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vem com fórmula jurídica à organização e controle, apreciável valor do total do pro- Introdução às fontes e instrumentos do comércio

administração de fundos de investimentos. duto interno bruto brasileiro. De outra ban-


Não impressionam pois, a nosso ver os ar- da impõe-se deselitizar o acesso ao mercado internacional
gumentos da falta de transpar~ncia, de pu- de capitais, ora totalmente monopolizado
blicidade, de publicação de balanços, etc ... pela grande empresa, organizada sob forma Maristela Basso
nas limitadas ou a apregoada falta de sufici- da sociedade por ações. O detalhamento Doutora em Direito Internacional da Universidade de São Paulo.
ente arcabouço organizacional, ou até mes- deste acesso das limitadas, sociedades de ca- Professora de Direito Internacional da UFRGS
mo de aus~ncia de normas de proteção espe- pital, redimensionadas para este fim, pode-
cial aos potenciais investidores comprado- rá ficar a cargo da Comissão de Valores Mo- SUMÁRIO
1. Definição de comércio internacional; 2. As fontes do comércio internacional; 3. Os instrumentos jurídicos do
res de tÍtulos e valores mobiliários eventu- biliários, a fim de evitar e coibir os inconve-
comércio internacional; 3 .1. Os contratos do comércio internacional; 3 .1.1. Conceituação; 3 .1.2. Os pressupostos
almente emitidos por limitadas· sociedades nientes da experi~ncia alemã com a econ8micos, comerciais e políticos do comércio internacional e suas influ~ncias no contrato; 3.1.3. Negociação e
de capital no mercado de capitais de balcão. PUBLIKUMS KG, mistura de GMBH & conclusão dos contratos internacionais do comércio: aspectos que devem ser considerados; 3.1.3.1. Os contratos
Também não impressiona a restrição legal CO. KG, na qual centenas ou até mesmo internacionais e a diversidade de sistemas jurídicos; 3.1.3.2. Características das contratações com os estados; 3.1.3.3.
Tipos de contratos internacionais do comércio que afetam a cooperação internacional; a) Co~trato de compra e
contida na Lei n° 6385/76, lei que criou a milhares de sócios comanditários ("Ko-
venda internacional de mercadorias; h) Contrato de ag~ncia; c) Contrato de prestação de serviços; d) Contrato de
Comissão de Valores Mobiliários e que em mmanditisten") passam a participar da soci- licenciamento; e) Contrato de know bow ou transfer~ncia de tecnologia; f) Contrato de transporte marítimo; g)
seus artigos 21, § 1° e 22 reserva a emissão edade. Contrato de locação de equipamento; h) Contrato de arrendamento mercantil (Leasing); i) Contrato de franquia
de títulos e valores mobiliários às COMPA- 12. Uma análise mais aprofundada da fi- (Franchising); j) Contrato de associação ou joint venture; 4 .1.3 .4. Apreciação prática de certas cláusulas; 4. Fontes de
financiamento para a cooperação e assistência técnica internacional; 4 .1. Créditos convencionais; 4 .2. Créditos de
NHIAS - sociedades por ações portanto - gura alemã da GMBH & CO. KG, que é
exportação; 4.3. Créditos governamentais; 4.4. Créditos intergovernamentais; 4.5. Financiamento via organismos
registradas perante a CVM. Tal restrição uma "Kommanditgesellschaft" da qual par- internacionais; 4.6. Financiamento de projetas;\ 4.7. Fundos de investimentos; 4.8. Financiamento via bolsas de
pode ser modificada facilmente uma vez que- ticipa uma limitada, não cabe neste traba- mercad~s de valores; 4.9. Capitalização da dívida e:itterna; Bibliografia
brado o tabu tradicional e conservador que lho de escopo rezido, eis que a nossa inten-
apenas sociedades por ações podem emitir ção era demonstrar a exist~ncia, necessidade Abstract Neste contexto surge o Direito do Co-
títulos e valores mobiliários, "securities", e possibilidade, tanto nacional quanto inter- mércio Internacional, ou "Droit
Wertpapiere, no mercado de capitais. Exis- nacional de facilitar o acesso ao mercado de Le Droit du Commerce International International des Affaires", que tem como
tindo justificativa jurídica para tal permis- capitais de balcão (securitização) às empre- apparatt comme la conséquence des rapports objeto de estudo toda a atividade mercantil
são, e esta existe, conforme demonstramos sas de médio porte, organizadas sob a forma internationaux de caractere économique. II est internacional, abrangendo todas as áreas do
e, havendo vontade política/legislativa de jurídica de sociedade por quotas de respon- directement attaché à la circulation direito comercial e do direito industrial, ca-
mudar, não vemos reais obstáculos à atua- sabilidade limitada do tipo de capital. Como internationale des marchandises, des services racterizando-se como um verdadeiro direi-
ção das limitadas no mercado de capitais bra- já enfatizado acima, para concretizar o pro- et des payments. Ses sources sont différents de to econômico, mais amplo, que inclui o di-
sileiro. celles du Droit Commercial Interne et son reito monetário-cambial, o direito financei-
posto por nós que corresponde no Brasil de
instrument juridique sont les contrats ro, o direito fiscal, em síntese, o Direito In-
To das as exig~ncias que se fazem às soci- hoje a uma real necessidade, basta vontade
internationaux. ternacional Econômico. A função do Direi-
edades por ações para captar recursos no política e legislativa, bem como clarivid~n­
to do Comércio Internacional é, como diz
mercado de capitais, podem também ser fei- cia da Comissão de Valores Mobiliários, já
1. Definição de direito do comércio Baptista e Ríos, "entender e sobretudo atu-
tas em grau maior ou menor às limitadas que, a rigor, inexistem, impedimentos jurí- internacional ar nos merc~dos externos, é explicar os as-
sociedades de capital. dicos intransponíveis para a concretização pectos jurídicos principais exatamente como
11. O que realmente importa, a nosso do objetivo proposto, .sendo a remoção do Após a II Guerra :Mundial, o Estados e, são em cada uma das etapas da comer-
ver, é viabilizar, prontamente, de alguma pré-condicionamento mental negativo talvez conseqüentemente, as empresas deram-se cialização internacional para compreend~-los
forma~ o acesso à securitização, em marcha, o maior obstáculo para a i~plementação do conta de sua não auto-sufici~ncia e da neces- dentro dos nossos sistemas jurídicos nacio-
globalmente, às médias empresas, idôneas e proposto por nós. sidade de cooperação internacional. A nais" ("Aspectos jurídicos dei comercio in-
produtivas que detém seguramente sob seu internacionalização dos negócios, o ternacional", p. 7).
surgimento das parcerias empresariais e das O Direito do Comércio Internacional
empresas multinacionais, assim como o es- não é, senão, o reflexo e a conseqü~ncia das
forço dos países menos industrializados de relações internacionais de caráter econômi-
desenvolver suas exportações,são as princi- co. Esta diretamente vinculado à circulação
pais características da nova econômia mun- internacional das mercadorias, dos serviços
dial. e dos pagamentos. Abrange, portanto, a cri-

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ação internacional das riquezas e a mobili- nômicos internacionais que criam regras pró- que costumamos fazer no âmbito interno dos Não há, assim, nas regras jurídicas e nas
dade dos fatores de produção (capital e mão- prias de funcionamento de certos setores do países. O contrato, tanto interno como in- decisões jurisprudenciais, uma única e uni-
de-obra) de um país a outro. comércio internacional, p.ex.: "Lex Petrolea", ternacional, se define como um acordo de forme definição de contrato internacional.
As diversas áreas do Direito Comercial criada pelas grandes multinacionais do setor duas ou mais vontades, com vistas, seja de Recentemente, foram publicadas algu-
Internacional apresentam um desenvolvi- do petróleo, os "euro- créditos" e "euro-bônus". criar uma relação de direito, isto é, dar nas- mas conclusões importantes acerca dos cri-
mento desigual - o setor de serviços, por Essas regras, também nascidas da prática, são cimento a uma obrigação, ou a um direito térios para determinarmos quando um con-
exemplo, é objeto de um número menor de consideradas de direito transnacional na medi- real, seja de modificar ou extinguir uma re- trato é internacional: a) o caráter internaci-
regras do que o comércio internacional de da em que são impostas pelos operadores eco- lação preexistente. O contrato é, precisamen- onal deve ser determinado caso a caso; b) é
mercadorias, ou de transferência de nômicos internacionais sem a participação dos te, o acordo da pluralidade de vontades à qual com base no critério "lex fori" (direito do
tecnologia. Estados que sentirão seus reflexos e suporta- a lei aplicável confere efeitos de direito. foro) que o juiz dirá se a relação jurídica re-
rão seus efeitos. Dois são, portanto, os elementos essen- ceberá o qualificativo de internacional
2. As fontes do direito do comércio As fontes nacionais ou de direito inter- ciais do contrato: a) o acordo de vontades - ("Répértoire Suisse de Droit International
as partes de obrigam a respeitar o que foi P nve . ,, , v. 1, p.17) .
internacional no são os atos unilaterais dos Estados e que
também afetam o ambiente internacional do objeto de consenso; b) necessidade de subor- . Não basta, portanto, dizermos que apre-
As principais fontes do comércio inter- comércio. Podemos considerar aqui os atos dinação do contrato à lei - as partes não es- sença de um elemento estrangeiro é sufici-
nacional são as convenções internacionais, legislativos, administrativos e judiciários, des- tão obrigadas porque quiseram se obrigar, ente para_ que o contrato seja internacional.
ou seja, os tratados bi ou multilaterias cele- de que, evidentemente, influenciem as rela- mas porque a lei consente a elas que o fa- Para que isso ocorra precisamos analisar o
brados entre os Estados, como, p.ex., as "" 1\ • • •
çoes macro-econom1cas mternacwna1s e nao
• N çam. caso concreto para, então, determinarmos se
Convenções de Haia Sobre a Lei Aplicável apenas as micro-econômicas. Por exemplo: Definir contrato internacional não é ta- o elemento estrangeiro está ou não em con-
às Vendas de Caráter Internacional de Obje- a manipulação da taxa de câmbio ou da taxa refa fácil e grande parte dos juristas aqando- dições de produzir o "efeito
tos Móveis Corpóreos (1955) e aos Contra- nacional de juros (taxa de juros no início dos nou esta idéia, conforme demonstrou Henry internacionalizante", usando expressão de
tos de Venda Internacional de Mercadorias anos 80 nos Estados Unidos), programa de Lesguillons na sua obra , "Contrats Luiz Olavo Baptista, "Dos Contratos Inter-
(1986), ou a Convenção de Viena Sobre privatizações, elaboração de códigos nacio- internationaux", p.2. nacionais", p. 13.
Compra e Venda Internacional de Mercado- nais que disciplinam o tratamento dos in- Em direito internacional privado se diz São apropriadas as palavras de Pierre
rias (1980), dentre muitas outras. vestimentos estrangeiros e as leis de remes- que o contrato é internacional quando apre- Lalive quando afirma que cabe ao juiz ou ao
Além do direito convencional, originá- sas de lucros. senta um elem~nto estrangeiro, ou seja, quan- intéprete determinar, com base nos seus pró-
rio dos tratados, são fontes do comércio in- do as partes estão domiciliadas em países di- prios critérios, a importância que assume o
ternacional o chamado direito costumeiro, 3. Os instrumentos jurídicos do ferentes, quando a sede principal de seus ne- elemento estrangeiro no contrato ("Cours
isto é, os usos e costumes peculiares aos mais comércio internacional gócios estão em países diversos, ou quando Général de Droit International Privé", in
variados setores das atividades mercantis, e a obrigação se constituíu ou deva se execu- Recueil des Cours de 1' Academie de Droit
que se tornam uma prática constante e geral O comércio internacional, na sua com- tar em país diferente daquele das partes, etc. International, Leyden, 1977, n. 2, p.20).
na grande mai9ria dos mercados. Também plexidade e na multivariedade de atividades Quando isso acontece temos um fenômeno A partir de 1927, no célebre julgamento
deve-se re{erir, as decisões arbitrais, princi- mercantis, tem como instrumento básico e chamado em Direito de conflito de leis no francês "Affaire Péllissier du Besset", com
palmente aquelas proferidas pelas mais im- fundamental o "contrato". Dentre todos os espaço, justamente porque a legislação de base nas razões formuladas pelo Procurador
portantes instituições de arbitragem interna- instumentos, este não é um fim em si mes- dois ou mais países incidirá sobre aquele con- Matter, introduziu-se na noção de contrato
cionalmente reconhecidas, como a Câmara mo. Diz Aldo Frignani que o contrato leva trato, sendo qualquer uma delas competen- internacional o critério econômico: contra-
de Comércio Internacional de Paris - CCI. em conta - e sofre a influência - dos mais te para apreciá-lo. Como bem coloca Luiz to internaci~nal é todo aquele que gera flu-
Essas são, portanto, as principais fontes variados pressupostos que condicionam o O lavo Baptista, em obra recente e fundamen- xo e refluxo~ de bens, valores e capitais de
internacionais do Direito Comercial Inter- comércio internacional ("Il diritto del tal sobre a metéria, as coisas não se apresen- um país a outro (Cass. Civ., 17-5, 1927, DP,
nacional e que compõem a denominada commercio internazionale",p. 16). tam na realidade de modo tão simples ("Dos 1928, 1,25).
"Nova Lex Mercatoria". O Direito do Co- contratos internacionais - uma visão teórica Consagrou-se, portanto, a expressão
mércio Internacional, tendo em vista as suas 3.1. Os contratos do comércio e prática", p.lO). "fluxo e refluxo através das fronteiras" como
especificidades, possui também outras fon- internacional Devemos considerar que o elemento es- um dado fundamental na determinação do
tes, que cumpre-nos aqui referir: as dedireito trangeiro capaz de dar caráter internacional efeito internacionalizante do contrato.
transnacional e de direito nacional. As pri- 3.1.1. Conceituação ao contrato deve se revestir de uma certa Tem-se, hoje, que é internacional o con-
meiras, muito contestadas, atuam na ausên- Quando estudamos o contrato interna- importância, e esta estraneidade deve ser trato que além do critério jurídico (produ-
cia de outras normas nacionais ou internaci- cional devemos ter presente que ele é, inici- apreciada em relação à ordem jurídica que ção de efeitos de direito em mais de uma or-
onais, surgindo do esforço dos agentes eco- almente, um negócio jurídico como aqueles examina o contrato. dem jurídica autônoma ao mesmo tempo),

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apresenta o critério econômico (fluxo e re- Dentre os fatores econômicos e comer- conflitos de leis, a que nos referíamos aci- Existem ainda outros sistemas que surgi-
fluxo sobre as fronteiras com conseqü~ncias ciais, precisamos levar em conta a in~tabili­ ma. V~-se, portanto, que as noções de Esta- ram da combinação destes dois, como, p.ex.,
significativas para mais de um país). dade política dos países das partes, princi- do-nação não se enquadram numa ótima atu- Escócia, Israel, África do Sul, Filipinas,
Se buscarmos as convenções e tratados palmente se elas se encontram naqueles em alizada e não se adaptam mais ao nosso mun- Quebec, Japão, Rodésia, e a Luisiana nos
internacionais sobre a matéria, constatare- via de desenvolvimento. Da mesma forma, do atual e complexo, no qual o movimento Estados Unidos. Esses combinaram "Civil
mos que estas também não definem contra- devemos atentar para a moeda de pagamen- de formação de blocos econômicos marcha Law" e "Common Law". Poderíamos refe-
to internacional, optando por adotar crité- to, se é ou não conversível, e às variações do acelerado. rir ainda as legislações ocidentais e as socia-
rios que permitam determinar, segundo a câmbio, dentre outros. Como afirma Jean Thieffry y Chantal listas marxistas, que também apresentam ca-
natureza mesma do negócio, quando o con- Os fatores político que incidem sobre o Granier, "o conjunto de sistemas jurídicos racterísticas próprias. Além dos países
trato é internacional. contrato internacional são extremamente sig- que existem no mundo constituem uma napoleônicos como a França, Bélgica,
Diante disso, o melhor é entendermos nificativos. Se levarmos em conta que exis- "Torre de Babel Jurídica", pois as normas Luxemburgo, Haití e outros influenciados
que o caráter internacional do contrato não tem países considerados capitalistas e outros contratuais no nosso. sistema jurídico roma- também pela "Civil Law".
depende apenas do domicílio das partes, se de econômia de Estado, como os do bloco no-germânico são muito diferentes do siste- Não é difícil concluir, assim, que os bens
diverso, da sede principal dos negócios das socialista, concluiremos que negociar e cele- , ma da "Common Law", assim como do re- e serviços circulam entre estes sistemas jurí-
empresas, do lugar da constituição ou exe- brar contratos com pessoas originárias des- gime socialista que está sofrendo profundas dicos distintos, tornando, muitas vezes, di-
cução da obrigação, mas de todo um con- tes últimos poderá implicar em dificuldades transformações sobre o conhecimento de di- fícil o entendimento entre os operadores eco-
junto de elementos diretamente relacionados financeiras variadas como, p. ex., pagamen- ferentes tipos de propriedade; e de outro sis- nômicos e- fazendo com que a tarefa de reda-
à economia interna do contrato, que deve- tos à prazos longos, interesses que estão fora tema como o mulsumano, onde as reminis- ção do contrato não seja nada fácil.
rão ser apreciados caso a caso. de mercado, a moeda não é conversível e o c~ncias religiosas e o costume estão presen- Além do aspecto referido da diversidade
câmbio é artificial, geralmente preferem tes na formalidade e na limitação dos ~ujei­ de sistemas jurídicos que potencialmente
3.1. 2. Os pressupostos econômicos, comer- contratações "buy back", permutas, etc. tos contratantes" (apud Baptista e Ríos, "As- poderão incidir sobre o contrato pretendi-
ciais e políticos do comércio internacional e suas Da mesma forma fatores políticos rele- pectos jurídicos do comercio internacional", do pelas partes, ou já concluído, outro fator
influências no contrato vantes afetam o ambiente do contrato quan- p. 15). há considerar é que todos estes ordenamentos
O contrato pode ser entendido como a do uma das partes pertence a um país em via Como se pode aferir, cada país, e por as- jurídicos internos (direitos nacionais) reve-
concretização, a revelação externa, de uma de desenvolvimento. Nesses o risco comer- sim dizer, cada mercado, tem um regime ju- lam-se geralmente inadequados para apreci-
relação de caráter econômico internacional, cial é sempre grande e as constantes tempes- rídico próprio, e podemos agrupá-los em dois ar o contrato internacional face ao seu dina-
e da individualização dos elementos econô- tades políticas podem afetar o câmpio, in- grandes sistemas: da "Common Law" e da mismo, e especificidades.
micos da relação que se quer instaurar, dos terromper os investimentos externos, naci- "Civil Law". b sistema "Common Law" é Os direitos internos não acompanham a
objetivos das partes. Muitos são os fatores onalizar empresas, bloquear as exportações, aquele que se desenvolveu na Inglaterra logo larga difusão de cláusulas, expressões e siglas
que influenciam a concretização da relação alterar moedas e unidades de conta, etc. após a conquista dos normandos, em 1066, típicas do comércio internacional. Daí por-
que as partes pretendem instaurar entre elas Não podemos, portanto, ignorar que na que criaram um sistema de direito diferente que surgem as convenções internacionais .que
a fim de atingirem os objetivos visados. negociação de um contrato internacional to- daquele vigente até então de tradicão roma- procuram estabelecer um complexo de re-
Os fatores econômicos e comerciais estão dos estes fatores devem ser considerado. no-germanica. O "Common Law". tem na gras alternativas, regulando de modo mais
diretamente vinculados ao tipo de negócio que atividade jurisdicional do juiz o seu desen- eficaz as relações comerciais· internacionais.
se pretende realizar e dizem respeito à longa 3.1.3. Negociação e conclusão dos contra- volvimento. Adotam este sistema os países Com essas mesmas· finalidades temos as re-
ou curta duração do contrato. Se, por exem- tos internacionais do comércio: aspectos que de- de tradição anglo-saxônica como Inglaterra, soluções e disposições emanadas das institui-
plo, uma das partes precisa muito da matéria vem ser considerados Irlanda, Estados Unidos, Canadá, Autrália, ções internacionais de caráter comercial,
prima, porque o acesso a esta lhe é díficl, o Malásia, Nova Zelândia, Índia, Pakistão, cujos efeitos se fazem sentir diretamente nas
melhor é fazer um contrato de longa duração. 3.1.3.1. Os Contratos Internaciorrais e Nigéria, Jamaica, e os Países do Caribe In- unidades produtivas. Como sabemos, as
O preço, dependendo das circunstâncias,pode a Diversidade de Sistemas Jurídicos gl~s. principais entidades são o FMI, o Banco
prever critérios preestabelecidos para aumen- Quando pensamos nos contratos inter- O sistema "Civil Law", ou da lei escrita, Mundial e o GATT. As decisões arbitrais das
to do bem terminado. As autorizações gover- nacionais, devemos sempre partir da do "jus civil e~', é aquele de origem romano- importantes instituições internacionais, tam-
namentais devem ser observadas, sobretudo constatação de que coexistem vários sistemas germânica que tem na lei escrita o seu alicerce bém t~m auxiliado nesse sentido, formando
quando envolvem matéria prima considerada jurídicos e que estes nem sempre são iguais maior. São países da "Civil Law" a Itália, com as anteriores a chamada "Nova Lex
estratégica no Estado de uma das partes, como ou mesmo semelhantes. As modernas tran- Espanha, Portugal, Argentina, Brasil, Uruguai, Mercatoria".
acontece nos casos de contrato de transfer~n­ sações internacionais não se realizam apenas Paraguai, Guatemala, Honduras, El Salvador, Assim sendo, quando analisamos um con-
cia de tecnologia -no Brasil precisamos consi- dentro das fronteiras limitadas dos Estados, Nicarágua, Costa Rica, Panamá, Venezuela, trato internacional devemos considerá-lo no
derar as regras do INPI. as extrapolam dando origem aos chamados Colombia, Equador, Perú, Bolívia e Chile. seu ambiente jurídico interno e internacio-
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nal, caso contrário corremos o risco de não prática, daí porque se pode falar de uma ver- contratação internacional, razão pela qual há jurídica entrega mercadorias a uma determi-
f~zê-lo com justiça, eqüidade e conveniên- dadeira disciplina dos Contratos Internacio- todo um direito de formulários nesta área, nada companhia armadora para que sejam
Cia. nais do Comércio. Apontaremos, neste exemplos: "Conditions of contract", elabo- transportadas de um porto determinado a
3.1.3.2. Características das Contratações estudo,alguns tipos que consideramos mais radas pela Fédération lnternational des outro, dentro do tempo acordado e median-
com os Estados interessante no que diz respeito à coopera- Ingénieurs - Conseils - FIDIC; "General te o pagamento do frete ajustado, com as res-
As contratações com o Estado merecem ção técnica internacional para o desenvolvi- Conditions of Contract", recomendadas pela ponsabilidades devidamente individualiza-
um estudo especial frente às suas caracterís- mento. Institution of Engineers e pela Association das.
ticas peculiares que, só em largos traços, aqui Inicialmente consideramos oportuno dis- of Consulting Engineers", dentre outros. g) Contrato de locação de equipamentos:
apontaremos. tinguir "cooperação téc-nica" e "assistência téc- Para ilustrar algumas modalidades de con- nesse uma das partes transfere para outra a
Além dos elementos jurídico e eco- nica", que não raras vezes são confundidas ou tratos de prestação de serviços, na área da posse de um equipamento e o direito à sua
nômico,os contratos internacionais com o empregadas como sinônimos. Com muita pre- construção civil e instalação de usinas e refi- utilização por um .período determinado,
Estado apresentam o elemento político, que cisão Peter Kõnz coloca que "'cooperação' narias, apresentamos alguns exemplos mais mediante certo pagamento.
o diferencia das contratações entre pessoas subentende uma relação entre iguais, ou par- usuais: h) Contrato de Arrendamento Mercantil
jurídicas de direito privado. ceiros, que almejam uma meta comum. 'As- - Contrato de empreitada por preço-glo- ("Leasing"): através dele uma pessoa (arren-
O elemento político decorre da própria sistência', por outro lado, evoca ajuda de al- bal ("lump-sum"); dador) transfere a posse de um bem de sua
essência do Estado e significa o interesse pú- guém que 'tem' algo que outro 'não tem'. - Contrato de empreitada por preço uni- propried_ade à outra (arrendatário) por tem-
blico nacional. Em função desse interesse o 'Técnica' quer dizer que a cooperação ou as- tário ("unit-price"); po determinado, cabendo a este último a
contrato pode ser unilateralmente alterado sistência deve estar ligada a uma transferência - Contrato por administração ("cost- opção de adquirir o bem, ao fim do contra-
ou rescindido pelo Estado, desde que haja ou ao desenvolvimento de tecnologia, experi- reimbursable contract", "cost-plus contract" to, pagando o preço residual previamente fi-
um fundamento de utilidade ou interesse pú- ência, uma habilidade prática ou de gestão, ou · ou "free-contract"; , xado.
blico para tal, compensando seu parceiro de equipamento" ("Financiamento oficial da - Contrato chave na mão ("turn-key"): i) Contrato de franquia ("Franchising''): é
(outro Estado, ou mesmo uma pessoa jurí- cooperação técnica internacional", in "Coope- nesse o empreiteiro assume todas as respon- aquele que liga uma pessoa (franchisee) a ou-
dica de direito privado) por eventuais per- ração internacional: estratégia e gestão", p. 219- sabilidades inclusive do projeto e da partida tra (franchisor) para que esta, mediante con-
das e danos. 272, cit. p. 221). operacional da obra; dições especiais, conceda à primeira o direi-
Normalmente, os contratos com o Estado Tecidas essas considerações, passamos a - Contrato produto na mão ("product- to de comercializar marcas ou produtos de
requerem grandes projetas e investimentos ánalise dos tipos contratuais selecionados. in-hand"): nesse o empreiteiro assume todas sua propriedade sem que, contudo, estejam
razão pela qual são firmados por longos pra- a) Contrato de compra e venda internacio- as responsabilidades do tipo·"turn-key" e ain- ligadas por vínculo de subordinação.
zos. ·nal de mercadorias: através deste uma das par- da as de habilitar o dono a operar a unidade j) Contrato de associação ou "Joint
Negociar cláusulas arbitrais ou compro- tes se compromete a transferir o domínio de satisfatoriamente. Venture": essa é uma figura jurídica origina~
missos arbitrais com o Estado é difícil, por- uma determinada mercadoria a outra, medi- Esses contratos podem envolver o forne- da da prática cujo nome não tem equivalen-
que, em regra, o foro competente é o do Es- ante o pagamento de certo preço. As expor- cimento da mão- de-obra, de bens ou servi- te em nossa língua, e corresponde a uma for-
tado-parte, ou o do Estado economicamen- tações nesta área podem se desenvolver atra- ços, ou mesmo a combinação dessas formas ma ou método de cooperação entre empre-
te mais forte. vés de duas modalidades: a) venda direta de de contratação. Sob o aspecto econômico, sas independentes, denominada em outros
Na verdade os contratos com o Estado, ou mercadorias do exportador para o importa- os contratos de prestação de serviços envol- países de "sociedade de sociedades", "filial co-
entre Estados, não têm aspectos esclusivamente dor situado no exterior; b) venda através de vem a transferência de tecnologia de um país mum", "associação de empresas", etc.
de Direito Comercial Internacional, mas, fun- uma agência localizada no exterior, fazendo para outro. A carat<:!rÍstica essencial da "joint ven-
damentalmente, de Direito Internacional Pú- negócios por intermédio de distribuidores, ·d) Contrato de licenciamento: através dele ture" é sua criação para a realização de um
blico. Dois autores nacionais se destacam no agentes, filiais ("branch offices") ou subsidi- o detentor de uma patente ou marca autori- projeto comum, empreendimento (aventu-
estudo das contratações internacionais que en- ' .
anas. za o seu uso por um certo período de tem- ra específica) cuja duração pode ser curta ou
volvem o Estado: Hermes Marcelo Huck, b) Contrato de agência: é aquele através po, mediante determinado pagamento. longa. Qualquer acordo entre empresários,
"Contratos com o Estado - aspectos de direito do qual uma pessoa física ou jurídica age e) Contrato de "know-how" ou Transferên- para realizar um projeto específico, conside-
internacional", e José Carlos de Magalhães, "O como intermediária de negócios para outra, cia de Tecnologia: nesse o detentor de uma ra-se,na linguagem comercial,"joint venture".
Estado na arbitragem privada". sem vínculo de subordinação hierárquiça fórmula ou processo secreto (não objeto de Existem vários tipos de "joint ventures":
3.1.3.3 Tipos de contratos internacionais (empregatício), sendo sua remuneração ba- patente) autoriza a outra parte a utilizá-lo a) "equity joint ventures", que se caracteriza
do comércio que afetam a cooperação inter- seada nas negociações feitas e que resultem por certo tempo, mediante determinado pa- por ser uma associação de capitais; b) "non
nacional em contratos. gamento. equity joint venture", em que não há con-
Inúmeras são as modalidades de contra- c) Contrato de prestação de serviços: essa é f) Contrato de Transporte Marítimo: é tribuição de capitais. Do ponto de vista for-
tos internacionais que vamos encontrar na uma modalidade muito importante de aquele através do qual uma pessoa física ou mal, podemos ter também: a) "corporate
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tes. Representam condições convencional- 4. Fontes de financiamento para a
joint venture", associação de interesses que contrato. No caso específico do Brasil, não mente ajustadas que permitem a boa-execu- cooperação e assistência
dá nascimento a uma pessoa jurídica (socie- podem as partes eleger para o seu contrato ção do contrato e até mesmo a manutenção técnica internacional
dade); b) "non corporate joint venture", as- uma lei diferente das previsões do art. 9 da da oferta, p. ex.: "Bid Bond" ou "Tender
sociação de interesses que não dá nascimen- Lei de Introdução ao Código Civil, que Bond", garantias da oferta; "Performance São vários os recursos que as pessoas ju-
to a uma pessoa jurídica. estabele que para as obrigações decorrentes Bond", garantia de boa-execução do contra- rídicas de direito privado podem trazer para
A distinção entre as "joint ventures" do contrato deve-se aplicar a lei de onde a to; "Advance Payment Bond", garantia de constituir ou desenvolver seus projetas. No
societárias ("corporate") e as não societárias obrigação se constituíu. Ou seja, as partes pagamento antecipado; "Maintenance caso específico das "joint ventures" esses re-
("non corporate") resulta da existência, na não poderão eleger para o seu contrato um Bond", garantia de manutenção após o cum- cursos podem ser bens de capital, imóveis
primeira, de elementos específicos do con- direito diferente daquele de onde este foi ce- primento da obrigação. ou terrenos, recursos naturais, etc. Entretan-
trato de sociedade. lebrado. Caso as partes não tenham o ins- e) Cláusuladeforça maior e "hardship ": to, os recursos financeiros sempre serão ne-
Muito comuns na Ásia, América Latina, trume111to definitivo do contrato- hipóteses poderão vir juntas ou separadas, e ambas pro- cessários. Esse fomento poderá ser obtido no
África e na Europa Oriental são as "joint de cont~atos verbàis, prevê o mesmo art. 9, tegem as partes da impossibilidade material país onde está estabelecida ou se pretende
ventures" nas quais os riscos financeiros são parágrafo 2, que reputa-se concluído o con- ou econômica de cumprir o contrato con-. estabelecer a "joint venture", ou mesmo ser
compartilhados e a tomada de decisões se dá trato no lugar em que residir o proponente. forme foi pactuado. Força maior significa oriundo de fontes estrangeiras. Nos dois ca-
pela participação conjunta de capitais em Diferentemente do Brasil, outros países fato de terceiro (ato do Príncipe), ou forças sos, porém, deverão ser observadas as nor-
uma empresa comum: "Equity corporate não limitam a autonomia contratual das par- da natureza (aluvião, avulsão). "Hardship", mas do país que hospeda a "joint venture",
joint venture". tes e permitem que elas escolham para o seu não. se confunde com força maior, mas se precisamente as normas que regulam os cré-
Essas são, portanto, algumas das várias contrato a lei que desejarem. Essa é também refere às circunstâncias imprevistas e exteri- ditos nacionais, bem como as que regulam o
modalidades de contratos internacionais do a orientação das convenções internacionais ores à vontade das partes que afetam o am- investimento e o financiamento internacio-
I •
comerc10. sobre a matéria: Convenção de Haia Sobre a biente do contrato, especialmente' a, sua nal.
3.1.3.4. Apreciação prática de certas clá- Lei Aplicável às Vendas de Caráter Interna- econômia. Tais circunstâncias devem afetar Na busca de financiamento externos, de-
usulas: cional de Objetos Móveis Corpóreos (1955); de tal forma a econômia do contrato que sempenham papel fundamental os organis-
O contrato internacional deve conter Convenção de Haia Sobre a Lei Aplicável torna-se impossível ou extremamente one- mos internacionais de fomento, assim como
muitas clásulas, todas as possibilidades de li- aos Contratos de Venda Internacional de roso para uma das partes cumprir sua obri- certas entidades financeiras privadas e alguns
tígios, de controvérsias entre as partes, de- Mercadorias (1986); Convenção Européia gação. tipos de fundos internacionais.
vem ser minimizadas, previstas. As cláusu- Sobre Lei Aplicável às Obrigações Q Cláusula de foro competente para diri- Se, por outro lado, as partes se interes-
las devem ser minuciosamente redigidas e os Contratuais (1980). mir as controvérias ou recurso à arbitragem: sam mais pelos recursos financeiros internos,
interesses das partes devidamente protegidos, b) Cláusula de preço e modalidade de paga~ para resolver os problemas que porventura diversos são os canais de financiamentos.
p. ex.: possível atraso na entrega da merca- mento: é essencial o preço, mas é também surjam entre as partes durante a execução do Dentre eles, temos os bancos privados, as
doria; mudança de pedido; necessidade de fundamental que conste as modalidades de contrato, as partes poderão optar pelo foros instituições financeiras estatais, os bancos e
inspeção local; qualidade do serviço ou mer- pagamento. Entendemos que o preço pode- judicários tradicionais dos Estados, ou recor- instituições de desenvolvimento.
cadoria; vícios da mercadoria; inexecução da rá ser determinável, desde que as partes indi- rer à arbitragem feita por outra (ou outras)
obrigação por culpa de uma das partes; quem os critérios para se chegar ao preço pessoa, não juiz de carreira. As entidades in- 4.1. Créditos convencionais
inexecução da obrigação por impossibilida- certo, p.ex. "o preço será o da bolsa de cere- ternacionais mais importantes no que diz res-
de do objeto, etc. Quanto melhor for a re- ais de Londres na data da entrega (que deve- peito à arbitragem institucionalizada são: . Estes são os obtidos das instituições fi-
dação do contrato, maiores serão as chances rá estar estipulada)". Câmara de Comércio Internacional de Paris nanceiras e respeitam prazos, juros e as con-
de executá-lo sem percalços. Nas transações que envolvem importa- - CCI; American Arbitration Association - dições de m,ercado. Podem ser constituídos
Cada uma das modalidades contratuais ção e exportação, financiamentos, a lei bra- AAA, Nova Iorque; London Maritime em moeda local ou divisas. No primeiro caso,
referidas acima, .apresenta suas próprias ca- sileira permite as contratações em dólar: Arbitrators Association, Londres; London exigem-se juros em níveis de mercado; no
racterísticas, o que equivale a dizer que pos- Decreto-Lei n. 857, de 11 de setembro de Corn Trade Association, Londres; segundo, tem-se base de taxa "prime" ou
sui cláusulas particulares. Entretanto; exis- 1969. Federation of Oil, Seeds and Fats Association "libor", acrescentada do "spread" do banco
tem certas cláusulas que estão presentes em c) Cláusula penal e conseqüências da - FOSF A, Londres. estrangeiro, do banco local e, se for o caso,
todos os tipos de contratos internacionais: inexecução: essa é muito importante para pro- Quando possível, é importante que haja de impostos. Nessa segunda hipótese, quan-
a) Cláusula de lei aplicável: devemos sem- teger a parte que espera a consumação do uma identidade ou familiaridade entre a lín- do rtão houver divisas disponíveis no pró-
pre ter presente que o contrato internacio- contrato. gua do contrato, a lei aplicável e o foro com- prio país, será necessário recorrer a fontes
nal será apreciado em uma determinada or- d) Cláusulas de Garantias Contratuais ou petente. externas, bancos estrangeiros, que serão co-
dem jurídica (Estado) e, portanto, as partes Garantias Pecuniárias: essas, juntamente com responsáveis.
devem indicar qual a lei a que subtem seu as referidas acima, conferem garantias as par-
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4.2. Créditos de Exportação adquirir tecnologia, bens de capital e insumo funds". São mantidos por entidades públi- valor nominal do título, trocando-os em se-
das empresas do país que outorga o crédito. cas como privadas e até mesmo por pessoas guida por moeda nacional, que aproveitam
Existem várias linhas de crédito para ex- físicas. A exemplo dos fundos existentes em em um projeto de investimento. A aquisi-
portação. Aquela dita crédito ao cliente, fi- 4.5. Financiamento Via Organismos Londres e Nova Iorque, que visam a inves- ção dos tÍtulos normalmente é feita por meio
nancia aquisição de bens de capital, Internacionais tir em países como a Argentina e o Brasil, de um banco comercial, de investimento ou
tecnologia, bem como projetos reunindo têm como finalidade precípua investimentos mercantil, ou um "broker". Quando a em-
tecnologia e obras. Ao lado dessa, existem No âmbito das relações multilaterais en- nas bolsas de valores dos países alvos. Mui- presa recebe a moeda nacional referente ao
outras oferecidas por instituições estatais tre os Estados, devemos referir os organis- tas vezes são destinados a adquirir títulos da título, recebe o valor nominal, diminuído
que, comprometidas com o projeto de de- mos de fomento, que -visam acelerar o pro- dívida externa desse país, em mercados se- de um desconto feito pelo Banco Central.
senvolvimento do país, financiam as expor- gresso econômico dos países em via de de- cundários, onde descontam os títulos por Tem-se, mesmo assim, uma vantagem na ope-
tações: são as destinadas à produção de bens senvolvimento. moeda nacional, que aproveitam investindo ração que poderá ser aplicada em projetos
a serem exportados, ou mesmo à No plano mundial, merecem destaque em projetos promissores dentro desse mes- de desenvolvimento, parcerias, etc.
comercialização desses bens, segundo a polí- três organismos vinculados à ONU, que são: mo país.
tica de cada país. o Banco Internacional de Reconstrução e Existem ainda os fundos mútuos de in-
Desenvolvimento - BIRD, a Corporação Fi- vestimento e os fundos de aposentadoria. Bibliografia
4.3. Créditos governamentais nanceira Internacional- CFI e a Associação
Internacional do Desenvolvimento - AID. · BAPTISTA, Luiz O lavo e RÍOS, Anibal Sierralta. "As-
Estes, como vimos, podem se dar por 4.8. Financiamento via bolsas de pectos jurídicos del comercio internacional". Perú: Aca-
No plano Regional, temos o Banco
demia Diplomatica del Perú. 1992.
meio do crédito à exportação, mas existem Interamericano de Desenvolvimento - BID, mercados de valores BAPTISTA, Luiz O lavo. "Dos contratos internacio-
outras também relevantes: créditos especi- vinculado à OEA. nais- uma visão te6rica e prática". São Paulo: Saraiva.
ais, créditos para atividade de marketing e Existe um meio de obtenção de capítais, 1994.
para desenvolvimento tecnológico. São ou- 4.6. Financiamento de projetos · por parte das empresas, através. da emissão BASSO, Maristela. "Joint venture- manual prático".
torgados por instituições do Estado, medi- e venda de ações. Tem-se igualmente a pos- Porto Alegre: Liv. do Advogado. 1994.
BASSO, Maristela, "Contratos Internacionais- Nego-
ante condições mais favoráveis que as de São linhas de financiamento para proje- sibilidade das empresas emitirem bônus ou ciação, Conclusão- Prática". Porto Alegre: Liv. Advo-
mercado, e visam beneficiar certos setores tos de investimento, que se destinam a cons- obrigações negociáveis, garantidas por uma gado. 1994.
da economia. tituição ou o fomento de "joint ventures", e instituição financeira séria, o que dá segu- HUCK, Hermes Marcelo. "Contratos com o Estado-
outros projetos, oferecidas por entidades rança aos investidores, ao lado de uma ren- aspectos de direito internacional". São Paulo: Aquáre-
4.4. Créditos intergovernamentais tabilidade significativa. V árias outras formas la. 1989.
que, em contrapartida ao crétido, exigem
KÓNZ, Peter. "Financiamento oficial da cooperação
uma participação nos ganhos envolvidos no de obtenção de recursos financeiros nas bol- técnica internacional", in "Cooperação internacional:
São os decorrentes de relações de coope- projeto, ou uma quota das divisas geradas, sas e mercados de valores podem ser utiliza- estratégia e gestão". São Paulo: Editora da Universida-
ração econômica entre os Estados. Alguns quando se tratar de exportações. As institui- das e desenvolvidas, conforme sua viabilida- de de São Paulo. 1994. p. 219-72
países, no âmbito de suas relações com qu- ções que oferemempréstimos nessas condi- de e interesse, tais como operações envol- LALIVE, Pierre. "Cours général de droit international
tros parceiros, instituem, por meio de com- vendo títulos públicos, temporariamente privé", in "Recueil des Cours de L' Académie de Droit
ções podem ser tanto públicas como priva-
lnternational", Leyden, 1977/2.
promissos internacionais, créditos em favor das, podem ser tanto bancos de investimen- utilizados pelas empresas para garantia e LESGUILLONS, Henry. "Contrats internationaux".
de empresas privadas desses outros países. to e desenvolvimento como bancos mercan- obtenção deempréstimos de curto prazo. Paris: Lamy. 1986.
São créditos de caráter político, normalmen- tis. MAGALHÃES,] osé Carlos. "O Estado na arbitragem
te concedidos por um Estado em suas relà- Instituições financeiras, públicas e priva- privada". São Paulo: Max Limonad. 1988.
ções bilaterais, quando verificada a conver- das, também podem ter participação 4. 9. Capitalização da dívida externa MAYER, Pierre. "Droit international privé". Paris:
Montchrétien. '
gência entre sua política econômica e a do acionária nesses projetos. Répertoire Suisse de droit international privé. Zurich.
Estadó favorecido. Destacam-se por esse prática a Muitas empresas adquirem títulos da dí- 1992.
Esses créditos são outorgados com pra- Corporação Financeira Internacional -CFI vida externa de outros países, em mercados STRENGER, lrineu. "Contratos Internacionais do co-
Z9S longos e com base em taxas de juros fi- e a Corporação Interamericana de Investi- secundários, mediante um valor abaixo do mércio". São Paulo: RT. 1986.
xos e reduzidas. Beneficiam, em geral, pro- mentos -CII.
jetos conjuntos de desenvolvimento, como
os que se ocupam das empresas de porte 4.7. Fundos de investimentos
médio e pequeno, e projetosde setores bási-
cos. Outros créditos, ainda, podem gerar, Tem os os fundos destinados a investir em
para a empresa beneficiada, a obrigação de certos países: fundos de países ou "country
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