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Luane Silva Nascimento

PROF.ª LUANE S. NASCIMENTO


LEGISLAÇÃO SOCIETÁRIA E COMERCIAL

Aula 02: Registro. Empresário Individual. Empresário Individual de


Responsabilidade Limitada.

Características e princípios do Direito Empresarial

a) Liberdade de Iniciativa: A livre-iniciativa está prevista no artigo 170 da


CF/88 e constitui o princípio fundamental do Direito Empresarial. Na
posição de Fábio Ulhoa Coelho: “o princípio da livre-iniciativa se
desdobra em quatro condições fundamentais para o funcionamento
eficiente do modo de produção capitalista: (i) imprescindibilidade da
empresa privada para que a sociedade tenha acesso aos bens e serviços
de que necessita para sobreviver; (ii) busca do lucro como principal
motivação dos empresários; (iii) necessidade jurídica de proteção do
investimento privado; (iv) reconhecimento da empresa privada como polo
gerador de empregos e de riquezas para a sociedade.”

b) Liberdade de Concorrência: também está prevista no artigo 170, inciso


IV, da CF/88, contudo, o maior descumpridor deste preceito acaba sendo
o Estado que cria cada vez mais obstáculos e burocratiza a exploração
econômica no país que, por consequência, desestimula o
empreendedorismo e o exercício da atividade econômica. Mesmo com a
crescente adoção das privatizações de serviços públicos essenciais (ex.:
CELG p/ ENEL; VALE etc.) isto não significou real desestatização da
economia brasileira, uma vez que o Estado deixou de exercer uma série
de atividades econômicas ineficientes e corruptas, contudo, passou a
atividade de regulador e, com isso, a interferência normativa dessas
reguladoras impede a real e livre competição no mercado de bens e
serviços.

c) Garantia e defesa da propriedade privada : com este princípio é formada a


tríade que dá sustentação ao direito empresarial. (art. 170, II, CF/88)
Garantir e defender a propriedade privada dos meios de produção é
pressuposto fundamental do regime capitalista de livre mercado. Mister
ressaltar que esse princípio vem sofrendo relativização pela interpretação
equivocada do conceito de função social. Ora, para muitos é difícil
entender que a função primordial de uma empresa é obter lucro e essa
obtenção é que permite o funcionamento sadio do mercado e o
verdadeiro desenvolvimento econômico e social.

d) Princípio da Preservação da Empresa : esse princípio recebeu maior


atenção nos últimos anos e influenciou a alteração normativa (Lei
11.101/05), bem como a posição dos julgamentos exarados pelo
Judiciário brasileiro. O STJ tem se manifestado de modo recorrente
invocando a aplicação desse princípio nos casos de indeferimento de
pedido de penhora e outras medidas expropriatórias visando assegurar a
higidez financeira e o prosseguimento das atividades empresariais, uma
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vez que o contrário poderia acarretar a decretação de falência e, com
isso, o comprometimento do desenvolvimento econômico. Esse princípio
tem sido invocado, especialmente, nos casos de recuperação judicial,
dissolução de sociedade e falência.

e) Princípio da função social da empresa : esse princípio decorre da


exploração da atividade empresarial em si, ou seja, circulação de bens e
serviços (dentro dos conceitos de empresa, empresário e
estabelecimento empresarial). Assim sendo, o exercício da empresa
também está sujeito ao princípio da função social (art. 5º, XXIII, CF), por
meio da geração de empregos, pagamento de tributos, geração de
riqueza, contribuição para o desenvolvimento econômico, social e cultural
do entorno, adoção de práticas sustentáveis, respeito aos direitos dos
consumidores, adoção de políticas socioambientais etc. (vide art. 116, §
p.ú., Lei 6.404/76 – Lei da S.A.).

f) Informalismo (Simplicidade): a atividade comercial é eminentemente


dinâmica, menos formalista que a vida civil, até mesmo em atenção a
maior celeridade própria das relações comerciais. Importante lembrar que
o informalismo não pressupõe o desprezo pela boa fé que sempre deve
nortear as relações comerciais. Ex: Os títulos de crédito são muito mais
ágeis e informais que os contratos civis de confissão de dívida, mútuo
etc.

g) Cosmopolitismo: Traços acentuadamente internacionais, característica


que somente agora outros ramos do direito começam a adquirir em face
da globalização dos mercados da unificação legislativa de países de
blocos econômicos. Diversas convenções internacionais regulam muitas
leis de comércio marítimo e aéreo. Atualmente leis uniformes regem a
letra de câmbio, a nota promissória e o cheque. A ONU patrocina estudos
para a elaboração de um código de comércio internacional.

h) Onerosidade: Em regra, todo ato mercantil é oneroso. A onerosidade é


regra e deve ser presumida; no direito civil, a gratuidade é constante (ex:
mandato). Sobre essa característica, é interessante o comentário de
Marcelo Bertoldi, quando diz que “a distribuição de brincos ou amostra
grátis por parte do comerciante deve ser considerada atividade mercantil,
pois, não tem por fim o lucro imediato, visa a implementação de atividade
proporcional para a obtenção de lucro futuro”.

i) Elasticidade: O Direito Comercial é muito mais renovador e dinâmico que


o Direito Civil.

j) Individualismo: Herança de liberalismo (busca incessante da realização


do lucro), que hoje é temperado pela intervenção do Estado para garantia
de ambiente econômico leal.

k) Fragmentarismo: o Direito Comercial é dividido em vários outros ramos


com características particulares. Como exemplo, temos as normas
relativas aos títulos de credito (Direito Cambiário), marcas e patentes,
(Direito Marcário ou Industrial), recuperação e quebra do devedor
empresário (Direito Falimentar), contratos mercantis etc.

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l) Solidariedade presumida: esta é aplicada, diferentemente da sistemática
civil (art. 265 CC/02), para tutelar o crédito e a segurança na circulação
dos bens.

II – Do registro de empresa
2.1 Dos órgãos do registro de empresa
O registro de empresas é regulamentado pela lei 8.934/94 (LRE), existindo as figuras das
juntas comerciais e do Departamento Nacional de Registro de Comércio.
Cabe ao DNRC supervisionar o registro de empresas no Brasil, cabendo às juntas
comerciais a função executiva, sendo divididas as suas tarefas em três atos:
• ARQUIVAMENTO – dos atos constitutivos (contrato social, alterações contratuais,
ata de fundação, estatutos, requerimento de empresário individual, consorcio de
empresas, autorização de estrangeiras a funcionar no Brasil, dentre outros);
• MATRÍCULA – consiste na inscrição de nomes dos profissionais que exercem
atividades de natureza paracomercial (tradutores públicos, intérpretes comerciais,
leiloeiros, administradores de armazéns gerais e trapicheiros);
• AUTENTICAÇÃO – refere-se a determinados instrumentos de escrituração, que
são os livros comerciais e as fichas escriturais.
Nota:
• As juntas também servem para se tirar dúvidas acerca dos usos e costumes
comerciais.

2.2 Dos objetivos do registro de empresa


O registro de empresa é de suma importância para o desenvolvimento da atividade
empresarial, principalmente sob a ótica da segurança jurídica, consistente numa via de
mão dupla, que protege os interesses de quem deseja desenvolver alguma atividade
empresarial, bem como os que com este mantenha relação jurídica.
O registro é uma das condições de regularidade do empresário que lhe garante,
principalmente se desenvolvendo a atividade de forma regular, os benefícios das leis
comerciais, sobretudo os da lei de quebra (LFR), que permite, dependendo do modelo
societário adotado, a possibilidade de separação da pessoa física dos sócios da pessoa
jurídica constituída para o desenvolvimento da atividade empresária.

2.3 Do dever legal de registro de empresa


O código civil de 2002 reproduziu a máxima da exigência de registro do empresário e da
sociedade empresária como condição de regularidade do exercício da atividade
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empresarial, sob pena de responsabilidade pessoal e direta de quem exerça tal atividade
sem registro.
Neste sentido, dispõe o CC/2002:
Art. 967. É obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público
de Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do início de sua
atividade.

O CC/2002, ainda dispõe sobre o local do registro:


Art. 1.150. O empresário e a sociedade empresária vinculam-se ao
Registro Público de Empresas Mercantis a cargo das Juntas
Comerciais, e a sociedade simples ao Registro Civil das Pessoas
Jurídicas, o qual deverá obedecer às normas fixadas para aquele
registro, se a sociedade simples adotar um dos tipos de sociedade
empresária.
Notas:
a) As filiais também necessitam de averbação tanto no local da matriz como no local da
filial (art. 969 CC/02).
b) O empresário rural e o empresário de pequeno porte têm assegurado tratamento
favorecido, diferenciado e simplificado quanto à inscrição e aos efeitos dela decorrentes
(art. 970 e 971 do CC/02).
c) O empresário individual e sociedade empresária que não procederem nenhum registro
no período de dez anos devem comunicar a junta comercial que continuam em atividade,
sob pena de serem notificados, inclusive por edital, e serem considerados inativos, tendo
cancelado o seu registro (art.60 da LRE).

2.3 Das consequências da irregularidade quanto ao registro


O empresário, bem como a sociedade empresária, uma vez irregulares têm uma série de
restrições e penalidades, a saber:
• Não possuem legitimidade ativa para o pedido de falência de seu devedor (art. 97
par. 1º da LFR);
• Não possuem legitimidade ativa para o pedido de recuperação judicial (art. 51, V da
LFR);
• Não podem ter seus livros autenticados no Registro de Empresa (Art. 1181 do
CC/02); perdem a força probatória a seu favor, preconizada pelo CPC (Art. 418) e ainda
poderão incorrer em prática fraudulenta e criminosa (Art. 178 LFR).
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• Não podem participar de licitações nas modalidades de concorrência pública e
tomada de preço (art.28 II e III da lei 8.666/93);
• Não podem inscrever-se no CNPJ;
• Não podem matricular-se no INSS, sujeitando-se à pena de multa (art. 49, I da lei
8.121/91), e ainda não podem contratar com o poder público (art. 195, par. 3º da CF/88).

EMPRESÁRIO INDIVIDUAL
O empresário individual é a pessoa física que exerce profissionalmente
atividade econômica organizada para produção e circulação de bens ou serviços (art. 966,
CC).
O artigo 972, CC/02 dispõe que podem exercer a atividade de empresário
qualquer pessoa em pleno gozo da capacidade civil e que não seja legalmente impedida.
Nós vimos no tópico anterior as hipóteses de impedimentos legais para o
exercício da atividade empresarial, bem como as pessoas que não poderão se registrar
como empresário individual perante a Junta Comercial.
No entanto, vale dizer que há exceções no que tange ao incapaz dar
continuidade ao exercício de empresa na qualidade de empresário individual.
O artigo 974, do CC prevê que:

Art. 974. Poderá o incapaz, por meio de representante ou devidamente


assistido, continuar a empresa antes exercida por ele enquanto capaz, por
seus pais ou pelo autor de herança.

§ 1o Nos casos deste artigo, precederá autorização judicial, após exame


das circunstâncias e dos riscos da empresa, bem como da conveniência
em continuá-la, podendo a autorização ser revogada pelo juiz, ouvidos os
pais, tutores ou representantes legais do menor ou do interdito, sem
prejuízo dos direitos adquiridos por terceiros.

§ 2o Não ficam sujeitos ao resultado da empresa os bens que o incapaz já


possuía, ao tempo da sucessão ou da interdição, desde que estranhos ao
acervo daquela, devendo tais fatos constar do alvará que conceder a
autorização.

§ 3o O Registro Público de Empresas Mercantis a cargo das Juntas


Comerciais deverá registrar contratos ou alterações contratuais de
sociedade que envolva sócio incapaz, desde que atendidos, de forma
conjunta, os seguintes pressupostos: (Incluído pela Lei nº 12.399, de
2011)

I – o sócio incapaz não pode exercer a administração da sociedade;


(Incluído pela Lei nº 12.399, de 2011)

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II – o capital social deve ser totalmente integralizado; (Incluído pela
Lei nº 12.399, de 2011)

III – o sócio relativamente incapaz deve ser assistido e o absolutamente


incapaz deve ser representado por seus representantes legais.
(Incluído pela Lei nº 12.399, de 2011)

Nesse ínterim, é imperioso demonstrar que o incapaz não poderá dar início a
atividade empresarial, mas tão somente dar continuidade. Vejamos o Enunciado 203 do
CJF, aprovado na III Jornada de Direito Civil: “o exercício de empresa por empresário
incapaz, representado ou assistido, somente é possível nos casos de incapacidade
superveniente ou incapacidade do sucessor na sucessão por morte”.
Vale lembrar que o menor emancipado goza de plena capacidade para ser
empresário, inclusive constitui meio para a obtenção de emancipação, em conformidade
com o previsto no Código Civil.
Sobre o empresário individual casado vale ressaltar algumas regras
específicas. O Enunciado 58 da II Jornada de Direito Comercial do CJF previu que:
O empresário individual casado é o destinatário da norma do art. 978 do CCB e
não depende da outorga conjugal para alienar ou gravar de ônus real o imóvel utilizado no
exercício da empresa, desde que exista prévia averbação de autorização conjugal à
conferência do imóvel ao patrimônio empresarial no cartório de registro de imóveis, com a
consequente averbação do ato à margem de sua inscrição no registro público de
empresas mercantis.
A ausência de averbação no Registro Público de Empresas – Junta Comercial
implica na impossibilidade do empresário individual casado de opor os bens contra
terceiros, bem como dar em garantia ou gravá-los de ônus real.
Para fazer a inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis, realizado
pela Junta Comercial, o empresário individual terá de obedecer às formalidades legais
previstas no art. 968 do Código Civil, ou seja, fazer requerimento que contenha: “I – o seu
nome, nacionalidade, domicílio, estado civil e, se casado, o regime de bens; II – a firma,
com a respectiva assinatura autógrafa que poderá ser substituída pela assinatura
autenticada com certificação digital ou meio equivalente que comprove a sua
autenticidade, ressalvado o disposto no inciso I do § 1.º do art. 4.º da Lei Complementar
n.º 123, de 14 de dezembro de 2006; III – o capital; IV – o objeto e a sede da empresa”.
Tratando-se, por outro lado, de sociedade empresária, deve-se levar a registro o ato
constitutivo (contrato social ou estatuto social), que conterá todas as informações
necessárias.
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Os §§ 1.º e 2.º do referido artigo, a seu turno, dispõem: “com as indicações
estabelecidas neste artigo, a inscrição será tomada por termo no livro próprio do Registro
Público de Empresas Mercantis, e obedecerá a número de ordem contínuo para todos os
empresários inscritos”; “à margem da inscrição, e com as mesmas formalidades, serão
averbadas quaisquer modificações nela ocorrentes”.

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