida
Companhia, atacou Angola, anexou São Paulo de Luanda, na África, ocupando, no Brasil, Sergipe e o Maranhão.
Entretanto, a Companhia não estava satisfeita com Nassau. Falava-se que ele desejava tornar-se independente, dizia-
se que tinha as mãos sujas e era desonesto. Nada se provou. Encarregou-se a Arciszewsky, velho e distinto militar, de
vigiar o conde. Tais fatos o desgostaram e o levaram a pedir, por duas vezes, a sua demissão. Sem esperar um sucessor,
Nassau retirou-se para a Europa a 22 de maio de 1644, instalando-se em Haia.

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2.6 - A LUTA DE RECONQUISTA


A inteligente administração de Nassau afastou a possibilidade de uma grande reação contra os holandeses. Sua saída
provocou o desejo de expulsar os intrusos. Um conselho de três negociantes fanáticos (Hamel, de Amsterdã, Bas, de
Harlen, e Bullestrate, de Midelburg) substituía Nassau, direcionando-se por restringir a liberdade religiosa. A repulsa ao
luteranismo embasou um forte sentimento popular contra os holandeses.
Cumpre consignar, porém, que os eventos que culminaram com a saída dos holandeses principiaram no Maranhão, a
30/09/1642, ainda na administração nassoviana. Antônio Muniz Barreiros tomou, aos invasores, o Forte do Calvário, no
Itapecuru, e derrotou-os em Cotim; Antônio Teixeira de Meio, que passou a exercer o comando, venceu a batalha do
Outeiro da Cruz, em 22 de fevereiro de 1644, obrigando os batavos a se retirarem no dia 28, atravessando o Ceará. André
Vidal de Negreiros coordenou a insurreição; ele conseguiu atrair o rico português João Fernandes Vieira. Vários senhores
de engenho aderiram à causa que não podia ser oficial, tendo em vista o Tratado de Paz.
De tudo sabia o Governador-Geral Antônio Teles da Silva, que recebera instruções secretas do rei no sentido de
desencadear uma guerra subversiva nos domínios holandeses.
O Sargento-mor Antônio Dias Cardoso recebeu incumbência de penetrar na região da Paraíba e Pernambuco para
treinar homens. Seu nome, hoje, emerge como figura exponencial na atividade militar, que precede à ação propriamente
dita.
Assim, a "guerra brasílica", que tão bons resultados iniciais apresentaram, cedeu lugar à presença de profissionais com
bom nível de treinamento. E como não era possível alcançar uma vitória somente com a tropa de linha, procedeu-se a um
amplo recrutamento nos interiores próximos e distantes. Relatório holandês resume como se afiguravam as forças luso-
brasileiras: "É um exército composto tanto de soldados como de moradores, mamelucos, índios e negros".
Sob o pretexto de vencer índios em revolta, ardilosamente provocada por Filipe Camarão com seus seguidores, atingiu
Pernambuco uma força sob o comando de Henrique Dias e, para "prenderem" João Fernandes Vieira, uma tropa de
infantaria foi mandada para Pernambuco, comandado por André Vidal de Negreiros e Martim Soares Moreno O plano
contava, ainda, com a adesão de Dirk Hoogstraten, que comandava o Forte de Nazaré, e Gaspar van der Ley, casado com
uma brasileira
Estava organizada a trama da qual fez parte a "divina viúva" Ana Pais Correia da Silva, casada, sucessivamente, com
Major Hoogstraten, o Capitão Tourlon e o Coronel Van With. Marcou-se o início da conjura para 24 de junho de 1645. Os
insurgentes se denominaram de independentes.
Souberam de tudo os batavos por causa das denúncias de Sebastião Carvalho e Fernando Vale, obrigando aos luso-
brasileiros a se apressarem e a deflagrarem o movimento a 13 de junho. Encontraram-se perto do monte das Tabocas
(03.08.1645) os 1.600 homens conduzidos por Antônio Dias Cardoso contra os 1.500 homens comandados pelo Coronel
Hendrick van Haus, resultando em uma vitória dos independentes. Vieira recebeu o comando geral e marchou sobre
Recife, compelindo os batavos a uma capitulação no Engenho de Nassau (Casa-Forte) em 17 de agosto. 322 homens
entregaram-se. Serinhaém, Nazaré e o Forte Maurício (hoje cidade de Penedo) caíram nas mãos dos independentes
Os êxitos dos independentes conduziram à organização, na Bahia, em 1644, de uma força naval para auxiliá-Ios. Esta
força improvisada, comandada pelo Coronel Jerônimo Serrão de Paiva, abrigou-se na Baía de Tamandaré, litoral de
Pernambuco. No dia 9 de setembro de 1645, o Almirante Lichthardt resolveu atacá-la. Os navios portugueses (sete naus,
três caravelas e quatro menores) estavam fundeados. Os holandeses investiram com oito navios. Os marujos e soldados
portugueses atiraram-se n'água e fugiram: uma derrota completa de Serrão de Paiva.
Apesar deste revés, Fernandes Vieira e seus seguidores prosseguiram em direção a Recife. Para quartel fundaram o
Arraial Novo do Bom Jesus, na Várzea. Sua construção começou a partir de 15 de outubro de 1647.
A luta foi intensa. Em 1647 Sigmund von Schkoop assolou a Ilha de Itaparica e obteve algumas vantagens. A possível
ameaça a Salvador motivou o rei português a preparar uma força naval e denomina-a "Armada de Socorro do Brasil",
dando o comando a Antônio Teles de Menezes, feito Conde de Vila Pouca de Aguiar. Em 24 de dezembro de 1647, os
vinte navios dessa armada chegavam a Salvador, Von Schkoop não aguardou a presença deste reforço; abandonou
Itaparica em 15 de dezembro. E qual seria o efetivo holandês nesta oportunidade? Os holandeses deviam contar com uma
força de, aproximadamente, cinco mil homens, além de uns mil indígenas. Excetuando estes, os homens estavam treinados
segundo o sistema europeu, próprio da Guerra dos Trinta Anos. Mas o moral da tropa já começava a enfraquecer.
Desejando evitar o prolongamento das hostilidades, o Rei D. João IV efetuou gestões diplomáticas neste ano de 1647.
Enviou à Holanda o Padre Antônio Vieira com a oferta de três milhões de cruzados em troca da devolução das terras, o
que não foi aceito. Pensou o jesuíta em oferecer à Holanda, a título precário, a capitania de Pernambuco, pela desistência
das outras terras; expôs suas idéias em documento que o rei português apelidou de "Papel Forte" (14/03/1647). Mas a
sugestão do Padre Vieira foi recusada pelo Conselho da Coroa.
O mesmo jesuíta, então, elaborou o plano de uma companhia de comércio, no estilo holandês; esta deveria colaborar
para a expulsão dos holandeses em troca de vantagens comerciais futuras. A Companhia Geral de Comércio do Brasil
somente se constituiu com capitais dos cristãos-novos que obtiveram do rei a suspensão do confisco de seus bens
(06.02.1649)
Não havendo como escapar da luta armada, o rei deliberou enviar um experimentado militar para comandar os
independentes. EscoIheu Francisco Barreto de Menezes (que tinha 30 anos de idade), que recebeu o posto de mestre de
campo general. Após acidentada viagem, Barreto conseguiu chegar ao Arraial Novo, onde tomou posse de seu cargo em 6
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de abril de 1648. Barreto soube valer-se de André Vidal e Dias Cardoso, prováveis planejadores dos movimentos que
precederam os combates nos arredores de Recife. Percebendo a intenção do comando holandês de impor à população civil
que apoiava o movimento insurrecional pesadas perdas, Barreto se antecipou e se postou em local favorável a uma batalha,
isto é, nos Montes Guararapes (cuja significação é nos tambores). Em 19 de abril de 1648, Barreto obteve uma vitória
expressiva nesse local. Contava com 2.220 homens assim distribuídos: um terço - comando Camarão, 350 um terço -
comando Henrique Dias, 300 um terço - comando Fernandes Vieira, 720, companhia de mulatos, 80, provenientes da
Paraíba, 160, idem, de Igaraçu e Goiana, 80, em terço - comando de André Vidal proveniente da Bahia, 430. Os
holandeses deviam contar com 4.500 homens e, talvez, 500 indígenas. A batalha travou-se mais precisamente no
Boqueirão, abaixo do Morro do Telégrafo. A batalha durou cinco horas: holandeses tiveram 515 mortos e 523 feridos; os
independentes sofreram 80 baixas (contando-se entre estas o índio Poti, que veio a falecer em 24 de agosto). No dia
seguinte, Barreto apoderou-se de Olinda e estreitou o cerco sobre Recife.
No Rio de Janeiro, o seu governador, Salvador Correa de Sá e Benevides, aprestou expedição com a finalidade de
reconquistar Angola. Com novecentos homens e guarnições distribuídos em 2 navios, Benevides partiu para a África em
12 de maio de 1648, logrando êxito em sua missão.
A impossibilidade de continuar sustentando o domínio do mar conduziu a situação difícil para os invasores. Por isso,
o Coronel Van den Brinck deliberou desferir outra batalha. Com 4.200 homens e seis canhões, ocupou os Montes
Guararapes. Os luso-brasileiros, dispondo de 2.600 infantes e 150 cavalarianos, tentaram desalojá-los, sem conseguir; às
13 horas do dia 19 de fevereiro (1649) os holandeses desceram das posições que se encontravam, travando-se a luta na
planície, decidindo-se favoravelmente para os independentes. Brinck faleceu na refrega, juntando-se às mil baixas inimigas
A guerra ainda prosseguiu por mais cinco anos; os holandeses não se expunham além de Recife, e os independentes
não dispunham de artilharia de sítio nem de engenheiros para acometer as fortificações da cidade.
Vários holandeses compreenderam que a luta estava próxima do fim e por isso buscavam refúgio nas Antilhas. E as
guerras navais que se abriram entre a Holanda e a Inglaterra, em decorrência do Act of Navigation, de Cromwell, concor-
reram para apressar o desfecho. Schkoop e seus homens se viram reduzidos ao Recife, perdendo as suas praças fortes,
cercados por mar pelos 64 navios mercantes e 13 de guerra, comando do Almirante Francisco de Brito Freire, armados
pela Companhia Geral de Comércio do Brasil. Assim, capitulou o Forte do Rego (14/01/1654). Na margem esquerda do
Rio Capibaribe, rendeu-se o reduto Altenar (Major Berghen e 180 homens); no dia 23, pediu armistício o Forte Cinco
Pontas, comandado por Waulter van Loo. Três dias depois, este, Gilbert de With e Huybrecht Brest assinaram com
Francisco Alvares Moreira, o Capitão Manoel Gonçalves Correa e o Capitão Afonso de Albuquerque uma capitulação,
com 27 artigos, no local chamado Campina do Taborda (nome de um pescador residente no local) Barreto recebeu as
chaves de Recife no dia 28. Os holandeses retiraram-se, em seguida, das terras brasileiras; alguns, porém permaneceram,
misturando-se à população local. A Companhia das Índias Ocidentais não se deu por vencida em 1657 declarou guerra a
Portugal e formalizou o bloqueio naval à entrada do Rio Tejo. Diante da resistência portuguesa, as hostilidades se abriram,
passando em seguida às negociações diplomáticas graças à interferência do Rei da Inglaterra, Carlos II.
Tantas exigências impôs o governo holandês que, somente a 6 de agosto de 1661, o Rei Afonso VI conseguiu a
assinatura do Tratado de Haia, pelo qual a Companhia das Índias Ocidentais desistiu do Brasil, indenizada com quatro mi-
lhões de cruzados e a posse do Ceilão, Málaca e Molucas.

3 – LEITURA COMPLEMENTAR

3.1 - INVASÕES FRANCESAS (FONTE: INTRODUÇÃO À HISTORIA MARÍTIMA BRASILEIRA)


Diversos intrusos desafiaram os interesses ultramarinos de Portugal durante os séculos XVI e XVII. Os franceses
foram os primeiros e, desde o início do século XVI, navios de armadores franceses freqüentavam a costa brasileira,
comerciando com os nativos os produtos da terra: pau-brasil; pele de animais selvagens; papagaios e macacos; resinas
vegetais e outros. Portugal reagiu, enviando expedições guarda-costas e iniciando a colonização do Brasil.
No início da colonização portuguesa no Brasil, os franceses estabeleceram duas colônias: em 1555, no Rio de Janeiro,
e em 1612, no Maranhão. Portugal reagiu às duas invasões, projetando seu Poder Naval, com bom êxito, para expulsar os
invasores.
Na foz do Amazonas, ingleses, holandeses e irlandeses estabeleceram feitorias privadas; sendo preciso o emprego da
força para expulsá-los.
O comércio holandês com o Brasil data da primeira metade do século XVI. Em 1580, ocorreu a união das coroas de
Portugal e Espanha e o rei da Espanha, Felipe II, passou a ser, também, o rei de Portugal. Os holandeses iniciaram sua
guerra de independência contra a Espanha no final do século XVI, mesmo assim continuaram a comercializar, com o
auxílio de mercadores portugueses, produtos brasileiros, como o açúcar, algodão e pau-brasil.
A Holanda era um país de bons comerciantes e hábeis marinheiros. Os holandeses possuíam uma fortíssima
consciência marítima e utilizavam seu Poder Marítimo com muita habilidade. Eles não pretendiam ficar sem o rico
mercado do açúcar brasileiro, devido ao conflito com a Espanha e conseqüentemente Portugal. Em 1621, eles criaram a
West-Indische Compagnie, a Companhia das Índias Ocidentais. Logo, Salvador, capital da colônia do Brasil, seria alvo de
uma invasão desta companhia. O objetivo maior da Companhia das Índias Ocidentais era manter o relacionamento
comercial com o Brasil e, se possível, a conquista do Nordeste. A tentativa não tarda, e, em 1624, é feito o ataque a
Salvador (BA), ocupada por breve período, pois o invasor é logo expulso por uma Esquadra luso-espanhola.
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Os holandeses, em seguida, ocuparam Pernambuco, realizando conquistas ao sul, em Alagoas e Sergipe, bem como ao
norte, na Paraíba, Rio Grande do Norte e mais áreas, permanecendo no Nordeste por 24 anos.
Ocorreram, nesse período, muitos combates no mar, como a “Batalha Naval de 1640”, que envolveu cerca de cem
navios, entre holandeses e luso-espanhóis, em embates que duraram cinco dias na costa do Nordeste.
Nessa luta para expulsar os holandeses, o esforço em terra foi fundamental. O Poder Naval português foi capaz de
manter Salvador como base de operações e somente com a presença de uma força naval em Pernambuco é que foi possível
obter a rendição definitiva dos invasores.
No século XVIII, com o envolvimento de Portugal na Guerra de Sucessão de Espanha, na Europa, o Rio de Janeiro foi
atacado por dois corsários franceses. Com a descoberta do ouro das Minas Gerais, no final do século XVII, o Rio de
Janeiro vinha se tornando uma cidade próspera durante o início do século XVIII. Mais tarde, devido às riquezas das minas,
tornou-se a capital da colônia.
Pretensões expansionistas também podem ser visualizadas no interesse que Portugal tinha nas riquezas espanholas do
oeste sul-americano na região do Rio da Prata – acesso às minas de prata de Potosi, na Bolívia. A ocupação espanhola na
região foi, portanto, fundamental para deter os interesses portugueses. Mesmo assim, era por ela que a prata boliviana era
contrabandeada para o Brasil.
Buscando expandir seus domínios em direção ao Sul do continente, Portugal rompeu o Tratado de Tordesilhas,
assinado com os espanhóis em 1494, quando, em janeiro de 1680, o governador do Rio de Janeiro, D. Manuel Lobo,
fundou, na margem esquerda do Rio da Prata, a Colônia do Santíssimo Sacramento. Este fato desencadeou uma série de
desentendimentos, lutas e tratados de limites, em que o emprego do Poder Naval português foi muito importante.
O interesse no estudo desse período é mostrar que foi nele que definiram as fronteiras Sul do território brasileiro, que
mudavam conforme o poderio militar e os tratados firmados entre portugueses e espanhóis.
Por tudo isso, estudemos as lutas que permitiram ao nosso País manter-se íntegro territorialmente.

3.1.1 – INVASÕES FRANCESAS NO RIO DE JANEIRO E NO MARANHÃO


Essas duas invasões não foram iniciativas do governo da França, cuja estratégia estava voltada para seus interesses na
própria Europa, mas sim iniciativas privadas. Em ambas, faltou o apoio do Estado francês, no momento em que, atacadas
pelos portugueses, necessitaram de socorro. Por outro lado, a colonização do Brasil foi interesse de Portugal, que pretendia
proteger a rota de seu comércio com a Índia. Todos os recursos do Estado português estavam disponíveis para expulsar os
invasores e proteger os núcleos de colonização portuguesa.

3.1.2 – RIO DE JANEIRO


Em 1553, Nicolau Durand de Villegagnon foi nomeado vice-almirante da Bretanha, e desenvolveu um plano para
funda uma colônia na Baía de Guanabara (RJ), onde habitavam nativos da tribo Tupinambá, aliados dos franceses. O Rei
da França, Henrique II, aprovou esse plano de iniciativa privada, prometeu apoio e forneceu financiamento a dois navios
para a viagem.
Villegagnon chegou à Baía de Guanabara em 1555, instalou o núcleo da colônia – que chamou de França Antártica -
na ilha que atualmente tem seu nome e construiu uma fortificação, dando-lhe o nome de Forte de Coligny, em homenagem
ao almirante francês que lhe apoiara. A ilha era pequena e não tinha água, mas era uma excelente posição de defesa. Em
terra firme, perto do atual Morro da Glória, instalou uma olaria para fabricar tijolos e telhas, fez plantações e deu início a
uma povoação, que chamou de Henryville, homenageando o Rei da França Henrique II. A povoação em terra firme, não
teve bom êxito e o progresso da colônia, como um todo, deixou a desejar.
Villegagnon, que anteriormente já mostrara sua bravura e competência como militar em diversas ocasiões, encontrou
muitas dificuldades para recrutar pessoas para a colônia. Um núcleo de colonização precisaria de profissionais (exemplo:
sapateiros, alfaiates, barbeiros, carpinteiros, oleiros, pedreiros, médicos, soldados entre outros) necessários à sobrevivência
na colônia.
As pessoas que vieram com Villegagnon formavam um grupo heterogêneo: católicos e protestantes (em uma época de
sérios conflitos religiosos), soldados escoceses e ex-presidiários (caracterizando extremos de aceitação de disciplinas). A
pior falha, no entanto, foi a presença de poucas mulheres européias no grupo, o que fez com que muitos colonos
procurassem as índias para se relacionarem. Esta atitude era difícil para Villegagnon entender, por sua formação religiosa
de Cavaleiro de Malta, com voto de castidade, não admitindo sexo fora do casamento.
Houve um excesso de conflitos, principalmente após a chegada de um grupo de protestantes calvinistas, com o
propósito de estudar a possibilidade de fazer da França Antártica uma colônia protestante.
Os franceses contavam com a amizade dos tupinambás. Eles comerciavam com os franceses por meio de trocas
(escambo) – recebiam machados, facas, tesouras, espelhos, tecidos coloridos, anzóis e outros objetos. Em troca, forneciam
o pau-brasil, que cortavam na floresta e traziam para a colônia, além de outros produtos da terra e alimentos. Os
tupinambás construíram grandes canoas de um só tronco (igara) ou da casca de uma árvore (ubá). Eles lutaram bravamente
ao lado dos franceses, pois detestavam os portugueses que eram amigos de seus inimigos.
A reação portuguesa ocorreu quando o Governador Mem de Sá, em 1560, atacou o Forte de Coligny com uma força
naval (soldados e índios) que trouxera da Bahia, arrasando-o. depois partiu para São Vicente sem deixar uma guarnição na
Guanabara. Os franceses fugiram para o continente, abrigando-se junto a seus aliados tupinambás e, logo depois que os
portugueses se foram, restabeleceram suas fortificações.
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Mem de Sá concluiu que era necessário ocupar definitivamente o Rio de Janeiro para garantir a expulsão dos
invasores. Dessa vez enviou, em 1563, seu sobrinho Estácio de Sá à testa da nova força naval, com ordens para afundar
uma povoação na Baía de Guanabara e derrotar definitivamente os franceses.
Estácio de Sá obteve a ajuda de uma tribo tupi inimiga dos tupinambás, os maracajás ou temiminós, liderados por
Araribóia. Participaram, também, como aliados dos portugueses, índios da tribo tupiniquim de Piratininga, trazidos de São
Vicente (SP).
Estácio de Sá fundou a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, em 1565, entre o Morro Cara de Cão e o Pão de
Açúcar. Era um local apertado, protegido pelos morros e de fácil defesa, de onde se controlava a entrada da barra da Baía
de Guanabara. Logo, começaram a combater os franceses e os tupinambás. Houve grandes combates, inclusive um de
canoas nas águas da baía e um ataque ao atual Morro da Glória, onde Estácio de Sá foi ferido por uma flecha, no rosto,
vindo a falecer em conseqüência deste ferimento.
Derrotados na Guanabara, os franceses e seus aliados tentaram, ainda, estabelecer uma resistência em Cabo Frio, mas
acabaram vencidos. Os franceses que se renderam foram enviados de navio para a França.

3.1.3 – MARANHÃO
Os franceses continuaram com o tráfico marítimo na costa brasileira. Seu eixo de atuação, porém, deslocou-se para o
norte, ainda sem povoações portuguesas. Após diversos pontos do litoral. Desde o final do século XVI, o Maranhão passou
a ser um local regularmente freqüentado por navios franceses. Na atual Ilha de São Luís havia uma pequena povoação de
franceses, em boa convivência com os índios, também tupinambás, que habitavam o local.
Em 1612, partiu da França a expedição chefiada pelos sócios, Daniel de Ia Touche de Ia Ravardière e Nicolau de
Harlay de Sancy, com poderes de tenentes-generais do rei da França. Quando chegaram, construíram o Forte de São Luís.
Na França, o bom relacionamento do momento com a Espanha fez com que o governo não colaborasse
significativamente com recursos para o reforço da colônia.
Em 1614, uma força naval comandada por Jerônimo de Albuquerque, nascido no Brasil, chegou ao Maranhão para
combater os franceses. Este grupamento pode ser considerado a primeira força naval comandada por um brasileiro.
Chegando ao Maranhão, os portugueses iniciaram a construção de um forte, que chamaram Santa Maria. Logo os
franceses se apoderaram de três dos navios que estavam fundeados. Animados com o bom êxito alcançado, resolveram,
uma semana depois, atacar o forte português. Planejaram um ataque simultâneo de tropas que desembarcariam e de tropas
que atacariam o forte pela retaguarda, vindas de terra. Os portugueses, no entanto, foram mais ágeis e contra-atacaram
separadamente, com vigor, as duas forças francesas, vencendo-as.
Os franceses, resolveram propor um armistício, para conseguir reforços na França ou obter uma solução diplomática.
Os portugueses aceitaram.
A trégua foi favorável aos portugueses, que obtiveram reforços no Brasil. La Ravardière não conseguiu novamente o
apoio de seu governo e o tratado de paz em vigor, naquele momento, previa que em casos como esse os riscos e perigos
cabiam aos particulares, sem que a paz entre os Estados fosse perturbada. Além do mais, o rei de Portugal não ratificou a
trégua e ordenou que se expulsassem os franceses do Maranhão. Providenciou reforços e mandou o governador de
Pernambuco organizar uma nova expedição. O comando coube a Alexandre de Moura, que partiu em uma força naval.
Os franceses foram cercados no Maranhão, por mar e por terra, e, sem esperança de reforços, para evitar que os
portugueses os tratassem como piratas, renderam-se em 1615.

3.1.4 – INVASORES NA FOZ DO AMAZONAS


Após a ocupação do Maranhão, os portugueses resolveram dirigir sua atenção para os invasores da foz do Amazonas,
enviando uma expedição que fundou o Forte do Presépio, origem da cidade de Belém, para servir de base para suas ações
militares. De lá, eles passaram a atacar os estabelecimentos dos ingleses, holandeses e irlandeses, enforcando os que
resistiam e escravizando as tribos de índios que os apoiavam. Esta violência e a criação de uma flotilha de embarcações
(que agia permanentemente na região apoiando as ações militares e patrulhando os rios) garantiram o bom êxito e
asseguraram a posse da Amazônia Oriental para Portugal.

3.2 – AS INVASÕES INGLESAS


Os ingleses interessaram-se pelas riquezas nativas do Brasil ainda no século XVI. William Atkins, em comando do
navio Paul of Plymouth, realizou três viagens proveitosas à costa brasileira em 1530, 1536 e 1540. Mas, as correrias de
flibusteiros ingleses nos mares brasileiros ocorreram quando o Brasil, seguindo o destino de Portugal, passou a ser
administrado pela Espanha. A rivalidade existente entre esta potência e o reino de Elizabeth I, que projetava a Inglaterra
nos mares, explica as incursões inglesas nos lados meridionais do Oceano Atlântico. Devemos, também, assinalar a
existência das cartas de John Whithall, inglês radicado em Santos, enviadas a parentes, narrando a presença de pepitas de
ouro; elas aguçaram os corsários, contribuindo, assim, para as viagens de alguns deles.
Em 1583, Edward Fenton, com dois navios, investiu sobre a vila de São Vicente, travando combate com três galeões
espanhóis, comando de André de Equino, que se encontravam no local. Depois de cinco dias, Fenton desistiu da empresa,
apesar de ter afundado um dos galeões. Um dos navios ingleses, capitaneado por Luke Ward, rumou imediato para a
Inglaterra; Fenton ainda fez aguada no Espírito Santo e tentou comerciar com o donatário Vasco Fernandes Coutinho.
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Em 21 de abril de 1587, Robert Withringhton e Christopher Lister, cada um comandando uma nau de guerra e
contando com mais duas embarcações, entraram na Baía de Todos os Santos, apresando pequenos navios mercantes. A
cidade de Salvador resistiu, mas os dois corsários saquearam as fazendas do recôncavo até junho. Durante esse período,
houve diversos pequenos combates com perdas de ambos os lados.
Quando Thomas Cavendish (o corsário elegante) resolveu excursionar no Brasil, já havia realizado a famosa viagem
de circunavegação do globo, a terceira que se tinha notícia. Sua esquadra era composta de um galeão, duas naus e dois
navios menores, com quatrocentos homens de guarnição. Em Cabo Frio, apresou um navio português; desembarcou na ilha
Grande, onde fez aguada e provocou desordens. Em seguida, atacou a Vila de Santos (15/12/1591) e dela se apoderou,
saqueando-a. O mesmo destino encontrou a Vila de São Vicente. Cavendish deixou as parcialmente destruídas e
incendiadas. Satisfeito, levantou ferros em 03/02/1592, velejando litoral sul. Atingiu o Estreito de Magalhães. Dificuldades
várias o pressionaram a regressar pelo Oceano Atlântico. Perto de Santos obteve alguns víveres. Resolveu atacar, de novo,
a vila, mas os habitantes repeliram os intrusos. Cavendish rumou para o norte, atingiu Vitória e desembarcou uma força de
ocupação. Em renhido combate, os habitantes e mais índios guerreiros destroçaram o contingente inglês. Na ilha de São
Sebastião abandonou 20 feridos, dos quais apenas dois sobreviveram, sendo um deles Antony Knivet, que escreveu
curioso relato de suas aventuras. Cavendish faleceu, com 37 anos, nessa viagem de retorno à Inglaterra.
James Lancaster, tendo como colaborador Edward Fenner, se apresentou diante de Recife e Olinda com uma armada
de 12 navios em abril de 1595. Os moradores não dispunham de forças para efetuar uma resistência. Recife foi tomada.
Quatro dias depois, chegaram três naus e dois navios menores sob o comando do francês Jean Noyer que se associou aos
ingleses. Durante 31 dias, a vila do Recife foi saqueada. Os recifenses hostilizaram os corsários com guerra de guerrilhas e
muitos foram mortos, inclusive Jean Noyer. Mas o resultado econômico da empresa mostrou-se excelente para os
invasores.
Os ingleses ambicionaram se estabelecer na região amazônica, com visíveis interesses de colonização. Em 1604,
Charles Leigh comerciou com os indígenas locais; o mesmo ocorreu com Robert Harcourt em 1609. A partir de abril até o
final do ano de 1610, Sir Thomas Roe realizou minucioso reconhecimento hidrográfico, visando à descoberta de riquezas.
Retornou à Inglaterra, mas enviou duas expedições até 1614, época em que deve ter sido construído pequenas reduto na
embocadura do Rio Amazonas. Sabedor que a região amazônica podia proporcionar muitas vantagens, o Capitão Roger
North obteve uma concessão real (1619) e formou, com nobres e pessoas de dinheiro, uma companhia de exploração.
North, escolhido governador da colônia a ser implantada, organizou uma expedição que se lançou ao mar em 30.04.1620.
Em sete semanas, alcançou a foz do Amazonas navegando até a confluência do Rio Jenipapo, onde já existiam ingleses.
Nesse local estacionou. North regressou, depois, à Inglaterra.
Na Amazônia, o posto avançado da colonização portuguesa era o Forte do Presépio; governava-o, desde 18 de junho
de 1621, Bento Maciel Parente, que tudo informava à metrópole do avanço dos ingleses. De Lisboa, chegava ao Brasil
uma nau artilhada, de reforço, sob o comando de Luiz Aranha de Vasconcelos. Aranha penetrou no Rio Amazonas até o
Xingu, tendo destruído os fortes holandeses de Maturu e Nassau; retornou a Belém com muitos prisioneiros. Na mesma
ocasião, Parente excursionou no Rio Amazonas combatendo o posto inglês fundado por North. Pouco depois, as duas
expedições, de Parente e de Aranha, juntaram-se, ocasião em que foi atacada uma nau holandesa comandada por Pieter
Adriaansz, que preferiu atear fogo ao seu navio para que o mesmo não caísse em mãos dos portugueses. Parente erigiu um
forte no Gurupá e o guarneceu com 50 homens.
Os estrangeiros não desistiram das luxurientas terras amazônicas! Em 1625, o irlandês James Purcell e o holandês
Nikolaas Ouclaen fixaram-se na foz do Xíngu (Mandiutuba). Tão logo as notícias chegaram ao Forte do Presépio, Parente
determinou que Pedro Teixeira, Jerônimo de Albuquerque e Pedro da Costa Favela, conduzindo cinqüenta soldados e
trezentos índios, desalojassem os intrusos. Participava desta expedição Frei Antônio da Marciana. Atacaram o inimigo no
dia 23 de maio de 1625, bipartindo as forças por terra e embarcadas em canoas. Durante a noite, os ingleses e holandeses
fugiram agasalhando-se em outras duas casas-fortes que possuíam rio abaixo. Pedro Teixeira perseguiu-os, juntamente
com Costa Favela, matando alguns e fazendo muitos prisioneiros, inclusive Purcell, que obteve a liberdade em seguida. No
meio do ano de 1627, Roger North, Robert Harcourt e mais 55 associados fundaram a Companhia da Guiana. No início do
ano de 1628, 112 colonos deslocaram-se para a Amazônia, chefiados por James Purcell. Sem serem incomodados,
ergueram fortim de madeira no Tucuiu, nas vizinhanças do estabelecimento que Pedro Teixeira arrasara quatro anos antes.
Pedro Teixeira recebeu a incumbência de combater os estrangeiros; em setembro de 1629, fortificou-se perto dos inimigos.
Teixeira contava com 120 soldados e 1.600 índios. Com essa gente cercou o forte que tinha o nome de Torrego. Em 24 de
outubro, os do forte se entregaram. Teixeira fez 180 prisioneiros incluindo James Purcell que, pela segunda vez, caía em
mãos dos portugueses. A Companhia da Guiana não esmoreceu: em outubro, logo após a rendição do Forte Torrego, e
perto dele, duzentos colonos ergueram o Forte North e prosperaram. Somente em 1631, mês de janeiro, pôde o
Governador do Pará, Jácome Raímundo de Noronha, organizar uma expedição contra estes ingleses. O combate foi
sangrento em razão da resistência oferecida pelos ingleses. Com a fuga e morte destes, Noronha desmanchou o reduto e
retomou a Belém.
A última tentativa inglesa ocorreu ainda nesse mesmo ano de 1631, financiada pelo Conde de Berkshire. O Capitão
Roger Fry, conduzindo um navio e quarenta homens, erigiu o Forte de Cumau, próximo à foz do Rio Matari. Contra eles
partiu Feliciano Coelho de Carvalho, com 240 soldados e cinco mil índios, utilizando 127 canoas. Fry morreu nos
combates que se travaram. Os ingleses retiraram-se, e Feliciano Coelho arrasou o forte.

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3.3 – INVASÕES HOLANDESAS

3.3.1 – HOLANDESES NA BAHIA


A invasão holandesa de Salvador (BA) foi planejada pela Companhia das Índias Ocidentais com o propósito de lucro,
a ser obtido com a exploração da cultura do açúcar. Levantado o capital para o empreendimento, os holandeses reuniram
uma força naval de 26 navios, com 509 canhões e tripulados por 1.600 marinheiros e 1.700 soldados. O comando coube ao
Almirante Jacob Willekens.
Os navios partiram de diversos portos da Holanda e reuniram-se em uma das ilhas do Arquipélago de Cabo Verde.
Em 8 de maio de 1624, chegaram à Baía de Todos os Santos; no dia seguinte, iniciaram o ataque a Salvador.
Os holandeses atacaram os fortes que defendiam a cidade. Os navios que transportavam tropas se dirigiram para o
Porto da Barra, onde desembarcaram. A cidade foi saqueada. Somente alguns dias depois organizou-se reação contra os
invasores.
Estabelecidos em Salvador, os holandeses foram, aos poucos, diminuindo os efetivos de sua força naval, com o
retorno de diversos navios para a Holanda.
Em Lisboa e Madri, a notícia sobre a tomada da cidade de Salvador chegou cerca de dois meses e meio depois da
invasão. De maneira imediata, o governo luso-espanhol começou a preparar uma força naval capaz de recuperar a cidade
antes que os holandeses se consolidassem na região. Na Holanda, sabendo-se dos preparativos espanhóis, acelerou-se a
prontificação dos reforços que deveriam garantir a ocupação da Bahia.
A preparação de forças navais que projetassem poder militar a tão longa distância exigia um enorme esforço. Era
necessário um planejamento cuidadoso dos recursos financeiros, materiais e humanos. A força deveria ser composta por
variados navios: os de guerra, como os galeões e as fragatas; as naus e as urcas, que serviam tanto como embarcações
mercantes quanto navios militares; e as caravelas, que serviam ao transporte. Havia, também, diversos outros navios
menores, como patachos, iates velozes e embarcações que complementavam a capacidade das forças navais. Considerando
as populações da época – Holanda teria cerca de 1,5 milhão de habitantes e Portugal menos que isto – não era fácil
conservar em segredo a preparação de uma força naval. Espiões mantinham as cortes européias informadas e seus
informes eram avaliados e utilizados para preparar contra-ofensivas. Ocorreram verdadeiras corridas de forças navais para
alcançar a costa brasileira. Chegar primeiro podia ser uma decisiva vantagem.
Os luso-espanhóis conseguiram ficar prontos antes dos holandeses e, em 22 de novembro, partia de Lisboa uma
armada composta por 25 galeões, dez naus, dez urcas, seis caravelas, dois patachos e quatro navios menores, tendo a bordo
12.500 marinheiros e soldados. Como comandante-geral, vinha D. Fadrique de Toledo Osório, Marquês de Villanueva de
Valdueza.
A armada luso-espanhola chegou a Salvador em 29 de março de 1625. Era a maior força naval que até aquela data
atravessara o Atlântico. Cerca de 20 navios holandeses se abrigavam sob a proteção de fortes e a cidade de Salvador era
defendida por tropas holandesas. Iniciou-se o ataque luso-espanhol e, a 1º de maio, os holandeses renderam-se. Dias
depois de se entregarem, apareceu na barra o socorro holandês, de 34 naus. Percebendo a retomada da cidade, na se
animaram a tentar a luta.

3.3.2 – A OCUPAÇÃO DO NORDESTE BRASILEIRO


Em 1629, a Companhia das Índias Ocidentais resolveu dirigir seus esforços para Pernambuco em vez de tentar
reconquistar a Bahia.
Conduzia a nova expedição uma armada de 56 navios, fortemente artilhados, trazendo 3.500 tripulantes e 3.000
soldados. Comandava a força naval holandesa o General-do-Mar Wendrich Corneliszoon Lonck. Olinda e Recife (PE)
foram conquistadas em 1630.
Soube-se dos preparativos com antecedência em Madri e Lisboa. O General Matias de Albuquerque, que então estava
na Europa, regressou ao Brasil para organizar a reação, mas pouco pôde ser feito de efetivo, restando, para os defensores,
iniciar a defesa em terra depois da ocupação.
As providências luso-espanholas para recuperar Pernambuco, durante o período de união das duas coroas,
encontraram dificuldades crescentes de recursos e não lograram a mobilização das forças necessárias. O tesouro espanhol,
cada vez mais debilitado, não foi capaz de arcar com um empreendimento semelhante ao da armada que libertara a Bahia
em 1625. Cabe observar que era necessário proteger com escoltas as frotas que levavam a produção mineral das colônias
espanholas para a Espanha. Entre 1631 e 1640, dentro do período da união com a Espanha, forma enviadas três esquadras
luso-espanholas ao Brasil.
Os holandeses também enviaram forças navais, com reforços de tropas, para proteger suas conquistas no Brasil.
Ocorreram consequentemente, encontros que resultaram em diversos combates navais. Destacam-se, entre eles, o Combate
Naval dos Abrolhos, em 3 de setembro de 1631, e os ocorridos intermitentemente durante cinco dias, de 12 a 16 de janeiro,
na Batalha Naval de 1640.
No Combate Naval dos Abrolhos, os luso-espanhóis, comandados por D. Antônio de Oquendo de Zandátegui, tinham
17 galeões, 23 navios mercantes carregados com açúcar, 12 caravelas com tropas e três patachos. Os holandeses,
comandados por Adriaen Janszoon Pater, lutaram com 18 navios.
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A missão de Oquendo era desembarcar as tropas que trazia de Pernambuco e da Paraíba; comboiar os navios
mercantes que levariam ao reino a produção de açúcar e outros produtos do Brasil, até que estivessem livres de ataques das
forças holandesas; e alcançar o Caribe para comboiar a Frota da Prata para a Espanha.
Depois de escalar em Salvador, a força naval luso-espanhola partiu para cumprir sua missão. Devido ao vento
contrário, navegou para sueste para depois rumar para Pernambuco. Foram interceptados pela força naval holandesa na
altura do Arquipélago dos Abrolhos.
Oquendo formou seus galeões em coluna e deu ordem aos navios do comboio para se posicionarem fora do combate.
Os holandeses tinham planejado abordar cada um dos maiores galeões luso-espanhóis com dois navios. Seguiu-se um
terrível combate, com tentativas e sucessos de abordagens e bordadas bem próximas de artilharia. Como resultado, os
holandeses perderam dois navios, inclusive o capitânia, que incendiou e explodiu, e um outro ficou seriamente avariado.
Os luso-espanhóis tiveram dois navios afundados, um navio foi apresado pelos holandeses e outro regressou a Salvador
devido às grandes avarias sofridas. Nesse combate, morreram ou desapareceram cerca de 700 homens, aproximadamente
280 ficaram feridos e 240 foram aprisionados.
Na Batalha Naval de 1640, 66 navios e embarcações luso-espanhóis, transportando tropas da força naval comandada
pelo Conde da Torre, combateram navios holandeses (inicialmente 30, depois 35) comandados por Willem Loos.
O Conde da Torre saiu de Salvador com o propósito de desembarcar tropas em Pernambuco. Os holandeses
pretendiam evitar que ocorresse esse desembarque. As forças navais se encontraram no dia 12 de janeiro e travaram
combates durante cinco dias, tendo se combatido, de fato, em quatro deles. A iniciativa coube aos holandeses que visavam
a atingir, com seus tiros, os cascos dos galeões luso-espanhóis, que se defendiam atirando nos mastros e velas, procurando
imobilizar os inimigos. Os holandeses evitaram as abordagens.
Durante o combate, o Almirante Willem Loos, comandante holandês, teve a cabeça mutilada por um tiro de canhão,
logo após o início da batalha. Coube ao seu imediato assumir a frente na liderança da frota.
No intervalo dos combates, os holandeses foram abastecidos com pólvora e munições por embarcações vindas de
terra. Também receberam reforços de mais cinco navios.
Para os luso-espanhóis, a Batalha de 1640 foi uma derrota estratégica. Após cinco dias, as tropas não haviam
desembarcado em Pernambuco. Os combates levaram a força naval do Conde da Torre para o norte, ao longo do litoral do
Nordeste. Com resultado insatisfatório, já que a força holandesa muito pouco fora desfalcada, o Conde da Torre decidiu
pelo desembarque das tropas no atual Estado do Rio Grande do Norte e regressar a Salvador com sua força naval.
Os holandeses, por sua vez, conseguiram manter o domínio do mar e se aproveitaram dele para bloquear os portos
principais e atacar o litoral do Nordeste do Brasil, expandindo sua conquista.

3.3.3 – A INSURREIÇÃO EM PERNAMBUCO


Em 1º de dezembro de 1640, ocorreu a Restauração de Portugal, ou seja, a separação de Portugal da Espanha, com o
fim da união as coroas ibéricas, e a aclamação do Duque de Bragança como rei, com o nome de D. João IV.
Em junho de 1641, assinou-se uma trégua de dez anos com os holandeses em Haia. Essa trégua interessava à
Companhia das Índias Ocidentais, que via seus lucros consumidos pelas ações militares, e aos portugueses, que estavam
em guerra com a Espanha e precisavam reduzir as frentes de combate.
Às vésperas do armistício, os holandeses trataram de alargar suas conquistas, ocuparando o Sergipe e o Maranhão, no
Brasil, e Angola e São Tomé, na África.
Após a Restauração de Portugal, foi enviado um novo governador-geral para o Brasil, Antônio Teles da Silva. Embora
oficialmente o governo português respeitasse a trégua, para evitar uma guerra declarada contra a Holanda, sigilosamente
aprovava a insurreição no Brasil, e o novo governador desempenhou papel de destaque no apoio a essa causa, podendo-se
identificá-lo como seu organizador-chefe. Iniciou-se, assim, em Pernambuco, a campanha da insurreição contra os
holandeses.
Em 1644, Teles da Silva resolveu reunir uma força naval para auxiliar os revoltosos, com base no que havia
disponível. Os três navios mais fortes eram naus, armadas com 16 canhões cada. Tripulações despreparadas faziam com
que essa força improvisada não fizesse frente aos profissionais holandeses e mercenários. O comando foi dado ao Coronel
Jerônimo Serrão de Paiva.
Haviam chegado ao Brasil, em fevereiro de 1645, dois galeões portugueses, o São Pantaleão, de 36 canhões, e o São
Pedro de Hamburgo, de 26 a 30 canhões. Eram parte da escolta da primeira frota comboiada que, após carregar no Rio de
Janeiro, regressou a Salvador, com o propósito de, em seguida, partir para Portugal. O almirante dessa frota era Salvador
Correia de Sá e Benevides, filho de um fluminense e uma espanhola, que tinha propriedades no Rio de Janeiro.
Decidiu o Governador Teles da Silva executar, com auxílio de Salvador de Sá, um plano par ocupar Recife. Deveriam
os galeões se juntar aos navios de Serrão de Paiva e, caso os holandeses permitissem ou se a população se revoltasse,
tentar desembarcar na cidade.
Na noite de 11 de agosto, 37 navios portugueses, incluindo os dois galeões, fundearam em frente a Recife. Vigorava a
trégua e, portanto, oficialmente, as hostilidades não estavam autorizadas.
Os navios holandeses permaneceram no porto, aguardando o desenrolar dos acontecimentos e, em terra, estavam
dispostos a resistir a qualquer tentativa de desembarque.

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Salvador de Sá, que estava com a mulher e os filhos a bordo do São Pantaleão, mandou entregar uma cata sua,
juntamente com outra de Serrão de Paiva, declarando que estavam ali para ajudar os holandeses no restabelecimento da
paz em Pernambuco. Não houve resposta imediata. Convocado um conselho a bordo do São Pantaleão, concordaram os
comandantes dos navios portugueses que não havia condições favoráveis para atacar ou manter um bloqueio de Recife.
No dia 13, o mau tempo obrigou os navios a buscarem o alto-mar. Durante todo o dia 12, no entanto, tinham sido
admirados pelo povo pernambucano e o que, depois, ficou conhecido como a Jornada do Galeão, acabou sendo, somente,
um ato de emprego político do Poder Naval pelos portugueses, influenciando as mentes e as atitudes, sem uso de força.
No dia seguinte chegou a carta-resposta holandesa. Estranhava o auxílio oferecido e pedia que se retirassem de
Recife. Durante o mau tempo, Serrão de Paiva separou-se de Salvador de Sá e, depois de alguma insistência em
permanecer em alto-mar no litoral de Pernambuco, resolveu se abrigar na Baía de Tamandaré. Salvador de Sá seguiu para
Lisboa com o comboio.
Em 9 de setembro de 1645, o Almirante holandês Lichthardt resolveu atacar Serrão de Paiva. Os portugueses
contavam com sete naus, três caravelas e quatro embarcações, com uma tripulação de mil homens aproximadamente, e
estavam fundeados. Lichthardt investiu a barra com oito navios holandeses e foi abordar os navios portugueses dentro da
baía.
A resistência se limitou ao bravo Serrão de Paiva e a poucos homens de seu navio. A maioria dos marinheiros e
soldados se lançou ao mar, nadando para a praia. Seguiu-se uma verdadeira carnificina de fugitivos e uma derrota
fragorosa, com muitos mortos, prisioneiros, inclusive o Serrão de Paiva ferido, e navios queimados ou apresados e levados
para Recife. Os documentos e a correspondência sigilosa, comprometedores quanto ao envolvimento das autoridades
portuguesas na revolta, caíram nas mãos dos holandeses.
Com o domínio do mar novamente assegurado, os holandeses puderam movimentar suas tropas de reforço, sem risco
de oposição no mar. Assim, puderam organizar ataques para diminuir a pressão que os insurretos já exerciam sobre seus
principais pontos estratégicos.
Em fevereiro de 1647, os holandeses atacaram e ocuparam a Ilha de Itaparica, com uma força naval comandada pelo
Almirante Banckert. O propósito era ameaçar Salvador.
O ataque a Itaparica incentivou D. João IV a iniciar a preparação de uma força naval para enviar ao Brasil. As
dificuldades financeiras e materiais eram muito grandes para o empobrecido Portugal. Foi necessário conseguir
empréstimos de particulares, a serem amortizadas com o imposto sobre o açúcar do Brasil.
D. João IV designou Antônio Teles de Menezes comandante da “Armada de Socorro do Brasil”, fazendo-o Conde de
Vila Pouca de Aguiar e nomeando-o governador e capitão-general do Estado do Brasil, em substituição a Teles da Silva.
Compunha-se essa esquadra de 20 navios: 11 galeões, uma Urca, duas naus, duas fragatas e quatro navios menores. Partiu
de Lisboa em 18 de outubro de 1647, chegando a Salvador em 24 de dezembro.
Enquanto isso, em 7 de novembro, saiu de Lisboa, com destino ao Rio de Janeiro, uma força naval comandada por
Salvador de Sá, com o propósito de libertar Angola, na África.
A missão da esquadra do Conde de Vila Pouca de Aguiar não era expulsar os holandeses de Pernambuco ou atacar
Recife, mas proteger Salvador e expulsar os invasores da Ilha de Itaparica. A perda de Salvador seria, sem dúvida,
desastrosa para Portugal e para a causa dos revoltosos.
Na Holanda, sabendo-se da Armada portuguesa de socorro ao Brasil, organizou-se uma força naval sob o comando do
Vice-Almirante Witte Corneliszoon de With. Os navios saíram aos poucos dos portos e somente em março de 1648
alcançaram Recife. Encontraram uma situação desfavorável: as forças holandesas tinham se retirado de Itaparica e restava
em poder da Companhia, além de Recife, a Ilha de Itamaracá e os Fortes do Rio Grande do Norte e da Paraíba.
Ao chegar a Recife, o Almirante Witte de With encontrou indefinições sobre que ação tomar no mar. A decisão da
Companhia era lançar suas forças de terra, reforçadas pelas tropas trazidas por De With, para vencer os rebeldes luso-
brasileiros, aliviando a pressão que já exerciam sobre Recife.
Em 19 de abril de 1648, travou-se a Primeira Batalha dos Guararapes e os holandeses, mais numerosos e com fama de
estarem entre os melhores soldados da Europa de então, foram derrotados no campo de batalha.
Restava para a Companhia agir no mar, bloqueando os portos brasileiros, tentando capturar a Frota do Açúcar e
atacando pontos do litoral. O bloqueio, apesar de exigir dos marinheiros longas estadias no mar, com consequentes
problemas sanitários e alimentares, tinha como incentivo a possibilidade de fazer presas, havendo participação da
tripulação no resultado financeiro da venda dos navios e das cargas apresadas.
Fez-se ao mar De With, tendo atenção ao bloqueio de Salvador, onde a poderosa força naval do Conde de Vila Pouca
de Aguiar se mantinha inativa. Em dezembro, aproveitou para atacar os engenhos de açúcar situados nas margens da Baía
de Todos os Santos, sem ser molestado pela força naval portuguesa, que mantinha seus navios protegidos pela artilharia
das fortificações de terra de Salvador.
Em novembro de 1648, chegou a notícia da vitória de Salvador de Sá, com a rendição dos holandeses em Angola, no
que poderia se chamar de primeira projeção brasileira de poder para o exterior, pois o Rio de Janeiro foi a base para a
libertação de Angola e muitos brasileiros participaram da luta, inclusive índios. Isso levantou o ânimo dos portugueses
para continuar a luta no Brasil. Ficou evidente que somente com a organização de comboios, fortemente escoltados, seria
possível manter as rotas de navegação entre Portugal e Brasil. Criou-se, então, a Companhia Geral do Comércio do Brasil.

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Em fevereiro de 1649, a Companhia das Índias Ocidentais resolveu repetir, em terra, o ataque às forças rebeldes, em
Guararapes. Novamente os holandeses foram derrotados, ficando óbvio para eles que sem um novo socorro da Europa
nada mais poderia ser feito em terra.

3.3.4 – A DERROTA DOS HOLANDESES EM RECIFE


Apesar de ainda manterem o domínio do mar, o ânimo dos tripulantes estava diminuindo, ocasionando motins,
destituição de comandantes e o regresso de navios amotinados para a Holanda.
Queixava-se De With, em cartas ao governo holandês, da dificuldade e se realizar as manutenções necessárias em seus
navios, das condições precárias de vida de seus marinheiros e da necessidade de reforços, para que não se perdesse o
Brasil. No final de 1649, o próprio De With passou a socilitar seu regresso para a Holanda e, logo depois partiu, à revelia
da Companhia das Índias. Em dezembro, os outros navios dos Estados Gerais Holandeses se amotinaram e iniciaram seu
regresso para a Europa, sem autorização.
Em fevereiro de 1650, a primeira frota da Companhia Geral do Comércio do Brasil portuguesa, com 18 navios de
guerra, chegou ao Brasil. Não tinha ordens para atacar Recife. D. João IV ainda temia uma guerra com a Holanda na
Europa e preferia manter a situação informal no Brasil, procurando obter resultados através de negociações diplomáticas e
da guerra de insurreição. Perdia-se, novamente, uma oportunidade, pois os holandeses, já sitiados em terra, não mais
contavam com a força naval de De With.
Em abril de 1650, os holandeses no Recife receberam o reforço de 12 navios, o que permitiu recuperar o domínio do
mar e bloquear o Cabo de Santo Agostinho, local por onde as forças de terra luso-brasileiras recebiam suas provisões. A
força do Conde de Vila Pouca de Aguiar ainda estava em Salvador, porém com ordem de somente entrar em combate se
atacada. No final daquele ano, partiu para Portugal, escoltando a frota da Companhia do Brasil.
Vieram ao Brasil outras frotas da Companhia portuguesa e os holandeses conseguiram enviar outras forças navais,
mas os dias do domínio holandês estavam contados. A Companhia das Índias Ocidentais não lograra alcançar um bom
êxito econômico e financeiramente estava muito mal. Recife continuava estrangulado pelos insurretos luso-brasileiros.
Por décadas, o Poder Marítimo holandês havia preponderado nos oceanos, mas, em meados do século XVII,
reapareceu a concorrência séria da Grã-Bretanha, que teve como consequência a Guerra Anglo-Holandesa de 1652-54.
Tornou-se, portanto, inviável para os holandeses manter o domínio permanente do mar na costa do Brasil.
Em dezembro de 1653, a quarta frota da Companhia do Brasil portuguesa chegou ao Brasil. O comandante da frota,
Pedro Jaques de Magalhães, decidiu bloquear Recife e apoiar os revoltosos luso-brasileiros. As posições holandesas foram,
sucessivamente, sendo conquistadas e a rendição de Recife finalmente ocorreu no final de janeiro de 1654.
O longo êxito dos holandeses no Brasil foi resultante do esmagador domínio do mar que conseguiram manter durante
quase todo o período da ocupação. Mesmo quando Recife já estava cercado e era inviável vencer em terra, ainda
conseguiram, por longos anos, suprir a cidade por mar.
Podemos afirmar que, na longa guerra travada entre holandeses e portugueses, os holandeses foram derrotados no
Brasil, venceram na Ásia e houve empate na África e na Europa.

4 – LEITURAS EXTRAS: A ADMINISTRAÇÃO DA COLÔNIA

4.1 – A DESCOBERTA DO OURO


A pobreza da inicialmente próspera capitania de São Vicente, frente ao sucesso do empreendimento açucareiro no
Nordeste, levou à organização de bandeiras, expedições cujo objetivo era procurar riquezas no interior da colônia e
apresamento de nativos, além de ataques contratados a quilombos, como ocorreram posteriormente.
Diante da ocupação de Pernambuco e da região africana de Angola pelos holandeses, as demais capitanias não tinham
acesso a carregamentos de escravos. Assim, embora as primeiras bandeiras de apresamento de índios visassem obter mão-
de-obra para a pequena lavoura paulista ou a venda para regiões próximas, progressivamente passaram também a sanar as
dificuldades dos senhores de engenho do Nordeste, onde se localizava a maior produção agrícola baseada em mão-de-obra
escrava.
Muitas bandeiras atacaram as missões jesuíticas do Oeste e Sul da colônia, capturando milhares de nativos e cobrando
um valor mais alto pelos aculturados por estarem adaptados ao trabalho agrícola.
A atividade apresadora de índios entrou em decadência, com o fim do domínio espanhol e a retomada do comércio de
africanos pelos portugueses, normalizando o abastecimento de escravos para a colônia. Os paulistas organizados em
bandeiras dedicaram-se, então, a atacar aldeamentos de nativos insubmissos e de negros fugidos que viviam em
quilombos. Essas expedições, a serviço dos fazendeiros ou da administração colonial, eram chamadas de bandeiras de
contrato, destacando-se a de Domingos Jorge Velho, que venceu a resistência dos cariris e janduís e destruiu o quilombo
de Palmares, em fins do século XVII.
As mais importantes bandeiras foram, contudo, as destinadas à procura de metais preciosos, incentivadas pela
metrópole devido ao declínio da economia açucareira nordestina na segunda metade do século XVII devido ao sucesso do
empreendimento exercido pelos holandeses nas Antilhas após a expulsão do Brasil. O financiamento das expedições
paulistas trouxe a descoberta de ouro na região de Minas Gerais - como em Vila Rica, atual Ouro Preto, e Sabará -, depois
Mato Grosso e Goiás, dando início à atividade econômica mineradora na colônia.
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Portugueses, estrangeiros e colonos de outras áreas, apelidados pelos paulistas de emboabas ("forasteiros"), foram
atraídos para a região das minas, entrando em conflito armado com os descobridores das jazidas e terminando por expulsá-
los da região. Os bandeirantes paulistas dirigiram-se, então, para a região central da colônia; em 1719, Pascoal Moreira
Cabral descobriu ouro em Cuiabá e, em 1722, Bartolomeu Bueno Filho achou riquezas em Goiás.
Apesar de terem dizimado e submetido à escravidão muitos grupos indígenas, é inegável a contribuição das bandeiras
para a ocupação e povoamento do interior do Brasil, fundando povoados, criando vilas, dando início à exploração
mineradora e, sobretudo, ampliando as fronteiras da colônia além dos limites estabelecidos pelo tratado de Tordesilhas.

4.2 – OS VICE-REIS NA BAHIA


A descoberta do ouro e dos diamantes e o conseqüente progresso da Colônia despertaram a administração portuguesa,
que passou a olhar com maior interesse para o Brasil. Coincidiu com o desabrochar do iluminismo cartesiano entre os
pensadores europeus, que influenciaram os governantes a assumir atitudes mais justas para com os povos. Reinou D. João
V de 1706 a 1750.
A partir de 1714 os governadores gerais, que tinham por capital Salvador, ostentam o título de vice-rei, sem, contudo,
existir qualquer ato de elevação do Brasil a vice-reino; foram enviados ilustres homens e administradores capazes, que
empreenderam obras de vulto.
O Marquês de Angeja (D. Pedro Antônio de Noronha) realizou ótimo governo (1714 a 1718); serviu-se do Brigadeiro
Jean Massé, calvinista francês, que ergueu fortificações no estilo Vauban e reformou e ampliou os fortes de S. Marcelo e
do Barbalho, ambos em Salvador. Reabriu a Casa da Moeda, aumentou a Sé, enquanto a população ia construindo suas
casas sem regularidade alguma. La Barbinnais, francês, visitou Salvador nessa época deixando interessante descrição da
cidade e de seu povo devoto e indolente.
O Conde de Vimieiro (D. Sancho de Faro) sucedeu-lhe (1718) e, já doente, morreu a 13 de outubro de 1719, ficando
uma Junta a exercer a administração. Conseguiu celebridade em razão do castigo aplicado aos piratas ingleses, cujo navio
encalhara na costa fluminense, em Macaé, enforcando 27.
Trazia a experiência, por ter sido vice-rei da índia, o Conde de Sabugosa (Vasco Fernandes Cesar de Menezes), que
assumiu em 1720, estendendo, por 15 anos, o seu governo. Completou as obras de fortificações e visitou diversas
capitanias; severo e disciplinador, condenou sete soldados à morte, conseqüência de um motim em Salvador (10/05/1728);
esclarecido, criou a Academia Brasílica dos Esquecidos, a 7 de março de 1724, em dependências de seu palácio, tendo se
reunido 18 vezes. Iniciou a cobrança do donativo para perfazer o dote da Infanta D. Maria Bárbara (1727), num total de
sete milhões de cruzados (a serem pagos em 25 anos).
Substituiu-o Conde das Galveias (André de Meio e Castro), assumindo a 11 de maio de 1735; favoreceu a capital,
concorrendo para a construção de três conventos de freiras: Lapa, Mercês e Soledade, este, iniciativa do jesuíta Gabriel
Malagrida.
Sucedeu-lhe o Conde de Antouguia (D. Luis Pedro Peregrino de Carvalho de Menezes e Ataíde) em 1749,
permanecendo como vice-rei até 1755.
Governou, em seguida (primeira intervenção do Marquês de Pombal), o 6º Conde dos Arcos (D. Marcos de Noronha),
de 1755 a 1760. O conde reedificou o fortim do Rio Vermelho, bem como cobrou impostos que facilitaram Pombal na
reconstrução de Lisboa, vitimada pelo terremoto de 1755. O 1º Marquês do Lavradio (D. Antônio de Almeida Soares e
Portugal), último dos vice-reis que teve Salvador como capital, exerceu sua atividade por apenas seis meses, porque logo
faleceu, ficando uma junta em seu lugar até 1763, quando houve a transferência da capital para o Rio de janeiro.

4.3 – PROGRESSOS DO RIO DE JANEIRO


A tomada da cidade por Duguay-Trouin repercutiu fundo no espírito de seus habitantes: sacudiu-os da letargia do
século anterior, fez-lhes nascer idéias patrióticas. A metrópole, por sua vez, preocupou-se com a defesa da praça,
escoadouro natural da riqueza do planalto. Enviou o Brigadeiro João Massé com a incumbência de relatar as falhas
militares e propor os meios de saná-las. O brigadeiro imaginou cercar o centro urbano de forte muro, o qual o protegeria
dos lados de terra, mas deixaria indefesa a marinha. Contudo, a sua construção começou a ser feita.
Em 1719, começa a governança de Ayres de Saldanha e Albuquerque, em cuja administração foi erguido o Aqueduto
da Carioca, uma dupla fila de arcos ligando o morro do Desterro (depois Santa Teresa) ao de S. Antônio (já demolido),
para que pudesse ser conduzido o precioso líquido até o chafariz, na ocasião construído, que se chamou da Carioca, dando
nome também ao largo e à Rua do Piolho, que dele saía em direção ao Campo dos Ciganos (hoje Praça Tiradentes).
Substituiu-o (1725 a 1732) Luis Vahia Monteiro, o Onça, assim apodado pela sua valentia pessoal e ousadia no
combate à marginalidade que proliferava na cidade. Opôs-se com tenacidade ao descaminho do ouro; ergueu uma fortaleza
na ilha das Cobras, retomada aos padres bentos; abandonou a construção do muro de defesa por entender que ele nada
defendia. Suas atitudes contrariaram a muitos notáveis que começaram a lhe mover oposição. Desgostou-se e adoeceu,
momento em que a Câmara se aproveitou para afastá-lo do cargo.
Inicia-se, então, o longo governo de Gomes Freire de Andrade, depois, em 1758, feito Conde da Bobadela. Servindo-
se do engenheiro e artista, Brigadeiro José Fernandes Pinto Alpoim, levantou a Casa do Trem (trem = conjunto de
apetrechos militares), hoje servindo de sede do Museu Histórico Nacional, ergueu a casa do governador, no Largo do
Carmo (hoje Praça XV de novembro), construiu o Convento de S. Teresa (onde se encontra enterrado), acreditando nos
ideais religiosos de Madre Jacinta de São José. Perto da Lagoa do Boqueirão, mandou levantar o Convento da Ajuda
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(demolido em 1913). Na Ilha de Villegagnon, arrasou pequena elevação para edificar uma imponente fortificação, da qual
ainda se guardam restos encastoados na Escola Naval. Seu devotamento à cultura lhe permitiu apadrinhar a criação das
Academias dos Felizes e dos Seletos, bem como a instalação da tipografia de Antônio Isidoro da Fonseca. Incumbido pelo
Marquês de Pombal de chefiar a comissão demarcadora meridional do Tratado de Madri, esteve ausente da governança por
vários anos, empenhando-se arduamente na tarefa que lhe fora confiada. Faleceu no Rio, a 12 de janeiro de 1763. Já estava
amadurecida a idéia de transferir a capital de Salvador para o Rio, onde melhor se atenderia à mineração e às fronteiras
platinas.
Durante esse período, a cidade se alargou em direção norte, ocupando terras pertencentes aos jesuítas, ou em direção
de Botafogo, onde João de Sousa Pereira Botafogo possuía extensa propriedade. Lagoas vão sendo aterradas,
transformadas em largos e praças. Mas as ruas, tortuosas, ainda não tinham iluminação nem calçamento. Apresentava-se
florescente a vida econômica, quer por causa dos contratos das baleias, quer pelo mercado de "peças" da África, ou mesmo
pela produção de açúcar e aguardente. A indústria naval encontrava-se em franco progresso. A crescente prosperidade de
seus habitantes, aliada ao forte espírito religioso, permitiu a construção de suntuosas igrejas.

4.4 – O GOVERNO DOS VICE-REIS NO RIO DE JANEIRO


A transferência da capital para o Rio de janeiro e a elevação a vice-reino, medidas tomadas pelo Marquês de Pombal,
em 1763, marcaram uma nova etapa para o Brasil: um amadurecimento, lento, mas decisivo, caracteriza o governo dos
vice-reis no Rio de janeiro.
Homens de reconhecida capacidade administrativa e militar, dedicados funcionários, pertencentes à nobreza e ligados
à monarquia, os vice-reis conduzem o Brasil a uma época de esplendor dentro do período colonial, encerrada com a
chegada da Corte, em 1808.
O Conde da Cunha (D. Antônio Álvares da Cunha), primeiro desses vice-reis, preocupou-se com a organização
militar. Recebeu o Tenente-General João Henrique Böhm, com seus auxiliares, Jacques Funck e Francesco Roscio, e os
regimentos portugueses, para os quais construiu quartéis. Criou uma companhia de dragões de cavalaria, para a guarda do
vice-rei. Reaparelhou diversas fortificações costeiras, especialmente as do Rio de janeiro e a de S. Antônio do Monte Frio,
em Macaé. Como ponto alto de sua administração, criou o Arsenal de Marinha do Rio de janeiro. Teve, também, de
executar a Carta-régia de 1766, que extinguiu o ofício de ourives em Minas, Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro.
Substituiu-o, em 31.08.1767, o Conde de Azambuja, D. Antônio Rolim de Moura, continuador de sua obra.
A partir de 1769, comanda os destinos do Brasil o Marquês do Lavradio (D. Luis d'Almeida Portugal). Durante nove
anos, foi um incansável administrador, incrementando as atividades agrícolas, introduzindo as culturas do chá, do arroz, da
anileira (para a fabricação do anil ou índigo), do cânhamo, protegendo as primeiras plantações de café, despertando o
interesse pela amoreira e a cultura do bicho-da-seda e da cochonilha, pequeno inseto nativo do México capaz de produzir
matéria tintorial (ácido carmínico). Mandou arruar parte da capital, dando origem ao bairro da Glória, que dotou de um
chafariz que se conserva até hoje. Reaparelhou as defesas do Rio de janeiro e edificou o Forte do Leme. Durante sua
gestão partiram as tropas luso-brasileiras para o sul, obtendo, o Tem-General Böhm, a restauração do Rio Grande. Houve,
contudo, a perda da ilha de Santa Catarina. Não se descuidou o marquês da instrução, criando uma Aula de Comércio, para
caixeiros.
Sucedeu-lhe outro grande estadista: Luis de Vasconcelos e Sousa (30/04/1778 a 09/05/1790), dedicado ao
embelezamento da capital. Preparava-a, sem o saber, para receber a monarquia. Ajudado por Mestre Valentim (Valentim
da Fonseca e Silva), construiu o Passeio Público, onde se espalhava, pestilenta, a Lagoa do Boqueirão, com terras do
morro das Mangueiras, que desapareceu; ganhava a cidade um salão ao ar livre. E, em frente ao portão principal, nascia a
rua das Belas Noites (Marrecas, depois), em aclive suave, a encontrar-se com a dos Barbonos (hoje Evaristo da Veiga).
Inaugurou a iluminação pública a óleo de baleia ou peixe, com 73 lampiões e povoou a cidade de chafarizes, em especial o
da Pirâmide, da lavra de Mestre Valentim. Criou a Casa dos Pássaros, origem do Museu Nacional. Reedificou a Igreja e
Recolhimento do Parto, vítimas de grande incêndio (1789). Perseguiu os contrabandistas de ouro e conseguiu encarcerar o
famoso bandido Mão-de-Luva, alcunha de Manoel Henriques, que desencaminhava o ouro que encontrara em um arraial
(hoje cidade de Cantagalo - RJ). Uma conjuração, tendo por cenário Vila Rica, pretendeu emancipar parte do Brasil; seus
líderes, denunciados, acabaram presos.
O Conde de Resende (D. José Luis de Castro), que assumiu em seguida (até 14/10/1801), não se tornou bem-visto
pela população, que lhe deu o apelido de “Conde da Resinga”; levantou o segundo andar do palácio dos vice-reis; abriu
algumas novas ruas na capital. Apressou a devassa contra os conjurados mineiros, que se concluiu em sua gestão. Fechou a
Sociedade Literária, crendo ter estas implicações com o movimento de Minas. Ocorreu, também, a Conjuração Baiana.
Seguiram-se D. Fernando José de Portugal e Castro (14/10/1801) e D. Marcos de Noronha e Brito, 8º Conde dos
Arcos (até 22/01/1808).

4.5 – PROGRESSO ECONÔMICO


O século XVIII corresponde ao ciclo do ouro, conseqüência lógica do encontro das minas e veios auríferos pelos
bandeirantes e desbravadores. Os mineradores e tropeiros vão lentamente sedimentando a conquista obtida, também,
graças ao aventureiro ávido de riquezas, que termina por se fixar no interior após a dissolução de seus sonhos de grandeza.
Em 1702, 19 de abril, a metrópole organizou o Regimento dos Superintendentes, Guardas-Mores e Oficiais-
Deputados para as Minas de Ouro e, para cumpri-lo, instituiu a Intendência das Minas.
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Qualquer descoberta devia ser comunicada à intendência; os guardas-mores demarcavam o local e distribuíam as
"datas" (porções de terra), exclusão de uma, do descobridor, e de outra, da Coroa. As demais entravam em sorteio para os
candidatos possuidores de, no mínimo, 12 escravos.
A princípio, os mineradores apenas afastavam o cascalho da margem dos ribeirões com toscos instrumentos; passo
importante representou a adoção da bateia, de origem africana. A presença da água consistia em necessidade elementar:
apanhava-se ouro nos córregos (ouro da água), nas margens dos rios (ouro de tabuleiro) e nas encostas secas (ouro de
grupiara), utilizando-se a água para o desmonte do cascalho. A "cata" do ouro era simples nos dois primeiros casos, mas
complicava-se no terceiro, devendo-se levar a água, por força humana ou animal, a regos de madeira, provocando, pela
atuação da gravidade, a lavagem das faldas dos montes e a formação de uma "cata" artificial. Daí a importância das águas,
origem de muitas desavenças. Obtinha-se o ouro de veio talhando a rocha e triturando os pedaços em pilões.
Ao rei cabia 20% do ouro encontrado: consistia no "quinto", imposto que aparece nas Ordenações e regimentos
mineiros, desde os primeiros tempos coloniais. Em virtude das dificuldades de arrecadação e de fiscalização, a Intendência
estipulou, em 1713, por proposta dos mineradores, a finta, anuidade fixa cobrada ao distrito mineiro, montante em trinta
arrobas de ouro; em 1718, reduziu-se para 25. Esta fórmula não suprimia a sonegação; por isso, a metrópole criou as Casas
de Fundição em 1720, mas com atuação efetiva a partir de 1725, destinadas a converter o ouro minerado em barras
seladas, proibindo-se, igualmente, a circulação do ouro não quintado, A produção diminuiu tanto que a Intendência das
Minas aplicou a capitação, a partir de 1º de julho de 1735, sem eliminar a arrecadação dos quintos. A capitação consistia
numa taxa fixa (quatro oitavas e 3/4) que o minerador pagava por cada escravo de mais de 14 anos empregado na sua
lavra; as lojas, vendas e boticas da região mineira contribuíam com uma capitação que variava entre oito e 24 oitavas (cada
oitava equivalia a 3,586 gramas). Avolumaram-se os protestos contra esse sistema, injusto, pois devia ser pago mesmo nas
fases de pesquisa ou ainda que nenhum resultado se chegasse. Assim, a Coroa retomou ao quinto, depois de 3 de dezembro
de 1750, exigido sob a forma de finta, equivalente a cem arrobas. Somaram-se os déficits por causa da exaustão dos veios
auríferos, arrecadados compulsoriamente sob a forma de derrama, a qual não consistia em novo imposto.
Mas o contrabando do ouro ou o "descaminho", bem como a falsificação dos selos reais para a fabricação de barras
sem a retirada do imposto, floresceu em todo o século XVIII, apesar das medidas repressivas e da vigilância dos registros,
postos de fiscalização nos caminhos das Minas. Através de trilhas pouco freqüentadas, o ouro era levado a Salvador ou ao
Rio de Janeiro e, desses portos, para outros lugares, como Açores, Buenos Aires, Antilhas, de onde se transportava para a
Europa. Contribuía a venalidade de muitos funcionários públicos, mesquinhamente pagos. Utilizava-se qualquer fardo para
esconder o ouro, tendo ficado famosos os santos-de-pau-oco. O governador do Rio, Luis Vahia Monteiro, sobre tudo isso
preveniu a Coroa, não tendo desta recebido apoio devido. Célebre ficou a quadrilha de Inácio de Souza Ferreira que tinha
uma fundição clandestina na serra de Paraopeba e agentes espalhados nas principais cidades.
Calcula-se a produção aurífera em 982t, o que representa boa parte do ouro circulante no mundo. Entretanto, a
condição política do Brasil não lhe permitiu aproveitar-se dessa riqueza para próprio desenvolvimento. Serviu para
Portugal levar uma vida luxuosa e de ócio, adquirindo produtos manufaturados ingleses e entregando à Inglaterra, aos
poucos, o ouro brasileiro. Mas o sonho das minas não durou muito: antes de terminar o século XVIII, o ouro já estava
esgotado. Deficiências técnicas e ignorância dos mineradores aliaram-se para impedir a extração de depósitos profundos.
As primeiras notícias de diamantes datam de 1714. Pouco depois, em 1727, Bernardo da Fonseca Lobo achou as
primeiras pedras no sítio de Morrinhos, em Cerro Frio. Vários mineradores acorreram à região. Em 1734, Portugal criou a
Intendência dos Diamantes, submetida a uma legislação especial, o Regimento das Terras Diamantinas (conhecido como
Livro da Capa Verde), datado de 1771. Até 1740, permitiu-se a livre exploração; depois, contratou-se com particulares a
obtenção dos diamantes, delimitando-se o Distrito Diamantífero, cujo centro localizava-se no Arraial do Tijuco (hoje
Diamantina). O contratador devia pagar, aproximadamente, £40.000 anuais. Famosos ficaram Felisberto Caldeira Brant,
que encontrou falência depois de vários infortúnios, e João Fernandes Oliveira, que não mediu dinheiro para contentar
Xica da Silva.
Calcula-se em três milhões de quilates o fornecimento durante a época colonial, provocando uma baixa de 75%, por
quilate, na venda de diamantes em mercados da Europa.
A exploração das minas acarretou um rápido povoamento do interior. Sendo o ouro a preocupação maior, ninguém
pensou em plantar e criar, o que gerou uma grande dificuldade de vida, pela deficiência dos meios de subsistência. A
comida vinha de muito longe e chegava às Minas por preços absurdos. Assim, surgiram as fortunas alicerçadas no
comércio e na criação de gado. O ouro mudou o posicionamento social: nos séculos anteriores importavam as grandes
sesmarias agora a situação social fundamentava-se nas riquezas móveis. Com o tempo, dispersam-se os mineradores;
arraiais, povoados e vilas se formam; desenvolve-se o comércio com o litoral, ao mesmo tempo em que são abertos
caminhos percorridos pelos tropeiros. A parte Sul, com o Rio de Janeiro à frente, progrediu muito, enquanto o Nordeste
entrou lentamente em decadência.
Corria o dinheiro português quer cunhado no Reino, quer produzido nas casas de moeda em Minas. De ouro existiam:
a dobra de oito escudos e valor de 12,800 réis, a dobra de quatro escudos, com valor de 6.400 réis, a meia-dobra, de 3.200,
o escudo, de 1.600 réis, o meio-escudo e o quarto de escudo, chamado cruzado. De 1724 a 1727, existiram os cruzados-
novos, com valor de 480 réis. A unidade da moeda de prata chamava-se tostão, com valor de 100 réis. Havia moedas de
cobre de 40 e 20 réis, A diversidade de moedas e a variedade de cunhagens produziram um sistema monetário
verdadeiramente anárquico, isso sem contar com a presença de moedas falsificadas pelas próprias casas de moedas ou por
particulares.

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O açúcar, grande riqueza do século XVII, ocupou, no século XVIII, lugar secundário. Fazendas se despovoaram por
causa das minas, coincidindo com a baixa do preço do produto que já começava a enfrentar a concorrência do produzido
nas Antilhas. Contudo, a Bahia exportava, em 1798, de 14 a 18 mil caixas de açúcar, e Pernambuco, de 12 a 13 mil.
O cultivo do tabaco intensificou-se pelo desenvolvimento do vício de fumar. Antonil dedicou 12 capítulos de seu livro
ao tabaco. Havia, em Lisboa, uma Alfândega do Tabaco, reorganizada por Pombal em 175 1. Em certos anos, o lucro com
o tabaco subia ao dobro do que se obtinha com o ouro. Provavelmente em 1757, Pombal enviou à Vila de Cachoeira, na
Bahia, André Moreno com a incumbência de preparar o tabaco em folhas para a fabricação de charutos.
O cacau conseguiu um lugar de destaque, existindo plantações em Ilhéus, sul da Bahia.
Somente no final do século, renasceu a economia agrícola vinculada ao algodão, vegetal têxtil nativo da América. O
nascimento de indústrias fabris mecanizadas, resultado da descoberta da máquina a vapor (James Watt em 1769), ofereceu
ao Brasil a oportunidade de produzir algodão e vendê-lo à Inglaterra, que começou a encontrar dificuldades de extrair de
suas próprias colônias americanas. Em 1775, a produção atingia cinco milhões de libras (peso), aumentando, em 1791 para
26 milhões. O cultivo do algodão concentrou-se no Maranhão, espalhando-se, depois, em outros pontos do litoral. As
atividades ficaram vinculadas ao escravo, usando-se o descaroçamento manual; a máquina inventada por Eli Whitney, em
1793, não chegou a ser conhecida no Brasil.
Os colonizadores aproveitaram-se de muitas espécies vegetais indígenas, neste século XVIII já participando da
alimentação dos habitantes, como procuraram plantar os vegetais que normalmente integravam a sua dieta européia; o
trigo e a uva não chegaram a se desenvolver, apesar dos esforços despendidos; diversas árvores frutíferas se deram bem e
passaram a ser cultivadas. Merece citação especial o coqueiro, proveniente da Ásia e da Oceania. O vice-rei, 2º Marquês
do Lavradio, iniciou o cultivo do arroz e do chá, este plantado com sucesso nos arredores do Rio de Janeiro. Não sendo
alimentícias, mas de alto interesse, lembremos o cultivo da amoreira, da anileira e do cânhamo. Utilizou-se, também, o
mate, proveniente das missões guaraníticas.
O café, introduzido no Pará, em 1727, pelo ajudante Francisco Xavier Palheta, que transportou a planta da Guiana
Francesa, cumprindo ordem do governador do Estado do Maranhão, João Maia da Gama, ainda estava em fase de
aclimatação.
Percorrendo a costa norte do Brasil lentamente e sem muito sucesso, o café chegou ao Rio de Janeiro, trazido pelo
desembargador do Maranhão João Alberto Castelo Branco, ocasião em que governava a Repartição do Sul Gomes Freire
de Andrade (1760). Apenas duas mudas foram plantadas em chãos do Convento dos Barbonos, na rua do mesmo nome
(hoje Evaristo da Veiga). Apesar dos desvelos dos padres, uma delas morreu, mas a outra se desenvolveu dando frutos que,
apanhados pelo holandês J. Hoppman, este os plantou em suas terras de Mata Porcos (hoje Estácio), formando extenso
cafezal, protegido pelo vice-rei Marquês do Lavradio. Rapidamente, os pés de café se espalharam na terra carioca,
principalmente na fazenda do Mendanha, de propriedade do Padre Antônio Couto da Fonseca, que os plantou na vila de
Resende, fundada pelo vice-rei Conde de Resende. Ao final do século, podiam ser vistas plantações de café em São Paulo
e Minas Gerais.
Durante o século XVII, o gado bovino subiu morosamente pelas duas margens do Rio São Francisco até as suas
nascentes. Criado extensivamente, ele se multiplicou em terras mineiras, atingindo, neste século XVIII, o planalto goiano e
mato-grossense. De São Vicente, foi o gado levado para Paranaguá, e de tal maneira ele se desenvolveu, que os criadores
procuraram os "campos de cima", fundando Curitiba. De Curitiba, o gado caminhou para o sul, encontrando bons pastos
nos pampas sulinos. Nessa região, o gado cavalar começou a ser criado com bastante proveito, barateando o preço da
montaria até então acessível a poucos. No fim do século, a área sulina produzia excelente charque, distribuído para todo o
Brasil, ocasionando a decadência parcial do gado nordestino.
A circulação de riquezas, resultado da descoberta das minas, provocou o nascimento de pequenas manufaturas:
cerâmica, metalurgia, ourivesaria, tecelagem e outras menores, o que não foi bem-visto pela metrópole. Em 1766, ficava
proibida a profissão de ourives. O alvará de 5 de janeiro de 1785 proibiu a instalação de estabelecimentos fabris. Em
conseqüência, as tecelagens paralisaram-se, com exclusão daquelas destinadas ao fabrico de tecidos para os escravos e
sacaria. Bastante desenvolvida mostrou-se a pesca da baleia, cetáceo abundante no litoral sul, em especial na Baía de
Guanabara; no Rio de janeiro, funcionaram armações que industrializavam a carne, azeite, barbatanas e o espermacete
(cera branca existente na cabeça de baleias e cachalotes empregada na fabricação de cosméticos). Os curtumes necessários
a obtenção de couro, utilizável para a exportação, existiram em vários centros urbanos. E as fábricas de anil, no Rio e no
Pará, chegaram a exportar para a metrópole até quinhentas arrobas anuais.
Continuamos, neste século XVIII, a enviar para a metrópole os produtos nativos brasileiros, recebendo, em troca, os
manufaturados de origem portuguesa ou estrangeira, através de comerciantes portugueses. Chamava-se, esse intercâmbio,
de Pacto Colonial, estando vedado a qualquer nação fazer o comércio direto em portos brasileiros. Mas, em algumas vezes,
navios ingleses burlavam esse acordo e, alegando arribada forçada, efetuavam trocas comerciais diretas, com alguns
subornos às autoridades locais. O comércio interno, via terrestre, com as terras espanholas, tornou-se muito importante e
até hoje pouco conhecido, dado o seu caráter de contrabando. Muitos “peruleiros” embrenhavam-se pelas regiões
desconhecidas, visando lucros com as populações andinas, brancas ou nativas.
Apesar de a Companhia Geral de Comércio do Brasil ter sido extinta em 1720, a idéia renasceu durante a época de
Pombal, que criou, em 1755, a Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão e, em 1759, a Companhia de
Pernambuco e Paraíba. Ambas conseguiram altos lucros praticando abusos na venda de produtos que monopolizavam.
Foram extintas por D. Maria I em 1778 e 1779, respectivamente.

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O comércio negreiro mostrou-se ativo e compensador durante este século XVIII, graças às necessidades das minas,
onde o africano não vivia muito tempo. Havia um trânsito permanente de tumbeiros para os mercados brasileiros,
enriquecendo a quantos a esse negócio se dedicavam.
Relativamente ao comércio interno, não possuímos dados suficientes. Tratavam-se de mercadorias destinadas à
exportação e que eram transportadas aos portos de embarque; e os produtos estrangeiros que, a partir desses mesmos
portos, se distribuíam no resto do país. Tropas de muares percorriam os caminhos conhecidos solidificando a conquista
que os bandeirantes haviam iniciado.

4.6 – A ERA DA ADMINISTRAÇÃO DO MARQUÊS DE POMBAL


Varias mudanças se operaram no início do reinado de D. José I, que ascendeu ao trono português em 1750. Nomeando
Sebastião José de Carvalho e Melo, antigo representante em cortes da Inglaterra, 1738, e Áustria, 1744, onde se casou com
Leonor Daun (da nobreza austríaca), ministro do Estrangeiro e Guerra, o rei depositou, gradativamente, em suas mãos
confiança e poderes. Dignificou-o como Conde de Oeiras e Marquês de Pombal. Sua presença e atuação apagaram o rei: o
verdadeiro monarca foi Pombal.
O Iluminismo forneceu o respaldo para a atuação do Marquês de Pombal, em Portugal e no Brasil. Percebeu, o
esclarecido ministro, que os padres inacianos dificultavam a execução dos acordos diplomáticos no Sul do Brasil, agitado
pela Guerra Guaranítica. Por isso, determinou a liberdade dos índios (Carta-régia de 4 de abril de 1755 para o Estado do
Grão-Pará e Maranhão e 8 de maio de 1758 para o Estado do Brasil), acabando com a administração dos sacerdotes nas
aldeias.
Mas os jesuítas desfrutavam de grandes poderes. Chegaram, mesmo, a conspirar contra a vida do rei, junto com o
Duque de Aveiro; D. José I escapou com ferimentos de um atentado (03/09/1758) ocorrido perto do Palácio da Ajuda.
Condenados diversos implicados, entre os quais os marqueses de Távora, Pombal conseguiu o assentimento do rei para
expulsar os jesuítas de terras portuguesas (03/09/1759). Os 550 inacianos residentes no Brasil foram compelidos a sair.
O prosseguimento da Guerra Guaranítica conduziu a acertar com a Espanha o Tratado de El Pardo (1761): a guerra
indígena chegava ao fim, mas novos conflitos se abriam nas fronteiras sulinas tendo por antagonistas os aliados anteriores.
Pombal anulou todas as regalias dos antigos capitães donatários, acabando por abolir as primitivas capitanias, em
1759, através de concessões aos donatários existentes. Conservou-se apenas o nome, como divisão administrativa. Reuniu
as capitanias de Porto Seguro e Ilhéus à da Bahia. Criou as de São José do Rio Negro, Rio Grande de São Pedro e Piauí.
Tendo em vista a extração do ouro e o cuidado com a fronteira sulina, achou o marquês ser melhor transferir a capital para
o Sul, escolhendo a Cidade do Rio de Janeiro. Elevou a Colônia à categoria de vice-reino (1763), abrindo uma época
faustosa para o Brasil.
Extinguiu, em 1774, o Estado do Maranhão, centralizando a administração. Numerosas vilas nasceram e se
desenvolveram em todo o território. Instalou-se, no Rio de janeiro, um tribunal da Relação (1751), bem como diversas
juntas de justiça, nas capitanias.
Pombal preocupou-se com a situação econômica do Brasil, criando as Companhias de Comércio do Grão-Pará e
Maranhão e de Pernambuco e Paraíba. Acabou com os contratos de diamantes.
Dos Açores, conseguiu enviar perto de vinte mil colonos a fim de contrabalançar a medida de liberdade dos índios.
Ao mesmo tempo, estimulou os casamentos entre portugueses e nativas. Aboliu a discriminação entre cristãos velhos e
novos, estes de procedência judia (25/05/1773). Diminuiu os poderes do tribunal da Inquisição (01/09/1774).
A morte do Rei D, José I (24/02/1777) interrompeu a atuação do Marquês de Pombal. A nova soberana, D. Maria I,
derrubou o marquês, perseguiu-o e condenou-o a viver a vinte léguas de Lisboa; esse movimento ficou conhecido como a
"Viradeira". D. Maria I governou somente até 1792, quando, pela insanidade que a perturbou, ocupou a regência seu
segundo filho, D. João (mais tarde D. João VI).

5 – GUERRAS, TRATADOS E LIMITES NO SUL DO BRASIL


A fronteira do Sul do Brasil demorou a ser definida devido à ferrenha disputa travada entre Portugal e Espanha que
tinham interesse em dominar a estratégica região platina. Para consolidar o domínio da região, os dois reinos travavam
diversas batalhas – nas quais o poder naval de ambos os lados foi muito empregado – e vários acordos foram firmados.

5.1 – TRATADO DE LISBOA (1681)


Já no primeiro ano de sua fundação, em 1680, a Colônia de Sacramento foi atacada e reconquistada aos espanhóis
pelo governador de Buenos Aires, sendo devolvida aos portugueses em 1683, após a assinatura do Tratado de Lisboa, em
1681.

5.2 – TRATADO DE UTRECHT (1715)


A morte do Rei da Espanha Carlos II, em novembro de 1700, levou as maiores potências européias a engajarem-se no
conflito que ficou conhecido como Guerra de Sucessão de Espanha, que durou quase 15 anos e teve seus reflexos
estendidos para o continente americano. Nesse conflito, Portugal e Espanha ficaram em lados opostos e, como
consequência, a Colônia de Sacramento foi novamente ocupada pelos espanhóis em 1705.
O Tratado de Utrecht – celebrado em 1715 entre as duas nações – legitimou a presença portuguesa na região do Prata
com a restituição aos lusos da Colônia de Sacramento.
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5.3 – TRATADO DE MADRI (1750)


O conflito ocorrido entre as cortes portuguesa e espanhola entre 1735 e 1737 motivou a terceira investida hispânica
sobre a Colônia de Sacramento. Cumprindo ordem do governo de Buenos Aires, em junho de 1735, navios espanhóis já
empreendiam um bloqueio naval à colônia lusa enquanto quatro mil soldados realizavam um sítio por terra.
No Rio de Janeiro, o governador interino, Brigadeiro José Silva Paes, preparou e enviou, às pressas, uma força naval
para socorrer a colônia. Assim que chegou à região do Prata, essa força naval dissipou o bloqueio que os navios espanhóis
vinham impondo à Colônia de Sacramento.
Em Portugal, o recebimento da notícia do assédio espanhol à colônia lusa levou o rei a ordenar o preparo de uma força
naval que foi constituída por duas naus e uma fragata. Essa força suspendeu de Lisboa em março de 1736 e, ao chegar ao
Rio de Janeiro, recebeu reforços. Juntou-se a ela o Brigadeiro Silva Paes, contendo ordens de socorrer a Colônia de
Sacramento e, se possível, reconquistar Montevidéu (fundada e abandonada pelos luso-brasileiros e novamente fundada
pelos espanhóis) e fortificar o Rio Grande de São Pedro.
A força naval portuguesa no Prata combateu os espanhóis, apoiou a Colônia de Sacramento e estabeleceu o domínio
do mar na região. Após alcançar seus objetivos, parte dessa força regressou ao Rio de Janeiro.
O Brigadeiro Silva Paes permaneceu no Sul e, após ameaçar um ataque a Montevidéu – que não ocorreu devido ao
grande risco de os navios ficarem encalhados –, decidiu partir para o Rio de Grande de São Pedro e cumprir a missão de
fortificá-lo. Ao chegar, tratou o Brigadeiro de organizar suas defesas e mandou construir o forte que denominou Jesus,
Maria e José. Estavam assim criadas as condições para o início da povoação da região, que recebeu, mais tarde, casais
açorianos para ocupar a terra.
Mesmo após a assinatura por portugueses e espanhóis do armistício de 1737, o cerco terrestre à Colônia de
Sacramento continuou demonstrando a grande instabilidade que existia nas relações entre as duas colônias.
Procurando solucionar suas questões de limites, Portugal e Espanha resolveram assinar, em 1750, o Tratado de Madri,
que, dentre outras medidas, estabeleceu a posse da Colônia de Sacramento para a Espanha e a de Sete Povos das Missões
para Portugal. Esse tratado foi fruto do trabalho de Alexandre de Gusmão, secretário de D. João V, junto ao qual teve
grande influência. Foram nomeadas duas comissões para demarcarem a fronteira, uma para o norte – onde Portugal teve
como representante Francisco Xavier de Mendonça Furtado (irmão do Marquês de Pombal) – e outra para o sul, sendo o
representante português Gomes Freire de Andrade. A troca estabelecida pelo Tratado não foi efetuada, pois os índios que
viviam nas Missões se recusaram a deixar o local, empreendendo uma resistência armada, levando os luso-espanhóis a
responderem com ação militar conjunta que, em 1756, por meio da força, ocuparam a região.

5.4 – TRATADO DO PARDO (1761)


Celebrado entre portugueses e espanhóis, anulou os efeitos do Tratado de Madri e estabeleceu que a Colônia de
Sacramento voltasse a ser de Portugal. Durante a Guerra dos Sete Anos (1756-1763). Portugal e Espanha voltaram a ficar
em lados opostos quando, em 1761, a Espanha assinou um tratado de aliança com a França, o que levou a Grã-Bretanha a
declarar guerra aos espanhóis. Como consequência, Portugal, que apoiava os britânicos, foi invadido em 1762 por forças
hispânicas e consequentemente a guerra se propagou para o Sul do Brasil.
Na região do Prata, o governador de Buenos Aires ordenou ao comandante do cerco, que estava sendo feito à Colônia
de Sacramento, que fosse restabelecido o tiro de canhão como limite reconhecido para a praça e “convidasse” o
governador da Colônia de Sacramento a desocupar imediatamente as Ilhas de Martin Garcia e dos Hermanos. Ainda
delegou ao Capitão Francisco Gorriti a incumbência de viajar até a Vila de Rio Grande para entregar, ao comandante da
mesma, um ofício, em que exigia a desocupação daquelas terras, já que, com a nulidade do Tratado de Madri, as terras
voltavam a pertencer à Espanha. O Governador de Buenos Aires, D. Pedro Antônio Cevallos, tinha ambicioso projeto de
dominação do Sul do Brasil, e preparou-se militarmente para atacar a Colônia de Sacramento, recebendo reforços da
Espanha em navios, material de artilharia e munição.
A Colônia de Sacramento dispunha para sua defesa de uma pequena tropa, que não excedia 500 homens, e o
Governador Vicente da Silva Fonseca respondia às intimações de Cevallos procurando ganhar tempo, enquanto aguardava
reforços. Em outubro de 1762, a Colônia de Sacramento foi atacada pela quarta vez e, não obstante a resistência oferecidas
pelos portugueses, capitulou.
Os espanhóis continuaram avançando sobre terras ocupadas pelos luso-brasileiros e com superioridade de forças
tomaram o Rio Grande de São Pedro em 1763. Apesar de ter sido restabelecida a paz entre as duas nações após a
assinatura do Tratado de Paris, e o governador de Buenos Aires restituir a Colônia de Sacramento, este continuou com a
ocupação do Rio Grande de São Pedro, que pretendia tornar definitiva tendo como base o Tratado de Tordesilhas. Não
obstante a reclamação dos portugueses por via diplomática, foi necessário empreender uma ação militar, na qual tropas
luso-brasileiras, comandadas pelo Tenente-General João Henrique Boehm (alemão a serviço de Portugal), juntamente com
o emprego da Esquadra portuguesa, reconquistaram o Rio Grande de São Pedro em abril 1776.
Em 1777, os espanhóis protestaram contra a tomada do Rio Grande pelos portugueses e, após insucessos
diplomáticos, decidiram enviar uma poderosa expedição sob o comando de D. Pedro de Cevallo, nomeado primeiro vice-
rei do Rio da Prata. Coube ao Marquês da Casa de Tilly o comando da força naval espanhola, que era composta de 19
navios de guerra e 26 de transporte. Embora providências tenham sido tomadas, no sentido de combater tal ameaça pelo
Marquês de Pombal, os espanhóis ocuparam a Ilha de Santa Catarina e pela quinta vez atacaram a Colônia de Sacramento.
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5.5 – TRATADO DE SANTO ILDEFONSO (1777)


Com a morte de D. José I, em fevereiro de 1777, assumiu o trono de Portugal D. Maria I. Na tentativa de resolver as
questões de limites entre Portugal e Espanha, foi assinado em 1º de outubro de 1777 o Tratado de Santo Ildefonso. Por este
tratado, ficou estabelecida a restituição a Portugal da Ilha de Santa Catarina, porém os lusos perderam a Colônia do
Santíssimo Sacramento e a região dos Sete Povos das Missões. Este tratado deixou os espanhóis com o domínio exclusivo
do Rio da Prata, sendo deveras desvantajoso para Portugal.

5.6 – TRATADO DE BADAJÓS (1801)


A estabilidade entre as relações luso-espanholas foi afetada quando Napoleão Bonaparte, desejoso de castigar
Portugal por participar, com seus navios, de cruzeiros ingleses no Mediterrâneo e visando a trazer os portugueses para
zona de influência francesa forçou a Espanha a declarar guerra a Portugal em 1801. O rompimento das relações entre os
dois países na Europa durou poucas semanas, sem ações militares dignas de registro, ficando o episódio conhecido como a
Guerra das Laranjas. Na América, porém, a chegada da notícia sobre o conflito entre as duas coroas desencadeou o
rompimento de hostilidades entre as populações da fronteira. No Rio Grande de São Pedro, tropas foram aprestadas para
defenderem as fronteiras, ainda em processo demarcatório, e os luso-brasileiros invadiram e conquistaram os Sete Povos
das Missões, do lado espanhol, enquanto os hispano-americanos invadiram o Sul de Mato Grosso.
O Tratado de Badajós pôs fim à guerra de França e Espanha contra Portugal, tendo a Espanha por direito de guerra,
conservando a Praça de Olivença, na Europa, e a Colônia de Sacramento. Portugal recuperou no sul da América o
território dos Sete Povos das Missões.

6 – LEITURA COMPLEMENTAR – APROFUNDANDO AS QUESTÕES DE FRONTEIRAS

6.1 – TRATADOS DE UTRECHT


Desde o século XVI, corsários franceses farejaram as costas brasílicas contrabandeando o pau-de-tinta. Suas tentativas
de fixação na terra, em toda a região do Atlântico Sul, foram frustradas pelos portugueses, que sempre conseguiam alijá-
los, empurrando-os para o Norte. Localizados bem acima da foz do Amazonas, empenharam-se em uma expansão em
terras, não bem definidas, de Portugal. Invadiram o Amapá, chamado de Guiana brasileira. O Governador do Estado do
Maranhão, Antônio de Albuquerque, apressou-se em enviar tropas que iniciaram difícil e prolongada luta, solucionada
pelo Tratado de Utrecht de 1713.
As negociações diplomáticas de Utrecht representaram o fim da guerra de Sucessão da Espanha. Delas fez parte
Portugal por ser aliado da Inglaterra, enviando João Gomes da Silva, Conde de Tarouca, e D. Luis da Cunha, que
obtiveram com a diplomacia o que teria sido muito dispendioso com a força das armas. No Tratado de 11 de abril, a
França renunciava as suas pretensões às terras do Cabo do Norte, situadas entre os rios Amazonas e Oiapoque ou Vicente
Pinzón, aproveitando-se este último para servir de fronteira entre as duas nações. Representou um êxito diplomático
português.
No segundo Tratado de Utrecht, 6 de fevereiro de 1715, a Espanha restituiu a Colônia do Sacramento a Portugal, sem,
contudo, provocara calma na região. A reabertura das lutas, entre 1735 e 1737, predispôs Portugal a se desfazer da
Colônia.

6.2 – AS CORTES IBÉRICAS ASSINAM O TRATADO DE MADRI


A rápida expansão dos portugueses em todo o Brasil, pelo Amazonas até o Javari, no Mato Grosso até o Guaporé, e
no Sul até o Prata, exigia um convênio entre os países ibéricos, pois não mais era aceitável o acordo de 1494. Obcecados
pelos diversos incidentes envolvendo a Colônia do Sacramento, os espanhóis não perceberam a penetração pelo planalto
central e pela planície amazônica. Diversos diplomatas lusos foram incumbidos, entre 1715 e 1731, de obter um acordo
com Espanha, malogrando as tentativas por que defendiam a posse da Colônia.
A ocasião mostrou-se particularmente favorável quando D. Maria Bárbara, filha do Rei de Portugal D. João V, casara-
se com o de Espanha, Fernando VI. A harmonia das Cortes Ibéricas foi a responsável pelas negociações que tiveram lugar
em Madri, em 1750. Deve-se a um brasileiro, Alexandre de Gusmão, que possuía a confiança do rei, a elaboração dos
princípios que nortearam esse acordo. Sua sabedoria histórica e geográfica, aliada ao amor à terra em que nascera,
empolgou-o numa tarefa difícil. Seu objetivo residiu em convencer a Espanha a aceitar os novos limites, tendo por base a
ocupação real da terra, o “utipossidetis”, extraído do Direito Romano. Gusmão preparou, calcado nessa teoria, o Mapa dos
confins do Brasil com as Terras de Espanha com a América Meridional, conhecido como Mapa das Cortes, fonte
cartográfica das negociações.
Reunidos os representantes (D. Tomás da Silva Teles, Visconde de Vilanova da Cerveira, por parte de Portugal, e D.
José Carbaial y Lencaster, delegado da Espanha) em Madri, assinava-se o Tratado, a 13 de janeiro de 1750. Pelo artigo 21,
as partes reconheceram violado o acordo de Tordesilhas, que foi, assim, abolido. Pelo artigo 16, Portugal abria mão do
principal fator de disputa, a Colônia do Sacramento, recebendo, em troca, o território situado ao norte do Rio Ibicuí, onde
os jesuítas espanhóis haviam fundado sete missões de índios guaranis (S. Angelo, S. Borja, S. Miguel, S. João, S.
Lourenço, S. Luis Gonzaga e S. Nicolau), bem como todas as terras do Centro e Norte do Brasil, consideradas de pouco
valor. Determinava-se, também, que as guerras européias não deviam ser transferidas para a América; por isso, alguns
historiadores têm querido ver em Gusmão o fundador do Pan-americanismo.
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O Convênio de 1750 situa-se como o mais importante entre os assinados na época colonial, pois serviu de base à
configuração de nossas fronteiras com os países de origem espanhola. Ratificou o crescimento, legalizou as conquistas e
coroou a expansão lenta e sistemática da Colônia.
Entretanto, o Tratado de Madri encontrou opositores entre os espanhóis e portugueses, provocando um clima de
desconfiança nas Cortes Ibéricas. Antônio Pedro de Vasconcelos, que comandara a Colônia, atacou Gusmão abertamente,
obrigando-o a refutar os argumentos.

6.3 – ATIVIDADES COMPLEMENTARES E EXPANSÃO TERRITORIAL


Apesar da importância da empresa açucareira para a política colonizadora portuguesa, eram realizadas outras
atividades que atendiam às necessidades da população colonial, chamadas atividades secundárias ou acessórias, destinadas
tanto à exportação quanto à subsistência dos colonos, como os cultivos de mandioca, tabaco, algodão e a produção de
aguardente e rapadura.
A mandioca estava na base da alimentação, especialmente dos escravos, e sua produção chegou a ser imposta aos
senhores a fim de evitar crises alimentares, que poderiam afetar a população e comprometer o projeto colonizador. Essa
imposição era, contudo, normalmente desrespeitada pelos proprietários, que não se mostravam interessados em desviar
esforços e, sobretudo, mão-de-obra da produção do açúcar, atividade muito mais lucrativa.
O fumo, produzido, sobretudo na Bahia, era importante moeda de troca no comércio de negros escravos nas regiões
africanas. Chegou a representar a segunda maior receita de exportação agrícola da colônia. Sua importância econômica e o
fato de exigir menos terra e menos mão-de-obra para seu cultivo atraíram inúmeros lavradores, especialmente entre o final
do século XVII e início de XVIII. A partir do século XVII, a produção do tabaco, realizada principalmente por brancos,
passou a contar com 30% de mulatos e negros livres; de qualquer forma, nunca foi uma atividade da elite colonial:
dedicavam-se a ela os segmentos menos poderosos da sociedade.
A produção de aguardente e rapadura, embora reduzida, também era muito importante na troca por escravos africanos,
sendo realizada principalmente no litoral de São Vicente. O cultivo de algodão, mais intenso no Maranhão, estava ligado
inicialmente à confecção das roupas dos escravos, já que os senhores e suas famílias usavam tecidos vindos da Europa.
Porém, logo se transformou em produto de exportação.
A pecuária e a extração das drogas do sertão, atividades ditas secundárias foram, juntamente com as expedições
militares contra invasores estrangeiros e em busca de metais preciosos e índios, decisivas para a ocupação do interior
brasileiro e a ampliação das fronteiras da colônia.

6.4 – A OCUPAÇÃO DO NORDESTE E DA REGIÃO AMAZÔNICA


A criação de gado nasceu junto aos engenhos, como uma atividade complementar da rica empresa açucareira, e
deixou pouco a pouco o litoral para se transformar num importante elemento de ocupação do interior das capitanias do
Nordeste. Embora sua importância econômica fosse muito menor que a do açúcar, a pecuária oferecia a força motriz dos
engenhos, um meio de transporte, alimento e couro, usado na confecção de roupas, calçados, móveis e outros utensílios
tanto para os moradores dos engenhos, como para as populações das vilas.
A criação extensiva do gado, solto nas terras, necessitava sempre de novas pastagens, o que favoreceu seu avanço
pelo sertão. Já no século XVII a atividade dos vaqueiros alcançava as capitanias do Ceará e Maranhão, ao norte, e as
margens do rio São Francisco, ao sul, regiões onde surgiram importantes fazendas de gado, chamadas currais.
A criação de gado deslocou-se para o interior do Nordeste não só em busca de melhores pastagens, mas também para
evitar que os animais destruíssem os canaviais, originando, assim, fazendas com 200 a 1000 cabeças e até com mais de 20
mil animais. Numa estimativa do início do século XVII, o rebanho nordestino correspondia a cerca de 650 mil reses,
dobrando de número no princípio do século seguinte.
A atividade pecuarista utilizava principalmente trabalhadores livres, como mestiços de indígenas e negros. Como
pagamento, normalmente recebiam uma cria para cada quatro animais criados ao longo de cinco anos, o que servia de
estímulo ao vaqueiro. As dificuldades geradas pela crise açucareira atraíram muitos colonos de extratos sociais inferiores
para a pecuária. Assim, em contraste com a sociedade do açúcar, essa atividade permitia mobilidade social. No início do
século XVIII, a necessidade de abastecimento alimentar e de transporte para a empresa mineradora no Centro-Sul da
colônia impulsionou a pecuária nordestina e a atividade de criação na região sulina.
O combate à presença estrangeira, especialmente durante a União Ibérica, também contribuiu para a ocupação do
interior do Nordeste e da região amazônica. As fortificações construídas pelas expedições militares, organizadas para
combater as invasões, transformaram-se, com o tempo, em importantes cidades da região, como a fortaleza de Filipéia de
Nossa Senhora das Neves, fundada em 1584, na Paraíba, que se transformou na atual João Pessoa, e o forte dos Reis
Magos (1597), no Rio Grande do Norte, embrião da atual cidade de Natal. Na região amazônica, o governo da União
Ibérica decidiu pela criação do estado do Maranhão e do Grão-Pará, em 1621, fazendo de Belém a base para repelir as
investidas estrangeiras que colocavam em risco o acesso às minas de prata espanholas da região do Peru.
A ocupação do Amazonas contou ainda com apresadores de indígenas e jesuítas, fundadores de dezenas de aldeias de
catequese. Contudo, a principal base econômica para a ocupação da Amazônia foi a coleta de recursos florestais, as
chamadas drogas do sertão, como cacau, baunilha, guaraná e ervas medicinais e aromáticas, administrada pelos jesuítas,
que utilizavam o conhecimento e a mão-de-obra indígenas.

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6.5 – A EXPANSÃO PAULISTA


A pobreza da inicialmente prospera capitania de São Vicente, frente ao sucesso do empreendimento açucareiro no
Nordeste, levou à organização de bandeiras, expedições cujo objetivo era procurar riquezas no interior da colônia e
apresamento de nativos, além de ataques contratados a quilombos, como ocorreram posteriormente.
Diante da ocupação de Pernambuco e da região africana de Angola pelos holandeses, as demais capitanias não tinham
acesso a carregamentos de escravos. Assim, embora as primeiras bandeiras de apresamento de índios visassem obter mão-
de-obra para a pequena lavoura paulista ou a venda para regiões próximas, progressivamente passaram também a sanar as
dificuldades dos senhores de engenho do Nordeste, onde se localizava a maior produção agrícola baseada em mão-de-obra
escrava.
Muitas bandeiras atacaram as missões jesuítas do Oeste e Sul da colônia, capturando dezenas de milhares de nativos e
cobrando um valor mais alto pelos aculturados por estarem mais adaptados ao trabalho agrícola.
A atividade apresadora de índios entrou em decadência, com o fim do domínio espanhol e a retomada do comércio de
africanos pelos portugueses, normalizando o abastecimento de escravos para a colônia. Os paulistas, organizados em
bandeiras, dedicaram-se, então, a atacar aldeamentos de nativos insubmissos e de negros fugidos que viviam em
quilombos. Essas expedições, a serviço dos fazendeiros ou da administração colonial, eram chamadas de bandeiras de
contrato, destacando-se a de Domingos Jorge Velho, que venceu a resistência dos cariris e janduís e destruiu o quilombo
de Palmares, em fins do século XVII.
As mais importantes bandeiras foram, contudo, as destinadas à procura de metais preciosos, incentivadas pela
metrópole devido ao declínio da economia açucareira nordestina na segunda metade do século XVII. O financiamento das
expedições paulistas trouxe a descoberta de ouro na região de Minas Gerais – como em Vila Rica, atual Ouro Preto e
Sabará, depois Mato Grosso e Goiás, dando início à atividade econômica mineradora na colônia.
Portugueses, estrangeiros e colonos de outras áreas, apelidos pelos paulistas de emboadas (“forasteiros”), foram
atraídos para a região das minas, entrando em conflito armado com os descobridores das jazidas e terminando por expulsá-
los da região. Os bandeirantes paulistas dirigiram-se, então, para a região central da colônia; em 1719, Pascoal Moreira
Cabral descobriu ouro em Cuiabá e, em 1722, Bartolomeu Bueno Filho achou riquezas em Goiás.
Apesar de terem dizimado e submetido à escravidão muitos grupos indígenas, é inegável a contribuição das bandeiras
para a ocupação e povoamento do interior do Brasil, fundando povoados, criando vilas, dando início à exploração
mineradora e, sobretudo, ampliando as fronteiras da colônia além dos limites estabelecidos pelo tratado de Tordesilhas.

6.6 – A CONQUISTA DO SUL


O domínio português estendeu-se sobre o Sul da colônia com a destruição das missões jesuíticas pelas bandeiras de
apresamento de indígenas e a fundação, próximo à cidade de Buenos Aires, da colônia do Sacramento, em 1680.
Constituída a fim de garantir o limite mais meridional de sua colonização e a posse sobre o estuário do rio Prata, rivalizava
com a presença espanhola que escoava por ali sua produção mineradora de Potosi. O sucesso inicial da presença lusa no
extremo sul contou também com o apoio da Inglaterra, interessada no comércio da região.
Para sustentar a dominação lusa sobre a região Sul, criaram-se as estâncias, grandes fazendas de gado, cujo êxito foi
favorecido pelas condições naturais dos pampas, uma planície forrada de excelente pastagem, e pelo mercado consumidor
da região das minas. A pecuária sulista desenvolveu a produção de charque, carne-seca mais durável e fácil de transportar
e utilizar. Esse produto superou o predomínio anterior da produção do couro e tornou-se, progressivamente, a base da
economia da região, cujo controle, feito pelos portugueses, efetivou-se plenamente no final do século XVIII.

7 – CORSÁRIOS NO BRASIL

7.1 - CORSÁRIOS FRANCESES NO RIO DE JANEIRO


Nascera a Cidade do Rio de Janeiro da luta contra os franceses de Villegagnon Nascera militar. Encastoara-se numa
elevação estratégica, logo conhecida como Morro do Castelo, provendo a sua defesa na construção de baterias e pequenas
fortificações. Eliminado o perigo francês, alijados estes do litoral sul. Puderam os cariocas procurar os terrenos secos da
várzea, onde se desenvolveu a cidade durante o século XVII. Caminhos e ruas se foram formando sem ordem, à medida
que as casas iam sendo construídas ou que se erguiam as igrejas e conventos, maciços trabalhos que até hoje afrontam o
tempo. Dedicando-se ao cultivo da cana-de-açúcar, à pesca da baleia, mas, principalmente, ao comércio, sendo importante
o de escravos, a população da cidade prosperou e aumentou no decorrer do século XVII, atingindo a casa dos dez mil. A
descoberta do ouro no planalto trouxe a euforia a todos, sacudindo seus moradores da mansa vida que por mais de cem
anos desfrutavam. Trazia notoriedade para a cidade.
E constituiu essa a razão principal que moveu Jean François Duclerc a tentar tomar o Rio de Janeiro em 1710. A
cobiça do ouro. Auxiliou-o a política européia Portugal aliara-se à Inglaterra pelo célebre Tratado de Methuen (1703),
contrário à subida de Filipe d'Anjou, neto de Luis XIV de França, ao trono espanhol, como Filipe V.

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7.1.1 - A TENTATIVA DE DUCLERC


Com uma nau (L'Oriflame), quatro fragatas (LAtlante, La Diane, La Valeur, La Venus) e 1.300 homens, decidiu o
Capitão-de-navio Duclerc tomar o Rio de Janeiro Soubera quão fracas eram a tropa e a defesa da praça sob o governo de
Francisco de Castro Moraes, o qual, em vão, havia clamado junto ao rei sobre a necessidade de reaparelhamento geral. A
17 de agosto, surgiram os franceses na entrada da barra, arvorando bandeiras inglesas, estratagema que não funcionou.
Tiros cruzados impediram maior aproximação. Rumaram para o sul, desembarcando na Ilha Grande; nela saquearam
fazendas e obtiveram quatro escravos de Bento do Amaral da Silva que, daí por diante, lhes serviram como guias A
tentativa de atingirem as areias de Sacopenapan (Copacabana hoje) foi frustrada pelo Tenente Rodrigo de Freitas e por
alguns populares. Mas, a 11 de setembro, puderam descer em Guaratiba sem serem molestados.
Duclerc caminhou, com seus comandados, pelos capinzais da Tijuca, pilhando e depredando. Tocada a rebate na
cidade, acorreram os homens a se apresentarem aos seus oficiais. Somavam dois mil ao todo, e mais alguns voluntários.
Em conjunto levantaram uma trincheira que ia do Morro da Conceição ao de S Antônio (já demolido) e aguardaram o
invasor. Na Lagoa da Sentinela, houve combate com a Companhia dos Estudantes, comandada por Bento do Amaral
Coutinho, sem resultados. Os franceses prosseguiram pelo caminho de Mata-Cavalos (hoje Rua Riachuelo), encontrando,
na Lagoa do Desterro, um punhado de homens liderados por Frei Francisco de Menezes. Mas o frade, que já fora militar,
não logrou barrar o passo do invasor, que avançou em direção do Morro do Castelo. Não puderam subi-lo e tomar o Forte
de S. Sebastião, dada a resistência movida por populares Desistiu Duclerc de se apoderar desse morro, embrenhando-se
pelas ruas até chegar ao Largo do Carmo (hoje Praça XV), desnorteado e com a sua formação militar dispersa. No largo,
se generalizou o combate. Tentou o chefe francês abrigar-se no Convento do Carmo, desconhecendo que os seus
ocupantes eram exímios na arte da pancadaria... O governador, oficiais e suas praças chegavam ao largo, procedentes da
trincheira, cuia defesa não mais se fazia necessária. Quase bloqueado, Duclerc invadiu o trapiche de Luis da Mota,
esboçando uma resistência anulada pela presença de canhões apontados contra a construção. Preferiu capitular: 220
ficaram feridos; mortos, 450. Por parte da cidade as perdas tinham se elevado a trezentos, com igual número de feridos.
Alguns prédios estavam em chamas.
Distribuíram-se os soldados franceses nas guarnições militares em regime de prisão (600 provavelmente); os
comandantes dos navios que conduziram os invasores, inteirando-se do sucedido por um aviso mandado pelo próprio
Duclerc, deliberaram rumar para a Martinica. Dias depois, os oficiais franceses receberam ordem de embarcar para
Salvador e o Capitão Duclerc ficou encerrado no Colégio dos Jesuítas, de onde saiu, para uma casa da Rua da Quitanda,
com a cidade por menagem; apesar da guarda que o protegia, quatro mascarados invadiram-na e o assassinaram
(18.03.1711), constituindo esse crime, até hoje, um mistério.

7.1.2 - RENÉ DUGUAY- TROUIN APODERA-SE DA CIDADE


Homem habituado ao mar (era capitão-de-navio). Duguay-Trouin já havia concebido o ataque ao Rio de Janeiro e
encontrava-se em preparativos, quando as notícias do malogro de Duclerc e, logo depois, seu assassinato ecoaram na Corte
francesa. Esses fatos lhe deram um pretexto emocional. Reunindo navios dados pelo rei ao capital de acionistas (1.200.000
francos obtidos com de Coulange, de Beauvais, de Ia Sandre-le-Fer, de Belle-lsle-Pepin, de l'Espine d'Anican, de
Chapdelaine e do Conde de Toulouse) que acreditavam nas riquezas que devia possuir a cidade, Duguay-Trouin pôde
compor uma esquadra de 17 navios (capitânia Le Lys, 74 peças) e obter 5.764 homens. Durante a viagem apresou um
navio inglês.
Prevenido pela metrópole, o Governador Castro Moraes organizou a defesa, concitando o General-de-Batalha-do-Mar
Gaspar da Costa Ataide, apelidado "o Maquinês", a que colaborasse, utilizando os homens e os recursos de seus quatro
navios, que estavam casualmente no porto do Rio. O efetivo total da cidade atingia 3.270 homens, muitos dos quais índios,
ou populares, pouco afeitos à profissão das armas.
A 12 de setembro de 1711, despontaram os franceses na entrada da barra, forçando-a, graças a um pequeno nevoeiro.
Os tiros dos fortes litorâneos não impediram a entrada dos franceses, apesar de terem provocado trezentas baixas Nave-
garam, lentamente, em direção da Ilha de Villegagnon, sem serem molestados, pois a fortificação nela instalada
encontrava-se inoperante por causa da explosão do paiol de pólvora. Bombardearam a cidade, ao mesmo tempo que
procuraram tomar as naus do Maquinês, conseguindo apenas uma, pois as outras foram inutilizadas por ordem de seu
comandante
Solicitou, o governador, que o Maquinês garantisse, com seus homens, a Ilha das Cobras, ponto vulnerável. Mas não
sabemos até hoje porque esse militar, tão famoso em guerras passadas, negligenciou a sua parte, permitindo que os
franceses tomassem a ilha nessa mesma noite. Tiros foram trocados com peças assestadas no Mosteiro de S. Bento, mas
sem proveito algum. Na manhã de 14, Duguay-Trouin desembarcou seus homens na praia de S. Diogo, perto da Bica dos
Marinheiros, e ocupou os morros de S. Diogo, Livramento e Conceição, instalando, neste último, na casa do bispo, o seu
quartelgeneral. Do dia 15 ao 18, os invasores fustigaram a cidade com seus canhões. Castro Moraes procurou resistir, ao
mesmo tempo que pedia ajuda às capitanias vizinhas. Apenas de Parati chegavam 580 homens, sob o comando de
Francisco do Amaral Gurgel.
No dia 19, um emissário francês exigia a rendição. Castro Moraes respondeu: "... Enquanto a entregar-vos a cidade
pelas ameaças que me fazeis, havendo me ela sido confiada por El-Rei, meu Senhor, não tenho outra resposta a dar-vos

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senão que a hei de defender até a última gota de meu sangue". Mas, na tarde do dia seguinte, os militares e notáveis da
cidade, reunidos em conselho pelo governador, votaram unanimemente pelo abandono da praça e a concentração em outra
posição, com o auxílio de reforços, para se proceder a um contra-ataque. Ordenada a retirada, esta se verificou no correr da
noite, transformando-se numa fuga desordenada e vergonhosa, em meio a um temporal fantástico, onde não foram poucos
os saques às propriedades da área rural. Concentraram-se todos em Moxambomba (hoje Nova Iguaçu). Os próprios
prisioneiros da expedição anterior, logrando evadirem-se, avisaram, na manhã de 21, ao comandante francês, que a cidade
se encontrava em suas mãos. Os fortes se renderam.
Donos da cidade, os franceses procederam a uma completa pilhagem, enquanto se calavam as últimas resistências
esparsas, momento em que morreu Bento do Amaral Coutinho. Duguay-Trouin não ficou satisfeito com o saque: exigiu do
governador um resgate, para não terminar de destruir a cidade. Tentou ganhar tempo Castro Moraes, mas, pressionado
pelos principais, que temiam perda de suas propriedades, acabou cedendo em pagar a soma de 610.000 cruzados, além de
cem caixas de açúcar e duzentos bois Como se imaginava, chegaram os reforços do planalto, comandados por Antônio de
Albuquerque Coelho de Carvalho, que, inexplicavelmente, não se empenhou em nenhuma ação militar com os seus seis
mil companheiros
A 13 de novembro, partia Duguay-Trouin com uma expressiva presa, cujos lucros foram fixados em 95%. Pensou
atacar Salvador a pretexto de livrar os oficiais de Duclerc ainda presos. Ventos difíceis o impediram, perdendo, mesmo,
dois navios. Do rei francês, recebeu a promoção a chefe-de-esquadra e a comenda de S. Luis e, da História, a fama de
marujo audaz. Escreveu depois um livro de memórias.
O povo do Rio de Janeiro atribuiu a Castro Moraes a sua desventura. Alcunhou-o de grosseiro nome e instou para que
Albuquerque assumisse. Realmente, o governador não estava à altura de exercer um comando militar; tivera êxito em
1710, como conseqüência do malogro do adversário, não por sua tática militar A sua incapacidade se demonstrava diante
de um chefe como Duguay-Trouin. Castro Moraes foi preso, bem como outros oficiais, abrindo-se logo uma devassa, com
ouvidores da Bahia, que concluíram pela culpabilidade de todos, remetidos, em seguida, para o Reino. O governador
perdeu os seus bens e partiu, deportado, para o Industão, somente reabilitado em 1730; os militares receberam castigos
severos e destinos semelhantes. Menos o Maquinês, contra quem nada se imputou. Uma segunda devassa aberta em Lisboa
e terminada em 1716 concluiu pela culpabilidade de Gaspar da Costa, condenado à prisão, pena que não se aplicou por
falecimento do réu. Antônio de Albuquerque foi, também, censurado pela sua atitude, perdendo a governança.

7.2 - CORSÁRIOS INGLESES


Os ingleses interessaram-se pelas riquezas nativas do Brasil ainda no século XVI William Hawkins, em comando do
navio Paul of Plymouth, realizou três viagens proveitosas à costa brasileira em 1530, 1536 e 1540.
Mas, as correrias de flibusteiros ingleses nos mares brasileiros ocorreram quando o Brasil, seguindo o destino de
Portugal, passou a ser administrado pela Espanha A rivalidade existente entre esta potência e o reino de Elizabeth I, que
projetava a Inglaterra nos mares, explica as incursões inglesas nos lados meridionais do Oceano Atlântico Devemos,
também, assinalar a existência das cartas de John Whithall, inglês radicado em Santos, enviadas a parentes, narrando a
presença de pepitas de ouro; elas aguçaram os corsários, contribuindo, assim, para as viagens de alguns deles.
Em 1583, Edward Fenton, com dois navios, investiu sobre a vila de São Vicente, travando combate com três galeões
espanhóis, comando de André de Equino, que se encontravam no local. Depois de cinco dias, Fenton desistiu da empresa,
apesar de ter afundado um dos galeões. Um dos navios ingleses, capitaneado por Luke Ward, rumou imediato para a
Inglaterra; Fenton ainda fez aguada no Espírito Santo e tentou comerciar com o donatário Vasco Fernandes Coutinho.
Em 21 de abril de 1587, Robert Withringhton e Christopher Lister, cada um comandando uma nau de guerra e
contando com mais duas embarcações, entraram na Baía de Todos os Santos, apresando pequenos navios mercantes. A
cidade de Salvador resistiu, mas os dois corsários saquearam as fazendas do recôncavo até junho. Durante esse período,
houve diversos pequenos combates com perdas de ambos os lados.
Quando Thomas Cavendish (o corsário elegante) resolveu incursionar no Brasil, já havia realizado a famosa viagem
de circunavegação do globo, a terceira que se tinha notícia. Sua esquadra era composta de um galeão, duas naus e dois
navios menores, com quatrocentos homens de guarnição Em Cabo Frio, apresou um navio português; desembarcou na Ilha
Grande, onde fez aguada e provocou desordens. Em seguida, atacou a Vila de Santos (15.12.1591) e dela se apoderou,
saqueando-a. O mesmo destino encontrou a Vila de São Vicente. Cavendish deixouas parcialmente destruídas e
incendiadas. Satisfeito, levantou ferros em 03.02.1592, velejando pelo litoral sul. Atingiu o Estreito de Magalhães
Dificuldades várias o pressionaram a regressar pelo Oceano Atlântico. Perto de Santos obteve alguns víveres. Resolveu
atacar, de novo, a vila, mas os habitantes repeliram os intrusos. Cavendish rumou para o norte, atingiu Vitória e
desembarcou uma força de ocupação. Em renhido combate, os habitantes e mais índios guerreiros destroçaram o
contingente inglês Na Ilha de São Sebastião abandonou 20 feridos, dos quais apenas dois sobreviveram, sendo um deles
Antony Knivet, que escreveu curioso relato de suas aventuras. Cavendish faleceu, com 37 anos, nessa viagem de retorno à
Inglaterra James Lancaster, tendo como colaborador Edward Fenner, apresentou-se diante de Recife e Olinda com uma
armada de 12 navios em abril de 1595. Os moradores não dispunham de forças para efetuar uma resistência. Recife foi
tomada. Quatro dias depois, chegaram três naus e dois navios menores sob o comando do francês Jean Noyer que se
associou aos ingleses. Durante 31 dias, a vila do Recife foi saqueada. Os recifenses hostilizaram os corsários com guerra
de guerrilhas e muitos foram mortos, inclusive Jean Noyer. Mas o resultado econômico da empresa mostrou-se excelente
para os invasores.
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HISTÓRIA 2 CURSO ASCENSÃO
Os ingleses ambicionaram se estabelecer na região amazônica, com visíveis interesses de colonização. Em 1604,
Charles Leigh comerciou com os indígenas locais; o mesmo ocorreu com Robert Harcourt em 1609. A partir de abril até o
final do ano de 1610, Sir Thomas Roe realizou minucioso reconhecimento hidrográfico, visando à descoberta de riquezas.
Retomou à Inglaterra, mas enviou duas expedições até 1614, época em que deve ter sido construído pequeno reduto na
embocadura do Rio Amazonas. Sabedor que a região amazônica podia proporcionar muitas vantagens, o Capitão Roger
North obteve uma concessão real (1619) e formou, com nobres e pessoas de dinheiro, uma companhia de exploração.
North, escolhido governador da colônia a ser implantada, organizou uma expedição que se lançou ao mar em 30.04.1620.
Em sete semanas, alcançou a foz do Amazonas navegando até a confluência do Rio Genipapo, onde já existiam ingleses.
Nesse local estacionou. North regressou, depois, à Inglaterra.
Na Amazônia, o posto avançado da colonização portuguesa era o Forte do Presépio; governava-o, desde 18 de junho
de 1621, Bento Maciel Parente, que tudo informava à metrópole do avanço dos ingleses. De Lisboa, chegava ao Brasil uma
nau artilhada, de reforço, sob o comando de Luiz Aranha de Vasconcelos. Aranha penetrou no Rio Amazonas até o Xingu,
tendo destruído os fortes holandeses de Maturu e Nassau; retornou a Belém com muitos prisioneiros. Na mesma ocasião,
Parente excursionou no Rio Amazonas combatendo o posto inglês fundado por North. Pouco depois, as duas expedições,
de Parente e de Aranha, juntaram-se, ocasião em que foi atacada uma nau holandesa comandada por Pieter Adriaansz, que
preferiu atear fogo ao seu navio para que o mesmo não caísse em mãos dos portugueses. Parente erigiu um forte no
Gurupá e o guarneceu com 50 homens.
Os estrangeiros não desistiram das luxurientas terras amazônicas! Em 1625, o irlandês James Purcell e o holandês
Nikolaas Oudaen fixaram-se na foz do Xingu (Mandiutuba). Tão logo as notícias chegaram ao Forte do Presépio, Parente
determinou que Pedro Teixeira, Jerônimo de Albuquerque e Pedro da Costa Favela, conduzindo cinqüenta soldados e
trezentos índios, desalojassem os intrusos. Participava desta expedição Frei Antônio da Marciana. Atacaram o inimigo no
dia 23 de maio de 1625, bipartindo as forças por terra e embarcadas em canoas. Durante a noite, os ingleses e holandeses
fugiram agasalhando-se em outras duas casas fortes que possuíam rio abaixo. Pedro Teixeira perseguiu-os, juntamente
com Costa Favela, matando alguns e fazendo muitos prisioneiros, inclusive Purcell, que obteve a liberdade em seguida. No
meio do ano de 1627, Roger North, Robert Harcourt e mais 55 associados fundaram a Companhia da Cuiana. No início do
ano de 1628, 112 colonos deslocaram-se para a Amazônia chefiados por James Purcell Sem serem incomodados, ergueram
fortim de madeira no Tucuju, nas vizinhanças do estabelecimento que Pedro Teixeira arrasara quatro anos antes. Pedro
Teixeira recebeu a incumbência de combater os estrangeiros; em setembro de 1629, fortificou-se perto dos inimigos.
Teixeira contava com 120 soldados e 1.600 índios; com essa gente cercou o forte que tinha o nome de Torrego. Em 24 de
outubro, os do forte se entregaram. Teixeira fez 180 prisioneiros incluindo /ames Purcell que, pela segunda vez, caía em
mãos dos portugueses. A Companhia da Guiana não esmoreceu: em outubro, logo após a rendição do Forte Torrego, e
perto dele, duzentos colonos ergueram o Forte North e prosperaram. Somente em 1631, mês de janeiro, pôde o
Governador do Pará, Lácome Raimundo de Noronha, organizar uma expedição contra estes ingleses. O combate foi
sangrento em razão da resistência oferecida pelos ingleses. Com a fuga e morte destes, Noronha desmanchou o reduto e
retomou a Belém. A última tentativa inglesa ocorreu ainda nesse mesmo ano de 1631, financiada pelo Conde de Berkshire.
O Capitão Roger Fry, conduzindo um navio e quarenta homens, erigiu o Forte de Cumau, próximo à foz do Rio Matari.
Contra eles partiu Feliciano Coelho de Carvalho, com 240 soldados e cinco mil índios, utilizando 127 canoas Fry morreu
nos combates que se travaram. Os ingleses retiraram-se, e Feliciano Coelho arrasou o forte.

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