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V - VIKINGS
Embora viking signifique guerreiro, os vikings eram um povo das enseadas abundantes tanto na Dinamarca,
país de planícies arenosas, através das quais se desenhavam tortuosos canais marítimos, como na Noruega, pátria dos
fjords, gargantas escarpadas que levam as ondas até o coração dos montes, em alguns pontos por centenas de milhas.
Aqui e além, ao longo do curso sinuoso desses fjords, um pedaço de terra fértil entre o precipício e o estuário dava
lugar a campos de trigo e a um grupo de casinhas de madeira. Próximo, uma encosta alcantilada trazia a espessa
floresta até a borda da água, atraindo o lenhador e o construtor de barcos. Ao cimo de tudo, os cordões nus das
montanhas erguiam-se até os campos gelados e os cumes glaciais, dividindo os povoados dos fjords uns dos outros,
como pequeninos reinos, atrasando por séculos a união política da Noruega e lançando os habitantes intrépidos para o
mar, em busca de alimento e fortuna. Traficantes de peles, caçadores de baleias, pescadores, mercadores, piratas e ao
mesmo tempo assíduos cultivadores do solo, os escandinavos tinham sempre constituído um povo anfíbio. Desde que
ocuparam a sua terra, em data indeterminada da Idade da Pedra, o mar fora sempre o seu caminho de povoado para
povoado e o único meio de comunicação com o mundo exterior. Até o fim do século VIII, a área da pirataria dos
vikings confinara-se principalmente às costas do Báltico. Tinham-se contentado eles em se saquearem
reciprocamente e aos vizinhos mais próximos, mas no tempo dos romanos, ao que parece, já infestavam as costas da
Gália Belga e da Bretanha. Ao que consta só na época de Carlos Magno começaram a atravessar o oceano e a atacar
os países cristãos do ocidente. Foram precisos séculos de experiências e sem dúvidas inúmeros naufrágios para que os
vikings aprendessem a conhecer as etapas e as épocas favoráveis. Pouco a pouco eles aprenderam a passar de ilha em
ilha aproveitando o bom tempo e a construir navios maiores.
Desde o fim do século VIII ou do começo do IX, quando seus exércitos e suas frotas aumentaram em número e
em importância as expedições vikings alongaram-se. Essas expedições regularizaram-se em seguida, cada burgo
fornecendo um número determinado de navios. O sucesso das primeiras expedições de grande envergadura e o
superpovoamento relativo do norte contribuíram assim, em grande medida, para arrancar homens de seus lares,
particularmente em certas regiões, como as ilhas dinamarquesas, onde, por força de lei, uma parte do povo devia
emigrar desde que o superpovoamento se acentuasse. A fome, depois de uma má colheita nesses climas inóspitos, por
vezes, lança povoados inteiros em busca de novas terras pois os homens do norte sentiam a falta de águas piscosas e
de terras abundantes em caça. O caminho dos cisnes como cantavam em suas canções, fornecia-lhes o que recusava a
terra mal cultivada ou estério ou a pesca insuficiente para remediar a fome. Tornando-se mais audaciosos nas suas
navegações, empreenderam viagens que mesmo depois da agulha magnética foram apenas renovadas. Foram três as
rotas básicas escandinavas durante a era viking. Primeiro, a oriental, seguida principalmente pelos suecos, que
penetraram no coração dos territórios eslavos até Novgorod e Kiew, fundando o primeiro estado russo e daí descendo
pelo Dnieper abaixo para atravessar o mar Negro e importunar as muralhas de Constantinopla. As outras duas rotas
desenhavam-se ao ocidente. Havia a rota seguida principalmente pelos noruegueses, a qual poderemos chamar a linha
exterior, levava às mais aventurosas viagens marítimas, ao povoamento da Islândia e da Groenlândia, à descoberta da
América do Norte; conduzia às Orkneys, Saithness, Ross, Galloway e Dunfries, onde grande escandinavas trouxeram
o primeiro elemento nórdico à vida dos Higlands e do sudoeste da Escócia. Foram ainda os noruegueses que
conquistaram as Hébridas, a oeste da Escócia, e descobriram 35 ilhas que chamaram de Faroe. O Mainland e as 45
ilhas que a cercaram, ilhas famosas pela pesca do arenque, foram também descobertas pelos vikings. Por essa linha
exterior, vieram estabelecer-se importantes colônias norueguesas em Cumberland, Westmoreland, Lancashire,
Cheshire e na costa da Gales do Sul. A Irlanda foi durante algum tempo invadida, e Dublin, Cork, Limerick, Wicklow
e Waterford foram fundadas como cidades Dinamarquesas. Enquanto os suecos dirigiam-se para Rússia e para a Ásia,
os noruegueses descobriam a rota para a Irlanda pelo norte da Escócia e, mesmo fazendo escala na Groenlândia, iam
até a América procuram pelos e os Dinamarqueses tinham escolhido a rota interior que, mais próxima de seu país,
conduzia às costas da Escócia, da Northumbria e da Neustria.
É em 787 que pela primeira vez a crônica anglo-saxônia descreve a chegada à Inglaterra de três navios de
homens do Norte, vindos do país dos ladrões. A partir do ano de 793, as curtas notas anuais da crônicas contem,
quase todas, referências a alguma incursão dos pagãos. Ora eles pilhavam um convento e massacravam os monges,
ora as ordas pagãs espalhavam a devastação entre os Northumbrios. Pouco a pouco a importância das frotas inimigas
cresceu. Em 851, pela primeira vez os pagãos passaram o inverno na ilha de Thanet; no mesmo ano, 300 de seus
barcos vieram a embocadura do Tamisa, e suas guarnições tomaram de assalto Cantuária e Londres.
Lentamente, durante 50 anos ou mais, antes que o movimento atinja seu zênite, toda a Noruega e toda a
Dinamarca despertam para a verdade de que não havia poder marítimo a defender as Ilhas Britânicas ou o famoso
império Carolíngio; que os anglo-saxões e os francos eram gente terrestre e que os irlandeses utilizavam pequenos
barcos de couro. O mundo estava assim exposto ao poder marítimo viking.
Nos anos seguintes, os pagãos foram chamados por seu nome real, dinamarqueses, e as crônicas referem-se aos
movimentos dos exércitos, fortes, às vezes de dez mil homens. Bem equipados, bem armados, muito hábeis em
construir campos fortificados, obedecendo cegamente aos reis do mar, seus chefes, os vikings, guarneciam, em
grupos de 60 a 70 homens, os seus navios de sólida construção, as drakkas e desembarcavam em locais de onde
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pudessem enfrentar com êxito a reação dos habitantes do país invadido. Foi assim que Noirmontiers tornou-se sua
base no litoral da França, Thanet no da Inglaterra e a ilha de Man no mar da Irlanda. Os que operavam na França
vinham, sobretudo, da Dinamarca, reunidos em pequenas flotinhas que perlongavam a costa. Subiam os rios,
saqueavam as igrejas e destruíam as cidades, ou para poupar o país faziam-se pagar um resgate calculado em libras de
prata. Os primeiros bandos haviam aparecido antes dos fins do reinado de Carlos Magno, mas, depois doa meados do
século IX, esses invasores estabeleceram-se com suas famílias em campos entrincheirados junto à embocadura dos
rios, donde todas primaveras partiam para agir no interior. Além da ilha Noirmontiers, os normandos instalaram-se na
foz do rio Sena e subiram o rio Garona, Saqueando as cidades. Até cerca de 860, entretanto, ocuparam na França
apenas pontos da costa e algumas ilhas, fazendo ocasionalmente expedições de saque pelo interior. Depois, as
expedições transformaram-se em verdadeiras migrações. Nos anos seguintes, os normandos embrenharam-se pelo
interior da França, devastando uma enorme região e chegando mesmo a sitiar Paris em 886.
Os vikings que seguiam a linha exterior e os que seguiam a linha interior muitas vezes se cruzavam no
caminho. Encontravam-se dinamarqueses e noruegueses na Normandia, no sul da Irlanda e no norte da Inglaterra, e
ambos penetravam indiferentemente na Hispânia, no Mediterrâneo e no Levante.
Toda essa espantosa exploração que tocou a costa norte americana 5 séculos antes de Colombo, esse habitual e
quase diário desafio das tempestades da Costa Wratch e das Hébridas, foi levado a cabo em longos barcos
descobertos, impelidos a remos manobrados pelos próprios guerreiros com o auxílio de uma única vela. A coragem e
a perícia naval de marinheiros que se aventuraram em tais barcos a empreender tais viagens, nunca foram
ultrapassadas na história marítima. Muitas vezes pagaram a sua ousadia. O Wessex, no tempo do rei Alfredo, salvou-
se uma vez graças ao naufrágio de uma esquadra inteira, quando uma tempestade lançou 120 galés dinamarquesas
contra os penhascos de Swanage.
Em quase todas as regiões em que dominaram pelas armas, os vikings acabaram assimilados pelas populações
vencidas. Na Grã-Bretanha, os dinamarqueses e noruegueses ou foram repelidos ou fundiram-se com os anglo-saxões
com o decorrer dos anos. Na França, não são bem conhecidas as circunstâncias segundo as quais o rei dinamarquês
Rollon obteve território que veio constituir o Ducado da Normandia. Estabelecidos nos férteis campos da França,
pouco a pouco os normandos perderam os hábitos violentos e adotaram a língua e a cultura francesa.
Nos séculos que se seguiram, o espírito aventureiro dos descendentes dos vikings levou-os a participarem de
muitas empresas guerreiras, tais como a conquista da Inglaterra em 1066 por Guilherme, o Conquistador, a expulsão
dos árabes do sul da Itália e da Sicília, e as Cruzadas. Em poucas gerações, contudo, os normandos mudaram
radicalmente seus hábitos antigos, e a Normandia converteu-se numa região conhecida tanto pela excelência de seus
rebanhos e de seus pomares quanto pela fama de seus marinheiros e pescadores.
Em síntese, a história dos nórdicos é um flagrante exemplo da influência da geografia na evolução de um povo.
Talvez mas ainda que nas histórias gregas e fenícias, a natureza especial das regiões escandinavas explique a epopéia
viking.
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1 - FRANÇA
O desenvolvimento comercial e urbano encontrou um
sério obstáculo na permanência das estruturas feudais. A
diversidade regional e política, típica do feudalismo, com os
vários feudos e seus poderes locais, constituíam um estorvo ao
comércio, na medida em que diversos senhores interferiam nas
relações comerciais, cobrando impostos dos mercadores. Além
disso, inexistia unidade monetária legal ou mesmo de pesos e
medidas na Europa, dificultando as transações comerciais.
Dessa forma, para a nascente burguesia européia, ou seja, os
comerciantes, seria conveniente um poder centralizado que
impusesse normas e facilitasse o comércio, sobrepondo-se aos
poderes locais da nobreza feudal.
Ao mesmo tempo, os diversos reis europeus tinham
interesse em promover a centralização política, como forma de
reforçar sua autoridade, subordinando a nobreza e limitando o
poder da Igreja. A comunhão de interesses entre rei e burguesia
acabou levando à gradativa aproximação de ambos durante a
Baixa Idade Média, o que transformaria inteiramente as
relações e desencadearia o processo de formação das
monarquias centralizadas.
O processo de centralização francês tem sua origem, a
partir do século XII, na atuação dos reis da dinastia
capetíngia, fundada em 987 por Hugo Capeto e estendo-se até
1328.
O primeiro dos reis capetíngios importantes para o
processo centralizador francês foi Felipe Augusto ou Felipe II
(1180-1223). Usando como pretexto a necessidade de combater
os ingleses que ocupavam o norte da França, esse monarca
iniciou a cobrança de impostos em todo o território francês,
seguida da montagem de um poderoso exército que garantiria o
poder real e o domínio de um território unificado.
Tinha o início a transformação da monarquia feudal,
centrada nos feudos e comandada pelos susersanos/vassalos
locais, em Estado centralizado. Após derrotar os ingleses,
utilizou seu poder armado para impor à nobreza, nomeando
fiscais reais, chamados bailios ou senescais. Estes percorriam
todo o reino, não apenas garantindo a cobrança de impostos
como também fazendo prevalecer as leis e a justiça real sobre
as dos nobres locais. A aliança com a burguesia se expressava
igualmente na venda de cartas de franquia aos burgos que
quisessem contar com a proteção real contra a recusa dos
senhores feudais em liberar os burgos de seu controle.
Luís IX (1226-1270) levou adiante o processo de centralização, organizando uma rede de tribunais reais e
instituindo uma moeda de circulação nacional. Participou da sétima e da oitava cruzadas, ambas fracassadas,
falecendo na última delas. Após sua morte, foi canonizado pela Igreja como São Luís.
Felipe IV, o Belo (1285-1314) deu continuidade ao empreendimento iniciado por seus antecessores.
Herdando um Estafo já fortalecido, preocupou-se com sua legitimação, criando, em 1302, a assembléia dos Estados
Gerais, os poderes dos quais o primado da soberania real. Compunha-se dos representantes das três parcelas que
formavam a sociedade francesa: clero, nobreza e comerciantes das cidades, excluindo as camadas pobres da
população. Tal assembléia tinha caráter meramente consultivo, não constituindo um corpo legislativo, e era
convocada de acordo com a vontade do monarca.
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Apoiado pela assembléia Felipe IV decidiu em favor da taxação sobre os bens da igreja. Teve início, então,
grave crise, envolvendo a participação do papa Bonifácio VII, que chegou até a ameaçar o rei de excomunhão. A
morte do papa em 1303 fez com que Felipe IV interferisse na escolha do sucessor, impondo o nome de um cardeal
francês, que viria a ser o papa Clemente V, e forçando a transferência da sede da igreja de Roma para cidade de
Avignon, no sul da França.
Tal episódio iniciou o período que ficou conhecido como cativeiro de Avignom: durante 70 anos os papas
submeteram-se à autoridade do rei da França, o que demonstra claramente o fortalecimento desses monarcas. A
nomeação de um outro papa em Roma, no mesmo período, desencadeou o Cisma dos Cem Anos, com a divisão da
autoridade suprema da Igreja católica entre dois papas.
De qualquer forma, tudo apontava para a formação de um sólido Estado centralizado na França, país que se
encontrava na vanguarda da marcha centralizadora européia. Entretanto, sobreveio a Guerra dos Cem Anos, que
abortaria, ainda que temporariamente, o fortalecimento do poder monárquico no país.
Necessitando da nobreza para fortalecer seu exército em meio a
uma guerra particularmente violenta e prolongada, a monarquia
francesa passou por relativo enfraquecimento. A insatisfação burguesa
com as primeiras derrotas na guerra, a fome generalizada no país e o
advento da peste negra só dificultaram a situação. Finalmente,
eclodiram as rebeliões camponesas, chamadas jacqueries (uma alusão
à expressão francesa Jacques Bonhomme, que equivale em português a
“joão-ninguém”); a mais importante delas em 1358, caracterizada pela
invasão de castelos e assassinatos de senhores.
Somente a partir do início do século XV, os franceses
obtiveram vitórias militares decisivas, por ocasião de um grande
levante popular contra os ingleses, quando prevaleceu um forte
sentimento nacionalista encarnado, sobretudo na figura de Joana
D’arc. Filha de camponeses humildes, Joana D’arc tornou-se o
principal mito da época e colocou definitivamente entre os maiores
mártires franceses de todos os tempos.
Dizendo-se enviada por Deus para guiar seus compatriotas na
expulsão de exército inglês, ela participou de diversos combates que
resultaram em vitória para os franceses. Também velou Carlos VII a
ser coroado em Reims, segundo as antigas tradições dos francos. Após
ter sido aprisionada e entregue aos ingleses, em 1430, Joana D’arc foi
acusada de heresia e condenada à morte por um tribunal eclesiástico.
Os franceses continuaram a luta contra o inimigo inglês, terminando por expulsá-lo definitivamente de seu
território em 1453. Foi nesse contexto que se organizou e consolidou o Estado nocional francês.
2 – INGLATERRA
No início da Idade Média, a ilha da Grã-Bretanha foi ocupada
por bárbaros germânicos, especialmente anglos e saxões. No ano de
1066, os normandos – vindos do norte da atual França – invadiram a
Inglaterra e, chefiados pelo rei Guilherme, o Conquistador,
derrotam os anglo-saxões na batalha de Hastings. Essa invasão tardia
ajudou a fortalecer as estruturas feudais na ilha, ao contrário do que
acontecia no continente. Guilherme dividiu o reino em condados, os
shires, controlados pela nobreza e fiscalizados por funcionários
chamados sheriffs.
Em 1154 a dinastia normanda foi substituída pela angevina ou
Plantageneta, cujo primeiro rei foi Henrique II (1154-1189). Esses
monarcas buscaram o fortalecimento do podre real por meio do
estabelecimento da justiça real e da common law, conjunto de leis a
ser aplicado em todo o território.
Seu sucessor, Ricardo I, ou Ricardo Coração de Leão (1189-1199),
envolveu-se em guerras com a França e na terceira cruzada, e sua
ausência contribuiu para debilitar o poder real na Inglaterra. A
insatisfação da nobreza com o rei atingiu seu ponto culminante no
reinado do sucessor de Ricardo, seu irmão João sem Terra (1199-
1216).
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Tomando parte em guerras contra a França e indispondo-se com o papa, esse monarca gerou
descontentamento crescente entre a população com a cobrança de impostos cada vez mais elevados, inclusive com a
tentativa de taxação dos bens da Igreja. Enfrentou a revolta da nobreza que acabou por lhe impor a Magna Carta
(1215), que determinativa que, a partir de então, o monarca só poderia criar novos impostos ou alterar leis com a
aprovação do Grande Conselho, órgão formado por membros do clero e da nobreza.
Desse modo, o poder real foi fortemente limitado na Inglaterra, retardando o processo de centralização
política. O grande Conselho pode ser considerado o embrião do atual Parlamento inglês. Na medida em que era
controlado inicialmente por membros da velha ordem feudal, seu caráter era relativamente conservador. Só que em
1265 novas medidas estabeleceram a admissão de burgueses no Grande Conselho.
Mantendo uma estrutura política descentralizada, a Inglaterra envolveu-se na Guerra dos Cem Anos contra a
França. Nas origens da guerra, estava a disputa por territórios no norte da França, notadamente a próspera região
têxtil de Flanders (atual Bélgica). Disputas sucessórias desencadearam a conflito em 1337.
Os ingleses obtiveram vitórias iniciais importantes, o que não impediu que passassem por dificuldades
internas durante a guerra. Assim como na França, a peste negra e as rebeliões camponesas (destacando-se levante
liderado por Wat Tyler e John Ball, em 1381) transtornaram a vida da população, e o prolongamento da guerra ajudou
a enfraquecer a nobreza.
Ao seu final, no século XV (1453), iniciou-se uma disputa pela sucessão do trono inglês que enfraqueceria
ainda mais a nobreza. A Guerra das Duas Rosas, como ficou conhecida, devido às rosas que faziam parte do brasão
das duas famílias em disputa, York e Lancaster, abriu caminho para a centralização política do país.
3 – PORTUGAL E ESPANHA
Inicialmente povoada por iberos, celtas e ligures, a península Ibérica sofreu a invasão dos visigodos, no final do
império Romano, e dos árabes, no século VIII. A formação dos Estados nacionais da região está estreitamente
vinculada à Guerra de Reconquista dos territórios tomados pelos muçulmanos, na Baixa Idade Média.
A religião islâmica foi levada para a península Ibérica, onde já existia o cristianismo, pela invasão árabe,
iniciada em 711. Devido ao avanço muçulmano, os cristãos só conseguiram manter reinos independentes no norte da
península, na região montanhosa das Astúrias. Seria daí que partiria o movimento da Reconquista, a partir do século
XI.
Durante esse processo, organizaram-se os reinos de Leão, Navarra, Castela e Aragão. Os dois últimos, além de
anexarem os demais reinos, uniram-se em 1479, por meio do casamento de seus monarcas, Fernando de Aragão e
Isabel de Castela, os chamados “reis católicos”.
Essa união real deu origem ao Estado centralizado espanhol, que, no entanto, só se consolidaria com a
conquista de Granada, último reduto árabe ao sul na península, e a conseqüente expulsão dos mouros, 1942.
Quanto a Portugal, suas origens remontam à doação de terras feitas pelo rei Afonso VI de Leão a Henrique de
Borgonha, nobre francês participante da Guerra de Reconquista. [Lembre-se de que não havia exércitos nacionais e
que, em caso de guerras, as forças militares eram formadas por nobres cavaleiros. Essa era uma forma de os nobres
que sofriam as conseqüências da lei da primogenitura obterem terras e rendas.]
O feudo foi doado a Henrique de Borgonha juntamente com seu
compromisso matrimonial com a filha ilegítima do rei, Dona Teresa. As terras
doadas correspondiam ao condado Portucalense. A independência desse feudo
em relação ao reino de Leão seria conseguida, após muitas disputas familiares,
em 1139. Nessa ocasião, o filho de Teresa e Henrique, D. Afonso Henriques,
teria expulsado sua mãe de Portugal por defender a sujeição a Leão, para
garantir a independência do território.
Assegurada a independência, inicia-se a dinastia de Borgonha, a primeira
de Portugal, dando prosseguimento à guerra contra os muçulmanos e
expandindo as fronteiras do reino para o sul. À medida que se estendia o
território, a monarquia fazia doações de terras à nobreza guerreira, sem, no
entanto, lhes dar a posse hereditária. Desse modo, em Portugal, ao contrário do
que aconteceu no resto da Europa, evitou-se a formação de uma nobreza
proprietária e autônoma, mantendo-se a hegemonia da autoridade real.
O setor mercantil da sociedade portuguesa medieval, por sua vez,
consolidou-se com a transformação de Portugal em escala da rota marítima que
ligava o Mediterrâneo ao norte da Europa. Essa rota ganhou maior importância,
principalmente, a partir do século XIV, quando a insegurança gerada pela crise
européia, em um panorama marcado por guerras e a peste negra, levou à busca
de novos entrepostos comerciais.
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Em 1383, a morte de Fernando I, o último rei da dinastia de Borgonha sem herdeiros diretos, desencadeou
acirrada disputa sucessória. Parte da nobreza apoiava a entrega da coroa portuguesa ao genro de D. Fernando, o rei de
Castela, representante de uma política eminentemente feudal.
Os comerciantes, aliados a setores populares, entretanto, conseguiram impor o nome de D. João, ao trono. Foi
chamada Revolução de Avis. Em 1385, na batalha de Aljubarrota, a derrota das tropas castelhanas garantiu a
ascensão de D. João ao trono, dando origem à dinastia de Avis. A nova dinastia foi marcada pela aproximação dos
interesses da monarquia com os do setor mercantil: os comerciantes buscavam ampliar seus mercados e o rei desejava
se fortalecer por da cobrança de impostos sobre o florescente comércio. Essa alianaça de interesses terminou por
desencadear o por conhecido por expansão marítima portuguesa, a partir do século XV.
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1 – PISA
Aproveitando a foz de um rio navegável, o Arno, nasceu e
cresceu Pisa, que se transformou em importante centro comercial
desde o século V. Apesar do belo e abrigado estuário, não havia
montanhas que protegessem a cidade; por outro lado, a vizinhança
com Lucas, em fase de expansão, dificultava o crescimento de Pisa.
Estes fatores fizeram o povo de Pisa voltar os olhos para o mar.
Pisa era o único porto abrigado no mar Tirreno, enquanto que
Gênova, mais a noroeste, era alvo constante de investidas
muçulmanas.
No fim do século XI, devido à ameaça muçulmana, Pisa e
Gênova coligaram-se e lançaram repetidos ataques contra cidadelas
árabes. Sardenha e Sicília – esta com o seu porto de Palermo
contando com 300 mil habitantes – foram conquistadas por pisanos
e genoveses, que juntos também invadiram a costa africana e
saquearam a cidade de Mehedia, em 1087, que abrigava piratas da
região.
As frotas pisanas e genovesas percorriam o mar e expandiam o comércio. O governo de Pisa mantinha controle
sobre as atividades marítimas pisanas, pensando até em levá-las até o Oriente, caminho marítimo ainda desconhecido,
grande atrativo para o comércio.
Pisa viu com simpatia o movimento das Cruzadas que se iniciavam, não só pelas lutas dos cristãos contra os
não-cristãos (os infiéis), mas pelas possibilidades econômicas daí decorrentes. A primeira Cruzada, de 1096 a 1099,
valeu para Pisa privilégios na costa da Síria e da Palestina. Entre 1108 e 1124 a frota pisana ajudou a conquista de
Laodicéia e obteve como recompensa partes das cidades de Antióquia (acima da atual Beirute) e de Constantinopla.
A segunda e rápida Cruzada, em 1145, favoreceu-lhe o comércio nas costas italianas e sicilianas. Os pisanos também
se sentiam atraídos por Alexandria e pelo Cairo, o que os levou a assinar um tratado comercial em 1154 com o califa
Fatimita, rompido três anos depois. Pisa, então, passou para o lado do rei Almarico, de Jerusalém. Pisa ainda tentou
invadir Alexandria em 1167, com uma frota naval, mas não teve sucesso.
Com a conquista do Egito pelo muçulmano Saladino, em 1171, os pisanos logo passaram a negociar com o
novo conquistador. Na terceira Cruzada, de 1189 a 1192, navios de Pisa transportaram tropas da Toscana e
aproveitaram para fazer bons negócios.
O sucesso de Pisa no comércio provocou obviamente a animosidade das cidades vizinhas, especialmente de
Gênova, que àquela altura já não era tão aliada. Em 1194, os pisanos destruíram o empório genovês em Messina, na
Sicília, à custa da perda de 13 navios. Mais tarde, Pisa viu-se atacada por mar e por terra, sendo seu porto destruído
em 1284. Para tanto, os genoveses lançaram enormes blocos de pedra trazidos da ilha de Capri e os lançaram na foz
do rio Arno, formando uma espécie de molhe, que retinha os sedimentos. A derrota naval de Melória, logo depois,
selou a sorte de Pisa. Na paz estipulada em 1299, em Gênova, Pisa viu-se obrigada a ceder partes da Sardenha e da
Córsega e a não armar embarcações durante quinze anos. Terminava o esplendor comercial de Pisa.
2 – GÊNOVA
Gênova era um porto bem situado, ao norte de Pisa, com os Apeninos ao fundo, separando a cidade do Vale do
Pó. Embora a agricultura fosse razoável, era insuficiente para alimentar a população. Assim, os genoveses também
cedo buscaram as vias marítimas.
Em coligação com Pisa, como vimos anteriormente, os genoveses chegaram a lugares distantes, como a Síria,
em 1065, e Caffa, no mar Negro.
Os armadores e navegantes genoveses, tal como os pisanos, criaram a “Campagna”, uma nobreza de origem
mercantil, diferente da nobreza feudal, pois era constituída de governantes que seguiam por norma ter a propriedade
de estabelecimentos comerciais e a navegação, ao contrário do feudalismo, em que a propriedade da terra e da casa
era fundamental. A nobreza fornecia os governadores de cada cidade e indicava os comandos das forças navais.
A primeira Cruzada (1096-1099) permitiu a Gênova fundar diversos empórios na costa da Síria e da Palestina,
como aconteceu com Pisa. Em 1206, foi criado por Gênova o “Consolato del Mare”, uma organização que cuidava
somente da parte financeira dos empreendimentos marítimos.
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Os cidadãos de Gênova, para aumentar a expansão marítimo-comercial, criaram uma associação de caráter
militar – a “Maona” – constituída de proprietários de navios que se responsabilizavam pelos gastos financeiros das
expedições; eles agiam sob a direção de uma instituição chamada “Comuna”. A “Comuna” nomeava o almirante
responsável pelas atividades no mar. O lucro das empresas envolvidas revertia para a “Comuna”, deduzidas as
despesas. A primeira “Maona” que se conhece foi a de Ceuta, em 1234, dispondo de cem navios. Outras “Maonas”
foram a da ilha de Chios, no mar Egeu, em 1346, capturada pelos venezianos, e a da ilha de Chipre, em 1374. Onde
foi fundada importante colônia.
No início do século XIV, Gênova ajudou a restaurar o Império Romano do Oriente, o que lhe rendeu vários
empórios, em Constantinopla, Pera e Galata. Gênova, nessa época, foi a primeira cidade a começar a organizar
viagens para fora do estreito de Gibraltar, chegando a Londres, cerca de 1300.
Depois do colapso de Pisa, as operações de comércio ficaram circunscritas a Gênova, em todas as partes do
Mediterrâneo, especialmente no chamado Levante (Países da Ásia e da Europa). Todos os mares foram percorridos
pelos comerciantes genoveses: o mar Negro, o Golfo Arábico, o Volga, o mar Adriático, o mar Cáspio, o Golfo
Pérsico, o mar Vermelho; nas ilhas mediterrâneas pontificavam postos genoveses no arquipélago grego, em Chipre,
Córsega, Sardenha, Malta e Sicília. Havia companhias genovesas fora do Mediterrâneo, nos Países Baixos e na
Inglaterra.
Cinquenta anos após, no século XIV, já se notavam os primeiros sinais de decadência de Gênova. As vitórias
navais de Melória e de Curzola, sobre Pisa, haviam exigido um esforço imenso de Gênova, pois sua marinha não era
composta por mercenários, mas sim por cidadãos genoveses que, mortos em combate, faziam falta à metrópole.
Outras guerras com a concorrente Veneza, a fracassada campanha em Chioggia (1378 a 1381) e os treze anos de
dominação francesa de Carlos VI (1396 a 1409) foram alguns acontecimentos que aceleraram o declínio do outrora
magnífico centro comercial.
3 – VENEZA
Nas lagunas do mar Adriático surgiu a cidade que liderou, na Idade Média, todas as demais, pela riqueza
econômica e o poderio marítimo: Veneza.
Inicialmente habitada por pescadores, logo se transformou em refúgio de outros povos, fugidos das guerras ou
perseguições. Nas lagunas havia poucas áreas cultiváveis acima das águas, a água potável era escassa. No entanto,
essas ilhas ocupavam excelente posição geográfica, perto de uma região plana e vasta da península itálica.
Os habitantes das lagunas tiveram que adaptar a terra às suas necessidades, ao contrário do que geralmente
ocorre, cavando canais, construindo diques, preparando bacias para seus navios, cultivando trigo e vinhedos,
recolhendo da chuva a sua água.
Veneza chegou a conseguir o monopólio do comércio de sal na Itália. Mantinha também relacionamento com
Constantinopla, sede do Império Romano do Oriente, o que lhe dava status político e favorecimentos comerciais. A
localização geográfica tornava Veneza mais defensável e permitiu apenas uma conquista curta, a de Carlos Magno. O
“Ducado de Veneza Marítima” constituído em 697 concentrou em uma só mão a administração das ilhas,
permanecendo Veneza como parte do Império do Oriente, mantendo, no entanto, sua independência. A decadência de
Ravenna e de Aquiléia deixou o campo comercial aberto para Veneza.
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HISTÓRIA 1 CURSO ASCENSÃO
Até o fim do século VIII, o Império Romano do Oriente controlou a entrada do mar Adriático, por força da
recuperação do território romano. Todavia, as devastações árabes na Itália ameaçaram bloquear o Adriático. Pouco a
pouco Veneza foi conquistando a supremacia no mar, fundando mais empórios, desimpedindo o mar Adriático. Para
Veneza passaram então a convergir as rotas que levavam ao interior da Europa. Veneza passou a ter acesso à madeira
retirada dos altos planaltos, que era levada para os portos da Dalmácia (costa da antiga Iugoslávia), no mar Adriático., e ao
trigo e ao vinho do sul da Itália.
Em 1082, Veneza obteve do Império Romano do Oriente prioridade para comerciar em toda a extensão daquele
Império. Por ocasião da primeira Cruzada (1096), colocou à disposição dos Cruzados a frota necessária ao transporte de
homens, cavalos e víveres para a Terra Santa, ao mesmo tempo que comerciava com Alexandria, em poder dos não-
cristãos (infiéis). Na quarta Cruzada (1204), Veneza possibilitou a tomada de Constantinopla pelos Cruzados, com a
criação do efêmero “Império Latino do Oriente”. Para negociar, ao que parece, Veneza não tinha amigos ou inimigos.
Com o fim do Império Grego, Veneza recebeu vastos territórios na partilha. Mas isso não despertava muito interesse
e sim a expansão comercial marítima, com bons locais para abrigar sua frota. Como colônias de fato, os venezianos só
mantiveram a ilha de Creta e alguns pontos da costa, facilmente defensáveis pela sua marinha.
Tal como Pisa e Gênova, o governo veneziano controlava as atividades marítimas. O Estado era responsável pelas
“esquadras de tráfego”, dirigidas para o Egito, para a França, para a Espanha, para a Síria, para a Inglaterra e para outros
locais que propiciassem intercâmbio comercial. Eram formadas seis esquadras, contando com mais de 3 mil embarcações e
guarnições de 36 mil homens a cada ano. Com Portugal, Veneza manteve ativo relacionamento comercial no fim do século
XV, com navios portugueses levando para Veneza cana de açúcar da ilha da Madeira, até que em 1498 houve saque e
aprisionamento de navios venezianos pelos portugueses. Além do mais, a expansão marítima portuguesa em busca do
caminho para as Índias despertava preocupação no governo veneziano.
O Estado veneziano regulava e dirigia a produção dos estaleiros, nos mínimos detalhes. Os interesses da defesa
militar determinavam que os navios mercantes pudessem ser facilmente transformados em embarcações de combate. A
renovação da frota era feita com rapidez.
O ano de 1423 (século XV) marcou o apogeu do poderio marítimo veneziano no mundo. Nessa época, cerca de três
mil venezianos eram mercadores viajantes pelo mar.
Ainda durante o século XVI Veneza, provida de uma marinha grandiosa, pode conservar um prestigio invejável,
além de grande importância política e comercial. O seu declínio, todavia, teve início e acentuou-se com o passar do tempo,
prosseguindo até o final do século XVIII, quando Napoleão extinguiu o Estado Veneziano.
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HISTÓRIA 1 CURSO ASCENSÃO
5 – O NAVIO DE GUERRA MEDIEVAL
Todas essas lutas no mar eram realizadas a bordo de navios a remo. Na Alta Idade Média um tipo de navio
comumente empregado foi o drômon, palavra significando “navio rápido” ou “navio corredor”. Tinha duas ordens de
remos, conduzindo uma tripulação de cerca de 300 homens; “no meio desse navio elevava-se um grande castelo construído
com traves e com seteiras para os arqueiros. No castelo de proa elevava-se uma espécie de pequena torre, talvez giratória,
da qual, desde a invenção do fogo grego, certos tubos, que eram uma espécie de canhões primitivos, lançavam uma
substância inflamada sobre os conveses do adversário. O drômon tinha dois mastros de velas latinas e 30 a 40 remos em
cada bordo”. Tanto os cristãos como os árabes combatiam com esse tipo de navio. O navio a remos ainda foi amplamente
usado no mar Mediterrâneo para fins militares. Depois da invenção do canhão, este foi adaptado à proa das galeras, de
modo a atingir o inimigo pela frente, durante a aproximação das esquadras. De outra forma não podia ser, aliás, já que os
bordos eram tomados pelos remos, que compunham o aparelho propulsor dos navios. Por ocasião das disputas entre a
cristandade e os mouros, durante o século XVI, no mar Mediterrâneo, deu-se a última grande ação entre navios de remos
na história naval. Foi a Batalha de Lepanto, travada em 1571, junto à península Helênica, que resultou em vitória para os
cristãos, sem, contudo, grande significação estratégica, já que não foi explorada devidamente. A Batalha de Lepanto é das
poucas ações navais importantes sem estar ligada a alguma campanha terrestre. Foi o caso das batalhas navais da guerra
entre Inglaterra e Holanda no século XVII, de objetivos puramente marítimos.Embora reduzidos em sua ameaça contra a
Europa, os muçulmanos, ainda por muitos anos, mantiveram atividades predatórias que fustigavam o comércio marítimo
mediterrâneo. No próximo capítulo veremos que o navio a remos ainda foi usado por piratas até o século XVIII.
6 – DESENVOLVIMENTO DA ARTILHARIA
O aparecimento da pólvora veio dar novas dimensões à guerra e criou na mente dos homens pacíficos um grande
temor, muito se- melhante, guardadas as devidas proporções, com o que hoje se observa em relação às armas nucleares. A
pólvora já era conhecida dos chineses talvez desde a época em que viveu Cristo. Marco Polo conta que viu belos fogos de
artifício na China. Mas sabe-se que, pelo menos uma vez, os chineses empregaram a pólvora na guerra, sob a forma de
foguetes. Foram os árabes que transmitiram aos europeus a fórmula da pólvora. Na Europa, três nomes estão ligados à sua
divulgação, por coincidência, todos três religiosos: Rogério Bacon, Bertoldo Schwartz e Alberto, o Grande. As primeiras
armas chamadas de fogo foram os canhões; só muito depois é que surgiram as armas portáteis. Os foguetes que, como já
vimos, foram anteriores aos canhões, só voltaram a ter importância no século XX. A invenção do canhão determinou
profundas alterações na História e não apenas de caráter militar. Contribuiu para o fim do feudalismo, já enfraquecido
pelas cruzadas, em benefício do poder dos reis, porque estes, apoiados pela burguesia, tinham mais recursos financeiros
para comprar a nova arma. A arma de fogo portátil, então, contribuiu sensivelmente para diminuir a desigualdade social,
porque permitia que “qualquer miserável plebeu abatesse o mais nobre dos cavaleiros”, como disse, horrorizado, um
cronista da época. De fato, o plebeu era o homem que lutava a pé e que pouca chance tinha no combate contra o nobre
pesadamente armado a cavalo, até então. Na marinha, o canhão forçou lentamente o abandono do navio a remos que,
embora mais manobreiro que o navio a vela, não podia conduzir o mesmo número de canhões que este. Nós, homens do
século XX, que tanto nos impressionamos com a bomba de hidrogênio, talvez ainda não nos tenhamos dado conta que o
canhão foi muito mais importante para a História em geral do que a bomba (pelo menos até agora!).
7 - GLOSSÁRIO
CAMPAGNA Um tipo de administração consular. Era diferente do feudalismo, no qual os empreendimentos imobiliários
(a casa) e a terra (trabalhada pelos servos) eram os pilares para a nobreza. Na Campagna, estabelecida por uma nobreza
mercantil, os estabelecimentos comerciais além-mar e a navegação é que se tornavam fundamentais. Tratava-se de um
conjunto de armadores (donos das embarcações) e navegantes (os que se faziam ao mar) em Pisa e Gênova, cerca de 1087.
CONSOLATO DEL MARE Uma instituição criada cerca de 1206, em Gênova (e encontrada também em Pisa),
destinada a cuidar apenas da parte financeira dos empreendimentos marítimos. Era dependente do poder central.
MAONA Tratava-se de uma instituição em moldes militares, cerca de 1200, na qual proprietários de navios (os
armadores) e outros cidadãos de Gênova bancavam as despesas com os empreendimentos marítimos, visando a expansão
comercial. Essa instituição ficava sob a direção de um órgão chamado Comuna, que nomeava o almirante responsável
pelas atividades navais. Os lucros advindos do comércio das expedições revertiam para a Comuna, depois de ressarcida a
Maona das despesas efetuadas com as expedições.
ESQUADRAS DE TRÁFEGO Seis esquadras formadas e armadas pelo governo de Veneza e alugadas aos mercadores
venezianos, para estabelecerem comércio além-mar. Uma vez por ano o governo abria a navegação a essas esquadras, que
totalizavam cerca de 3.300 embarcações e 36 mil homens. O governo determinava o destino das esquadras de tráfego,
geralmente três direções principais: uma para o Egito, levando mercadorias para serem trocadas com os árabes em
Alexandria e Cairo (os árabes levavam as mercadorias para o outro lado do mar Vermelho); outra direção para a Terra
Santa, levando peregrinos, na volta trazendo mercadorias daquele local; a terceira direção para noroeste do mar
Mediterrâneo, para trocas comerciais; nessas ocasiões às vezes entravam em guerra com barcos genoveses, que também lá
estavam com propósitos comerciais.
IMPÉRIO LATINO DO ORIENTE Em 1204, por ocasião da 4ª Cruzada, os Cruzados tomaram Constantinopla, com a
ajuda de Veneza. Foi então estabelecido no território um efêmero Império Latino do Oriente, havendo até um imperador
nomeado por Veneza para governar uma parte da cidade. A 4ª Cruzada trouxe descrédito para o movimento, pois nenhum
cruzado chegou à Palestina.
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II - O PAPEL DAS MARINHAS NAS DISPUTAS EUROPÉIAS PELA COLÔNIA PORTUGUESA NA AMÉRICA
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ficou como refém (quando então compôs o poema à Virgem), terminando com o armistício de Iperoig (próximo de
Ubatuba) os portugueses não mais seriam atacados (14.09.1563).
Da terra do Brasil não cessavam de chegar a Lisboa pedidos no sentido de se fundar uma povoação no Rio de Janeiro.
Constitui documento valioso a carta de 3rás Cubas a D. Sebastião de 25 de abril de 1562.
O Governador Mem de Sá confiou a Estácio de Sá seu primo ou sobrinhoj a delicada tarefa de obter, na Corte, novos
recursos contra os franceses e a licença para a fundação de uma cidade
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entrada da Baía de Guanabara (1583). O governador achava-se ausente; mas a população, liderada por sua mulher, D. Inês,
acendeu fogueiras e iludiu os intrusos com falsos movimentos que deram a impressão de grande número de pessoas. O ata-
que não chegou a se consumar
Poidemil de Soson, capitão da nau Le Volant, guarnecida de 116 homens, aportou (1595) em Sergipe no desejo de
retirar madeira; capturados por Diogo de Quadros, foram, na condição de prisioneiros, para Salvador, morrendo todos
enforcados. No mesmo ano, Elisee de La Tramblade, capitão da nau Le Saige, com 75 homens, visava igualmente ao
comércio do pau-brasil; o Governador D. Francisco de Sousa, que os capturou, concedeu-Ihes a liberdade. Ainda no
mesmo ano, outros franceses desembarcaram em Ilhéus, afugentando os moradores e procuraram saquear as casas; alguns
poucos destemidos, liderados pelo mestiço Antônio Fernandes, alcunhado de Catucadas, organizaram-se e revidaram con-
tra os intrusos, logrando eliminar vários, inclusive o chefe, motivo pelo qual os Ingleses se retiraram. Entre 15 e 18 de
agosto de 1597, uma armada francesa, composta de 13 navios, investiu sobre Forte do Cabedelo, na Paraíba; o
comandante, contando com 20 homens e cinco peças de artilharia, resistiu, morrendo heroicamente. Os franceses
retiraram-se para o norte.
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combatendo-se com água pela cintura a maior parte desse dia. Ficaram mortos 115 franceses e prisioneiros, nove;
Albuquerque teve 2 mortos e 18 feridos, entre estes um filho.
Apesar da superioridade numérica, os franceses sofreram derrota tão grande que La Ravardiere solicitou um
armistício, aceito imprudentemente por Albuquerque. Seguiram representantes diplomáticos para as respectivas cortes
européias (Capitão Du Prats e Gregório de Albuquerque para Paris e Sargento-mor Diogo Moreno e Mathieu Maillard para
Lisboa), onde não despertaram interesse. Albuquerque passou-se para a ilha, nela fundando o Fortim de S. José de
Itaparica
Ignorando a autorização do Rei Filipe II permitindo que os franceses permanecessem em terras do Maranhão, o
Governador Gaspar de Sousa determinou que Alexandre de Moura, Capitão-mor de Pernambuco, se preparasse para
repelir os franceses O próprio governador deslocou-se para Recife a fim de, pessoalmente, incentivar os derradeiros
aprestos.
Assim, em outubro de 1615, grossos reforços (seiscentos soldados em nove navios) portugueses aportaram ao
Maranhão, chefiados por Alexandre de Moura, que, juntando as suas forças com as de Jerônimo de Albuquerque, cercou a
fortificação francesa (São Luís), guarnecida com duzentos homens e 17 peças de artilharia. La Ravardiere optou pela
capitulação firmada no dia 4 de novembro de 1615; no dia imediato, o forte foi entregue aos portugueses
Os franceses retiraram-se quase todos La Ravardiere e des Vaux foram conduzidos a Pernambuco e desta capitania
para Lisboa, onde permaneceram encarcerados na Torre de Belém, nela morrendo des Vaux. La Ravardiere foi solto após
três anos.
Jerônimo de Albuquerque, que apôs ao seu nome o de Maranhão, foi designado governador das terras conquistadas.
2 – INVASÕES HOLANDESAS
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avançaram sobre a cidade defendida pelo Conde de Bagnoli e sua gente. O Governador Geral, Pedro da Silva, depois
cognominado "o Duro", a tudo proveu. Verificaram-se vários combates isolados, salientando-se ataque noturno de Nassau
em 18 de maio, ganho pelos luso-brasileiros graças à investida que Luis Barbalho fez na retaguarda do inimigo. No dia 25,
Nassau desistiu de ocupar Salvador: regressou com sua gente aos navios velejando para Pernambuco. O Rei Filipe IV
recompensou o governador dando-lhe o título de Conde de São Lourenço e ao Conde de Bagnoli, a dignidade de príncipe e
o feudo do Monteverde. Nassau dirigiu, então, o seu interesse para a costa da África: conquistou São Jorge da Mina, de
onde obteve muitos escravos. Recife foi feita sua capital com o nome de Cidade Maurícia (Mouritz-stadt). Nela levantou o
seu palácio, o Vriburg (Retiro), cujo chão é ocupado hoje pela sede do governo de Pernambuco (Palácio das Princesas).
Nassau caracterizou o seu governo pela inteligência, sobriedade e bom senso. Procurou logo embelezar a sua capital a
fim de dotá-la de todo o conforto, melhorando o padrão de vida da população. Diversas ruas e praças receberam
calçamento de tijolos esmaltados à moda holandesa; pontes foram construídas e os alagados foram drenados por meio de
canais, muitos dos quais projetados pelo engenheiro Frederik Pistor. Fundou o primeiro observatório astronômico da
América, dirigido por Georg Marcgrave. Nele também atuou o cosmógrafo Michiel de Reyter Marcgrave que se associou a
Willen Piso, que era médico do conde e ambos escreveram a História Naturalis Brasiliía (Leyden, 1648). Algumas
expedições procuraram devassar o interior e descobrir riquezas, destacando-se aquela que Gidean Morris de Jorge dirigiu.
As artes floresceram, com os pintores Franz Post (irmão de Pieter). O alemão Zacharias Wagener, o desenhista Albert
Ekhout. Estabeleceu a liberdade de fé, cada qual podia ter a religião que quisesse. Com essa política, Nassau conseguiu
atrair muitos brasileiros e portugueses, chegando a conceder-lhes assentos nos conselhos de Escabinos (Schepenen) que
substituíram as câmaras de vereadores, cujo presidente, o escolteto, defendia os interesses da Companhia e possuía o poder
de polícia. Os judeus abriram sinagogas, sendo duas na capital do Brasil Holandês Zur Israel e Maguen Abrahan.
A lavoura da cana renasceu, permitindo lucros fabulosos, graças ao funcionamento de engenhos, cuios antigos
senhores receberam atenções e mercês. Um desses, João Fernandes Vieira, nascido na Ilha da Madeira, obteve importante
posição. Nassau preocupou-se com a plantação da mandioca, alimento popular, e impediu a derrubada de cajueiros, cuios
frutos serviam para alimentação dos pobres.
A importância que Recife atingiu no século XVII como sede do Brasil Holandês explica, igualmente, a presença de
estrangeiros, devendo-se registrar o comerciante francês Louis Heins, católico, mas existiram alguns calvinistas, como
Joachim Soler (franceses aderiram aos luso-brasileiros contra os holandeses, sendo interessante lembrar a figura de
François Dumont, que se especializou em artifícios militares de fogo). Diversos ingleses viveram no Recife como
mercenários da Companhia das Índias. Os irlandeses dedicaram-se ao comércio ambulante. Numerosos, também, foram os
alemães, alguns mercenários, como o Coronel Von Schkoppe. Muitos israelitas se estabeleceram no Recife, aproveitando-
se do clima de liberdade; é o caso do médico Abraão Mercalo e do rabino Isaac da Fonseca.
Não haviam desanimado os portugueses. Da metrópole, vinha o Conde da Torre, D. Fernando de Mascarenhas, novo
governador, com 26 galeões e outros navios menores transportando reforços Era 20 de janeiro de 1639. André Vidal de
Negreiros e Antônio Dias Cardoso dirigiram-se para a Paraíba para organizarem guerrilhas contra os holandeses. Nessa
oportunidade, diversos paulistas, incluindo Antônio Raposo Tavares, atingiram Salvador a fim de integrar a força do
Conde da Torre.
O conde preparou-se por quase um ano, fazendo-se ao mar em novembro, com 48 navios de guerra e vários
transportes, levando uma tropa de reforço de diversas capitanias brasileiras, todas sob o comando do Príncipe de Bagnoli.
Nassau mandou-lhe ao encontro uma esquadra de 41 navios, dirigida pelo Almirante Willelm Cornellizoon Loos. A 12 de
janeiro, encontraram-se ao norte de ltamaracá, na altura da Ponta de Pedras, morrendo Loos nesse dia; segundo combate
travou-se no dia seguinte em frente ao Cabo Branco; o terceiro, no dia 14, ocorreu na altura da Paraíba, havendo perda de
ambos os lados; o último encontro verificou-se no dia 7, perto da Baía Formosa, tendo o Conde da Torre repelido os
holandeses que perderam três navios. O conde determinou o desembarque de l00 soldados em Touros (Rio Grande do
Norte) Estes, conduzidos por Luis Barbalho, atravessaram território inimigo, travando vários combates, atingindo, enfim,
Salvador após quaro meses de marcha.
Substituído o Conde da Torre, mandado preso para Lisboa, onde findou nos cárceres de S. Julião, chegava D. Jorge de
Mascarenhas, Marquês de Montalvão, o primeiro a possuir o título de vice-rei do Brasi, empossado a 26.05.1640, sem que
o Brasil fosse elevado à categoria de vice-reinado.
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3 – LEITURA COMPLEMENTAR
3.1.3 – MARANHÃO
Os franceses continuaram com o tráfico marítimo na costa brasileira. Seu eixo de atuação, porém, deslocou-se para o
norte, ainda sem povoações portuguesas. Após diversos pontos do litoral. Desde o final do século XVI, o Maranhão passou
a ser um local regularmente freqüentado por navios franceses. Na atual Ilha de São Luís havia uma pequena povoação de
franceses, em boa convivência com os índios, também tupinambás, que habitavam o local.
Em 1612, partiu da França a expedição chefiada pelos sócios, Daniel de Ia Touche de Ia Ravardière e Nicolau de
Harlay de Sancy, com poderes de tenentes-generais do rei da França. Quando chegaram, construíram o Forte de São Luís.
Na França, o bom relacionamento do momento com a Espanha fez com que o governo não colaborasse
significativamente com recursos para o reforço da colônia.
Em 1614, uma força naval comandada por Jerônimo de Albuquerque, nascido no Brasil, chegou ao Maranhão para
combater os franceses. Este grupamento pode ser considerado a primeira força naval comandada por um brasileiro.
Chegando ao Maranhão, os portugueses iniciaram a construção de um forte, que chamaram Santa Maria. Logo os
franceses se apoderaram de três dos navios que estavam fundeados. Animados com o bom êxito alcançado, resolveram,
uma semana depois, atacar o forte português. Planejaram um ataque simultâneo de tropas que desembarcariam e de tropas
que atacariam o forte pela retaguarda, vindas de terra. Os portugueses, no entanto, foram mais ágeis e contra-atacaram
separadamente, com vigor, as duas forças francesas, vencendo-as.
Os franceses, resolveram propor um armistício, para conseguir reforços na França ou obter uma solução diplomática.
Os portugueses aceitaram.
A trégua foi favorável aos portugueses, que obtiveram reforços no Brasil. La Ravardière não conseguiu novamente o
apoio de seu governo e o tratado de paz em vigor, naquele momento, previa que em casos como esse os riscos e perigos
cabiam aos particulares, sem que a paz entre os Estados fosse perturbada. Além do mais, o rei de Portugal não ratificou a
trégua e ordenou que se expulsassem os franceses do Maranhão. Providenciou reforços e mandou o governador de
Pernambuco organizar uma nova expedição. O comando coube a Alexandre de Moura, que partiu em uma força naval.
Os franceses foram cercados no Maranhão, por mar e por terra, e, sem esperança de reforços, para evitar que os
portugueses os tratassem como piratas, renderam-se em 1615.
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Salvador de Sá, que estava com a mulher e os filhos a bordo do São Pantaleão, mandou entregar uma cata sua,
juntamente com outra de Serrão de Paiva, declarando que estavam ali para ajudar os holandeses no restabelecimento da
paz em Pernambuco. Não houve resposta imediata. Convocado um conselho a bordo do São Pantaleão, concordaram os
comandantes dos navios portugueses que não havia condições favoráveis para atacar ou manter um bloqueio de Recife.
No dia 13, o mau tempo obrigou os navios a buscarem o alto-mar. Durante todo o dia 12, no entanto, tinham sido
admirados pelo povo pernambucano e o que, depois, ficou conhecido como a Jornada do Galeão, acabou sendo, somente,
um ato de emprego político do Poder Naval pelos portugueses, influenciando as mentes e as atitudes, sem uso de força.
No dia seguinte chegou a carta-resposta holandesa. Estranhava o auxílio oferecido e pedia que se retirassem de
Recife. Durante o mau tempo, Serrão de Paiva separou-se de Salvador de Sá e, depois de alguma insistência em
permanecer em alto-mar no litoral de Pernambuco, resolveu se abrigar na Baía de Tamandaré. Salvador de Sá seguiu para
Lisboa com o comboio.
Em 9 de setembro de 1645, o Almirante holandês Lichthardt resolveu atacar Serrão de Paiva. Os portugueses
contavam com sete naus, três caravelas e quatro embarcações, com uma tripulação de mil homens aproximadamente, e
estavam fundeados. Lichthardt investiu a barra com oito navios holandeses e foi abordar os navios portugueses dentro da
baía.
A resistência se limitou ao bravo Serrão de Paiva e a poucos homens de seu navio. A maioria dos marinheiros e
soldados se lançou ao mar, nadando para a praia. Seguiu-se uma verdadeira carnificina de fugitivos e uma derrota
fragorosa, com muitos mortos, prisioneiros, inclusive o Serrão de Paiva ferido, e navios queimados ou apresados e levados
para Recife. Os documentos e a correspondência sigilosa, comprometedores quanto ao envolvimento das autoridades
portuguesas na revolta, caíram nas mãos dos holandeses.
Com o domínio do mar novamente assegurado, os holandeses puderam movimentar suas tropas de reforço, sem risco
de oposição no mar. Assim, puderam organizar ataques para diminuir a pressão que os insurretos já exerciam sobre seus
principais pontos estratégicos.
Em fevereiro de 1647, os holandeses atacaram e ocuparam a Ilha de Itaparica, com uma força naval comandada pelo
Almirante Banckert. O propósito era ameaçar Salvador.
O ataque a Itaparica incentivou D. João IV a iniciar a preparação de uma força naval para enviar ao Brasil. As
dificuldades financeiras e materiais eram muito grandes para o empobrecido Portugal. Foi necessário conseguir
empréstimos de particulares, a serem amortizadas com o imposto sobre o açúcar do Brasil.
D. João IV designou Antônio Teles de Menezes comandante da “Armada de Socorro do Brasil”, fazendo-o Conde de
Vila Pouca de Aguiar e nomeando-o governador e capitão-general do Estado do Brasil, em substituição a Teles da Silva.
Compunha-se essa esquadra de 20 navios: 11 galeões, uma Urca, duas naus, duas fragatas e quatro navios menores. Partiu
de Lisboa em 18 de outubro de 1647, chegando a Salvador em 24 de dezembro.
Enquanto isso, em 7 de novembro, saiu de Lisboa, com destino ao Rio de Janeiro, uma força naval comandada por
Salvador de Sá, com o propósito de libertar Angola, na África.
A missão da esquadra do Conde de Vila Pouca de Aguiar não era expulsar os holandeses de Pernambuco ou atacar
Recife, mas proteger Salvador e expulsar os invasores da Ilha de Itaparica. A perda de Salvador seria, sem dúvida,
desastrosa para Portugal e para a causa dos revoltosos.
Na Holanda, sabendo-se da Armada portuguesa de socorro ao Brasil, organizou-se uma força naval sob o comando do
Vice-Almirante Witte Corneliszoon de With. Os navios saíram aos poucos dos portos e somente em março de 1648
alcançaram Recife. Encontraram uma situação desfavorável: as forças holandesas tinham se retirado de Itaparica e restava
em poder da Companhia, além de Recife, a Ilha de Itamaracá e os Fortes do Rio Grande do Norte e da Paraíba.
Ao chegar a Recife, o Almirante Witte de With encontrou indefinições sobre que ação tomar no mar. A decisão da
Companhia era lançar suas forças de terra, reforçadas pelas tropas trazidas por De With, para vencer os rebeldes luso-
brasileiros, aliviando a pressão que já exerciam sobre Recife.
Em 19 de abril de 1648, travou-se a Primeira Batalha dos Guararapes e os holandeses, mais numerosos e com fama de
estarem entre os melhores soldados da Europa de então, foram derrotados no campo de batalha.
Restava para a Companhia agir no mar, bloqueando os portos brasileiros, tentando capturar a Frota do Açúcar e
atacando pontos do litoral. O bloqueio, apesar de exigir dos marinheiros longas estadias no mar, com consequentes
problemas sanitários e alimentares, tinha como incentivo a possibilidade de fazer presas, havendo participação da
tripulação no resultado financeiro da venda dos navios e das cargas apresadas.
Fez-se ao mar De With, tendo atenção ao bloqueio de Salvador, onde a poderosa força naval do Conde de Vila Pouca
de Aguiar se mantinha inativa. Em dezembro, aproveitou para atacar os engenhos de açúcar situados nas margens da Baía
de Todos os Santos, sem ser molestado pela força naval portuguesa, que mantinha seus navios protegidos pela artilharia
das fortificações de terra de Salvador.
Em novembro de 1648, chegou a notícia da vitória de Salvador de Sá, com a rendição dos holandeses em Angola, no
que poderia se chamar de primeira projeção brasileira de poder para o exterior, pois o Rio de Janeiro foi a base para a
libertação de Angola e muitos brasileiros participaram da luta, inclusive índios. Isso levantou o ânimo dos portugueses
para continuar a luta no Brasil. Ficou evidente que somente com a organização de comboios, fortemente escoltados, seria
possível manter as rotas de navegação entre Portugal e Brasil. Criou-se, então, a Companhia Geral do Comércio do Brasil.
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HISTÓRIA 2 CURSO ASCENSÃO
Em fevereiro de 1649, a Companhia das Índias Ocidentais resolveu repetir, em terra, o ataque às forças rebeldes, em
Guararapes. Novamente os holandeses foram derrotados, ficando óbvio para eles que sem um novo socorro da Europa
nada mais poderia ser feito em terra.
MÓDULO 2 19 CURSOASCENSAO.COM.BR
HISTÓRIA 2 CURSO ASCENSÃO
O açúcar, grande riqueza do século XVII, ocupou, no século XVIII, lugar secundário. Fazendas se despovoaram por
causa das minas, coincidindo com a baixa do preço do produto que já começava a enfrentar a concorrência do produzido
nas Antilhas. Contudo, a Bahia exportava, em 1798, de 14 a 18 mil caixas de açúcar, e Pernambuco, de 12 a 13 mil.
O cultivo do tabaco intensificou-se pelo desenvolvimento do vício de fumar. Antonil dedicou 12 capítulos de seu livro
ao tabaco. Havia, em Lisboa, uma Alfândega do Tabaco, reorganizada por Pombal em 175 1. Em certos anos, o lucro com
o tabaco subia ao dobro do que se obtinha com o ouro. Provavelmente em 1757, Pombal enviou à Vila de Cachoeira, na
Bahia, André Moreno com a incumbência de preparar o tabaco em folhas para a fabricação de charutos.
O cacau conseguiu um lugar de destaque, existindo plantações em Ilhéus, sul da Bahia.
Somente no final do século, renasceu a economia agrícola vinculada ao algodão, vegetal têxtil nativo da América. O
nascimento de indústrias fabris mecanizadas, resultado da descoberta da máquina a vapor (James Watt em 1769), ofereceu
ao Brasil a oportunidade de produzir algodão e vendê-lo à Inglaterra, que começou a encontrar dificuldades de extrair de
suas próprias colônias americanas. Em 1775, a produção atingia cinco milhões de libras (peso), aumentando, em 1791 para
26 milhões. O cultivo do algodão concentrou-se no Maranhão, espalhando-se, depois, em outros pontos do litoral. As
atividades ficaram vinculadas ao escravo, usando-se o descaroçamento manual; a máquina inventada por Eli Whitney, em
1793, não chegou a ser conhecida no Brasil.
Os colonizadores aproveitaram-se de muitas espécies vegetais indígenas, neste século XVIII já participando da
alimentação dos habitantes, como procuraram plantar os vegetais que normalmente integravam a sua dieta européia; o
trigo e a uva não chegaram a se desenvolver, apesar dos esforços despendidos; diversas árvores frutíferas se deram bem e
passaram a ser cultivadas. Merece citação especial o coqueiro, proveniente da Ásia e da Oceania. O vice-rei, 2º Marquês
do Lavradio, iniciou o cultivo do arroz e do chá, este plantado com sucesso nos arredores do Rio de Janeiro. Não sendo
alimentícias, mas de alto interesse, lembremos o cultivo da amoreira, da anileira e do cânhamo. Utilizou-se, também, o
mate, proveniente das missões guaraníticas.
O café, introduzido no Pará, em 1727, pelo ajudante Francisco Xavier Palheta, que transportou a planta da Guiana
Francesa, cumprindo ordem do governador do Estado do Maranhão, João Maia da Gama, ainda estava em fase de
aclimatação.
Percorrendo a costa norte do Brasil lentamente e sem muito sucesso, o café chegou ao Rio de Janeiro, trazido pelo
desembargador do Maranhão João Alberto Castelo Branco, ocasião em que governava a Repartição do Sul Gomes Freire
de Andrade (1760). Apenas duas mudas foram plantadas em chãos do Convento dos Barbonos, na rua do mesmo nome
(hoje Evaristo da Veiga). Apesar dos desvelos dos padres, uma delas morreu, mas a outra se desenvolveu dando frutos que,
apanhados pelo holandês J. Hoppman, este os plantou em suas terras de Mata Porcos (hoje Estácio), formando extenso
cafezal, protegido pelo vice-rei Marquês do Lavradio. Rapidamente, os pés de café se espalharam na terra carioca,
principalmente na fazenda do Mendanha, de propriedade do Padre Antônio Couto da Fonseca, que os plantou na vila de
Resende, fundada pelo vice-rei Conde de Resende. Ao final do século, podiam ser vistas plantações de café em São Paulo
e Minas Gerais.
Durante o século XVII, o gado bovino subiu morosamente pelas duas margens do Rio São Francisco até as suas
nascentes. Criado extensivamente, ele se multiplicou em terras mineiras, atingindo, neste século XVIII, o planalto goiano e
mato-grossense. De São Vicente, foi o gado levado para Paranaguá, e de tal maneira ele se desenvolveu, que os criadores
procuraram os "campos de cima", fundando Curitiba. De Curitiba, o gado caminhou para o sul, encontrando bons pastos
nos pampas sulinos. Nessa região, o gado cavalar começou a ser criado com bastante proveito, barateando o preço da
montaria até então acessível a poucos. No fim do século, a área sulina produzia excelente charque, distribuído para todo o
Brasil, ocasionando a decadência parcial do gado nordestino.
A circulação de riquezas, resultado da descoberta das minas, provocou o nascimento de pequenas manufaturas:
cerâmica, metalurgia, ourivesaria, tecelagem e outras menores, o que não foi bem-visto pela metrópole. Em 1766, ficava
proibida a profissão de ourives. O alvará de 5 de janeiro de 1785 proibiu a instalação de estabelecimentos fabris. Em
conseqüência, as tecelagens paralisaram-se, com exclusão daquelas destinadas ao fabrico de tecidos para os escravos e
sacaria. Bastante desenvolvida mostrou-se a pesca da baleia, cetáceo abundante no litoral sul, em especial na Baía de
Guanabara; no Rio de janeiro, funcionaram armações que industrializavam a carne, azeite, barbatanas e o espermacete
(cera branca existente na cabeça de baleias e cachalotes empregada na fabricação de cosméticos). Os curtumes necessários
a obtenção de couro, utilizável para a exportação, existiram em vários centros urbanos. E as fábricas de anil, no Rio e no
Pará, chegaram a exportar para a metrópole até quinhentas arrobas anuais.
Continuamos, neste século XVIII, a enviar para a metrópole os produtos nativos brasileiros, recebendo, em troca, os
manufaturados de origem portuguesa ou estrangeira, através de comerciantes portugueses. Chamava-se, esse intercâmbio,
de Pacto Colonial, estando vedado a qualquer nação fazer o comércio direto em portos brasileiros. Mas, em algumas vezes,
navios ingleses burlavam esse acordo e, alegando arribada forçada, efetuavam trocas comerciais diretas, com alguns
subornos às autoridades locais. O comércio interno, via terrestre, com as terras espanholas, tornou-se muito importante e
até hoje pouco conhecido, dado o seu caráter de contrabando. Muitos “peruleiros” embrenhavam-se pelas regiões
desconhecidas, visando lucros com as populações andinas, brancas ou nativas.
Apesar de a Companhia Geral de Comércio do Brasil ter sido extinta em 1720, a idéia renasceu durante a época de
Pombal, que criou, em 1755, a Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão e, em 1759, a Companhia de
Pernambuco e Paraíba. Ambas conseguiram altos lucros praticando abusos na venda de produtos que monopolizavam.
Foram extintas por D. Maria I em 1778 e 1779, respectivamente.
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O comércio negreiro mostrou-se ativo e compensador durante este século XVIII, graças às necessidades das minas,
onde o africano não vivia muito tempo. Havia um trânsito permanente de tumbeiros para os mercados brasileiros,
enriquecendo a quantos a esse negócio se dedicavam.
Relativamente ao comércio interno, não possuímos dados suficientes. Tratavam-se de mercadorias destinadas à
exportação e que eram transportadas aos portos de embarque; e os produtos estrangeiros que, a partir desses mesmos
portos, se distribuíam no resto do país. Tropas de muares percorriam os caminhos conhecidos solidificando a conquista
que os bandeirantes haviam iniciado.
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7 – CORSÁRIOS NO BRASIL
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senão que a hei de defender até a última gota de meu sangue". Mas, na tarde do dia seguinte, os militares e notáveis da
cidade, reunidos em conselho pelo governador, votaram unanimemente pelo abandono da praça e a concentração em outra
posição, com o auxílio de reforços, para se proceder a um contra-ataque. Ordenada a retirada, esta se verificou no correr da
noite, transformando-se numa fuga desordenada e vergonhosa, em meio a um temporal fantástico, onde não foram poucos
os saques às propriedades da área rural. Concentraram-se todos em Moxambomba (hoje Nova Iguaçu). Os próprios
prisioneiros da expedição anterior, logrando evadirem-se, avisaram, na manhã de 21, ao comandante francês, que a cidade
se encontrava em suas mãos. Os fortes se renderam.
Donos da cidade, os franceses procederam a uma completa pilhagem, enquanto se calavam as últimas resistências
esparsas, momento em que morreu Bento do Amaral Coutinho. Duguay-Trouin não ficou satisfeito com o saque: exigiu do
governador um resgate, para não terminar de destruir a cidade. Tentou ganhar tempo Castro Moraes, mas, pressionado
pelos principais, que temiam perda de suas propriedades, acabou cedendo em pagar a soma de 610.000 cruzados, além de
cem caixas de açúcar e duzentos bois Como se imaginava, chegaram os reforços do planalto, comandados por Antônio de
Albuquerque Coelho de Carvalho, que, inexplicavelmente, não se empenhou em nenhuma ação militar com os seus seis
mil companheiros
A 13 de novembro, partia Duguay-Trouin com uma expressiva presa, cujos lucros foram fixados em 95%. Pensou
atacar Salvador a pretexto de livrar os oficiais de Duclerc ainda presos. Ventos difíceis o impediram, perdendo, mesmo,
dois navios. Do rei francês, recebeu a promoção a chefe-de-esquadra e a comenda de S. Luis e, da História, a fama de
marujo audaz. Escreveu depois um livro de memórias.
O povo do Rio de Janeiro atribuiu a Castro Moraes a sua desventura. Alcunhou-o de grosseiro nome e instou para que
Albuquerque assumisse. Realmente, o governador não estava à altura de exercer um comando militar; tivera êxito em
1710, como conseqüência do malogro do adversário, não por sua tática militar A sua incapacidade se demonstrava diante
de um chefe como Duguay-Trouin. Castro Moraes foi preso, bem como outros oficiais, abrindo-se logo uma devassa, com
ouvidores da Bahia, que concluíram pela culpabilidade de todos, remetidos, em seguida, para o Reino. O governador
perdeu os seus bens e partiu, deportado, para o Industão, somente reabilitado em 1730; os militares receberam castigos
severos e destinos semelhantes. Menos o Maquinês, contra quem nada se imputou. Uma segunda devassa aberta em Lisboa
e terminada em 1716 concluiu pela culpabilidade de Gaspar da Costa, condenado à prisão, pena que não se aplicou por
falecimento do réu. Antônio de Albuquerque foi, também, censurado pela sua atitude, perdendo a governança.
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