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A proteção dos Direitos das

Crianças no quadro das


competências da União Europeia
Isabel Restier Poças
Aula Aberta no âmbito da cadeira – Direito da União
Europeia do Curso de Direito da Universidade
Portucalense Infante D. Henrique
29 de novembro de 2022 – 14 horas
1. Objectivos da União Europeia - internos:

- promover a paz, os seus valores e o bem-estar dos seus


cidadãos;
- proporcionar um espaço de liberdade, segurança e justiça
sem fronteiras internas, em conjugação com medidas
adequadas nas suas fronteiras externas para regular o asilo e
a imigração e prevenir e combater a criminalidade;
- estabelecer um mercado interno;
- favorecer o desenvolvimento sustentável, assente num
crescimento económico equilibrado e na estabilidade dos
preços, e numa economia de mercado altamente competitiva,
com pleno emprego e progresso social;
1. Objectivos da União Europeia – internos:

- proteger e melhorar a qualidade do ambiente;


- fomentar o progresso científico e tecnológico;
- combater a exclusão social e a discriminação;
- promover a justiça e a proteção sociais, a igualdade entre
homens e mulheres e a proteção dos direitos da criança;
- promover a coesão económica, social e territorial, e a
solidariedade entre os países da U.E. e
- respeitar a riqueza da diversidade cultural e linguística da UE
- estabelecer uma união económica e monetária cuja moeda é
o euro.
1. Objectivos da União Europeia – externos:

- afirmar e promover os seus valores e interesses;


-contribuir para a paz e a segurança e para o
desenvolvimento sustentável da Terra;
- contribuir para a solidariedade e o respeito mútuo entre os
povos, o comércio livre e equitativo, a erradicação da
pobreza e a proteção dos direitos humanos e
- contribuir para a rigorosa observância do direito
internacional;

Artigo 3.º do Tratado de Lisboa


2. Valores da União Europeia:

- Dignidade do ser humano;


- Liberdade;
- Democracia;
- Igualdade;
- Estado de Direito e os
- Direitos Humanos.

Artigo 2.º do Tratado de Lisboa e na Carta dos Direitos


Fundamentais da União Europeia.
3. Os princípios da ordem jurídica da União Europeia

• Princípio da autonomia;
• Princípio da atribuição;
• Princípio da união de Direito;
• Princípio da subsidiariedade;
• Princípio da proporcionalidade;
• Princípio da Preempção;
• Princípio da efetividade - efeito direto
- primado (prevalência da aplicação)
- uniformidade na aplicação
- interpretação conforme
- responsabilidade civil dos Estados membros por violação do
Direito da União Europeia.
4. As instituições da União Europeia

• Existem quatro principais instituições de decisão que dirigem a administração da UE.


• Estas instituições proporcionam coletivamente à UE orientações políticas e
desempenham diferentes papéis no processo legislativo:
- Parlamento Europeu (Bruxelas/Estrasburgo/Luxemburgo)
- Conselho Europeu (Bruxelas)
- Conselho da União Europeia (Bruxelas/Luxemburgo)
- Comissão Europeia (Bruxelas/Luxemburgo/Representações em toda a UE)

• O seu trabalho é complementado por outras instituições e organismos, que incluem:


- Tribunal de Justiça da União Europeia (Luxemburgo),
- Banco Central Europeu (Frankfurt)
- Tribunal de Contas Europeu (Luxemburgo)
4. As instituições da União Europeia: cont.

• Os poderes, responsabilidades e procedimentos das


instituições da UE estão estabelecidos nos tratados
fundadores da UE:
-Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia
(1957)
-Tratado da União Europeia (1992)
-Tratado de Lisboa (2007) introduziu algumas
alterações e aditamentos às suas competências.
4. As instituições da União Europeia: cont.
• As quatro principais instituições da U.E., com as suas funções distintas, colaboram
estreitamente para definir a agenda da U.E. e iniciar e coordenar o processo
legislativo da E.U..

• De um modo geral, o Conselho Europeu não elabora legislação. No entanto, pode


chegar a acordo sobre alterações ao Tratado sobre o Funcionamento da U.E.. O
seu principal papel é determinar a direção política da U.E..

• Na maioria dos casos, o Parlamento Europeu, o Conselho da União Europeia e a


Comissão Europeia elaboram as políticas e a legislação aplicáveis em toda a U.E..
O processo que seguem é designado processo legislativo ordinário.

• Em princípio, a Comissão propõe novas leis e o Parlamento e o Conselho da União


Europeia aprovam-nas. Em seguida, os Estados-Membros aplicam-nas e a
5. A Proteção dos Direitos das Crianças no quadro
de competências da União Europeia
5.1. Situação geral das crianças.
• 18,3% da população da U.E. são crianças;
• 30,3% da população mundial são crianças;
• 22,2% das crianças da U.E. encontram-se em risco de
pobreza e exclusão social;
• Anualmente metade das crianças no mundo são
vítimas de violência;
• Do número total de requerimentos de asilo à U.E. em
2020, um terço é constituído por crianças – de 119.400
casos, 2.850 estavam desacompanhadas;
5. A Proteção dos Direitos das Crianças no
quadro de competências da União Europeia
5.1. Situação geral das crianças.
• Na U.E. 33% das raparigas e 20% dos rapazes
tiveram experiências perturbadoras on line/em linha,
uma vez por mês em 2020;
• Mundialmente, 9,6% das crianças são forçadas a
trabalho infantil;
• 1 em cada 4 crianças considera que os seus direitos
são respeitados por toda a sociedade;
5. A proteção dos Direitos das Crianças no
quadro de competências da União Europeia
5.1. Situação geral das crianças.
• 29% das crianças com idades compreendidas entre os 10 e os 18
anos relataram a utilização on-line de dados pessoais de uma
forma que não lhes agradava, por exemplo, o uso indevido de
palavras-passe pessoais ou a utilização de informações pessoais
com consequências nocivas;
• Mais de 1 em cada 10 crianças relatou um aumento desta
experiência durante o primeiro confinamento na Primavera de
2020;
• Entre os respondentes LGBTIQ com idades entre os 15 e 17 anos
15% disseram ter sofrido assédio cibernético devido à sua
orientação sexual;
5. A proteção dos Direitos das Crianças no
quadro de competências da União Europeia
5.1. Situação geral das crianças.
• Quase 3 em cada 4 crianças entre os 2 e 4 anos de
idade sofrem regularmente castigos físicos e/ou
violência psicológica nas mãos dos pais e prestadores
de cuidados;
• 3% das crianças entre os 10 e 18 anos de idade dizem
que não se sentem seguras em casa; 9% não se
sentem seguras na escola; e 8% não se sentem
seguras em linha;
• Em 2019, 12% dos migrantes internacionais globais
5. A proteção dos Direitos das Crianças no
quadro de competências da União Europeia
5.1. Situação geral das crianças.
• Mais de um terço das crianças dizem que raramente ou
nunca se sentem tristes ou infelizes. Um quinto das
crianças diz que se sente triste a maior parte do tempo;
• Entre 1,3 e 1,5 milhões de crianças por ano são
anualmente privadas da sua liberdade com base numa
decisão judicial ou administrativa;
• Há mais de 7 milhões de crianças por ano privadas de
liberdade.
5. A proteção dos Direitos das Crianças no quadro de
competências da União Europeia.
5.2.Competência da União Europeia:
• A UE só pode legislar nos domínios em que lhe foi conferida competência nos termos dos
tratados (Artigos 2.º a 4.º do T.F.U.E.). Dado que os direitos da criança constituem um
domínio intersectorial, é necessário determinar a competência da União caso a caso.
• Os domínios relevantes para os direitos da criança em que a U.E. produziu uma vasta
legislação são os seguintes:
- proteção dos dados e dos consumidores;
- asilo e migração;
- cooperação em matéria civil e penal.
Os Artigos 6.º, n.º1, do T.U.E. e 51.º, n.º2, da Carta dos Direitos Fundamentais da U.E.
dispõem que a Carta não alarga as competências da União, nem altera ou cria novas
atribuições ou competências para a UE. As disposições da Carta têm por destinatários as
instituições da UE e os Estados-Membros, apenas quando apliquem o direito da União.
Embora sejam sempre vinculativas para a U.E., essas disposições só se tornam
juridicamente vinculativas para os Estados-Membros quando estes agem dentro do âmbito
de aplicação do Direito da União.
5. A proteção dos Direitos das Crianças no quadro
de competências da União Europeia.
5.3.Evolução da legislação e domínios de proteção.
• Até ao ano 2000, a legislação europeia relativa às crianças tinha como
objetivo tratar apenas aspetos generalistas e em domínios específicos
(ex. proteção aos consumidores, livre circulação de pessoas).
• As primeiras disposições específicas sobre os Direitos das Crianças
surgem em 2000 com a Carta dos Direitos Fundamentais da UE
(CDFUE) que para além de consagrar:
- o direito a frequentar gratuitamente o ensino obrigatório (Artigo 14.º,
n.º2);
- a proibição da discriminação em razão da idade (Artigo 21.º);
- a proibição da exploração do trabalho infantil (Artigo 32.º);
5.A proteção dos Direitos das Crianças no quadro de
competências da União Europeia.
5.3.Evolução da legislação e domínios de proteção: cont.
O Artigo 24.º que estipula que:
-“As crianças têm direito à proteção e aos cuidados necessários ao seu
bem-estar. Podem exprimir livremente a sua opinião, que será tomada em
consideração nos assuntos que lhes digam respeito, em função da sua
idade e maturidade.”
-“Todos os atos relativos às crianças, quer praticados por entidades
públicas, quer por instituições privadas, terão primacialmente em conta o
interesse superior da criança.”
-“Todas as crianças têm o direito de manter regularmente relações
pessoais e contactos diretos com ambos os progenitores, exceto se isso
for contrário aos seus interesses.”
• 5. A proteção dos Direitos das Crianças no quadro de
competências da União Europeia.
5.3.Evolução da legislação e domínios de proteção:
cont.

• Com a entrada em vigor do Tratado de Lisboa, em 2009, a C.D.F.U.E.


ganhou o mesmo valor jurídico que os Tratados. O Tratado de Lisboa
dota a U.E. de maior capacidade para promover os direitos da
criança, permitindo avançar com legislação e orientações
específicas. Com as alterações decorrentes o Tratado de Lisboa, o
Tratado da U.E.:
- institui a proteção dos direitos da criança como um objetivo (Artigo
3.º, n.º3, do T.U.E.);
- destaca a proteção dos direitos crianças como um aspeto
fundamental da política externa da U.E. (Artigo 3, n.º5, do T.U.E.).
• 5. A proteção dos Direitos das Crianças no
quadro de competências da União Europeia.
5.3.Evolução da legislação e domínios de
proteção: cont.
• O T.F.U.E. também inclui referências mais específicas às
crianças, permitindo que a U.E. adote medidas legislativas
destinadas a combater a exploração sexual e o tráfico de
seres humanos (Artigo 79.º, n.º2, alínea d), e Artigo 83.º, n.º1;
• Diretiva relativa à luta contra o abuso sexual e a exploração
sexual de crianças e a pornografia infantil e da Diretiva
relativa à prevenção e luta contra o tráfico de seres humanos
e à proteção das vítima.
• 5. A proteção dos Direitos das Crianças no quadro
de competências da União Europeia.
5.3.Evolução da legislação e domínios de
proteção: cont.

• Comunicação da Comissão Europeia «Um lugar especial para as


crianças na ação externa da U.E.», e das «Orientações da UE em
matéria de promoção e proteção dos direitos da criança» do Conselho.
• Em 2011, a Comissão Europeia adotou o Programa da U.E. para os
direitos da criança, em que define as grandes prioridades para o
desenvolvimento da política e da legislação em matéria de direitos da
criança em todos os Estados-Membros da U.E., que incidia igualmente
sobre os processos legislativos respeitantes à proteção das crianças,
como a supracitada adoção da Diretiva relativa aos direitos das vítimas.
• 5. A Proteção dos Direitos das Crianças no
quadro de competências da União Europeia.
5.3.Evolução da legislação e domínios de
proteção –cont.

• Foi complementado pela adoção, de uma estratégia global


para apoiar os Estados-Membros na luta contra a pobreza e a
exclusão social através de uma série de intervenções desde a
primeira infância (para crianças em idade pré-escolar e em
idade de frequentarem o ensino primário), não de forma
jurídica mente vinculativa, mas como referência nesta matéria
assentando na C.D.C. e pautada numa ética de proteção,
participação e não discriminação das crianças.
5. A proteção dos Direitos das Crianças no quadro de
competências da União Europeia.
5.4. O Conselho Europeu.
• Definir a agência política da U.E.–reuniões-conclusões:
- 20/21 de outubro de 2022: Guerra Rússia/Ucrânia;
• Agenda estratégica para a U.E. 2019-2024– de 20/06/2019 –
quatro prioridades:
-Proteger os cidadãos e as liberdades;
-Desenvolver uma base económica forte e dinâmica;
-Construir uma Europa com impacto neutro no clima, verde,
justa e social;
-Promover os interesses e valores europeus na cena mundial.
5. A proteção dos Direitos das Crianças no quadro de
competências da União Europeia.
5.5. A Comissão Europeia.
• Estratégia da União Europeia sobre os Direitos da Criança (24-03-2021) da Comissão
Europeia:
- Participação na vida política e democrática: uma U.E. que capacita as crianças a serem
cidadãos ativos e membros de sociedades democráticas.
- Inclusão socioeconómica, saúde e educação: uma U.E. que combate a pobreza infantil,
promove uma sociedade, sistemas de saúde e educação inclusivos e amigos da criança.
- Combater a violência contra as crianças e garantir a proteção das crianças: uma U.E. que
ajuda as crianças a crescerem livres da violência.
- Justiça amiga da criança: uma U.E. onde o sistema de justiça defende os direitos e as
necessidades das crianças.
- Sociedade digital e de informação: uma U.E. onde as crianças possam navegar em
segurança no ambiente digital e aproveitar as suas oportunidades.
- A dimensão global: uma U.E. que apoia, protege e capacita as crianças globalmente,
inclusive durante crises e conflitos.
- Incorporar a perspetiva da criança em todas as ações da U.E..
5. A proteção dos Direitos das Crianças no quadro
de competências da União Europeia.
5.5. A Comissão Europeia: cont.
• Garantia Europeia para a Infância (16-06-2021) da
Comissão Europeia:
- visar quebrar o ciclo de pobreza e exclusão social
entre gerações:
Exlusão social→desempenho escolar e saúde→abandono escolar→desemprego longa duração→pobreza .

- providencia orientação e meios aos Estados-Membros


para o apoio a crianças necessitadas – pesosa abaixo
dos 18 anos em risco de pobreza e exclusão social.
5. A proteção dos Direitos das Crianças no quadro de
competências da União Europeia.
5.5. A Comissão Europeia: cont.

• Os Estados-Membros devem garantir:

- Livre e efectivo acesso das crianças em necessidade a:


- educação e cuidados na primeira infância
- educação e actividades de base escolar
- pelo menos uma refeição saudável em cada dia de escola
- saúde

- Efectivo acesso das crianças em necessidade a:


- alimentação saudável
- alojamento condigno
5. A proteção dos Direitos das Crianças no
quadro de competências da União Europeia.
5.5. A Comissão Europeia:cont.
• A 11 de maio de 2022, a Comissão adotou uma nova Estratégia (BKI +)
europeia para uma Internet melhor para as crianças que tem como objetivo
promover conteúdos e serviços em linha acessíveis, adequados à idade e
informativos, que sejam no interesse superior das crianças e que assenta
em três pilares fundamentais:
- Experiências digitais seguras que protejam as crianças de conteúdos,
comportamentos e riscos em linha nocivos e ilegais e melhorem o seu bem-
estar através de um ambiente digital seguro e adaptado à idade;
- Capacitação digital para que as crianças adquiram as aptidões e
competências necessárias para poderem fazer escolhas informadas e
exprimir-se no ambiente em linha de forma segura e responsável;
- Participação ativa, respeitando as crianças, dando-lhes uma palavra a
dizer no ambiente digital, com atividades mais conduzidas pelas crianças a
5. A proteção dos Direitos das Crianças no
quadro de competências da União Europeia.
5.6. O Parlamento Europeu.
• Coordenadora do Parlamento Europeu para os Direitos da Criança (Ewa
Kopacz) - o princípio do interesse superior da criança:
- esforça-se por garantir que os direitos da criança sejam tidos em conta
e salvaguardados em todas as políticas e em toda a legislação da U.E.;
- procura igualmente dar orientação a pessoas confrontadas com uma
situação de rapto parental e outros litígios familiares transfronteiriços,
fomentar uma colaboração mais estreita com os órgãos judiciais e
administrativos, e promover a mediação em assuntos familiares
transfronteiriços.
• O Parlamento Europeu organiza uma Conferência de Alto Nível, no dia 20
de novembro de 2019, para assinalar o 30º aniversário da Convenção
Internacional sobre os Direitos da Criança.
5. A proteção dos Direitos das Crianças no
quadro de competências da União Europeia.
5.6. O Parlamento Europeu.
•Resolução do Parlamento Europeu, de 5 de abril de
2022, sobre a proteção dos direitos da criança nos
processos de Direito Civil, Direito Administrativo e Direito
da Família (2021/2060(INI):
- Justiça adaptada às crianças nos processos de Direito
Civil, Direito Administrativo e Direito da Família;
- Um regime da U.E. para a proteção dos direitos da
criança nos litígios civis transfronteiriços;
- Mediação em processos que envolvam crianças.
5. A proteção dos Direitos das Crianças no
quadro de competências da União Europeia.
5.7. O Conselho da União Europeia.
• Diretrizes para a promoção e proteção dos direitos das criança (2017)
–”Não deixar para trás nenhuma criança”- conclusões:
- “Promoção da igualdade entre homens e mulheres, a garantia da
capacitação das raparigas;
- a integração dos direitos das crianças em todos os setores e em
todos os programas e o incentivo aos países parceiros para que
adotem uma estratégia nacional sobre os direitos da criança e
- O Conselho reitera o participação ativa da U.E. em processos de
proteção dos direitos humanos e das liberdades fundamentais de
todas as crianças refugiadas e migrantes.
5. A proteção dos Direitos das Crianças no
quadro de competências da União Europeia.
5.7.O Conselho da União Europeia.

• Recomendação relativa à criação de uma Garantia


Europeia para a Infância – Acesso a serviços
essenciais para as crianças necessitadas-14/06/2021;
• Adoção de conclusões relativas à estratégia da União
Europeia sobre os direitos da criança, que dão especial
destaque à proteção dos direitos da criança em
situações de crise ou de emergência-9/06/2022–
Guerra da Ucrânia;
5. A proteção dos Direitos das Crianças no quadro
de competências da União Europeia: cont.
5.8.O Tribunal de Justiça da União Europeia.
• Processos relativos aos direitos das crianças,
constituem maioritariamente processos de reenvio –
Artigo 267.º do T.F.U.E.;
• Também em contexto da livre circulação e da cidadania
da U.E. em que reconheceu expressamente que as
crianças usufruem dos benefícios associados à
cidadania da U.E. por direito próprio, alargando assim a
residência autónoma e os direitos sociais e educativos
às crianças, com base na nacionalidade da U.E..
5. A proteção dos Direitos das Crianças no quadro
de competências da União Europeia: cont.
5.8.O Tribunal de Justiça da União Europeia.
• T.J.U.E. recorreu diretamente à C.D.C. para determinar a forma como o direito da
U.E. deveria ser interpretado em relação às crianças: o processo Dynamic Medien
GmbH c. Avides Media AG. Este processo refere-se à legalidade das restrições de
rotulagem impostas pela Alemanha a DVDs e vídeos importados que já tinham sido
objeto de controlos semelhantes no Reino Unido. O TJUE concluiu que os controlos
da rotulagem alemães constituíam uma restrição legal às disposições da U.E. em
matéria de livre circulação de mercadorias (que, de outro modo, se opõem a
quaisquer processos de dupla regulamentação deste tipo), porque visavam proteger
o bem-estar das crianças.

• O T.J.U.E. fundamentou a sua decisão por referência ao Artigo 17.º da C.D.C., que
encoraja os Estados signatários a definirem princípios orientadores adequados para
protegerem as crianças de informação e documentos prejudiciais ao seu bem-estar.
Os requisitos de proporcionalidade são, todavia, aplicáveis aos procedimentos de
controlo instituídos para proteger as crianças, os quais devem ser facilmente
5. A proteção dos Direitos das Crianças no quadro
de competências da União Europeia: cont.
5.8.O Tribunal de Justiça da União Europeia.
• Noutros casos aludiu aos princípios gerais em matéria
de direitos da criança, também consagrados nas
disposições da C.D.C. (como o interesse superior da
criança e o direito da criança a ser ouvida) para
fundamentar as suas decisões, nomeadamente no
contexto de processos relativos ao rapto internacional
de criança: TJUE, C-491/10 PPU, Joseba Andoni
Aguirre Zarraga c. Simone Pelz, 22 de dezembro de
2010.
5. A proteção dos Direitos das Crianças no quadro
de competências da União Europeia: cont.
5.8.O Tribunal de Justiça da União Europeia.
• Litígios civis transfronteiriços: processo C-490/20:
- um menor que é cidadão da União e cuja certidão de nascimento
foi emitida pelas autoridades competentes de um Estado-Membro
de acolhimento e designa como seus progenitores duas pessoas do
mesmo sexo, o Estado-Membro do qual essa criança é nacional é
obrigado (i) a emitir-lhe um cartão de identidade ou um passaporte,
sem exigir que seja lavrada previamente uma certidão de
nascimento pelas suas autoridades nacionais, e (ii) a reconhecer,
como qualquer outro Estado-Membro, o documento que emana do
Estado-Membro de acolhimento que permite à referida criança
exercer, com cada uma dessas duas pessoas, o seu direito de
circular e de permanecer livremente no território dos Estados-
6. Conclusões
• A proteção dos Direitos das Crianças encontra-se contemplada no Artigo 3.º
do Tratado de Lisboa como um dos objetivos da U.E..
• Até 2000, os domínios relevantes para os direitos da criança em que a U.E.
produziu uma vasta legislação foram a proteção dos dados e dos
consumidores, o asilo e a migração e a cooperação em matéria civil e penal.
• As primeiras disposições específicas sobre os Direitos das Crianças surgem
em 2000, com a Carta dos Direitos Fundamentais da U.E. – Artigos 14.º,
21.º, 32.º e, em particular, o Artigo 24.º.
• Tomam-se medidas legislativas destinadas a combater a exploração sexual e
o tráfico de seres humanos envolvendo crianças, como a Diretiva relativa à
luta contra o abuso sexual e a exploração sexual de crianças e a pornografia
infantil e a Diretiva relativa à prevenção e luta contra o tráfico de seres
humanos e à proteção das vítimas.
6. Conclusões
• Em 2011, a Comissão Europeia adotou o Programa da U.E. para os direitos da criança,
em que define as grandes prioridades para o desenvolvimento da política e da
legislação em matéria de direitos da criança em todos os Estados-Membros da U.E.,
que incidia igualmente sobre os processos legislativos respeitantes à proteção das
crianças.
• Cada uma das instituições da U.E., dentro das suas competências vai contribuindo para
a proteção dos direitos das crianças, como por exemplo, a Comissão Europeia com a
Estratégia da União Europeia para os Direitos da Criança e a Garantia Europeia para a
Infância ou o Parlamento Europeu com a Resolução de 5 de abril de 2022, sobre a
proteção dos direitos da criança nos processos de Direito Civil, Direito Administrativo e
Direito da Família (2021/2060(INI).
• Nas instituições da União Europeia, o objetivo da proteção dos direitos das crianças
encontra-se deveras enraizado e com a crescente adoção de medidas de diverso tipo
nesse sentido, augura-se um futuro promissor na sua defesa e promoção, podendo vir a
denominar-se, em nossa opinião, num futuro próximo, um Direito das Crianças da União
Europeia.
Muito obrigada!

isabelrestierpocas@gmail.com

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