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A navegação do mar del sur e a

conquista da Paraíba: a política


militar espanhola durante a
Monarquia Hispânica*
Navegación por mar del sur y conquista de Paraíba: política militar
española durante la Monarquía hispánica
Sylvia Brandão Ramalho de Brito
Doutora em História pela Universidade de Salamanca (Espanha). Afiliação Institucional: Universidade
de Salamanca.

RESUMO RESUMEN

Este artigo tem por objetivo inserir a conquis- Este artículo tiene como objetivo insertar la
ta da Paraíba em um contexto histórico mais conquista de Paraíba en un contexto histórico
abrangente, conectado à consolidação da Mo- más amplio, vinculado a la consolidación de la
narquia Hispânica na América portuguesa. A Monarquía hispánica en la América portuguesa.
ocupação do território respondia a duas de- La ocupación del territorio respondió a dos
mandas principais: a necessidade de proteger demandas principales: la necesidad de proteger
a região contra os ataques dos franceses e, ao la región contra los ataques franceses y, al
mesmo tempo, ser um anteparo da última fron- mismo tiempo, ser un escudo de la última
teira em direção ao Peru. A ocupação daquele frontera hacia Perú. La ocupación de ese
território foi uma das iniciativas prioritárias da territorio fue una de las iniciativas prioritarias de
dinâmica dos Habsburgo para o Atlântico, pro- la dinámica de los Habsburgo para el Atlántico,
jeto que pode ser deduzido a partir da análise proyecto que se puede deducir del análisis de
da documentação oficial e também de fontes, la documentación oficial y también de fuentes,
referentes ao período filipino, que ainda não referentes al período filipino, que aún no habían
haviam sido exploradas. sido exploradas.

PALAVRAS-CHAVE: Atlântico; Monarquia PALABRAS CLAVE: Atlántico; Monarquía


Hispânica; História Marítima; Capitania da Hispánica; Historia Marítima; Capitanía de
Paraíba Paraíba

O ESTREITO E A NAVEGAÇÃO

Nos primeiros anos da década de 1570, as relações entre a Espanha e a Inglater-


ra encontravam-se relativamente amistosas, ao ponto de as duas Coroas firmarem, em
1574, o Tratado de Bristol, em que ambas se comprometiam a não apoiar insurreições ou
proteger piratas e corsários. Mas, pouco tempo depois, as circunstâncias que envolviam

*Artigo recebido em 22 de fevereiro de 2021 e aprovado para publicação em 12 de abril de 2021.


Navigator: subsídios para a história marítima do Brasil. Rio de Janeiro, V. 17, no 33, p. 11-28 – 2021.
Sylvia Brandão Ramalho de Brito

a situação da Espanha nos Países Baixos, massacrada por forças sob o comando
com repercussão na Inglaterra, levaram o do Vice-Rei do México. Sobrevivendo a
governo inglês a se acautelar com relação esse episódio, Drake teria iniciado, em
às intenções de Filipe II e a ser furtiva- represália, nos anos que se seguiram,
mente receptivo a ações que acometes- sucessivos ataques e saques a portos e
sem pontos vulneráveis dos espanhóis, embarcações da Espanha na região do
tais como suas embarcações nos mares Caribe, culminando, em 1573, no istmo do
e as desprotegidas regiões costeiras de Panamá, com a apreensão de um grande
suas possessões (ZAMBRANO PEREZ, carregamento de prata, o que lhe permitiu
2007, p. 43). um confortável e temporário afastamento
Por essa época, um grupo de inves- da vida nos mares, até o tempo em que
tidores ingleses decidiu constituir uma lhe foi dado o comando da frota que teria
pequena frota de cinco navios que teria Alexandria como destino (ORTIGUEIRA
como destino declarado o Mediterrâneo AMOR et al, 2014). Os barcos liderados
Oriental, mais precisamente Alexandria. por Drake deixaram Plymouth, na Ingla-
Mas, esta não era a real rota a ser segui- terra, em dezembro de 1577. Quando es-
da na viagem. A preparação da expedi- tavam em mar largo, Drake comunicou
ção foi cercada de todo o sigilo possível, aos navegantes que, na realidade, o des-
no sentido de esconder o seu verdadeiro tino da viagem seria o sul da América. Ao
destino, tanto dos espanhóis como até chegar ao Cabo Verde, nas proximidades
mesmo de alguns influentes membros do da costa da África, de onde seria feita a
governo, em particular William Cecil, Lord travessia para o litoral brasileiro, Drake
Burghley, um dos principais conselheiros encontrou uma embarcação portuguesa,
da Rainha Isabel I, que se preocupava em cujo piloto tinha conhecimento e perícia
evitar transgressões que viessem provo- relacionados aos mares do sul, o que seria
car conflitos com a Espanha. Dentre os de grande valia na expedição (NUTTALL,
apoiadores do empreendimento encon- 1914, p. 296). A nau acabou sendo tomada
travam-se várias proeminentes figuras li- por Drake sendo também capturado o seu
gadas à Coroa britânica o que levou John piloto, o portuense Nuno da Silva, que foi
Horace Parry a afirmar que uma iniciativa incorporado à viagem, da qual deixou im-
de tal porte, com o tipo de investidores portante relato1.
que dela participavam, demandaria, pelo O único registro documental existente
menos, o velado assentimento de Isabel sobre o percurso planejado para a viagem
I, que, provavelmente, também teria feito de Drake é um manuscrito de 1577, par-
subliminar aplicação de capitais na inicia- cialmente danificado, em que se propõe
tiva (PARRY, 1984, p. 3). que a expedição faça uma prospecção
Para comandar a empresa, da qual era da costa meridional da América do Sul,
também um dos investidores, foi escolhi- alcance o Pacífico através do Estreito de
do o já na época afamado Capitão Francis Magalhães, navegue pela costa até 30º
Drake. Iniciado nas artes náuticas ainda de latitude sul (na altura de Coquimbo no
adolescente, Drake, aos 20 anos, era mes- Chile atual), explorando as possibilidades
tre de navio e encontrava-se, em 1568, no de comércio e povoamento, em seguida
porto mexicano de San Juan de Ulúa, em retornando pelo mesmo percurso. Essa
uma flotilha que desafiava a proibição es- rota marítima, no extremo sul do con-
panhola de comércio de estrangeiros com tinente americano, ligando os oceanos
suas colônias, e que foi impiedosamente Atlântico e Pacífico, havia sido explorada

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pela primeira vez, em 1520, pelo portu- estivesse, há vinte anos, no Peru. Com ca-
guês Fernão de Magalhães, navegando no pacidades multifacetadas, como militar,
sentido leste-oeste, no comando de uma cosmógrafo e geógrafo, Pedro Sarmiento
pequena frota espanhola (GRUZINSKI, era também cronista, tendo deixado várias
2015, p. 36). Desde então, a navegação relaciones, diversos memoriales, poesias
por essa passagem interoceânica havia e a famosa “Historia de los Incas”, escrita
sido intentada pouquíssimas vezes, antes em 1572 (MIGUEL BARROS, 2006, p. 26).
da expedição de Drake. As condições da A expedição de combate a Drake, com-
região austral, com mares bravios, fortes posta de duas embarcações, com 92 ma-
ventos, baixas temperaturas e a própria rujos e soldados, e plenamente aprovisio-
distância desaconselhavam a utilização nada de armas e munições, navegou para
dessa passagem, que tomou o nome do os mares do sul, à espera do retorno do
seu explorador primeiro, como rota das corsário inglês para o Estreito com o fruto
embarcações espanholas com destino às dos seus saques. Estando na costa norte
suas colônias nas costas do Pacífico, que do Pacífico, se apresentavam para Drake
continuaram a ser atendidas pelo Caribe e três alternativas de rotas. A primeira se-
istmo do Panamá. Drake fez a travessia do ria o retorno cumprindo o mesmo trajeto
Estreito em dezesseis dias, chegando ao anterior, com a perspectiva de encontrar
Pacífico com sua flotilha reduzida apenas os espanhóis para interceptá-lo. Outra
à embarcação que ele próprio capitanea- opção, encontrar o hipotético e lendário
va. As demais naus, por motivos vários, fo- Estreito de Anian, o que seria o caminho
ram abandonadas (PARRY, Idem, p. 4; 6). mais curto para se chegar à Inglaterra.
Ao percorrer as costas das possessões Francis Drake decidiu, então, cruzar o Pa-
espanholas, o corsário inglês encontrou-as cífico, alcançar as Molucas, e, utilizando o
totalmente desguarnecidas e iniciou uma caminho português para as Índias, contor-
série de saques e ataques aos portos do nar o Cabo da Boa Esperança retornando
Chile e Peru. Navegando para o norte, as- a Plymouth, três anos após a sua partida,
saltou o navio castelhano Nuestra Señora concluindo a segunda circum-navegação
de La Concepcion, que apesar de apelidado da Terra. O corsário saqueador das terras
Cacafuego estava praticamente desarma- e naus espanholas foi recebido na Ingla-
do, com valiosíssima carga, “twenty-six terra com honras de herói e condecorado
tons of silver, thirteen chests of rials of com o título de Sir pela Rainha (WALLIS,
plate, eighty pounds of gold, besides dia- 1984, p. 122).
monds and inferior gems”, talvez o maior Malograda teria sido a viagem de Pedro
saque realizado por corsários e piratas Sarmiento para o Estreito, se outras razões
naqueles tempos (JOHNSTONE, 1837, p. tão mais importantes que o combate a Drake
68-69). Diante dessa situação o Vice-Rei não a tivessem motivado. A Instruccion por
do Peru encetou providências para a per- ele recebida do Vice-Rei do Peru, dentre ou-
seguição a Drake, na presunção de que tras recomendações, as explicitava:
ele retornaria, navegando pela mesma rota
através do Estreito, no sentido oeste-leste. VI. Al tiempo que os halláredes
Para chefiar a expedição de perseguição en la altura de la Entrada del
Estrecho iréis con mucho
a Drake foi escolhido Pedro Sarmiento
mayor cuidado de ver todas las
de Gamboa. De origem familiar gallega, particularidades de Mar e Tierra
Sarmiento encontrava-se, desde 1555, na que halláredes atendiendo á las
América espanhola, sendo provável que comodidades de Poblaciones

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que por alli puede haber [...] y Coroa lusitana (KAMEN, 2003, p. 257).
procurad con vigilancia saber Àquela altura, Filipe II já sabedor, há cerca
todas las Bocas que tiene el dicho de um ano, das pilhagens de Drake, tinha
Estrecho á la entrada por esta Mar,
recebido parecer do Vice-Rei do Peru
y medirlas poniéndoles nombres
á quantas fueren, midiéndolas sugerindo que a melhor solução, a curto
así por lo ancho como por lo prazo, seria a construção de embarcações
fondo, y mirando en qual dellas para patrulhamento da entrada do Estrei-
hai mayores comodidades para to. Essa providência, após aprovação do
fortalecerlas2. Consejo de Indias, havia se iniciado, mas,
Sarmiento de Gamboa percorreu o Es- foi interrompida pela carência de fundos
treito de Magalhães, no sentido leste-oes- da Coroa (PHILLIPS, 2016, p. 8-9). Preocu-
te, em trinta e dois dias, elaborando um pações várias do Rei com acontecimentos
levantamento detalhado das condições e em que os espanhóis estavam envolvidos
características do local, em cumprimento diretamente vinham postergando a execu-
às Instruções que havia recebido. Ao se de- ção da emergente medida proposta.
parar com o Atlântico, Sarmiento navegou Pedro Sarmiento de Gamboa deslo-
rumo à Espanha para fazer a entrega do cou-se para Badajoz para apresentar ao
seu relatório ao Rei. Depois de três meses Rei o relato da sua viagem e expor as suas
em mar alto, chegou com sua embarcação considerações sobre a defesa do Estrei-
ao porto de Santiago no Cabo Verde. De to. Filipe II submeteu a proposta de Sar-
acordo com seu relato, “fueron barcos del miento de Gamboa ao Consejo de Indias,
Pueblo á saber qué Nao era, y la gente que e pediu a avaliação de conhecedores da
era, y de onde venía: e como se les dixo matéria. Apesar da contestação por parte
que éramos del Pirú, y veníamos de allá de alguns conselheiros reais, sob alega-
por el Estrecho de Magallánes, enmude- ção do elevado custo da empreitada em
cían no creyéndolo, y teniéndolo por im- relação à construção de embarcações, o
posible […]” (SARMIENTO DE GAMBOA, monarca decidiu aprovar o plano de Pedro
1768, p. 342). Durante a sua permanência Sarmiento. Como se veria posteriormente,
na Ilha de Santiago, onde aportavam naus as agressivas condições do local não per-
que singravam o Atlântico, Sarmiento pro- mitiam um aumento significativo da nave-
curou, já que os ventos o tinham levado gação marítima para o Pacífico através do
a navegar para longe da costa brasileira, Estreito de Magalhães. As informações,
obter notícias diversas sobre incursões de não muito corretas, sobre o lugar, trazidas
corsários e piratas e a presença de foras- por Sarmiento, provavelmente influen-
teiros nas terras americanas. ciaram na decisão real de construção
dos dois fortes no Estreito, que serviriam
A ARMADA DO ESTREITO como defesas que desestimulassem a re-
Quando Pedro Sarmiento de Gamboa petição, por outros corsários, da emprei-
chegou à Espanha, em agosto de 1580, tada de Drake, criando uma rota de na-
trazendo o relatório da sua investigação vegação para o Pacífico pela região, com
no Estreito de Magalhães para apresentar reflexos na segurança das possessões
a Filipe II, o Rei se encontrava, há meses, castelhanas do Chile e Peru.
na cidade espanhola de Badajoz, fron- Em fevereiro de 1581, foram iniciados
teiriça a Portugal, onde concentrara seu os preparativos para a realização da em-
exército de 47 mil homens para adentrar presa e constituída uma comissão para
o país vizinho, reclamando seu direito à tratar dos diversos aspectos do empre-

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endimento. O Duque de Alba, o Marquês boa que imaginava, por ter persuadido
de Santa Cruz, juntamente com outras Filipe II à adoção do seu plano de cons-
figuras notáveis do Reino, discutiam a trução de fortes e colonização do Estreito,
logística militar da expedição, o número deveria caber a ele o comando da empresa
e tipos de embarcações, o quantitativo (PHILLIPS, 2016, p. 10).
de soldados e marinheiros e a artilharia As relações de Flores de Valdés com Fi-
a ser usada nos fortes. Um grupo de en- lipe II eram antigas. Com idade próxima à
genheiros de origem italiana que então do Rei, o asturiano fez parte da esquadra
serviam à Monarquia Hispânica analisava que levou à Inglaterra o então Príncipe
os detalhes construtivos do projeto dos para o seu casamento com Maria Tudor
fortes. Nessas discussões, Sarmiento de (ALVAREZ DE LA RIVERA, 1924, p. 153).
Gamboa se fazia presente com os dados Esse conhecimento de muitos anos com
e informações que coletara sobre a região o soberano dava a Flores de Valdés uma
na sua viagem ao Estreito (ZULETA CAR- inusitada franqueza nos seus relatórios
RANDI, 2013, p. 159). ao Rei, decorrente da relação de certa
O porte da empresa requeria um co- confiança existente entre os dois. Filipe II
mandante qualificado, o que fez Filipe II resolveu, então, numa decisão conciliató-
colocar a empreitada sob as ordens do ria, designar Sarmiento de Gamboa como
Capitão-General Diego Flores de Valdés, governador das terras a serem ocupadas e
um dos mais destacados e experientes colonizadas no Estreito. O aparente assen-
navegadores da armada da Espanha, com timento de Sarmiento com a decisão do
mais de trinta anos a serviços da Coroa. Rei, na realidade latente e persistente irre-
Asturiano, de origem nobre, Valdés princi- signação, teria desdobramentos no desfe-
piara jovem no trato da vida do mar, em na- cho da expedição e na visão histórica que
vios da armada real que cruzavam o Canal se formou dos acontecimentos da jornada.
da Mancha com destino às províncias de Os preparativos para a expedição con-
Flandres. Depois de navegar durante anos, tinuaram por toda a primeira metade de
como capitão de naus, pelas Antilhas e 1581. Em maio, foi emitido documento
Tierra Firme, Valdés participara, como al- real com a Instrucción de Filipe II para Val-
mirante, da expedição, sob o comando de dés, em que são explicitados e detalhados
Pedro Menéndes de Avilés, com o objetivo os verdadeiros objetivos da armada:
de expulsar franceses que ocupavam a Fló-
rida. Por sua participação na Flórida, Filipe Habeis de advertir que por ahora
II concedeu a Valdés a mercê de caballero conviene que no se entienda que
esta Armada que se hace es para
da Ordem de Santiago, a mais importante
el Estrecho, así por lo que toca a
das ordens militares da Espanha, estabe- los enemigos, y poderlos mejor
lecida desde as lutas de reconquista do castigar estando descuidados,
território espanhol aos mulçumanos. Pro- como por que la gente vaya de
movido a General, Valdés comandou, pos- mejor gana; y así publicareis, que
teriormente, as frotas da Tierra Firme e, por es para la guarda de las Indias,
que esto mismo se dice acá, y va
duas vezes, a Armada de la Guardia, uma
referido en todos los despachos
esquadra de escolta aos comboios da Car- que hasta ahora se han hecho.3
rera de Indias. A escolha pelo Rei de Diego
Flores de Valdés como Capitão-General da Embora a construção dos fortes e a co-
esquadra que ia ao Estreito de Magalhães lonização das terras do Estreito constas-
desagradou a Pedro Sarmiento de Gam- sem das recomendações reais4, o caráter

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militar da jornada era predominante e a General della a Vos Diego Flores


armada deveria priorizar a perseguição e de Valdes, cavallero de la orden
punição aos corsários e a destruição de de santiago para que vais [...]y a
visitar y correr aquellas mares,
quaisquer lugares fortificados que eles ti-
limpiarlas de los dichos cosarios
vessem estabelecido em toda costa atlân- y castigarlos5.
tica. A travessia do Estreito somente seria
feita caso houvesse a certeza de que em- Conforme as instruções do Rei o ver-
barcações invasoras o tivessem ultrapas- dadeiro escopo da expedição deveria ser
sado com destino à costa do Pacífico. O mantido em sigilo, tanto para que a em-
preâmbulo da Instrucción do Rei a Diego presa não chegasse ao conhecimento das
Flores de Valdés, que se compõe de 17 re- nações não ibéricas, como para não difi-
comendações, demonstra o principal in- cultar o recrutamento dos que embarca-
tento daquela que ficou conhecida como riam, considerando que já eram sabidas
a armada do Estreito: pelos marinheiros as condições adversas
dos mares nas proximidades do Estreito,
por quanto despues que se a se prever perigosa a viagem. Os maiores
descubrió la comunicación de
entraves aos trabalhos de preparação da
los mares del Norte y Sur por
el estrecho de Magallanes no expedição foram decorrentes da escas-
se habia proseguido aquella sez de recursos da Coroa para viabilizar
navegacion por no parecer os equipamentos, artilharias e suprimen-
necessaria y estando por no tos diversos, necessários ao empreendi-
haber usado casi nada Francisco
mento, e o recrutamento de soldados e
Drac cosario ingles con algunos
navios con [...] descubrimiento y marinheiros. A arregimentação de cerca
pasó por el mesmo estrecho ala de dois mil e quinhentos homens de ter-
mar del Sur en cuyos puertos ra e mar para a armada do Estreito sofreu
ya se le hizo los Robos y daños várias atribulações, considerando-se que
que son notorios, y aun que de muitos deles serviam nas tropas que a Es-
muchas partes salieron navios en
panha mantinha na Itália e Flandres e um
su seguimiento no le puedieron
hacer y asi livre del castigo que le expressivo contingente participava, na
queria sin [...] delito, se salió y fue época, das frotas comerciais espanholas.
causa de que era aquel Reyno y A baixa remuneração e o segredo que cer-
el de francia con el mismo intento cava a empresa, com a possibilidade de
se ayan armado por diferentes
uma perigosa jornada, desestimulavam
personas como se save que de
proximo se ha hecho mucha o recrutamento. Documentos coetâneos
cantidad de navios, y visto que aos fatos demonstram que componentes
no sola mente sera necessario de frotas que retornavam à Espanha ti-
defenderlos este proposito y veram que ser transferidos, à força, das
fortificar el dicho Estrecho para naus em que se encontravam para as
vedarles la entrada pero tambien
embarcações da armada, e, um grupo de
averia procurarlos castigar con
Rigor para que con este exemplo 280 recrutados teve que ficar aprisionado,
se corrigiese el atrevimiento para evitar que os soldados desertassem,
que otros podrian ter de hacer até que houvesse a partida da expedição
cosas semejantes, havemos (PHILLIPS, 2016, p. 26).
acordado de mandar juntar en
el Rio de Sevilla, y otros puertos Informações chegadas à Coroa ad-
del Andaluzia, una armada de vindas do embaixador na França, Juan
navios y provido por cappitan Baptista de Trassis, davam conta que,

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no norte da França, uma grande expedi- iniciasse a viagem o mais breve possível,
ção composta de 12 navios se organizava o Duque de Medina Sidonia, capitán ge-
com destino a terras brasileiras6. Conco- neral del mar de Andalucia, estabeleceu
mitantemente, outros relatos indicavam a data da partida da expedição para 25
rumores de movimentação de ingleses de setembro de 1581, saindo do porto de
com o intuito de repetir as investidas de Sanlúcar de Barrameda, base das opera-
Francis Drake. Essa situação levava à ções da expedição. Até então, o destino
premência na montagem da armada do da esquadra era desconhecido da maioria
Estreito, mas, dificuldades logísticas na dos que iam viajar. A data aprazada des-
preparação da frota ocasionavam a pos- considerou advertências feitas pelos pilo-
tergação da sua partida. Desde que Filipe tos sobre a impropriedade daquela esco-
II designou Diego Flores de Valdés como lha, em razão de que os dias seguintes ao
Capitão-General da chamada armada do equinócio seriam passíveis de incidência
Estreito, descontentamentos surgiram de fortes tempestades.
vindos daqueles que se julgaram descon- Com ventos calmos, cinco naus saíram
siderados pela escolha. A partir daí, foram ao mar no dia 25 de setembro, seis no dia
imputados, quase que exclusivamente, a seguinte, e, no dia 27, a galeaza capitana e
Valdés todos os percalços e transtornos as demais embarcações da esquadra dei-
por que passou o empreendimento. Pedro xaram o porto de Sanlúcar de Barrameda.
Sarmiento de Gamboa, considerando-se Após seis dias de navegação com brisas fa-
o motivador da existência da empreitada, voráveis, quando a esquadra se encontrava
desde os passos iniciais da preparação da nas proximidades de Cádiz, a cerca de 105
expedição, colocou-se em frontal antago- milhas de Sanlúcar, irrompeu fortíssima
nismo ao comando de Valdés, registrando tempestade com danosas consequências
sua insatisfação em cartas e em narrati- para a expedição. É Pedro de Rada, escri-
vas que escreveu sobre a jornada (FER- bano mayor da armada, quem descreve o
NANDEZ DURO, 1897). quadro daqueles dias tormentosos:

A JORNADA Y otro dia sabado 7 nos hallamos


tan decaidos que nos alejamos de
No século XVI, não existiam armadas ou la baya de cadiz diez leguas y los
exércitos regulares. As tropas e esquadras pilotos no sabian donde estaban.
eram formadas com fins transitórios e [...] la nao nombrada Nuestra
específicos e assim se deu com a armada Senora de Guia de que era capitan
Martin de Quiros se fue al fondo y
do Estreito. A armada foi constituída por
se ahogaron todos los que en ella
23 naus, sendo que apenas quatro em- yban que fue la mayor lastima
barcações pertenciam à Coroa, a galeaza que se pasó sin poder socorrer
capitana San Cristóbal, o navio com que a un solo hombre aunque era las
Pedro Sarmiento de Gamboa atravessara o quatro de la tarde; yban en esta
Estreito e duas fragatas. As demais foram nao 150 hombres y unas mujeres
y niños pobladores7.
alugadas aos seus proprietários mediante
pagamento mensal com base na capacida- Resultado da funesta tormenta: naufrá-
de em tonelagem das embarcações, totali- gio de quatro embarcações e várias naus
zando 8.400 toneladas contratadas (MENA danificadas. Perderam-se provisões, ar-
GARCÍA, 2003, p. 278). mamentos e munições, e morreram apro-
Após vários atrasos e atendendo de- ximadamente 800 pessoas na tragédia.
terminação do Rei para que a armada Em Cádiz, os trabalhos de recuperação

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das naus e de recomposição do abaste- Depois de 53 dias de navegação, com


cimento da frota e das munições e arma- muitos enfermos e mais de 150 mortos no
mentos perdidos durante a tempestade se percurso, por doenças relacionadas à pre-
estenderam até meados de novembro. No cária alimentação e condições de salubri-
dia 23 de novembro, Filipe II determinou dade das naus, a esquadra chegou ao Rio
a partida da expedição com destino ao de Janeiro. Sarmiento, que escreve na ter-
Rio de Janeiro, onde deveria permanecer ceira pessoa, com imensurável autolouva-
até outubro do ano seguinte, aguardando ção e sempre aproveitando para fustigar
condições favoráveis de navegação para Flores de Valdés, afirma que muitos mais
o Estreito. No dia 2 de dezembro, a frota teriam morrido se não fosse a ajuda de
estava pronta para deixar a Baía de Cádiz. pessoas benevolentes e dele próprio, que
Quando todos já estavam embarcados, atuou organizando o envio de mantimen-
surgiu uma forte ventania vinda do leste, tos para os enfermos e convalescentes
que durou quatro dias, atingindo as naus (SARMIENTO DE GAMBOA, 1895, p. 240).
com tal intensidade que a Fragata Guada- Quando da chegada da expedição, o
lupe foi a pique. Com a melhoria do tem- Rio de Janeiro era uma pequena povoa-
po, a expedição, enfim, partiu de Cádiz na ção sem muitos recursos para receber um
manhã do dia 9 de dezembro. A armada contingente tão elevado de pessoas. Com
do Estreito de Magalhães estava, então, muitos doentes na armada, os colonos
resumida a 16 embarcações com 2.408 que viviam na povoação se ofereceram
pessoas a bordo (PHILLIPS, 2016, p. 37). para tratar dos enfermos. Diego Flores
Após um mês de navegação, a armada de Valdés, considerando a precariedade
aportou na Ilha de Santiago, no Cabo Verde, do lugar para suprir as necessidades da
ponto de parada das naus que cruzavam o armada durante o período em que fica-
Atlântico. Considerando que a expedição riam aguardando a partida para o sul do
ia demorar alguns dias em Santiago e es- Atlântico, enviou uma missão para a en-
tava no local uma caravela de partida para tão mais abastada e antiga cidade de São
o Brasil, Valdés, atentando para a principal Vicente para obter as provisões requeri-
finalidade da expedição, enviou cartas para das (VILARDAGA, 2010, p. 67). A armada
os governadores da Bahia e Pernambuco. permaneceu no Rio de Janeiro por mais
Conforme narra Pedro de Rada, o teor das de sete meses. Aguardava, além do tem-
missivas se referia, especificamente, a pe- po propício para continuar a viagem para
didos de informações sobre o estado das o Estreito, o reforço de suprimentos pro-
costas brasileiras com relação a incursões metido por Filipe II, quando da partida
corsárias e pacificação das terras. Os go- da Espanha. Durante a invernada no Rio,
vernantes deveriam enviar as notícias para fato a merecer registro foi o recebimento
o Rio de Janeiro para onde, em seguida, a por Valdés de correspondência vinda do
armada se deslocaria8. É patente, mesmo Reino dando-lhe ciência da concessão a
antes de chegar ao Brasil, a preocupação ele por Filipe II da Encomienda de Oreja
de Valdés com o estado da costa brasileira, na Ordem de Santiago. O que demonstra
alvo de já sabidas constantes investidas de que apesar das renitentes manifestações
franceses em resgates da chamada madei- afrontosas de Pedro Sarmiento contra o
ra de tinta. seu comando na armada, Flores de Valdés
Com o reforço de provisões, e com continuava em alta conta no conceito do
mais de 50 deserções, a armada deixou o monarca. Outra carta recebida da Espa-
Cabo Verde no dia 2 de fevereiro de 1582. nha dava notícia de partida de franceses

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com destino ao Brasil, a ressaltar e reme- ça-se a isso, em caráter preponderante,


morar a principal finalidade da expedição, a inserção de Portugal e suas colônias
aquela de perseguição aos corsários9. na nova conformação geopolítica advin-
da da União Ibérica. Todo esse ambiente
RUMO À PARAÍBA conjuntural foi, sem dúvida, considerado
quando da montagem e preparação da
Ao tempo em que Filipe II reivindicava
chamada armada do Estreito, que apesar
seus direitos ao trono português, encon-
ter sido cunhada nos registros históricos
travam-se os franceses, há quase uma
com essa titulação não tinha o estabele-
década, em um proveitoso convívio com
cimento no Estreito de Magalhães como
os indígenas Potiguara nas terras da Pa-
sua tarefa primordial, mas sim varrer das
raíba, estimulando agressões aos portu-
costas atlânticas da América corsários
gueses estabelecidos nas proximidades.
e contrabandistas, e, sendo a Paraíba, à
Foram fracassadas todas as tentativas de
época, um dos alvos da cobiça desses tra-
expulsar os franceses da região e pacifi-
ficantes, essa orientação perpassa todo o
car os indígenas, iniciadas ainda no tem-
curso da expedição, desde as primícias.
po do Rei português D. Sebastião. Filipe II,
Essa diretriz se observa nas instruções
quando se encontrava em Badajoz, à es-
do Rei para Diego Flores de Valdés e na
pera de ser reconhecido nas Cortes de To-
mar, em setembro de 1580, recebeu uma escolha do Rio de Janeiro como porto bra-
solicitação que fosse enviada às terras do sileiro para a armada invernar, muito mais
Brasil pessoa diligente que desse a notí- próximo da Paraíba do que do Estreito,
cia de sua vitória em Portugal. Em feverei- a atender recomendações de Conselho
ro de 1581, quando Filipe II se achava em Real que considerava o local adequado
Elvas e não havia ainda sido formalizada “[...] por que de el se puede acudir a la
em Tomar a União Dinástica, sugeriu-se o necesidad que se ofrezca en la banda del
envio às partes do Brasil do Capitão Fru- norte”11. De acordo com o relato de Pedro
tuoso Barbosa, e foi o próprio monarca, de Rada, os generais Diego Flores de Val-
em carta de fevereiro de 1581, a D. Duarte dés e Diego Alcega deixaram o Rio de Ja-
de Castelo Branco, quem ordenou a ime- neiro, em 2 de junho de 1583, “para saler
diata partida. Frutuoso Barbosa deveria de este puerto e yr corriendo toda la costa
socorrer a região da Paraíba e seguir para de brasil con destino de limpiarla y hechar
a Bahia, ao encontro de Lourenço da Vei- de ella los corsarios [...] e yr a la paraiba
ga, para o governador mandar proceder à donde estan los françeses fortificados”12.
aclamação do novo Rei nas várias capita- A frota chegou à cidade de São Salvador
nias. No mês seguinte, foram autorizados, da Bahia de Todos os Santos no dia 13 de
através de cartas régias, o fornecimento julho, sem maiores incidentes.
dos armamentos e mantimentos necessá- Esse ambiente conflituoso levava a
rios para que Barbosa pudesse proceder América portuguesa e as terras da Para-
a preparação de sua segunda expedição10. íba a caírem nas malhas da rede de en-
Na Paraíba, continuava-se a manco- frentamentos que envolviam a Monarquia
munação dos franceses e dos Potiguara Hispânica com os países do norte euro-
no resgate do pau-brasil, com a extração peu. Tendo o General Diego de Alcega
de relevantes carregamentos da madeira retornado à Espanha, Valdés justificara a
sem incidência de qualquer tributação, Filipe II, em correspondência encaminha-
os quintos reais, o que acarretava expres- da por ele ao Rei, a sua permanência na
sivos prejuízos para os ibéricos. Acres- Bahia, conforme seu próprio relato:

19
Sylvia Brandão Ramalho de Brito

[…] combenia mucho que mi tistas referentes à ida do espanhol Diego


persona quedase en la ciudad con Flores Valdés para combater os franceses
los navios de armada que traje que, durante anos, traficavam na embo-
assi para la seguridad della como
cadura do Rio Paraíba, na época também
para yr de aqui a pernambuco
y a la paraiba echar de alli los chamado de Rio São Domingos. A visão
franceses que estan fortificados pétrea que os historiadores formaram
[...] y assi escribi a Su Mag. que sobre o episódio, sedimentada por anos
la principal causa de mi quedada de recorrentes repetições, justificavam a
fue para yr a la paraiba y hechar presença do general asturiano no territó-
de alli los françeses y dejar aquel
rio da Paraíba por uma perspectiva ditada
puerto con defensa y seguridad.13
pela casualidade e improvisação. Estaria
Diego Flores de Valdés ficou na Bahia Valdés na Bahia, retornando para a Espa-
durante quase oito meses, aguardando nha, quando se deu mais uma tentativa
o desfecho do confronto que se deu nos frustrada dos portugueses em expelir os
Açores entre os espanhóis e o consórcio franceses da Paraíba. Instado pelo gover-
de partidários de D. Antonio e franceses nador-geral, a rogo dos moradores das
comandados por Filipi Strozzi14. Com as capitanias de Pernambuco e Itamaracá,
precárias comunicações existentes à épo- Valdés teria se deslocado para combater
ca, somente em 12 de janeiro de 1584, os franceses como uma forma compensa-
quando aportou em Salvador navio pro- tória do seu fracasso na empresa do Es-
cedente de Viana do Castelo, é que se to- treito de Magalhães.
mou conhecimento da vitória das forças A historiografia hispânica sobre o epi-
de Filipe II na Ilha Terceira, cinco meses sódio, em regra, caminha na mesma ve-
antes, quando a armada espanhola der- reda dos autores brasileiros. Os relatos
rotou as forças francesas, sepultando, e as versões dos espanhóis sobre a ida
terminantemente, as últimas esperanças de Diego Flores de Valdés à Paraíba fo-
do Prior do Crato de conquistar o trono ram construídos sobre os alicerces dos
de Portugal (SUMÁRIO, 2006, p. 37). E en- vários depoimentos e narrativas de Pe-
tão, com todas as providências tomadas, dro Sarmiento de Gamboa que, frontal e
Diego Flores de Valdés partiu, em primei- acintosamente, desconsideravam a parti-
ro de março, com destino à Capitania de cipação do general asturiano em todas as
Pernambuco, onde seria preparada a ex- fases da denominada armada do Estreito,
pedição para a Paraíba. Embarcaram na desde que, preterido por Filipe II, não as-
frota do general espanhol o ouvidor-geral sumiu o comando da empresa. Antonio
Martim Leitão, o provedor-mor Martim de Herrera, na sua coeva Historia General
Carvalho e o bispo D. Antônio Barreiros. del Mundo, de XV años del tiempo del señor
A frota era composta de quatro naus re- Rey don Felipe II, publicada em Valladolid,
manescentes da armada do Estreito, um em 1606, escreve que Valdés, estando na
navio deixado pelo General Alcega, uma Bahia, teria ido à Paraíba persuadido por
caravela e duas naus portuguesas e mais Frutuoso Barbosa, Capitã de aquella tier-
dois pequenos navios carregados de açú- ra, para expulsar os franceses que “alli
car que viajavam sob proteção da armada, avia mucho tiempo que avia poblado, y
ao todo dez embarcações15. ella uan fortificados por el comercio del
A historiografia clássica e mesmo con- palo del Brasil que es lo mejor, y mas fino
temporânea certificou, sem refutações, de aquella Costa” (HERRERA, 1606, p.
o capítulo dos acontecimentos quinhen- 563). Quase três séculos depois, a contida

20
Navigator 33 A navegação do mar del sur e a conquista da Paraíba: a política militar espanhola
durante a Monarquia Hispânica

narrativa de Herrera foi substituída pelas niu-se com a Câmara de Olinda, estando
diatribes contra Valdés dos apologistas de presentes também autoridades e pessoas
Sarmiento, dos quais o mais destacado foi gradas do lugar, expondo a importância da
o já mencionado Cesáreo Fernández Duro. expulsão dos franceses da Paraíba para a
Esse engrandecimento de Pedro Sarmien- tranquilidade e segurança da região, paci-
to nos eventos da armada do Estreito em ficando os “belicosos” Potiguara, e, para
detrimento de Diego Flores de Valdés foi que os portugueses assumissem o domí-
questionado por Antonio Rumeu de Ar- nio sobre o então chamado “puerto de san
mas para quem os historiadores têm sido domingos de la parayva”, conforme está
muito intransigentes em criticar a atua- assentado na coeva Relación de Andrés
ção de Valdés e generosos em ajuizar as Eguino16. Valdés pediu o envolvimento na
virtudes de Sarmiento de Gamboa “[...] empresa de todos os que habitavam aque-
con una interpretación maniqueista de la la terra. Os moradores concordaram em
historia, Flores es siempre el malo y Sar- constituir, às suas expensas, uma força,
miento un dechado de bondade y abnega- acrescida com indígenas aliados, que iria
ción.” (RUMEU DE ARMAS, 1985, p. 5-32). por terra à Paraíba, concomitantemente à
Poucas vozes discordantes, quase soli- armada. Filipe de Moura, lugar-tenente de
tárias, se apresentaram em contraposição Jorge de Albuquerque, terceiro donatário
ao que, até hoje, está sedimentado na his- da Capitania de Pernambuco, foi escolhido
toriografia luso-brasileira e espanhola, com como comandante das tropas terrestres17.
relação aos reais objetivos da expedição de A frota rumo ao Rio Paraíba foi, então,
Valdés. Pesquisas recentes realizadas nos formada: cinco naus espanholas, quatro
arquivos espanhóis demonstram que a in- embarcações remanescentes da armada
cursão à Paraíba da armada comandada do Estreito e uma das naus que vieram da
pelo Capitão-General Diego Flores de Val- Espanha com o General Diego de Alcega;
dés era prevista e pretérita à saída da frota duas portuguesas que foram incorpora-
do porto de Sanlúcar de Barrameda. O apa- das na Bahia, sob o comando de Diogo
recimento do códice do escribano mayor da Vaz da Veiga; duas que Valdés confiscara
armada do Estreito, a Relación de Pedro de em Pernambuco e uma caravela de Tomé
Rada, com a sua detalhada e fidedigna nar- da Rocha que era, no relato de Pedro de
rativa das ocorrências da expedição do Es- Rada, um nobre pernambucano18. Os
treito, vem se contrapor, de forma nítida e portugueses e indígenas aliados se con-
convincente, ao atual estágio historiográfi- centraram na Vila de Igarassu e, no dia
co que é aceito sobre os fatos motivadores 5 de abril, após as providências tomadas
da chamada “batalha da Paraíba”, o longo pelo ouvidor-geral Martim Leitão, que não
embate para expulsar os franceses da re- acompanhou a expedição, iniciaram o
gião (AUTOR, 2020). percurso para a Paraíba. A marcha seguiu
pelo caminho de Simão Rodrigues Cardo-
O CENÁRIO DA GUERRA
so, vereda desbravada, poucos anos an-
No dia 19 de março de 1584, após de- tes, por Rodrigues Cardoso quando então
zenove dias de navegação desde a partida capitão e ouvidor de Pernambuco tentara,
da Bahia, a frota chegava a Pernambuco. sem êxito, em consórcio com Frutuoso
Na cidade de Olinda as naus ficaram an- Barbosa, a conquista da Paraíba (SALVA-
coradas longe da costa, o que não permitia DOR, 1982, p. 222).
a aproximação de naus maiores que 200 Providências foram tomadas para a
toneladas. Após desembarcar, Valdés reu- partida da frota. Na galeaza capitana San

21
Sylvia Brandão Ramalho de Brito

Cristóbal, de 700 toneladas, de propriedade aproximar a frota da embocadura do Rio


real e maior embarcação da dita esquadra Paraíba, divisou ao longe uma embarca-
do Estreito, ia o estado-maior da armada, ção francesa que deixava a foz do rio, mas
além do General Valdés, o contador e vedor que, sempre de acordo com a narrativa de
Andrés de Eguino, o tesoureiro Pedro de Es- Rada, não teria condições de ser alcança-
quivel, o conselheiro capitão Juan Ramos, da e capturada19.
o sargento-chefe Pedro de Loaísa e o es- Esse relato de uma testemunha ocu-
crivão-chefe Pedro de Rada, dentre outros lar do fato se contrapõe ao que escreveu
graduados. A eles se juntou, no decorrer da Fernández Duro de que Valdés “dejan-
viagem, Frutuoso Barbosa, o que se pode do en la boca las naos mayores com tal
depreender pela importância de Barbosa descuido ó tibieza, que una de los france-
na expedição, provavelmente decorrente da ses se les fué á la vista, haciéndose á la
carta régia para a conquista da Paraíba de mar” (FERNANDEZ DURO, 1897, p. 166).
que ele era ainda possuidor desde os tem- De acordo com Pedro de Rada, às 10 da
pos do Rei cardeal D. Henrique. manhã, a armada ancorou na cercania do
A já sabida pouca profundidade da foz “puerto de la Parayva” de onde se podia
do Rio Paraíba fez com que, em Salvador, avistar quatro naus francesas fundeadas
duas naus portuguesas de tonelagem em uma das margens do estuário do rio,
compatível às operações no local fossem três delas atracadas próximas e a outra
agregadas à armada sob o comando de mais distante. Preparou-se, então, a entra-
Valdés. Essas duas embarcações estavam da das forças no braço de mar para abor-
sob as ordens de Diogo Vaz da Veiga, fi- dagem dos franceses. O General Diego
lho do antigo Governador-Geral Lourenço Flores de Valdés deixou a nau capitana e
da Veiga, e do Capitão Pedro Correia de transferiu-se para a Fragata Sancta Ysavel
Lacerda. A armada partiu de Olinda na com homens por ele escolhidos. Ao anoi-
sexta-feira 6 de abril, “una hora antes que tecer, atracaram a cerca de meia légua do
amaneçiese”, conforme o relato de Pedro local onde os franceses haviam feito um
de Rada. Na altura da Ilha de Itamaracá baluarte com cinco peças de artilharia.
“que esta cinco leguas mas alla de Per- No dia seguinte, ainda no relato de Pe-
nambuco”, conforme havia sido anterior- dro de Rada, ao tentarem penetrar mais
mente combinado, ainda seguindo a des- no rio, as forças espanholas foram alveja-
crição de Rada, o Capitão de Itamaracá, das pelos franceses. O general asturiano
Pero Lopes Lobo, veio juntar-se à esqua- determinou que o fogo não fosse respon-
dra com uma pequena galé e três barcos dido e que uma bandeira branca fosse
de nativos. Assim rematada e constituída levantada para saber da disposição dos
a expedição, não há registro de maior fro- franceses para a paz. Como os franceses
ta que, até então, houvesse singrado as continuaram a atirar, Valdés ordenou que
costas do Brasil, tanto pelo número das da fragata o Capitão de Artilharia Espino-
embarcações quanto pelo porte das naus sa direcionasse fogo contra os inimigos, e
que a compunham. No dia seguinte, a ar- também que a artilharia da nau de Diogo
mada chegou à Paraíba. Às três da tarde, Vaz da Veiga também o fizesse20.
a capitana ancorou “en nuebe brazas un A disparidade das forças era descomu-
poco más adelante del Cavo Blanco” à nal. As entrelopas embarcações francesas
espera de naus que haviam se atrasado. eram de contrabandistas de pau-brasil e a
No início da manhã do domingo, a arma- feitoria feita no local para resgate do pau
da reunida retomou a navegação. Ao se de tinta tinha, de forma compreensível,

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Navigator 33 A navegação do mar del sur e a conquista da Paraíba: a política militar espanhola
durante a Monarquia Hispânica

precário armamento. Andrés de Eguino na te acontecido. Do texto jesuítico se extrai


sua Relación sobre a jornada na Paraíba que “(Valdés) que aí achou, surtas e va-
estimou a maior das naus francesas em radas em terra, cinco naus de franceses,
200 toneladas, certamente menos que isso que já tinha queimadas, e uma lhe fugiu”
em razão da pouca profundidade na boca (SUMÁRIO, 2006, p. 39). Frei Vicente do
do rio, e poderiam os navios gauleses “te- Salvador, por sua vez, escreveu: “[...] onde
ner cada hu treynta y quarenta ombres21”, acharam a Diogo Flores, que já tinha quei-
o que totalizariam, as cinco naus, aproxi- madas três naus francesas que ali achou
madamente 200 homens a bordo. Do lado surtas e varadas em terra [...]” (SALVA-
espanhol, somente a capitana San Cris- DOR, 1982, p. 222). Observa-se que mes-
tóbal tinha capacidade para mais de 300 mo na arrevesada escrita do jesuíta não
pessoas. Além disso, a Nau San Cristóbal se indica que Valdés “queimou” as naus,
e a Fragata Sancta Ysavel, ambas perten- mas que já as “tinha queimadas”. Mesmo
centes à Coroa espanhola, durante anos assim a versão de que as naus francesas
serviram à Armada de la Guardia, esqua- foram queimadas pela tropa de Valdés foi
dra armada para escolta e proteção dos chancelada por Varnhagen, “(Valdés) [...]
navios espanhóis, e eram apropriadas para ao chegar à Paraiba, encontrou aí seis
combate. Se isso não bastasse, diferente- naus francesas, das quais mandou in-
mente de contrabandistas de pau-brasil, os cendiar cinco [...]” (VARNHAGEN, 1981,
espanhóis tinham entre eles os mais expe- p. 383) e Capistrano de Abreu “(Valdés)
rimentados combatentes daquela que, na [...] queimou alguns navios franceses car-
época, era uma empresa militar nos mol- regados de pau-brasil” (ABREU, 1988, p.
des da guerra, a exemplo do Capitão de Ar- 101). Capistrano, posteriormente citando
tilharia Andrés Espinosa que desferiu fogo Andrés de Eguino e Juan Peraza, admitiu
no baluarte francês, celebrado no cordel implicitamente o seu erro na descrição
do soldado Juan Peraza, “Y aqueste An- do episódio, quando fez as suas valiosas
drés de Espinosa, por ser persona ingenio- anotações à História do Brasil de Varnha-
sa, era artillero mayor, y ninguno era mejor gen (VARNHAGEN, Idem, p. 391). Na im-
[...]” (PERAZA, 1881, p. 468). possibilidade de enfrentar a muito maior
Ao perceberem os estragos causados força que tinha a esquadra de Valdés ou
pela artilharia dos homens de Valdés à de fugir pelo mar com as naus sem seus
feitoria que haviam instalado na margem acessórios de navegação, restou como
do rio para resgate do contrabando, cons- alternativa para os franceses queimar as
tituída do fortim e das choças em que se embarcações e se internarem na mata
abrigavam e guardavam aprestos, os fran- com seus aliados Potiguara.
ceses passaram a queimar as suas três A tropa que veio, por terra, de Pernam-
embarcações que estavam juntas e tam- buco e Itamaracá chegou ao porto da Pa-
bém as suas próprias instalações. Isso é o raíba no dia 19 de abril. Segundo o relató-
que está registrado no relatório de Pedro rio de Pedro de Rada, Valdés reuniu todos
de Rada. O cronista jesuíta, que não esta- os seus homens para tratar da construção
va presente na ocasião do ocorrido e que, de um forte “para defensa del puerto y se-
posteriormente, o relatou no seu Sumário guridad de la tierra”. O forte, “de terra e
das Armadas, o fez com redação não mui- faxina”, foi situado na margem esquerda
to evidente, que foi praticamente copiada do rio, a uma légua da embocadura. No
por frei Vicente do Salvador, fazendo sus- dia 22 de abril, a construção do forte teve
citar dúvidas sobre o que havia realmen- início com a participação do próprio Ge-

23
Sylvia Brandão Ramalho de Brito

neral Valdés que, segundo a Relación de ban de las Alas, e, no voto e solemnidad,
Pedro de Rada, na presença de todos, do dia 29 de abril, quando da transmissão
pegou uma pá e começou o trabalho22. do forte em construção ao capitão Fran-
Como as naus maiores estavam afasta- cisco de Castrejón28. A fortificação na
das do porto e submetidas a mar revolto, Paraíba foi, na época, uma das mais im-
com a quebra de cabos e âncoras, situa- portantes da costa brasileira, com capaci-
ção que não poderia perdurar, decidiu o dade para “perto de 170 homens, e alguns
General Valdés providenciar as medidas de cavalo” na estimativa da crônica jesuí-
a serem tomadas para o seu retorno para tica (SUMÁRIO, 2006, p. 40).
a Espanha. Como Capitão-General da ar- Diego Flores de Valdés, segundo o
mada Valdés tinha autoridade, concedida relato de Rada, após entregar certifica-
pelo Rei para deliberar, tanto no mar como dos aos homens de Pernambuco pelos
na terra. O poder de um Capitão-General serviços que estavam prestando, deixou,
de uma frota espanhola chegava mesmo no último dia do mês de abril, a Paraíba
a superar o de um Vice-Rei, se ambos es- retornando para a nau capitana, navegan-
tivessem num mesmo lugar ao mesmo do para a Espanha na terça-feira, dia pri-
tempo (PHILLIPS, 2016, p. 19). E assim, o meiro de maio de 1584, o que seria para
General Valdés designou o Capitão Fran- Rada, incorretamente, o dia da celebração
cisco de Castrejón como alcaide do forte dos santos São Filipe e Santiago, que so-
que estava sendo construído23. mente se daria dois dias depois. Como,
No dia 29 de abril, foi transmitido ao ao que conseguimos averiguar, a data
Capitão Francisco de Castrejón o forte comemorativa dos dois apóstolos nunca
ainda em construção, tendo sido feita a mudou, também não foram muito atentos
cerimônia de costume com o voto y so- os religiosos que escreveram sobre o fato,
lemnidad do alcaide da fortaleza. O termo o jesuíta redator do Sumário das Armadas
de voto y solemnidad de Castrejón, docu- e frei Vicente do Salvador, quando indica-
mento inédito, faz parte dos manuscritos ram São Filipe e São Tiago como os san-
de Pedro de Rada24. Na guarnição do for- tos do primeiro de maio, e daí vinculando
te, sob o comando de Castrejón, ficaram a partida de Valdés naquele dia ao nome
110 soldados armados com mosquetes e da forte em construção, versão que san-
arcabuzes, e foram deixadas provisões e cionada por Varnhagen persiste, até hoje,
munições para sete meses de duração. em quase toda a historiografia do período.
O navio tomado aos franceses foi deixa- O objetivo deste artigo foi compreen-
do para, após o seu desmanche, ter sua der a política colonial espanhola para a
madeira utilizada nas obras do forte. Tam- região do Atlântico sul, demonstrando de
bém, três lanchas abandonadas pelos forma investigativa o percurso que conduz
franceses foram deixadas para utilização à compreensão da inserção da região da
por Castrejón25. No início da construção Paraíba no horizonte da Monarquia His-
da fortaleza decidiu-se chamá-la de San pânica. Os debates, na esfera da adminis-
Phelipe y Sanctiago, conforme se lê no re- tração régia, sobre fortificações na região
latório de Pedro de Rada26. Esse nome do demonstram uma clara preocupação com
forte já aparece em documentos oficiais a defesa da área, em uma época atormen-
anteriores à data da volta de Valdés para tada pela ameaça constante de invasões
a Espanha, tais como em uma Reláción de “estrangeiras”. A compreensão do pro-
bastimentos27 entregues, em 28 de abril, a cesso de conquista da região da Paraíba
Castrejón pelo provedor da armada Este- é importante para entender a sistemática

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Navigator 33 A navegação do mar del sur e a conquista da Paraíba: a política militar espanhola
durante a Monarquia Hispânica

imperial dos Filipes para a América portuguesa. Notadamente, o objetivo de conquistar


a região já existia há muito tempo, não foi uma idealização espanhola. No entanto, a
atuação das tropas de Diego Flores de Valdés, fundando no território uma fortificação
real, derrubou muitas das lógicas do sistema português que vigoravam desde os anos 30
e 40 do século XVI. A frota de Valdés inseriu o território da Paraíba, e por consequência o
Brasil, no disperso mosaico de empreendimentos encetados pelos Habsburgo.

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NOTAS

1
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2
AGI, Patronato 33, N. 2, R. 6, f. 3. “Instrucción dada por el virrey don Francisco de Toledo, al
capitán Pedro Sarmiento de Gamboa, sobre ir con una expedición al Estrecho de Magallanes.
Lima, 9 de octubre de 1579”.

3
AGI, Patronato 33, N. 3, R. 5. “Instrucción que Felipe II dio al general Diego Flores de Valdés,
sobre lo que debía hacer en la jornada que con su armada iba a emprender para el Estrecho
de Magallanes. Tomar, 1 de mayo de 1581”.

4
AGI. Real Cédula. Indiferente, 582, L. 1, f. 29v-31v.

5
AGI, Patronato 33, N. 3, R. 5, f. 3. “Instrucción que Felipe II dio al general Diego Flores de
Valdés, sobre lo que debía hacer en la jornada que con su armada iba a emprender para el
Estrecho de Magallanes. Tomar, 1 de mayo de 1581”.

6
Archivo General de Simancas (AGS), Secretaría de Estado, K1559, Doc 6.

7
O manuscrito de Pedro de Rada, escribano mayor da expedição, permaneceu em arqui-
vos privados por mais de 400 anos. A Relação inclui, além do relatório detalhado de toda
a empresa, cópias de vários documentos oficiais referentes aos sucessos da expedição,
em especial aqueles acontecidos na costa do Brasil. Huntington Library (HL). Relación de
Pedro de Rada. MS HM 59416, f. 3.

8
HL. Relación de Pedro de Rada, f. 7v.

9
HL. Relación de Pedro de Rada, f. 11r.

10
Biblioteca da Ajuda (BA), 49 - X - 1, f. 343-344.

11
AGS, Guerra Antigua, Legajo 109, Doc. 451.

12
HL. Relación de Pedro de Rada, f. 33r.

HL. Relación de Pedro de Rada, f. 75r. Requerimiento que el general Diego Florez hizo a
13

Manuel Telles Barreto governador de la baya del salvador de todos sanctos.

14
HL. Relación de Pedro de Rada, 75v.

15
HL. Relación de Pedro de Rada, f. 39r.

16
AGI, Patronato, 33, N3, R. 41.

27
Sylvia Brandão Ramalho de Brito

17
HL. Relación de Pedro de Rada, f. 41r.

18
HL. Relación de Pedro de Rada, f. 42r.

19
HL. Relación de Pedro de Rada, f. 42r-42v.

20
HL. Relación de Pedro de Rada, f. 43r.

21
AGI, Patronato, 33, N. 3, R. 41.

22
HL. Relación de Pedro de Rada, f. 46r.

23
AGS. Guerra Antiga, Legajo 165, Doc. 244.

24
HL. Relación de Pedro de Rada, f. 79r-79v.

25
HL. Relación de Pedro de Rada, f. 46v.

26
HL. Relación de Pedro de Rada, f. 46r.

27
AGI, Patronato, 33, N. 3, R. 47.

28
HL. Relación de Pedro de Rada. Voto e solemnidad que o capitão Francisco Castrejon fez
como alcaide do forte chamado San Phelipe y Sanctiago, que era construído na Paraíba.

28

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