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Trabalho de Conclusão de Curso

A FELICIDADE É UM NOVELO DE LÃ...


e duas agulhas
O tricô como ferramenta de bem-estar sob o olhar do
modelo PERMA-V da Psicologia Positiva

ALUNA: Carolina Cintia Pires


ORIENTADOR: Angelo Brandelli Costa
Pós-Graduação em Psicologia Positiva, Ciência do Bem-Estar e Autorrealização

SUMÁRIO

Introdução ............................................................................................................................ 2
Conteúdo: Roteiro ............................................................................................................... 8
Relevância e Impacto Social ............................................................................................. 17
Fontes ................................................................................................................................. 19
Vídeo ................................................................................................................................. 21

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Pós-Graduação em Psicologia Positiva, Ciência do Bem-Estar e Autorrealização

A FELICIDADE É UM NOVELO DE LÃ... e duas agulhas

INTRODUÇÃO
Aprendi a tricotar com minha avó materna, ainda criança. Logo
larguei, e foi preciso uma depressão desencadeada por um processo
trabalhista para que eu retomasse essa atividade.

Na época, depois de ter recorrido a um psiquiatra e a remédios


para dormir e manter o foco, ainda me sentia sem esperança,
desanimada e, em última instância, deprimida. Todos os momentos
ociosos eram tomados por preocupações com o futuro da minha empresa
e meu próprio futuro profissional, ou por arrependimentos relacionados a
atitudes tomadas no passado. Em uma tentativa de preencher os
momentos de aflição com algo positivo, resgatei este conhecimento e
nunca mais parei de tricotar.

Desde então, o tricô tem sido uma constante em minha vida,


principalmente em momentos desafiadores, como um divórcio, uma
demissão e até mesmo uma pandemia. Eu sempre senti que essa técnica
me induzia a um estado de tranquilidade, onde podia acalmar meu
turbilhão mental e me sentir mais relaxada. Busquei referências em
autores especializados e encontrei embasamento para explicar essa
sensação. Em 2018, lancei o projeto #meditatricô, oferecendo sessões
individuais de tricô com viés meditativo.

Durante este curso de Pós-graduação em Psicologia Positiva, fui


apresentada a diversos conceitos que me fizeram olhar para o tricô de
maneira mais organizada e científica. Interessei-me em especial pelo
Modelo PERMA-V de promoção de bem-estar.

Como Trabalho de Conclusão de Curso, decidi realizar um vídeo,


onde pretendo demonstrar que o tricô pode ser considerado como uma
ferramenta de promoção de bem-estar, por contemplar todos os
elementos do Modelo PERMA-V da Psicologia Positiva.

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Pós-Graduação em Psicologia Positiva, Ciência do Bem-Estar e Autorrealização

Os conceitos serão abordados no vídeo de forma acessível a um


público leigo, interessado primordialmente em atividades para promover
seu próprio bem-estar e qualidade de vida. Esta abordagem evita uma
visão hermética, que poderia gerar distanciamento com o público.

A seguir, serão apresentados os principais temas e referências nos


quais se baseia o vídeo.

Psicologia Positiva, Felicidade e Bem-estar

Martin Seligman (2002), psicólogo e pesquisador americano,


reconhece que “ao contrário do alívio da depressão, que já conta com
manuais passo a passo confiavelmente documentados, nosso
conhecimento sobre a construção da felicidade é irregular.” Em sua obra,
a primeira a definir e estabelecer a Psicologia Positiva como ciência,
Seligman (2002, pág. 12) pretendeu atingir o seguinte objetivo:
“corrigir o desequilíbrio, incentivando o campo da psicologia a complementar seu
conhecimento acumulado sobre sofrimento e doença mental, com novos
conhecimentos sobre emoções positivas, virtudes e forças pessoais.”

Seligman (2002) apresenta os três pilares que constuiriam a Psicologia


Positiva e seriam seu objeto de estudo: a emoção positiva; os traços positivos –
forças, virtudes e habilidades como a inteligência e a capacidade atlética – e as
instituições positivas, como a democracia, a família e a liberdade. Segundo o autor,
estes três pilares estariam conectados, pois as instituições dão suporte às virtudes e
estas apoiam as emoções positivas.

Um ponto central da obra de Seligman (2002) é o conceito de felicidade; o


autor traz à tona diversas teorias e propostas sobre o que é a felicidade e como
obtê-la, relacionando-a com o exercício de diferentes atividades, com a disposição
inata para o otimismo ou o pessimismo, a obtenção de sucesso na vida, a
predisposição genética. Reiteradamente, o autor reforça a ideia de que não há
maneiras rápidas ou fáceis para se atingir a felicidade e o bem-estar, e que “para a
vida boa (...) é preciso usar diariamente as suas forças pessoais, produzindo assim
felicidade autêntica e gratificação abundante”. (2002, pág. 18)

Seligman (2002, pág. 251) faz a seguinte ressalva quanto ao uso do termo

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Pós-Graduação em Psicologia Positiva, Ciência do Bem-Estar e Autorrealização

“felicidade” em sua obra:


“A palavra felicidade é o termo abrangente que descreve o conjunto de metas da
Psicologia Positiva. A palavra em si não é um termo da teoria (ao contrário de prazer
e flow, que são entidades quantificáveis com respeitáveis propriedades
psicométricas, isto é, demonstram certa estabilidade em relação ao tempo e
confiabilidade entre os observadores). Felicidade, enquanto termo, é como cognição,
no campo da psicologia cognitiva, e como aprendizagem, dentro da teoria da
aprendizagem: dão nome a um campo, mas não exercem qualquer papel nas teorias,
dentro daqueles campos”.

Posteriormente, Seligman (2012, pág. 13) recapitula as teorias de


algumas grandes figuras da filosofia e do estudo da psique, indicando
que a definição do conceito de felicidade sofre alterações ao longo do
tempo:
“Tales achava que tudo era água.
Aristóteles achava que toda ação humana visava encontrar a felicidade.
Nietzsche achava que toda ação humana visava obter poder.
Freud achava que toda ação humana pretendia evitar a ansiedade.”

Sobre a felicidade, o filósofo materialista francês Comte-Sponville


(2001, pág. 4), destaca o quanto este tema fez parte das reflexões de
filósofos desde a Grécia Antiga:
“Confesso que, diante de tal tema, estou dividido entre dois sentimentos opostos.
Primeiro, o sentimento da evidência, da banalidade mesmo: porque a felicidade,
quase por definição, interessa a todo o mundo (lembrem-se de Pascal: "Todos os
homens procuram ser felizes; isso não tem exceção... É esse o motivo de todas as
ações de todos os homens, inclusive dos que vão se enforcar...") , e deveria
interessar ainda mais ao filósofo. Tradicionalmente, historicamente, desde que os
gregos inventaram a palavra e a coisa philosophia, todos sabem que a felicidade faz
parte dos objetos privilegiados da reflexão filosófica, que é até um dos mais
importantes e dos mais constantes. Vejam Sócrates ou Platão, Aristóteles ou Epicuro,
Spinoza ou Kant, Diderot ou Alain... "Não é verdade que nós, homens, desejamos
todos ser felizes?" A resposta é tão evidente, nota Platão, que a pergunta quase não
merece ser feita. "De fato, quem não deseja ser feliz?" A busca da felicidade é a
coisa mais bem distribuída do mundo.”

Por sua vez, Czikszentmihalyi1 (2008) propõe a felicidade como


uma condição, e que cada indivíduo prepare, cultive e defenda esta
condição.

Com base nos escritos desses estudiosos, reconhecemos que


definir a felicidade não é algo simples, e quiçá nem totalmente objetivo.
Sobre a felicidade, Seligman (2012, pág. 13) reconhece que ela: “É um

1 O livro FLOW, The Psychology of Optimal Experience, de Mihaly Czikszentmihaly, foi publicado pela
primeira vez em 1990; a edição utilizada como referência para este TCC é uma edição digital para
kindle, de 2008.

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termo impraticável para a ciência, ou para qualquer objetivo prático, como


a educação, a psicoterapia, a política pública ou a simples mudança da
vida pessoal.”

Nove anos depois de lançar sua primeira teoria sobre a felicidade e


como alcançá-la, Seligman (2012) conclui que o termo “bem-estar” é mais
adequado para orientar a Psicologia Positiva enquanto ciência e
enquanto ferramenta de melhoria de qualidade de vida, e propõe uma
nova teoria com base nesse construto, a Teoria do Bem-estar.

A mudança de perspectiva se deu com a percepção de que a teoria


da Felicidade Autêntica colocava a satisfação com a vida em um patamar
demasiado elevado, como se o grau de “sucesso” na vida, ou seja, de
“felicidade” pudesse ser mensurado diretamente pela soma de seus
componentes, quais sejam: emoções positivas, traços positivos e
instituições positivas. Com relação ao construto do Bem-estar, Seligman
(2012, pág. 15) afirma que ele admite que haja: “(...) diversos elementos
mensuráveis, cada um deles uma coisa real e cada um deles contribuindo
para formar o bem-estar, mas nenhum deles o definindo”. Ou seja, não é
possível definir o que é bem-estar, mas é possível identificar os
elementos que compõem este construto

Modelo PERMA-V de Promoção do Bem-estar

Para operacionalizar sua nova teoria, a teoria do bem-estar, Seligman (2012,


pág. 18) propõe que esse construto se divida em cinco elementos, sendo que
“nenhum deles isoladamente o define, mas todos contribuem para ele”. Os cinco
elementos descritos e propostos pelo autor (2012, pág.16) são os seguintes:

• Emoção positiva (em inglês Positive Emotion);


• Engajamento;
• Relacionamentos;
• Sentido (em inglês Meaning);
• Realização (em inglês Accomplishment).

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Pós-Graduação em Psicologia Positiva, Ciência do Bem-Estar e Autorrealização

A estes elementos foi atribuída uma sigla com base nos termos originais em
inglês (Positive Emotion, Engagement, Relationships, Meaning, Accomplishment):
PERMA.

Surge assim o Modelo PERMA de Promoção do Bem-estar, e o


florescimento assume a posição de objetivo a ser atingido através da
aplicação da Psicologia Positiva, em detrimento da felicidade.

Estado de Fluxo, ou Flow

Dentro do elemento Engajamento, destaca-se o conceito de Estado


de fluxo (em inglês Flow), termo cunhado por Czikszentmihalyi (2008,
pág.4) que o descreve da seguinte maneira:

“(...) o estado no qual as pessoas estão tão envolvidas em uma atividade


que nada mais parece importar; a experiência em si é tão agradável que
as pessoas continuam fazendo a atividade a todo custo, pelo puro prazer
de realizá-la”2.

Segundo Czikszentmihalyi (2008, pág. 6), esse estado acontece


“quando se investe atenção em metas realistas, e quando as habilidades
equivalem às oportunidades para a ação”.

O autor qualifica esse tipo de atividade, que leva ao estado de


fluxo, como autotélica, ou seja, como um fim em si mesma, e que ela
“eleva o curso da vida a um outro nível3”. Isso porque, segundo
Czikszentmihalyi (2008, pág. 68) o prazer sentido é mais do que um
passatempo alienante: “Quando a experiência é intrinsecamente
recompensadora por si só, a vida se justifica no presente, ao invés de ser
refém de um hipotético ganho futuro.”

Este autor (2008, pág. 72) especifica quais características


distinguem as atividades que conduzem ao estado de fluxo:

“(Essas atividades) têm regras que demandam o aprendizado de


habilidades, estabelecem objetivos, oferecem feedback, tornam o controle
possível. Elas facilitam a concentração e o engajamento ao tornar a
atividade o mais distinta possível da chamada ‘realidade dominante’ da
existência cotidiana 4”.

2 Em tradução livre da autora deste TCC.


3 Em tradução livre da autora deste TCC.
4 Em tradução livre da autora deste TCC.

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Pós-Graduação em Psicologia Positiva, Ciência do Bem-Estar e Autorrealização

O “V” do PERMA-V

Em 2008, Emiliya Zhivotovskaya, Mestre em Psicologia Positiva e


discípula de Martin Seligman, propôs a inclusão do elemento “Vitalidade” no modelo
PERMA. A proposta veio em decorrência de um desafio lançado pelo próprio Dr.
Seligman a seus alunos da Universidade da Pensilvânia, onde Zhivotovskaya
cursava o mestrado. Os alunos haviam sugerido a inclusão de um “S”,
que representaria “sport, sex, sustenance, sleep” (esporte, sexo, nutrição
e sono), mas a letra S acabou sendo substituída pelo “V” de Vitalidade.

Segundo Zhivotovskaya (2008), Vitalidade inclui hábitos


alimentares, atividade física regular e uma boa rotina de sono.

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Pós-Graduação em Psicologia Positiva, Ciência do Bem-Estar e Autorrealização

CONTEÚDO: ROTEIRO

A seguir, apresento o roteiro do vídeo que realizei, em que sou a narradoraAs caixas
de texto à direita serão inseridas como legendas para facilitar a compreensão do
conteúdo.

“Oi, gente, tudo bem?


Eu sou a Carol Gutierrez, do @aquiviver. Se você nos acompanha, já sabe
que eu me dedico a buscar maneiras de lidar com os desafios inevitáveis da vida de
modo mais positivo e significativo.
Dentro dessa busca, fiz uma pós graduação em Psicologia Positiva,
Autorrealização e Ciência do Bem-estar na PUC-RS, e este vídeo é o fechamento
desse curso maravilhoso.
Hoje eu venho falar um pouco sobre um tema que eu simplesmente amo...
O tricô!
Se você já teve depressão, já passou por um período de tristeza profunda ou
de muito stress, já deve ter recebido o conselho de “se ocupar”, de fazer “trabalhos
manuais” para se sentir melhor.
Eu mesma, em momentos críticos da minha vida, como um enorme desafio
profissional, uma separação, um luto, recorri ao tricô, com bom resultado.
Essa prática me ajudou a tirar a cabeça dos problemas, a relaxar... por outro
lado, senti que me deu mais concentração, melhorou meu foco nas atividades
indispensáveis, como um curso que eu estava fazendo, ou o meu próprio trabalho.
Esse bom resultado que eu senti com essa técnica tão simples, que eu
aprendi quando criança com a minha avó, me trouxe uma curiosidade:
• será que existe alguma explicação científica para isso?
• será que outras pessoas também poderiam se beneficiar desse “hobby”
em momentos de crise?
Pois bem, agora vou mostrar para vocês que sim: a felicidade realmente é um
novelo de lã e duas agulhas...
Pra começar, acho importante falar sobre a felicidade. FELICIDADE

No fundo, no fundo, a felicidade é que orienta todas as nossas decisões e


ações. Tudo o que a gente faz, a gente faz para, no final, ser feliz.

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Pós-Graduação em Psicologia Positiva, Ciência do Bem-Estar e Autorrealização

Por ser um estado emocional tão desejado, a felicidade vem Sócrates


Platão
sendo conceituada e estudada pelo menos desde a Grécia antiga, Aristóteles
quando vários filósofos falaram sobre os diferentes caminhos para e+

alcançá-la.
Aliás, ao longo do tempo, a filosofia tem demonstrado Santo Agostinho
São Tomás de Aquino
uma grande curiosidade pelo tema da felicidade. Vários outros John Locke
filósofos também exploraram esse conceito. Fréderic Lenoir
André Comte-Sponville
A neurociência, a psicologia e até a economia dedicam à
felicidade muitos estudos e pesquisas e contribuem para tentar desvendá-la, cada
uma com suas próprias motivações.
Com tanta dedicação de tantos ramos da ciência, já vemos a complexidade
desse assunto.
Então, meu foco hoje será na abordagem da Psicologia Positiva:
como essa ciência busca compreender não só o que é a Psicologia Positiva
Felicidade
felicidade – mas também os meios para que a gente seja feliz. Como ser feliz

Pra gente se situar, a Psicologia Positiva surgiu como Martin Seligman –


americano
ciência no ano 2000, quando estes psicólogos publicaram num Mihaly Czikszentmihalyi
periódico da Associação Americana de Psicologia uma nova - húngaro

proposta de encarar essa ciência.


Ao invés do foco que vinha sendo dado pela Psicologia Experiências positivas
Virtudes e
aos aspectos disfuncionais e doentios da psique, eles potencialidades
propuseram estudar com mais ênfase: Indivíduos + meio

as experiências positivas, as virtudes e potencialidades dos


indivíduos e também do meio em que habitam.
O primeiro livro do Seligman sobre esse tema foi Prazer + Engajamento +
Significado = Felicidade
Felicidade Autêntica, no qual ele propunha que:para alcançar a
Felicidade, a gente deveria levar uma vida com: prazer, engajamento e significado.
Desde então, muita água rolou, foram realizados muitos estudos e pesquisas,
e os especialistas em Psicologia Positiva, especialmente o próprio Seligman,
concluíram que, ao invés de trabalhar com o conceito de Felicidade, que sempre se
mostrou muito complexo para definir e medir, seria mais objetivo abordar
Bem-estar
o que se chama de bem-estar, que tem parâmetros bem claros de estudo

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Pós-Graduação em Psicologia Positiva, Ciência do Bem-Estar e Autorrealização

e mensuração.
Positive Emotion
Engagement
E é aí que entra o Modelo PERMA-V de promoção do bem- Relationships
Meaning
Accomplishment
estar, e seus seis elementos: Emoções Positivas, Engajamento, Vitality
Relacionamentos, Significado, Realização e Vitalidade.
Segundo Seligman, desenvolvendo consistentemente esses FLORESCIMENTO = plenitude
biológica, psicológica e social
aspectos da sigla PERMA-V, a gente atingiria uma condição
denominada FLORESCIMENTO, na qual é possível desenvolver plenamente nossos
aspectos biológicos, psicológicos e sociais.

Mas o que o tricô tem a ver com isso?

Quando tive contato com o modelo PERMA-V pela primeira vez, fiquei
fascinada por sua objetividade, coerência e acessibilidade para leigos. Passei a
observar as diferentes áreas de promoção do bem-estar nas atividades que eu vinha
realizando: lendo um livro, interagindo com meu filho, trabalhando, no meu lazer...
E foi então que numa tarde sozinha em casa, tricotando um dos vários xales
que fiz durante a quarentena, eu percebi que o tricô é uma atividade que se encaixa
muito bem no modelo PERMA-V, e vou mostrar para vocês como:

Vamos começar pelo P, de Emoções Positivas... (Perma-v) Perma-v


emoções Positivas
Qualquer pessoa que tricota vai te dizer que tricotar em si,
independente do que a gente está tecendo, nos dá um imenso prazer.
Em geral, tricoteiras e tricoteiros são pessoas com senso estético bem
Sensorial
desenvolvido, sensibilidade para cores, texturas e padrões. Então só o fato agradável
positiva
de ter contato com fios de diversos tons, espessuras e texturas já
proporciona uma experiência sensorial agradável e positiva.
Além disso, o movimento ritmado das agulhas, o som de uma batendo na
outra, a visão do fio sendo laçado e passado por dentro do ponto anterior agem
como um gatilho para a liberação de endorfina, você já ouviu falar?
A endorfina é um neurotransmissor conhecido por estimular no Endorfina =
neurotransmissor =>
cérebro uma sensação de calma, bem-estar e conforto, e por melhorar calma, bem-estar,
conforto
nosso estado de humor.

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Claro que, com uma sensação tão agradável, quem tricota acaba fazendo
tricô só por fazer, independente do resultado final.

E isso me levou à segunda área do PERMA-V, o


pErma-v
engajamento. Engajamento

O engajamento é muito bem representado pelo conceito do


Livro FLOW
estado de Fluxo, ou Flow: um estado em que a pessoa está tão Csikszentmihalyi,
1990
envolvida na atividade, que ela não vê o tempo passar, e nada mais
importa; em que a experiência em si é tão agradável, que se torna sua própria
recompensa.
Nesse mesmo livro, o autor chega a afirmar que, em geral, as atividades de
lazer são meros passatempos, que não demandam o uso de habilidades nem
oferecem oportunidades para ações. Isso acaba transformando a vida numa série de
vivências entediantes e que nos causam ansiedade.

O tricô não é só uma atividade envolvente, que se torna seu Tricô


envolvente
próprio objetivo, mas é desafiadora, podendo apresentar alto grau um fim em si
complexidade
de complexidade, o que demanda do praticante um igual grau de habilidade
habilidade. – outras duas características do estado de Flow.

Então, o tricô favorece o flow, que por sua vez promove FLOW
envolvimento
envolvimento, prazer, uma sensação de controle e autoconfiança, prazer
tornando a vida mais agradável. controle
autoconfiança

E quem não se lembra da primeira vez em que realmente fez uma uma
carreira de pontos? Ou da primeira peça finalizada? Ou da primeira
Dopamina
vez em que conseguiu corrigir um erro sem ter que desmanchar neurotransmissor
coordenação motora
tudo? Esses marcos representam grandes conquistas, ativam o bom humor
prazer
mecanismo de recompensa do cérebro, liberando dopamina, e + memória
+ atenção
proporcionam uma sensação prazerosa.
Tricotar se torna um meio e um objetivo em si mesmo: mesmo enquanto a
peça não fica pronta, a atividade nos envolve e nos motiva a continuar.

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Tá, mas o próximo item do PERMA-V são os Relacionamentos: peRma-v


Relacionamentos
como o tricô se encaixa aí?

Quando ouvem falar de tricô e tricoteiras, as pessoas logo visualizam uma


velhinha, sozinha na cadeira de balanço, fazendo um sem fim de roupinhas de bebê
e cachecóis...

Na verdade, hoje em dia esse estereótipo não corresponde à realidade – pelo


menos não totalmente.

Em geral, quando uma pessoa se interessa pelo tricô, busca uma loja que
venda os fios e agulhas, e essas lojas geralmente oferecem aulas gratuitas quando
se gasta um certo valor. Essas aulas são em grupo, que funciona assim: os
participantes se sentam ao redor de uma grande mesa, cada um trabalhando em seu
próprio projeto e recebendo ajuda tanto de uma professora quanto dos colegas mais
experientes.

Equalizador social e
Nesse ambiente, o tricô acaba diminuindo as diferenças, e geracional
é super comum as risadas e brincadeiras serem ouvidas de
longe...

Pessoas de diferentes profissões, idades, estilos de vida, classes sociais e


graus de habilidade convivem num ambiente colaborativo, onde
Ocitocina = “hormônio do amor”
quem sabe um pouco mais já pode ajudar quem sabe um pouco + integração social
+ generosidade
menos, despertando um senso de altruísmo, realização e - medo

sentido, e liberando endorfina e ocitocina.


Clube do tricot +62K
membros
Desse interesse comum, acabam nascendo amizades que A Turma do Tricô, 51K
membros
de outra maneira não existiriam. E isso, falando somente dos Tricô Manual com
Receitas, 108K membros
grupos presenciais. Tem uma infinidade de grupos relacionados ao
tricô no Facebook. E existe inclusive uma rede social totalmente
Ravelry.com
baseada em tricô e crochê, a Ravelry!

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Pós-Graduação em Psicologia Positiva, Ciência do Bem-Estar e Autorrealização

Ou seja, mesmo em momentos de quarentena, isolamento e suspensão das


atividades presenciais, é possível manter o contato e o vínculo com outros
praticantes, e inclusive conhecer pessoas novas!

O aspecto do Sentido, que é o próximo elemento do modelo perMa-v


Sentido
PERMA-V, é uma parte essencial da prática do tricô.

Geralmente tricotamos com alguém em mente. Planejamos fazer uma peça


para nós mesmos, para um bebê que ainda não nasceu, para presentear alguém
querido, para apoiar uma causa, como gorrinhos para bebês prematuros, ou
cachecóis para moradores de rua ou refugiados... Tudo isso faz com que o ato de
tricotar ganhe um sentido, um propósito para além da atividade em si ou da peça
pronta.

Também podemos identificar sentido no resgate de uma técnica ancestral,


mantendo viva a tradição de tricotar.

Outra faceta do sentido, do significado, pode ser o Serotonina =


neurotransmissor
acolhimento das memórias de família, uma maneira de aliviar o humor
sono
apetite
sofrimento e trazer sentido a uma perda. Fazer uma peça com ritmo cardíaco
temperatura corporal
os fios deixados por uma tricoteira que se foi pode trazer alento cognição

e uma conexão com essa pessoa, liberando serotonina e


agregando ainda mais sentido ao ato de tricotar.

Já falei da alegria que a gente sente ao finalizar uma peça, uma


permA-v
carreira, ou simplesmente o primeiro ponto, né? Então, essas coisas Realização

também se referem ao A, do modelo Perma-V, a Realização.

Tem momentos na vida em que é inevitável a gente se sentir incapaz,


desalentada ou impotente para superar uma situação. Por exemplo quando lidamos
com um luto, uma separação, uma injustiça. Ou quem sabe uma situação totalmente
nova e inesperada, como uma pandemia?

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Nessas ocasiões, o tricô assume o importante papel de mostrar pra nós


mesmas do quê a gente é capaz. Pode ser ao aprender uma nova
Autoeficácia =
receita, finalizar uma peça, decidir desmanchar um projeto que não está convicção de que
somos capazes de
resolver um
saindo como programado. A sensação de realização que o tricô problema

proporciona mesmo em circunstâncias tão desafiadoras estimula nossa


autoconfiança e a autoeficácia.
Dopamina=
neurotransmissor
Aliás, a autoeficácia é uma condição importantíssima para quem coordenação motora
bom humor
precisa conviver com dores crônicas. Até porque essas pequenas prazer
+ memória
+ atenção
conquistas liberam dopamina, lembram?

Em 2005, a fisioterapeuta Betsan Corkhill iniciou um projeto


Betsan Corkhill =
chamado Stitch Links, criando grupos de tricô terapêutico em hospitais, Stitch Links

clínicas e outros espaços comunitários, com grande sucesso e ajudando muitos


pacientes com dores crônicas e condições debilitantes a lidar melhor com suas
aflições.

3.545 participantes
Em 2010, junto com a Universidade de Cardiff, ela conduziu um
estudo investigando os benefícios do tricô para o bem-estar pessoal e
social em adultos. Os praticantes de tricô responderam a um formulário online, e os
resultados foram muito interessantes! Vamos ver?

O estudo revelou que o tricô efetivamente exerce um Tricô => pessoas + memória
+ felizes + clareza
efeito positivo sobre o humor e o bem-estar. As pessoas + calmas + concentração
- estressadas
também sentiam uma melhora na memória, na clareza de
raciocínio e na concentração, além de observar que desenvolviam resolução de problemas
organização
gerenciamento do tempo
novas habilidades transferíveis, ou seja, que podem ser usadas em paciência
perseverança
outras áreas da vida. Isso sem falar em mais paciência, motivação
autoconfiança
perseverança, motivação e autoconfiança.

Tá, mas como uma atividade que se pratica numa poltrona – ou


Perma-V
até na cama – pode ser benéfica para a saúde física, para a Vitalidade

vitalidade, o V do PERMA-V?

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Pós-Graduação em Psicologia Positiva, Ciência do Bem-Estar e Autorrealização

Pois bem, um estudo da ONG Knit for Peace, do Reino Unido, knitforpeace.org.uk

revisou pesquisas baseadas em evidências e constatou que o ato de


tricotar ajuda a baixar a pressão arterial, desacelera a progressão
Tricô =>
- pressão arterial
da demência em idosos, é uma distração para quem tem dores - demência
+ mobilidade
crônicas e preserva a mobilidade dos dedos de portadores de - depressão
- ansiedade
artrite, além de combater a depressão e a ansiedade.

O mesmo estudo, que entrevistou mil praticantes de tricô no 1.000 participantes


Reino Unido, também revelou que, dos participantes que se
encontravam em um estado de saúde ruim ou péssimo, 92% sentiram Saúde ruim/
péssima ->
92% melhoraram
melhoras em sua saúde física ao se dedicarem à atividade.

O tricô pode ser praticado por pessoas com limitações de Idosos =>
+ qualidade de vida
mobilidade, visão, força e audição – condições bastante relacionadas à - uso de hospitais

idade avançada – e seus praticantes tendem a demandar menos dos


serviços de saúde.

Em praticantes mais jovens, uma melhora generalizada no Jovens =>


+ humor
humor e na condição física costuma representar menos + saúde física
- faltas (trabalho/ escola)
ausências no trabalho ou na escola, e mais engajamento com a + engajamento

vida.

A Química da Felicidade =
O tricô acaba dando suporte à vitalidade porque, ao dopamina
ocitocina
tricotar, o cérebro libera um grupo de quatro substâncias serotonina
endorfina
conhecidas como “a química da felicidade”. Eu falei deles ao
longo do vídeo, lembram?
Dopamina Ocitocina Serotonina Endorfina

Já vimos que essas substâncias têm vários efeitos benéficos, né?


Eu só vejo vantagens!

Enfim, foi muito gratificante compartilhar com vocês esse tema que tanto me

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Pós-Graduação em Psicologia Positiva, Ciência do Bem-Estar e Autorrealização

interessa! Espero que tenha feito sentido para vocês, e que pelo menos algumas
pessoas resolvam pegar nas agulhas pela primeira vez!
Eu continuo na busca do bem-estar – e por que não da felicidade - um
pontinho de cada vez!
E logo logo eu trago o lançamento oficial do #meditatricô, uma metodologia de
autoconhecimento e promoção do bem-estar que eu venho desenvolvendo com
base no modelo PERMA-V da Psicologia Positiva.
Obrigada e até a próxima!

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RELEVÂNCIA E IMPACTO SOCIAL

Assim como outras artes têxteis, o tricô ainda é rebaixado ao plano


de atividade doméstica, para pessoas idosas, ou exclusivamente
feminina. Pouco se valoriza as peças tricotadas à mão, tornando o tricô
pouco viável como atividade geradora de renda.

No entanto, muitas pessoas se dedicam a praticar tricô (e seus


correlatos, como crochê e bordado), unicamente por seus benefícios para
a saúde física e mental.

Apesar disso, ainda há poucos estudos científicos sobre o assunto


no Brasil, e este vídeo se propõe a ser um portal, um gatilho para
despertar a curiosidade de um público heterogêneo por essa técnica tão
antiga e ao mesmo tempo atual.

Será publicado no igTV do perfil @aquiviver, no Instagram, onde eu


produzo conteúdos voltados para o bem-estar, principalmente através de
práticas de mindfulness, vivências sensoriais, bordado, e, claro, tricô.

Abaixo um detalhamento do perfil dos seguidores do @aquiviver:

Total de seguidores em 16/09/2020: 8.157


93% são mulheres
16% estão em São Paulo, 4,8% no Rio de Janeiro, 2,1% em Belo
Horizonte (o restante, pulverizados nos outros Estados brasileiros)
A maioria dos seguidores se concentra na faixa dos 35 aos 44 anos
(inclusive se considerarmos somente homens ou somente mulheres).

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Pós-Graduação em Psicologia Positiva, Ciência do Bem-Estar e Autorrealização

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VÍDEO

Este é o link para acesso ao vídeo: https://youtu.be/YJr7bCXm4Pc

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