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03/08/2022

DIREITO ADMINISTRATIVO
Introdução Ao Direito Administrativo
DIREITO ADMINISTRATIVO
META 01

SUMÁRIO

SUMÁRIO .......................................................................................................................................................... 3
DIREITO ADMINISTRATIVO - META 01 .................................................................................................... 5
QUAL DEVE SER O FOCO? ....................................................................................................................................5
1. ORIGEM, NATUREZA JURÍDICA E OBJETO DO DIREITO ADMINISTRATIVO .................................5
2. EVOLUÇÃO DO DIREITO ADMINISTRATIVO .............................................................................................6
3. INFLUÊNCIAS DO DIREITO ESTRANGEIRO: ...............................................................................................7
4. CRITÉRIOS DA ADMINISTRAÇÃO:.................................................................................................................8
4.1. Tendências atuais do Direito Administrativo ..................................................................................... 10
4.2. Transadministrativismo ............................................................................................................................ 11
5. FONTES DO DIREITO ADMINISTRATIVO ................................................................................................. 11
6. INTERPRETAÇÃO DO DIREITO ADMINISTRATIVO .............................................................................. 15
7. SISTEMAS DE CONTROLE DA ATUAÇÃO ADMINISTRATIVA ......................................................... 16
8. SENTIDOS DA ADMINISTRAÇÃO ............................................................................................................... 17
8.1. Administração Pública Extroversa e Introversa ................................................................................ 18
9. PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS ................................................................................................................. 19
9.1. Regime Jurídico Administrativo .............................................................................................................. 19
9.2. Princípios x regras ...................................................................................................................................... 21
9.3. Princípios Explícitos do Direito Administrativo ................................................................................. 22
9.4. Outros princípios administrativos .......................................................................................................... 38

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DIREITO ADMINISTRATIVO - META 01

TEMA DO DIA

INTRODUÇÃO AO DIREITO ADMINISTRATIVO

FILTRO DO TEMA NO BUSCADOR DO DIZER O DIREITO:

DIREITO ADMINISTRATIVO – PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS

QUAL DEVE SER O FOCO?

1. Supremacia do interesse público sobre o interesse privado. Indisponibilidade do

interesse público.

2. Princípios expressos. LIMPE (legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e

eficiência)

1. ORIGEM, NATUREZA JURÍDICA E OBJETO DO DIREITO ADMINISTRATIVO

O caso Blanco marca a origem do Direito Administrativo. Trata-se do clássico fato de uma

criança Agnes Blanco, de 5 anos, atropelada por uma vagonete da companharia de manufatura de

fumo da França. Em razão do conflito existente entre o Tribunal Administrativo e o Tribunal Judicial,

a Corte de Conflitos entendeu que a competência, haja vista a presença de serviço público, era do

Tribunal Administrativo.

Por sua vez, no plano normativo, a Lei do 28 pluviose do ano VIII de 1800 é a certidão de

nascimento do direito administrativo

O Direito Administrativo compõe o ramo do Direito Público, pois tem como características e

princípios marcantes a Supremacia do Interesse Público (relações jurídicas verticalizadas), a

Indisponibilidade do Interesse Público e a Legalidade.

Segundo Maria Sylvia Zanella di Pietro, o Direito Administrativo nasceu em fins do século XVIII

e início do século XIX, não significando que inexistissem anteriormente normas administrativas, uma

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vez que onde quer que exista o Estado existem órgãos encarregados do exercício de funções

administrativas.

Nesse sentido, o Estado é pessoa jurídica de direito público, ainda que atuando na seara do

Direito privado. Assim, o Estado pode atuar no direito público ou no direito privado; no entanto,

sempre ostenta a qualidade de PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO.

O Direito Administrativo tem por objeto as relações por ele disciplinadas, a saber:

a) relações internas entre órgãos e entidades administrativas;

b) relações entre a administração e seus agentes;

c) relações entre a administração e os seus administrados;

d) atividades administrativas exercidas por prestadores de serviços públicos.

2. EVOLUÇÃO DO DIREITO ADMINISTRATIVO

• Administração Patrimonialista: Não havia diferença entre os interesse pessoais dos agentes

públicos e os interesses da própria administração;

• Administração Burocrática: Superou o patrimonialismo ao adotar o princípio da

impessoalidade. Foram criados rígidos controles sobre a atuação dos agentes públicos.

Formou-se a burocracia, onde os agentes públicos devem obedecer aos procedimentos

determinados e a rígida hierarquia e a separação de funções;

• Administração Gerencial: É o modelo adotado na Administração moderna. Busca superar o

modelo burocrático por meio da adoção do princípio da eficiência, que tem as seguintes

consequências principais:

o Utilização do controle de resultados substituindo o controle de meios;

o Maior autonomia dos agentes/órgãos/entidades públicas;

o Serviço orientado para o cidadão;

o Utilização de indicadores de desempenho.

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Administração Pública Dialógica: Segundo Ronny Charles, Administração pública dialógica é

uma tendência identificada em algumas atividades administrativas, notadamente na prestação

de serviços públicos e contratações de grandes empreendimentos, que consiste na abertura de

diálogo com os administrados, permitindo que eles colaborem para o aperfeiçoamento ou a

legitimação da atividade administrativa.

3. INFLUÊNCIAS DO DIREITO ESTRANGEIRO:

Às vezes cai em prova e ajuda a resolver determinadas questões, motivo pelo qual é

importante abrir um tópico rápido acerca das influências do direito estrangeiro no direito

administrativo brasileiro.

• Direito alemão - o direito administrativo brasileiro herdou a inspiração para aplicação do

princípio da segurança jurídica, especialmente sob o aspecto subjetivo da proteção à confiança

• Direito francês - herdou o conceito de serviço público, a teoria dos atos administrativos com o

atributo da executoriedade, as teorias sobre responsabilidade civil do Estado, o princípio da

legalidade, a teoria dos contratos administrativos, as formas de delegação da execução de

serviços públicos, a ideia de que a Administração Pública se submete a um regime jurídico de

direito público, derrogatório e exorbitante do direito comum, que abrange o binômio

autoridade/liberdade.;

• Direito italiano - recebeu o conceito de mérito, o de autarquia e entidade paraestatal (dois

vocábulos criados no direito italiano). Os autores italianos (ao lado dos alemães) também

contribuíram para a adoção de um método técnico-científico.

• Direito inglês (Sistema da common law) - o direito administrativo brasileiro herdou o princípio

da unidade de jurisdição, o mandado de segurança e o mandado de injunção, o princípio do

devido processo legal, inclusive, mais recentemente, em sua feição substantiva, e que

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praticamente se confunde com o princípio da razoabilidade. Em fins do século XX, também

herdou do sistema common law o fenômeno da agencificação e a própria ideia de regulação.

4. CRITÉRIOS DA ADMINISTRAÇÃO:

O direito administrativo é ramo jurídico, e como tal, se dedica ao estudo das regras e normas,

sendo caracterizada como ciência normativa, impositiva que define os limites dentro dos quais a

gestão pública pode ser executada. Várias foram as correntes/teorias que buscaram definir o direito

administrativo. Nessa linha, vejamos as principais delas:

a) Corrente Legalista (Exegética): O direito administrativo seria o conjunto da legislação

administrativa existente no país => Se limitava a fazer compilação de leis e desconsiderava doutrina

e jurisprudência.

Crítica: A grande crítica do critério legalista foi desconsiderar a carga normativa dos princípios.

Dessa forma só era valorado o que estivesse em lei.

b) Critério do Poder Executivo: O Direito Administrativo seria um complexo de leis disciplinadoras

da atuação do poder executivo.

Crítica: O Direito Administrativo não se resume à disciplina do Poder Executivo, afinal, todos os

Poderes administram, embora, para alguns, isso constitua missão atípica. E mais: no Poder Executivo,

nem tudo é objeto do Direito Administrativo, como são as funções de governo, regidas pelo Direito

Constitucional.

c) Critério das relações jurídicas: O Direito Administrativo é a disciplina das relações jurídicas entre

a Administração e o particular.

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Crítica: Devemos recordar que outros ramos do direito, de igual modo, regulam a relação jurídica

entre particular e Estado, por exemplo, os contratos privados pactuados que são regidos pelo

direito civil.

d) Critério do Serviço Público (França): O Direito Administrativo teria por objetivo a disciplina

jurídica dos serviços públicos => Escola do Serviço Público (Leon Duguit).

• Sentido amplo (Leon Duguit): Inclui todas as atividades do Estado;

• Sentido Estrito (Gaston Jeze): Inclui apenas atividades materiais.

Crítica: Referido conceito é bastante restrito, isto porque, na atualidade, a ideia de prestação de

serviço público vem sofrendo restrições, de modo que a administração pública não se limita tão

somente a execução dessa prestação. O Estado faz muitas atividades além da mera prestação do

serviço público, sendo este último apenas uma das facetas. Por exemplo, atua na exploração de

atividade econômica na busca do interesse público.

e) Critério teleológico ou finalístico: O Direito Administrativo é sistema de princípios jurídicos que

regula as atividades do Estado para o cumprimento dos seus fins - É definição incompleta.

Crítica: Essa posição apresenta-se como a mais correta, porém não consegue abranger

integralmente o conceito da matéria, de forma que não é adotada de forma majoritária.

f) Critério Negativista: O Direito Administrativo seria conceituado por exclusão.

Crítica: não posso definir algo pelo que ele não é. Embora não tenha um erro grosseiro, ele não

pode ser usado como forma de conceituação do direito administrativo.

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g) Critério Funcional: O Direito Administrativo é ramo jurídico que estuda e analisa a disciplina da

função administrativa, esteja ela sendo exercida pelo executivo, legislativo, judiciário ou por

delegação estatal.

HELY LOPES: DIREITO ADMINISTRATIVO É O CONJUNTO HARMÔNICO DE PRINCÍPIOS QUE

REGEM OS ÓRGÃOS, OS AGENTES E AS ATIVIDADES PÚBLICAS TENDENTES A REALIZAR,

CONCRETA, DIRETA E IMEDIATAMENTE, OS FINS DESEJADOS PELO ESTADO.

• Direta: não se confunde com a função jurisdicional, que é indireta por depender de

provocação. Desse modo, ao se falar que a atuação é direta quer-se dizer que ela atua de

ofício, não dependendo de provocação. Reitero, NÃO depende de provocação para que

haja atuação administrativa, ela é DIRETA.

• Concreta: diferente da legislativa, que é geral e abstrata - não atinge pessoas específicas,

a função administrativa é concreta porque se materializa em casos concretos.

• Imediata: realiza os fins do Estado (necessidades do Estado). Quem define os fins do

Estado, por sua vez, é o Direito Constitucional.

* INTERPRETAÇÃO DO DIREITO ADMINISTRATIVO – PRESSUPOSTOS (HELY LOPES):

• Desigualdade jurídica entre a Administração e os administrados;

• Presunção de legitimidade;

Necessidade de poderes discricionários para a Administração atender ao Direito Público.

Já caiu em prova: De acordo com o critério teleológico, o direito administrativo é um conjunto de

normas que regem as relações entre a administração e os administrados. Gab. ERRADO. O

enunciado da questão contempla a definição do critério das relações jurídicas.

4.1. Tendências atuais do Direito Administrativo

Para Rafael Oliveira (2018, p. 58), o Direito Administrativo tem sofrido profundas

transformações, cabendo destacar as seguintes mutações e tendências: a) Constitucionalização e


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aplicação do princípio da juridicidade; b) Relativização de formalidades e ênfase no resultado; c)

Elasticidade do Direito Administrativo, com diálogo com outras disciplinas; d) Consensualidade e

participação; e) Processualização e contratualização da atividade administrativa; f) Publicização do

Direito Civil e privatização do Direito Administrativo; e g) Aproximação entre a Civil Law e a Common

Law.

4.2. Transadministrativismo

Diogo de Figueiredo Moreira Neto adota a tese de que existe um novo ramo do Direito

Administrativo denominado transadministrativismo.

O transadministrativismo é a disciplina jurídica das relações assimétricas de poder que se

institucionaliza consensualmente fora e além do Estado.

Trata-se de um direito administrativo transnacional, fenômeno semelhante ao

transconstitucionalismo.

Para Diogo de Figueiredo, o direito administrativo global é um gênero, do qual o direito

administrativo transestatal (transadministrativismo) é espécie. O transadministrativismo refere-se

exclusivamente ao produto normativo desses centros de poder transestatais: aqueles que se

originam de necessidades ordinatórias das diversas sociedades, que não são providas pelos Estados.

5. FONTES DO DIREITO ADMINISTRATIVO

A doutrina costuma apontar a existência de cinco fontes principais deste ramo do Direito,

quais sejam: a lei, a jurisprudência, a doutrina, os princípios gerais e os costumes.

▪ Lei – Fonte Primária – qualquer espécie normativa (lei em sentido amplo);

· A lei se apresenta como sendo a fonte primária do direito administrativo, pois inova

no ordenamento jurídico. A atuação administrativa tem que ser pautada pela lei, só

existe a atuação do administrador se houver permissivo legal nesse sentido (princípio

da legalidade).

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· Em se tratando de Direito Administrativo, a lei deve ser interpretada em sentido

amplo, de modo a abarcar não só a lei em sentido estrito, mas como as normas

constitucionais, os regulamentos administrativos e os tratados internacionais.

· Trata-se, portanto, a consagração da ideia de juridicidade, de modo que o

administrador público deve obediência à lei e ao Direito.

▪ Jurisprudência – Fonte Secundária. Julgamentos reiterados no mesmo sentido. Súmula é a

consolidação da Jurisprudência;

· A jurisprudência se traduz na reiteração de julgados dos órgãos do judiciário, travando

uma orientação acerca de determinada matéria. Trata-se de fonte secundária do D.

Administrativo, de grande influência na construção e consolidação desse ramo.

▪ Doutrina – Fonte secundária: forma o sistema teórico de princípio aplicável ao Direito Positivo.

· É fonte secundária. Refere-se a lição dos mestres e estudiosos da matéria, ensejando

a formação de arcabouço teórico. É fonte interpretativa, sistema teórico. Expõe uma

interpretação sobre aquela determinada matéria ou lei, ao estabelecer o que

provavelmente a referida buscava, ou seja, sua razão/sentido.

▪ Costumes – Práticas reiteradas da autoridade administrativa

Elementos do costume:

• Elemento objetivo: repetição de condutas;

• Elemento subjetivo: Convicção de sua obrigatoriedade.

Espécies de costumes:

• Secundum legem: previsto ou admitivo pela lei;

• Praeter legem: preenche as lacunas normativas, possuindo caráter subsidiário;

• Contra legem: Se opõem à norma legal.

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OBSERVAÇÃO:

Para o autor Rafael Carvalho, “ressalvado o costume contra legem, o costume é fonte autônoma do

Direito Administrativo. A releitura do princípio da legalidade, com a superação do positivismo, a

textura aberta de algumas normas jurídicas e a necessidade de consideração da realidade social na

aplicação do Direito demonstram que os costumes devem ser considerados como fontes do Direito

Administrativo”, pg. 25.

COSTUME SOCIAL COSTUME ADMINISTRATIVO

De acordo com Matheus Carvalho, “os Na dicção de Matheus Carvalho: “o costume

costumes sociais se apresentam como um administrativo é caracterizado como prática

conjunto de regras não escritas, que são, reiteradamente observada pelos agentes

todavia, observadas de modo uniforme por administrativos diante de determinada situação

determinada sociedade, que as considera concreta. A prática comum na Administração

obrigatórias. Ainda considera-se fonte Pública é admitida em casos de lacuna normativa e

relevante do Direito Administrativo, tendo funciona como fonte secundária de Direito

em vista a deficiência legislativa na Administrativo, podendo gerar direitos para os

matéria”. administrados, em razão dos princípios da lealdade,

boa-fé, moralidade administrativa, entre outros”.

CESPE/2016 - A jurisprudência e os costumes não são fontes do direito administrativo. Item

incorreto.

▪ Princípios Gerais do Direito – estão na base da disciplina/alicerce. Exs.: Ninguém pode

causar dano a outrem. É vedado o enriquecimento ilícito. Ninguém pode se beneficiar da

própria torpeza.

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▪ Precedentes Administrativos – Pressupõe a prática reiterada e uniforme de atos administrativos

em situações similares. A teoria dos precedentes administrativos é aplicada em relações jurídicas

distintas que apresentam identidade subjetiva e objetiva.

A força vinculante do precedente administrativo decorre da segurança jurídica, e pode ser

afastada pela Administração em duas situações, hipóteses em que se pode aplicar a TEORIA DO

PROSPECTIVE OVERRULING:

• Quando o ato invocado pelo precedente for ilegal;

• Quando o interesse público, devidamente motivado, justificar a alteração do

entendimento administrativo.

Em alguns casos, o caráter vinculante dos precedentes tem previsão legal expressa, como

a LC 73/1993, ao dispor que o parecer aprovado e publicado com o despacho presidencial vincula

a Administração Federal, cujos órgãos e entidades ficam obrigados a lhe dar fiel cumprimento.

O precedente administrativo, em princípio, só é exigível quando estiver em compatibilidade

com a legislação. Porém, excepcionalmente, mesmo em relação a atos ilegais, os precedentes

administrativos retiram a sua força vinculante dos princípios da legítima confiança, segurança

jurídica e boa-fé.

Resumindo...

FONTE PRIMÁRIA 1) Lei - em sentido material/amplo: qualquer espécie

normativa

1) Jurisprudência

FONTES 2) Doutrina

SECUNDÁRIAS 3) Costumes - secundum legem e praeter legem

4) Princípios Gerais do Direito.

1) Constituição

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FONTES FORMAIS 2) Lei

3) Regulamento e outros atos normativos da

Administração Pública.

5) Jurisprudência (sem efeito vinculante)

FONTES 6) Doutrina

MATERIAIS 7) Costumes - secundum legem e praeter legem

8) Princípios Gerais do Direito.

No concurso da PGE AL (CESPE - 2021), o tema foi cobrado da seguinte forma:

Quanto às fontes do Direito Administrativo, assinale a afirmativa correta:

A) O Código Civil tem aplicação imediata nos contratos administrativos.


B) O Código de Processo Civil tem aplicação supletiva e subsidiária nos processos
administrativos.
C) A Constituição não tem aplicação imediata no Direito Administrativo, mas de forma
supletiva à legalidade.
D) O Código Penal tem aplicação circunscrita a ilícitos administrativos tipificados nos
respectivos regulamentos.
E) A Lei de Sociedades Anônimas não se aplica às autarquias, fundações, empresas
públicas e sociedades de economia mista.

A alternativa considerada correta foi a letra B.

6. INTERPRETAÇÃO DO DIREITO ADMINISTRATIVO

A interpretação em Direito Administrativo deve se pautar em 3 (três) pressupostos básicos,

quais sejam:

(1) Desigualdade entre a administração e o particular (desigualdade jurídica) - Toda vez que

se interpreta uma norma do direito administrativo, devemos recordar que existe uma

desigualdade jurídica, posto que a Administração atua com supremacia em face ao particular

(princípio da supremacia do interesse público sobre o privado).

(2) Presunção de legitimidade dos atos praticados pela Administração - Os atos praticados

pela administração são presumivelmente legítimos, ou seja, presume-se que ele foi praticado

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em conformidade com o ordenamento jurídico (lembre-se: atributo do ato administrativo:

presunção de legitimidade e de veracidade, trata-se de presunção relativa).

(3) Necessidade de discricionariedade – A discricionariedade é indispensável para que o

administrador possa concretizar a norma geral e abstrata prevista.

Analogia: NÃO pode ser utilizada para fundamentar a aplicação de sanções ou gravames aos

particulares, especialmente no campo do poder de polícia e poder disciplinar.

Para Diogo de Figueiredo Moreira Neto, a analogia não é permitida no Direito

Administrativo, em razão do princípio da legalidade. Admitir a analogia seria permitir que a

Administração impusesse uma obrigação não prescrita em lei.

Para Alexandre Santos de Aragão, é possível a utilização da analogia no Direito

Administrativo quando a aplicação da regra com base na analogia for suficiente para regular

determinado caso concreto e ao mesmo tempo atender às finalidades da Constituição. No

entanto, a analogia com base em outra disciplina jurídica não é possível, tendo em vista o princípio

da legalidade.

7. SISTEMAS DE CONTROLE DA ATUAÇÃO ADMINISTRATIVA

a) Sistema Francês (contencioso administrativo)

• Dualidade de jurisdição;

• Proíbe o conhecimento, pelo Poder Judiciário, de atos ilícitos praticados pela Administração,

ficando os atos sujeitos à jurisdição especial do contencioso administrativo.

No concurso da PGM Jundiaí - SP (FUNDATEC - 2019), o tema foi cobrado da seguinte


forma:

Assinale a alternativa correta a respeito do direito administrativo brasileiro.

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A) Excetuadas as decisões do Tribunal de Contas da União, no Brasil prevalece o princípio


da inafastabilidade da jurisdição, no qual o contencioso administrativo submete-se à
decisão final do Poder Judiciário.
B) O direito administrativo pátrio recebeu grande contribuição do sistema francês, tendo
adotado vários dos seus institutos jurídicos, exceto quanto ao contencioso administrativo.
C) A exigência de que a utilização da reclamação contra ato ou omissão da Administração
Pública que contraria súmula vinculante somente possa ser admitida após o esgotamento
das vias administrativas viola a Constituição Federal.
D) A responsabilidade civil do Estado e a presença de cláusulas exorbitantes no contrato
administrativo são exemplos de institutos constituídos no sistema jurídico do direito anglo-
saxão e adotados no Brasil por influência do direito norte-americano.
E) Como o direito brasileiro não adotou o instituto da coisa julgada administrativa, a
Administração Pública pode anular os seus próprios atos, a qualquer tempo, ainda que
deles decorram efeitos favoráveis ao administrado.

A alternativa considerada correta foi a letra B.

b) Sistema Inglês (Sistema de jurisdição única)

• Todos os litígios podem ser resolvidos na justiça comum;

• Sistema adotado pelo Brasil – contudo, já houve a previsão do tribunal constitucional de

contencioso no Brasil na EC 7/77, mas nunca foi implementado.

Já caiu em prova e foi considerada INCORRETA a seguinte assertiva: O controle da Administração

Pública no Brasil é realizado por meio do sistema do contencioso administrativo.

8. SENTIDOS DA ADMINISTRAÇÃO

A expressão Administração Pública pode ser analisada sob seu aspecto formal/ subjetivo/

orgânico ou sob seu aspecto material/objetivo.

a) Formal, Orgânico ou Subjetivo: É o conjunto de órgãos e funções estatais no exercício da função

administrativa. – importa apenas quem realiza a atividade, sendo irrelevante qual a atividade por

eles desempenhada.

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“O sentido subjetivo, formal ou orgânico da Administração Pública

compreende pessoas jurídicas, órgãos e agentes públicos que são

incumbidos de exercer uma das funções estatais: a função administrativa”

b) Material ou Objetivo: Se confunde com função administrativa, sendo a atividade administrativa

exercida pelo Estado.

“Por sua vez, administração pública (em letra minúscula), considerada com

base no critério material ou objetivo se confunde com a função administrativa,

devendo ser entendida como atividade administrativa exercida pelo

Estado, designando a atividade consistente na defesa concreta do

interesse público”.

• A Administração Pública, em sentido amplo, objetivamente considerada, compreende a

FUNÇÃO POLÍTICA + FUNÇÃO ADMINISTRATIVA.

TAREFAS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA:

➢ Prestação de serviços públicos;

➢ Exercício do Poder de Polícia;

➢ Regulação de atividades de interesse público (fomento);

➢ Controle da atuação do Estado

Resumindo:

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA EM SENTIDO ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA EM SENTIDO

FORMAL, ORGÂNICO OU SUBJETIVO MATERIAL, FUNCIONAL OU OBJETIVO:

Conjunto de órgãos e agentes no exercício É a própria atividade administrativa

da função administrativa. desempenhada pelo Estado.

8.1. Administração Pública Extroversa e Introversa

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Diogo de Figueiredo Moreira Neto diferencia esses termos da seguinte forma:

Administração Introversa Administração Extroversa

corresponde à atividade-meio da corresponde à atividade-fim da Administração.

Administração. É instrumental, atende ao É finalística, atende ao interesse público

interesse público secundário e não atinge primário e atinge diretamente os cidadãos. É

diretamente os cidadãos. Também é atribuída a atribuída apenas aos entes políticos. Exemplo:

todos os órgãos administrativos; poder de polícia.

9. PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS

9.1. Regime Jurídico Administrativo

É o conjunto de regras e princípios que regem a Administração Pública. Celso Antônio

Bandeira de Mello defende a existência de verdadeiras “PEDRAS DE TOQUE” no Direito

Administrativo, quais sejam:

• Princípio da supremacia do interesse público sobre o privado: Os interesses coletivos

devem prevalecer ao interesse particular;

• Princípio da indisponibilidade do interesse público: O interesse público não se encontra à

livre disposição do administrador.

Vamos aprofundar um pouco?

Conforme Rafael Carvalho, o fenômeno da constitucionalização do ordenamento jurídico abalou

alguns dos mais tradicionais dogmas do Direito Administrativo, a saber: a) a redefinição da ideia de

supremacia do interesse público sobre o privado e a ascensão do princípio da ponderação de

direitos fundamentais. A partir dessa distinção, a doutrina tradicional sempre apontou para a

superioridade do interesse público primário (e não do secundário) sobre o interesse privado.

Atualmente, no entanto, com a relativização da dicotomia público x privado, a democratização da

defesa do interesse público e a complexidade (heterogeneidade) da sociedade atual, entre outros

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fatores, vêm ganhando força a ideia de “desconstrução” do princípio da supremacia do interesse

público em abstrato. Portanto, não existe um interesse público único, estático e abstrato, mas sim

finalidades públicas normativamente elencadas que não estão necessariamente em confronto com

os interesses privados, razão pela qual seria mais adequado falar em “princípio da finalidade

pública”, em vez do tradicional “princípio da supremacia do interesse público”, o que reforça a ideia

de que a atuação estatal deve sempre estar apoiada em finalidades públicas, não egoístas,

estabelecidas no ordenamento jurídico. A atuação do Poder Público não pode ser pautada pela

supremacia do interesse público, mas, sim, pela ponderação e máxima realização dos interesses

envolvidos

Interesse público primário x interesse público secundário

O interesse público primário é aquele relacionado à satisfação das necessidades coletivas

(justiça, segurança, bem comum do grupo social etc.), perseguido pelo exercício das atividades-fim

do Poder Público, enquanto o interesse público secundário corresponde ao interesse individual do

próprio Estado, estando relacionado à manutenção das receitas públicas e à defesa do patrimônio

público, operacionalizadas mediante exercício de atividades-meio do Poder Público (Ricardo

Alexandre, 2018).

As seguintes assertivas foram consideradas corretas em provas:

• A supremacia do interesse público é considerada, pela doutrina, como um princípio implícito

da administração pública.

• O princípio da supremacia do interesse público não desconsidera os interesses

particulares/individuais, não obstante informa ao agente administrativo que o interesse

público prevalece sobre interesses privados. (DPC ES, 2019).

• Os contratos administrativos se distinguem dos contratos privados celebrados pela

Administração Pública pelo fato de assegurarem a esta certos poderes ou prerrogativas que

a colocam em posição de superioridade diante do particular contratado, a fim de que o

interesse público seja preservado.

• Entende-se por poder de polícia a atividade da Administração Pública que, limitando ou

disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato. É


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correto afirmar que o princípio que fundamenta o exercício desse poder da Administração é:

Princípio da supremacia do interesse público.

• O princípio da supremacia do interesse público não se radica em dispositivo específico da

CR/88, ainda que inúmeros aludam ou impliquem manifestações concretas dele. (DPC MG,

2018).

• O administrador, quando gere a coisa pública conforme o que na lei estiver determinado,

ciente de que desempenha o papel de mero gestor de coisa que não é sua, observa o princípio

da indisponibilidade do interesse público.

• A supremacia do interesse público sobre o privado e a indisponibilidade do interesse público

se constituem em supraprincípios, que refletem a dualidade existente no exercício da função

administrativa.

9.2. Princípios x regras

9.2.1. Princípios

Hoje são consideradas normas jurídicas primárias. Assim seu estudo ganhou força e

importância nos últimos anos.

• Possuem grau de abstração maior do que as regras, pois admitem uma série indefinida de

aplicações.

• São Mandamentos de otimização, que determinam a realização de algo na maior medida

possível dentro das possibilidades jurídicas e fáticas existentes, admitindo aplicação

gradativa.

• Colisão de princípios: ponderação de interesses no caso concreto.

• Condensam os valores fundamentais da ordem jurídica, e se irradiam sobre todo o sistema

jurídico, garantindo-lhe harmonia e coerência.

• Encerram ideias centrais de um sistema e dão sentido lógico e harmonioso às demais normas

que regulamentam o Direito Administrativo, possibilitando sua melhor organização.

CATEGORIAS

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Princípios fundamentais: Representam decisões políticas estruturais do Estado, servindo de

matriz para todas as demais normas constitucionais;

Princípios gerais: Em regra, são importantes especificações dos princípios fundamentais,

possuindo menor grau de abstração e irradiando-se sobre todo ordenamento jurídico. Ex: Princípio

da isonomia e da legalidade.

Princípios setoriais ou especiais: Se aplicam a determinado tema, capítulo ou título da

Constituição. Ex: L.I.M.P.E – Art. 37 CF (princípios explícitos da Constituição/88)

9.2.2. Regras:

• Direcionam-se a situações determinadas;

• Estabelecem a forma e o momento de atuação do ente público, em observância a um

determinado acontecimento que precipita suas atividades.

• O conflito de regras é resolvido na dimensão da validade (“tudo ou nada”), ou seja, a regra é

válida ou inválida, a partir dos critérios de especialidade, hierarquia e cronológico (Dworkin).

• Em alguns casos, o conflito entre regras pode ser resolvido pela dimensão do peso e, não

necessariamente, pelo critério de validade. Ex: vedação à concessão de liminar contra a

Fazenda que esgote o objeto do litígio.

9.3. Princípios Explícitos do Direito Administrativo

Assim denominados pois constam expressamente no art. 37 da CF/88. São eles:

• Legalidade

• Impessoalidade

• Moralidade

• Publicidade

• Eficiência

Obs.: Além dos princípios expressos pelo Direito Administrativo existem princípios implícitos (ou

reconhecidos) extraídos pela interpretação sistemática reconhecidos pela jurisprudência e doutrina.

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PRINCÍPIOS EXPRESSOS PRINCÍPIOS IMPLÍCITOS

• Legalidade • Princípio da Razoabilidade e Proporcionalidade

• Impessoalidade • Princípio da Supremacia do Interesse Público

• Moralidade Sobre o Privado (Princípio da Finalidade Pública)

• Publicidade • Princípio da Autotutela ou Sindicabilidade

• Eficiência • Princípio Da Continuidade Do Serviço Público

• Princípio da Motivação

• Princípio da Ampla Defesa e Contraditório

• Princípio da Segurança Jurídica e Legítima

Confiança

• Princípio da Intranscendência Subjetiva das

Sanções

Já caiu em prova e foi considerada correta a seguinte assertiva: Legalidade, publicidade,

impessoalidade, moralidade e eficiência são classificadas, pela doutrina, como princípios expressos

da administração pública por possuírem previsão normativa inserta no texto da Constituição da

República Federativa do Brasil de 1988 com aplicação direta ao campo do direito administrativo.

9.3.1. Legalidade (juridicidade)

Pelo princípio da legalidade, a atuação da administração pública subordina-se à lei, de modo

que o agente público somente poderá fazer o que proclama a lei. Assim, não havendo previsão legal,

está proibida a atuação do ente público e qualquer conduta praticada de forma arbitrária por ele.

O administrador público somente pode atuar conforme determina a lei (subordinação à lei).

Ressalta-se que a legalidade no âmbito do direito administrativo não se confunde com a

legalidade privada, em que é permitido fazer tudo que não é proibido (autonomia privada). Ex.: O

princípio da legalidade veda à administração a prática de atos inominados, embora estes sejam

permitidos aos particulares.


23
DIREITO ADMINISTRATIVO
META 01

LEGALIDADE ADMINISTRATIVA LEGALIDADE PRIVADA

A atuação da administração pública Vigora a autonomia privada. Por isso, o

subordina-se à lei, de modo que o agente particular pode fazer tudo aquilo que a lei não

público somente poderá fazer o que proibir.

proclama a lei Só deve deixar de fazer se estiver

expressamente proibido em lei.

Note a flagrante diferença entre os regimes jurídicos de direito público e direito privado, posto

que, neste último é possível realizar tudo o que a lei não proíbe, ao passo que, no primeiro, o

administrador somente pode atuar mediante previa autorização legal.

Já caiu em prova e foi considerada correta a seguinte assertiva: A legalidade administrativa é

diferente da legalidade civil, uma vez que aquela dita o limite da atuação do administrador público,

conforme imposto pela lei e esta permite ao particular aquilo que a lei não proíbe.

Já caiu em prova e foi considerada incorreta a seguinte assertiva: Em consonância com o princípio

da legalidade, estatuído no artigo 37, caput, da CR/88, a Administração Pública pode fazer tudo o

que a lei não proíbe.

Comporta dois desdobramentos:

1. Supremacia da lei: A lei prevalece e tem preferência sobre os atos da

Administração.

- Relaciona-se com a doutrina da NEGATIVE BINDUNG (VINCULAÇÃO

NEGATIVA), segundo a qual a lei representa uma limitação à vontade do

Administrador.

2. Reserva de lei: o tratamento de certas matérias deve ser formalizado

necessariamente pela legislação.

24
DIREITO ADMINISTRATIVO
META 01

- Relaciona-se com a POSITIVE BINDUNG (VINCULAÇÃO POSITIVA),

condiciona a validade da atuação dos agentes públicos à prévia autorização

legal.

* Atualmente, prevalece a ideia da vinculação positiva da Administração à lei, ou seja, a atuação do

administrador depende de prévia habilitação legal para ser legítima.

Considerações importantes:

• A legalidade deve ser reinterpretada a partir da constitucionalização do Direito

Administrativo.

• A legalidade encontra-se inserida no denominado PRINCÍPIO DA JURIDICIDADE, que exige

a submissão da atuação administrativa à lei e ao Direito => Exige-se compatibilidade com o

BLOCO DE LEGALIDADE. Pelo princípio da juridicidade, deve se respeitar, inclusive, a noção

de legitimidade do Direito.

• Difere do princípio da legalidade na esfera privada (princípio da não contradição à lei).

Segundo Rafael Oliveira, a legalidade se desdobra em supremacia da lei - a lei prevalece e

tem preferência sobre os atos da Administração - e em reserva de lei - o tratamento de certas

matérias deve ser formalizado necessariamente pela legislação, excluindo a utilização de outros atos

com caráter normativo.

ATENÇÃO AOS CONCEITOS:

I) Juridicidade: Compatibilidade com todo ordenamento jurídico;

II) Legalidade: Verificar se o ato se compatibiliza com as exigências formais ou padrões

materiais da lei;

25
DIREITO ADMINISTRATIVO
META 01

III) Legitimidade: É o ato que observa não só as formalidades prescritas ou não defesas em lei,

mas se há adequação aos princípios da boa administração, dentro de padrões razoáveis, morais

e dos princípios constitucionalmente reconhecidos.

IV) Economicidade: Foco no binômio custo/ benefício em face do meio utilizado para satisfação

social, junto ao controle de eficiência da gestão financeira, para atingir melhor índice de

resultado.

O QUE É O PRINCÍPIO DA RESPONSIVIDADE?

Consoante entendimento de Diogo de Figueiredo, a responsividade é um dos princípios

modernos que norteia a atuação da Administração Pública. Determina que, ao atuar, a

Administração não obedeça apenas à legalidade, mas também à legitimidade e ao princípio

democrático, ou seja, que atue de modo a atender os anseios da população. É, então,

inegavelmente, um dever jurídico autônomo dos agentes do Poder Público para, ao perfazerem

suas escolhas discricionárias, observarem as demandas da sociedade.

→ Há exceções ao princípio da legalidade administrativa?

Segundo o Prof. Celso Antônio Bandeira de Melo (Curso de Direito Administrativo, 26ª Ed.,

pág. 105 e 126-136), é possível apontar três restrições excepcionais ao princípio da legalidade:

a) Estado de defesa;

b) Estado de sítio e

c) Medida provisória.

Nesses três casos, deve a Administração atuar, mesmo que não haja lei regulamentando sua

atuação, o que revela a mitigação da obrigatoriedade do princípio da legalidade.

9.3.2. Princípio da impessoalidade

26
DIREITO ADMINISTRATIVO
META 01

Pelo princípio da impessoalidade, a atuação da administração pública deve ser imparcial, não

visando beneficiar ou prejudicar pessoa determinada, tendo em vista que a sua atuação está voltada

à busca do interesse público em geral.

Obs.: Para o professor Hely Lopes Meirelles (doutrina minoritária), o princípio da

impessoalidade nada mais é que o clássico princípio da finalidade, o qual impõe ao administrador

público que só pratique o ato para atingir o objetivo indicado expressa ou virtualmente pela norma

de direito, de forma impessoal.

Reflete a necessidade de uma atuação que não discrimina as pessoas, seja para benefício ou

para prejuízo. Possui duas acepções:

i. Igualdade ou isonomia: A Administração deve dispensar tratamento impessoal e isonômico

aos particulares para atender a finalidade pública. Ex.: realização de concurso público é uma

forma de observar o princípio da igualdade ou isonomia e princípio republicano*.

*APROFUNDANDO: Desde a edição da Constituição da República Federativa do

Brasil, efetivou-se, dentro da ordem constitucional jurídica vigente, o princípio

republicano, que consagra a igualdade de acesso aos cargos e empregos públicos

a todos os brasileiros natos e naturalizados, bem como aos estrangeiros na forma

da lei, conforme dicção do art. 37, I, da CRFB.

ii. Proibição de promoção pessoal: Vedação do exercício da máquina pública para atingir

interesses particulares.

Art. 37, § 1º, CF: A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e

campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou

de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens

que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos.

27
DIREITO ADMINISTRATIVO
META 01

JURISPRUDÊNCIA. STF. RE. 191668. Supremo entendeu que a inclusão de slogan de partido político

na publicidade dos atos governamentais também ofende o art. 37§1º da Constituição Federal.

OBSERVAÇÃO:

Súmula Vinculante 13: A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou

por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa

jurídica investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em

comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na administração pública direta e indireta

em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, compreendido

o ajuste mediante designações recíprocas, viola a Constituição Federal.

Segundo Odete Medauar, os princípios da impessoalidade, moralidade e publicidade tem

ligação profunda, mais que isso, há uma instrumentalização recíproca. Dessa forma, a

impessoalidade é considerada um meio para atuações dentro da moralidade, enquanto a publicidade

vai dificultar medidas contrárias à moralidade e impessoalidade, além da moralidade administrativa

implicar observância da impessoalidade e da publicidade.

A Lei nº 14.230/2021 passou a prever expressamente que a prática do nepotismo configura

ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública:

Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os

princípios da administração pública a ação ou omissão dolosa que viole os

deveres de honestidade, de imparcialidade e de legalidade, caracterizada

por uma das seguintes condutas: (Redação dada pela Lei nº 14.230, de

2021)

(...)

XI - nomear cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou

por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de

servidor da mesma pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia

ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de

confiança ou, ainda, de função gratificada na administração pública direta

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DIREITO ADMINISTRATIVO
META 01

e indireta em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito

Federal e dos Municípios, compreendido o ajuste mediante designações

recíprocas; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)

9.3.3. Princípio da moralidade

Atuação segundo padrões éticos de probidade e decoro. Exige honestidade, lealdade, boa-fé

de conduta no exercício da função administrativa. Não se confunde com a “moral social”.

O princípio da moralidade traduz a ideia de honestidade, obediência a princípios éticos, boa-

fé, lealdade, boa administração, correção de atitudes. É diferente da moralidade comum (certo e

errado do convívio social) por ser mais rígida, exigindo a correção de atitudes e a boa administração.

Trata-se, portanto, da atuação segundo padrões éticos de probidade e decoro.

Nessa esteira, segundo Matheus Carvalho (Manual de D. Administrativo, 2014), “trata-se de

princípio que exige a honestidade, legalidade, boa-fé de conduta no exercício da função

administrativa, ou seja, a atuação não corrupta dos gestores públicos, ao tratar com a coisa de

titularidade do Estado”.

Odete Medauar aponta que a ação popular é um dos instrumentos constitucionais para

sancionar a inobservância da moralidade, uma vez que pode ser proposta por qualquer cidadão para

anular ato lesivo à moralidade administrativa.

→ A prática do nepotismo na Administração Pública viola o princípio da moralidade?

R.: De acordo com o STF, nepotismo significa “proteção”, “apadrinhamento”, que é dado pelo

superior para um cônjuge, companheiro ou parente seu, contratado para o cargo ou designado para

a função em virtude desse vínculo. Isso ofende a moralidade. Ressalta-se que o nepotismo é vedado

em qualquer dos Poderes da República por força dos princípios constitucionais da impessoalidade,

eficiência, igualdade e moralidade, independentemente de previsão expressa em diploma

legislativo. Assim, o nepotismo não exige a edição de uma lei formal proibindo a sua prática, uma

vez que tal vedação decorre diretamente dos princípios contidos no art. 37, caput, da CF/88 (STF

Rcl 6.70+2/PR-MC-Ag)
29
DIREITO ADMINISTRATIVO
META 01

No entanto, o STF tem afastado a aplicação da SV 13 (que veda o nepotismo) a cargos

públicos de natureza política. Assim, a jurisprudência do STF, em regra, tem excepcionado a regra

sumulada e garantido a permanência de parentes de autoridades públicas em cargos políticos, sob

o fundamento de que tal prática não configura nepotismo.

Exceção: poderá ficar caracterizado o nepotismo mesmo em se tratando de cargo político em

2 casos:

1) Caso fique demonstrada a inequívoca falta de razoabilidade na nomeação por manifesta

ausência de qualificação técnica ou inidoneidade moral do nomeado. STF. 1ª Turma. Rcl

28024 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 29/05/2018.

2) Em casos de fraude à lei.

Súmula vinculante 13-STF: A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente

em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da

autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido em

cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em

comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na Administração

Pública direta e indireta em qualquer dos poderes da União, dos Estados, do

Distrito Federal e dos municípios, compreendido o ajuste mediante

designações recíprocas, viola a Constituição Federal. (MUITO

IMPORTANTE!)

A Lei nº 14.230/2021 passou a prever expressamente que a prática do nepotismo

configura ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração

pública:

Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os

princípios da administração pública a ação ou omissão dolosa que viole os

deveres de honestidade, de imparcialidade e de legalidade, caracterizada

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DIREITO ADMINISTRATIVO
META 01

por uma das seguintes condutas: (Redação dada pela Lei nº 14.230, de

2021)

(...)

XI - nomear cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou

por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de

servidor da mesma pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia

ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de

confiança ou, ainda, de função gratificada na administração pública direta

e indireta em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito

Federal e dos Municípios, compreendido o ajuste mediante designações

recíprocas; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)

Todavia, o art. 11, § 5º, da Lei 8.429/92, estabelece que não se configurará improbidade a mera

nomeação ou indicação política por parte dos detentores de mandatos eletivos, sendo necessária

a aferição de dolo com finalidade ilícita por parte do agente.

Dissecando a Súmula Vinculante 13 e o dispositivo legal (art. 11, inciso XI, da Lei nº 8.429/92)

para facilitar a memorização:

→ Quem não pode ser nomeado?

R: Cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau,

inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica, investido em cargo de

direção, chefia ou assessoramento

▪ Cônjuge,

▪ Companheiro

▪ Parente em linha reta,

▪ Parente colateral até o 3ª grau, inclusive

▪ Parente por afinidade até o 3º grau, inclusive

➢ da autoridade nomeante ou
31
DIREITO ADMINISTRATIVO
META 01

➢ de servidor da mesma pessoa jurídica, investido em cargo de direção,

chefia ou assessoramento

→ Não pode ser nomeado para o que?

R.: Para o exercício de cargo em comissão ou de confiança, ou, ainda, de função gratificada na

Administração Pública direta e indireta, em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito

Federal e dos municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas viola a

Constituição Federal

▪ Cargo em comissão

▪ Cargo em confiança

▪ Função gratificada

Vamos relembrar...

CARGO EM COMISSÃO CARGO EM CONFIANÇA ou

FUNÇÃO DE CONFIANÇA

Cargo baseado na confiança, de Cargo também baseado na confiança,

livre nomeação e livre exoneração para atividades de direção, chefia e

(exoneração ad nutum), para assessoramento. No entanto, somente

atividades de direção, chefia e quem ocupa cargo efetivo pode ser

assessoramento. Pode ser ocupado nomeado.

por qualquer pessoa, mas deve ser

guardado um percentual para

quem já é de carreira.

CF, Art. 37, V - as funções de confiança, exercidas exclusivamente por servidores

ocupantes de cargo efetivo, e os cargos em comissão, a serem preenchidos por

servidores de carreira nos casos, condições e percentuais mínimos previstos em lei,

32
DIREITO ADMINISTRATIVO
META 01

destinam-se apenas às atribuições de direção, chefia e assessoramento;

(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

→ E o nepotismo cruzado? Também é vedado?

A parte final da súmula proíbe o nepotismo no ajuste, mediante redesignações recíprocas. Não pode

na mesma pessoa jurídica, mas também não pode trocar de parentes, não pode nepotismo cruzado.

A União concede um cargo comissionado para um primo do governador, e o governador para um

irmão do presidente. Redesignações recíprocas é o nepotismo cruzado, o que é vedado.

Já caiu em prova e foi considerada INCORRETA a seguinte afirmativa: O acordo de designações

reciprocas, a despeito de ser prática socialmente reprovada, não chega a constituir violação aos

princípios da moralidade, impessoalidade, eficiência e isonomia.

No concurso da PGE AL (CESPE - 2021), o tema foi cobrado da seguinte forma:

Suponha que determinado governador de estado tenha nomeado:

• Lúcio, seu tio, para cargo em comissão em seu gabinete;


• Ana, sua prima, para chefe de seu gabinete;
• Tatiana, sua filha, aprovada em concurso público, para o cargo de auditor fiscal do estado.

Nessa situação hipotética, foi respeitado o princípio da moralidade administrativa, por não
se ter contrariado a vedação ao nepotismo, somente na nomeação de

A) Ana.
B) Lúcio e na de Tatiana.
C) Lúcio e na de Ana.
D) Ana e na de Tatiana.
E) Tatiana.

A alternativa considerada correta foi a letra D.

No concurso da PGE RS (FUNDATEC - 2021), o tema foi cobrado da seguinte forma:

Analise as assertivas abaixo:

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DIREITO ADMINISTRATIVO
META 01

I. A vedação ao nepotismo não exige a edição de lei formal para coibir a prática, dado que
essa proibição decorre diretamente dos princípios contidos no Art. 37, caput, da
Constituição Federal.
II. Nos termos do Art. 37, § 6º, da Constituição Federal, não se caracteriza a
responsabilidade civil objetiva do Estado por danos decorrentes de crime praticado por
pessoa foragida do sistema prisional, quando não demonstrado o nexo causal direto entre
o momento da fuga e a conduta praticada.
III. É constitucional a legislação que delega o poder de polícia a pessoas jurídicas de direito
privado integrantes da Administração Pública indireta de capital social majoritariamente
público que prestem exclusivamente serviço público de atuação própria do Estado e em
regime não concorrencial.
IV. A publicidade dos programas, obras e serviços dos órgãos públicos deverá ter caráter
educativo, informativo ou de orientação social, sendo vedada a publicização de nomes,
símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores
públicos.

Quais estão corretas?

A) Apenas II e IV.
B) Apenas I, II e III.
C) Apenas I, III e IV.
D) Apenas II, III e IV.
E) I, II, III e IV.

A alternativa considerada correta foi a letra E.

9.3.4. Princípio da publicidade

Impõe a divulgação e exteriorização dos atos do poder público, guardando relação com o

princípio democrático, ao possibilitar o controle social sobre os atos públicos. Em outras palavras: a

atuação da Administração pública deve ser sempre o mais transparente possível!

Inclusive, atualmente, nos moldes da LIA – Lei de Improbidade Administrativa, constitui-se em

ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública,

negar publicidade aos atos oficiais.

Ressalta-se ainda que a publicidade também representa condição de eficácia dos atos

administrativos, de modo que estes só começam a produzir efeitos a partir de sua publicidade. Assim,

enquanto o ato não é publicado, o particular não toma conhecimento deste, e sem tomar ciência, não

pode praticar e/ou observá-lo. Logo, não tem capacidade de ser eficiente, daí porque se fala que a

publicidade é um pressuposto de eficácia.

34
DIREITO ADMINISTRATIVO
META 01

Requisito de eficácia dos atos administrativos = capacidade de produção de seus efeitos

É possível restringir a publicidade em casos excepcionais, conforme Artigo 5º, LX, CF:

“Artigo 5º, CF:

“LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando

a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem”.

X - São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das

pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral

decorrente de sua violação;

XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu

interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas

no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo

sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado;

Frise-se que a Lei nº 12. 527/11 (Lei de Acesso à informação) prevê a possibilidade de

restrição ao fornecimento de informações, se imprescindíveis à segurança da sociedade ou do

Estado.

Ainda segundo a Lei de Acesso à Informação, os prazos máximos de restrição de acesso à

informação, conforme a classificação, são os seguintes:

• Ultrassecreta: 25 anos;

• Secreta: 15 anos;

• Reservada: 5 anos.

Por fim, com fundamento no princípio da publicidade, o STF decidiu ser legítima a possibilidade

de divulgação de vencimentos dos servidores públicos com relação nominal. Veja:


35
DIREITO ADMINISTRATIVO
META 01

• STF (Info 782): É legítima a publicação, inclusive em sítio eletrônico mantido pela

Administração Pública, dos nomes de seus servidores e do valor dos correspondentes

vencimentos e vantagens pecuniárias. A divulgação dos vencimentos dos servidores, a ser

realizada oficialmente, constitui informação de interesse público que não viola a intimidade

e a segurança deles, uma vez que esses dados dizem respeito a agentes públicos em

exercício nessa qualidade.

• A publicidade tem grande abrangência, não só pela divulgação oficial, mas também para

conhecimento e fiscalização interna de seus agentes.

• Instrumentos: habeas data (art. 5º, LXXII, CF); direito à informação (art. 5º, XXXIII, CF);

certidões (art. 5º, XXXIV, ‘b’, CF).

• A publicidade também é apontada pela doutrina como requisito de eficácia dos atos

administrativos.

• Enunciado 15 da I Jornada de Direito Administrativo CJF/STJ: A administração pública

promoverá a publicidade das arbitragens da qual seja parte, nos termos da Lei de Acesso à

Informação.

Mazza afirma que a publicidade dos atos administrativos tem a finalidade de: exteriorizar a

vontade da Administração Pública divulgando seu conteúdo para conhecimento público; presumir o

conhecimento do ato pelos interessados; tornar exigível o conteúdo do ato; desencadear a produção

de efeitos do ato administrativo; dar início ao prazo para interposição de recursos; indicar a fluência

dos prazos de prescrição e decadência; impedir a alegação de ignorância quanto ao conteúdo do ato,

e; permitir o controle de legalidade do comportamento.

9.3.5. Princípio da eficiência

Inserido pela EC 19/98, para substituir a Administração Pública burocrática pela gerencial,

tendo em vista a necessidade de efetivação célere das finalidades públicas elencadas no

ordenamento jurídico.

Relacionada com a necessidade de efetivação célere das finalidades públicas elencadas no

ordenamento jurídico.
36
DIREITO ADMINISTRATIVO
META 01

Nesse sentido, o princípio da eficiência exige que a atividade administrativa seja exercida com

presteza, perfeição e rendimento funcional, sua aplicação orienta e serve de fundamento para a

construção de uma concepção de Administração Pública Gerencial.

A eficiência ganhou roupagem de direito expresso, mas ela já era exigida como princípio

implícito e já existia de forma expressa no art. 6º da lei 8987/95, que trata de serviço público. Esse

art. 6º traz o conceito de serviço adequado, exigindo a eficiência. Vejamos:

Art. 6º - Toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de serviço

adequado ao pleno atendimento dos usuários, conforme estabelecido nesta

Lei, nas normas pertinentes e no respectivo contrato.

§1º Serviço adequado é o que satisfaz as condições de regularidade,

continuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia na sua

prestação e modicidade das tarifas.

De acordo com Rafael Oliveira, a concretização dos resultados, sempre que possível, deve ser

realizada através de processo político-participativo: planejamento - planos de ação, orçamento e

prioridades, com destaque para participação da população por meio de audiências e consultas

públicas; execução - medidas concretas para satisfação dos resultados previamente delimitados, e;

controle - os órgãos controladores não devem se restringir à legalidade formal na análise da

juridicidade da ação administrativa, devendo levar em consideração os demais princípios e o alcance

dos resultados esperados.

A concretização dos resultados deve ser realizada por:

Planejamento Execução Controle

plano de ação, orçamento e medidas concretas para órgãos controladores não

prioridades satisfação dos resultados devem se restringir à

legalidade formal na análise

da juridicidade da ação

administrativa, devendo levar

37
DIREITO ADMINISTRATIVO
META 01

em conta os demais princípios

e alcance dos resultados.

OBSERVAÇÃO: trata-se de norma de aplicabilidade imediata.

- Exemplo de aplicação: avaliação periódica de desempenho dos servidores públicos (Art. 41,

CF):

- avaliação especial de desempenho - art. 41, §4º, “como condição para aquisição da

estabilidade, é obrigatória a avaliação especial de desempenho por comissão instituída para

esse fim”.

- avaliação periódica de desempenho - art. 41, III, da CF “mediante procedimento de avaliação

periódica de desempenho, na forma da lei complementar, assegurada ampla defesa”.

- regra limitadora com gastos de pessoal (art. 169, CF).

Já caiu em prova e foi considerada CORRETA a seguinte assertiva: Tanto o modo de atuação do

agente público quanto o modo de organizar, estruturar e disciplinar a Administração Pública, a fim

de alcançar os melhores resultados, são aspectos a serem considerados na definição do princípio da

eficiência

9.4. Outros princípios administrativos

9.4.1. Princípio da razoabilidade e proporcionalidade – prevalece a tese de fungibilidade dos


princípios.

Segundo Rafael Oliveira, existe polêmica quanto à existência ou não de diferenças entre os

princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. No entanto, tem prevalecido a tese da

fungibilidade entre os citados, os quais se entremeiam através de ideais de igualdade, justiça

material e racionalidade, traduzindo-se com relevantes instrumentos de contenção dos possíveis

excessos cometidos pelo Poder Público.

38
DIREITO ADMINISTRATIVO
META 01

O princípio da razoabilidade surge no direto anglo-saxão, ao passo que o princípio da

proporcionalidade surge no direito germânico.

A razoabilidade é a coerência, lógica, congruência, equilíbrio, tendo sempre por base o padrão

do homem médio. Ela proíbe os excessos, as condutas insensatas. O administrador tem que agir com

bom senso, com equilíbrio.

Para os administrativistas, o princípio da proporcionalidade está embutido no princípio da

razoabilidade, pois prevalece a tese de fungibilidade dos princípios.

OBSERVAÇÃO:

Não se esqueça que estamos diante de um princípio implícito, ok?

Subdivide-se em 03 subprincípios:

I) Adequação ou idoneidade: o ato estatal deverá contribuir para a realização do resultado

pretendido.

II) Necessidade ou exigibilidade: caso existam duas medidas adequadas para alcançar o

fim perseguido, o Poder Público deve adotar a medida menos gravosa aos direitos

fundamentais.

III) Proporcionalidade em sentido estrito: é a ponderação, no caso concreto, entre o ônus

imposto pela atuação estatal e o benefício por ela produzido, razão pela qual a restrição

ao direito fundamental deve ser justificada pela importância do princípio ou direito.

ATENÇÃO!

O princípio da proporcionalidade é, ainda, um limite à discricionariedade do legislador, que, muitas

vezes, ultrapassa uma linha tênue e se torna arbitrariedade (a qual é vedada no ordenamento jurídico

brasileiro). Assim, mesmo que se trate de um ato administrativo discricionário, se tal ato não

obedecer ao princípio da proporcionalidade/razoabilidade, será possível a interferência do Poder

Judiciário sem que isso acarrete violação à Separação de Poderes. Isso porque tais princípios,

39
DIREITO ADMINISTRATIVO
META 01

embora implícitos, são princípios constitucionais que decorrem do devido processo legal. Nesse caso,

o Poder Judiciário realiza o controle de legalidade em sentido amplo, isto é, o controle do ato em

relação a leis infraconstitucionais e à própria CF. Por ess emotivo a doutrina trata desses princípios

como limitadores da liberdade e discricionariedade do administrador.

9.4.2. Princípio da supremacia do interesse público sobre o privado (princípio da finalidade


pública)

O interesse público divide-se em (doutrina italiana):

• Interesse público primário: Necessidade de satisfação das necessidades coletivas. É o

interesse com as necessidades sociais;

• Interesse público secundário: É o interesse do próprio Estado, enquanto sujeito de direitos e

obrigações, ligando-se à noção de interesse do erário. É o interesse do Estado com si próprio,

como pessoa jurídica de direito público que é.

Assim, pelo princípio, há uma primazia de soluções e decisões que atendam ao interesse

coletivo, em detrimento do interesse de um único indivíduo ou grupo seleto de indivíduos.

Segundo Odete Medauar, a finalidade da atuação da Administração Pública está respaldada

no atendimento do interesse público e o desvirtuamento dessa finalidade suscita o vício do desvio

de poder ou desvio de finalidade.

Interesse público primário x Interesse público secundário: O interesse primário é composto

pelas necessidades da sociedade, ou seja, dos cidadãos enquanto partícipes da coletividade, não se

confundindo com a vontade da máquina estatal, a qual configura o interesse secundário.

Nesse sentido, faz-se relevante um julgado do STJ que, apesar de ter sido tomado com base

na Lei 8.666/93, pode ser aplicado à Lei 14.133/21. Vejamos:

Não se amolda à hipótese de dispensa de licitação prevista no art. 24, II,


da Lei n. 8.666/1993 a situação em que, contratada organizadora para a
realização de concurso público por valor inferior ao limite previsto no
referido dispositivo, tenha-se verificado que a soma do valor do contrato
com o total arrecado a título de taxa de inscrição supere o limite de

40
DIREITO ADMINISTRATIVO
META 01

dispensa previsto no aludido inciso. A Constituição da República estabelece


como regra a obrigatoriedade da realização de licitação, que é desnecessária
nas excepcionais hipóteses previstas em lei, como na dispensa para a
contratação de serviços de valor inferior ao limite estabelecido no art. 24, II,
da Lei n. 8.666/1993. Não cabe ao intérprete criar novos casos de dispensa,
sobretudo porquanto a licitação é destinada a garantir a observância do
princípio constitucional da isonomia e a seleção da proposta mais vantajosa
para a administração (art. 3º da Lei n. 8.666/93). Nesse contexto, ainda que
os valores recolhidos como taxa de inscrição não sejam públicos, a adequada
destinação deles é de interesse público primário. Mesmo que a contratação
direta de banca realizadora de concurso sem licitação não afete o interesse
público secundário (direitos patrimoniais da Administração Pública), é
contrária ao interesse público primário, pois a destinação de elevado
montante de recursos a empresa privada ocorrerá sem o processo
competitivo, violando, dessa maneira, o princípio da isonomia. 1

9.4.3. Princípio da autotutela ou sindicabilidade

Poder-dever da Administração rever os seus próprios atos, seja para anulá-los ou revoga-los.

A Administração pode ser provocada para rever seus próprios atos, podendo ser feito o controle de

ofício também; diferentemente do Poder Judiciário, que não pode atuar no exercício do controle das

atividades estatais sem que haja provocação para tanto.

Pelo princípio da autotutela, também denominado de sindicabilidade, a administração pública

tem a prerrogativa de rever os seus próprios atos independentemente de provocação, seja para

revogá-los ou para anulá-los, fala-se que este controle pode ser de legalidade ou de mérito. Quando

ilegal o ato será anulado, quando inoportuno ou inconveniente será revogado.

Ressalta-se que o princípio da autotutela não afasta a possibilidade de controle de legalidade

pelo Poder Judiciário (não afasta a tutela jurisdicional), em razão do Sistema de Jurisdição Una.

ATO ILEGAL ATO INCONVENIENTE/INOPORTUNO

ANULAÇÃO REVOGAÇÃO

efeitos ex tunc efeitos ex nunc

1 REsp 1.356.260-SC, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 7/2/2013 (Informativo nº 0516).
41
DIREITO ADMINISTRATIVO
META 01

Entendimento importantes:

• Súmula 346 STF: A administração pública pode declarar a nulidade dos seus próprios atos.

• Súmula 473 STF: A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de

vícios que os tornam ilegais, porque dêles não se originam direitos; ou revogá-los, por

motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada,

em todos os casos, a apreciação judicial.

• Enunciado 20 da I Jornada de Direito Administrativo CJF/STJ: O exercício da autotutela

administrativa, para o desfazimento do ato administrativo que produza efeitos concretos

favoráveis aos seus destinatários, está condicionado à prévia intimação e oportunidade de

contraditório aos beneficiários do ato.

Já caiu em prova e foi considerada correta a seguinte afirmativa: A autotutela caracteriza-se por

permitir que a Administração Pública reveja seus próprios atos, revogando-os por motivo de

interesse público (oportunidade e conveniência), assim como anulando os atos inquinados pela

ilicitude.

Cuidado (1): Não confundir autotutela com autoexecutoriedade!

• Autotutela: Designa o poder-dever de corrigir ilegalidades e de garantir o interesse público

dos atos editados pela própria Administração;

• Autoexecutoriedade: Prerrogativa de imposição da vontade administrativa,

independentemente de recurso ao Poder Judiciário.

Cuidado (2): Não confundir autotutela com tutela!

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DIREITO ADMINISTRATIVO
META 01

• Autotutela: o princípio da autotutela autoriza a administração a realizar controle dos seus

atos, podendo anular os ilegais e revogar os inconvenientes ou inoportunos,

independentemente de decisão do Poder Judiciário.

• Tutela: pelo princípio da tutela, a administração exerce controle sobre pessoa jurídica por ela

instituída, com o objetivo de garantir a observância de suas finalidades institucionais. (=

supervisão ministerial = controle finalístico)

A Administração Pública deve observar algum requisito quando for anular atos ilegais?

O princípio da autotutela administrativa preleciona que a Administração Pública

possui o poder-dever de rever os seus próprios atos, seja para anulá-los por vício de

legalidade, seja para revogá-los por questões de conveniência e de oportunidade conforme

art. 53 da Lei 9.784/99 e Súmulas 346 e 473 do STF.

O STF possui entendimento, contudo, no sentido de que, a despeito deste poder-dever

de anular os atos ilegais, se a invalidação do ato administrativo repercutir no campo de

interesses individuais, faz-se necessária a instauração de processo administrativo que

assegure o devido processo legal e a ampla defesa (Informativo 763 do STF).

A Administração Pública pode anular seus próprios atos quando estes forem ilegais. No

entanto, se a invalidação do ato administrativo repercute no campo de interesses individuais, faz-

se necessária a instauração de procedimento administrativo que assegure o devido processo

legal e a ampla defesa. Assim, a prerrogativa de a Administração Pública controlar seus próprios

atos não dispensa a observância do contraditório e ampla defesa prévios em âmbito

administrativo. STF. 2ª Turma. RMS 31661/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 10/12/2013

(Info 732). STF. Plenário. MS 25399/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 15/10/2014 (Info

763).

Além disso, o art. 54 da lei 9.784/99 estipula que o direito da Administração de anular

os atos administrativos de que decorram efeitos favoráveis aos destinatários decai em 5 anos,

contados da data em que foram praticados, salvo comprovada má fé.

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DIREITO ADMINISTRATIVO
META 01

Art. 54. O direito da Administração de anular os atos administrativos de

que decorram efeitos favoráveis para os destinatários decai em cinco anos,

contados da data em que foram praticados, salvo comprovada má-fé.

Trata-se, portanto, de um prazo para o exercício da autotutela. Ressalta-se que, em

princípio, a Lei nº 9.784/99 deveria regular apenas e unicamente o processo administrativo no

âmbito da Administração Federal direta e indireta. O processo administrativo na esfera dos

Estados e dos Municípios deve ser tratado por meio de legislação a ser editada por cada um desses

entes, em virtude da autonomia legislativa que gozam para regular a matéria em seus territórios.

No entanto, o STJ entende que, se o Estado ou o Município não possuir em sua legislação

previsão de prazo decadencial para a anulação dos atos administrativos, deve-se aplicar, por

analogia integrativa, o art. 54 da Lei nº 9.784/99. Essa conclusão é baseada nos princípios da

razoabilidade e da proporcionalidade. O entendimento acima resultou na edição da Súmula 633

do STJ. Vejamos:

Súmula 633-STJ: A Lei 9.784/99, especialmente no que diz respeito ao

prazo decadencial para revisão de atos administrativos no âmbito da

administração pública federal, pode ser aplicada de forma subsidiária aos

Estados e municípios se inexistente norma local e específica regulando a

matéria.

Veja uma recente jurisprudência mitigando esse prazo decadencial de 5 anos:

Mesmo depois de terem se passado mais de 5 anos, a Administração

Pública pode anular a anistia política concedida quando se comprovar a

ausência de perseguição política, desde que respeitado o devido

processo legal e assegurada a não devolução das verbas já recebidas

No exercício do seu poder de autotutela, poderá a Administração Pública

rever os atos de concessão de anistia a cabos da Aeronáutica com

fundamento na Portaria 1.104/1964, quando se comprovar a ausência de

ato com motivação exclusivamente política, assegurando-se ao anistiado,

44
DIREITO ADMINISTRATIVO
META 01

em procedimento administrativo, o devido processo legal e a não

devolução das verbas já recebidas. Ex: 2003, João, ex-militar da

Aeronáutica, recebeu anistia política, concedida por meio de portaria do

Ministro da Justiça. Em 2006, a AGU emitiu nota técnica fazendo alguns

questionamentos sobre a forma indevida pela qual estavam sendo

concedidas anistias políticas, dentre elas a que foi outorgada a João. Em

2011, o Ministro da Justiça determinou que fossem revistas as concessões

de anistia de inúmeros militares, inclusive a de João. Em 2012, foi aberto

processo administrativo para examinar a situação de João e, ao final,

determinou-se a anulação da anistia política. Mesmo tendo-se passado

mais de 5 anos, a anulação do ato foi possível, seja por força da parte final

do art. 54 da Lei nº 9.784/99, seja porque o prazo decadencial do art. 54

da Lei nº 9.784/99 não se aplica quando o ato a ser anulado afronta

diretamente a Constituição Federal. STF. Plenário. RE 817338/DF, Rel.

Min. Dias Toffoli, julgado em 16/10/2019 (repercussão geral – Tema 839)

(Info 956). É possível a anulação do ato de anistia pela Administração

Pública, evidenciada a violação direta do art. 8º do ADCT, mesmo quando

decorrido o prazo decadencial contido na Lei nº 9.784/99. STJ. 1ª Seção.

MS 19070-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. Acd. Min. Og

Fernandes, julgado em 12/02/2020 (Info 668).

No mesmo sentido STJ julgou: Mesmo depois de terem se passados mais de 5 anos, a

Administração Pública pode anular a anistia política concedida quando se comprovar a ausência

de perseguição política, desde que respeitado o devido processo legal e assegurada a não

devolução das verbas já recebidas. (STF. Plenário. RE 817338/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado

em 16/10/2019 - Info 956)

Ademais, o prazo decadencial do art. 54 da Lei nº 9.784/99 não se aplica quando o ato a

ser anulado afronta diretamente a Constituição Federal. Veja:

45
DIREITO ADMINISTRATIVO
META 01

Não existe direito adquirido à efetivação na titularidade de cartório quando

a vacância do cargo ocorre na vigência da CF/88, que exige a submissão a

concurso público (art. 236, § 3º). O prazo decadencial do art. 54 da Lei nº

9.784/99 não se aplica quando o ato a ser anulado afronta diretamente a

Constituição Federal. O art. 236, § 3º, da CF é uma norma constitucional

autoaplicável. Logo, mesmo antes da edição da Lei 8.935/1994 ela já tinha

plena eficácia e o concurso público era obrigatório como condição para o

ingresso na atividade notarial e de registro. STF. Plenário. MS 26860/DF,

Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 2/4/2014 (Info 741)

Em decisão na qual se evidencie não acarretarem lesão ao interesse público nem

prejuízo a terceiros, os atos que apresentarem defeitos sanáveis poderão ser convalidados

pela própria Administração.

OBSERVAÇÃO:

Recentemente, STF decidiu que, em regra, o prazo decadencial para que a Administração

anule atos administrativos inválidos é de 5 anos, aplicável a todos os entes federativos, por força

do princípio da isonomia, ou seja:

É inconstitucional lei estadual que estabeleça prazo decadencial de 10

(dez) anos para anulação de atos administrativos reputados inválidos pela

Administração Pública estadual.

STF. Plenário. ADI 6019/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, redator do acórdão

Min. Roberto Barroso, julgado em 12/4/2021 (Info 1012).

9.4.4. Princípio da segurança jurídica e legítima confiança

O princípio da segurança jurídica é um fundamento geral do ordenamento, sendo aplicável a

todos os ramos do Direito. Seu conteúdo volta-se à garantia de estabilidade, ordem, paz social e

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DIREITO ADMINISTRATIVO
META 01

previsibilidade das atuações estatais. Alinha-se à finalidade primeira da ordem jurídica que é

propiciar segurança e estabilidade no convívio social, evitando mudanças abruptas, sobressaltos e

surpresas decorrentes de ações governamentais. Em termos práticos seu principal emprego no

Direito Administrativo está na proibição de aplicação retroativa de novas interpretações de

dispositivos legais e normas administrativas. É nesse sentido que deve ser compreendida a regra

prevista no art. 2º, parágrafo único, XIII, da Lei n. 9.784/99:

“Nos processos administrativos serão observados, entre outros, os critérios

de: (...)

XIII – interpretação da norma administrativa da forma que melhor garanta o

atendimento do fim público a que se dirige, vedada aplicação retroativa de

nova interpretação”.

Tem expressa previsão no art. 2º, parágrafo único, da Lei n. 9.784/99, que regula o processo

administrativo no âmbito federal, in verbis:

“A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da

legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade,

moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público

e eficiência”.

De acordo com entendimento do Supremo Tribunal Federal, a segurança jurídica é também

princípio constitucional na posição de subprincípio do Estado de Direito (MS 24.268/MG).

Segundo Maria Di Pietro, o direito administrativo brasileiro herdou do direito alemão (já caiu

em prova) a inspiração para aplicação do princípio da segurança jurídica, especialmente sob o

aspecto subjetivo da proteção à confiança.

Quanto ao princípio da segurança jurídica, pode ele ser analisado em duas acepções. Em

sentido objetivo, estabelece limites à retroatividade dos atos estatais, impedindo que prejudiquem

o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada (art. 5º, XXXVI, da CF). Pode ser invocado

tanto pelo Estado quanto por particulares. Em sentido subjetivo, é também denominado de princípio

47
DIREITO ADMINISTRATIVO
META 01

da proteção à confiança legítima. Seu conteúdo exige uma previsibilidade ou calculabilidade

emanada dos atos estatais (Canotilho).

Objetivo Subjetivo

estabilização do ordenamento jurídico proteção a confiança das pessoas em relação às

expectativas geradas por promessas e atos

estatais. É princípio autônomo.

Segundo Rafael Oliveira, os princípios da segurança jurídica, da confiança legítima e da boa-fé

guardam importantes semelhanças entre si.

Segurança jurídica Legítima confiança

possui caráter amplo, aplicado às relações tutela apenas a esfera jurídica do particular,

públicas e privadas protegendo-o da atuação arbitrária do Estado.

A noção de proteção da confiança legítima aparece como uma reação à utilização abusiva de

normas jurídicas ou atos administrativos que surpreendam bruscamente o seu destinatário. Um

exemplo de aplicação do princípio da legítima confiança diz respeito à impossibilidade de devolução

de valores recebidos de boa-fé por servidores públicos, em virtude de errônea interpretação de lei

pela Administração:

STJ (Info 579): Os herdeiros devem restituir os proventos que, por erro

operacional da Administração Pública, continuaram sendo depositados em

conta de servidor público após o seu falecimento. Não se analisa aqui se o

herdeiro estava ou não de boa-fé. O herdeiro é obrigado a devolver porque

ele não tem qualquer razão jurídica para ficar com aquele dinheiro em

prejuízo da Administração Pública. Não havia nenhuma relação jurídica entre

o herdeiro e o Estado. O fundamento aqui é o princípio que veda o

enriquecimento sem causa (art. 884 do CC).

48
DIREITO ADMINISTRATIVO
META 01

Súmula 249 TCU: É dispensada a reposição de importâncias indevidamente

percebidas, de boa-fé, por servidores ativos e inativos, e pensionistas, em

virtude de erro escusável de interpretação de lei por parte do órgão/entidade,

ou por parte de autoridade legalmente investida em função de orientação e

supervisão, à vista da presunção de legalidade do ato administrativo e do

caráter alimentar das parcelas salariais.

A proteção à confiança só pode ser invocada pelo particular, nunca pelo Estado. Em nome do

princípio da proteção à confiança legítima, é possível obter a manutenção de atos administrativos

ilegais, sempre com o objetivo de preservar a paz social e a estabilidade das relações.

Requisitos para configurar a confiança legítima:

• Ato da administração suficientemente conclusivo para gerar no administrado confiança:

· De que a Administração atuou corretamente;

· De que a conduta do afetado é lícita na relação jurídica que mantém com a

Administração;

· Confiança do afetado de que as suas expectativas são razoáveis.

• Presença de signos externos que orientam o cidadão a adotar determinada conduta;

• Ato da administração que reconhece ou constitui uma situação jurídica individualizada, cuja

durabilidade é confiável;

• Causa idônea para provocar a confiança do afetado;

• Cumprimento, pelo interessado, dos seus deveres e obrigações no caso.

Quando NÃO se aplica o princípio da confiança legítima:

• Hipóteses de má-fé do administrado;

• Não pode existir mera expectativa de direitos pelo interessado.

49
DIREITO ADMINISTRATIVO
META 01

Não impede que o poder público realize novas interpretações em relação às normas jurídicas

e às disposições legais atinentes a suas condutas. O que se proíbe é que esta nova interpretação

retroaja, de forma a prejudicar situações previamente consolidadas no ordenamento jurídico.

Vale ressaltar a importância da boa-fé trazida por Rafael Oliveira como princípio semelhante

à segurança jurídica, vez que a boa-fé deve pautar a atuação do Estado e do particular.

Nos termos do art. 54 da Lei n. 9.784/99, a Administração tem o prazo de 5 anos para anular

seus atos defeituosos, quando favoráveis aos destinatários, salvo comprovada má-fé. Por isso, após

a prazo de 5 anos, estando o servidor de boa-fé, o princípio da segurança jurídica promove a

incorporação definitiva da vantagem ao patrimônio do beneficiário proibindo a retirada do benefício.

TEORIA DOS ATOS PRÓPRIOS

Especificamente no que tange à confiança legítima, faz-se necessário pontuar uma de suas

decorrências, a teoria dos atos próprios, ou venire contra factum proprium. Segundo Rafael Oliveira

(grifos nossos),

A teoria dos atos próprios encontra fundamento no princípio da confiança


legítima, mas com ela não se confunde: de um lado, a teoria dos atos
próprios pressupõe a legalidade do ato anterior vinculante e a prática de atos
contraditórios na mesma relação jurídica; de outro lado, a confiança legítima
incide nas hipóteses de atos estatais válidos ou inválidos. A teoria dos atos
próprios pressupõe, necessariamente, a existência da confiança legítima,
mas a recíproca não é verdadeira. O princípio da proteção da confiança
legítima tem acepção abrangente que não se restringe à teoria dos atos
próprios.

Para a aplicação dessa teoria, deve-se observar 3 requisitos:

1. Identidade subjetiva e objetiva: os atos anterior e posterior devem emanar da

mesma administração e ser editados no âmbito da mesma relação jurídica;

50
DIREITO ADMINISTRATIVO
META 01

2. Conduta anterior válida e unívoca, apta a gerar expectativa legítima no

administrado;

3. Atuação contraditória: o ato posterior é incompatível com o ato anterior.

A partir de tais balizas indicadas por Rafael Oliveira, vê-se que um ato da Administração não

pode prevalecer se for contraditório a ato válido anterior, emanado da mesma pessoa jurídica (e não

de pessoa jurídica distinta, haja vista inexistir hierarquia). O professor dá, ainda, dois exemplos: não

pode a Administração multar um veículo por irregularidades encontradas assim que devidamente

finalizados a vistoria e o licenciamento; e não pode o Município deixar de lotear imóveis urbanos que

ele mesmo alienou aos particulares.

Assim, conforme citado acima, a teoria dos atos próprios constitui vertente específica do

princípio da confiança legítima, com aplicação equivalente à vedação do venire contra factum

proprium no direito civil, em um paralelo com a boa-fé objetiva que deve informar todas as relações

jurídicas.

9.4.5. Presunção de Legitimidade ou Presunção de Legalidade

Os atos administrativos são protegidos por uma presunção relativa (juris tantum) de que foram

praticados em conformidade com o ordenamento jurídico. Por isso, até prova em contrário, os atos

administrativos são considerados válidos para o Direito, cabendo ao particular o ônus de provar

eventual ilegalidade na sua prática. Em razão dessa presunção, mesmo que o ato administrativo

tenha vício de ilegalidade (ato nulo) fica garantida sua produção de efeitos, até o momento de sua

retirada por meio da invalidação.

9.4.6. Princípio da Continuidade do Serviço Público

A atuação administrativa, buscando atender da melhor forma o interesse público, preconiza

que a atividade do Estado deve ser prestada de forma contínua, ou seja, sem interrupções, motivo

pelo qual o princípio da continuidade veda a interrupção na prestação dos serviços públicos.

Está expressamente previsto no art. 6º, § 1º, da Lei n. 8.987/95, e seu fundamento reside no

fato de a prestação de serviços públicos ser um dever constitucionalmente estabelecido (art. 175 da
51
DIREITO ADMINISTRATIVO
META 01

CF/88), localizando-se, portanto, acima da vontade da Administração Pública, que não tem escolha

entre realizar ou não a prestação.

Art. 6º Toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de serviço

adequado ao pleno atendimento dos usuários, conforme estabelecido nesta

Lei, nas normas pertinentes e no respectivo contrato.

§ 1o Serviço adequado é o que satisfaz as condições de regularidade,

continuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia na sua

prestação e modicidade das tarifas.

CF, Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob

regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação

de serviços públicos.

Entretanto, o art. 6º, § 3º, da Lei n. 8.987/95, de acordo com o entendimento doutrinário

majoritário e da jurisprudência do STJ, autoriza o corte no fornecimento do serviço, após prévio aviso,

nos casos de:

a) razões de ordem técnica ou de segurança das instalações; e

b) inadimplemento do usuário.

§ 3º Não se caracteriza como descontinuidade do serviço a sua interrupção

em situação de emergência ou após prévio aviso, quando:

I - motivada por razões de ordem técnica ou de segurança das instalações; e,

II - por inadimplemento do usuário, considerado o interesse da coletividade.

§ 4 A interrupção do serviço na hipótese prevista no inciso II do § 3º deste

artigo não poderá iniciar-se na sexta-feira, no sábado ou no domingo, nem

em feriado ou no dia anterior a feriado. (Incluído pela Lei nº 14.015, de

2020)

52
DIREITO ADMINISTRATIVO
META 01

OBSERVAÇÃO:

O aviso prévio dado através de comunicado em rádio de amplo alcance satisfaz as condições

de aviso prévio, haja vista se tratar de um dos meios mais populares e o de maior alcance público,

motivo pelo qual há de se reconhecer a validade e eficácia do ato administrativo. Veja a

jurisprudência do STJ nesse sentido:

Em regra, o serviço público deverá ser prestado de forma contínua, ou seja,

sem interrupções (princípio da continuidade do serviço público).

Excepcionalmente, será possível a interrupção do serviço público nas

seguintes hipóteses previstas no art. 6º, § 3º da Lei n.º 8.987/95: a) Em caso

de emergência (mesmo sem aviso prévio); b) Por razões de ordem técnica ou

de segurança das instalações, desde que o usuário seja previamente avisado;

c) Por causa de inadimplemento do usuário, desde que ele seja previamente

avisado. Se a concessionária de energia elétrica divulga, por meio de aviso

nas emissoras de rádio do Município, que haverá, daqui a alguns dias, a

interrupção do fornecimento de energia elétrica por algumas horas em

virtude de razões de ordem técnica, este aviso atende a exigência da Lei nº

8.987/95? SIM. A divulgação da suspensão no fornecimento de serviço de

energia elétrica por meio de emissoras de rádio, dias antes da interrupção,

satisfaz a exigência de aviso prévio, prevista no art. 6º, § 3º, da Lei nº

8.987/95. STJ. 1ª Turma. REsp 1270339-SC, Rel. Min. Gurgel de Faria,

julgado em 15/12/2016 (Info 598).

OBSERVAÇÃO:

A interrupção por inadimplemento do usuário não pode paralisar serviços essenciais, como,

por exemplo, corte de energia elétrica do hospital público/iluminação pública. Nos chamados

“serviços essenciais”, mantém-se o serviço e prossegue com a cobrança paralelamente.

Nesse sentido, vale destacar que, recentemente, o STJ entendeu que é possível o corte de

energia elétrica por fraude no medidor, DESDE que sejam observados alguns requisitos.
53
DIREITO ADMINISTRATIVO
META 01

Na hipótese de débito estrito de recuperação de consumo efetivo por fraude no aparelho

medidor atribuída ao consumidor, desde que apurado em observância aos princípios do contraditório

e da ampla defesa, é possível o corte administrativo do fornecimento do serviço de energia elétrica,

mediante prévio aviso ao consumidor, pelo inadimplemento do consumo recuperado correspondente

ao período de 90 (noventa) dias anterior à constatação da fraude, contanto que executado o corte

em até 90 (noventa) dias após o vencimento do débito, sem prejuízo do direito de a concessionária

utilizar os meios judiciais ordinários de cobrança da dívida, inclusive antecedente aos mencionados

90 (noventa) dias de retroação. STJ. 1ª Seção. REsp 1412433-RS, Rel. Min. Herman Benjamin,

julgado em 25/04/2018 (recurso repetitivo) (Info 634). NOVIDADE LEGISLATIVA - Lei nº

14.015/2020 Alterou a Lei nº 8.987/95 e a Lei nº 13.460/2017 para deixar mais explícito que é

possível a interrupção do serviço público em caso de inadimplemento do usuário, desde que ele seja

previamente avisado.

Podem ser apontados diversos desdobramentos normativos decorrentes do princípio da

continuidade dos serviços públicos, dentre os quais:

a) o direito de greve dos servidores públicos será exercido nos termos e nos limites definidos

em lei específica (art. 37, VII, da CF). Lembre-se que o policial civil não pode fazer greve!!!

Policias civis são proibidos de fazer greve. O exercício do direito de greve, sob

qualquer forma ou modalidade, é vedado aos policiais civis e a todos os

servidores públicos que atuem diretamente na área de segurança pública.

STF. Plenário. ARE 654432/GO, Rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min.

Alexandre de Moraes, julgado em 5/4/2017 (repercussão geral) (Info 860).

Explicação via Dizer o Direito (muito importante para fundamentar em uma prova discursiva!)

Direito de greve é incompatível com a carreira policial

Não é possível compatibilizar que o braço armado do Estado faça greve

porque isso colocaria em risco a segurança pública, a ordem e a paz social.

Os integrantes das carreiras policiais possuem o dever de fazer intervenções

e prisões em flagrante, sendo isso inconciliável com o exercício da greve.


54
DIREITO ADMINISTRATIVO
META 01

Como já afirmado, não há possibilidade de nenhum outro órgão da iniciativa

privada suprir a atividade policial. Se esta entra em greve, não há como sua

função ser substituída.

Vale ressaltar que a atividade policial, além de ser importantíssima por si só,

se for paralisada, afetará também as atribuições do Ministério Público e do

próprio Poder Judiciário.

Greve não é direito absoluto

A greve não é um direito absoluto e, neste caso, deverá ser feito um

balanceamento entre o direito de greve e o direito de toda a sociedade à

segurança pública e à manutenção da ordem pública e paz social.

Neste caso, há a prevalência do interesse público e do interesse social sobre

o interesse individual de uma categoria. Por essa razão, em nome da

segurança pública, os policiais não podem fazer greve.

Importante destacar que a ponderação de interesses aqui não envolve direito

de greve X continuidade do serviço público. A greve dos policiais é proibida

não por causa do princípio da continuidade do serviço público (o que seria

muito pouco), mas sim por conta do direito de toda a sociedade à garantia da

segurança pública, à garantia da ordem pública e da paz social.

b) restrição à aplicabilidade da exceptio non adimpleti contractus, pois o contratado

só pode interromper a execução do contrato após atraso superior a 2 (dois) meses,

contado da emissão da nota fiscal, dos pagamentos ou de parcelas de pagamentos

devidos pela Administração por despesas de obras, serviços ou fornecimentos (art.

137, §2º, IV, da Lei n. 14.133/2021);

c) possibilidade de intervenção na concessionária para garantia de continuidade na

prestação do serviço (art. 32 da Lei n. 8.987/95);

Art. 32. O poder concedente poderá intervir na concessão, com o fim de

assegurar a adequação na prestação do serviço, bem como o fiel

cumprimento das normas contratuais, regulamentares e legais pertinentes.

55
DIREITO ADMINISTRATIVO
META 01

Parágrafo único. A intervenção far-se-á por decreto do poder concedente,

que conterá a designação do interventor, o prazo da intervenção e os

objetivos e limites da medida.

d) ocupar provisoriamente bens móveis e imóveis e utilizar pessoal e serviços

vinculados ao objeto do contrato nas hipóteses de: a) risco à prestação de serviços

essenciais; b) necessidade de acautelar apuração administrativa de faltas contratuais

pelo contratado, inclusive após extinção do contrato. (art. 104, da Lei n.

14.133/2021);

Art. 58. O regime jurídico dos contratos administrativos instituído por esta

Lei confere à Administração, em relação a eles, a prerrogativa de:

V - nos casos de serviços essenciais, ocupar provisoriamente bens móveis,

imóveis, pessoal e serviços vinculados ao objeto do contrato, na hipótese da

necessidade de acautelar apuração administrativa de faltas contratuais pelo

contratado, bem como na hipótese de rescisão do contrato administrativo.

e) reversão de bens do concessionário indispensáveis à continuidade do serviço (art. 36

da Lei n. 8.987/95);

Art. 36. A reversão no advento do termo contratual far-se-á com a

indenização das parcelas dos investimentos vinculados a bens reversíveis,

ainda não amortizados ou depreciados, que tenham sido realizados com o

objetivo de garantir a continuidade e atualidade do serviço concedido.

f) encampação do contrato de concessão mediante a retomada do serviço pelo

concedente (art. 37 da Lei n. 8.987/95);

Art. 37. Considera-se encampação a retomada do serviço pelo poder

concedente durante o prazo da concessão, por motivo de interesse público,

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DIREITO ADMINISTRATIVO
META 01

mediante lei autorizativa específica e após prévio pagamento da indenização,

na forma do artigo anterior.

g) suplência, delegação e substituição de servidores públicos (Lei n. 8.112/90).

CESPE/2016 (Adaptada) - Decorre do princípio da continuidade do serviço público a possibilidade

de preencher, mediante institutos como a delegação e a substituição, as funções públicas

temporariamente vagas. Item correto.

JURISPRUDÊNCIA EM TESE – STJ

• É legítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais quando inadimplente

o usuário, desde que precedido de notificação.

• É legítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais por razões de ordem

técnica ou de segurança das instalações, desde que precedido de notificação.

• É ilegítimo o corte no fornecimento de energia elétrica quando puder afetar o direito à

saúde e à integridade física do usuário.

• É legítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais quando inadimplente

pessoa jurídica de direito público, desde que precedido de notificação e a interrupção não

atinja as unidades prestadoras de serviços indispensáveis à população.

• É ilegítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais quando inadimplente

unidade de saúde, uma vez que prevalecem os interesses de proteção à vida e à saúde.

• É ilegítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais quando a

inadimplência do usuário decorrer de débitos pretéritos, uma vez que a interrupção

pressupõe o inadimplemento de conta regular, relativa ao mês do consumo.

• É ilegítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais por débitos de usuário

anterior, em razão da natureza pessoal da dívida.

• É ilegítimo o corte no fornecimento de energia elétrica em razão de débito irrisório, por

configurar abuso de direito e ofensa aos princípios da proporcionalidade e razoabilidade,

sendo cabível a indenização ao consumidor por danos morais.

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DIREITO ADMINISTRATIVO
META 01

• É ilegítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais quando o débito

decorrer de irregularidade no hidrômetro ou no medidor de energia elétrica, apurada

unilateralmente pela concessionária.

• O corte no fornecimento de energia elétrica somente pode recair sobre o imóvel que

originou o débito, e não sobre outra unidade de consumo do usuário inadimplente.

9.4.7 Princípio da Isonomia ou da Igualdade

O princípio da isonomia é preceito fundamental do ordenamento jurídico que impõe ao

legislador e à Administração Pública o dever de dispensar tratamento igual a administrados que se

encontram em situação equivalente. Exige, desse modo, uma igualdade na lei e perante a lei

(material e formal).

Seu fundamento constitucional é o art. 5º, caput, da Constituição Federal. O princípio da

isonomia é o fundamento valorativo de diversos institutos administrativos, com o concurso público

e o dever de licitar.

Na acepção material, a isonomia significa tratar os desiguais na medida de sua desigualdade.

Assim, não haverá descumprimento da isonomia quando existir correlação lógica entre o critério de

discrímen e a discriminação legal decidida em função dele. Assim, a chave para investigar a

compatibilidade de um tratamento desigual, diante do princípio da isonomia, está na verificação de

que o fator de discriminação (idade, sexo, tempo de serviço, período de experiência, nível de

escolaridade) é coerente com a diferenciação realizada e com os princípios fundamentais protegidos

pelo ordenamento. Em outras palavras, deve haver justa razão explicando a distinção perpetrada.

Exemplos de sua aplicação:

- Súmula 683 do STF: o limite de idade para a inscrição em concurso público

só se legitima em face do art. 7º, XXX, da Constituição, quando possa ser

justificado pela natureza das atribuições do cargo a ser preenchido.

- Súmula 684 do STF: é inconstitucional o veto não motivado à participação

de candidato a concurso.

- Súmula 686 do STF: só por lei se pode sujeitar a exame psicotécnico a

habilitação de candidato a cargo público.


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DIREITO ADMINISTRATIVO
META 01

9.4.8. Princípio da Motivação

Impõe à Administração Pública o dever de indicação dos pressupostos de fato e de direito que

determinaram a prática do ato (art. 2º, parágrafo único, VII, da Lei n. 9.784/99). Assim, a validade do

ato administrativo está condicionada à apresentação por escrito dos fundamentos fáticos e jurídicos

justificadores da decisão adotada.

Art. 2º A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da

legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade,

moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público

e eficiência.

Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre

outros, os critérios de:

VII - indicação dos pressupostos de fato e de direito que determinarem a

decisão;

Trata-se de um mecanismo de controle sobre a legalidade e legitimidade das decisões da

Administração Pública. Está previsto no art. 93, X, da CF/88 e no art. 50 da Lei 9.784/99. Apesar de

haver divergência, a corrente majoritária defende que a motivação é obrigatória tanto nos atos

vinculados quanto nos atos discricionários.

A motivação é dispensada em alguns casos, como os atos de motivação evidente, os de

motivação inviável e os atos de nomeação e exoneração de cargos comissionados.

A motivação deve ser apresentada simultaneamente ou no instante seguinte à prática do ato.

Motivação intempestiva (posterior) ou extemporânea (anterior) causa nulidade do ato administrativo.

Ainda, a motivação deve ser explícita, clara e congruente.

O princípio da motivação comporta exceção, por exemplo, nomeação ou exoneração

(exoneração "ad nutum") de cargos comissionados. A exoneração "ad nutum" refere-se àquela

aplicável aos ocupantes de cargo em comissão, e prescinde (abstrai/não precisa) de motivação da

Administração.
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DIREITO ADMINISTRATIVO
META 01

No entanto, se mesmo essa motivação sendo “desnecessária”, a Administração optar por

motivá-la, estará vinculada aos motivos que explicitou no ato, em decorrência da chamada: TEORIA

DOS MOTIVOS DETERMINANTES. Isso porque os motivos vinculam todo o ato, e se não forem

respeitados, o ato torna-se nulo.

OBSERVAÇÃO 1:

Motivação aliunde ou per relationem – aquela indicada fora do ato, consistente em

concordância com fundamentos de anteriores pareceres, informações, decisões ou propostas. Ou

seja, a motivação aliunde corre todas as vezes que a motivação de um determinado ato remete à

motivação de ato anterior que embasa sua edição.

Ex.: parecer opina pela possibilidade de prática de ato de demissão de servidor, ao demitir o

servidor, a autoridade não precisa repetir os fundamentos explicitados pelo parecer, bastando, na

fundamentação do ato de demissão, declarar a concordância com os argumentos expedidos no ato

opinativo.

OBSERVAÇÃO 2:

Teoria dos Motivos Determinantes – afirma que o motivo apresentado como fundamento fático

da conduta vincula a validade do ato administrativo. Assim, se for comprovado que o alegado

pressuposto de fato é falso ou inexistente, o ato torna-se nulo.

OBSERVAÇÃO 3:

Motivo Motivação Móvel

fato que autoriza a realização exigência de explicitação, de intenção declarada pelo

do ato administrativo enunciação dos motivos agente como justificativa para

a prática do ato

Já caiu em prova e foram consideradas corretas as seguintes assertivas:

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DIREITO ADMINISTRATIVO
META 01

A exoneração ad nutum não necessita de explicitação do motivo para sua validade; todavia, se o

administrador, por faculdade, declarar o motivo, esse fato passará a ser determinante para a

configuração lícita do ato administrativo exoneratório.

A existência real de um motivo de fato alegado para a realização de ato administrativo vincula o

administrador, sendo um pressuposto de validade deste mesmo ato.

Se um ato administrativo é realizado com motivo de fato inexistente, mesmo que exista motivação,

ele é considerado ilícito com base na teoria dos motivos determinantes. (DPC ES, 2019).

9.4.9. Princípio da Ampla Defesa e Contraditório

Por força do princípio do contraditório, as decisões administrativas devem ser tomadas

considerando a manifestação dos interessados. Para isso, é necessário dar oportunidade para que

os afetados pela decisão sejam ouvidos antes do resultado final do processo.

O princípio da ampla defesa assegura aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, a

utilização dos meios de prova, dos recursos e dos instrumentos necessários para defesa de seus

interesses perante o Judiciário e a Administração.

Art. 5º, LV, CF.: aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos

acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os

meios e recursos a ela inerentes.

Sobre os princípios do contraditório e da ampla defesa, foi editada a Súmula Vinculante 3 do

STF:

“Nos processos perante o Tribunal de Contas da União asseguram-se o

contraditório e a ampla defesa quando da decisão puder resultar anulação

ou revogação de ato administrativo que beneficie o interessado, excetuada

a apreciação da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria,

reforma e pensão”.

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DIREITO ADMINISTRATIVO
META 01

A respeito dessa Súmula Vinculante, houve recente decisão do STF dispondo que não há de

se falar em contraditório e ampla defesa no julgamento de legalidade do ato de concessão inicial de

aposentadoria. Posto que ultrapassado o prazo decadencial de 5 anos, a contar da chegada do

processo na Corte, considera-se que a aposentadoria ou pensão fora registrada tacitamente, não

havendo mais a possibilidade de alteração pela Corte de Contas.

Vejamos:

Em atenção aos princípios da segurança jurídica e da confiança legítima,

os Tribunais de Contas estão sujeitos ao prazo de cinco anos para o

+julgamento da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria,

reforma ou pensão, a contar da chegada do processo à respectiva Corte

de Contas.

(...)

O Tribunal, seguindo sua jurisprudência dominante, considerou que a

concessão de aposentadoria ou pensão constitui ato administrativo

complexo, que somente se aperfeiçoa após o julgamento de sua

legalidade pela Corte de Contas.

(...)

Portanto, se o administrado tem o prazo de cinco anos para buscar qualquer

direito contra a Fazenda Pública, também deve-se considerar que o Poder

Público, no exercício do controle externo, tem o mesmo prazo para rever

eventual ato administrativo favorável ao administrado.

Desse modo, a fixação do prazo de cinco anos se afigura razoável para que

o TCU proceda ao registro dos atos de concessão inicial de aposentadoria,

reforma ou pensão, após o qual se considerarão definitivamente

registrados.

Por conseguinte, a discussão acerca da observância do contraditório e da

ampla defesa após o transcurso do prazo de cinco anos da chegada do

processo ao TCU encontra-se prejudicada. Isso porque, findo o referido

prazo, o ato de aposentação considera-se registrado tacitamente, não

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DIREITO ADMINISTRATIVO
META 01

havendo mais a possibilidade de alteração pela Corte de Contas.

(...)

RE 636553/RS, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 19.2.2020. (RE-

636553)

Veja a recente jurisprudência sobre o tema:

Em caso de irregularidades do Estado-membro em convênio federal, a

União somente poderá inscrever o ente no SIAFI, no CADIN e no CAUC

após o término do processo de prestação de contas especial, observados

os princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório

O cadastro restritivo não deve ser feito de forma unilateral e sem acesso à

ampla defesa e ao contraditório. Isso porque, muitas vezes, a inscrição pode

ter, além de motivação meramente financeira, razões políticas. Assim, ao

poder central (União) é possível suspender imediatamente o repasse de

verbas ou a execução de convênios, mas o cadastro deve ser feito nos termos

da lei, ou seja, mediante a verificação da veracidade das irregularidades

apontadas. Isso porque o cadastro tem consequências, como a

impossibilidade da repartição constitucional de verbas das receitas

voluntárias. A tomada de contas especial, procedimento por meio do qual se

alcança o reconhecimento definitivo das irregularidades, com a devida

observância do contraditório e da ampla defesa, tem suas regras definidas

em lei. Ao final, é possível tornar o dano ao erário dívida líquida e certa, e a

decisão tem eficácia de título executivo extrajudicial. STF. Plenário. ACO

2892 AgR/DF, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de

Moraes, julgado em 11/9/2019 (Info 951).

9.4.10. Princípio da Indisponibilidade ou Poder-Dever

O supraprincípio da indisponibilidade do interesse público enuncia que os agentes públicos

não são donos do interesse por eles defendido. Assim, no exercício da função administrativa os
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DIREITO ADMINISTRATIVO
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agentes públicos estão obrigados a atuar (poder-dever), não segundo sua própria vontade, mas do

modo determinado pela legislação. Como decorrência dessa indisponibilidade, não se admite

tampouco que os agentes renunciem aos poderes legalmente conferidos ou que transacionem em

juízo.

Recentemente, o supraprincípio da indisponibilidade do interesse público tem sofrido certa

relativização imposta pelo legislador. Dois exemplos principais podem ser mencionados:

1) no rito dos Juizados Especiais Federais os representantes da Fazenda Pública são

autorizados a conciliar e transigir sobre os interesses discutidos na demanda (art. 10, parágrafo

único, da Lei n. 10.259/2001);

2) passou a ser permitida a utilização de mecanismos privados para resolução de disputas,

inclusive a arbitragem, nos contratos de concessão de serviço público e nas parcerias público-

privadas (arts. 23-A da Lei n. 8.987/95 e 11, III, da Lei n. 11.079/2004);

3) nos contratos administrativos, com a vigência da Nova Lei de Licitações e Contratos (Lei nº

14.133/2021), passou a ser permitido expressamente a utilização de meios alternativos de

prevenção e resolução de controvérsias relacionadas a DIREITOS PATRIMONIAIS DISPONÍVEIS,

como as questões relacionadas ao restabelecimento do equilíbrio econômico-financeiro do

contrato, ao inadimplemento de obrigações contratuais por quaisquer das partes e ao cálculo de

indenizações, vejamos:

LEI Nº 14.133/2021:

Art. 151. Nas contratações regidas por esta Lei, poderão ser utilizados

meios alternativos de prevenção e resolução de controvérsias,

notadamente a conciliação, a mediação, o comitê de resolução de disputas

e a arbitragem.

Parágrafo único. Será aplicado o disposto no caput deste artigo às

controvérsias relacionadas a direitos patrimoniais disponíveis, como as

questões relacionadas ao restabelecimento do equilíbrio econômico-

financeiro do contrato, ao inadimplemento de obrigações contratuais por

quaisquer das partes e ao cálculo de indenizações.


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DIREITO ADMINISTRATIVO
META 01

Art. 152. A arbitragem será sempre de direito e observará o princípio da

publicidade.

Art. 153. Os contratos poderão ser aditados para permitir a adoção dos

meios alternativos de resolução de controvérsias.

Art. 154. O processo de escolha dos árbitros, dos colegiados arbitrais e dos

comitês de resolução de disputas observará critérios isonômicos, técnicos e

transparentes.

As referidas hipóteses reforçam a ideia de que, assim como ocorre com a supremacia do

interesse público, a indisponibilidade também é relativa.

9.4.11. Princípio da Intranscendência Subjetiva das Sanções

O princípio da intranscendência subjetiva significa que não podem ser impostas sanções e

restrições que superem a dimensão estritamente pessoal do infrator e atinjam pessoas que não

tenham sido as causadoras do ato ilícito

Na jurisprudência do STF encontramos dois exemplos de aplicação desse princípio em casos

envolvendo inscrição de Estados e Municípios nos cadastros de inadimplentes da União:

• 1ª acepção: quando a irregularidade foi praticada pela gestão anterior

Existem julgados do STF afirmando que se a irregularidade no convênio foi praticada pelo

gestor anterior e a gestão atual, depois que assumiu, tomou todas as medidas para ressarcir o erário

e corrigir as falhas (exs: apresentou todos os documentos ao órgão fiscalizador, ajuizou ações de

ressarcimento contra o antigo gestor etc.), neste caso, o ente (Estado ou Município) não poderá ser

incluído nos cadastros de inadimplentes da União.

Assim, segundo esta acepção, o princípio da intranscendência subjetiva das sanções proíbe

a aplicação de sanções às administrações atuais por atos de gestão praticados por

administrações anteriores.

Segundo o Min. Luiz Fux, “não se pode inviabilizar a administração de quem foi eleito

democraticamente e não foi responsável diretamente pelas dificuldades financeiras que acarretaram
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DIREITO ADMINISTRATIVO
META 01

a inscrição combatida”. Logo, deve-se aplicar o princípio da intranscendência subjetiva das sanções,

impedindo que a Administração atual seja punida com a restrição na celebração de novos convênios

ou recebimento de repasses federais. Nesse sentido: STF. 1ª Turma. AC 2614/PE, AC 781/PI e AC

2946/PI, Rel. Min. Luiz Fux, julgados em 23/6/2015 (Info 791).

O STJ comunga também desse entendimento, exigindo sempre que a gestão sucessora tenha

tomado as providências cabíveis à reparação dos danos eventualmente cometidos. Por isso, editou

a súmula 615. Vejamos:

Súmula 615-STJ: Não pode ocorrer ou permanecer a inscrição do município em cadastros restritivos

fundada em irregularidades na gestão anterior quando, na gestão sucessora, são tomadas as

providências cabíveis à reparação dos danos eventualmente cometidos.

• 2ª acepção: quando a irregularidade foi praticada por uma entidade do Estado/Município

ou pelos outros Poderes que não o Executivo

Além do caso acima explicado, o princípio da intranscendência subjetiva das sanções pode ser

aplicado também nas situações em que uma entidade estadual/municipal (ex: uma autarquia)

descumpriu as regras do convênio e a União inscreve não apenas essa entidade, como também o

próprio ente (Estado/Município) nos cadastros restritivos.

Nesse sentido: (...) O postulado da intranscendência impede que sanções e restrições de ordem

jurídica superem a dimensão estritamente pessoal do infrator. Em virtude desse princípio, as

limitações jurídicas que derivam da inscrição, em cadastros públicos de inadimplentes, das

autarquias, das empresas governamentais ou das entidades paraestatais não podem atingir os

Estados-membros, projetando, sobre estes, consequências jurídicas desfavoráveis e gravosas, pois

o inadimplemento obrigacional – por revelar-se unicamente imputável aos entes menores

integrantes da administração descentralizada – só a estes pode afetar.

Os Estados-membros e o Distrito Federal, em consequência, não podem

sofrer limitações em sua esfera jurídica, motivadas pelo só fato de se acharem

administrativamente vinculadas a eles as autarquias, as entidades

paraestatais, as sociedades sujeitas a seu poder de controle e as empresas

governamentais alegadamente inadimplentes e que, por tal motivo, hajam


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DIREITO ADMINISTRATIVO
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sido incluídas em cadastros federais (CAUC, SIAFI, CADIN, v.g.). (...) STF.

Plenário. ACO 1848 AgR, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 06/11/2014.

Poder Executivo não pode ser incluído nos cadastros de inadimplentes da

União por irregularidades praticadas pelos outros Poderes ou órgãos

autônomos

A imposição de sanções ao Poder Executivo estadual em virtude de

pendências de órgãos dotados de autonomia institucional e orgânico-

administrativa, tais como o Ministério Público estadual, constitui violação do

princípio da intranscendência, na medida em que o Governo do Estado não

tem competência para intervir na esfera orgânica dessa instituição autônoma.

O Poder Executivo não pode ser impedido de contratar operações de crédito

em razão do descumprimento dos limites setoriais de despesa com pessoal

por outros poderes e órgãos autônomos (art. 20, II, e 23, § 3º, da Lei de

Responsabilidade Fiscal). STF. Plenário. ACO 3072, Rel. Ricardo

Lewandowski, julgado em 24/08/2020 (Info 991 – clipping).

A União é parte legítima para figurar no polo passivo das ações em que

Estado-membro impugna inscrição em cadastros federais desabonadores

e/ou de restrição de crédito

Caso concreto O Estado do Amapá possui débitos com o INCRA e com o

IBAMA, duas autarquias federais. Em razão desses débitos, o Estado foi

inserido no SIAFI, no CADIN e no CAUC, cadastros de inadimplência

mantidos pela União. Tanto o INCRA como o IBAMA ajuizaram execução

fiscal para cobrar os débitos e o Estado expediu precatórios, que, no entanto,

ainda estão pendentes de pagamento. O Estado do Amapá ajuizou ação cível

originária contra a União pedindo a exclusão do Estado dos cadastros

restritivos. Legitimidade da União para figurar no polo passivo A União é

parte legítima para figurar no polo passivo das ações em que Estado-

membro impugna inscrição em cadastros federais desabonadores e/ou de

restrição de crédito, mesmo que os débitos sejam decorrentes de dívidas com


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entidades federais (e não com a administração direta). Isso porque os

Sistemas SIAFI/CAUC/CADIN são organizados e mantidos pela União,

conforme suas leis de regência, do que decorre a legitimidade desta para

figurar no polo passivo. Manutenção nos cadastros viola o princípio da

razoabilidade É indevida a inscrição do Estado-membro nos cadastros

desabonadores em decorrência de pendências administrativas relativas a

débitos já submetidos a pagamento por precatório. Isso porque a CF/88 já

previu que, em caso de descumprimento do pagamento do precatório, existe

a possibilidade de intervenção federal no ente inadimplente. Logo, é

incompatível com o postulado da razoabilidade onerar duplamente o Estado-

membro, tanto com a possibilidade de intervenção federal quanto com a sua

inscrição em cadastros desabonadores. STF. Plenário. ACO 3083, Rel.

Ricardo Lewandowski, julgado em 24/08/2020 (Info 991 – clipping).

No concurso da PGDF (2022), o tema foi cobrado da seguinte forma:

À luz da CF e da jurisprudência do STF, julgue os próximos itens, a respeito da Lei

Complementar n.º 101/2000 – Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).

Conforme a jurisprudência do STF, eventual descumprimento do limite de gastos com

pessoal, por parte do Poder Legislativo de determinado estado federado, não é impeditivo

à contratação de operações de crédito por parte do Poder Executivo do referido ente

federado.

O item foi considerado CERTO.

Referências bibliográficas:

Alexandre Mazza. Manual de Direito Administrativo.

Diogo de Figueiredo Moreira Neto. Curso de Direito Administrativo.

Fernanda Marinela. Manual de Direito Administrativo.

Maria Sylvia Zanella di Pietro. Direito Administrativo.


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Matheus Carvalho: Manual de Direito Administrativo

Odete Medauar. Direito Administrativo Moderno.

Rafael Carvalho Rezende Oliveira. Curso de Direito Administrativo

Patrícia Baptista. Transformações do direito administrativo. Rio de Janeiro: Renovar, 2003.

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