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CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E MORFOLÓGICA DE MADEIRA PLÁSTICA

COM FIBRA DE COCO E ÓXIDO DE ZINCO


Mário A. B. S. Nunes1* (IC), Ana F. F. Farias1 (D), Iêda M. G. Santos1, Juliano E. Oliveira2, Eliton S. Medeiros1,
Thiago P. M. Ferreira1 (M), Antônio G Souza1, Severino J. G. Lima1 e Amélia S. F. Santos1
1 - Universidade Federal da Paraíba – UFPB, João Pessoa – PB, mariobsnunes@gmail.com
2 - Universidade Federal de Lavras – UFMG, Lavras – MG.

Resumo: Nos últimos anos, a madeira plástica tem despertado grande interesse de pesquisadores por ser um material de
baixo custo, adequado a inúmeras aplicações e por minimizar os problemas decorrentes da poluição ambiental gerada
pelos resíduos plásticos. Desta forma, este trabalho teve como objetivo avaliar a influência do óxido de zinco (ZnO) nas
propriedades mecânicas e morfológicas da madeira plástica. O ZnO puro foi sintetizado pelo método hidrotermal
assistido por microondas. As formulações de madeira plástica foram preparadas em um misturador interno do reômetro
de torque Haake à 190 °C, 60 rpm por 10 min. Em seguida, foram submetidas a prensagem à quente para a preparação
das placas. As formulações foram caracterizadas por microscopia eletrônica de varredura (MEV) e ensaio de resistência
à tração. O ensaio mecânico não mostrou alterações significativas nas propriedades mecânicas das formulações e as
microscopias evidenciaram baixa interação entre a matriz, o ZnO e a fibra de coco.
Palavras chave: madeira plástica, ZnO,hidrotermal, microondas.

Mechanical and morphological characterization of wood plastic composite with coconut fiber
and zinc oxide

Abstract: In recent years, wood plastic composite has drawn attention from researchers because it is an inexpensive
material, suitable for numerous applications, and contributes to reduce environmental pollution generated by
plastic waste. In this scenario, this study aims to evaluate the influence of zinc oxide (ZnO) on the
mechanical and morphological properties of wood plastic composite. Pure zinc oxide was synthesized by
microwave-assisted hydrothermal method. Wood plastic formulations were prepared in a torque rheometer of Haake
for 10 min at 190 °C and 60 rpm. Then, they were subjected to hot pressing for preparation of sheets. Formulations
were characterized by scanning electron microscopy (SEM) and tensile testing. Mechanical test showed no
significant changes in tensile properties of the formulations and microscopy images showed low interaction between
matrix, ZnO and coconut fiber.

Keywords: wood plastic composite, ZnO, microwave, hydrothermal.

Introdução

A busca por novos materiais capazes de minimizar os problemas decorrentes da poluição ambiental
gerada pelos resíduos plásticos constitui uma área em constante expansão em Ciência e Engenharia
de Materiais. Um avanço significativo nesta área tem ocorrido com a preparação de madeira
plástica (WPC), a qual é constituída de resíduos poliméricos e fibras naturais [1]. Esta classe de
materiais tem despertado grande interesse de pesquisadores nos últimos anos por se tratar de uma
alternativa simples, prática e de baixo custo para se obter novos materiais com características e
propriedades adequadas para inúmeras aplicações [2]. As fibras naturais têm se destacado na
preparação de WPC, devido não só aos aspectos econômicos, mas principalmente às suas
características peculiares, tais como, baixa densidade, renovabilidade, biodegradabilidade e ampla
disponibilidade [3].

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O óxido de zinco e os seus derivados, por sua vez, contribuem de forma eficaz para o controle de
fungos em muitos tipos de aplicações. O ZnO por si só, não é um fungicida, mas um fungiostático,
ou seja, ele inibe o crescimento de fungos, tais como míldio na superfície exterior de casas pintadas.
O seu efeito fungiostático aumenta com a sua área superficial, inibindo o crescimento de micélio ou
a germinação de esporos. No entanto, não mata os esporos ou impede a sua germinação, após a
exposição a um ambiente mais favorável. Em contrapartida, pode ser adicionado aos fungicidas no
aproveitamento de sua propriedade fungiostática [4].

Desta forma, tendo em vista as excelentes propriedades da fibra de coco, a característica


fungiostática do óxido de zinco e o caráter ambiental da madeira plástica, foram preparadas
formulações de madeira plástica contendo partículas de óxido de zinco (ZnO), as quais foram
sintetizadas pelo método hidrotermal assistido por microondas, visando obter um material mais
resistente à ação de microorganismos. No entanto, esse trabalho limitou-se a avaliar apenas o efeito
do ZnO nas propriedades mecânicas e morfológicas da madeira plástica com fibra de coco.

Experimental

Materiais

Os resíduos de PEAD sob a forma de flakes foram doados pela Plastex Ind. e Com. de Materiais
Plásticos Ltda, João Pessoa/PB. O resíduo lignocelulósico, fibra de coco, foi obtido moído, com até
5 mm de comprimento, do Projeto Coco Vivo situado em Porto Seguro-BA. Os agentes
compatibilizantes PP-g-MA (Bondyram® 1001) e o lubrificante (Struktol® TPW 113) foram
obtidos na Parabor Ltda, São Paulo/SP. O acetato de zinco ((CH3COO)2 Zn. 2H2O) foi
fornecido pela Isofar, Rio de Janeiro/RJ.

Moagem da fibra de coco

A fibra de coco, conforme recebida, foi moída num moinho de facas tipo Willey, modelo STAR FT
50 da Fortinox e classificada em peneiras de 16 e80 mesh da ABNT ((-16+80, abertura entre 1,19 e
0,177 mm).

Síntese do óxido de zinco

Inicialmente foi preparada uma solução com o precursor de ZnO (Zn2(CH3COO)2.H20)em


água destilada basificada com NH4OH a pH 8,0 e em seguida foi
solvotermalizada/hidrotermalizadas em temperatura de 100 ºC num reator de micro-ondas
utilizando a condição de tempo 05 min para a obtenção do ZnO puro. Após o termino da
reação, o material formado foi lavado com água destilada, seco a 60 ºC durante
aproximadamente 48h e posteriormente foi devidamente caracterizado.

Formulações dos compósitos

Foram preparadas formulações de madeira plástica com e sem a incorporação de 0,8 % em massa
de ZnO. Ambas continham polietileno de alta densidade reciclado com 20 % em massa de fibra de
coco moída, 5 % em massa de polipropileno modificado com anidrido maleico (PP-g-MA) e 5 %
em massa de struktol TPW 113. As formulações foram preparadas no misturador interno do
reômetro de torque Haake, modelo Rheomix OS da Thermo Scientific, com câmara interna de 69
cm3, quando ocupada com rotores tipo “roller”. As misturas foram processadas por 10 minutos à
190oC e 60 rpm. Antes da mistura, a fibra de coco foi seca à 100ºC em estufa por 3 horas.

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Preparação das placas de madeira plástica por prensagem a quente

O material processado na câmera interna do Haake foi moldado na forma de placas com dimensões
de (200x200x2) mm em uma prensa hidráulica de marca Marconi e modelo MA098/A, com
capacidade de prensagem de 15 kgf. Para cada prensagem foi utilizado aproximadamente 47 g de
material, prensados à 200 °C por 8 minutos, de acordo com a seguinte rampa de pressurização: 3
minutos sem pressurização, 3 minutos à 3 kgf e 2 minutos à 9 kgf. Depois de prensadas, as placas
foram imediatamente resfriadas em um banho de água com gelo.

Microscopia eletrônica de varredura (MEV)

As placas prensadas foram fraturadas criogênicamente em nitrogênio e depois, realizadas as


análises em um microscópio eletrônico de varredura com elétrons secundários (MEV/SE), modelo
LEO 1430 da Zeiss e voltagem de 15 kV. Foi avaliado o formato das partículas sintetizadas assim
como a impregnação do ZnO na argila.

Ensaio de resistência à tração

O comportamento mecânico de resistência à tração dos corpos-de-prova das formulações de


madeira plástica foi avaliado em uma máquina universal de ensaios mecânicos AG-X 10 kN
da Shimadzu à uma velocidade de ensaio de 5 mm/min, utilizando 8 corpos-de-prova para
cada composição, seguindo as diretrizes gerais na norma IS0 527-2 :1993. Os corpos-de-prova do
tipo 5A, foram usinados a partir das placas obtidas por prensagem a quente e mantidos em
condições ambiente antes do ensaio. Foi avaliada a propriedade de tensão máxima (MPa).

Resultados e Discussão

Microscopia Eletrônica de Varredura

Na Fig. 1, estão apresentadas as micrografias de MEV da superfície de fratura das formulações de


madeira plástica. Em relação à fibra de coco, pode-se observar o amassamento da mesma (Fig. 1C),
assim como a presença de superfícies lisas (Fig. 1A e 1B). As partículas de ZnO apresentaram um
formato irregular e dimensões micrométricas, como pode ser visto na Fig. 1D.

As disposições das fibras, das partículas argilosas e de ZnO na matriz da madeira plástica, como
supracitado, indicam que houve uma fraca adesão interfacial entre o material de reforço e o
polímero. Isso mostra que a presença do agente de acoplamento não foi suficiente para promover
uma completa compatibilização entre a fibra e o polímero [5].

WPC WPC

10 µm 10 µm (B)
(A)

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WPC – ZnO WPC – ZnO

2 µm (C) 2 µm (D)

Figura 1 – Micrografias da superfície de fratura da (A e B) WPC e (C e D) WPC – ZnO.

Ensaio de Tração

A Fig. 2 mostra os valores médios de tensão máxima para as amostras de madeira plástica. Pode-se
observar que não houve alterações significativas nos valores de tensão máxima, independente do
tipo de matéria-prima incorporada a madeira plástica. Observa-se ainda que o valor obtido para a
amostra WPC-ZnO foi ligeiramente inferior ao apresentado pela amostra WPC sem óxido de zinco,
a qual teve tensão máxima de 8, 97 MPa. Tal comportamento pode ser atribuído à fraca adesão
interfacial das matérias-primas com a matriz polimérica, acarretando a presença de vazios na
interface [6] como pode ser visto nas micrografias das superfícies de fratura das formulações de
madeira plástica (Fig. 1). Além disso, pode-se observar um elevado desvio padrão da amostra WPC
– ZnO, em relação a amostra WPC. Isso pode ser atribuído entre outras coisas, à não
homogeneidade na distribuição das partículas de ZnO na matriz polimérica.

10

8
Tensão Máxima (MPa)

8,97 8,18
0
WPC
Puro ZnO

Figura 2 - Valores de tensão máxima das composições de madeira plástica com e sem óxido de zinco.

Conclusões

A partir dos resultados obtidos do teste de tração observou-se que a incorporação de óxido de zinco
não alterou os valores de tensão máxima. Tal comportamento pode ser atribuído à fraca adesão

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interfacial das matérias primas com a matriz polimérica, como evidenciado pelas micrografias de
MEV, e também, à baixa concentração de ZnO utilizada.

Agradecimentos

Os autores agradecem ao apoio do laboratório de Solidificação Rápida (LSR) e ao Laboratório de


Combustíveis (LACOM) da UFPB pelos equipamentos e pelo espaço, que possibilitou a preparação
das amostras e o desenvolvimento do trabalho e ao CNPq pelo apoio financeiro à pesquisa.

Referências Bibliográficas

1 - M. A. Guadagnini. Dissertação de Mestrado. Madeiras plásticas como materiais alternativos


para madeiras naturais. Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2001.

2 - A. Ashori. Wood–plastic composites as promising green-composites for automotive industries.


Bioresource Technology, 2008, 11, 4661–4667.

3 - C. Tascioglu; B. Goodell; A. R. Lopez; M. Peterson; W. Halteman; J. JELLISON. Monitoring


fungal degradation of E-glass/phenolic fiber reinforced polymer (FRP) composites used in wood
reinforcement. International Biodeterioration & Biodegradation, 2003, 3, 157–65.

4 - S. B. Salvin. Influence of zinc oxide on paint molds. Ind. Eng. Chem. 1944, 36, 336–340.

5 - A. L. M. O Oliveria. Disseração de Mestrado. Nanoestruturas de óxido de zinco obtidas pelo


método hidrotermal de microondas doméstico, Universidade Federal da Paraiba, João Pessoa, 2009.

6 - K. B. Adhikary; S. Pang; M. P. Staiger. Dimensional stability and mechanical behaviour of


wood–plastic composites based on recycled and virgin high-density polyethylene (HDPE).
Composites: Part B. 2008, 39, 807–815.

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