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Descoberta 

ou descobrimento do Brasil refere-se, do ponto de vista dos europeus, à


descoberta por europeus do território atualmente conhecido como Brasil. Este momento é
muitas vezes entendido como sendo o do avistamento da terra que então denominaram
por Ilha de Vera Cruz, nas imediações do Monte Pascoal, pela armada comandada
por Pedro Álvares Cabral, ocorrida no dia 22 de abril de 1500. Esta descoberta inscreve-se
nos chamados descobrimentos portugueses.[1][2]
Embora quase exclusivamente utilizado em relação à viagem de Pedro Álvares Cabral, o
termo "descoberta do Brasil" pode também aplicar-se à chegada da expedição do
navegador e explorador espanhol Vicente Yáñez Pinzón, que atingiu o cabo de Santo
Agostinho, promontório localizado no atual estado de Pernambuco, em 26 de
janeiro de 1500. Trata-se da mais antiga viagem comprovada ao território brasileiro.[3]
[4]
 Entretanto, a navegação de navios castelhanos ao longo da costa americana não
produziu consequências. A chegada de Pinzón pode ser vista como um simples incidente
da expansão marítima espanhola.[5]
A nomenclatura deste evento histórico considera o ponto de vista dos povos do chamado
"Velho Mundo", que tinham registros na forma de História (escrita), e portanto se trata de
uma concepção de História eurocentrada. Marca-se então o início de uma colonização
portuguesa em territórios que posteriormente formaram o Brasil, por uma construção
social, mais especificamente política.

Descobrimento por Vicente Yáñez Pinzón

O mapa-múndi de Juan de la Cosa, datado de 1500, é a mais antiga carta náutica em que o Brasil
está representado.

Pormenor do extremo oriental da América do Sul no mapa de Juan de la Cosa. A leste do cabo de
Santo Agostinho aparece, desconectada do continente, a Ilha de Vera Cruz (Ysla descubierta por
portugal).
Cabo de Santo Agostinho, o local do descobrimento do Brasil por Vicente Yáñez Pinzón

Muitos estudiosos afirmam que o descobridor do Brasil foi o navegador espanhol Vicente


Yáñez Pinzón, que no dia 26 de janeiro de 1500 desembarcou no cabo de Santo
Agostinho, litoral sul de Pernambuco — esta considerada a mais antiga viagem
comprovada ao território brasileiro.[1][2][3][4]
A esquadra, composta por quatro caravelas, zarpou de Palos de la Frontera no dia 19 de
novembro de 1499. Após cruzar a linha do Equador, Pinzón enfrentou uma forte
tempestade, e então, no dia 26 de janeiro de 1500, avistou o cabo e ancorou suas naus
num porto abrigado e de fácil acesso a pequenas embarcações, com 16 pés de fundo,
segundo as indicações da sonda. O referido porto era a enseada de Suape, localizada na
encosta sul do promontório, que a expedição espanhola denominou cabo de Santa María
de la Consolación. A Espanha não reivindicou a descoberta, minuciosamente registrada
por Pinzón e documentada por importantes cronistas da época como Pietro Martire
d'Anghiera e Bartolomeu de las Casas, devido ao Tratado de Tordesilhas, assinado
com Portugal.[1][3][6][7] Durante a noite após o desembarque, perceberam grandes fogueiras
queimando à distância, na linha da costa à noroeste. Na manhã seguinte zarparam
naquela direção até chegarem a um belo rio, batizado por Pinzón de "rio Formoso". Na
praia, às margens do rio, registrou-se um violento combate com os índios locais,
pertencentes à tribo dos potiguaras. Rumando para o norte, Pinzón dobrou o cabo de São
Roque, e atingiu em fevereiro o rio Amazonas, ao qual denominou Santa María de la Mar
Dulce, de onde prosseguiu para as Guianas e, daí, para o mar do Caribe, voltando para a
Espanha no dia 30 de setembro de 1500. O primo de Pinzón, Diego de Lepe, empreendeu
uma viagem irmã, saindo de Palos ainda em 1499, vinte dias depois da partida da
esquadra pinzoniana. Lepe chegou ao cabo de Santo Agostinho em fevereiro de 1500,
porém navegou algumas milhas para o sul, observando que a costa se inclinava muito
para o sudoeste, e então voltou, percorrendo em seguida a mesma trajetória de Pinzón.[1][3]
O mapa de Juan de la Cosa, carta confeccionada no ano de 1500 a pedido dos primeiros
reis da Espanha — conhecidos como Reis Católicos —, mostra a costa sul-americana
enfeitada com bandeiras castelhanas do cabo da Vela (na atual Colômbia) até o extremo
oriental do continente. Ali figura um texto que diz "Este cavo se descubrio en año de mily
IIII X C IX por Castilla syendo descubridor vicentians" ("Este cabo foi descoberto em 1499
por Castela sendo o descobridor Vicente Yáñez") e que muito provavelmente se refere à
chegada de Pinzón em finais de janeiro de 1500 ao cabo de Santo Agostinho.[8] Mais para
leste ainda, e separada do continente, aparece uma Ysla descubierta por portugal ("ilha
descoberta por Portugal") colorida em azul. Provavelmente, de la Cosa quis refletir assim a
terra descoberta por Pedro Álvares Cabral em 1500 e que este batizara "Terra de Vera
Cruz" ou "de Santa Cruz". Os portugueses acreditavam tratar-se de uma ilha (Ilha de Vera
Cruz) que estava entreposta no Atlântico, separando a Europa das Índias.[8]
Em 30 de outubro de 1500, o rei Manuel I de Portugal casou-se com Maria de Aragão e
Castela, filha dos Reis Católicos e irmã de sua primeira esposa Isabel (que morrera
durante um difícil trabalho de parto), dando início a uma profunda ligação dinástica entre
Portugal e Espanha. No ano seguinte, partiu de Lisboa a primeira expedição lusa de
reconhecimento da costa brasileira, expedição esta confiada a Américo Vespúcio e
comandada por Gonçalo Coelho. A armada avistou no dia 17 de agosto de 1501 o cabo de
São Roque no atual Rio Grande do Norte, já descoberto por Pinzón (o cálculo de latitude
era relativamente preciso à época, embora o de longitude fosse bastante defeituoso). Os
portugueses seguiram em direção ao sul, percorrendo toda a costa leste do Brasil. Na
altura de Santa Cruz Cabrália, depararam-se com dois degredados advindos da esquadra
de Cabral, os quais resgataram. Constatariam então que Cabral descobrira não uma ilha,
mas sim um trecho de litoral do novo continente. A frota singrou até o cabo de Santa Maria
no atual Uruguai. A Coroa Espanhola enviaria mais tarde o navegador Juan Díaz de
Solís numa expedição para conhecer as terras que cabiam à Espanha de acordo com o
Tratado de Tordesilhas — cuja linha imaginária passava no litoral do atual estado de São
Paulo, em Cananéia.[9][10][11]
Por ter descoberto o Brasil, Vicente Yáñez Pinzón foi condecorado pelo rei Fernando II de
Aragão em 5 de setembro de 1501.[12]

A armada de Pedro Álvares Cabral

Nau de Pedro Álvares Cabral conforme retratada no Livro das Armadas, atualmente na Academia
das Ciências de Lisboa

Para selar o sucesso da viagem de Vasco da Gama na descoberta do caminho marítimo


para a Índia — que permitia contornar o Mediterrâneo, então sob domínio dos mouros e
das nações italianas —, o rei D. Manuel I se apressou em mandar aparelhar uma nova
frota para as Índias. Uma vez que a pequena frota de Vasco da Gama tivera dificuldades
em impor-se e comerciar, esta seria a maior até então constituída pelo Ocidente, sendo
composta por treze embarcações e mais de mil homens. Com exceção dos nomes de
duas naus e de uma caravela, não se sabe como se chamavam os navios comandados
por Cabral. Estima-se que a armada levasse mantimentos para cerca de dezoito meses.
Aquela era a maior esquadra até então enviada para singrar o Atlântico: dez naus, três
caravelas e uma naveta de mantimentos. Embora não se saiba o nome da nau capitânia, a
nau sota-capitânia, capitaneada pelo vice-comandante da armada Sancho de Tovar, se
chamava El Rei. A outra cujo nome permaneceu é a Anunciada, comandada por Nuno
Leitão da Cunha. Esta última pertencia a Dom Álvaro de Bragança, filho do duque de
Bragança, e fora equipada com os recursos de Bartolomeu Marchionni e Girolamo (ou
Jerônimo) Sernige, banqueiros florentinos que residiam em Lisboa e investiam no
comércio de especiarias. As cartas que eles trocaram com seus sócios e acionistas
italianos preservaram o nome do navio.
Conservou-se ainda o nome da caravela capitaneada por Pero de Ataíde, a São Pedro. A
outra caravela, comandada por Bartolomeu Dias, teve o seu nome perdido. A armada era
completada por uma naveta de mantimentos, comandada por Gaspar de Lemos. Coube a
ela retornar a Portugal com as notícias sobre a descoberta do Brasil.
Rota seguida por Cabral para a Índia em 1500 (em vermelho) e a rota de retorno (em azul)

Baseado em documento incompleto que localizou na Torre do Tombo, em


Lisboa, Francisco Adolfo de Varnhagen identificou cinco das dez naus que compunham a
frota cabralina. Seriam elas Santa Cruz, Vitória, Flor de la Mar, Espírito Santo e Espera. A
fonte citada por Varnhagen nunca foi reencontrada, portanto a maioria dos historiadores
prefere não adotar os nomes por ele listados. A armada, assim, continua quase anônima.
Outros historiadores do século XIX declararam que a nau capitânia de Cabral era a
lendária São Gabriel, a mesma comandada por Vasco da Gama na histórica viagem em
que se descobriu o caminho marítimo para as Índias, três anos antes. Entretanto, não
existem documentos para comprovar a tese.
Pouco antes da partida, el-Rei mandou rezar uma missa, no Mosteiro de Belém, presidida
pelo bispo de Ceuta, Diogo de Ortiz, em pessoa, onde benzeu uma bandeira com as
armas do Reino e entregou-a em mãos a Cabral, despedindo-se o rei do fidalgo e dos
restantes capitães.
Vasco da Gama teria tecido considerações e recomendações para a longa viagem que se
chegava: a coordenação entre os navios era crucial para que não se perdessem uns dos
outros. Recomendou então ao capitão-mor disparar os canhões duas vezes e esperar pela
mesma resposta de todos os outros navios antes de mudar o curso ou velocidade (método
de contagem ainda atualmente utilizado em campo de batalha terrestre), dentre
outros códigos de comunicação semelhantes.

A chegada a Vera Cruz

Carta de Pero Vaz de Caminha ao rei D. Manuel I, comunicando o descobrimento da Ilha de Vera


Cruz (Brasil)

No dia 24 de abril, Cabral, acompanhado de Sancho de Tovar, Simão de Miranda, Nicolau


Coelho, Aires Correia e Pero Vaz de Caminha, recebeu um grupo de índios no seu navio,
e os nativos aparentemente reconheceram o ouro e a prata que se fazia surgir na
embarcação — nomeadamente um fio de ouro de D. Pedro e um castiçal de prata — o que
fez com que os portugueses inicialmente acreditassem que havia muito ouro naquela terra.
Entretanto, Caminha, em sua carta, confessa que não sabia dizer se os índios diziam
mesmo que ali havia ouro, ou se o desejo dos navegantes pelo metal era tão grande que
eles não conseguiram entender diferentemente. Posteriormente, provou-se que a segunda
alternativa era a verdadeira.[13]
O encontro entre portugueses e índios também está documentado na carta escrita por
Caminha. O choque cultural foi evidente. Os indígenas não reconheceram os animais que
traziam os navegadores, à exceção de um papagaio que o capitão trazia consigo;
ofereceram-lhes comida e vinho, os quais os índios rejeitaram. A curiosidade tocou-lhes
pelos objetos não reconhecidos — como umas contas de Rosário, e a surpresa dos
portugueses pelos objetos reconhecidos — os metais preciosos. Fez-se curioso e absurdo
aos portugueses o fato de Cabral ter vestido-se com todas as vestimentas e adornos os
quais tinha direito um capitão-mor frente aos índios e estes, por sua vez, terem passado
por sua frente sem diferenciá-lo dos demais tripulantes.

Desembarque de Cabral em Porto Seguro (óleo sobre tela); autor: Oscar Pereira da Silva, 1904.
Acervo do Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro

A elevação da Cruz em Porto Seguro

Os indígenas começaram a tomar conhecimento da fé dos portugueses ao assistirem


a Primeira Missa, rezada por Frei Henrique de Coimbra, em um domingo, 26 de abril de
1500. Logo depois de realizada a missa, a frota de Cabral rumou para as Índias, seu
objetivo final, mas enviou um dos navios de volta a Portugal com a carta de Caminha. No
entanto, posteriormente, com a chegada de frotas lusitanas com o objetivo de permanecer
no Brasil — e a tentativa de evangelizar os índios de fato —, os portugueses perceberam
que a suposta facilidade na cristianização dos indígenas na verdade traduziu-se apenas
pela curiosidade destes com os gestos e falas ritualísticos dos europeus, não havendo um
real interesse na fé católica, o que forçou os missionários a repensarem seus métodos de
conquista espiritual.

Os povos nativos

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