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DIREITO ADMINISTRATIVO

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DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

SUMÁRIO

DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01.................................................................................................... 5

1. ORIGEM, NATUREZA JURÍDICA E OBJETO DO DIREITO ADMINISTRATIVO.............................5


2. EVOLUÇÃO DO DIREITO ADMINISTRATIVO ..........................................................................................6
3. INFLUÊNCIAS DO DIREITO ESTRANGEIRO: ............................................................................................6
4. CRITÉRIOS DA ADMINISTRAÇÃO: ..............................................................................................................7
4.1. Tendências atuais do Direito Administrativo ................................................................................. 10
4.2. Transadministrativismo .......................................................................................................................... 10
5. FONTES DO DIREITO ADMINISTRATIVO .............................................................................................. 11
6. INTERPRETAÇÃO DO DIREITO ADMINISTRATIVO ........................................................................... 14
7. SISTEMAS DE CONTROLE DA ATUAÇÃO ADMINISTRATIVA...................................................... 15
8. SENTIDOS DA ADMINISTRAÇÃO ............................................................................................................. 16
8.1. Administração Pública Extroversa e Introversa ............................................................................ 17
9. PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS ............................................................................................................... 17
9.1. Regime Jurídico Administrativo ........................................................................................................... 17
9.2. Princípios x regras .................................................................................................................................... 19
9.3. Princípios Explícitos do Direito Administrativo ............................................................................. 20
9.4. Outros princípios administrativos....................................................................................................... 35
QUESTÕES PROPOSTAS ................................................................................................................................... 65

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DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

TEMA DO DIA

INTRODUÇÃO AO DIREITO ADMINISTRATIVO

1. ORIGEM, NATUREZA JURÍDICA E OBJETO DO DIREITO ADMINISTRATIVO

O caso Blanco marca a origem do Direito Administrativo. Trata-se do clássico fato de uma

criança Agnes Blanco, de 5 anos, atropelada por uma vagonete da companharia de manufatura de

fumo da França. Em razão do conflito existente entre o Tribunal Administrativo e o Tribunal Judicial,

a Corte de Conflitos entendeu que a competência, haja vista a presença de serviço público, era do

Tribunal Administrativo.

Por sua vez, no plano normativo, a Lei do 28 pluviose do ano VIII de 1800 é a certidão de

nascimento do direito administrativo

O Direito Administrativo compõe o ramo do Direito Público, pois tem como características e

princípios marcantes a Supremacia do Interesse Público (relações jurídicas verticalizadas), a

Indisponibilidade do Interesse Público e a Legalidade.

Segundo Maria Sylvia Zanella di Pietro, o Direito Administrativo nasceu em fins do século XVIII

e início do século XIX, não significando que inexistissem anteriormente normas administrativas, uma

vez que onde quer que exista o Estado existem órgãos encarregados do exercício de funções

administrativas.

Nesse sentido, o Estado é pessoa jurídica de direito público, ainda que atuando na seara do

Direito privado. Assim, o Estado pode atuar no direito público ou no direito privado; no entanto,

sempre ostenta a qualidade de PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO.

O Direito Administrativo tem por objeto as relações por ele disciplinadas, a saber:

a) relações internas entre órgãos e entidades administrativas;

b) relações entre a administração e seus agentes;

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c) relações entre a administração e os seus administrados;

d) atividades administrativas exercidas por prestadores de serviços públicos.

2. EVOLUÇÃO DO DIREITO ADMINISTRATIVO

 Administração Patrimonialista: Não havia diferença entre os interesse pessoais dos agentes

públicos e os interesses da própria administração;

 Administração Burocrática: Superou o patrimonialismo ao adotar o princípio da

impessoalidade. Foram criados rígidos controles sobre a atuação dos agentes públicos. Formou-se

a burocracia, onde os agentes públicos devem obedecer aos procedimentos determinados e a rígida

hierarquia e a separação de funções;

 Administração Gerencial: É o modelo adotado na Administração moderna. Busca superar o

modelo burocrático por meio da adoção do princípio da eficiência, que tem as seguintes

consequências principais:

o Utilização do controle de resultados substituindo o controle de meios;

o Maior autonomia dos agentes/órgãos/entidades públicas;

o Serviço orientado para o cidadão;

o Utilização de indicadores de desempenho.

Administração Pública Dialógica: Segundo Ronny Charles, Administração pública dialógica é

uma tendência identificada em algumas atividades administrativas, notadamente na prestação

de serviços públicos e contratações de grandes empreendimentos, que consiste na abertura de

diálogo com os administrados, permitindo que eles colaborem para o aperfeiçoamento ou a

legitimação da atividade administrativa.

3. INFLUÊNCIAS DO DIREITO ESTRANGEIRO:

Às vezes cai em prova e ajuda a resolver determinadas questões, motivo pelo qual é

importante abrir um tópico rápido acerca das influências do direito estrangeiro no direito

administrativo brasileiro.

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 Direito alemão - o direito administrativo brasileiro herdou a inspiração para aplicação do

princípio da segurança jurídica, especialmente sob o aspecto subjetivo da proteção à confiança

 Direito francês - herdou o conceito de serviço público, a teoria dos atos administrativos com o

atributo da executoriedade, as teorias sobre responsabilidade civil do Estado, o princípio da

legalidade, a teoria dos contratos administrativos, as formas de delegação da execução de

serviços públicos, a ideia de que a Administração Pública se submete a um regime jurídico de

direito público, derrogatório e exorbitante do direito comum, que abrange o binômio

autoridade/liberdade.;

 Direito italiano - recebeu o conceito de mérito, o de autarquia e entidade paraestatal (dois

vocábulos criados no direito italiano). Os autores italianos (ao lado dos alemães) também

contribuíram para a adoção de um método técnico-científico.

 Direito inglês (Sistema da common law) - o direito administrativo brasileiro herdou o princípio

da unidade de jurisdição, o mandado de segurança e o mandado de injunção, o princípio do

devido processo legal, inclusive, mais recentemente, em sua feição substantiva, e que

praticamente se confunde com o princípio da razoabilidade. Em fins do século XX, também

herdou do sistema common law o fenômeno da agencificação e a própria ideia de regulação.

4. CRITÉRIOS DA ADMINISTRAÇÃO:

O direito administrativo é ramo jurídico, e como tal, se dedica ao estudo das regras e normas,

sendo caracterizada como ciência normativa, impositiva que define os limites dentro dos quais a

gestão pública pode ser executada. Várias foram as correntes/teorias que buscaram definir o direito

administrativo. Nessa linha, vejamos as principais delas:

a) Corrente Legalista (Exegética): O direito administrativo seria o conjunto da legislação

administrativa existente no país => Se limitava a fazer compilação de leis e desconsiderava doutrina

e jurisprudência.

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Crítica: A grande crítica do critério legalista foi desconsiderar a carga normativa dos princípios.

Dessa forma só era valorado o que estivesse em lei.

b) Critério do Poder Executivo: O Direito Administrativo seria um complexo de leis disciplinadoras

da atuação do poder executivo.

Crítica: O Direito Administrativo não se resume à disciplina do Poder Executivo, afinal, todos os

Poderes administram, embora, para alguns, isso constitua missão atípica. E mais: no Poder Executivo,

nem tudo é objeto do Direito Administrativo, como são as funções de governo, regidas pelo Direito

Constitucional.

c) Critério das relações jurídicas: O Direito Administrativo é a disciplina das relações jurídicas entre

a Administração e o particular.

Crítica: Devemos recordar que outros ramos do direito, de igual modo, regulam a relação jurídica

entre particular e Estado, por exemplo, os contratos privados pactuados que são regidos pelo

direito civil.

d) Critério do Serviço Público (França): O Direito Administrativo teria por objetivo a disciplina

jurídica dos serviços públicos => Escola do Serviço Público (Leon Duguit).

 Sentido amplo (Leon Duguit): Inclui todas as atividades do Estado;

 Sentido Estrito (Gaston Jeze): Inclui apenas atividades materiais.

Crítica: Referido conceito é bastante restrito, isto porque, na atualidade, a ideia de prestação de

serviço público vem sofrendo restrições, de modo que a administração pública não se limita tão

somente a execução dessa prestação. O Estado faz muitas atividades além da mera prestação do

serviço público, sendo este último apenas uma das facetas. Por exemplo, atua na exploração de

atividade econômica na busca do interesse público.

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e) Critério teleológico ou finalístico: O Direito Administrativo é sistema de princípios jurídicos que

regula as atividades do Estado para o cumprimento dos seus fins - É definição incompleta.

Crítica: Essa posição apresenta-se como a mais correta, porém não consegue abranger

integralmente o conceito da matéria, de forma que não é adotada de forma majoritária.

f) Critério Negativista: O Direito Administrativo seria conceituado por exclusão.

Crítica: não posso definir algo pelo que ele não é. Embora não tenha um erro grosseiro, ele não

pode ser usado como forma de conceituação do direito administrativo.

g) Critério Funcional: O Direito Administrativo é ramo jurídico que estuda e analisa a disciplina da

função administrativa, esteja ela sendo exercida pelo executivo, legislativo, judiciário ou por

delegação estatal.

HELY LOPES: DIREITO ADMINISTRATIVO É O CONJUNTO HARMÔNICO DE PRINCÍPIOS QUE

REGEM OS ÓRGÃOS, OS AGENTES E AS ATIVIDADES PÚBLICAS TENDENTES A REALIZAR,

CONCRETA, DIRETA E IMEDIATAMENTE, OS FINS DESEJADOS PELO ESTADO.

 Direta: não se confunde com a função jurisdicional, que é indireta por depender de

provocação. Desse modo, ao se falar que a atuação é direta quer-se dizer que ela atua de

ofício, não dependendo de provocação. Reitero, NÃO depende de provocação para que

haja atuação administrativa, ela é DIRETA.

 Concreta: diferente da legislativa, que é geral e abstrata - não atinge pessoas específicas,

a função administrativa é concreta porque se materializa em casos concretos.

 Imediata: realiza os fins do Estado (necessidades do Estado). Quem define os fins do

Estado, por sua vez, é o Direito Constitucional.

* INTERPRETAÇÃO DO DIREITO ADMINISTRATIVO – PRESSUPOSTOS (HELY LOPES):

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 Desigualdade jurídica entre a Administração e os administrados;

 Presunção de legitimidade;

Necessidade de poderes discricionários para a Administração atender ao Direito Público.

Já caiu em prova: De acordo com o critério teleológico, o direito administrativo é um conjunto de

normas que regem as relações entre a administração e os administrados. Gab. ERRADO. O

enunciado da questão contempla a definição do critério das relações jurídicas.

4.1. Tendências atuais do Direito Administrativo

Para Rafael Oliveira (2018, p. 58), o Direito Administrativo tem sofrido profundas

transformações, cabendo destacar as seguintes mutações e tendências: a) Constitucionalização e

aplicação do princípio da juridicidade; b) Relativização de formalidades e ênfase no resultado; c)

Elasticidade do Direito Administrativo, com diálogo com outras disciplinas; d) Consensualidade e

participação; e) Processualização e contratualização da atividade administrativa; f) Publicização do

Direito Civil e privatização do Direito Administrativo; e g) Aproximação entre a Civil Law e a Common

Law.

4.2. Transadministrativismo

Diogo de Figueiredo Moreira Neto adota a tese de que existe um novo ramo do Direito

Administrativo denominado transadministrativismo.

O transadministrativismo é a disciplina jurídica das relações assimétricas de poder que se

institucionaliza consensualmente fora e além do Estado.

Trata-se de um direito administrativo transnacional, fenômeno semelhante ao

transconstitucionalismo.

Para Diogo de Figueiredo, o direito administrativo global é um gênero, do qual o direito

administrativo transestatal (transadministrativismo) é espécie. O transadministrativismo refere-se

exclusivamente ao produto normativo desses centros de poder transestatais: aqueles que se

originam de necessidades ordinatórias das diversas sociedades, que não são providas pelos Estados.

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5. FONTES DO DIREITO ADMINISTRATIVO

A doutrina costuma apontar a existência de cinco fontes principais deste ramo do Direito,

quais sejam: a lei, a jurisprudência, a doutrina, os princípios gerais e os costumes.

 Lei – Fonte Primária – qualquer espécie normativa (lei em sentido amplo);

· A lei se apresenta como sendo a fonte primária do direito administrativo, pois inova

no ordenamento jurídico. A atuação administrativa tem que ser pautada pela lei, só

existe a atuação do administrador se houver permissivo legal nesse sentido (princípio

da legalidade).

· Em se tratando de Direito Administrativo, a lei deve ser interpretada em sentido

amplo, de modo a abarcar não só a lei em sentido estrito, mas como as normas

constitucionais, os regulamentos administrativos e os tratados internacionais.

· Trata-se, portanto, a consagração da ideia de juridicidade, de modo que o

administrador público deve obediência à lei e ao Direito.

 Jurisprudência – Fonte Secundária. Julgamentos reiterados no mesmo sentido. Súmula é a

consolidação da Jurisprudência;

· A jurisprudência se traduz na reiteração de julgados dos órgãos do judiciário, travando

uma orientação acerca de determinada matéria. Trata-se de fonte secundária do D.

Administrativo, de grande influência na construção e consolidação desse ramo.

▪ Doutrina – Fonte secundária: forma o sistema teórico de princípio aplicável ao Direito

Positivo.

· É fonte secundária. Refere-se a lição dos mestres e estudiosos da matéria, ensejando

a formação de arcabouço teórico. É fonte interpretativa, sistema teórico. Expõe uma

interpretação sobre aquela determinada matéria ou lei, ao estabelecer o que

provavelmente a referida buscava, ou seja, sua razão/sentido.

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▪ Costumes – Práticas reiteradas da autoridade administrativa

Elementos do costume:

 Elemento objetivo: repetição de condutas;

 Elemento subjetivo: Convicção de sua obrigatoriedade.

Espécies de costumes:

 Secundum legem: previsto ou admitivo pela lei;

 Praeter legem: preenche as lacunas normativas, possuindo caráter subsidiário;

 Contra legem: Se opõem à norma legal.

OBSERVAÇÃO:

Para o autor Rafael Carvalho, “ressalvado o costume contra legem, o costume é fonte autônoma do

Direito Administrativo. A releitura do princípio da legalidade, com a superação do positivismo, a

textura aberta de algumas normas jurídicas e a necessidade de consideração da realidade social na

aplicação do Direito demonstram que os costumes devem ser considerados como fontes do Direito

Administrativo”, pg. 25.

COSTUME SOCIAL COSTUME ADMINISTRATIVO

De acordo com Matheus Carvalho, “os Na dicção de Matheus Carvalho: “o costume

costumes sociais se apresentam como um administrativo é caracterizado como prática

conjunto de regras não escritas, que são, reiteradamente observada pelos agentes

todavia, observadas de modo uniforme por administrativos diante de determinada situação

determinada sociedade, que as considera concreta. A prática comum na Administração

obrigatórias. Ainda considera-se fonte Pública é admitida em casos de lacuna normativa e

relevante do Direito Administrativo, tendo funciona como fonte secundária de Direito

em vista a deficiência legislativa na Administrativo, podendo gerar direitos para os

matéria”. administrados, em razão dos princípios da lealdade,

boa-fé, moralidade administrativa, entre outros”.

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CESPE/2016 - A jurisprudência e os costumes não são fontes do direito administrativo. Item

incorreto.

 Princípios Gerais do Direito – estão na base da disciplina/alicerce. Exs.: Ninguém pode

causar dano a outrem. É vedado o enriquecimento ilícito. Ninguém pode se beneficiar da

própria torpeza.

▪ Precedentes Administrativos – Pressupõe a prática reiterada e uniforme de atos

administrativos em situações similares. A teoria dos precedentes administrativos é aplicada em

relações jurídicas distintas que apresentam identidade subjetiva e objetiva.

A força vinculante do precedente administrativo decorre da segurança jurídica, e pode ser

afastada pela Administração em duas situações, hipóteses em que se pode aplicar a TEORIA DO

PROSPECTIVE OVERRULING:

 Quando o ato invocado pelo precedente for ilegal;

 Quando o interesse público, devidamente motivado, justificar a alteração do entendimento

administrativo.

Em alguns casos, o caráter vinculante dos precedentes tem previsão legal expressa, como

a LC 73/1993, ao dispor que o parecer aprovado e publicado com o despacho presidencial vincula

a Administração Federal, cujos órgãos e entidades ficam obrigados a lhe dar fiel cumprimento.

O precedente administrativo, em princípio, só é exigível quando estiver em compatibilidade

com a legislação. Porém, excepcionalmente, mesmo em relação a atos ilegais, os precedentes

administrativos retiram a sua força vinculante dos princípios da legítima confiança, segurança

jurídica e boa-fé.

Resumindo...

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FONTE PRIMÁRIA 1) Lei - em sentido material/amplo: qualquer espécie

normativa

1) Jurisprudência

FONTES 2) Doutrina

SECUNDÁRIAS 3) Costumes - secundum legem e praeter legem

4) Princípios Gerais do Direito.

1) Constituição

FONTES FORMAIS 2) Lei

3) Regulamento e outros atos normativos da

Administração Pública.

5) Jurisprudência (sem efeito vinculante)

FONTES 6) Doutrina

MATERIAIS 7) Costumes - secundum legem e praeter legem

8) Princípios Gerais do Direito.

6. INTERPRETAÇÃO DO DIREITO ADMINISTRATIVO

A interpretação em Direito Administrativo deve se pautar em 3 (três) pressupostos básicos,

quais sejam:

(1) Desigualdade entre a administração e o particular (desigualdade jurídica) - Toda vez que

se interpreta uma norma do direito administrativo, devemos recordar que existe uma

desigualdade jurídica, posto que a Administração atua com supremacia em face ao particular

(princípio da supremacia do interesse público sobre o privado).

(2) Presunção de legitimidade dos atos praticados pela Administração - Os atos praticados

pela administração são presumivelmente legítimos, ou seja, presume-se que ele foi praticado

em conformidade com o ordenamento jurídico (lembre-se: atributo do ato administrativo:

presunção de legitimidade e de veracidade, trata-se de presunção relativa).

(3) Necessidade de discricionariedade – A discricionariedade é indispensável para que o

administrador possa concretizar a norma geral e abstrata prevista.

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Analogia: NÃO pode ser utilizada para fundamentar a aplicação de sanções ou gravames aos

particulares, especialmente no campo do poder de polícia e poder disciplinar.

Para Diogo de Figueiredo Moreira Neto, a analogia não é permitida no Direito

Administrativo, em razão do princípio da legalidade. Admitir a analogia seria permitir que a

Administração impusesse uma obrigação não prescrita em lei.

Para Alexandre Santos de Aragão, é possível a utilização da analogia no Direito

Administrativo quando a aplicação da regra com base na analogia for suficiente para regular

determinado caso concreto e ao mesmo tempo atender às finalidades da Constituição. No

entanto, a analogia com base em outra disciplina jurídica não é possível, tendo em vista o princípio

da legalidade.

7. SISTEMAS DE CONTROLE DA ATUAÇÃO ADMINISTRATIVA

a) Sistema Francês (contencioso administrativo)

 Dualidade de jurisdição;

 Proíbe o conhecimento, pelo Poder Judiciário, de atos ilícitos praticados pela Administração,

ficando os atos sujeitos à jurisdição especial do contencioso administrativo.

b) Sistema Inglês (Sistema de jurisdição única)

 Todos os litígios podem ser resolvidos na justiça comum;

 Sistema adotado pelo Brasil – contudo, já houve a previsão do tribunal constitucional de

contencioso no Brasil na EC 7/77, mas nunca foi implementado.

Já caiu em prova e foi considerada INCORRETA a seguinte assertiva: O controle da Administração

Pública no Brasil é realizado por meio do sistema do contencioso administrativo.

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8. SENTIDOS DA ADMINISTRAÇÃO

A expressão Administração Pública pode ser analisada sob seu aspecto formal/ subjetivo/

orgânico ou sob seu aspecto material/objetivo.

a) Formal, Orgânico ou Subjetivo: É o conjunto de órgãos e funções estatais no exercício da função

administrativa. – importa apenas quem realiza a atividade, sendo irrelevante qual a atividade por

eles desempenhada.

“O sentido subjetivo, formal ou orgânico da Administração Pública

compreende pessoas jurídicas, órgãos e agentes públicos que são

incumbidos de exercer uma das funções estatais: a função administrativa”

b) Material ou Objetivo: Se confunde com função administrativa, sendo a atividade administrativa

exercida pelo Estado.

“Por sua vez, administração pública (em letra minúscula), considerada com

base no critério material ou objetivo se confunde com a função administrativa,

devendo ser entendida como atividade administrativa exercida pelo

Estado, designando a atividade consistente na defesa concreta do

interesse público”.

 A Administração Pública, em sentido amplo, objetivamente considerada, compreende a

FUNÇÃO POLÍTICA + FUNÇÃO ADMINISTRATIVA.

TAREFAS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA:

➢ Prestação de serviços públicos;

➢ Exercício do Poder de Polícia;

➢ Regulação de atividades de interesse público (fomento);

➢ Controle da atuação do Estado

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Resumindo:

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA EM SENTIDO ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA EM SENTIDO

FORMAL, ORGÂNICO OU SUBJETIVO MATERIAL, FUNCIONAL OU OBJETIVO:

Conjunto de órgãos e agentes no exercício É a própria atividade administrativa

da função administrativa. desempenhada pelo Estado.

8.1. Administração Pública Extroversa e Introversa

Diogo de Figueiredo Moreira Neto diferencia esses termos da seguinte forma:

Administração Introversa Administração Extroversa

corresponde à atividade-meio da corresponde à atividade-fim da Administração.

Administração. É instrumental, atende ao É finalística, atende ao interesse público

interesse público secundário e não atinge primário e atinge diretamente os cidadãos. É

diretamente os cidadãos. Também é atribuída a atribuída apenas aos entes políticos. Exemplo:

todos os órgãos administrativos; poder de polícia.

9. PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS

9.1. Regime Jurídico Administrativo

É o conjunto de regras e princípios que regem a Administração Pública. Celso Antônio

Bandeira de Mello defende a existência de verdadeiras “PEDRAS DE TOQUE” no Direito

Administrativo, quais sejam:

 Princípio da supremacia do interesse público sobre o privado: Os interesses coletivos

devem prevalecer ao interesse particular;

 Princípio da indisponibilidade do interesse público: O interesse público não se encontra à

livre disposição do administrador.

Vamos aprofundar um pouco?

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Conforme Rafael Carvalho, o fenômeno da constitucionalização do ordenamento jurídico abalou

alguns dos mais tradicionais dogmas do Direito Administrativo, a saber: a) a redefinição da ideia de

supremacia do interesse público sobre o privado e a ascensão do princípio da ponderação de

direitos fundamentais. A partir dessa distinção, a doutrina tradicional sempre apontou para a

superioridade do interesse público primário (e não do secundário) sobre o interesse privado.

Atualmente, no entanto, com a relativização da dicotomia público x privado, a democratização da

defesa do interesse público e a complexidade (heterogeneidade) da sociedade atual, entre outros

fatores, vêm ganhando força a ideia de “desconstrução” do princípio da supremacia do interesse

público em abstrato. Portanto, não existe um interesse público único, estático e abstrato, mas sim

finalidades públicas normativamente elencadas que não estão necessariamente em confronto com

os interesses privados, razão pela qual seria mais adequado falar em “princípio da finalidade

pública”, em vez do tradicional “princípio da supremacia do interesse público”, o que reforça a ideia

de que a atuação estatal deve sempre estar apoiada em finalidades públicas, não egoístas,

estabelecidas no ordenamento jurídico. A atuação do Poder Público não pode ser pautada pela

supremacia do interesse público, mas, sim, pela ponderação e máxima realização dos interesses

envolvidos

Interesse público primário x interesse público secundário

O interesse público primário é aquele relacionado à satisfação das necessidades coletivas

(justiça, segurança, bem comum do grupo social etc.), perseguido pelo exercício das atividades-fim

do Poder Público, enquanto o interesse público secundário corresponde ao interesse individual do

próprio Estado, estando relacionado à manutenção das receitas públicas e à defesa do patrimônio

público, operacionalizadas mediante exercício de atividades-meio do Poder Público (Ricardo

Alexandre, 2018).

As seguintes assertivas foram consideradas corretas em provas:

 A supremacia do interesse público é considerada, pela doutrina, como um princípio implícito

da administração pública.

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 O princípio da supremacia do interesse público não desconsidera os interesses

particulares/individuais, não obstante informa ao agente administrativo que o interesse

público prevalece sobre interesses privados. (DPC ES, 2019).

 Os contratos administrativos se distinguem dos contratos privados celebrados pela

Administração Pública pelo fato de assegurarem a esta certos poderes ou prerrogativas que

a colocam em posição de superioridade diante do particular contratado, a fim de que o

interesse público seja preservado.

 Entende-se por poder de polícia a atividade da Administração Pública que, limitando ou

disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato. É

correto afirmar que o princípio que fundamenta o exercício desse poder da Administração é:

Princípio da supremacia do interesse público.

 O princípio da supremacia do interesse público não se radica em dispositivo específico da

CR/88, ainda que inúmeros aludam ou impliquem manifestações concretas dele. (DPC MG,

2018).

 O administrador, quando gere a coisa pública conforme o que na lei estiver determinado,

ciente de que desempenha o papel de mero gestor de coisa que não é sua, observa o princípio

da indisponibilidade do interesse público.

 A supremacia do interesse público sobre o privado e a indisponibilidade do interesse público

se constituem em supraprincípios, que refletem a dualidade existente no exercício da função

administrativa.

9.2. Princípios x regras

9.2.1. Princípios

Hoje são consideradas normas jurídicas primárias. Assim seu estudo ganhou força e

importância nos últimos anos.

 Possuem grau de abstração maior do que as regras, pois admitem uma série indefinida de

aplicações.

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 São Mandamentos de otimização, que determinam a realização de algo na maior medida

possível dentro das possibilidades jurídicas e fáticas existentes, admitindo aplicação

gradativa.

 Colisão de princípios: ponderação de interesses no caso concreto.

 Condensam os valores fundamentais da ordem jurídica, e se irradiam sobre todo o sistema

jurídico, garantindo-lhe harmonia e coerência.

 Encerram ideias centrais de um sistema e dão sentido lógico e harmonioso às demais normas

que regulamentam o Direito Administrativo, possibilitando sua melhor organização.

CATEGORIAS

Princípios fundamentais: Representam decisões políticas estruturais do Estado, servindo de

matriz para todas as demais normas constitucionais;

Princípios gerais: Em regra, são importantes especificações dos princípios fundamentais,

possuindo menor grau de abstração e irradiando-se sobre todo ordenamento jurídico. Ex: Princípio

da isonomia e da legalidade.

Princípios setoriais ou especiais: Se aplicam a determinado tema, capítulo ou título da

Constituição. Ex: L.I.M.P.E – Art. 37 CF (princípios explícitos da Constituição/88)

9.2.2. Regras:

 Direcionam-se a situações determinadas;

 Estabelecem a forma e o momento de atuação do ente público, em observância a um

determinado acontecimento que precipita suas atividades.

 O conflito de regras é resolvido na dimensão da validade (“tudo ou nada”), ou seja, a regra é

válida ou inválida, a partir dos critérios de especialidade, hierarquia e cronológico (Dworkin).

 Em alguns casos, o conflito entre regras pode ser resolvido pela dimensão do peso e, não

necessariamente, pelo critério de validade. Ex: vedação à concessão de liminar contra a

Fazenda que esgote o objeto do litígio.

9.3. Princípios Explícitos do Direito Administrativo

Assim denominados pois constam expressamente no art. 37 da CF/88. São eles:


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 Legalidade

 Impessoalidade

 Moralidade

 Publicidade

 Eficiência

Obs.: Além dos princípios expressos pelo Direito Administrativo existem princípios implícitos (ou

reconhecidos) extraídos pela interpretação sistemática reconhecidos pela jurisprudência e doutrina.

PRINCÍPIOS EXPRESSOS PRINCÍPIOS IMPLÍCITOS

 Legalidade  Princípio da Razoabilidade e Proporcionalidade

 Impessoalidade  Princípio da Supremacia do Interesse Público

 Moralidade Sobre o Privado (Princípio da Finalidade Pública)

 Publicidade  Princípio da Autotutela ou Sindicabilidade

 Eficiência  Princípio Da Continuidade Do Serviço Público

 Princípio da Motivação

 Princípio da Ampla Defesa e Contraditório

 Princípio da Segurança Jurídica e Legítima

Confiança

 Princípio da Intranscendência Subjetiva das

Sanções

Já caiu em prova e foi considerada correta a seguinte assertiva: Legalidade, publicidade,

impessoalidade, moralidade e eficiência são classificadas, pela doutrina, como princípios expressos

da administração pública por possuírem previsão normativa inserta no texto da Constituição da

República Federativa do Brasil de 1988 com aplicação direta ao campo do direito administrativo.

9.3.1. Legalidade (juridicidade)

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Pelo princípio da legalidade, a atuação da administração pública subordina-se à lei, de modo

que o agente público somente poderá fazer o que proclama a lei. Assim, não havendo previsão legal,

está proibida a atuação do ente público e qualquer conduta praticada de forma arbitrária por ele.

O administrador público somente pode atuar conforme determina a lei (subordinação à lei).

Ressalta-se que a legalidade no âmbito do direito administrativo não se confunde com a

legalidade privada, em que é permitido fazer tudo que não é proibido (autonomia privada). Ex.: O

princípio da legalidade veda à administração a prática de atos inominados, embora estes sejam

permitidos aos particulares.

LEGALIDADE ADMINISTRATIVA LEGALIDADE PRIVADA

A atuação da administração pública Vigora a autonomia privada. Por isso, o

subordina-se à lei, de modo que o agente particular pode fazer tudo aquilo que a lei não

público somente poderá fazer o que proibir.

proclama a lei Só deve deixar de fazer se estiver

expressamente proibido em lei.

Note a flagrante diferença entre os regimes jurídicos de direito público e direito privado, posto

que, neste último é possível realizar tudo o que a lei não proíbe, ao passo que, no primeiro, o

administrador somente pode atuar mediante previa autorização legal.

Já caiu em prova e foi considerada correta a seguinte assertiva: A legalidade administrativa é

diferente da legalidade civil, uma vez que aquela dita o limite da atuação do administrador público,

conforme imposto pela lei e esta permite ao particular aquilo que a lei não proíbe.

Já caiu em prova e foi considerada incorreta a seguinte assertiva: Em consonância com o princípio

da legalidade, estatuído no artigo 37, caput, da CR/88, a Administração Pública pode fazer tudo o

que a lei não proíbe.

Comporta dois desdobramentos:

22
PRÉ-EDITAL AFT
DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

1. Supremacia da lei: A lei prevalece e tem preferência sobre os atos da Administração.

- Relaciona-se com a doutrina da NEGATIVE BINDUNG (VINCULAÇÃO

NEGATIVA), segundo a qual a lei representa uma limitação à vontade do

Administrador.

2. Reserva de lei: o tratamento de certas matérias deve ser formalizado necessariamente pela

legislação.

- Relaciona-se com a POSITIVE BINDUNG (VINCULAÇÃO POSITIVA),

condiciona a validade da atuação dos agentes públicos à prévia autorização

legal.

* Atualmente, prevalece a ideia da vinculação positiva da Administração à lei, ou seja, a atuação do

administrador depende de prévia habilitação legal para ser legítima.

Considerações importantes:

 A legalidade deve ser reinterpretada a partir da constitucionalização do Direito

Administrativo.

 A legalidade encontra-se inserida no denominado PRINCÍPIO DA JURIDICIDADE, que exige

a submissão da atuação administrativa à lei e ao Direito => Exige-se compatibilidade com o

BLOCO DE LEGALIDADE. Pelo princípio da juridicidade, deve se respeitar, inclusive, a noção

de legitimidade do Direito.

 Difere do princípio da legalidade na esfera privada (princípio da não contradição à lei).

Segundo Rafael Oliveira, a legalidade se desdobra em supremacia da lei - a lei prevalece e

tem preferência sobre os atos da Administração - e em reserva de lei - o tratamento de certas

matérias deve ser formalizado necessariamente pela legislação, excluindo a utilização de outros atos

com caráter normativo.

ATENÇÃO AOS CONCEITOS:

23
PRÉ-EDITAL AFT
DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

I) Juridicidade: Compatibilidade com todo ordenamento jurídico;

II) Legalidade: Verificar se o ato se compatibiliza com as exigências formais ou padrões

materiais da lei;

III) Legitimidade: É o ato que observa não só as formalidades prescritas ou não defesas em lei,

mas se há adequação aos princípios da boa administração, dentro de padrões razoáveis, morais

e dos princípios constitucionalmente reconhecidos.

IV) Economicidade: Foco no binômio custo/ benefício em face do meio utilizado para satisfação

social, junto ao controle de eficiência da gestão financeira, para atingir melhor índice de

resultado.

O QUE É O PRINCÍPIO DA RESPONSIVIDADE?

Consoante entendimento de Diogo de Figueiredo, a responsividade é um dos princípios

modernos que norteia a atuação da Administração Pública. Determina que, ao atuar, a

Administração não obedeça apenas à legalidade, mas também à legitimidade e ao princípio

democrático, ou seja, que atue de modo a atender os anseios da população. É, então,

inegavelmente, um dever jurídico autônomo dos agentes do Poder Público para, ao perfazerem

suas escolhas discricionárias, observarem as demandas da sociedade.

 Há exceções ao princípio da legalidade administrativa?

Segundo o Prof. Celso Antônio Bandeira de Melo (Curso de Direito Administrativo, 26ª Ed.,

pág. 105 e 126-136), é possível apontar três restrições excepcionais ao princípio da legalidade:

a) Estado de defesa;

b) Estado de sítio e

c) Medida provisória.

24
PRÉ-EDITAL AFT
DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

Nesses três casos, deve a Administração atuar, mesmo que não haja lei regulamentando sua

atuação, o que revela a mitigação da obrigatoriedade do princípio da legalidade.

9.3.2. Princípio da impessoalidade

Pelo princípio da impessoalidade, a atuação da administração pública deve ser imparcial, não

visando beneficiar ou prejudicar pessoa determinada, tendo em vista que a sua atuação está voltada

à busca do interesse público em geral.

Obs.: Para o professor Hely Lopes Meirelles (doutrina minoritária), o princípio da

impessoalidade nada mais é que o clássico princípio da finalidade, o qual impõe ao administrador

público que só pratique o ato para atingir o objetivo indicado expressa ou virtualmente pela norma

de direito, de forma impessoal.

Reflete a necessidade de uma atuação que não discrimina as pessoas, seja para benefício ou

para prejuízo. Possui duas acepções:

i. Igualdade ou isonomia: A Administração deve dispensar tratamento impessoal e isonômico

aos particulares para atender a finalidade pública. Ex.: realização de concurso público é uma

forma de observar o princípio da igualdade ou isonomia e princípio republicano*.

*APROFUNDANDO: Desde a edição da Constituição da República Federativa do

Brasil, efetivou-se, dentro da ordem constitucional jurídica vigente, o princípio

republicano, que consagra a igualdade de acesso aos cargos e empregos públicos

a todos os brasileiros natos e naturalizados, bem como aos estrangeiros na forma

da lei, conforme dicção do art. 37, I, da CRFB.

ii. Proibição de promoção pessoal: Vedação do exercício da máquina pública para atingir

interesses particulares.

25
PRÉ-EDITAL AFT
DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

Art. 37, § 1º, CF: A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e

campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou

de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens

que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos.

JURISPRUDÊNCIA. STF. RE. 191668. Supremo entendeu que a inclusão de slogan de partido político

na publicidade dos atos governamentais também ofende o art. 37§1º da Constituição Federal.

OBSERVAÇÃO:

Súmula Vinculante 13: A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou

por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa

jurídica investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em

comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na administração pública direta e indireta

em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, compreendido

o ajuste mediante designações recíprocas, viola a Constituição Federal.

Segundo Odete Medauar, os princípios da impessoalidade, moralidade e publicidade tem

ligação profunda, mais que isso, há uma instrumentalização recíproca. Dessa forma, a

impessoalidade é considerada um meio para atuações dentro da moralidade, enquanto a publicidade

vai dificultar medidas contrárias à moralidade e impessoalidade, além da moralidade administrativa

implicar observância da impessoalidade e da publicidade.

A Lei nº 14.230/2021 passou a prever expressamente que a prática do nepotismo configura

ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública:

Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os

princípios da administração pública a ação ou omissão dolosa que viole os

deveres de honestidade, de imparcialidade e de legalidade, caracterizada

por uma das seguintes condutas: (Redação dada pela Lei nº 14.230, de

2021)

(...)

26
PRÉ-EDITAL AFT
DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

XI - nomear cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou

por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de

servidor da mesma pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia

ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de

confiança ou, ainda, de função gratificada na administração pública direta

e indireta em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito

Federal e dos Municípios, compreendido o ajuste mediante designações

recíprocas; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)

9.3.3. Princípio da moralidade

Atuação segundo padrões éticos de probidade e decoro. Exige honestidade, lealdade, boa-fé

de conduta no exercício da função administrativa. Não se confunde com a “moral social”.

O princípio da moralidade traduz a ideia de honestidade, obediência a princípios éticos, boa-

fé, lealdade, boa administração, correção de atitudes. É diferente da moralidade comum (certo e

errado do convívio social) por ser mais rígida, exigindo a correção de atitudes e a boa administração.

Trata-se, portanto, da atuação segundo padrões éticos de probidade e decoro.

Nessa esteira, segundo Matheus Carvalho (Manual de D. Administrativo, 2014), “trata-se de

princípio que exige a honestidade, legalidade, boa-fé de conduta no exercício da função

administrativa, ou seja, a atuação não corrupta dos gestores públicos, ao tratar com a coisa de

titularidade do Estado”.

Odete Medauar aponta que a ação popular é um dos instrumentos constitucionais para

sancionar a inobservância da moralidade, uma vez que pode ser proposta por qualquer cidadão para

anular ato lesivo à moralidade administrativa.

 A prática do nepotismo na Administração Pública viola o princípio da moralidade?

R.: De acordo com o STF, nepotismo significa “proteção”, “apadrinhamento”, que é dado pelo

superior para um cônjuge, companheiro ou parente seu, contratado para o cargo ou designado para

a função em virtude desse vínculo. Isso ofende a moralidade. Ressalta-se que o nepotismo é vedado

27
PRÉ-EDITAL AFT
DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

em qualquer dos Poderes da República por força dos princípios constitucionais da impessoalidade,

eficiência, igualdade e moralidade, independentemente de previsão expressa em diploma

legislativo. Assim, o nepotismo não exige a edição de uma lei formal proibindo a sua prática, uma

vez que tal vedação decorre diretamente dos princípios contidos no art. 37, caput, da CF/88 (STF

Rcl 6.70+2/PR-MC-Ag)

No entanto, o STF tem afastado a aplicação da SV 13 (que veda o nepotismo) a cargos

públicos de natureza política. Assim, a jurisprudência do STF, em regra, tem excepcionado a regra

sumulada e garantido a permanência de parentes de autoridades públicas em cargos políticos, sob

o fundamento de que tal prática não configura nepotismo.

Exceção: poderá ficar caracterizado o nepotismo mesmo em se tratando de cargo político em

2 casos:

1) Caso fique demonstrada a inequívoca falta de razoabilidade na nomeação por manifesta

ausência de qualificação técnica ou inidoneidade moral do nomeado. STF. 1ª Turma. Rcl

28024 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 29/05/2018.

2) Em casos de fraude à lei.

Súmula vinculante 13-STF: A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente

em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da

autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido em

cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em

comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na Administração

Pública direta e indireta em qualquer dos poderes da União, dos Estados, do

Distrito Federal e dos municípios, compreendido o ajuste mediante

designações recíprocas, viola a Constituição Federal. (MUITO

IMPORTANTE!)

A Lei nº 14.230/2021 passou a prever expressamente que a prática do nepotismo

configura ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração

pública:

28
PRÉ-EDITAL AFT
DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os

princípios da administração pública a ação ou omissão dolosa que viole os

deveres de honestidade, de imparcialidade e de legalidade, caracterizada

por uma das seguintes condutas: (Redação dada pela Lei nº 14.230, de

2021)

(...)

XI - nomear cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou

por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de

servidor da mesma pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia

ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de

confiança ou, ainda, de função gratificada na administração pública direta

e indireta em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito

Federal e dos Municípios, compreendido o ajuste mediante designações

recíprocas; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)

Todavia, o art. 11, § 5º, da Lei 8.429/92, estabelece que não se configurará improbidade a mera

nomeação ou indicação política por parte dos detentores de mandatos eletivos, sendo necessária

a aferição de dolo com finalidade ilícita por parte do agente.

Dissecando a Súmula Vinculante 13 e o dispositivo legal (art. 11, inciso XI, da Lei nº 8.429/92)

para facilitar a memorização:

 Quem não pode ser nomeado?

R: Cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau,

inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica, investido em cargo de

direção, chefia ou assessoramento

 Cônjuge,

 Companheiro

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PRÉ-EDITAL AFT
DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

 Parente em linha reta,

 Parente colateral até o 3ª grau, inclusive

 Parente por afinidade até o 3º grau, inclusive

 da autoridade nomeante ou

 de servidor da mesma pessoa jurídica, investido em cargo de direção,

chefia ou assessoramento

 Não pode ser nomeado para o que?

R.: Para o exercício de cargo em comissão ou de confiança, ou, ainda, de função gratificada na

Administração Pública direta e indireta, em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito

Federal e dos municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas viola a

Constituição Federal

 Cargo em comissão

 Cargo em confiança

 Função gratificada

Vamos relembrar...

CARGO EM COMISSÃO CARGO EM CONFIANÇA ou

FUNÇÃO DE CONFIANÇA

Cargo baseado na confiança, de Cargo também baseado na confiança,

livre nomeação e livre exoneração para atividades de direção, chefia e

(exoneração ad nutum), para assessoramento. No entanto, somente

atividades de direção, chefia e quem ocupa cargo efetivo pode ser

assessoramento. Pode ser ocupado nomeado.

por qualquer pessoa, mas deve ser

guardado um percentual para

quem já é de carreira.

30
PRÉ-EDITAL AFT
DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

CF, Art. 37, V - as funções de confiança, exercidas exclusivamente por servidores

ocupantes de cargo efetivo, e os cargos em comissão, a serem preenchidos por

servidores de carreira nos casos, condições e percentuais mínimos previstos em lei,

destinam-se apenas às atribuições de direção, chefia e assessoramento;

(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

 E o nepotismo cruzado? Também é vedado?

A parte final da súmula proíbe o nepotismo no ajuste, mediante redesignações recíprocas. Não pode

na mesma pessoa jurídica, mas também não pode trocar de parentes, não pode nepotismo cruzado.

A União concede um cargo comissionado para um primo do governador, e o governador para um

irmão do presidente. Redesignações recíprocas é o nepotismo cruzado, o que é vedado.

Já caiu em prova e foi considerada INCORRETA a seguinte afirmativa: O acordo de designações

reciprocas, a despeito de ser prática socialmente reprovada, não chega a constituir violação aos

princípios da moralidade, impessoalidade, eficiência e isonomia.

9.3.4. Princípio da publicidade

Impõe a divulgação e exteriorização dos atos do poder público, guardando relação com o

princípio democrático, ao possibilitar o controle social sobre os atos públicos. Em outras palavras: a

atuação da Administração pública deve ser sempre o mais transparente possível!

Inclusive, atualmente, nos moldes da LIA – Lei de Improbidade Administrativa, constitui-se em

ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública,

negar publicidade aos atos oficiais.

Ressalta-se ainda que a publicidade também representa condição de eficácia dos atos

administrativos, de modo que estes só começam a produzir efeitos a partir de sua publicidade. Assim,

enquanto o ato não é publicado, o particular não toma conhecimento deste, e sem tomar ciência, não

pode praticar e/ou observá-lo. Logo, não tem capacidade de ser eficiente, daí porque se fala que a

publicidade é um pressuposto de eficácia.

31
PRÉ-EDITAL AFT
DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

Requisito de eficácia dos atos administrativos = capacidade de produção de seus efeitos

É possível restringir a publicidade em casos excepcionais, conforme Artigo 5º, LX, CF:

“Artigo 5º, CF:

“LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando

a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem”.

X - São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das

pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral

decorrente de sua violação;

XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu

interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas

no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo

sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado;

Frise-se que a Lei nº 12. 527/11 (Lei de Acesso à informação) prevê a possibilidade de

restrição ao fornecimento de informações, se imprescindíveis à segurança da sociedade ou do

Estado.

Ainda segundo a Lei de Acesso à Informação, os prazos máximos de restrição de acesso à

informação, conforme a classificação, são os seguintes:

 Ultrassecreta: 25 anos;

 Secreta: 15 anos;

 Reservada: 5 anos.

Por fim, com fundamento no princípio da publicidade, o STF decidiu ser legítima a possibilidade

de divulgação de vencimentos dos servidores públicos com relação nominal. Veja:

32
PRÉ-EDITAL AFT
DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

 STF (Info 782): É legítima a publicação, inclusive em sítio eletrônico mantido pela

Administração Pública, dos nomes de seus servidores e do valor dos correspondentes

vencimentos e vantagens pecuniárias. A divulgação dos vencimentos dos servidores, a ser

realizada oficialmente, constitui informação de interesse público que não viola a intimidade

e a segurança deles, uma vez que esses dados dizem respeito a agentes públicos em

exercício nessa qualidade.

 A publicidade tem grande abrangência, não só pela divulgação oficial, mas também para

conhecimento e fiscalização interna de seus agentes.

 Instrumentos: habeas data (art. 5º, LXXII, CF); direito à informação (art. 5º, XXXIII, CF);

certidões (art. 5º, XXXIV, ‘b’, CF).

 A publicidade também é apontada pela doutrina como requisito de eficácia dos atos

administrativos.

 Enunciado 15 da I Jornada de Direito Administrativo CJF/STJ: A administração pública

promoverá a publicidade das arbitragens da qual seja parte, nos termos da Lei de Acesso à

Informação.

Mazza afirma que a publicidade dos atos administrativos tem a finalidade de: exteriorizar a

vontade da Administração Pública divulgando seu conteúdo para conhecimento público; presumir o

conhecimento do ato pelos interessados; tornar exigível o conteúdo do ato; desencadear a produção

de efeitos do ato administrativo; dar início ao prazo para interposição de recursos; indicar a fluência

dos prazos de prescrição e decadência; impedir a alegação de ignorância quanto ao conteúdo do ato,

e; permitir o controle de legalidade do comportamento.

9.3.5. Princípio da eficiência

Inserido pela EC 19/98, para substituir a Administração Pública burocrática pela gerencial,

tendo em vista a necessidade de efetivação célere das finalidades públicas elencadas no

ordenamento jurídico.

Relacionada com a necessidade de efetivação célere das finalidades públicas elencadas no

ordenamento jurídico.

33
PRÉ-EDITAL AFT
DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

Nesse sentido, o princípio da eficiência exige que a atividade administrativa seja exercida com

presteza, perfeição e rendimento funcional, sua aplicação orienta e serve de fundamento para a

construção de uma concepção de Administração Pública Gerencial.

A eficiência ganhou roupagem de direito expresso, mas ela já era exigida como princípio

implícito e já existia de forma expressa no art. 6º da lei 8987/95, que trata de serviço público. Esse

art. 6º traz o conceito de serviço adequado, exigindo a eficiência. Vejamos:

Art. 6º - Toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de serviço

adequado ao pleno atendimento dos usuários, conforme estabelecido nesta

Lei, nas normas pertinentes e no respectivo contrato.

§1º Serviço adequado é o que satisfaz as condições de regularidade,

continuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia na sua

prestação e modicidade das tarifas.

De acordo com Rafael Oliveira, a concretização dos resultados, sempre que possível, deve ser

realizada através de processo político-participativo: planejamento - planos de ação, orçamento e

prioridades, com destaque para participação da população por meio de audiências e consultas

públicas; execução - medidas concretas para satisfação dos resultados previamente delimitados, e;

controle - os órgãos controladores não devem se restringir à legalidade formal na análise da

juridicidade da ação administrativa, devendo levar em consideração os demais princípios e o alcance

dos resultados esperados.

A concretização dos resultados deve ser realizada por:

Planejamento Execução Controle

plano de ação, orçamento e medidas concretas para órgãos controladores não

prioridades satisfação dos resultados devem se restringir à

legalidade formal na análise

da juridicidade da ação

administrativa, devendo levar

em conta os demais princípios

e alcance dos resultados.

34
PRÉ-EDITAL AFT
DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

OBSERVAÇÃO: trata-se de norma de aplicabilidade imediata.

- Exemplo de aplicação: avaliação periódica de desempenho dos servidores públicos (Art. 41,

CF):

­ avaliação especial de desempenho - art. 41, §4º, “como condição para aquisição da

estabilidade, é obrigatória a avaliação especial de desempenho por comissão instituída para

esse fim”.

­ avaliação periódica de desempenho - art. 41, III, da CF “mediante procedimento de avaliação

periódica de desempenho, na forma da lei complementar, assegurada ampla defesa”.

­ regra limitadora com gastos de pessoal (art. 169, CF).

Já caiu em prova e foi considerada CORRETA a seguinte assertiva: Tanto o modo de atuação do

agente público quanto o modo de organizar, estruturar e disciplinar a Administração Pública, a fim

de alcançar os melhores resultados, são aspectos a serem considerados na definição do princípio da

eficiência

9.4. Outros princípios administrativos

9.4.1. Princípio da razoabilidade e proporcionalidade – prevalece a tese de fungibilidade dos


princípios.

Segundo Rafael Oliveira, existe polêmica quanto à existência ou não de diferenças entre os

princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. No entanto, tem prevalecido a tese da

fungibilidade entre os citados, os quais se entremeiam através de ideais de igualdade, justiça

material e racionalidade, traduzindo-se com relevantes instrumentos de contenção dos possíveis

excessos cometidos pelo Poder Público.

O princípio da razoabilidade surge no direto anglo-saxão, ao passo que o princípio da

proporcionalidade surge no direito germânico.

35
PRÉ-EDITAL AFT
DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

A razoabilidade é a coerência, lógica, congruência, equilíbrio, tendo sempre por base o padrão

do homem médio. Ela proíbe os excessos, as condutas insensatas. O administrador tem que agir com

bom senso, com equilíbrio.

Para os administrativistas, o princípio da proporcionalidade está embutido no princípio da

razoabilidade, pois prevalece a tese de fungibilidade dos princípios.

OBSERVAÇÃO:

Não se esqueça que estamos diante de um princípio implícito, ok?

Subdivide-se em 03 subprincípios:

I) Adequação ou idoneidade: o ato estatal deverá contribuir para a realização do resultado

pretendido.

II) Necessidade ou exigibilidade: caso existam duas medidas adequadas para alcançar o fim

perseguido, o Poder Público deve adotar a medida menos gravosa aos direitos fundamentais.

III) Proporcionalidade em sentido estrito: é a ponderação, no caso concreto, entre o ônus

imposto pela atuação estatal e o benefício por ela produzido, razão pela qual a restrição ao direito

fundamental deve ser justificada pela importância do princípio ou direito.

ATENÇÃO!

O princípio da proporcionalidade é, ainda, um limite à discricionariedade do legislador, que, muitas

vezes, ultrapassa uma linha tênue e se torna arbitrariedade (a qual é vedada no ordenamento jurídico

brasileiro). Assim, mesmo que se trate de um ato administrativo discricionário, se tal ato não

obedecer ao princípio da proporcionalidade/razoabilidade, será possível a interferência do Poder

Judiciário sem que isso acarrete violação à Separação de Poderes. Isso porque tais princípios,

embora implícitos, são princípios constitucionais que decorrem do devido processo legal. Nesse caso,

o Poder Judiciário realiza o controle de legalidade em sentido amplo, isto é, o controle do ato em

relação a leis infraconstitucionais e à própria CF. Por ess emotivo a doutrina trata desses princípios

como limitadores da liberdade e discricionariedade do administrador.

36
PRÉ-EDITAL AFT
DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

9.4.2. Princípio da supremacia do interesse público sobre o privado (princípio da finalidade


pública)

O interesse público divide-se em (doutrina italiana):

 Interesse público primário: Necessidade de satisfação das necessidades coletivas. É o

interesse com as necessidades sociais;

 Interesse público secundário: É o interesse do próprio Estado, enquanto sujeito de direitos e

obrigações, ligando-se à noção de interesse do erário. É o interesse do Estado com si próprio, como

pessoa jurídica de direito público que é.

Assim, pelo princípio, há uma primazia de soluções e decisões que atendam ao interesse

coletivo, em detrimento do interesse de um único indivíduo ou grupo seleto de indivíduos.

Segundo Odete Medauar, a finalidade da atuação da Administração Pública está respaldada

no atendimento do interesse público e o desvirtuamento dessa finalidade suscita o vício do desvio

de poder ou desvio de finalidade.

Interesse público primário x Interesse público secundário: O interesse primário é composto

pelas necessidades da sociedade, ou seja, dos cidadãos enquanto partícipes da coletividade, não se

confundindo com a vontade da máquina estatal, a qual configura o interesse secundário.

Nesse sentido, faz-se relevante um julgado do STJ que, apesar de ter sido tomado com base

na Lei 8.666/93, pode ser aplicado à Lei 14.133/21. Vejamos:

Não se amolda à hipótese de dispensa de licitação prevista no art. 24, II,


da Lei n. 8.666/1993 a situação em que, contratada organizadora para a
realização de concurso público por valor inferior ao limite previsto no
referido dispositivo, tenha-se verificado que a soma do valor do contrato
com o total arrecado a título de taxa de inscrição supere o limite de
dispensa previsto no aludido inciso. A Constituição da República estabelece
como regra a obrigatoriedade da realização de licitação, que é desnecessária
nas excepcionais hipóteses previstas em lei, como na dispensa para a
contratação de serviços de valor inferior ao limite estabelecido no art. 24, II,
da Lei n. 8.666/1993. Não cabe ao intérprete criar novos casos de dispensa,
sobretudo porquanto a licitação é destinada a garantir a observância do
princípio constitucional da isonomia e a seleção da proposta mais vantajosa
37
PRÉ-EDITAL AFT
DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

para a administração (art. 3º da Lei n. 8.666/93). Nesse contexto, ainda que


os valores recolhidos como taxa de inscrição não sejam públicos, a adequada
destinação deles é de interesse público primário. Mesmo que a contratação
direta de banca realizadora de concurso sem licitação não afete o interesse
público secundário (direitos patrimoniais da Administração Pública), é
contrária ao interesse público primário, pois a destinação de elevado
montante de recursos a empresa privada ocorrerá sem o processo
competitivo, violando, dessa maneira, o princípio da isonomia. 1

9.4.3. Princípio da autotutela ou sindicabilidade

Poder-dever da Administração rever os seus próprios atos, seja para anulá-los ou revoga-los.

A Administração pode ser provocada para rever seus próprios atos, podendo ser feito o controle de

ofício também; diferentemente do Poder Judiciário, que não pode atuar no exercício do controle das

atividades estatais sem que haja provocação para tanto.

Pelo princípio da autotutela, também denominado de sindicabilidade, a administração pública

tem a prerrogativa de rever os seus próprios atos independentemente de provocação, seja para

revogá-los ou para anulá-los, fala-se que este controle pode ser de legalidade ou de mérito. Quando

ilegal o ato será anulado, quando inoportuno ou inconveniente será revogado.

Ressalta-se que o princípio da autotutela não afasta a possibilidade de controle de legalidade

pelo Poder Judiciário (não afasta a tutela jurisdicional), em razão do Sistema de Jurisdição Una.

ATO ILEGAL ATO INCONVENIENTE/INOPORTUNO

ANULAÇÃO REVOGAÇÃO

efeitos ex tunc efeitos ex nunc

Entendimento importantes:

 Súmula 346 STF: A administração pública pode declarar a nulidade dos seus próprios atos.

1
REsp 1.356.260-SC, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 7/2/2013 (Informativo nº 0516).
38
PRÉ-EDITAL AFT
DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

 Súmula 473 STF: A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de

vícios que os tornam ilegais, porque dêles não se originam direitos; ou revogá-los, por

motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada,

em todos os casos, a apreciação judicial.

 Enunciado 20 da I Jornada de Direito Administrativo CJF/STJ: O exercício da autotutela

administrativa, para o desfazimento do ato administrativo que produza efeitos concretos

favoráveis aos seus destinatários, está condicionado à prévia intimação e oportunidade de

contraditório aos beneficiários do ato.

Já caiu em prova e foi considerada correta a seguinte afirmativa: A autotutela caracteriza-se por

permitir que a Administração Pública reveja seus próprios atos, revogando-os por motivo de

interesse público (oportunidade e conveniência), assim como anulando os atos inquinados pela

ilicitude.

Cuidado (1): Não confundir autotutela com autoexecutoriedade!

 Autotutela: Designa o poder-dever de corrigir ilegalidades e de garantir o interesse público

dos atos editados pela própria Administração;

 Autoexecutoriedade: Prerrogativa de imposição da vontade administrativa,

independentemente de recurso ao Poder Judiciário.

Cuidado (2): Não confundir autotutela com tutela!

 Autotutela: o princípio da autotutela autoriza a administração a realizar controle dos seus

atos, podendo anular os ilegais e revogar os inconvenientes ou inoportunos,

independentemente de decisão do Poder Judiciário.

 Tutela: pelo princípio da tutela, a administração exerce controle sobre pessoa jurídica por ela

instituída, com o objetivo de garantir a observância de suas finalidades institucionais. (=

supervisão ministerial = controle finalístico)

39
PRÉ-EDITAL AFT
DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

A Administração Pública deve observar algum requisito quando for anular atos ilegais?

O princípio da autotutela administrativa preleciona que a Administração Pública

possui o poder-dever de rever os seus próprios atos, seja para anulá-los por vício de

legalidade, seja para revogá-los por questões de conveniência e de oportunidade conforme

art. 53 da Lei 9.784/99 e Súmulas 346 e 473 do STF.

O STF possui entendimento, contudo, no sentido de que, a despeito deste poder-dever

de anular os atos ilegais, se a invalidação do ato administrativo repercutir no campo de

interesses individuais, faz-se necessária a instauração de processo administrativo que

assegure o devido processo legal e a ampla defesa (Informativo 763 do STF).

A Administração Pública pode anular seus próprios atos quando estes forem ilegais. No

entanto, se a invalidação do ato administrativo repercute no campo de interesses individuais, faz-

se necessária a instauração de procedimento administrativo que assegure o devido processo

legal e a ampla defesa. Assim, a prerrogativa de a Administração Pública controlar seus próprios

atos não dispensa a observância do contraditório e ampla defesa prévios em âmbito

administrativo. STF. 2ª Turma. RMS 31661/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 10/12/2013

(Info 732). STF. Plenário. MS 25399/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 15/10/2014 (Info

763).

Além disso, o art. 54 da lei 9.784/99 estipula que o direito da Administração de anular

os atos administrativos de que decorram efeitos favoráveis aos destinatários decai em 5 anos,

contados da data em que foram praticados, salvo comprovada má fé.

Art. 54. O direito da Administração de anular os atos administrativos de

que decorram efeitos favoráveis para os destinatários decai em cinco anos,

contados da data em que foram praticados, salvo comprovada má-fé.

Trata-se, portanto, de um prazo para o exercício da autotutela. Ressalta-se que, em

princípio, a Lei nº 9.784/99 deveria regular apenas e unicamente o processo administrativo no

âmbito da Administração Federal direta e indireta. O processo administrativo na esfera dos

Estados e dos Municípios deve ser tratado por meio de legislação a ser editada por cada um desses

entes, em virtude da autonomia legislativa que gozam para regular a matéria em seus territórios.

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PRÉ-EDITAL AFT
DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

No entanto, o STJ entende que, se o Estado ou o Município não possuir em sua legislação

previsão de prazo decadencial para a anulação dos atos administrativos, deve-se aplicar, por

analogia integrativa, o art. 54 da Lei nº 9.784/99. Essa conclusão é baseada nos princípios da

razoabilidade e da proporcionalidade. O entendimento acima resultou na edição da Súmula 633

do STJ. Vejamos:

Súmula 633-STJ: A Lei 9.784/99, especialmente no que diz respeito ao

prazo decadencial para revisão de atos administrativos no âmbito da

administração pública federal, pode ser aplicada de forma subsidiária aos

Estados e municípios se inexistente norma local e específica regulando a

matéria.

Veja uma recente jurisprudência mitigando esse prazo decadencial de 5 anos:

Mesmo depois de terem se passado mais de 5 anos, a Administração

Pública pode anular a anistia política concedida quando se comprovar a

ausência de perseguição política, desde que respeitado o devido

processo legal e assegurada a não devolução das verbas já recebidas

No exercício do seu poder de autotutela, poderá a Administração Pública

rever os atos de concessão de anistia a cabos da Aeronáutica com

fundamento na Portaria 1.104/1964, quando se comprovar a ausência de

ato com motivação exclusivamente política, assegurando-se ao anistiado,

em procedimento administrativo, o devido processo legal e a não

devolução das verbas já recebidas. Ex: 2003, João, ex-militar da

Aeronáutica, recebeu anistia política, concedida por meio de portaria do

Ministro da Justiça. Em 2006, a AGU emitiu nota técnica fazendo alguns

questionamentos sobre a forma indevida pela qual estavam sendo

concedidas anistias políticas, dentre elas a que foi outorgada a João. Em

2011, o Ministro da Justiça determinou que fossem revistas as concessões

de anistia de inúmeros militares, inclusive a de João. Em 2012, foi aberto

processo administrativo para examinar a situação de João e, ao final,

41
PRÉ-EDITAL AFT
DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

determinou-se a anulação da anistia política. Mesmo tendo-se passado

mais de 5 anos, a anulação do ato foi possível, seja por força da parte final

do art. 54 da Lei nº 9.784/99, seja porque o prazo decadencial do art. 54

da Lei nº 9.784/99 não se aplica quando o ato a ser anulado afronta

diretamente a Constituição Federal. STF. Plenário. RE 817338/DF, Rel.

Min. Dias Toffoli, julgado em 16/10/2019 (repercussão geral – Tema 839)

(Info 956). É possível a anulação do ato de anistia pela Administração

Pública, evidenciada a violação direta do art. 8º do ADCT, mesmo quando

decorrido o prazo decadencial contido na Lei nº 9.784/99. STJ. 1ª Seção.

MS 19070-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. Acd. Min. Og

Fernandes, julgado em 12/02/2020 (Info 668).

No mesmo sentido STJ julgou: Mesmo depois de terem se passados mais de 5 anos, a

Administração Pública pode anular a anistia política concedida quando se comprovar a ausência

de perseguição política, desde que respeitado o devido processo legal e assegurada a não

devolução das verbas já recebidas. (STF. Plenário. RE 817338/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado

em 16/10/2019 - Info 956)

Ademais, o prazo decadencial do art. 54 da Lei nº 9.784/99 não se aplica quando o ato a

ser anulado afronta diretamente a Constituição Federal. Veja:

Não existe direito adquirido à efetivação na titularidade de cartório quando

a vacância do cargo ocorre na vigência da CF/88, que exige a submissão a

concurso público (art. 236, § 3º). O prazo decadencial do art. 54 da Lei nº

9.784/99 não se aplica quando o ato a ser anulado afronta diretamente a

Constituição Federal. O art. 236, § 3º, da CF é uma norma constitucional

autoaplicável. Logo, mesmo antes da edição da Lei 8.935/1994 ela já tinha

plena eficácia e o concurso público era obrigatório como condição para o

ingresso na atividade notarial e de registro. STF. Plenário. MS 26860/DF,

Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 2/4/2014 (Info 741)

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PRÉ-EDITAL AFT
DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

Em decisão na qual se evidencie não acarretarem lesão ao interesse público nem

prejuízo a terceiros, os atos que apresentarem defeitos sanáveis poderão ser convalidados

pela própria Administração.

OBSERVAÇÃO:

Recentemente, STF decidiu que, em regra, o prazo decadencial para que a Administração

anule atos administrativos inválidos é de 5 anos, aplicável a todos os entes federativos, por força

do princípio da isonomia, ou seja:

É inconstitucional lei estadual que estabeleça prazo decadencial de 10

(dez) anos para anulação de atos administrativos reputados inválidos pela

Administração Pública estadual.

STF. Plenário. ADI 6019/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, redator do acórdão

Min. Roberto Barroso, julgado em 12/4/2021 (Info 1012).

9.4.4. Princípio da segurança jurídica e legítima confiança

O princípio da segurança jurídica é um fundamento geral do ordenamento, sendo aplicável a

todos os ramos do Direito. Seu conteúdo volta-se à garantia de estabilidade, ordem, paz social e

previsibilidade das atuações estatais. Alinha-se à finalidade primeira da ordem jurídica que é

propiciar segurança e estabilidade no convívio social, evitando mudanças abruptas, sobressaltos e

surpresas decorrentes de ações governamentais. Em termos práticos seu principal emprego no

Direito Administrativo está na proibição de aplicação retroativa de novas interpretações de

dispositivos legais e normas administrativas. É nesse sentido que deve ser compreendida a regra

prevista no art. 2º, parágrafo único, XIII, da Lei n. 9.784/99:

“Nos processos administrativos serão observados, entre outros, os critérios

de: (...)

43
PRÉ-EDITAL AFT
DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

XIII – interpretação da norma administrativa da forma que melhor garanta o

atendimento do fim público a que se dirige, vedada aplicação retroativa de

nova interpretação”.

Tem expressa previsão no art. 2º, parágrafo único, da Lei n. 9.784/99, que regula o processo

administrativo no âmbito federal, in verbis:

“A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da

legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade,

moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público

e eficiência”.

De acordo com entendimento do Supremo Tribunal Federal, a segurança jurídica é também

princípio constitucional na posição de subprincípio do Estado de Direito (MS 24.268/MG).

Segundo Maria Di Pietro, o direito administrativo brasileiro herdou do direito alemão (já caiu

em prova) a inspiração para aplicação do princípio da segurança jurídica, especialmente sob o

aspecto subjetivo da proteção à confiança.

Quanto ao princípio da segurança jurídica, pode ele ser analisado em duas acepções. Em

sentido objetivo, estabelece limites à retroatividade dos atos estatais, impedindo que prejudiquem o

direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada (art. 5º, XXXVI, da CF). Pode ser invocado

tanto pelo Estado quanto por particulares. Em sentido subjetivo, é também denominado de princípio

da proteção à confiança legítima. Seu conteúdo exige uma previsibilidade ou calculabilidade

emanada dos atos estatais (Canotilho).

Objetivo Subjetivo

estabilização do ordenamento jurídico proteção a confiança das pessoas em relação às

expectativas geradas por promessas e atos

estatais. É princípio autônomo.

Segundo Rafael Oliveira, os princípios da segurança jurídica, da confiança legítima e da boa-fé

guardam importantes semelhanças entre si.

44
PRÉ-EDITAL AFT
DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

Segurança jurídica Legítima confiança

possui caráter amplo, aplicado às relações tutela apenas a esfera jurídica do particular,

públicas e privadas protegendo-o da atuação arbitrária do Estado.

A noção de proteção da confiança legítima aparece como uma reação à utilização abusiva de

normas jurídicas ou atos administrativos que surpreendam bruscamente o seu destinatário. Um

exemplo de aplicação do princípio da legítima confiança diz respeito à impossibilidade de devolução

de valores recebidos de boa-fé por servidores públicos, em virtude de errônea interpretação de lei

pela Administração:

STJ (Info 579): Os herdeiros devem restituir os proventos que, por erro

operacional da Administração Pública, continuaram sendo depositados em

conta de servidor público após o seu falecimento. Não se analisa aqui se o

herdeiro estava ou não de boa-fé. O herdeiro é obrigado a devolver porque

ele não tem qualquer razão jurídica para ficar com aquele dinheiro em

prejuízo da Administração Pública. Não havia nenhuma relação jurídica entre

o herdeiro e o Estado. O fundamento aqui é o princípio que veda o

enriquecimento sem causa (art. 884 do CC).

Súmula 249 TCU: É dispensada a reposição de importâncias indevidamente

percebidas, de boa-fé, por servidores ativos e inativos, e pensionistas, em

virtude de erro escusável de interpretação de lei por parte do órgão/entidade,

ou por parte de autoridade legalmente investida em função de orientação e

supervisão, à vista da presunção de legalidade do ato administrativo e do

caráter alimentar das parcelas salariais.

A proteção à confiança só pode ser invocada pelo particular, nunca pelo Estado. Em nome do

princípio da proteção à confiança legítima, é possível obter a manutenção de atos administrativos

ilegais, sempre com o objetivo de preservar a paz social e a estabilidade das relações.

Requisitos para configurar a confiança legítima:

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PRÉ-EDITAL AFT
DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

 Ato da administração suficientemente conclusivo para gerar no administrado confiança:

· De que a Administração atuou corretamente;

· De que a conduta do afetado é lícita na relação jurídica que mantém com a

Administração;

· Confiança do afetado de que as suas expectativas são razoáveis.

 Presença de signos externos que orientam o cidadão a adotar determinada conduta;

 Ato da administração que reconhece ou constitui uma situação jurídica individualizada, cuja

durabilidade é confiável;

 Causa idônea para provocar a confiança do afetado;

 Cumprimento, pelo interessado, dos seus deveres e obrigações no caso.

Quando NÃO se aplica o princípio da confiança legítima:

 Hipóteses de má-fé do administrado;

 Não pode existir mera expectativa de direitos pelo interessado.

Não impede que o poder público realize novas interpretações em relação às normas jurídicas

e às disposições legais atinentes a suas condutas. O que se proíbe é que esta nova interpretação

retroaja, de forma a prejudicar situações previamente consolidadas no ordenamento jurídico.

Vale ressaltar a importância da boa-fé trazida por Rafael Oliveira como princípio semelhante

à segurança jurídica, vez que a boa-fé deve pautar a atuação do Estado e do particular.

Nos termos do art. 54 da Lei n. 9.784/99, a Administração tem o prazo de 5 anos para anular

seus atos defeituosos, quando favoráveis aos destinatários, salvo comprovada má-fé. Por isso, após

a prazo de 5 anos, estando o servidor de boa-fé, o princípio da segurança jurídica promove a

incorporação definitiva da vantagem ao patrimônio do beneficiário proibindo a retirada do benefício.

TEORIA DOS ATOS PRÓPRIOS

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PRÉ-EDITAL AFT
DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

Especificamente no que tange à confiança legítima, faz-se necessário pontuar uma de suas

decorrências, a teoria dos atos próprios, ou venire contra factum proprium. Segundo Rafael Oliveira

(grifos nossos),

A teoria dos atos próprios encontra fundamento no princípio da confiança


legítima, mas com ela não se confunde: de um lado, a teoria dos atos
próprios pressupõe a legalidade do ato anterior vinculante e a prática de atos
contraditórios na mesma relação jurídica; de outro lado, a confiança legítima
incide nas hipóteses de atos estatais válidos ou inválidos. A teoria dos atos
próprios pressupõe, necessariamente, a existência da confiança legítima,
mas a recíproca não é verdadeira. O princípio da proteção da confiança
legítima tem acepção abrangente que não se restringe à teoria dos atos
próprios.

Para a aplicação dessa teoria, deve-se observar 3 requisitos:

1. Identidade subjetiva e objetiva: os atos anterior e posterior devem emanar da

mesma administração e ser editados no âmbito da mesma relação jurídica;

2. Conduta anterior válida e unívoca, apta a gerar expectativa legítima no

administrado;

3. Atuação contraditória: o ato posterior é incompatível com o ato anterior.

A partir de tais balizas indicadas por Rafael Oliveira, vê-se que um ato da Administração não

pode prevalecer se for contraditório a ato válido anterior, emanado da mesma pessoa jurídica (e não

de pessoa jurídica distinta, haja vista inexistir hierarquia). O professor dá, ainda, dois exemplos: não

pode a Administração multar um veículo por irregularidades encontradas assim que devidamente

finalizados a vistoria e o licenciamento; e não pode o Município deixar de lotear imóveis urbanos que

ele mesmo alienou aos particulares.

Assim, conforme citado acima, a teoria dos atos próprios constitui vertente específica do

princípio da confiança legítima, com aplicação equivalente à vedação do venire contra factum

proprium no direito civil, em um paralelo com a boa-fé objetiva que deve informar todas as relações

jurídicas.

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PRÉ-EDITAL AFT
DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

9.4.5. Presunção de Legitimidade ou Presunção de Legalidade

Os atos administrativos são protegidos por uma presunção relativa (juris tantum) de que foram

praticados em conformidade com o ordenamento jurídico. Por isso, até prova em contrário, os atos

administrativos são considerados válidos para o Direito, cabendo ao particular o ônus de provar

eventual ilegalidade na sua prática. Em razão dessa presunção, mesmo que o ato administrativo

tenha vício de ilegalidade (ato nulo) fica garantida sua produção de efeitos, até o momento de sua

retirada por meio da invalidação.

9.4.6. Princípio da Continuidade do Serviço Público

A atuação administrativa, buscando atender da melhor forma o interesse público, preconiza

que a atividade do Estado deve ser prestada de forma contínua, ou seja, sem interrupções, motivo

pelo qual o princípio da continuidade veda a interrupção na prestação dos serviços públicos.

Está expressamente previsto no art. 6º, § 1º, da Lei n. 8.987/95, e seu fundamento reside no

fato de a prestação de serviços públicos ser um dever constitucionalmente estabelecido (art. 175 da

CF/88), localizando-se, portanto, acima da vontade da Administração Pública, que não tem escolha

entre realizar ou não a prestação.

Art. 6º Toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de serviço

adequado ao pleno atendimento dos usuários, conforme estabelecido nesta

Lei, nas normas pertinentes e no respectivo contrato.

§ 1o Serviço adequado é o que satisfaz as condições de regularidade,

continuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia na sua

prestação e modicidade das tarifas.

CF, Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob

regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação

de serviços públicos.

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PRÉ-EDITAL AFT
DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

Entretanto, o art. 6º, § 3º, da Lei n. 8.987/95, de acordo com o entendimento doutrinário

majoritário e da jurisprudência do STJ, autoriza o corte no fornecimento do serviço, após prévio aviso,

nos casos de:

a) razões de ordem técnica ou de segurança das instalações; e

b) inadimplemento do usuário.

§ 3º Não se caracteriza como descontinuidade do serviço a sua interrupção

em situação de emergência ou após prévio aviso, quando:

I - motivada por razões de ordem técnica ou de segurança das instalações; e,

II - por inadimplemento do usuário, considerado o interesse da coletividade.

§ 4 A interrupção do serviço na hipótese prevista no inciso II do § 3º deste

artigo não poderá iniciar-se na sexta-feira, no sábado ou no domingo, nem

em feriado ou no dia anterior a feriado. (Incluído pela Lei nº 14.015, de

2020)

OBSERVAÇÃO:

O aviso prévio dado através de comunicado em rádio de amplo alcance satisfaz as condições

de aviso prévio, haja vista se tratar de um dos meios mais populares e o de maior alcance público,

motivo pelo qual há de se reconhecer a validade e eficácia do ato administrativo. Veja a

jurisprudência do STJ nesse sentido:

Em regra, o serviço público deverá ser prestado de forma contínua, ou seja,

sem interrupções (princípio da continuidade do serviço público).

Excepcionalmente, será possível a interrupção do serviço público nas

seguintes hipóteses previstas no art. 6º, § 3º da Lei n.º 8.987/95: a) Em caso

de emergência (mesmo sem aviso prévio); b) Por razões de ordem técnica ou

de segurança das instalações, desde que o usuário seja previamente avisado;

c) Por causa de inadimplemento do usuário, desde que ele seja previamente

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PRÉ-EDITAL AFT
DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

avisado. Se a concessionária de energia elétrica divulga, por meio de aviso

nas emissoras de rádio do Município, que haverá, daqui a alguns dias, a

interrupção do fornecimento de energia elétrica por algumas horas em

virtude de razões de ordem técnica, este aviso atende a exigência da Lei nº

8.987/95? SIM. A divulgação da suspensão no fornecimento de serviço de

energia elétrica por meio de emissoras de rádio, dias antes da interrupção,

satisfaz a exigência de aviso prévio, prevista no art. 6º, § 3º, da Lei nº

8.987/95. STJ. 1ª Turma. REsp 1270339-SC, Rel. Min. Gurgel de Faria,

julgado em 15/12/2016 (Info 598).

OBSERVAÇÃO:

A interrupção por inadimplemento do usuário não pode paralisar serviços essenciais, como,

por exemplo, corte de energia elétrica do hospital público/iluminação pública. Nos chamados

“serviços essenciais”, mantém-se o serviço e prossegue com a cobrança paralelamente.

Nesse sentido, vale destacar que, recentemente, o STJ entendeu que é possível o corte de

energia elétrica por fraude no medidor, DESDE que sejam observados alguns requisitos.

Na hipótese de débito estrito de recuperação de consumo efetivo por fraude no aparelho

medidor atribuída ao consumidor, desde que apurado em observância aos princípios do contraditório

e da ampla defesa, é possível o corte administrativo do fornecimento do serviço de energia elétrica,

mediante prévio aviso ao consumidor, pelo inadimplemento do consumo recuperado correspondente

ao período de 90 (noventa) dias anterior à constatação da fraude, contanto que executado o corte

em até 90 (noventa) dias após o vencimento do débito, sem prejuízo do direito de a concessionária

utilizar os meios judiciais ordinários de cobrança da dívida, inclusive antecedente aos mencionados

90 (noventa) dias de retroação. STJ. 1ª Seção. REsp 1412433-RS, Rel. Min. Herman Benjamin,

julgado em 25/04/2018 (recurso repetitivo) (Info 634). NOVIDADE LEGISLATIVA - Lei nº

14.015/2020 Alterou a Lei nº 8.987/95 e a Lei nº 13.460/2017 para deixar mais explícito que é

possível a interrupção do serviço público em caso de inadimplemento do usuário, desde que ele seja

previamente avisado.

Podem ser apontados diversos desdobramentos normativos decorrentes do princípio da

continuidade dos serviços públicos, dentre os quais:

50
PRÉ-EDITAL AFT
DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

a) o direito de greve dos servidores públicos será exercido nos termos e nos limites definidos

em lei específica (art. 37, VII, da CF). Lembre-se que o policial civil não pode fazer greve!!!

Policias civis são proibidos de fazer greve. O exercício do direito de greve, sob

qualquer forma ou modalidade, é vedado aos policiais civis e a todos os

servidores públicos que atuem diretamente na área de segurança pública.

STF. Plenário. ARE 654432/GO, Rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min.

Alexandre de Moraes, julgado em 5/4/2017 (repercussão geral) (Info 860).

Explicação via Dizer o Direito (muito importante para fundamentar em uma prova discursiva!)

Direito de greve é incompatível com a carreira policial

Não é possível compatibilizar que o braço armado do Estado faça greve

porque isso colocaria em risco a segurança pública, a ordem e a paz social.

Os integrantes das carreiras policiais possuem o dever de fazer intervenções

e prisões em flagrante, sendo isso inconciliável com o exercício da greve.

Como já afirmado, não há possibilidade de nenhum outro órgão da iniciativa

privada suprir a atividade policial. Se esta entra em greve, não há como sua

função ser substituída.

Vale ressaltar que a atividade policial, além de ser importantíssima por si só,

se for paralisada, afetará também as atribuições do Ministério Público e do

próprio Poder Judiciário.

Greve não é direito absoluto

A greve não é um direito absoluto e, neste caso, deverá ser feito um

balanceamento entre o direito de greve e o direito de toda a sociedade à

segurança pública e à manutenção da ordem pública e paz social.

Neste caso, há a prevalência do interesse público e do interesse social sobre

o interesse individual de uma categoria. Por essa razão, em nome da

segurança pública, os policiais não podem fazer greve.

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PRÉ-EDITAL AFT
DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

Importante destacar que a ponderação de interesses aqui não envolve direito

de greve X continuidade do serviço público. A greve dos policiais é proibida

não por causa do princípio da continuidade do serviço público (o que seria

muito pouco), mas sim por conta do direito de toda a sociedade à garantia da

segurança pública, à garantia da ordem pública e da paz social.

b) restrição à aplicabilidade da exceptio non adimpleti contractus, pois o contratado

só pode interromper a execução do contrato após atraso superior a 2 (dois) meses,

contado da emissão da nota fiscal, dos pagamentos ou de parcelas de pagamentos

devidos pela Administração por despesas de obras, serviços ou fornecimentos (art.

137, §2º, IV, da Lei n. 14.133/2021);

c) possibilidade de intervenção na concessionária para garantia de continuidade na

prestação do serviço (art. 32 da Lei n. 8.987/95);

Art. 32. O poder concedente poderá intervir na concessão, com o fim de

assegurar a adequação na prestação do serviço, bem como o fiel

cumprimento das normas contratuais, regulamentares e legais pertinentes.

Parágrafo único. A intervenção far-se-á por decreto do poder concedente,

que conterá a designação do interventor, o prazo da intervenção e os

objetivos e limites da medida.

d) ocupar provisoriamente bens móveis e imóveis e utilizar pessoal e serviços

vinculados ao objeto do contrato nas hipóteses de: a) risco à prestação de serviços

essenciais; b) necessidade de acautelar apuração administrativa de faltas contratuais

pelo contratado, inclusive após extinção do contrato. (art. 104, da Lei n. 14.133/2021);

Art. 58. O regime jurídico dos contratos administrativos instituído por esta

Lei confere à Administração, em relação a eles, a prerrogativa de:

V - nos casos de serviços essenciais, ocupar provisoriamente bens móveis,

imóveis, pessoal e serviços vinculados ao objeto do contrato, na hipótese da

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PRÉ-EDITAL AFT
DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

necessidade de acautelar apuração administrativa de faltas contratuais pelo

contratado, bem como na hipótese de rescisão do contrato administrativo.

e) reversão de bens do concessionário indispensáveis à continuidade do serviço (art. 36

da Lei n. 8.987/95);

Art. 36. A reversão no advento do termo contratual far-se-á com a

indenização das parcelas dos investimentos vinculados a bens reversíveis,

ainda não amortizados ou depreciados, que tenham sido realizados com o

objetivo de garantir a continuidade e atualidade do serviço concedido.

f) encampação do contrato de concessão mediante a retomada do serviço pelo

concedente (art. 37 da Lei n. 8.987/95);

Art. 37. Considera-se encampação a retomada do serviço pelo poder

concedente durante o prazo da concessão, por motivo de interesse público,

mediante lei autorizativa específica e após prévio pagamento da indenização,

na forma do artigo anterior.

g) suplência, delegação e substituição de servidores públicos (Lei n. 8.112/90).

CESPE/2016 (Adaptada) - Decorre do princípio da continuidade do serviço público a possibilidade

de preencher, mediante institutos como a delegação e a substituição, as funções públicas

temporariamente vagas. Item correto.

JURISPRUDÊNCIA EM TESE – STJ

 É legítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais quando inadimplente

o usuário, desde que precedido de notificação.

 É legítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais por razões de ordem

técnica ou de segurança das instalações, desde que precedido de notificação.

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PRÉ-EDITAL AFT
DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

 É ilegítimo o corte no fornecimento de energia elétrica quando puder afetar o direito à

saúde e à integridade física do usuário.

 É legítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais quando inadimplente

pessoa jurídica de direito público, desde que precedido de notificação e a interrupção não

atinja as unidades prestadoras de serviços indispensáveis à população.

 É ilegítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais quando inadimplente

unidade de saúde, uma vez que prevalecem os interesses de proteção à vida e à saúde.

 É ilegítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais quando a

inadimplência do usuário decorrer de débitos pretéritos, uma vez que a interrupção

pressupõe o inadimplemento de conta regular, relativa ao mês do consumo.

 É ilegítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais por débitos de usuário

anterior, em razão da natureza pessoal da dívida.

 É ilegítimo o corte no fornecimento de energia elétrica em razão de débito irrisório, por

configurar abuso de direito e ofensa aos princípios da proporcionalidade e razoabilidade,

sendo cabível a indenização ao consumidor por danos morais.

 É ilegítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais quando o débito

decorrer de irregularidade no hidrômetro ou no medidor de energia elétrica, apurada

unilateralmente pela concessionária.

 O corte no fornecimento de energia elétrica somente pode recair sobre o imóvel que

originou o débito, e não sobre outra unidade de consumo do usuário inadimplente.

9.4.7 Princípio da Isonomia ou da Igualdade

O princípio da isonomia é preceito fundamental do ordenamento jurídico que impõe ao

legislador e à Administração Pública o dever de dispensar tratamento igual a administrados que se

encontram em situação equivalente. Exige, desse modo, uma igualdade na lei e perante a lei

(material e formal).

Seu fundamento constitucional é o art. 5º, caput, da Constituição Federal. O princípio da

isonomia é o fundamento valorativo de diversos institutos administrativos, com o concurso público

e o dever de licitar.

54
PRÉ-EDITAL AFT
DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

Na acepção material, a isonomia significa tratar os desiguais na medida de sua desigualdade.

Assim, não haverá descumprimento da isonomia quando existir correlação lógica entre o critério de

discrímen e a discriminação legal decidida em função dele. Assim, a chave para investigar a

compatibilidade de um tratamento desigual, diante do princípio da isonomia, está na verificação de

que o fator de discriminação (idade, sexo, tempo de serviço, período de experiência, nível de

escolaridade) é coerente com a diferenciação realizada e com os princípios fundamentais protegidos

pelo ordenamento. Em outras palavras, deve haver justa razão explicando a distinção perpetrada.

Exemplos de sua aplicação:

- Súmula 683 do STF: o limite de idade para a inscrição em concurso público

só se legitima em face do art. 7º, XXX, da Constituição, quando possa ser

justificado pela natureza das atribuições do cargo a ser preenchido.

- Súmula 684 do STF: é inconstitucional o veto não motivado à participação

de candidato a concurso.

- Súmula 686 do STF: só por lei se pode sujeitar a exame psicotécnico a

habilitação de candidato a cargo público.

9.4.8. Princípio da Motivação

Impõe à Administração Pública o dever de indicação dos pressupostos de fato e de direito que

determinaram a prática do ato (art. 2º, parágrafo único, VII, da Lei n. 9.784/99). Assim, a validade do

ato administrativo está condicionada à apresentação por escrito dos fundamentos fáticos e jurídicos

justificadores da decisão adotada.

Art. 2º A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da

legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade,

moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público

e eficiência.

Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre

outros, os critérios de:

55
PRÉ-EDITAL AFT
DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

VII - indicação dos pressupostos de fato e de direito que determinarem a

decisão;

Trata-se de um mecanismo de controle sobre a legalidade e legitimidade das decisões da

Administração Pública. Está previsto no art. 93, X, da CF/88 e no art. 50 da Lei 9.784/99. Apesar de

haver divergência, a corrente majoritária defende que a motivação é obrigatória tanto nos atos

vinculados quanto nos atos discricionários.

A motivação é dispensada em alguns casos, como os atos de motivação evidente, os de

motivação inviável e os atos de nomeação e exoneração de cargos comissionados.

A motivação deve ser apresentada simultaneamente ou no instante seguinte à prática do ato.

Motivação intempestiva (posterior) ou extemporânea (anterior) causa nulidade do ato administrativo.

Ainda, a motivação deve ser explícita, clara e congruente.

O princípio da motivação comporta exceção, por exemplo, nomeação ou exoneração

(exoneração "ad nutum") de cargos comissionados. A exoneração "ad nutum" refere-se àquela

aplicável aos ocupantes de cargo em comissão, e prescinde (abstrai/não precisa) de motivação da

Administração.

No entanto, se mesmo essa motivação sendo “desnecessária”, a Administração optar por

motivá-la, estará vinculada aos motivos que explicitou no ato, em decorrência da chamada: TEORIA

DOS MOTIVOS DETERMINANTES. Isso porque os motivos vinculam todo o ato, e se não forem

respeitados, o ato torna-se nulo.

OBSERVAÇÃO 1:

Motivação aliunde ou per relationem – aquela indicada fora do ato, consistente em

concordância com fundamentos de anteriores pareceres, informações, decisões ou propostas. Ou

seja, a motivação aliunde corre todas as vezes que a motivação de um determinado ato remete à

motivação de ato anterior que embasa sua edição.

Ex.: parecer opina pela possibilidade de prática de ato de demissão de servidor, ao demitir o

servidor, a autoridade não precisa repetir os fundamentos explicitados pelo parecer, bastando, na

56
PRÉ-EDITAL AFT
DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

fundamentação do ato de demissão, declarar a concordância com os argumentos expedidos no ato

opinativo.

OBSERVAÇÃO 2:

Teoria dos Motivos Determinantes – afirma que o motivo apresentado como fundamento fático

da conduta vincula a validade do ato administrativo. Assim, se for comprovado que o alegado

pressuposto de fato é falso ou inexistente, o ato torna-se nulo.

OBSERVAÇÃO 3:

Motivo Motivação Móvel

fato que autoriza a realização exigência de explicitação, de intenção declarada pelo

do ato administrativo enunciação dos motivos agente como justificativa para

a prática do ato

Já caiu em prova e foram consideradas corretas as seguintes assertivas:

A exoneração ad nutum não necessita de explicitação do motivo para sua validade; todavia, se o

administrador, por faculdade, declarar o motivo, esse fato passará a ser determinante para a

configuração lícita do ato administrativo exoneratório.

A existência real de um motivo de fato alegado para a realização de ato administrativo vincula o

administrador, sendo um pressuposto de validade deste mesmo ato.

Se um ato administrativo é realizado com motivo de fato inexistente, mesmo que exista motivação,

ele é considerado ilícito com base na teoria dos motivos determinantes. (DPC ES, 2019).

9.4.9. Princípio da Ampla Defesa e Contraditório

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PRÉ-EDITAL AFT
DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

Por força do princípio do contraditório, as decisões administrativas devem ser tomadas

considerando a manifestação dos interessados. Para isso, é necessário dar oportunidade para que

os afetados pela decisão sejam ouvidos antes do resultado final do processo.

O princípio da ampla defesa assegura aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, a

utilização dos meios de prova, dos recursos e dos instrumentos necessários para defesa de seus

interesses perante o Judiciário e a Administração.

Art. 5º, LV, CF.: aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos

acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os

meios e recursos a ela inerentes.

Sobre os princípios do contraditório e da ampla defesa, foi editada a Súmula Vinculante 3 do

STF:

“Nos processos perante o Tribunal de Contas da União asseguram-se o

contraditório e a ampla defesa quando da decisão puder resultar anulação

ou revogação de ato administrativo que beneficie o interessado, excetuada

a apreciação da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria,

reforma e pensão”.

A respeito dessa Súmula Vinculante, houve recente decisão do STF dispondo que não há de

se falar em contraditório e ampla defesa no julgamento de legalidade do ato de concessão inicial de

aposentadoria. Posto que ultrapassado o prazo decadencial de 5 anos, a contar da chegada do

processo na Corte, considera-se que a aposentadoria ou pensão fora registrada tacitamente, não

havendo mais a possibilidade de alteração pela Corte de Contas.

Vejamos:

Em atenção aos princípios da segurança jurídica e da confiança legítima,

os Tribunais de Contas estão sujeitos ao prazo de cinco anos para o

+julgamento da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria,

reforma ou pensão, a contar da chegada do processo à respectiva Corte

de Contas.

58
PRÉ-EDITAL AFT
DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

(...)

O Tribunal, seguindo sua jurisprudência dominante, considerou que a

concessão de aposentadoria ou pensão constitui ato administrativo

complexo, que somente se aperfeiçoa após o julgamento de sua

legalidade pela Corte de Contas.

(...)

Portanto, se o administrado tem o prazo de cinco anos para buscar qualquer

direito contra a Fazenda Pública, também deve-se considerar que o Poder

Público, no exercício do controle externo, tem o mesmo prazo para rever

eventual ato administrativo favorável ao administrado.

Desse modo, a fixação do prazo de cinco anos se afigura razoável para que

o TCU proceda ao registro dos atos de concessão inicial de aposentadoria,

reforma ou pensão, após o qual se considerarão definitivamente

registrados.

Por conseguinte, a discussão acerca da observância do contraditório e da

ampla defesa após o transcurso do prazo de cinco anos da chegada do

processo ao TCU encontra-se prejudicada. Isso porque, findo o referido

prazo, o ato de aposentação considera-se registrado tacitamente, não

havendo mais a possibilidade de alteração pela Corte de Contas.

(...)

RE 636553/RS, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 19.2.2020. (RE-

636553)

Veja a recente jurisprudência sobre o tema:

Em caso de irregularidades do Estado-membro em convênio federal, a

União somente poderá inscrever o ente no SIAFI, no CADIN e no CAUC

após o término do processo de prestação de contas especial, observados

os princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório

O cadastro restritivo não deve ser feito de forma unilateral e sem acesso à

ampla defesa e ao contraditório. Isso porque, muitas vezes, a inscrição pode

59
PRÉ-EDITAL AFT
DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

ter, além de motivação meramente financeira, razões políticas. Assim, ao

poder central (União) é possível suspender imediatamente o repasse de

verbas ou a execução de convênios, mas o cadastro deve ser feito nos termos

da lei, ou seja, mediante a verificação da veracidade das irregularidades

apontadas. Isso porque o cadastro tem consequências, como a

impossibilidade da repartição constitucional de verbas das receitas

voluntárias. A tomada de contas especial, procedimento por meio do qual se

alcança o reconhecimento definitivo das irregularidades, com a devida

observância do contraditório e da ampla defesa, tem suas regras definidas

em lei. Ao final, é possível tornar o dano ao erário dívida líquida e certa, e a

decisão tem eficácia de título executivo extrajudicial. STF. Plenário. ACO

2892 AgR/DF, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de

Moraes, julgado em 11/9/2019 (Info 951).

9.4.10. Princípio da Indisponibilidade ou Poder-Dever

O supraprincípio da indisponibilidade do interesse público enuncia que os agentes públicos

não são donos do interesse por eles defendido. Assim, no exercício da função administrativa os

agentes públicos estão obrigados a atuar (poder-dever), não segundo sua própria vontade, mas do

modo determinado pela legislação. Como decorrência dessa indisponibilidade, não se admite

tampouco que os agentes renunciem aos poderes legalmente conferidos ou que transacionem em

juízo.

Recentemente, o supraprincípio da indisponibilidade do interesse público tem sofrido certa

relativização imposta pelo legislador. Dois exemplos principais podem ser mencionados:

1) no rito dos Juizados Especiais Federais os representantes da Fazenda Pública são

autorizados a conciliar e transigir sobre os interesses discutidos na demanda (art. 10, parágrafo

único, da Lei n. 10.259/2001);

2) passou a ser permitida a utilização de mecanismos privados para resolução de disputas,

inclusive a arbitragem, nos contratos de concessão de serviço público e nas parcerias público-

privadas (arts. 23-A da Lei n. 8.987/95 e 11, III, da Lei n. 11.079/2004);

60
PRÉ-EDITAL AFT
DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

3) nos contratos administrativos, com a vigência da Nova Lei de Licitações e Contratos (Lei nº

14.133/2021), passou a ser permitido expressamente a utilização de meios alternativos de

prevenção e resolução de controvérsias relacionadas a DIREITOS PATRIMONIAIS DISPONÍVEIS,

como as questões relacionadas ao restabelecimento do equilíbrio econômico-financeiro do

contrato, ao inadimplemento de obrigações contratuais por quaisquer das partes e ao cálculo de

indenizações, vejamos:

LEI Nº 14.133/2021:

Art. 151. Nas contratações regidas por esta Lei, poderão ser utilizados

meios alternativos de prevenção e resolução de controvérsias,

notadamente a conciliação, a mediação, o comitê de resolução de disputas

e a arbitragem.

Parágrafo único. Será aplicado o disposto no caput deste artigo às

controvérsias relacionadas a direitos patrimoniais disponíveis, como as

questões relacionadas ao restabelecimento do equilíbrio econômico-

financeiro do contrato, ao inadimplemento de obrigações contratuais por

quaisquer das partes e ao cálculo de indenizações.

Art. 152. A arbitragem será sempre de direito e observará o princípio da

publicidade.

Art. 153. Os contratos poderão ser aditados para permitir a adoção dos

meios alternativos de resolução de controvérsias.

Art. 154. O processo de escolha dos árbitros, dos colegiados arbitrais e dos

comitês de resolução de disputas observará critérios isonômicos, técnicos e

transparentes.

As referidas hipóteses reforçam a ideia de que, assim como ocorre com a supremacia do

interesse público, a indisponibilidade também é relativa.

9.4.11. Princípio da Intranscendência Subjetiva das Sanções

61
PRÉ-EDITAL AFT
DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

O princípio da intranscendência subjetiva significa que não podem ser impostas sanções e

restrições que superem a dimensão estritamente pessoal do infrator e atinjam pessoas que não

tenham sido as causadoras do ato ilícito

Na jurisprudência do STF encontramos dois exemplos de aplicação desse princípio em casos

envolvendo inscrição de Estados e Municípios nos cadastros de inadimplentes da União:

 1ª acepção: quando a irregularidade foi praticada pela gestão anterior

Existem julgados do STF afirmando que se a irregularidade no convênio foi praticada pelo

gestor anterior e a gestão atual, depois que assumiu, tomou todas as medidas para ressarcir o erário

e corrigir as falhas (exs: apresentou todos os documentos ao órgão fiscalizador, ajuizou ações de

ressarcimento contra o antigo gestor etc.), neste caso, o ente (Estado ou Município) não poderá ser

incluído nos cadastros de inadimplentes da União.

Assim, segundo esta acepção, o princípio da intranscendência subjetiva das sanções proíbe

a aplicação de sanções às administrações atuais por atos de gestão praticados por

administrações anteriores.

Segundo o Min. Luiz Fux, “não se pode inviabilizar a administração de quem foi eleito

democraticamente e não foi responsável diretamente pelas dificuldades financeiras que acarretaram

a inscrição combatida”. Logo, deve-se aplicar o princípio da intranscendência subjetiva das sanções,

impedindo que a Administração atual seja punida com a restrição na celebração de novos convênios

ou recebimento de repasses federais. Nesse sentido: STF. 1ª Turma. AC 2614/PE, AC 781/PI e AC

2946/PI, Rel. Min. Luiz Fux, julgados em 23/6/2015 (Info 791).

O STJ comunga também desse entendimento, exigindo sempre que a gestão sucessora tenha

tomado as providências cabíveis à reparação dos danos eventualmente cometidos. Por isso, editou

a súmula 615. Vejamos:

Súmula 615-STJ: Não pode ocorrer ou permanecer a inscrição do município em cadastros restritivos

fundada em irregularidades na gestão anterior quando, na gestão sucessora, são tomadas as

providências cabíveis à reparação dos danos eventualmente cometidos.

 2ª acepção: quando a irregularidade foi praticada por uma entidade do Estado/Município

ou pelos outros Poderes que não o Executivo

62
PRÉ-EDITAL AFT
DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

Além do caso acima explicado, o princípio da intranscendência subjetiva das sanções pode ser

aplicado também nas situações em que uma entidade estadual/municipal (ex: uma autarquia)

descumpriu as regras do convênio e a União inscreve não apenas essa entidade, como também o

próprio ente (Estado/Município) nos cadastros restritivos.

Nesse sentido: (...) O postulado da intranscendência impede que sanções e restrições de ordem

jurídica superem a dimensão estritamente pessoal do infrator. Em virtude desse princípio, as

limitações jurídicas que derivam da inscrição, em cadastros públicos de inadimplentes, das

autarquias, das empresas governamentais ou das entidades paraestatais não podem atingir os

Estados-membros, projetando, sobre estes, consequências jurídicas desfavoráveis e gravosas, pois

o inadimplemento obrigacional – por revelar-se unicamente imputável aos entes menores

integrantes da administração descentralizada – só a estes pode afetar.

Os Estados-membros e o Distrito Federal, em consequência, não podem

sofrer limitações em sua esfera jurídica, motivadas pelo só fato de se acharem

administrativamente vinculadas a eles as autarquias, as entidades

paraestatais, as sociedades sujeitas a seu poder de controle e as empresas

governamentais alegadamente inadimplentes e que, por tal motivo, hajam

sido incluídas em cadastros federais (CAUC, SIAFI, CADIN, v.g.). (...) STF.

Plenário. ACO 1848 AgR, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 06/11/2014.

Poder Executivo não pode ser incluído nos cadastros de inadimplentes da

União por irregularidades praticadas pelos outros Poderes ou órgãos

autônomos

A imposição de sanções ao Poder Executivo estadual em virtude de

pendências de órgãos dotados de autonomia institucional e orgânico-

administrativa, tais como o Ministério Público estadual, constitui violação do

princípio da intranscendência, na medida em que o Governo do Estado não

tem competência para intervir na esfera orgânica dessa instituição autônoma.

O Poder Executivo não pode ser impedido de contratar operações de crédito

em razão do descumprimento dos limites setoriais de despesa com pessoal

63
PRÉ-EDITAL AFT
DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

por outros poderes e órgãos autônomos (art. 20, II, e 23, § 3º, da Lei de

Responsabilidade Fiscal). STF. Plenário. ACO 3072, Rel. Ricardo

Lewandowski, julgado em 24/08/2020 (Info 991 – clipping).

A União é parte legítima para figurar no polo passivo das ações em que

Estado-membro impugna inscrição em cadastros federais desabonadores

e/ou de restrição de crédito

Caso concreto O Estado do Amapá possui débitos com o INCRA e com o

IBAMA, duas autarquias federais. Em razão desses débitos, o Estado foi

inserido no SIAFI, no CADIN e no CAUC, cadastros de inadimplência

mantidos pela União. Tanto o INCRA como o IBAMA ajuizaram execução

fiscal para cobrar os débitos e o Estado expediu precatórios, que, no entanto,

ainda estão pendentes de pagamento. O Estado do Amapá ajuizou ação cível

originária contra a União pedindo a exclusão do Estado dos cadastros

restritivos. Legitimidade da União para figurar no polo passivo A União é

parte legítima para figurar no polo passivo das ações em que Estado-

membro impugna inscrição em cadastros federais desabonadores e/ou de

restrição de crédito, mesmo que os débitos sejam decorrentes de dívidas com

entidades federais (e não com a administração direta). Isso porque os

Sistemas SIAFI/CAUC/CADIN são organizados e mantidos pela União,

conforme suas leis de regência, do que decorre a legitimidade desta para

figurar no polo passivo. Manutenção nos cadastros viola o princípio da

razoabilidade É indevida a inscrição do Estado-membro nos cadastros

desabonadores em decorrência de pendências administrativas relativas a

débitos já submetidos a pagamento por precatório. Isso porque a CF/88 já

previu que, em caso de descumprimento do pagamento do precatório, existe

a possibilidade de intervenção federal no ente inadimplente. Logo, é

incompatível com o postulado da razoabilidade onerar duplamente o Estado-

membro, tanto com a possibilidade de intervenção federal quanto com a sua

inscrição em cadastros desabonadores. STF. Plenário. ACO 3083, Rel.

Ricardo Lewandowski, julgado em 24/08/2020 (Info 991 – clipping).

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PRÉ-EDITAL AFT
DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

Referências bibliográficas:

Alexandre Mazza. Manual de Direito Administrativo.

Diogo de Figueiredo Moreira Neto. Curso de Direito Administrativo.

Fernanda Marinela. Manual de Direito Administrativo.

Maria Sylvia Zanella di Pietro. Direito Administrativo.

Matheus Carvalho: Manual de Direito Administrativo

Odete Medauar. Direito Administrativo Moderno.

Rafael Carvalho Rezende Oliveira. Curso de Direito Administrativo

Patrícia Baptista. Transformações do direito administrativo. Rio de Janeiro: Renovar, 2003.

QUESTÕES PROPOSTAS

01. TRT 1 – Juiz do Trabalho Substituto 1ª Região/2016


São princípios previstos na Constituição Federal e que devem ser obedecidos pela
Administração Pública Direta e Indireta de qualquer dos poderes da União, Estados, Distrito
Federal e Municípios:

I. Pessoalidade
II. Legalidade
III. Formalidade
IV. Eficiência

Está correto o que consta em

a) II e IV, apenas.
b) I, II, III e IV.
c) I e IV, apenas.
d) II e III, apenas.
e) I e III, apenas.

COMENTÁRIOS
A, B, C, D e E- Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.

Letra A

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PRÉ-EDITAL AFT
DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

02. FCC – Juiz do Trabalho Substituto 6ª Região/2015


Acerca dos princípios informativos da Administração pública, considere:

I. O princípio da publicidade aplica-se também às entidades integrantes da Administração indireta,


exceto àquelas submetidas ao regime jurídico de direito privado e que atuam em regime de
competição no mercado.
II. O princípio da moralidade é considerado um princípio prevalente e a ele se subordinam os demais
princípios reitores da Administração.
III. O princípio da eficiência, que passou a ser explicitamente citado pela Carta Magna a partir da
Emenda Constitucional nº 19/1998, aplica-se a todas as entidades integrantes da Administração
direta e indireta.

Está correto o que consta APENAS em

a) III.
b) I e II.
c) I e III.
d) I.
e) II.

COMENTÁRIOS
Item I. ERRADO. Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.

Item II. ERRADO. O princípio da moralidade NÃO é considerado um princípio prevalente. Não
existe subordinação ou princípio absoluto.

Item III. De acordo com o art. 37 da CF: A administração pública direta e indireta de qualquer dos
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (Redação
dada pela Emenda
Constitucional nº 19, de 1998)

Letra A

03. FCC – Juiz do Trabalho Substituto 15ª Região/2015


Um dos temas mais atuais no âmbito da Administração pública é o da “transparência”, que, remete,
entre outros aspectos, ao princípio da publicidade, o qual, por seu turno,

a) alcança todos os atos praticados no âmbito da Administração direta, sendo afastado em relação
às empresas públicas e sociedades de economia mista dado o regime privado a que se submetem.
b) não pode importar divulgação de informação relativa a vencimentos de servidores, salvo os
ocupantes de cargo de livre provimento.

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PRÉ-EDITAL AFT
DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

c) preconiza a divulgação de salários e vencimentos praticados no âmbito de toda a Administração,


vedada, contudo, a individualização dos servidores.
d) faculta a qualquer cidadão, independentemente da comprovação de interesse direto, o acesso a
documentos e informações relativas a contratos celebrados pela Administração.
e) deve ser concatenado com o princípio da economicidade, de forma que a divulgação do ato
somente é obrigatória se não implicar ônus financeiro para a Administração.

COMENTÁRIOS
A- Não cabe à todos os atos. O art. 7º, §1º da LAI aponta que o acesso à informação previsto no
caput não compreende as informações referentes a projetos de pesquisa e desenvolvimento
científicos ou tecnológicos cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado.
Assim, existem atos que podem ser sigilosos.

B e C- o STF decidiu (em Abril/2015) ser legítima a divulgação oficial da remuneração dos
servidores (ARE 657.777). A divulgação da remuneração dos servidores públicos com o nome
dos respectivos titulares é de interesse geral e não viola o direito à intimidade e à privacidade
(artigo 5º, inciso X, da Constituição Federal). Para eles, a pessoa que decide ingressar no serviço
público adere ao regime jurídico próprio da Administração Pública, que prevê a publicidade de
todas as informações de interesse da coletividade.
A manifestação também destacou que a divulgação da remuneração dos servidores assegura a
efetividade da Lei de Acesso de Informação (Lei 12.527/2011), garantindo maior transparência à
administração pública.

D- Art. 5º, INCISO XXXIII, CF - Todos têm direito de receber dos órgãos públicos informações de
seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestados no prazo de lei, sob
pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível a segurança da
sociedade e do Estado.

E- A regra é a publicidade, o sigilo é a exceção.

Letra D

04. FCC – Juiz do Trabalho Substituto 23ª Região/2015


A respeito do poder de autotutela da Administração pública, o Supremo Tribunal Federal já pacificou,
por meio da Súmula 473 que “a Administração pública pode anular seus próprios atos, quando
eivados de vícios que os tornem ilegais, porque deles não se originam direitos, ou revogá-los, por
motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos e ressalvada, em todos
os casos, a apreciação judicial”, o que, no que se refere ao Poder Executivo e Tribunais de Contas,

a) significa a necessidade de submissão dos atos de concessão de aposentadoria ao Tribunal de


Contas, mas a revisão dos referidos atos não envolve a participação daquela Corte de Contas,
independentemente do prazo decorrido desde a emissão.
b) pode significar revisão dos atos de concessão de aposentadoria pela própria Administração
pública quando tiver decorrido menos de cinco anos desde a edição daqueles e o Tribunal de Contas
ainda não tiver procedido ao registro dos mesmos.

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PRÉ-EDITAL AFT
DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

c) acarreta a transferência da competência da declaração de nulidade para o pleno do Tribunal de


Contas, que cancelará o registro do ato e anulará a concessão da aposentadoria.
d) enseja a anulação dos atos concessórios de aposentadoria, independentemente da data da edição
e da boa-fé do administrado beneficiado, sendo vedado o ressarcimento dos proventos recebidos.
e) significa que a revisão dos atos de concessão de aposentadoria somente pode se dar após o
registro nos Tribunais de Contas, quando se aperfeiçoa o ato administrativo complexo, pois antes
disso não se pode considerar deferida a aposentadoria.

COMENTÁRIOS
A e C - Em atenção aos princípios da segurança jurídica e da confiança legítima, os Tribunais de
Contas estão sujeitos ao prazo de cinco anos para o julgamento da legalidade do ato de concessão
inicial de aposentadoria, reforma ou pensão, a contar da chegada do processo à respectiva Corte
de Contas.
STF. Plenário. RE 636553/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 19/2/2020 (repercussão geral
– Tema 445) (Info 967).

B- A revisão dos atos acontecerá a qualquer tempo pela Administração, em respeito ao princípio
da Autotutela.

D- A Súmula 473 se refere ao Princípio da Autotutela. O prazo decadencial de decisão


administrativa benéfica é 5 anos, com fundamento no Princípio da Segurança Jurídica. Art. 54 da
Lei 9.784/1999 "O direito de a Administração anular os atos administrativos de que decor
ram efeitos favoráveis para os destinatários decai em cinco anos, contados da data em qu
e foram praticad s, salvo comprovada má-fé.

E- Não há essa transferência de competência.

Letra D

05. TRT 8 – Juiz do Trabalho Substituto 8ª Região/2014


Sobre os princípios que norteiam a atuação da Administração Pública é CORRETO afirmar:

I. Assim como o princípio da autonomia da vontade, aplicável nas relações entre os particulares, o
princípio da legalidade impõe à Administração Pública, em toda a sua atividade, obediência aos
mandamentos da lei. Como corolário disso, a atuação da Administração Pública está presa aos
mandamentos da lei, deles não podendo se afastar, sob pena de invalidade do ato e
responsabilidade de seu autor.
II. O princípio da impessoalidade destina-se a proteger simultaneamente o interesse público e os
interesses privados, na medida em que traz a ideia de que a Administração tem que tratar a todos
os administrados sem discriminações, benéficas ou nocivas, coibindo a interferência de simpatias ou
animosidades pessoais, políticas ou ideológicas na atuação administrativa, impedindo que o ato
administrativo tenha um beneficiário, ante a prevalência do interesse público.
III. A Constituição Federal, ao consagrar o princípio da moralidade administrativa como vetor da
atuação da Administração Pública, igualmente consagrou a necessidade de proteção à moralidade
e responsabilização do administrador público imoral. Desse modo, qualquer cidadão pode propor
ação popular objetivando anular ato lesivo à moralidade administrativa.

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PRÉ-EDITAL AFT
DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

IV. Em razão do princípio da moralidade, os atos de improbidade administrativa importarão a


suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o
ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.
V. Segundo o princípio da publicidade, a Administração Pública direta e indireta está compelida à
divulgação de seus atos, conferindo transparência e visibilidade à atuação administrativa. Todavia,
tal princípio não é irrestrito, porquanto também é dever do Estado controlar o acesso e a divulgação
de informações sigilosas produzidas por seus órgãos e entidades, assegurando a sua proteção.

a) Estão corretas apenas as assertivas I, III e IV.


b) Estão corretas apenas as assertivas I e IV.
c) Estão corretas apenas as afirmativas II, III e V.
d) Estão corretas apenas as afirmativas III, IV e V.
e) Todas as afirmativas estão corretas.

COMENTÁRIOS
Item I: ERRADO. O princípio da legalidade estabelece que o administrador público deve agir de
acordo com as disposições da lei, tanto expressas quanto implicitamente determinadas. Isso
significa que o administrador público só pode exercer suas atribuições dentro dos limites
estabelecidos pela legislação. Em contraste, o princípio da autonomia da vontade não requer uma
previsão legal específica para que os cidadãos em geral ajam. Assim, desde que não haja proibição
legal, os cidadãos têm a liberdade jurídica para agir de acordo com sua vontade.

Item II: ERRADO. O princípio da impessoalidade estabelece que a conduta do agente púbico deve
ser pautada na busca pelo interesse coletivo, e não interesses privados, não beneficiando ou
prejudicando indivíduos ou grupos específicos.

Item III: CERTO. O princípio da moralidade exige que os agentes públicos ajam de acordo com
padrões éticos, visando atender às necessidades da sociedade. O artigo 5º, inciso LXXIII da
Constituição prevê a possibilidade de ajuizar uma Ação Popular para anular atos que violem a
moralidade administrativa, podendo ser feita por qualquer cidadão.

Item IV: CERTO. §4º do art. 37 da Constituição “os atos de improbidade administrativa importarão
a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o
ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível”.

Item V: CERTO. O princípio da publicidade estabelece que a Administração Pública deve agir de
forma transparente, divulgando suas atividades. No entanto, esse princípio não é absoluto, pois a
Constituição prevê exceções para garantir a segurança nacional e o interesse coletivo relevante.

Letra D

69
PRÉ-EDITAL AFT
DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

06. CESPE – Juiz do Trabalho Substituto 5ª Região/2013


Em relação aos atos e princípios administrativos, assinale a opção correta à luz da CF, da
jurisprudência dos tribunais superiores e da doutrina.

a) Segundo o STF, é imprescindível a existência de norma legal específica com vistas a coibir a prática
do nepotismo, haja vista que a vedação a essa prática decorre diretamente das normas
constitucionais aplicáveis à administração pública, em especial do princípio da moralidade.
b) É do princípio constitucional da eficiência que decorre o dever estatal de neutralidade, objetividade
e imparcialidade do comportamento dos agentes públicos.
c) O STF admite a aplicação do princípio da isonomia com vistas a elevar a remuneração de
servidores públicos.
d) O princípio da razoabilidade é expressamente previsto na CF.
e) O ato administrativo complexo deve ser formado pela junção de manifestações de vontade de
órgãos diferentes, sendo, portanto, derivado da conjugação de vontades de órgãos diversos.

COMENTÁRIOS
A- “As restrições impostas à atuação do administrador público pelo princípio da moralidade e
demais postulados do art. 37 da CF são auto-aplicáveis, por trazerem em si carga de
normatividade apta a produzir efeitos jurídicos, permitindo, em conseqüência, ao Judiciário exercer
o controle dos atos que transgridam os valores fundantes do texto constitucional.” RE 579951.

B- O princípio é, em verdade, o da impessoalidade.

C- Súmula nº 339 STF - Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar
vencimentos de servidores públicos sob fundamento de isonomia. O princípio da isonomia dirige-
se aos Poderes Executivo e Legislativo, a quem cabe, mediante avaliação de conveniência e
oportunidade, estabelecer a remuneração dos servidores públicos, permitindo a sua efetivação.
Vedado ao Judiciário elevar os vencimentos de um servidor para o mesmo patamar de outro com
base nesse postulado, nos termos da Súmula 339/STF (RE 395.273-AgR,)

D- O princípio da razoabilidade está implícito na CF.

E- O ato complexo é necessário que haja manifestação de vontade de dois ou mais órgãos para
que o ato seja praticado. Importante notar que há apenas um ato, e não vários atos simples
praticados em sequencia por diferentes órgãos. Os autores citados acima dão como exemplo de
ato complexo a concessão de determinados regimes especiais de tributação que dependem de
parece favorável de diferentes ministérios, como o Ministério da Indústria e Comércio e o Ministério
da Fazenda, no caso da isenção relativa a algumas aquisições de bens de informática.

Letra E

07. TRT 14 – Juiz do Trabalho Substituto 14ª Região/2013


No que respeita à doutrina e jurisprudência concernentes aos princípios administrativos, é correto
afirmar:

70
PRÉ-EDITAL AFT
DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

I. Decorre diretamente do princípio da impessoalidade a exigência constitucional de concurso público


para provimento de cargos públicos.
II. A observância da moralidade administrativa em determinado ato da administração está sujeita a
uma análise de oportunida-de e conveniência.
III. Afronta o princípio da eficiência o gerenciamento de recursos públicos sem preocupação de obter
deles o melhor resultado possível, no atendimento do interesse público.

a) Apenas as proposições I e II são verdadeiras.


b) Apenas as proposições I e III são verdadeiras.
c) Apenas as proposições II e III são verdadeiras.
d) Todas as proposições são verdadeiras.
e) Todas as proposições são falsas.

COMENTÁRIOS
I - CERTO: trata-se da acepção da impessoalidade sob a ótica do isonomia, a qual prega, por
exemplo, a exigência de licitação prévia ás contratações; exigência de concurso público e a
vedação ao nepotismo (SV 13)

II – ERRADO. O erro está em dizer que é discricionário a utilização da moralidade, pois a


moralidade, além de observância obrigatória, é requisito de validade do ato. Assim, a conduta
imoral, à semelhança da conduta ilegal, também pode trazer como consequência a invalidade do
respectivo ato

III - CERTO: O conteúdo do princípio da eficiência diz respeito a uma administração pública que
prime pela produtividade elevada, pela economicidade, pela qualidade e celeridade dos serviços
prestados, pela redução dos desperdícios, pela desburocratização e pelo elevado rendimento
funcional. Todos estes valores encarnam o que se espera de uma administração eficiente, que em
última análise pode ser resumida na seguinte frase: “fazer mais e melhor, gastando menos”.

Letra B

08. TRT 14 – Juiz do Trabalho Substituto 14ª Região/2013


Ainda no tocante aos princípios administrativos, é correto afirmar:

I. A moral administrativa liga-se à ideia de probidade e boa fé e independe da concepção subjetiva


(pessoal) de conduta moral e ética que o agente público tenha, já que se trata de noção objetiva,
aferível a partir de elementos objetivos.
II. A moralidade administrativa recebeu da Constituição Federal brasileira tratamento próprio, em
um de seus aspectos, por meio da probidade administrativa.
III. Qualquer cidadão é parte legítima propor ação popular visando anular ou revogar atos ad-
ministrativos lesivos à moralidade administrativa.

a) Apenas as proposições I e II são verdadeiras.


b) Apenas as proposições I e III são verdadeiras.
c) Apenas as proposições II e III são verdadeiras.
d) Todas as proposições são verdadeiras.

71
PRÉ-EDITAL AFT
DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

e) Todas as proposições são falsas.

COMENTÁRIOS
I – CERTO. A moral administrativa, em verdade, liga-se à ideia de probidade e boa-fé, atenta a lei
9784/99 em seu art. 2º, par. único, referindo-se a tais conceitos nestes termos: “nos processos
administrativos serão observados, entre outros, os critérios de atuação segundo padrões éticos de
probidade, decoro e boa-fé”. (grifos nossos) Resta provada a verdadeira natureza da moralidade.

II – CERTO. Art. 14, § 9º, CF que diz: "Lei complementar estabelecerá outros casos de
inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa,
a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a
normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do
exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta."
Dessa forma, é nesse artigo acima que a CF separa
expressamente probidade de moralidade administrativa.

III – ERRADO. Art. 5º, CF/88. LXXIII – qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular
que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à
moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor,
salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência;

Letra A

09. TRT 14 – Juiz do Trabalho Substituto 14ª Região/2013


São princípios da administração pública, EXCETO:

a) Finalidade.
b) Segurança jurídica.
c) Discricionariedade.
d) Impessoalidade.
e) Eficiência.
COMENTÁRIOS
A, B, C, D e E- A discricionariedade é um poder da Administração Pública. Os demais princípios
estão dispostos no art. 37 da CF e/ou no art. 2º da lei 9784/99.

Letra C

10. TRT 2 – Juiz do Trabalho Substituto 2ª Região/2013


Nos termos da Constituição Federal, a administração pública direta e indireta obedecerá aos
seguintes princípios. Aponte a alternativa incorreta:

a) Legalidade e publicidade.
b) Eficiência e moralidade.
c) Celeridade e impessoalidade.
d) Publicidade e legalidade.
72
PRÉ-EDITAL AFT
DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

e) Moralidade e publicidade.

COMENTÁRIOS
A, B, C, D e E- Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios
de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte (...).

Assim, a celeridade não é mencionada e portanto, torna a C o gabarito.

Letra C

11. TRT 15 – Juiz do Trabalho Substituto 15ª Região/2013


Considerando os princípios como vetores que fundamentam todas as proposições construídas acerca
da Administração Pública, é incorreto afirmar:

a) a Administração Pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios é norteada pelos princípios da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da
publicidade e da eficiência;
b) os preceitos fixados na Constituição Federal acerca dos princípios que norteiam a Administração
Pública podem ser ampliados por outros dispositivos normativos, a exemplo do que se verifica com
a Constituição do Estado de São Paulo, que fixou para as entidades da administração indireta ou
fundacional do Estado a obrigatoriedade de se nortear pelos princípios “de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade, , finalidade, motivação, interesse público e eficiência”;
c) há previsão de princípios específicos na Lei do Processo Administrativo no âmbito da
Administração Federal Direta e Indireta (Lei n. 9.784/1999), tais como os princípios da legalidade,
da finalidade, da motivação, da razoabilidade, da proporcionalidade, da moralidade, da ampla
defesa, do contraditório, da segurança jurídica, do interesse público e da eficiência;
d) a Lei de Licitações e Contratos da Administração Pública (Lei n. 8.666/1993) visa a assegurar a
observância do princípio constitucional da isonomia, a seleção da proposta mais vantajosa para a
administração e a promoção do desenvolvimento nacional sustentável, sendo os respectivos litígios
processados e julgados em estrita conformidade com os princípios básicos da legalidade, da
impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, dá probidade administrativa, da
vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos;
e) o princípio da supremacia do interesse público sobre o particular é específico do Direito
Administrativo, sendo limitado pelo princípio da legalidade, servindo como ponto de origem dos
demais princípios da Administração Pública.

COMENTÁRIOS
A- Art. 37 da CF.

B- A ampliação de tal principiologia pela legislação estadual está de acordo com os preceitos
constitucionais entabulados no art. 37.

C- Art. 2º da Lei nº 9.784/99.

73
PRÉ-EDITAL AFT
DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

D- art. 3º da Lei 8.666/93.

E- O princípio da supremacia do interesse público sobre o particular não se trata de um princípio


específico do Direito Administrativo, pois circunscreve toda a atuação da administração pública,
seja no Direito Tributário, Ambiental, Constitucional etc. Tal princípio é especificamente limitado
pelo princípio da indisponibilidade do interesse público.

Letra E

12. MPT – Procurador do Trabalho/2013


Sobre o princípio da transparência na administração pública, analise as seguintes proposições:

I. A Constituição da República assegura de forma expressa o acesso dos usuários a registros


administrativos e a informações sobre atos de governo, observado o direito à intimidade, à vida
privada, à honra e à imagem das pessoas.
II. Subordina-se aos ditames da Lei n° 12.527/2011 (Lei de Transparência) a administração pública
direta e indireta da União, dos Estados e Municípios.
III. O Ministério Público não se sujeita aos ditames da Lei n° 12.527/2011, uma vez que não integra
o Poder Executivo, estando sujeito à normatização própria pelo Conselho Nacional do Ministério
Público.
IV. Aplicam-se as disposições da Lei n° 12.527/2011, no que couber, às entidades privadas sem fins
lucrativos que recebam, para realização de ações de interesse público, recursos públicos diretamente
do orçamento ou mediante subvenções sociais, contrato de gestão, termo de parceria, convênios,
acordo, ajustes ou outros instrumentos congêneres.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) apenas as assertivas I e III estão corretas;


b) apenas as assertivas II e IV estão corretas;
c) apenas as assertivas III e IV estão corretas;
d) apenas a assertiva IV está correta;
e) não respondida.

COMENTÁRIOS
Item I. ERRADO. XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu
interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob
pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da
sociedade e do Estado.

Item II. CERTO. art 1º da Lei 12.527/2011, Parágrafo único. Subordinam-se ao regime desta Lei:
II - as autarquias , as fundações públicas, as empresas públicas, as sociedades de economia
mista e demais entidades controladas direta ou indiretamente pela União, Estados, Distrito
Federal e Municípios.

74
PRÉ-EDITAL AFT
DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

Item III. ERRADO. Art. 1º, parágrafo único da Lei 12.527/2011, I - os órgãos públicos integrantes
da administração direta dos Poderes Executivo, Legislativo, incluindo as Cortes de Contas, e
Judiciário e do Ministério Público;

Item IV. CERTO. Lei 12.527/2011, art. 2º Aplicam-se as disposições desta Lei, no que couber, às
entidades privadas sem fins lucrativos que recebam para realização de ações de interesse público,
recursos públicos diretamente do orçamento ou mediante subvenções sociais, contrato de gestão,
termo de parceria, convênios, acordo, ajuste ou outros instrumentos congêneres.

Letra B

13. TRT 19 – Juiz do Trabalho Substituto 19ª Região/2012


Assinale a alternativa incorreta, no que refere aos princípios que norteiam a Administração Pública
brasileira:

a) Princípio da Legalidade – O administrador público está sujeito aos mandamentos da lei e às


exigências do bem comum e deles não se pode afastar ou desviar.
b) Princípio da Moralidade – O Princípio da Moralidade restringe-se ao aspecto das práticas de
improbidade administrativa.
c) Princípio da Impessoalidade – Critério para evitar favoritismos ou privilégios. A Administração
Pública não pode, no exercício da atividade administrativa, atuar com vistas a prejudicar ou beneficiar
pessoas determinadas, uma vez que é o interesse público seu elemento norteador.
d) Princípio da Publicidade – Pode ser visualizado na necessidade de divulgação oficial dos atos
administrativos para conhecimento público e, em regra, para início de seus efeitos.
e) Princípio da Eficiência – Obriga a Administração Pública a desenvolver mecanismos para o
exercício de uma atividade administrativa célere e com qualidade.

COMENTÁRIOS
A, B, C, D e E- O princípio da moralidade não se restringe à improbidade administrativa.
O princípio da moralidade exige que os agentes públicos ajam de acordo com padrões éticos,
visando atender às necessidades da sociedade. O artigo 5º, inciso LXXIII da Constituição prevê a
possibilidade de ajuizar uma Ação Popular para anular atos que violem a moralidade
administrativa, podendo ser feita por qualquer cidadão.

Letra B

14. TRT 21 – Juiz do Trabalho Substituto 21ª Região/2012


Sobre os princípios que regem a administração pública, é incorreto afirmar:

a) o princípio da moralidade exige que o administrador se paute por conceitos éticos;


b) corolário do princípio da igualdade é a vedação de se estabelecer diferenças em razão da sede ou
domicílio dos licitantes;
c) o princípio da supremacia do interesse público decorre da posição privilegiada dos órgãos e entes
públicos encarregados da preservação do interesse público;

75
PRÉ-EDITAL AFT
DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

d) em decorrência do princípio da hierarquia, que é restrito às funções administrativas e não


aplicáveis às funções tipicamente legislativas e judiciais, a Administração Pública possui a
prerrogativa de avocar atribuições, e também de rever os atos dos subordinados;
e) A Constituição Federal prevê, expressamente, os princípios da legalidade, publicidade,
impessoalidade, moralidade, eficiência e razoabilidade.

COMENTÁRIOS
A, B, C, D e E- A razoabilidade está prevista na CF apenas implicitamente.

Letra E

15. MPT – Procurador do Trabalho/2008


Quanto aos poderes e princípios da Administração Pública.

I. O poder disciplinar da Administração Pública autoriza a aplicação de sanções a particulares não


sujeitos à disciplina interna da Administração.
II. O princípio da continuidade do serviço público jamais cede em razão de seu caráter absoluto, não
comporta a aplicação do princípio da proporcionalidade e constitui um verdadeiro superprincípio que
orienta todo o ordenamento jurídico administrativo.
III. O princípio da motivação dos atos administrativos, embora recomendável em todos os atos que
envolvam o exercício de poderes, ao contrário dos atos praticados pelo Judiciário e Ministério Público,
não possui previsão nas normas jurídicas de direito administrativo brasileiro.
IV. O princípio da segurança jurídica não se aplica à Administração Pública brasileira, uma vez que
ela possui poderes para desconstituir situações jurídicas e aplicar retroativamente nova
interpretação da norma administrativa para garantir o atendimento do fim público a que se dirige.

Assinale a opção CORRETA:

a) apenas as de números I e III são corretas;


b) apenas as de números II e IV são corretas;
c) apenas a de número IV é correta;
d) todas são incorretas;
e) não respondida.

COMENTÁRIOS
Item I. ERRADO. Para a aplicação do poder disciplinar, é necessário que o particular tenha vínculo
específico com a administração pública. caso contrário a punição decorrerá do poder de polícia.

Item II. ERRADO. Existem exceções que autorizam a interrupção do serviço. Além disso, não
existem princípios absolutos, tampouco “superprincípios”.

Item III. ERRADO. Através da inércia é que o judiciário poderá atuar, ou seja, é necessário provocar,
motivadamente, o judiciário para que possa proteger do direito de lesão ou ameaça de lesão.

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PRÉ-EDITAL AFT
DIREITO ADMINISTRATIVO – META 01

Item IV. ERRADO. O princípio da segurança jurídica ultrapassa as fronteiras do direito


administrativo, consiste - na verdade - em um princípio geral do direito e tem por função assegurar
estabilidade às situações jurídicas já consolidadas frente à inevitável evolução do direito, tanto no
nível legislativo quanto no nível jurisdicional.

Letra D

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