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1.

Introdução

A sociedade em que vivemos e convivemos com os outros está marcada pela podridão
cultural decorrente da deterioração patológica dos valores, por aquilo que Leonardo Boff
chama de “obscurantismo do horizonte ético”, por uma mesclagem de culturas, algumas
destas culturas engrandecem e outras acabem por degradar, aviltar e desestabilizar a cultura
tradicional angolana, por isso, é comum ouvirmos falar redundantemente e com maior tónica
sobre as crises de valores, porém dado a restrição semântica as crises criam possibilidades
para a firmeza valorativa, isto significa que vivemos numa sociedade pluralista onde muito
dos valores outrora vivos e activos acabaram por adormecer dando lugar a uma confusa
poluição valorativa e consequentemente a pobreza antropológica.

Pois bem, quando o assunto discorre sobre o modo como devemos viver e conviver
com os outros, ou seja, como se juntar e se ajustar numa teia de relações humanas, é
imperioso falar de formação de cidadãos que participam da autoridade e da reverência
soberana de modo ciente e consciente; ciente porque é fundamental que o cidadão conheça o
mundo que o rodeia para nele encontrar o seu lugar, para aprender a viver e nele inscrever as
suas acções; e consciente porque o objectivo da sociedade é promover a vida boa não para
alguns, mas para todos daí urge a necessidade de inscrevermos sabiamente as nossas acções
sem entrar em confronto com os outros e com o mundo, neste caso, devemos ser pragmático,
ou seja, devemos ser tal como sugeriu Imbamba, apud Kundongende (2013, p. 25), a
militância no “ango-realismo-crítico” envolvendo a ética (teoria e a sabedoria) para termos
uma sociedade onde os cidadãos saibam estabelecer relações sociais sadias e equilibradas.

2. Problema

Ao apresentar a ética como a base para a formação de cidadãos cientes e conscientes


em Angola, destaca-se que o conceito República de Angola literalmente significa Bem
Comum dos angolanos, ademais, o momento actual marcada pela denúncia midiática de
políticos corruptos, egocêntricos e por aquilo que Gilberto Dimenstein chama de “cidadão de
papel” acaba por instigar uma “pergunta questionante”:

- Quais os pressupostos éticos que estão na base para a formação de cidadãos cientes e
conscientes em Angola?

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3. Justificação

As razões que estão na base para escolha desta temática são:

1.º Pela necessidade do nosso Sistema de Educação e Ensino em assimilar e acomodar


nos seus seis subsistemas de ensino e nos seus quatro níveis de ensino a disciplina de Ética
para formação integral do indivíduo, pois para além dos valores fundamentais que
correspondem à base técnica, tecnológica e científica sólida ela deve abarcar os valores
essenciais como a possibilidade de cooperação e a noção de formação de cidadania.

2.º Pelo facto de vivermos uma fase apocalíptica e declarante da idiotice social
marcada pela onda midiática de casos de corrupção e outros crimes cometidos por pessoas
escolarizadas que colocam em cheque a escolarização de Angola para formação de bons
cidadãos como aqueles que prestam bons serviços a sociedade.

3.º Pelo facto de verificar incoerência educativa no que se refere aos fins do nosso
Sistema de Educação e Ensino, pois a participação da vida individual e colectiva realizam-se
de forma ciente e consciente, isto é, nota-se um distanciamento dantesco entre o que a Lei
17/16 de 7 de Outubro contempla e o que se faz na prática, dando-se pouco interesse sobre as
disciplinas que problematizam e estabelecem fronteiras da nossa convivência, neste caso, tem
se castrado o processo de formação integral do indivíduo.

4.º Pelo facto de acreditar na Ética como base para coerência educativa em Angola, e,
com isso para formação de cidadãos omnilaterais, ora, com capacidades intelectuais, laborais,
cívicas, morais, ética, estéticas e físicas, ou seja, com cidadãos teóricos, práticos, justos e
sábios.

4. Hipótese

Os pressupostos éticos para a formação de cidadãos cientes e conscientes em Angola


são:

- A educação de docentes e discentes orientada para virtudes, pois é a virtude que faz o
Homem humano, ou seja, no sentido normativo permite o Homem atingir a sua excelência: a
exigência cultural e a sabedoria;

- A cosmologia racional para a compreensão e análise das categorias de espaço e


tempo numa vertente social e filosófica porque é fundamental a coordenação das actividades
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sociais numa linha homogênea fundando uma política formativa de sinergia, com trabalhos
sociais, isto é, politizando os conteúdos curriculares;

- A educação republicana que corresponde um projecto educativo que deve envolver a


família e a escola rompendo a tradição negativa da não participação activa da família na
escolarização das crianças, adolescentes e jovens e proporcionando uma educação com
propósito de vida individual, mas cujo foco é a vida colectiva.

5. Objectivos

5.1 Objectivo Geral:

- Conhecer e compreender as linhas orientadoras ou os pressupostos éticos para a


formação de cidadãos cientes e conscientes em Angola.

5.2 Objectivos Específicos:

- Identificar os valores culturais tradicionais e contemporâneos essenciais para a


formação de cidadania omnilateral em Angola;

- Estabelecer a orientação ética para educação angolana nas dimensões teórica prática
(sapiencial);

- Descrever os pressupostos fundamentais para supressão da idiotice no seio da


sociedade angolana;

- Apontar às linhas mestres aptos a coerência educativa em Angola para formação de


cidadãos cientes e conscientes.

- Reconhecer a importância da ética para capacitação de uma cidadania participativa, à


luz dos princípios democráticos adoptados pelo nosso país.

6. Metodologia

Segundo Oliveira (2011, p.7) metodologia é o “estudo sistemático e lógico dos


métodos empregados nas ciências, seus fundamentos, sua validade e sua relação com as
teorias científicas”.

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Neste trabalho tendo em conta os objectivos será usada a pesquisa exploratória e
discursiva porque aspira prover e descobrir novas ideias para formação de cidadãos
omnilaterais em Angola na base da ética; e, quanto à abordagem é uma pesquisa qualitativa
propiciando esclarecimento dos traços subjectivos para formação de cidadãos cientes e
conscientes em Angola; outrossim, quanto a técnica usarei para recolha de dados a observação
individual, bibliográfica e documental, pois resultará de uma constatação pessoal que será
resolvida mediante as contribuições de diversos autores.

7. Revisão de literatura

Segundo Cortella (2010, p.106) “Ética é o conjunto de valores e princípios que usamos
para responder as três grandes perguntas da vida humana: Quero? Devo? Posso?”. Deste
ponto de vista, a ética é considerada como o “farol” ou “bússola” que orienta, esclarece, guia
e ilumina a vida humana de modo que os indivíduos se juntem e se ajustem aos outros
formando uma teia de relação humana harmoniosa, ora, essas perguntas pressupõem que a
nossa vivência e convivência é pautada pelos dilemas éticos que devem ser decididos,
avaliados e julgados por meio do bom senso.

Pois bem, Cortella (2014, p. 107) concebe a formação como esteio que “constrói um
conjunto de atitudes e habilidades”. Ou seja, a formação permite que os valores sejam
transformados na relação de convivência. Grosso modo, ela envolve a instrução e a educação,
isto é, permite que o ser humano descubra os factos da natureza de modo a ser erudito e
também consiste em moldar e despertar as potências dormentes no próprio sujeito. Com isso,
sublinha-se que a formação corresponde à coerência educativa, a simbiose entre a educação e
instrução visando garantir uma sociedade com cidadãos cientes e conscientes.

De acordo com Morin (2003, p.65) “Um cidadão é definido, em uma democracia, por
sua solidariedade e responsabilidade em relação a sua pátria”. Neste caso, a percepção de
solidariedade equivale aquilo que impede o esfacelamento da nossa convivência, equivale à
capacidade de junção com outros naquilo que Luc Ferry e André Comte-Sponville chamam de
“espiritualidade laica” ou “sabedoria dos modernos” que permite refletir sobre a vida boa para
todos, não obstante a responsabilidade equivale aquilo que Leonardo Boff chama de
“cidadania da terra” defendida por Hans Jonas (filósofo da ética da responsabilidade) no seu
imperativo ético “comporta-te de tal maneira que os efeitos de tuas acções sejam compatíveis
com a permanência da natureza e da vida humana na terra”. Boff (2009, p. 38). Por

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conseguinte, cidadãos cientes e conscientes são aquelas que têm uma “cabeça bem-feita” que
faz o pleno uso de sua inteligência.

A Lei de Base do Sistema de Educação e Ensino é um documento que estabelece os


princípios e as bases gerais do Sistema de Educação e Ensino angolano, tal como concebe a
própria Lei, o Sistema de Educação e Ensino tende à formação harmoniosa e integral do
indivíduo, com vista à construção de uma sociedade livre, democrática, de direito, de paz e
progresso social. Ora, noto incoerência educativa e concomitantemente uma redução
acentuada da autenticidade educativa no Sistema de Educação e Ensino angolano, porquanto
no plano teórico contempla as questões éticas como essencias para formação de cidadãos
cientes e conscientes, todavia no plano prático verifica-se uma secundarização ou mesmo
terceirização das questões ligadas a formação de cidadãos omnilaterais.

8. Cronograma

Ano lectivo 2019


Tempo de trabalho
Actividade Fevereiro Março Abril Maio Junho
1ª S 2ªS 1ª S 2ªS 1ª S 2ªS 1ª S 2ªS 1ª S 2ªS
Reunião com o tutor para considerações
do projecto de pesquisa
Pesquisa e tratamentos do I, II, III e IV X X X X X
cap.

Envio do cap. I, II, III e IV ao tutor X


Considerações do tutor X
Correcção do cap. I, II, III, IV com X
orientação do tutor
Elaboração dos elementos pré-textuais e X
pós-textuais
Envio da 1ª versão do TFC X
Considerações do autor X
Últimas correcções e revisão do trabalho X
Elaboração do slide de apresentação em X
PowerPoint
Ensaio e preparação da defesa X
Pré-defesa X
Defesa do TFC X

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9. Referências bibliográficas.
ARISTÓTELES. (2011). A política. 6.ª Edição. [Tradução Pedro Constantin Tolens]. São
Paulo: Martin Claret.

BARROS FILHO, Clóvis de, e Pompeu, Júlio. (2013). A Filosofia explica as grandes
questões da humanidade. 1.ª edição. Rio de Janeiro: Casa da Palavra; Casa do Saber: São
Paulo.

BOFF, Leonardo. (2003). Ética e Moral: A busca dos fundamentos. 2.ª Ed. Rio de Janeiro:
Vozes.

__________. (2009). Ética da vida: A nova centralidade. Rio de Janeiro: Record.

COMTE-SPONVILLE, André. (2009). Pequeno tratado das grandes virtudes. 2.ª Ed. São
Paulo: Editora WMF Martins Fonte.

CORTELLA, Mario Sergio. (2010). Qual é a sua obra? 11.ª Edição. Petrópolis, RJ: Vozes.

__________. (2014). Educação, escola e docência: Novos tempos, novas atitudes. São Paulo:
Cortez.

__________. (2015). Educação, convivência e ética: audácia e esperança! São Paulo: Cortez.

DIÁRIO DA REPÚBLICA. (2016). Lei n.º 17/16: Lei de Base do Sistema de Educação e
Ensino de Angola de 7 de Outubro. Luanda: Imprensa Nacional E.P.

FERRY, Luc. (2012). Aprender a viver: Filosofia para novos tempos. Rio de Janeiro: Editora
Objectiva Ltda.

JEAN-JACQUES, Rousseau. (2013). Do contrato social. [Tradução Ana Resende]. São


Paulo: Martin Claret.

KUNDONGENDE, João da Cruz. (2013). Crise e resgate dos valores morais, cívicos e
culturais na sociedade angolana: Um contributo para a inversão dos valores éticos. Luanda:
Damer Gráfica, S.A..

LAKATOS, Eva Maria. (2003). Fundamentos de metodologia científica. 5. Ed. São Paulo:
Atlas.

MORIN, Edgar. (2003). A cabeça bem-feita: Repensar a reforma, reformar o pensamento. 8.ª
Ed. [Tradução Eloá Jacobina]. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil.

OLIVEIRA, Maxwell Ferreira. (2011). Metodologia científica: Um manual para realização


de pesquisas em administração. Catalão: UFG.

RIBEIRO, Renato Janine. (2005). A democracia. 2.ª Ed. São Paulo: Publifolha.

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