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CONTRATOS MERCANTIS
[[D~ICA[f
São Paulo- 2001
© by Fernando Netto Boiteux
ISBN nº 85-7500-032-2
Fotolito da Capa
Duble Express
Introdução......................................................................................... 7
2. Evolução do Contrato................................................................... 21
9. Prescrição e Decadência............................................................... 63
17. Locação Comercial ..... ... .. .... .... .. ... .. ..... ... .. .. ... ...... .. ........ ....... ...... I 07
26. Mandato Mercantil ........... ....... .. ... ..... ....... .. ... .. ............... .. .......... 204
Bibliografia....................................................................................... 263
Introdução
cas que lhe deram origem, inclusive pela modificação do direito es-
trangeiro que era sua matriz.
5. Unidade de negociação
330 arrobas líquidas.
2. Evolução do Contrato
24
Enzo Roppo, O contrato, Coimbra, Almedina, 1988, capítulo I.
25
Darcy Bessone, Do contrato- teoria geral, Rio de Janeiro, Forense, 1987, p. 31.
26
C.B. Macpherson, A teoria política do individualismo possessivo de Hobbes até
Locke, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1979, p. 15.
22 CONTRATOS MERCANTIS
38
Tullio Ascarelli, Problemas das sociedades anônimas e direilo comparado, São Pau-
lo, Saraiva, 1945, p. 285 e segs.
28 CONTRATOS MERCANTIS
41
João de Matos Antunes Varela, Das obrigações em geral, 5' ed. rev. e atual, Coim-
bra, Almedina, 1986, p. 358. No mesmo sentido, em nosso direito, Orlando Gomes,
Obrigaçües, 23' ed., Rio de Janeiro, Forense, 2001, p. 165.
30 CONTRATOS MERCANTIS
47
Luiz Gastão Paes de Barros Leães, "O contrato de conta corrente", Revista dos Tri-
bunais, v. 738, abril de 1997, p. 93.
32
4. Uniformização Internacional
dos Contratos
50
Irineu Strenger, Contratos internacionais do comércio, 3• ed. rev. e amp., São Pau-
lo, LTr, 1998, p. 113.
51
Irineu Strenger, Contratos internacionais do comércio, cit., p. 35.
52
José Alexandre Tavares Guerreiro, Fundamentos da arbitragem do comércio inter-
nacional, São Paulo, Saraiva, 1993, p. 83 a 85.
34 CONTRATOS MERCANTIS
58
O inteiro teor desta lei-tipo pode ser encontrado no site www.uncitral.org .
36 CONTRATOS MERCANTIS
59
Darcy Bessone, Do contrato- teoria geral, Rio de Janeiro, Forense, 1987, p. 190,
citando Cunha Gonçalves e Vivante, no mesmo sentido.
38 CoNTRATOS MERCANTIS
64
Darcy Bessone, Do contrato - teoria geral, cit., p. 153 a 155.
40 CONTRATOS MERCANTIS
07
Como esclarece François Collart-Dutulleul, "Les apports des contrats de
l'informatique au droit des contrats", In: Lo"ic Cadiet (coordenador), Le droit con-
temporain des contrais- bilan et perspectives, Paris, Economica, 1987, p. 224 a 227.
68 Centro de Estudios Comerciales, La validez de los contratos internacionales nego-
ciados por medias eletronicos, Lider, Madrid, 1988, p. 26.
69 Centro de Estudios Comerciales, La validez de los contratos internacionales nego-
ciados por medias eletronicos, cit., p. 27.
70 Elizabeth S. Purdue, "Creating contracts on-line", In: Thomas J. Smedinghoff, edi-
tor. On-line law: the SPA 's legal guide to doing business on the Internet, second
printing, Addison-Wesley Publishing Company, 1996, p. 80.
71 Michel Vasseur, La lettre de change-relevé, Paris, Sirey, 1976. Em nosso direito
Newton De Lucca, A cambial-extrato, São Paulo, Revista dos Tribunais, 1985, p. 78.
FERNANDO NETIO 80iTEUX 43
72 Jacques Guestin et alii, "La vente", Traité des contrats. Paris, LGDJ, 1990, p. 110.
FERNANDO NETTO 80ITEUX 45
6.1.1. Conceito
A oferta é ao público, quando não se dirige a pessoas determi-
nadas, mas, sim, a uma generalidade de pessoas. Todavia, esse pú-
blico pode ser determinável, pela própria natureza da proposta (por
exemplo, na oferta pública de aquisição de ações de determinada
companhia). Para António Menezes Cordeiro 73 :
"A oferta ao público equivale a uma proposta contratual ca-
racterizada por ser dirigida a uma generalidade de pessoas.
A oferta ao público não deve confundir-se com o contrato
celebrado por adesão: este traduz o acto jurídico bilateral
caracterizado por ter, na sua base, uma proposta genérica
e rígida; aquela implica uma proposta contratual genérica.
Assim, se normalmente as condições gerais de contratação
são carreadas por ofertas ao público, nada impede que elas
sejam especificamente enviadas a determinadas pessoas,
genericamente tomadas; por outro lado, a oferta ao públi-
co pode não ser rígida, antes admitindo negociações bila-
terais posteriores, em que ambas as partes possam usar de
liberdade de negociação."
A oferta ao público, portanto, não é um contrato, mas uma
forma de contratação que pode aplicar-se a vários tipos de contrato:
compra e venda, empreitada, fiança, prestação de serviços, transpor-
te, seguro, promessa de recompensa etc. Como proposta de contra-
tar, é obrigatória (Código Civil, artigo 1.080) quando seja precisa
quanto aos elementos essenciais do contrato. Como declaração uni-
lateral de vontade cria obrigações para o ofertante, ainda que o con-
trato não venha a se realizar.
crédito: não se deve entender que ele está oferecendo crédito a qual-
quer interessado, mas, sim, que estará analisando o cadastro de cada
um deles para determinar a quais irá emprestar.
As principais características do convite a contratar (invitação
pública à oferta) são:
a) dirige-se a pessoas determinadas ou indeterminadas;
b) pode dar origem a uma concorrência pública de ofertas
(leilão, licitação) ou não;
c) a obrigação do invitante é, unicamente, a de levar em
consideração as propostas que forem feitas de acordo com
a invitação pública.
75 Nelson Nery Junior. "A Proteção Contratual", In: Ada Pellegrini Grinover et alii,
Código brasileiro de defesa do consumidor comentado pelos autores do anteproje-
to, 6' ed. rev., atual e ampl., Rio de Janeiro, Forense Universitária, 2000, p. 439.
FERNANDO NETTO SOITEUX 47
83
Orlando Gomes, Contratos, Rio de Janeiro, Forense, 23" ed. atual., 2001, p. 127.
Darcy Bessone, Do contrato- teoria geral, Rio de Janeiro, Forense, 1987, p. 78, fala
na unilateralidade ou bilateralidade de sua criação.
52 CONTRATOS MERCANTIS
89
O inteiro teor pode ser capturado no si te www.petrobras.com.br .
54 CONTRATOS MERCANTIS
15. Sanções
16. Rescisão Contratual
17. Idioma Predominante
18. Legislação Aplicável e Foro
Anexo- Modelo de Aviso de Embarque
Anexo I- Modelo de Aviso de Embarque Internacional"
°
9 Contratos "de adesão", na clássica expressão de Saleilles, ou "por adesão", com a
melhor doutrina, considerando que esta atende melhor ao modo de sua formação
(António Menezes Cordeiro, Direito das Obrigaç6es, ! 0 volume, 1• ed., reimp., Lis-
boa, Associação Académica da Faculdade de Direito de Lisboa, 1986, p. 98).
91 Guido Alpa e Mario Bessone, Tecnica e conrrollo dei contratti standard, Rimini,
Maggioli, 1984, p. 8. No mesmo sentido, em nossa doutrina, Nelson Nery Junior, "A
Proteção Contratual", cit., p. 290.
FERNANDO NETTO BOITEUX 55
92
António Menezes Cordeiro, Direito das Obrigações, cit., p. 99.
56 CONTRATOS MERCANTIS
93
Darcy Bessone, Do Contrato- teoria geral, Rio de Janeiro, Forense, 1987, p. 215 e
216.
94
Fábio Konder Comparato, Ensaios e pareceres de direito empresarial, Rio de Janei-
ro, Forense, 1978, p. 180.
95
Enzo Roppo, O contrato, Coimbra, Almedina, 1988, p. 170 a 172.
96
Enzo Roppo, O contrato, cit., p. 172 a 174.
58 CONTRATOS MERCANTIS
8.1.1. Boa-fé
A boa-fé pode ser entendida em seu sentido subjetivo ou ob-
jetivo. A regra objetiva de boa-fé, como critério exegético das con-
venções mercantis, faz pressupor que no comércio domina a regra da
lealdade recíproca, destinada a lhes imprimir segurança jurídica.
Como ensina Darcy Bessone97 :
"O princípio da boa-fé domina o comércio jurídico, como
regra de recíproca lealdade, destinada a dar-lhe segurança.
Não é necessário apurar se cada um dos contratantes se
encontrava de boa-fé ao contratar. O intérprete deve enten-
der as disposições contratuais como exige a boa-fé".
No Código Civil, para Luiz Gastão Leães, ela aparece no seu
sentido subjetivo, quando "a má-fé (subjetiva) é sancionada pelo me-
canismo da responsabilidade extracontratual do art. 159 do Código
Civil" 98 • Diferentemente, existe regra genérica no artigo 421 do Pro-
jeto do Código Civil.
No Código Comercial, artigo 131, no 1, ela aparece em seu
sentido objetivo, pois o padrão para se avaliar a existência de boa-fé
se encontra nos usos e costumes da praça (artigo 131, no 4 ), que po-
dem ser nacionais ou internacionais.
No Código de Defesa do Consumidor a boa-fé, em seu senti-
do objetivo, aparece em diversas passagens, como nos artigos 6° e 39,
IV99.
101 Theotonio Negrão, Código de Processo Civil e legislação processual civil em vigor,
32• ed. atual. até 9 de janeiro de 2001, nota I "b" ao artigo 401.
102 Ettore Giannantonio, "E! valor jurídico de! documento electrónico", Informática y
derecho- aportes de doctrina internacional, v. I, Buenos Aires, Depalma, 1991, p.
88 e segs., citação de p. I 00.
103
Ettore Giannantonio, El valor jurídico dei documento electrónico, cit., p. 100 e 101.
1
0l Francesco Carnelutti, verbete "Documento", Nuovo Digesto Italiano, v. V, Torino,
Utet, 1938, p. 105 a 109.
62 CONTRATOS MERCANTIS
105 Luiz Gastão Paes de Barros Leães, Estudos e pareceres sobre sociedades anônimas,
São Paulo, Revista dos Tribunais, 1989. p. 58.
63
9. Prescrição e Decadência
106
Antônio Luís da Câmara Leal, Da prescrição e da decadência, 3' ed., Rio de Janei-
ro, Forense, 1978, p. 397.
107
Antônio Luís da Câmara Leal, Da prescrição e da decadência, cit., p. 398.
108
Antônio Luís da Câmara Leal, Da prescrição e da decadência, cit., p. 12 e 101.
109
J. X. Carvalho de Mendonça, Tratado de direito comercial brasileiro, 6' ed. atual.,
1961, v. VI, Livro IV, p. 456.
64 CONTRATOS MERCANTIS
110 Waldemar Ferreira, Tratado de Direito Comercial, li o vol., São Paulo, Saraiva, 1963,
p. 650 a 656.
FERNANDO NETTO BOITEUX 65
111
Alguns autores fundamentam a aplicabilidade das normas sobre interrupção da pres-
crição previstas no Código Civil às obrigações comerciais no disposto no Decreto no
21.638, de 18 de julho de 1932, que determina a aplicação às obrigações comerciais
do disposto no artigo 172, inciso V, do Código Civil ("a prescrição interrompe-se por
qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe reconhecimento do
66 CoNTRATos MERCANTIS
direito pelo devedor"). Este Decreto, no entanto. está revogado pelo Decreto n• 11,
de 21 de janeiro de 1991, conforme informação do Prodasen no site www.
senado.gov.br .
67
117
Fábio Comparato, "A Cessão de Controle Acionário é Negócio Mercantil?", cit., p.
256.
118
Supremo Tribunal Federal, Revista Trimestral de Jurisprudência, 921250.
119
Mauro Rodrigues Penteado, "Formação de contrato preliminar suscetível de adjudi-
cação compulsória". Revista de Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Finan-
ceiro, 39 Nova Série, 1980, p. 136.
12
° Fábio Konder Comparato, "Reflexões sobre as promessas de controle societário",
Novos ensaios e pareceres de direito empresarial, Rio de Janeiro, Forense, I 98 I, p.
228 e segs., transcrição de p. 241.
70 CONTRATOS MERCANTIS
121 Superior Tribunal de Justiça, Recurso Especial no 4.743-RS, Terceira Turma, Rela-
tor Ministro Eduardo Ribeiro, j. 10 de dezembro de 1990, unânime.
FERNANDO NETIO BOITEUX 71
10.3.2. Preço
Preço é o valor em dinheiro que o comprador se obriga a pa-
gar ao vendedor em troca da propriedade da coisa. Deve ser em di-
nheiro: se for outra coisa, caracteriza a permuta ou troca. Deve ser
real ou verdadeiro, pois caso contrário não se tratará de uma com-
pra e venda, mas de doação simulada.
Em regra, o preço é livremente estipulado pelas partes, mas
elas podem convencionar que a fixação do preço fique a cargo de
terceiros (Código Comercial, artigo 194) 124 •
122
Raquel Sztajn, "Os contratos de bolsa", In: Carlos Alberto Bittar (coordenador),
Novos contratos empresariais, São Paulo, Revista dos Tribunais, 1990, p. 175.
123
Orlando Gomes, Contratos, cit., item 172, p. 222.
124
As questões referentes à moeda de pagamento serão examinadas no item 11.1.3.
72 CONTRATOS MERCANTIS
10.3.3. Consentimento
Para validade do contrato, em geral, é necessário que o con-
sentimento seja manifestado por pessoa capaz; no entanto, como vis-
to, não se exige a capacidade de ambas as partes nos contratos de
massa.
Além disso, o consentimento na compra e venda, como em
qualquer ato jurídico, não deve estar viciado por erro, dolo ou coa-
ção (Código Civil, artigos 86 a 1O1), ou ainda, por simulação ou frau-
de (Código Civil artigos 102 a 113; Código Comercial, artigo 129,
no 4; Lei de Falências, artigo 53), sob pena de ser anulável (Código
Civil, artigo 147, II).
143
Waldirio Bulgarelli, Contratos mercantis, 11• ed., São Paulo, Atlas, 1999, p. 265.
144
Waldirio Bulgarelli, Contratos mercantis, cit., p. 253.
84 CoNTRATOS MERCANTIS
15
" A jurisprudência foi analisada no item 6.2.5.1.
FERNANDO NEno BoiTEux 85
146
A profissão de leiloeiro é regulada pelo Decreto no 21.981, de 19 de outubro de 1932.
147
Humberto Theodoro Jr., Processo de execução, 20• ed. atual., São Paulo, Leud, 2000,
p. 348.
148
Para Caio Mário da Silva Pereira, Instituições de Direito Civil, 3° ed. rev. e atual.,
Rio de Janeiro, Forense, 1972, vol. li, p. 267, "conforme seja proveniente da própria
obrigação, ao revés de uma provocação da parte a quem interessa, diz-se que a mora
pode ser ex re ou ex persona. Dá-se a mora ex persona, na falta de termo certo para
a obrigação. O devedor não está sujeito a um prazo assinado no título, o credor não
tem um momento predefinido para receber. Não se poderá falar então em mora au-
tomaticamente constituída. Ela começará da interpelação, notificação ou protesto que
o interessado promover, e seus efeitos produzir-se-ão ex nunc, isto é, a contar do dia
da intimação (Código Civil, art. 960, 2• parte).
A mora ex re vem do próprio mandamento da lei, independentemente de provoca-
ção da parte a quem interesse, nos casos especialmente previstos ( ... )".
86 CONTRATOS MERCANTIS
149 João de Matos Antunes Varela, Das obrigações em geral, 5' ed. rev., Coimbra, AI-
medina, v. I, 1986, p. 324.
150 João de Matos Antunes Vare! a, Das obrigações em geral, cit., p. 342.
FERNANDO NETIO BOITEUX 87
151
Fábio Konder Comparato, Novos ensaios e pareceres de direito empresarial, Rio de
Janeiro, Forense, 1981, p. 177, com ampla citação doutrinária.
88
14.2. Interpelação
O artigo 205 do Código Comercial prevê a necessidade de in-
terpelação para que a parte seja considerada em mora, que não se
confunde com a citação para responder à ação proposta.
A necessidade de notificação foi reafirmada pelo Superior Tri-
bunal de Justiça, sendo que a citação inicial para a ação não supre a
necessidade de notificação prévia 153 ; todavia, o mesmo Tribunal en-
tende que ela pode ser feita por qualquer meio idôneo, especialmen-
te por Cartório de Títulos e Documentos 154 .
151
Superior Tribunal de Justiça, Recurso Especial no 19.110-0-SP, Registro no
92.0004179-5, Quarta Turma, Relator Ministro Sálvio de Figueiredo, julgamento em
23 de agosto de 1994, unânime, Revista do Superior Tribunal de Justiça, Brasília, a.
7, (68): 169-400, abril 1995, p. 186, com a seguinte ementa: "Direito Comercial.
Ação indenizatória. Alegado inadimplemento de obrigação estipulada em contrato
de compra e venda mercantil. Constituição em mora. Necessidade de interpelação.
Art. 205, CCom. Recurso provido.
I - Ao credor de obrigação assumida em pacto de compra e venda mercantil incum-
be, para constituir de pleno direito em mora o devedor, proceder à interpelação a que
alude o art. 205, CCom, salvo se o contrário resultar de expressa estipulação contra-
tual.
II- A disciplina estatuída em referido artigo não restou superada pelo advento do Có-
digo Civil (art. 960), frente ao qual guarda relação de especialidade.
Ili - A citação para a ação não supre a falta de interpelação".
154
Superior Tribunal de Justiça, Recurso Especial no 11.717- RJ, Registro no
91.0011491-0, Quarta Turma, Relator Ministro Athos Carneiro, julgamento em 25
de fevereiro de 1992, unânime, Revista do Superior Tribunal de Justiça, Brasília, a.
4, (31): 281-471, março 1992, p. 401, com a seguinte ementa: "Dação em Pagamen-
to, em 'Garantia de Dívida'. Discussão sobre a Incidência dos Arts. 138 e 205 do
Código Comercial.
Análise da qualificação jurídica de contratos de dação em pagamento, para extinção
total ou parcial de débitos decorrentes de financiamentos bancários.
Não incidência do artigo 205 do Código Comercial, que aliás pela interpretação mais
adequada permite a interpelação extrajudicial, dês que idônea, como a realizada por
intermédio do ofício de Títulos e Documentos.
Art. 138 do C. Comercial. Cabimento da exigência judicial de pagamento através da
própria citação inicial para a ação.
Recurso especial conhecido e provido".
90 CoNTRATOS MERCANTIS
157
A eficácia do contrato preliminar e os requisitos para a sua execução específica são
analisados no item 9.4, acima.
92
15.1. Qualificação
O contrato estimatório é originário do direito romano, no qual
a sua natureza era objeto de divergência 160 , e, apesar de ser bem co-
158
Augusto Teixeira de Freitas, Vocabulário Jurídico, São Paulo, Saraiva, 1983.
159 Pontes de Miranda, Tratado de direito privado, 3' ed., 2' reimp., São Paulo, Revista
dos Tribunais, 1984, v. 39, p. 391 e 392.
160 Registrada tanto por Pontes de Miranda, Tratado de direito privado, cit., p. 395 como
por Luiz da Cunha Gonçalves, Da compra e venda no direito comercial brasileiro,
São Paulo, Editora Monteiro Lobato, s/ data, p. 35 e 36.
FERNANDO NETIO BOITEUX 93
161
Waldemar Ferreira, Tratado de direito comercial, São Paulo, Saraiva, 1963, vol. 11,
item 2.413, p. 119.
162
A distinção foi tomada de Pedro Pais de Vasconcelos, Contratos atípicos, cit., p. 210.
163
Luiz da Cunha Gonçalves, Da compra e venda no direito comercial brasileiro, cit.,
p. 36.
164
Waldemar Ferreira, Tratado de direito comercial, cit., item 2.411, p. 114.
165
Waldirio Bulgarelli, Contratos mercantis, cit., item 2.6.2, p. 262.
166
Caio Mário da Silva Pereira, Instituições de direito civil, v. III, cit., item 230-A, p.
145.
94 CONTRATOS MERCANTIS
15.2. Elementos
15.2.1. Partes
Partes, no contrato de consignação, são o consignante (outor-
gante), que é o titular do direito de propriedade sobre a coisa e o con-
signado (outorgado), que recebe o poder de dispor. A obrigação do
consignante é alternativa, podendo ele, dentro do prazo que lhe foi
determinado, optar pela devolução da coisa ou o pagamento do pre-
ço estimado.
167 Pontes de Miranda, Tratado de direito privado, cit., p. 396, com evidente erro de
impressão no item 2, segundo parágrafo, terceira linha, onde está "real" em vez de
"pessoal".
168 Projeto de Lei da Câmara- PLC no 118, de 1984.
FERNANDO NETTO 80ITEUX 95
172
Primeiro Tribunal de Alçada Civil de São Paulo, Apelação Cível no 0679624-9, 12"
Câmara Extraordinária, Relator Souza Oliveira, julgamento em 07 de abril de 1988,
unânime.
FERNANDO NETIO BOITEUX 97
174 Primeiro Tribunal de Alçada Civil de São Paulo, Apelação Cível no 549.014-2,
8' Câmara Especial, Relator Costa Telles, julgamento em 16 de agosto de 1995, unâ-
nime, transcrição parcial do voto do relator.
175 Primeiro Tribunal de Alçada Civil de São Paulo, Apelação Cível no 0000396-6/25,
I' Câmara, Relator Celso Bonilha, julgamento em 27 de fevereiro de 1989, unâni-
me, transcrição parcial do voto do relator.
99
186
Superior Tribunal de Justiça, Recurso Especial no 59.382-4-SP (95/0002865-4), Ter-
ceira Turma, Relator Ministro Waldemar Zveiter, julgamento em 24 de junho de
1996, unânime.
187
Superior Tribunal de Justiça, Recurso Especial no 2.661-MG (9000030781), Tercei-
ra Turma, Relator Ministro Gueiros Leite, julgamento em 29 de junho de 1990, unâ-
nime.
704 CONTRATOS MERCANTIS
188 Artigo com redação determinada pela Lei no 8.132, de 26 de dezembro de 1990.
FERNANDO NETIO BOITEUX 105
189
Waldirio Bulgarelli, Questões atuais de direito empresarial, São Paulo, Malheiros,
1995, p. 31 e segs.
190
Waldirio Bulgarelli, Contratos mercantis, li' ed., São Paulo, Atlas, 1999, item
2.11.3, p. 459.
191
Nesse sentido Waldirio Bulgarelli, Questões atuais de direito empresarial, cit., p. 51.
106 CONTRATOS MERCANTIS
17 .1. Características
Dentre os múltiplos aspectos que envolvem a locação comer-
cial estamos examinando o direito à renovação compulsória de arren-
damento do imóvel em que tem o comerciante instalado o seu esta-
belecimento, bem como os aspectos gerais da ação revisional.
Segundo o artigo 1.188 do Código Civil, "na locação de coi-
sas, uma das partes se obriga a ceder à outra, por tempo determina-
do, ou não, o uso e gozo de coisa não fungível, mediante certa retri-
buição".
O contrato é sempre oneroso (se for gratuito, caracteriza-se o
comodato) e bilateral, pois gera obrigações interdependentes (rece-
ber a coisa e pagar o preço, entregar a coisa e receber o aluguel).
O contrato de locação de imóveis comerciais refere-se ao imó-
vel em que o comerciante tem instalado o seu estabelecimento, en-
tendendo-se o estabelecimento, ou fundo de comércio, como a orga-
nização dos bens, materiais e imateriais, para o exercício da ativida-
de empresarial. Ele compreende coisas, ou melhor, direitos reais e
obrigações propter rem 193 , além de direitos pessoais de natureza con-
tratual. Exemplo destes últimos são as relações trabalhistas, que se
consideram, em certas hipóteses, ligadas ao estabelecimento, e não
à empresa.
O fundo de comércio está ligado a uma clientela, como deci-
diu o Segundo Tribunal de Alçada Civil de São Paulo 194 :
"Não se pode reconhecer, data venia, fundo de comércio
ou indústria, em favor de pessoa jurídica cuja atividade é
exercida com os mesmos resultados, em qualquer lugar, in-
dependentemente de localização."
193
Obrigações propter rem são as assumidas em razão da propriedade de determinada
coisa. Elas seguem esta última, como autênticos vínculos reais. É o caso, por exem-
plo, das obrigações tributárias, como se vê no artigo 133, do Código Tributário Na-
cional.
194
Segundo Tribunal de Alçada Civil de São Paulo, Apelação c/ revisão n° 250.113/4,
Relator Juiz Narciso Orlandi, Revista de Direito Mercantil, Industrial, Econômico e
Financeiro, nova série, v. 77, janeiro-março 1990, p. 79.
108 CONTRATOS MERCANTIS
17.2. Histórico
Até 1934 a locação de imóveis era regida pelo Código Civil,
que não assegurava nenhum direito ao comerciante criador do fundo
de comércio. Pois, em regra geral, no regime do Código Civil, que
representa o pensamento jurídico do liberalismo, o contrato é forma-
do pela livre manifestação dos interessados, sem qualquer interven-
ção do Estado.
Pelo Código Civil (artigo 1. I 92, inciso IV), findo o contrato o
comerciante estava obrigado a devolver o imóvel; para renovar o
contrato, o proprietário costumava exigir uma quantia extra, chama-
da "luvas" em função do comércio, locupletando-se, assim, do esfor-
ço do comerciante.
Ainda pelo Código Civil (artigo 1.197), caso o imóvel fosse
alienado, o adquirente não estava obrigado a respeitar o contrato;
assim, nem mesmo durante a sua vigência o comerciante tinha ga-
rantias.
Quando a empresa é locatária de um imóvel, onde tem insta-
lado estabelecimento seu, ela cria, em relação a esse imóvel, um so-
brevalor econômico, correspondente à clientela vinculada ao estabe-
lecimento. Não é justo, portanto, que o locador possa, depois de cria-
do esse sobrevalor, dele se aproveitar pessoalmente, retomando o
imóvel para uso próprio ou exigindo, para a renovação da locação, o
pagamento de uma quantia adicional dos aluguéis: as luvas.
Assim, o Decreto 24.150, de 1934, disciplinou a renovação de
locação de imóveis comerciais, com o objetivo de defender os inte-
resses dos comerciantes tendo em vista o valor incorpóreo do fundo
de comércio que foi por ele criado.
O contrato continua a ser formado pela vontade individual,
mas tem a sua continuidade determinada por lei, restringindo-se a
possibilidade de rescisão àquelas admitidas pelo legislador.
De qualquer forma, ao direito do locatário à renovação do ar-
rendamento corresponde, por parte do locador, uma obrigação de
contratar. Temos uma intervenção do Estado sobre a vontade dos
contratantes, tendo em vista a finalidade social do direito de proprie-
dade.
Direito à renovação do contrato: nós o entendemos como um
direito propter rem, chamado por Alfredo Buzaid 195 de direito misto.
195 Alfredo Buzaid, Da ação renovatória e das demais ações oriundas de contratos de
locação de imóveis destinados a fins comerciais, 3' ed. rev. e aum., São Paulo, Sa-
raiva, 1988, vol. I, p. 203.
FERNANDO NEno BoiTEux 109
203 Como decidiu, em acórdão unânime, a 1• Câmara do Tribunal de Alçada Civil do Rio
de Janeiro, na Apelação Cível no 85.218, Relator Laerson Mauro (acórdão transcrito
por João Carlos Pestana de Aguiar, Nova Lei de Locações comentada, Rio de Janei-
ro, Lumen Juris, 1992, p. !50).
FERNANDO NETTO BOITEUX 175
204
Decreto-lei no 7.661, de 1945, artigo 116, § 1°.
205
Alfredo Buzaid, Da ação renovatória e das demais ações oriundas de contratos de
locação de imóveis destinados afins comerciais, cit., vol. I, p. !58.
206
No mesmo sentido Alfredo Buzaid, Da ação renovatória e das demais ações oriun-
das de contratos de locação de imóveis destinados afins comerciais. cit., vol. I, pp.
294 e 295.
116
18.1. Noção
O shopping center tem como característica o planejamento da
atividade empresarial. Assim, às lojas de menor porte se alinham
outras de grandes dimensões, conhecidas como lojas "âncora", co-
mumente filiais de lojas de departamentos, que são estrategicamen-
te localizadas, de forma a estimular a circulação dos consumidores.
Estes, por sua vez, passam a dispor de outros serviços como o de
caixas eletrônicos de bancos ou até mesmo agências bancárias. A
estes serviços se somam os de lazer, como os de restaurante (praças
de alimentação), cinemas etc., e até mesmo os de consertos de rou-
pas, por exemplo, característicos do comércio de bairro.
Este planejamento do conjunto permite a otimização dos ga-
nhos não só de cada lojista individualmente, como também do pro-
prietário do shopping, que ganha tanto um valor fixo pela locação das
lojas, bem como um percentual pelo seu faturamento. O que atrai a
clientela não é uma loja em particular, mas o shopping center como
um todo.
18.2. Qualificação
Sob o aspecto puramente imobiliário o shopping center pode
constituir-se em propriedade unipessoal ou de condomínio pro indi-
viso, por um lado, ou constituir-se em condomínio por unidades au-
tônomas, com partes próprias e partes comuns 207 , por outro.
208
Alfredo Buzaid, "Estudo sobre 'Shopping Center"', In: Roberto W. R. Pinto et alii
(coordenadores), Shopping centers: questões jurídicas: doutrina e jurisprudência,
São Paulo, Saraiva, 1991, p. 13.
209
Superior Tribunal de Justiça, Recurso Especial no 189.380-SP, Sexta Turma, Relator
Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro, julgamento em 20 de maio de 1999, unânime.
210
Nesse sentido Mário Cerveira Filho, Shopping centers: direitos dos lojistas, 2• ed.,
São Paulo, Saraiva, 2000, p. 35.
118 CONTRATOS MERCANTIS
19.2. Qualificação
A característica principal do contrato de leasing é de represen-
tar uma operação financeira. É contrato bilateral, porque impõe obri-
gações a ambas as partes, oneroso, comutativo e de execução suces-
siva sendo, na maior parte das vezes, por adesão. Essas característi-
cas serão detalhadas abaixo.
A Lei no 6.099, de 12 de setembro de 1974, que "Dispõe so-
bre o Tratamento Tributário das Operações de Arrendamento Mer-
cantil e dá outras Providências", prevê 215 :
"Art. 1o - ...
Parágrafo único. Considera-se arrendamento mercantil,
para os efeitos desta Lei, o negócio jurídico realizado en-
215 Parágrafo único com a redação determinada pela Lei no 7.132, de 26 de outubro de
1983.
FERNANDO NETIO BOITEUX 121
19.3.1. Leasingfinanceiro
Nesta modalidade o financiador (empresa de leasing) adquire
um bem de um fabricante para conceder os direitos de utilização so-
bre o bem a um terceiro (utilizador). É a principal operação. Na for-
ma da Resolução no 2.309, de 28 de agosto de 1996, do Conselho
Monetário Nacional (artigo 5°),
"Art. 5°. Considera-se arrendamento mercantil financeiro a
modalidade em que:
I - as contraprestações e demais pagamentos previstos no
contrato, devidos pela arrendatária, sejam normalmente
suficientes para que a arrendadora recupere o custo do bem
arrendado durante o prazo contratual da operação e, adicio-
nalmente, obtenha um retorno sobre os recursos investi-
dos;
II - as despesas de manutenção, assistência técnica e servi-
ços correlatos a operacionalidade do bem arrendado sejam
de responsabilidade da arrendatária;
III - o preço para o exercício da opção de compra seja li-
vremente pactuado, podendo ser, inclusive, o valor de mer-
cado do bem arrendado."
A modalidade lease-back, ou seja, a venda de um conjunto de
bens, em geral um estabelecimento, para que o comprador os dê, em
seguida, em locação ao vendedor, com o objetivo de desmobilizar o
patrimônio do vendedor, aumentando o volume de seu capital circu-
lante, em nosso direito, ao menos, só pode ser efetivada na modali-
221
Aldo Frignani, Factoring, leasing, franchising, venture capital, concorrenza, 3• ed.
ampl. e atual., Torino, Giappichelli, 1987, p. 336, analisando o direito comparado,
consigna estas três modalidades como sendo as utilizadas na prática.
124 CoNTRATOS MERCANTIS
19.5. O Contrato
19. 5.1. Características
O contrato é solene, exigindo forma escrita, por instrumento
público ou particular, impondo-se o registro junto ao Cartório de Tí-
tulos e Documentos.
É contrato bilateral, consensual, oneroso, comutativo, de exe-
cução sucessiva e nominado. Quase sempre se forma por adesão.
A arrendadora é instituição financeira ou sociedade que se
dedique ao arrendamento mercantil.
A arrendatária pode ser pessoa física ou jurídica.
A publicidade do contrato se impõe, principalmente, para que
se evitem alienações fraudulentas dos bens arrendados.
empecilho existe no art. 18 da Lei 8.078/90 para a cobrança dos lucros cessantes,
devendo a indenização contemplar todos os prejuízos efetivamente sofridos pelo
consumidor. Não se pode trazer ao processo, em fase de apelação, questões fáticas
não levantadas no juízo anterior, salvo quando se provar que não foram argüidas
antes por força maior, máxime se a pretensão envolve mudança na causa de pedir e
no pedido".
225
Resolução n" 2.309, de 28 de agosto de 1996, do Banco Central do Brasil, artigo 7".
FERNANDO NETIO 80ITEUX 127
237 Fábio Konder Comparato, Direito empresarial: estudos e pareceres, São Paulo, Sa-
raiva, 1990, p. 419.
238 Caio Mário da Silva Pereira, Instituições de direito civil, 3' ed., Rio de Janeiro, Fo-
rense, 1975, vol. IIJ, p. 156: "O preço tem de ser sério, traduzindo a intenção efetiva
e real de constituir uma contraprestação para a obrigação que o vendedor assume de
entregar a coisa. Se for fictício, não há venda, porém doação simulada, e por tal ra-
zão atacável por este defeito do negócio jurídico. Se for irrisório, venda também não
há, porque um contrato em que se presencia o contraste aberrante entre valor da coi-
sa e o preço nega-se a si mesmo".
FERNANDO NETIO 80ITEUX 135
240 Arnaldo Rizzm·do, Leasing: arrendamento mercantil no direito brasileiro, 4' ed. rev.,
atual. e ampl.. São Paulo, Revista dos Tribunais, 2000, p. 85.
FERNANDO NETIO BOITEUX 137
20.2. Modalidades
20.2.1. Transportes terrestres
São transportes terrestres os que se realizam por terra firme.
Subdividem-se em rodoviários, feitos por estradas de rodagem e fer-
roviários, através de estradas de ferro.
20.3.2. Consentimento
Consentimento é o acordo de vontades entre as partes que in-
tervêm na formação do contrato.
20.3.4. Remuneração
A remuneração (frete) é elemento essencial, porque o contra-
to é oneroso.
253
O comissário de transporte também é denominado empresa de expedição. Com esse
nome o contrato é analisado por Pontes de Miranda, Tratado de direito privado, São
Paulo, Revista dos Tribunais, 1984, vol. 44, 3• ed., 2• reimp., p. 3.
152 CONTRATOS MERCANTIS
"( ... ) Penso que a Súmula no 161 do STF não tem aquela
extensão que se pretende dar, data venia. Sem dúvida al-
guma, qualquer cláusula nula, é cláusula contra a moral, é
cláusula à qual não se pode emprestar nenhuma validade.
Mas uma coisa é cláusula dessa natureza, já vedada no di-
reito brasileiro e outra são cláusulas limitativas de respon-
sabilidade em contratos firmados entre partes igualitárias,
entre profissionais, que naturalmente têm a oportunidade
de discuti-Ia ou, de alguma forma, têm a liberdade de con-
tratar e a liberdade contratual amplamente assegurada. Não
se trata de contrato regido pelo Código de Defesa do Con-
sumidor, porque se assim fosse, se, no caso, estivesse de
um lado um profissional e do outro um consumidor, eu não
teria dúvida nenhuma em examinar a questão com outros
olhos, por outros aspectos. Mas, no caso, trata-se de um
contrato de transporte entre uma empresa de transportes
marítimos e uma outra empresa importadora de automó-
veis. Os automóveis foram danificados; e a empresa impor-
tadora teve o cuidado de segurá-los pelo seu valor total. A
companhia seguradora honrou esse compromisso. Agora,
regressivamente, pretende ressarcir-se junto à companhia
de transportes marítimos. É essa a questão, não se trata de
um exame de um contrato onde se possa falar em desigual-
dade das partes: ao contrário.
A respeito do tema proferi, no REsp no 13.656, voto que
ora apenso a este.
No caso dos autos, tive oportunidade de examinar um as-
pecto fático que acho muito relevante. O proprietário das
mercadorias transportadoras teve a oportunidade de decla-
rar o valor dos bens e pagar um determinado frete; mas não
o fez, preferiu pagar um frete menor e concordar com a
empresa de transportes marítimos que, neste caso, sem a
declaração de valor da mercadoria, estabelecia um valor x
para indenização por cada produto danificado.
Ora, cuida-se de opção do dono da empresa importadora
que pagou um frete menor, e em contrapartida, foi estabe-
lecida a cláusula limitativa de responsabilidade( ... )."
FERNANDO NETIO BOITEUX 155
20.6.2. Obrigações
O destinatário tem o dever de receber a mercadoria, mas só
tem a obrigação de pagar o preço se houver acordo nesse sentido com
o remetente.
20.7. Forma
20.7.1. Modais
Transportes modais são os que se realizam mediante uma só
modalidade. São regulados pela Lei no 9.611, de 19 de fevereiro de
1998 (Dispõe sobre o Transporte Multimodal de Cargas e dá outras
providências).
21.3. Regulamentação
Segundo Pontes de Miranda o nosso. Código Comercial foi o
primeiro, no mundo, a regular o transporte de passageiros, nos arti-
gos 629 a 632 268 •
Hoje a matéria está regulada pelo Decreto no 2.521, de 20 de
março de I 998 (Dispõe sobre a exploração, mediante permissão e
autorização, de serviços de transporte rodoviário interestadual e in-
ternacional de passageiros e dá outras providências).
"Art. 1o - Cabe à União explorar, diretamente ou mediante
permissão ou autorização, os serviços rodoviários interes-
tadual e internacional de transporte coletivo de passagei-
ros."
rando ter recebido em depósito os bens dados em penhor''. Revista de Direito Mer-
cantil, Industrial, Econômico e Financeiro, 40 Nova Série, 1980, p. li O.
272
Superior Tribunal de Justiça, Recurso Especial no 5.177-SP, Terceira Turma, Lex-
Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça e Tribunais Regionais Federais, n°
23, julho de 1991, p. 189 e segs., com a seguinte ementa: "Direito Privado. Penhor
Mercantil. Tradição Real. Entrega da Coisa a Terceiro. Responsabilidade do Credor.
Pagamento da Dívida. Devolução do Penhor.
Não há contrariedade ao art. 274 do Cód. Comercial se a tradição do penhor aper-
feiçoou-se, de forma efetiva ou real, pela entrega da coisa a terceiro, que a teve 'em
nome e à ordem' do credor pignoratício, consoante entendimento de antiga, porém
boa, doutrina e jurisprudência.
O titular de direito real de penhor com a posse mediata da coisa continua equipara-
do, nos termos da lei comercial (art. 276 do Cód. Com.), ao depositário, responden-
do pela devolução ou indenização da coisa após o pagamento da dívida".
m Superior Tribunal de Justiça, Recurso Especial no 7.187-0-SP, Quarta Turma, Lex,
citada, no 40, dezembro de 1992, p. 65 e segs., com a seguinte ementa: "Direito Co-
mercial. Penhor mercantil. Tradição simbólica. Admissibilidade. Código Comercial,
art. 274. Vigência. Ação de depósito. Boa-fé. Recurso provido.
I - Em se tratando de penhor mercantil, admissível é a entrega simbólica dos obje-
tos, estando em vigor a norma do art. 274 do Código Comercial.
11 - A aceitação do encargo de depositário, no penhor mercantil, faz presumir a tra-
dição dos bens dados em garantia, caracterizando infidelidade do depositário a falta
de entrega dos objetos.
III - A realidade das relações de comércio dos tempos atuais repudia os formalismos
injustificáveis, instalando-se na boa-fé a 'consagração do dever moral de não enga-
nar a outrem".
274 Superior Tribunal de Justiça, Recurso Especial no I 0.494-0-SP, Quarta turma, Recur-
22.3. Classificação
Pode o depósito ser voluntário ou obrigatório, subdividindo-
se este em depósito legal e depósito necessário.
275
Orlando Gomes, Contratos, 23• ed., Rio de Janeiro, Forense, 2001, p. 339.
276
J. X. Carvalho de Mendonça, Tratado de direito comercial brasileiro, Rio de Janei-
ro, Freitas Bastos, 1960, v. VI, parte 11, p. 425.
277
Caio Mário da Silva Pereira, Instituições de direito civil, 10• ed., Rio de Janeiro,
Forense, 2000, v. III, p. 226.
164 CONTRATOS MERCANTIS
278
Orlando Gomes, Contratos, cit., p. 339.
279 Caio Mário da Silva Pereira, Instituições de direito civil, cit., p. 323.
28° Fran Martins, Contratos e obrigaçiies comerciais, cit., p. 453.
281 Orlando Gomes, Contratos, cit., item 276, p. 343.
282 Caio Mário da Silva Pereira, Jnstituiçiies de direito civil, cit., p. 326 e 327.
FERNANDO NETIO BOITEUX 165
22.8.1. Características
Como contrato comercial, o contrato de depósito em arma-
zéns-gerais é sempre oneroso (Lei no 9.973/00, artigo 3°, caput; De-
creto no 1.102, artigo 2°, alínea 2•, "b").
O preço dos serviços, em regra geral, é fixado pelas partes,
podendo ser subvencionado pelo Estado (Lei no 9.973/00, artigo 3°,
§ 30).
22.8.4. Proibições
Entendemos que a proibição de recusa de depósito de merca-
dorias, prevista no artigo 8° do Decreto no 1.102 de 1903, continua
em vigor. As demais proibições estão expressamente revogadas.
A legislação anterior vedava o estabelecimento de preferência
entre os depositantes, o abatimento do preço marcado na tarifa em
benefício de qualquer depositante e o exercício do comércio de mer-
cadorias idênticas às que se propõe receber em depósito (Decreto no
1.102 de I 903, artigo 8°).
Essas restrições estão revogadas, pois a lei atual admite ex-
pressamente a possibilidade de estabelecimento de preferências, que
devem constar do Regulamento Interno do armazém (Lei no 9.973/
00, artigo 5°); admite, ainda, o exercício do comércio de mercado-
rias da mesma espécie das que tem o armazém-geral em depósito (ar-
tigo 8°); bem como admite que o preço seja fixado por livre acordo
entre as partes (artigo 3°, § 1°).
296
Isaac Halperin, Seguros, 2• ed. atual. por Juan Carlos Morandi, Buenos Aires, De-
palma, 1986, p. 24 a 26.
297
Vera Helena de Mello Franco, Lições de direito securitário: seguros terrestres pri-
vados, São Paulo, 1993, p. 20 e 21. Também Isaac Halperin, Seguros, cit., p. 26 e 27.
174 CoNTRATos MERCANTIS
23.3.2. Risco
O risco é o fato danoso ao interesse do segurado e aleatório,
isto é, provocado não-intencionalmente. Admite-se, por isso, a cober-
tura de riscos ligados à simples culpa (negligência, imprudência, im-
perícia) do segurado, como o seguro de responsabilidade civil.
De acordo com o artigo 1.440 do Código Civil, a vida e as fa-
culdades humanas também podem ser objetos do contrato de seguro
"contra os riscos possíveis, como o de morte involuntária, inabilita-
ção para trabalhar, ou outros semelhantes".
Aqui, vale destacar a questão atinente ao suicídio involuntário.
A Súmula 105 do Supremo Tribunal Federal já admitia que:
"Salvo se tiver havido premeditação, o suicídio do segura-
do no período contratual de carência não exime o segura-
dor do pagamento do seguro".
300
Código Civil, art. 1.479 e Projeto do Código Civil, art. 816, com idêntica redação.
301
Isaac Halperin, Seguros, cit., p. 49 e 50.
176 CONTRATOS MERCANTIS
23.3.3. Garantia
A garantia é uma promessa de indenizar, que tem valor eco-
nômico, mesmo na ausência de realização do risco (sinistro), como
explícita o Código Civil, artigo 1.452, transcrito:
"Art. 1.452 - O fato de se não ter verificado o risco, em pre-
visão do qual se fez o seguro, não exime o segurado de
302
Superior Tribunal de Justiça, Recurso Especial no 16.560-0 (Registro no 91.0023696-9),
Relator Ministro Fontes de Alencar, julgamento em 12 de maio de 1992, unânime,
com a seguinte ementa: "Seguro. Acidentes Pessoais. Suicídio Involuntário. O sui-
cídio desintencional está abrangido pelo seguro de acidentes pessoais. Precedentes
do Superior Tribunal de Justiça. Recurso especial atendido. Unânime".
103 Superior Tribunal de Justiça, Recurso Especial no 194 (Registro no 89.8427-5), Re-
lator Ministro Barros Monteiro, julgamento em 29 de agosto de 1989, unânime, com
a seguinte ementa: "Direito Civil. Seguro. Suicídio involuntário. É inoperante a cláu-
sula que, nos seguros de acidentes pessoais, exclui a responsabilidade de segurado-
ra em casos de suicídio involuntário. À seguradora, ainda, compete a prova de que o
segurado se suicidou premeditadamente, com a consciência de seu ato. Recurso co-
nhecido e provido".
J().l Superior Tribunal de Justiça, Recurso Especial no 194, citado.
FERNANDO NETTO BOITEUX 177
23.3.4. Prêmio
O segurador, ao assumir o risco, ou seja, a obrigação de pagar
determinada quantia, recebe uma contraprestação, que é o prêmio. O
prêmio, portanto, é fixado em função do interesse e do risco.
23.4. Partes
O contrato de seguro é uma modalidade de contrato a favor de
terceiro, portanto, apresenta duas partes contratantes e um beneficiá-
rio, que não é parte no contrato. Assim, são partes no contrato:
a) a seguradora, que assume a obrigação de ressarcir o pre-
juízo;
b) a pessoa que pagará a importância para que haja ores-
sarcimento do prejuízo, que se chama segurado.
Só essas pessoas são partes no contrato e assumem obrigações.
O beneficiário é quem efetivamente receberá da seguradora a
importância relativa ao prejuízo; tanto pode ser beneficiário o pró-
prio segurado como uma terceira pessoa, dependendo da indicação
de cláusula contratuaP 05 •
305
Fran Martins, Contratos e obrigações comerciais, cit., p. 419.
178 CoNTRATOS MERCANTIS
23.5.2. Apólice
A apólice é o instrumento da constituição do seguro. As apó-
lices podem ser de várias modalidades. Diz-se simples a apólice que
estabelece em seu corpo todas as condições do seguro, sem necessi-
dade de quaisquer atos adicionais. Quando se referem a riscos variá-
veis, admitindo a substituição do interesse segurado, denominam-se
apólices abertas, ajustáveis ou de averbação (Decreto no 60.459, de
13 de março de 1967, artigo 4°) 306 •
Na apólice, além das cláusulas obrigatórias, podem constar
outras, facultativas. As apólices devem, também, mencionar os ris-
cos cobertos e os excluídos.
23.5.3. Bilhete
A lei permite que o seguro seja contratado por simples emis-
são de um bilhete de seguro, por solicitação verbal do interessado 307 •
23.5.4. Certificado
O certificado de seguro é "um documento tipicamente com-
probatório da existência da cobertura com relação a uma pessoa ou
coisa" 308 •
306 Fran Martins, Contratos e obrigações comerciais, 11' ed., Rio de Janeiro, Forense,
1990, p. 428 a 430.
307 Fran Martins, Contratos e obrigações comerciais, cit., p. 430.
1°8 Yera Helena de Mello Franco, Liç6es de direito securitário: seguros terrestres pri-
vados, cit., p. 80.
FERNANDO NETTO BOITEUX 179
309
Joaquin Garrigues, Contrato de seguro terrestre, Madrid, Aguirre, 1973, p. 565, po-
sição também admitida por Vera Helena de Mello Franco, Lições de direito securi-
tário: seguros terrestres privados, cit., p. 115.
31
311
° Fran Martins, Contratos e obrigações comerciais, cit., p. 431.
Pedro Alvim, O contrato de seguro, 3• ed., Rio de Janeiro, Forense, 1999, p. 286.
180 CONTRATOS MERCANTIS
23.9. O Co-Seguro
O co-seguro é uma das modalidades dos seguros múltiplos. A
cobertura é distribuída simultaneamente entre vários seguradores que
assinam o mesmo contrato, embora possa cada um emitir sua própria
apólice 313 (Decreto no 60.459, de 13 de março de 1967, artigo 5°).
O co-seguro e o resseguro têm a mesma finalidade: a distribui-
ção do risco entre os seguradores 314 • Todavia, eles não se confundem.
Segundo Pedro Alvim 315 :
"tanto no co-seguro, como no resseguro há o fracionamen-
to do seguro, mas naquele o segurado é o centro de conver-
gência de tantas relações jurídicas independentes, quantos
forem os co-segurados; neste a relação jurídica entre o se-
gurado e o segurador não sofre qualquer alteração. A super-
veniência do resseguro é negócio jurídico estranho ao se-
gurado. Embora o segurador compartilhe sua obrigação
com o ressegurador, continua como responsável exclusivo
perante o segurado".
Halperin afirma que o co-seguro e o resseguro devem ser dis-
tinguidos, pois o primeiro é celebrado pelo segurado simultaneamen-
te com mais de um segurador sobre o mesmo risco, ou seja, supõe
uma pluralidade de seguros e requer o consentimento do segurador
(por exemplo, em caso de sinistro requer liquidações distintas); en-
quanto o segundo é o seguro que, mediante uma obrigação de reem-
312 Pedro AI vim, O contrato de seguro, cit., p. 286 e 287.
313
Pedro AI vim, O contrato de seguro, cit .. p. 349.
314
Pedro AI vim, O contrato de seguro, cit., p. 356.
315
Pedro AI vim, O contrato de seguro, cit., p. 356.
FERNANDO NETIO BOITEUX 181
23.10. O Resseguro
Por resseguro entende-se o fato de um segurador segurar o ris-
co assumido em outra seguradora.
O resseguro pode ser total ou parcial. No primeiro caso, a to-
talidade do risco passa para o ressegurador, chamado de cessionário;
sendo o resseguro parcial, o ressegurador assume responsabilidade
apenas por parte dos riscos 317 •
Quanto aos efeitos econômicos do resseguro, explica Amadeu
Carvalhaes Ribeiro 318 :
"A capacidade seguradora de uma empresa é medida essen-
cialmente por seu patrimônio líquido. Quando uma segu-
radora direta firma um contrato de resseguro, o principal
efeito desse contrato é a transferência de uma parcela de
seus riscos para a resseguradora.
Essa transferência libera a parcela do patrimônio líquido
até então comprometida. O efeito é óbvio: a seguradora di-
reta passa a dispor de mais recursos financeiros que podem
servir à nova oferta de apólices. É por isso que se diz que
o resseguro aumenta a capacidade seguradora de um deter-
minado mercado."
No Brasil, diferentemente do que ocorre na maioria dos paí-
ses, a atividade de resseguros não é livre, mas há indícios de sua li-
beralização.
Visando à liberalização do mercado de resseguros a Emenda
Constitucional no 13/96 alterou a redação do artigo 192, inciso II, da
Constituição Federal para excluir da exigência de regulação por lei
complementar o funcionamento do "órgão oficial ressegurador".
A seguir, a Lei no 9.932, de 20 de dezembro de 1999 (Dis-
põe sobre a transferência de atribuições da IRB-Brasil Resseguros
S.A. - IRB-BRASIL Repara a Superintendência de Seguros Priva-
316
Isaac Halperin, Seguros, cit., p. 103 e I 05.
317
Fran Martins, Contratos e obrigações comerciais, cit., p. 434.
318
Amadeu Carvalhaes Ribeiro, "Um impulso à competição", Gazeta Mercantil, 16, 17
e 18 de junho de 2000, p. A-2.
182 CoNTRATos MERCANTIS
23.11. A Retrocessão
Por retrocessão entende-se a cessão de um resseguro a outro
ressegurador. Há, assim, uma transferência de riscos para o retroces-
sionário320.
24.1. Noção
Penhor mercantil é o contrato pelo qual uma pessoa dá à ou-
tra coisa móvel (que não seja escravo ou semovente, segundo o arti-
go 273 do Código Comercial) em garantia ao cumprimento de obri-
gação comercial.
O penhor será, pois, civil ou mercantil, de acordo com a natu-
reza da obrigação a que o penhor serve de garantia; penhor pressu-
põe, portanto, a exigência de uma obrigação principal cujo cumpri-
mento é garantido pela coisa oferecida pelo devedor ao credor.
Pode ser legal (exigência de lei) ou convencional (contrato).
24.3. Elementos
24.3.1. Objeto móvel
O objeto do penhor é, necessariamente, coisa móvel; a garan-
tia real sobre imóveis é a hipoteca regulada exclusivamente, pelo di-
reito civil.
322
Waldirio Bulgarelli, Contratos Mercantis, 11• ed., São Paulo, Atlas, 1999, p. 575 e
576.
321
Superior Tribunal de Justiça, Recurso Especial no I 0.494-0-SP, citado.
324
Superior Tribunal de Justiça, Recurso Especial no 66.930-8-RS (Registro no
95.0026254-1), Relator Ministro Eduardo Ribeiro, Revista do Superior Tribunal de
Justiça, Brasília, a. 7, (75): 169-446, novembro 1995, p. 442, com a seguinte emen-
ta: "Penhor mercantil - Possibilidade de constituir-se sem a entrega efetiva do bem
empenhado".
Continua em vigor o artigo 274 do Código Comercial, não derrogado pelo Código
Civil. Esse se aplica subsidiariamente, mas não atinge situações especificamente re-
guladas naquela outra codificação.
Igualmente não ocorreu derrogação, por força do artigo 92, I, da Lei de Falências de
1929, que apenas pretendeu discriminar os créditos com privilégios sobre determi-
nados bens.
Hipóteses em que, tratando-se de bens fungíveis, aceitável a descrição genérica fei-
ta no instrumento".
325
Superior Tribunal de Justiça, Recurso Especial no 5.177- SP (Registro no 90 9336-8),
Relator Ministro Cláudio Santos, Revista do Superior Tribunal de Justiça, Brasília,
a. 3, (21): 223-517, maio 1991, p. 421, com a seguinte ementa: "Direito Privado.
Penhor Mercantil. Tradição Real. Entrega da Coisa a Terceiro. Responsabilidade do
Credor. Pagamento da Dívida. Devolução do Penhor.
Não há contrariedade ao art. 274 do Código Comercial se a tradição do penhor aper-
feiçoou-se, de forma efetiva ou real, pela entrega da coisa a terceiro que a teve 'em
nome e à ordem' do credor pignoratício, consoante entendimento de antiga, porém
boa, doutrina e jurisprudência.
O titular do direito real de penhor com a pcsse medi ata da coisa continua equipara-
do, nos termos da lei comercial (art. 276 do Cód. Com.), ao depositário, responden-
do pela devolução ou pela indenização da coisa após o pagamento da dívida".
FERNANDO NETTO BOITEUX 785
24.4.1.2. Obrigações
A principal obrigação do credor é de restituir o objeto (Códi-
go Comercial, artigo 278).
Entende a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça que
a aceitação do encargo pelo depositário faz presumir a tradição dos
bens dados em garantia, caracterizando infidelidade do depositário
a falta de entrega dos objetos" 326 .
326
Superior Tribunal de Justiça, Recurso Especial no 7.187 -0-SP (Registro no
91.0000297-6), Relator Ministro Sálvio de Figueiredo, Revista do Superior Tribunal
de Justiça, Brasília, a. 4, (39): 339-615, novembro 1992, p. 370, com a seguinte
ementa: "Direito Comercial. Penhor mercantil. Tradição simbólica. Admissibilida-
de. Código Comercial, art. 274. Vigência. Ação de depósito. Boa-fé. Recurso provi-
do.
I - Em se tratando de penhor mercantil admissível é a entrega simbólica dos objetos,
estando em vigor a norma do art. 274 do Código Comercial.
11 -A aceitação do encargo pelo depositário, no penhor mercantil, faz presumir a tra-
dição dos bens dados em garantia, caracterizando infidelidade do depositário a falta
de entrega dos objetos.
lii - A realidade das relações de comércio dos tempos atuais repudia os formalismos
injustificáveis, instalando-se na boa-fé a "consagração do dever moral de não enga-
nar a outrem".
186 CONTRATOS MERCANTIS
24.4.2. Devedor
24.4.2.1. Direitos
Os principais direitos do devedor são: receber o objeto, cum-
prida a obrigação principal; e ser indenizado pelo prejuízo sofrido
pela coisa.
24.4.2.2. Obrigações
As principais obrigações do devedor são: submeter-se à reten-
ção da coisa pelo credor, até que seja cumprida a obrigação princi-
pal; indenizar o credor das despesas efetuadas com a guarda da coi-
sa; e responder pelos seus vícios.
127
Transcrição parcial da ementa do Supremo Tribunal Federal, Habeas Corpus no
71.097-PR, julgamento em 13 de fevereiro de 1996, Relator Ministro Sydney San-
ches.
328
Superior Tribunal de Justiça, Recurso Especial no 35.190-3-SP (Registro no
93.0013889-8), Relator Ministro Nilson Naves, Revista do Superior Tribunal de Jus-
tiça, Brasília, a. 7, (67): 283-521, março 1995, p. 364, com a seguinte ementa: "Pe-
nhor mercantil. Responsabilidade do credor pignoratício, em caso de perda da coi-
sa. Pagamento da dívida. Equiparado ao depositário, responde o credor "pela devo-
lução ou pela indenização da coisa após o pagamento da dívida", conforme estatuí-
do no REsp-5.177. Recurso especial conhecido e provido".
129
Supremo Tribunal Federal, Habeas Corpus no 75.900-9, Primeira Turma, Relator
Ministro limar Galvão, julgamento em 23 de junho de 1998, unânime, com prece-
dentes (Habeas Corpus no 71.097-PR, Revista Trimestral de Jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal no 162/612).
FERNANDO NETTO BOITEUX 187
13 7 Carlos Fulgêncio da Cunha Peixoto, Sociedades por Ações, São Paulo, Saraiva, 1972,
v. I, p. 318 e 319.
138 Modesto Carvalhosa, Comentários à Lei de sociedades anônimas, ed. de 1997, v. I,
São Paulo, Saraiva, 1997, p. 278.
FERNANDO NETIO BOITEUX 191
339
Sérgio Carlos Covello, Contratos bancários, 2• ed., São Paulo, Saraiva, 1991, p. 388
e 389.
340
Modesto Carvalhosa, Comentários à Lei de sociedades anônimas, cit., p. 279.
192
25.1. Introdução
A alienação fiduciária em garantia nasce da necessidade da
criação de novas garantias reais para a proteção do direito de crédi-
to.
A hipoteca e o penhor, por exemplo, não mais satisfazem a
uma sociedade industrializada, pois apresentam graves desvantagens
pelo custo e morosidade em executá-Ias, ou pela superposição a elas
de privilégio em favor de certas pessoas, especialmente do Estado.
Por exemplo, o crédito fiscal tem preferência sobre o crédito hipote-
cário, seja qual for a data de sua constituição, por disposição do Có-
digo Tributário Nacional.
Na venda com reserva de domínio, o vendedor mantinha-se na
propriedade do bem até que o preço fosse pago. Na alienação fidu-
ciária em garantia o bem passa ao comprador pela tradição e passa à
propriedade do credor pelo contrato de alienação.
O primeiro caso - venda com reserva de domínio -, pode ser
usado para garantir o vendedor, empresa comercial; o segundo, alie-
nação fiduciária em garantia, para garantir a instituição financeira
que financia a operação.
Todavia, como ensina Moreira Alves, não se trata propriamen-
te de um negócio fiduciário, seja do tipo romano ou germânico,
como segue 341 :
"( ... ) o negócio fiduciário se caracteriza por uma situação
de perigo, limitada pelo jogo de fides. Quando não existe a
possibilidade de abuso e se chega à correspondência exata
dos poderes do fiduciário com o fim do negócio através de
meios jurídicos adequados, e não pelo espontâneo compor-
tamento do fiduciário, se está diante dos casos de 'fidúcia
legal' que não tem nenhum título hábil para a qualificação
fiduciária".
No direito germânico também não há a possibilidade de abu-
so do fiduciário, pois, alcançada a finalidade almejada pelas partes,
141 José Carlos Moreira Alves, Da alienação fiduciária em garantia, 3' ed., Rio de Ja-
neiro, Forense, 1987, p. 30 e 31.
FERNANDO NETIO 80ITEUX 193
25.2. Qualificação
Trata-se de negócio jurídico bilateral que visa transferir a pro-
priedade de coisa móvel com fins de garantia (esta é a justificativa
para chamar-se a propriedade de fiduciária).
A lei não usa a expressão contrato de alienação fiduciária, ao
contrário do disposto no artigo 761 do Código Civil, que se refere a
contratos de penhor e anticrese. Na alienação fiduciária em garantia,
ao contrário do que sucede com os contratos de penhor e hipoteca,
não se visa à constituição de direitos reais limitados, mas à transfe-
rência do direito de propriedade com o escopo de garantia. Ainda
assim, podemos nos referir a um contrato que visa a produzir efeitos
rems.
Ora, segundo o caput do artigo 66 da Lei no 4. 728/65 a alie-
nação fiduciária em garantia transfere ao credor o domínio resolúvel
e a posse indireta da coisa móvel alienada, independentemente da
tradição efetiva do bem. Para Moreira Alves 342 :
"Antes do registro, o contrato de alienação fiduciária em
garantia é apenas título de constituição da propriedade fi-
342
José Carlos Moreira Alves, Da alienaçãofiduciária em garantia, cit., p. 81.
194 CONTRATOS MERCANTIS
25.5. Partes
As partes na alienação fiduciária são:
a) o alienante, que é o devedor da dívida resultante do fi-
nanciamento para a aquisição do bem; depois de adquiri-
lo, aliena esse bem ao financiador em garantia da dívida,
continuando, porém, na posse direta da coisa com todas as
responsabilidades do depositário;
b) o credor, ou financiador, ao qual é transferido o domí-
nio resolúvel e a posse indireta da coisa.
FERNANDO NEnD BOITEUX 195
25.6. Coisa
25.6.1. Coisa móvel ou imóvel
No regime da Lei 4.728/65, artigo 66, só podia ser objeto da
alienação fiduciária em garantia coisa móvel. Hoje, no regime da Lei
na 9.514/97, admite-se a alienação fiduciária de coisa imóvel.
352
Paulo Restiffe Neto et alii, Garantia .fiduciária: direito e ações, cit., p. 385.
198 CoNTRATOS MERCANTIS
353 Orlando Gomes, Alienação fiduciária em garantia, 4' ed., Rio de Janeiro, Forense,
1975, p. 98.
354 Revista do Superior Tribunal de Justiça n" 57/402, referida por Theotonio Negrão,
Código de Processo Civil e legislação processual civil em vigor, cit., nota 1d ao arti-
go 2" do Decreto-lei n" 911169.
155 Superior Tribunal de Justiça, Recurso Especial n" 164.830-RS, Rei. Ministro Sálvio
de Figueiredo, j. em 18 de agosto de 1998, deram provimento, maioria, Diário da
Justiça da União de 5 de outubro de 1998, p. 100, referido por Theotonio Negrão,
Código de Processo Civil e legislação processual em vig01; cit., nota 1d ao artigo 2"
do Decreto-lei n" 911169.
FERNANDO NEnO BOITEUX 199
369 Sobre o poder de representação Santoro Passarelli, Doctrinas generales deZ derecho
civil, Madrid, Editorial Revista de Derecho Privado, 1964, p. 347 e, em nosso direi-
to, sobre a distinção entre mandato e representação Nelson Nery Jr., In Código bra-
sileiro de defesa do consumidor comentado pelos autores do anteprojeto, Ada Pel-
legrini Grinover et alii, 6' ed. rev., atual. e ampl., Rio de Janeiro, Forense Universi-
tária, 2000, p. 512 a 516.
FERNANDO NETTO BOITEUX 205
26.2. Características
O mandato é contrato consensual, bilateral e oneroso. Inicia-
se sua formação mediante um ato unilateral do mandante; mas para
gerar vínculo entre as partes é necessária a aceitação expressa ou tá-
cita do mandatário.
Não requer forma especial, podendo ser escrito ou verbal, ex-
presso ou tácito (Código Civil, artigo 1.290, caput). O instrumento
do mandato, que pode existir, ou não, é a procuração, que pode ser
pública ou particular. Para os atos que exigem instrumento não se
admite mandato verbal (Código Civil, artigo 1.291 ).
O mandato pode ser geral (referindo-se a todos os negócios do
mandante) ou especial (referindo-se a um ou mais negócios determi-
nados), conforme artigo 1.294 do Código Civil.
370
Pela aplicação do artigo 1.316 do Código Civil conjugado com a Lei de Falências,
chega-se à mesma conclusão.
208 CoNTRATOS MERCANTIS
tos, 1956. O autor, que nega a possibilidade de contrato consigo mesmo, abre algu-
mas exceções (p. 72 e 73).
FERNANDO NETTO BOITEUX 209
376
Supremo Tribunal Federal, Recurso Extraordinário n• 107.981-9-GO, 2• Turma,j. 14
de novembro de 1986, Rei. Min. Francisco Rezek, Diário da Justiça da União de 12
de dezembro de 1986 e na íntegra na Revista dos Tribunais n• 616/236, com a seguin-
te ementa: "Procuração em causa própria. Irrevogabilidade. O art. 1.317 do CC es-
tatui que a procuração em causa própria é irrevogável. Assim, nulo é o ato de revo-
gação de tal mandato".
377
Nelson Nery Jr., In Código brasileiro de defesa do consumidor comentado pelos
autores do anteprojeto, cit., p. 516, nota 212.
378
Caio Mário da Silva Pereira, Instituições de Direito Civil, cit., p. 265.
379
Orlando Gomes, Contratos, cit., p. 356.
380
Lei n° 6.404/76 (Lei de Sociedades por Ações).
381
Orlando Gomes, Questões mais recentes de direito privado: pareceres, São Paulo,
Saraiva, 1988, p. 250.
210 CONTRATOS MERCANTIS
27.1. Noção
Entende-se por gestão de negócios o fato de alguém, por livre
iniciativa, cuidar de interesse de outrem, conforme a presumível von-
tade deste 382 • Não decorre, portanto, de imposição legal ou obrigação
contratual, nem de autorização, nem de mandato.
27 .3. Elementos
A gestão de negócios era tida, no direito romano, como um
quase-contrato, classificação hoje superada383 • Sua natureza, hoje, é
controvertida, entendendo-a alguns autores como contrato, como faz
o Código CiviP 84 , e outros como fonte autônoma de obrigações 385 •
O Projeto do Código Civil classifica a gestão de negócios en-
tre as obrigações por atos unilaterais 386 • Igualmente, o Código Civil
Português de 1966 (artigos 464 e seguintes).
São elementos da gestão de negócios:
a) o gestor age sem autorização do interessado (o dono, ou
dominus);
b) o gestor intervém na gestão de negócio alheio;
c) o gestor age sempre no interesse do dono do negócio;
d) a gestão deve ser motivada por necessidade ou utilida-
de.
382 Orlando Gomes, Contratos, cit., p. 386.
383
O quase-contrato nasceria de um fato pessoal de quem se acha obrigado, e nesta clas-
sificação se incluía a gestão de negócios e o pagamento indevido. Esta classificação
foi abandonada pela doutrina moderna.
384
Por exemplo, Orlando Gomes, Contratos, cit., p. 385.
385
Fran Martins, Contratos e obrigações comerciais, 11 • ed. rev., Rio de Janeiro, Fo-
rense, 1990, p. 339, entende que a melhor doutrina, hoje, a considera como fonte
autônoma de obrigações, "visto não haver na gestão, originariamente, um acordo de
vontades, característico dos contratos em geral".
386
Projeto de Lei da Cãmara- PLC no 118, de 1994, artigos 860 e segs.
212 CONTRATOS MERCANTIS
28.1. Noção
A representação comercial autônoma também é conhecida
como contrato de agência, nome pelo qual o contrato de representa-
ção comercial está regulado no Projeto de Código Civil387 •
É essencialmente um contrato de intermediação, mas não de
mediação, dado que o mediador é desinteressado, e não participa do
contrato que vier a ser celebrado, ao passo que o intermediário é par-
cial, é interessado 388 • São intermediários, em direito, os que se in-
cumbem de pôr duas ou mais partes em contato para a conclusão de
negócios, sem serem dependentes ou empregados de nenhuma de-
las389. Vale dizer que o intermediário pode ser representante volun-
tário, mas não preposto ou representante necessário (diretor, por
exemplo) de uma das partes.
Além do representante comercial autônomo, é intermediário
também o corretor.
387
Projeto de Lei da Câmara- PLC no 118, de 1994, artigos 110 e segs.
388
No dizer de Pontes de Miranda, Tratado de direito privado, São Paulo, Revista dos
Tribunais, 1984, v. 43, p. 233 e segs., especialmente p. 243.
Nesse sentido é que, no direito português, em comentário ao Decreto-lei no 178/86,
António Pinto Monteiro, Contrato de agência, Coimbra, Almedina, 1987, p. 20, nega
ao agente a qualidade de mediador.
389
René Roblot, Traité élémentaire de droit commercial, de Georges Ripert, 10' ed.,
Paris, LGDJ, 1986, t. 2, p. 563, inclui o agente entre os intermediários comerciais.
214 CONTRATOS MERCANTIS
392
Tribunal Superior do Trabalho, Recurso de Revista n" 193404, de 1995, Segunda
Região, Quarta Turma, Relator Ministro Leonaldo Silva, decisão de 27 de novem-
bro de 1996, acórdão n" 7996, publicado no Diário da Justiça de 13 de dezembro de
1996, p. 50581.
393
Pontes de Miranda, Tratado de direito privado, cit., v. 43, p. 233 e segs. Esta doutri-
na foi adotada por Rubens Requião.
394
Orlando Gomes, Contratos, 23• ed. atual., Rio de Janeiro, Forense, 2001, p. 365 e
segs. O mesmo no direito português, com António Pinto Monteiro, Contrato de agên-
cia, cit., p. 20.
395
A citação do autor foi tomada como motivo de decidir no Recurso Especial n"
67.486-7-RS, Registro n" 95.0027743-3, Revista do Superior Tribunal de Justiça n"
101, janeiro de 1998, p. 39 e segs., transcrição de fls. 44, reafirmada, por exemplo,
no Recurso Especial n" 53.192-RS, Revista do Superior Tribunal de Justiça, n"
84/90.
216 CONTRATOS MERCANTIS
28.8.2. Indenização
Em outro dispositivo (artigo 27, alínea "j"), a lei prevê opa-
gamento de indenização, no valor equivalente a um doze avos do to-
tal da remuneração auferida durante o tempo em que exerceu a re-
presentação, exclusivamente ao representante, sempre que a rescisão
do contrato se der sem qualquer dos motivos para justa causa previs-
tos no artigo 35. Portanto, em relação à indenização devida pelares-
cisão do contrato a lei estabelece uma maior proteção para o repre-
sentante que para o representado.
Entende Rubens Requião que esta indenização "possui um
sentido remuneratório salarial" e a indenização "tem a natureza com-
pensatória de perdas e danos pela violação contratual" 402 • A afirma-
402
Rubens Requião, Do representante comercial, cit., p. 216.
222 CONTRATOS MERCANTIS
ção não nos parece lógica, pois, além de não se caracterizar a viola-
ção contratual pelo exercício de um direito previsto em lei, a inexis-
tência de subordinação do representante ao representado exclui qual-
quer natureza trabalhista do contrato, e, portanto, salarial. Portanto,
a indenização é devida, mas por expressa previsão legal, não poden-
do ser confundida com direitos trabalhistas inexistentes.
A cumulatividade da indenização com o direito ao aviso pré-
vio é amplamente reconhecida pelo Superior Tribunal de Justiça, em
diversos acórdãos. Para compatibilizar os diversos dispositivos legais
vem entendendo o Tribunal que o legislador se equivocou na reda-
ção da lei e que esse equívoco deve ser corrigido por via de interpre-
tação403, em precedente mantido por ambas as Turmas 404 .
28.10. Prescrição
O prazo prescricional, no que se refere ao direito do represen-
tante de reclamar a retribuição que lhe é devida, é de 5 anos (artigo
44, parágrafo único). No entanto, entende Waldirio Bulgarelli que a
ação do representado contra o representante, por falta de norma le-
gal específica, obedece à regra geral do artigo 442 do Código Comer-
cial, sendo de 20 (vinte) anos 406 .
406
Waldirio Bulgarelli, "Aspectos jurídicos do sistema de distribuição de produtos no
mercado. Lei 4.886, de 9.12.65 alterada pela Lei 8.420, de 8.5.92", cit., p. 64.
225
29.1. Noção
A palavra comissão possui vários significados, designando: o
negócio de comissão; a remuneração devida ao comissário; o próprio
contrato de comissão mercantil.
O negócio de comissão mercantil significa a outorga de pode-
res para alguém praticar atos jurídicos, em nome próprio, no interes-
se de outrem. O comissário é parte em sentido formal; o comitente,
parte em sentido substancial. Para que a comissão seja mercantil, é
preciso que tenha por objeto a prática de "negócios mercantis" e que
o comissário seja comerciante (Código Comercial, artigo 165). A
expressão "negócios mercantis" deve-se entender como contratos
mercantis. O comissário é comerciante quando exerce, profissional-
mente, a atividade de agir, em nome próprio, no interesse de outrem.
Ele recebe, por esse trabalho, uma remuneração percentual sobre o
valor dos negócios concluídos: a comissão.
A distinção entre o mandato e a comissão 407 encontra-se no
poder de representação. Na comissão caracteriza-se o mandato sem
represen tação 408 .
Para alguns autores distingue-se, ainda, a comissão da consig-
nação da seguinte forma: se "a mercadoria destinada a ser vendida
em ocasião oportuna é entregue ou remetida ao comissário dá-se à
comissão o nome de consignação e ao comissário o de consignatá-
rio"4o9.
29.2. Classificação
A comissão mercantil é contrato bilateral, pois gera obriga-
ções para ambas as partes; consensual, pois aperfeiçoa-se com o con-
407
A distinção entre comissão e mandato não é pacífica no direito estrangeiro, como
assinala Waldemar Ferreira, Tratado de direito comercial, São Paulo, Saraiva, 1963,
vol. 11, item 2.381 e segs., p. 55 e segs.
408
Na gestão de negócios caracteriza-se a representação sem mandato, pois o gestor de
negócios age no interesse presumido do outro.
409
J. X. Carvalho de Mendonça, Tratado de direito comercial brasileiro, Rio de Janei-
ro, Freitas Bastos, 1960, vol. VI, parte 11, 1960, item 893, p. 290 (grifos no original).
No mesmo sentido Waldemar Ferreira, Tratado de direito comercial, cit., vol. 11,
item 2.411, p. 114 a 117.
226 CoNTRATOs MERCANTIS
410 Waldemar Ferreira, Tratado de direito comercial, cit., vol. 11, item 2.391, p. 76 a 78,
conforme doutrina francesa.
FERNANDO NEnO BOITEUX 227
417
Nelson Eizirik, Instituições financeiras e mercado de capitais: jurisprudência, cit.,
p. 272.
230
30.1. Função
A necessidade de proteger e reforçar sempre mais o capital de
giro é uma das características da moderna administração. Esse efei-
to se obtém por meio do ativo realizável, mais especificamente dos
créditos contra terceiros. A grande empresa aumenta seus recursos
financeiros organizando-se em conglomerados; a pequena empresa,
que não dispõe desta sofisticação de meios, utilizava-se, tradicional-
mente, do financiamento bancário e do seguro de crédito. A opera-
ção de factoring "se destaca pelo fato de englobar ambas essas téc-
nicas, além de compreender também um serviço de gestão de crédi-
tos"418.
Por exemplo, uma empresa vende seus produtos a outra, para
receber a prazo, sendo o crédito representado por duplicatas, com
vencimento, em geral, para 30 ou 60 dias. Necessitando do dinhei-
ro, o vendedor vende o seu crédito para a empresa de factoring, sem
os custos da cobrança.
30.2. Origens
Alguns autores procuram as origens do factoring na Babilônia,
ou até mesmo na Roma antiga, onde os comerciantes incumbiam a
seus agentes (jactors) a guarda e venda de mercadorias de sua pro-
priedade. Newton De Lucca, de quem tomamos o exemplo, demons-
tra, no entanto, que essesfactors realizavam uma atividade em nome
de outra pessoa, diferentemente do atual jactar (faturizador) 419 •
Com mais razão, todavia, encontra-se na Inglaterra do século
XVI, a figura assemelhada à do Jactar dos dias de hoje, que se en-
carregava da venda para as colônias das mercadorias produzidas na
metrópole, antecipando os valores das mercadorias a serem vendidas
e antecipando os riscos do negócio.
30.3. Características
No Brasil, ainda que não regulamentado em toda a sua ampli-
tude, o factoring já se encontra conceituado pela Lei n° 9.249, de 26
de dezembro de I 995 (que altera a Legislação do Imposto de Renda
das Pessoas Jurídicas, bem como da Contribuição Social sobre o
Lucro Líquido, e dá outras providências), artigo 15, § 1°, inciso II,
alínea "d", com as seguintes características:
"Art. 15 - ...
d) prestação cumulativa e contínua de serviços de assesso-
ria creditícia, mercadológica, gestão de crédito, seleção de
riscos, administração de contas a pagar e a receber, com-
pra de direitos creditórios resultantes de vendas mercantis
a prazo ou de prestação de serviços ('factoring').
§ 2° No caso de atividades diversificadas será aplicado o
percentual correspondente a cada atividade.
420
Os exemplos são de Newton De Lucca, Afaturização no direito brasileiro. cit., p. 12
e segs.
421
Jorge Lobo, "Contrato de 'factoring", Revista de Direito Mercantil, Industrial, Eco-
nômico e Financeiro, nova série, v. 112, p. 37.
232 CONTRATOS MERCANTIS
30.4. Qualificação
Factoring é, essencialmente, a venda do faturamento de uma
empresa. Segundo Fábio Comparato 423 :
"Há, em primeiro lugar, um serviço de gestão de créditos.
Efetuadas as vendas, ou executados os serviços (se se trata
de empresa de prestação de serviços), a empresa de faturi-
zação se encarrega das demais tarefas: faturamento, emis-
são dos títulos de crédito correspondentes, controle de ris-
cos, cobrança normal, recuperação pela via judicial ou ex-
trajudicial.
Há, também, uma garantia contra o risco de inadimplemen-
to dos créditos transferidos, quer se trate de simples impon-
tualidade dos devedores, quer lhes sobrevenha a impon-
tualidade, reconhecida em Juízo pela concordata ou pela
falência. Com efeito, a transferência de créditos se opera de
modo definitivo, sem direito de regresso. Basta que os cré-
ditos sejam certos quanto à sua existência, lícitos quanto à
sua origem e regulares quanto às suas formalidades. Mas
o factm; como o segurador de crédito, não assume obvia-
mente a garantia dos chamados riscos técnicos, isto é, a
ocorrência de eventos que configurem um inadimplemen-
to por parte da empresa cedente dos créditos perante o seu
cliente( ... )".
422 Tribunal de Justiça de São Paulo, Apelação Cível no 27.646-4-SP, 3' Câmara de Di-
reito Privado, Relator Antonio Manssur, votação unânime em 8 de abril de 1997.
421 Fábio Konder Comparato, Factoring, cit., p. 347.
FERNANDO NEnO BOITEUX 233
429 Primeiro Tribunal de Alçada Civil de São Paulo, Processo 00444199-9/00, Apelação
Cível, Origem: São Paulo, 5' Câmara, Relator Marcondes Machado, julgamento 28/
08/1991, ~nânime, publicação JTA 130/75- MF 10611123, com a seguinte ementa:
"Correção Monetária - Anistia - 'Factoring' - Atividade que deixou de ser conside-
rada como financeira diante da Circular no 1.359/88 do Bacen - Irrelevância do mú-
tuo ter sido contraído antes da referida Circular- Artigo 47 das Disposições Transi-
tórias da Constituição Federal - Desacolhimento - Recurso desprovido".
430
Superior Tribunal de Justiça, Recurso de Habeas Corpus no 0006394, ano 97, UF:
RS, 6' Turma, RIP: 00021796, Relator Ministro Fernando Gonçalves, decisão 09 de
junho de 1997, unânime, publicação Diário da Justiça da União de 30 de junho de
1997 PG: 31083.
431
Primeiro Tribunal de Alçada Civil de São Paulo, Apelação Cível no 00582892-4/00,
São Paulo, 7' Câmara Especial, Rei. Jacobina Rabello, Julgamento: 31 de janeiro de
1995, unânime, publicação: MF 3032/NP.
FERNANDO NETTO 80ITEUX 235
435
Arnaldo Rizzardo, Factoring, cit., p. 83 e segs.
436
Superior Tribunal de Justiça, Recurso Especial no 0043914-RS, Ano 94, Terceira
Turma, Relator Ministro Eduardo Ribeiro, acórdão RIP: 00003932, decisão de 28 de
novembro de 1995, unânime, publicação Diário da Justiça de 4 de março de 1996,
p. 05402, com a seguinte ementa: "Frustrada a expectativa do cessionário de títulos,
por força de contrato de "factoring", de receber o respectivo valor por ato imputável
ao cedente, fica esse responsável pelo pagamento. Juros - Cômputo a partir da cita-
ção".
238
tante a sua rede, sem ter que recorrer a investimento próprio (seja ao
seu próprio capital, seja ao de terceiros).
Para o franqueado, por sua vez, a vantagem consiste em poder
iniciar um negócio usando uma marca já consolidada no mercado,
que, por si, atrai a clientela, bem como, podendo contar com a assis-
tência do franqueador, melhorar a sua posição frente à concorrência.
Assim, o sistema de franquias traz benefícios à economia como um
todo, na medida em que permite a diversos pequenos empresários
ingressarem no mercado em condições de igualdade com as empre-
sas já estabelecidas 438 •
442
Jorge Lobo, Contrato defranchising, Rio de Janeiro, Forense, 1994, p. 31. O autor
considera o contrato informal, mas a observação é anterior à Lei n" 8.955/94.
443
L. Miguel Pestana de Vasconcelos, O contrato de franquia (franchising), cit., p. 33.
444
L. Miguel Pestana de Vasconcelos, O contrato de franquia (franchising), cit., p. 33.
445
Jorge Lobo, Contrato defranchising, cit., pp. 44 a 51.
242 CONTRATOS MERCANTIS
31.5.1. Sanções
As informações acima (Lei no 8.955/94, artigo 3°) devem ser
prestadas, no mínimo, 10 (dez) dias antes da assinatura do contrato
ou pré-contrato de franquia ou ainda do pagamento de qualquer tipo
de taxa pelo franqueado ao franqueador ou a empresa ou pessoa li-
gada a este (artigo 4°, caput).
O descumprimento desta obrigação autoriza o franqueado a
argüir a anulabilidade do contrato e exigir devolução de todas as
quantias que já houver pago ao franqueador ou a terceiros por ele
indicados, a título de taxa de filiação e royalties, devidamente corri-
gidas (artigo 4°, parágrafo único). E esta sanção aplica-se, também,
FERNANDO NEnO BOITEUX 245
451
Orlando Gomes, Contratos, 23• ed. atual., Rio de Janeiro, Forense, 2001, pp. 467 e
468.
452
Maria Helena Diniz, Tratado teórico e prático dos contratos, São Paulo, Saraiva,
1993, v. 4, p. 71.
453
Jacques Fournier, "Engineering (Ingénierie)", Répertoire de Droit Commercial,
Dalloz, 1994; Giorgio De Nova, "Engineering' (Contratto di)", Digesto, 4• ed., Tori-
no, UTET.
248 CONTRATOS MERCANTIS
457
Entre eles Carlos Alberto Bittar, "Engineering", Enciclopédia Saraiva do Direito,
São Paulo, Saraiva, 1977, v. 32, pp. 197 e 198.
458
Pedro Pais de Vasconcelos, Contratos atípicos, cit., p. 218.
250 CONTRATOS MERCANTIS
necido pela outra parte, de acordo com as instruções desta, mas sem
subordinação 459 •
Todavia, a questão não é pacífica, e Orlando Gomes nos apre-
senta três possibilidades de classificação460 :
"O engineering é considerado um contrato atípico da espé-
cie contrato misto, no entendimento de que resulta da jus-
taposição de prestações características de vários contra-
tos típicos. Alguns autores qualificam-no, todavia, como
empreitada em modalidade especial, e outros acham que se
confunde com a venda (empreitada mista), formando uma
entidade original".
Caio Mário da Silva Pereira assimila o contrato de engineering
aos de assistência técnica e de know-how, na medida em que todos
eles tem por objeto a "assistência técnica especializada em engenha-
ria"461; todavia, o contrato de engineering tem objeto mais amplo que
os outros dois. A distinção entre eles é bem definida por Newton Sil-
veira, que explica 462 :
"( ... )nestes, a empresa que transmite os conhecimentos não
se obriga a pô-los em prática. Além disso, o contrato de
engineering adquire contornos de empreitada, responsabi-
lizando-se a empresa de engenharia e consultoria pelos re-
sultados esperados do projeto ou da instalação. Por outro
lado, a fornecedora de engineering não é, necessariamen-
te, a titular dos conhecimentos objeto do contrato. Pode
atuar como mandatária do titular dos conhecimentos".
459
Eduardo Espínola, Dos contratos nominados 110 direito civil brasileiro, Rio de Janei-
ro, Gazeta Judiciária, I 953, p. 280.
460 Orlando Gomes, Contratos, cit., p. 468.
461
Caio Mário da Silva Pereira, Instituições de direito civil, v. III, cit., p. 389.
462
Newton Silveira, "Know-how li", Enciclopédia Saraiva do Direito, São Paulo, Sa-
raiva, 1977, v. 47, p. 506.
251
Índice Sistemático
Sumário.............................................................................. 5
Bibliografia........................................................................ 263
263
Bibliografia
DINIZ, Maria Helena. Tratado teórico e prático dos contratos. São Pau-
lo: Saraiva, 1993.
266 CONTRATOS MERCANTIS
LOPES, Miguel Maria de Serpa. Curso de direito civil. 4" ed. Rio de
Janeiro: Freitas Bastos, 1963.
MIRANDA, Pontes de. Tratado de direito privado. 3" ed. 2" reimp. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 1984.