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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA _______VARA

CÍVEL DA CIRCUNSCRIÇÃO JUDICIÁRIA ESPECIAL DE


BRASÍLIA – DISTRITO FEDERAL.

AUTO SOCORRO MUNDIAL LTDA EPP,


pessoa jurídica de direito privado , inscrita no CNPJ sob o número
03.103.680/0001-67, com sede na SHCS CL QD 308, BLOCO C. LOJA 12 –
ASA SUL – DF, neste ato representado por seu sócio. VERMAR ALVES
BENTO, brasileiro, divorciado, empresário, portador do CPF nº 084.244.201-
44, residente e domiciliado na QNJ 16, CASA 01 – Taguatinga-DF, vem,
respeitosamente à presença de Vossa Excelência, por intermédio de seu
advogado firmatário, com fundamento nos artigos 844, inciso II e seguintes,
CPC; ajuizar a presente

AÇÃO DE REVISÃO DE CONTRATO DE CÉDULA DE CRÉDITO


BANCÁRIO E ABERTURA DE CRÉDITO EM CONTA CORRENTE E
REPETIÇÃO DE INDÉBITO

contra o BANCO ITAÚ SA, pessoa jurídica de direito privado, com sede na
SCRN 706/707, Bloco A, Loja 24 – Brasília-DF, por quem a represente ou na
pessoa daquele que exerça a administração ou gerência, pelas razões fáticas e
jurídicas a seguir expostas.

DOS FATOS

1. A Requerente é correntista do banco-réu, cuja conta foi aberta na

2. A Empresa Requerente celebrou com Réu, 2 (dois) contratos de


outorga de crédito (cédulas de crédito bancário) que foram movimentados na
conta bancária de nº agência 0479, conta número 57366-9, nas modalidades
de capital de giro e abertura de crédito em conta corrente:

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1) Cédula de Crédito Bancário nº 023285149-3 (Empréstimo
para Capital de Giro), em 15/03/2010, no valor de R$ 200.000,00 (Duzentos
mil reais), a ser pago em 24 (vinte e quatro) parcelas, no valor de R$
11.359,59 (Onze mil trezentos e cinqüenta e nove reais e cinqüenta e nove
centavos), cada, com juros de 2,50% ao mês e 34,49% ao ano (contrato
anexo)

2) Cédula de Crédito Bancário (Abertura de Crédito em Conta


Corrente), em 21/07/2009, com limite de crédito no valor de R$ 80.000,00
(Oitenta mil reais), com juros de 8,550% ao mês e 167,64% ao ano (contrato
anexo)

DA POSSIBILIDADE DE REVISÃO CONTRATUAL SEGUNDO O


CÓDIGO CIVIL

3. O entendimento da Jurisprudência dominante dos Tribunais


Superiores é pela possibilidade da revisão de cláusulas contratuais abusivas à
luz da atual teoria contratual adotada pelo CC/2002, segundo a qual deve
manter se o equilíbrio contratual com primazia da função social e da
equidade.1

4. Os bancos têm o direito de cobrar juros pelo crédito que


disponibilizam para remunerar o capital, todavia, não podem fazê-lo de forma
abusiva, ferindo os princípios que norteiam as relações contratuais. Nesse
sentido, transcrevo parte do voto da eminente Des. Carmelita Brasil:

“(...) Contudo, apesar da não incidência do código


consumerista ao caso, examinando as questões expostas pelos
embargantes, relacionadas aos encargos incidentes no contrato
em questão, quais sejam, correção monetária pela TR e
comissão de permanência, independentemente de se tratar de
1
CC, Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do
contrato.
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relação de consumo, entendo cabível a revisão contratual, no
caso de abusividade comprovada. (...)” (TJDFT,
20030110643282APC, Rel. Carmelita Brasil, 2ª T. Cível, j. em
17/06/09, DJ 03/08/09)

5. Desta forma, constatada a existência de encargos que oneram


demasiadamente o contrato para uma das partes, seja qual for sua natureza
(juros, multa, tarifas, etc) é possível a revisão judicial para que seja
recuperado o equilíbrio contratual.2

6. Ademais, o pedido de revisão contratual é feito com base,


também, em ofensa à Constituição Federal no tocante à capitalização mensal
de juros.

7. Isto posto, passemos à fundamentação do pedido em relação à


limitação dos juros de acordo com a taxa média do mercado.

DA NECESSIDADE DE LIMITAÇÃO DOS JUROS CONTRATADOS


SEGUNDO OS JUROS PRATICADOS NO MERCADO

8. De início, cumpre esclarecer que a jurisprudência do C. STJ


pacificou o entendimento no sentido da inexistência de limitação dos juros

2
CC, Art. 411. Quando se estipular a cláusula penal para o caso de mora, ou em segurança
especial de outra cláusula determinada, terá o credor o arbítrio de exigir a satisfação da
pena cominada, juntamente com o desempenho da obrigação principal.
CC, Art. 412. O valor da cominação imposta na cláusula penal não pode exceder o da
obrigação principal.
CC, Art. 413. A penalidade deve ser reduzida eqüitativamente pelo juiz se a obrigação
principal tiver sido cumprida em parte, ou se o montante da penalidade for manifestamente
excessivo, tendo-se em vista a natureza e a finalidade do negócio.
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remuneratórios no sistema financeiro nacional ao percentual de 12% ao ano,
estabelecido pela Lei de Usura (Dec. 22.626/33).3.

9. Todavia, em que pese não estarem vinculados ao limite de


12% ao ano, devem os juros remuneratórios serem reduzidos quando forem
abusivos e não respeitarem a taxa média de juros praticada no mercado. Nesse
sentido, a jurisprudência dominante do C. STJ:

“(...) Segundo a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, os juros


remuneratórios cobrados nos empréstimos bancários são devidos à taxa
contratada; salvo se comprovado, in concreto, que são abusivos, assim
entendidos aqueles que discrepem significativamente da média
praticada no mercado (REsp 407.097, RS; REsp 1.061.530, RS). In
casu, os juros remuneratórios foram limitados pelo Tribunal a quo, à
base da seguinte motivação: Sendo assim, tenho por certo que os juros
remuneratórios insertos em contratos bancários não estão adstritos aos
limites legais – seja os do Código Civil, seja os da lei de Usura –, mas
devem estar de acordo com a taxa média de mercado (disponível em
HTTP://www.bcb.gov.br/TXCREDMES). No caso em comento, tendo
em conta que o contrato foi firmado em julho de 2007, tendo sido
avençados juros de 50,84% a.a. (fl. 80), quando, à época da contratação,
a taxa média de juros remuneratórios praticada no mercado para tal
3
“(...) 1. Esta Corte Superior entende que se aplica às instituições financeiras o
Código de Defesa do Consumidor, nos termos da Súmula 321 do STJ. 2. A
Segunda Seção desta Corte, na assentada do dia 22.10.2008, quando do
julgamento do REsp n. 1.061.530/RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, no sistema do
novel art. 543-C do CPC?, trazido pela Lei dos Recursos Repetitivos, pacificou o
entendimento já adotado por esta Corte de que as instituições financeiras não se
sujeitam à limitação dos juros remuneratórios que foi estipulada na Lei de
Usura (Decreto 22.626/33). (...) 8. Recurso especial provido em parte. (Resp. Nº
890.753 - RS (2006/0213455-0) REL. MIN. HONILDO AMARAL DE MELLO
CASTRO (DESEMB. CONVOCADO DO TJ/AP)”
SÚM 382 STJ - A estipulação de juros remuneratórios superiores a 12% ao ano, por
si só, não indica abusividade.
SÚM 283 STJ - As empresas administradoras de cartão de crédito são instituições
financeiras e, por isso, os juros remuneratórios por elas cobrados não sofrem as
limitações da Lei de Usura.
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espécie de operação era de 28,66% a.a, verifica-se a abusividade
contratual. Nessa linha, tenho que a taxa previamente pactuada é
abusiva, devendo ficar limitada a taxa do Bacen antes referida (fl. 129).
Conforme ressaltou a em. Min. Nancy Andrighi, no REsp 1.061.530,
RS, a "perquirição acerca da abusividade não é estanque, o que
impossibilita a adoção de critérios genéricos e universais. A taxa média
de mercado, divulgada pelo Banco Central, constitui um valioso
referencial, mas cabe somente ao juiz, no exame das peculiaridades do
caso concreto, avaliar se os juros contratados foram ou não abusivos"
(DJe, 10.03.2009). Na espécie, a instância ordinária, examinando o caso
concreto, concluiu pela abusividade dos juros remuneratórios
pactuados. Desse modo, a reforma do acórdão recorrido demandaria o
revolvimento do conjunto fático-probatório – inviável em sede de
recurso especial (Súmulas 7/STJ). (...) Ante o exposto, nego provimento
ao agravo. Intimem-se. Brasília-DF, 13 de outubro de 2010.” (STJ, AGI
Nº 1.310.710 - RS (2010/0090857-5) Rel. Min. Vasco Della Giustina
Desembargador Convocado do TJ/RS, 20/10/10)

DA REVISÃO DO CONTRATO DE EMPRÉSTIMO PARA CAPITAL


DE GIRO (CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO), PARA FIXAR OS
JUROS PELA TAXA MÉDIA DO MERCADO.

10. O contrato firmado entre as parte as partes em 15/03/2010,


fixou juros remuneratórios anuais de 34,49%.

11. Em consulta ao site do Banco Central do Brasil, que


disponibiliza a taxa média de juros remuneratórios praticada no mercado 4,
pode ser contatado que a taxa média dos juros em MARÇO DE 2010, época
em que foi emitida à autora a Cédula de Crédito Bancário nº 023285149-3 -
empréstimo capital de giro - (15/03/2010), a taxa média dos juros para
operações com juros prefixados – Capital de giro - era de 2,40% a.m. e
28,83%, a.a., enquanto o contrato previa taxa mensal de 2,50% e anual de
34,49%.
4
http://www.bcb.gov.br/ftp/depec/NITJ201011.xls, acesso em 11/10/2011.
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12. Desta forma, considerando que os juros contratados em
referida Cédula (nº 023285149-3) ficaram muito acima da taxa média de
mercado, devem os juros praticados serem reduzidos à 2,40% a.m., a fim de
que respeitem a taxa média de juros de mercado, conforme exige a
jurisprudência dominante no STJ.

13. Já para a Cédula de Crédito Bancário para Abertura de


Crédito em Conta Corrente (LIS Recebíveis), datado de 21/07/2009, em
consulta ao mesmo site do Banco Central do Brasil5, verifiquei que, em julho
de 2009, época em que aludida Cédula foi emitida à autora (02/04/2008 – fl.
49), a taxa média dos juros para operações com juros prefixados – Conta
garantida - foi de 167,33% a.a., enquanto o contrato previa taxa anual de
167,64% e 08,550% ao mês.

14. Quanto à referida Cédula, nota-se que a taxa mensal e anual


de juros contratada não exorbita da taxa média para a mesma operação
divulgada pelo BACEN, à mesma época. Contudo, a capitalização mensal dos
juros é exorbitante e será objeto de apreciação logo adiante.

DA INCONSTITUCIONALIDADE DA CAPITALIZAÇÃO MENSAL


DE JUROS

15. Para as Cédulas de Crédito Bancário, a capitalização mensal


de juros é autorizada pelo art. 28, § 1º, I, da Lei nº 10.931/04.6

16. No entanto, o art. 28, § 1º, I, da Lei nº 10.931/04 foi declarado


inconstitucional pelo Conselho Especial deste E. TJDFT, por afronta direta ao

5
http://www.bcb.gov.br/ftp/depec/NITJ201011.xls, acesso em 11/10/2011.
6
Lei 10.931/04, Art. 28. A Cédula de Crédito Bancário é título executivo extrajudicial e representa
dívida em dinheiro, certa, líquida e exigível, seja pela soma nela indicada, seja pelo saldo devedor
demonstrado em planilha de cálculo, ou nos extratos da conta corrente, elaborados conforme previsto
no § 2º.
§ 1o Na Cédula de Crédito Bancário poderão ser pactuados: I - os juros sobre a dívida, capitalizados
ou não, os critérios de sua incidência e, se for o caso, a periodicidade de sua capitalização, bem como
as despesas e os demais encargos decorrentes da obrigação;
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art. 192 da Constituição Federal7, segundo o qual o sistema financeiro
nacional será regido por lei complementar. Confira-se:

“(...) 1. Ao autorizar a capitalização de juros em cédula de


crédito bancário, o inciso I, parágrafo primeiro, do artigo 28
da lei n. 10.931/2004 afronta diretamente o artigo 192, caput,
da Constituição Federal de 1988, que determina caber à lei
complementar a regulamentação de matéria afeta ao Sistema
Financeiro Nacional. 2. Declarada, incidenter tantum, a
inconstitucionalidade do inciso I, parágrafo primeiro, do
artigo 28 da lei n. 10.931/2004. (20080020008608AIL, Rel.
FLAVIO ROSTIROLA, Conselho Especial, j. em 20/05/08, DJ
05/09/08)”

17. No tocante aos contratos de Empréstimo para capital de Giro


de 15/03/2010 e do Contrato de Abertura de Conta Corrente de 21/07/2009,
resta clara a capitalização mensal dos juros. Uma simples operação
matemática revela a capitalização. No contrato de Empréstimo para Capital de
Giro, a taxa de juros mensal registrada é de 2,50% ao mês e, ao ser
multiplicada por 12 meses, encontramos o resultado de 30,0% ao ano.
Contudo, a taxa anual registrada no contrato é de 34,49% ao ano.

18. A capitalização dos juros no outro contrato (Abertura de


Credito em Conta Corrente – Cheque Especial) é ainda mais aviltante. A
taxa mensal registrada é de 8,550% ao mês e, sem a capitalização, ou seja,
com os juros simples, a taxa anual seria de 102,6%. Contudo, a taxa anual
registrada no contrato é de 167,64%.

19. Com efeito, a incidência de juros capitalizados é matéria


eminentemente de direito, não havendo necessidade da prova pericial No
mais, não se pode olvidar que a prova endereça-se ao julgador, a quem cabe
velar pela rápida solução do litígio e indeferir as diligências inúteis ou
meramente protelatórias (CPC 125 II e 130).
7
CF/88, Art. 192. O sistema financeiro nacional, estruturado de forma a promover o
desenvolvimento equilibrado do País e a servir aos interesses da coletividade, em todas as partes que
o compõem, abrangendo as cooperativas de crédito, será regulado por leis complementares que
disporão, inclusive, sobre a participação do capital estrangeiro nas instituições que o integram.
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DA INCONSTITUCIONALIDADE DA MP 1963-17 de 31/03/2000
REEDITADA PELA MP 2.170-36/2001

20. Sem embargo, cumpre ressaltar, que a capitalização mensal de


juros autorizada no sistema financeiro nacional pela MP 1963-17 de
31/03/2000, reeditada pela MP 2.170-36/2001, também foi considerada
inconstitucional pelo Egrégio Conselho Especial deste TJDFT.8

21. Embora o entendimento atual do C. STJ admita a


capitalização de juros, com periodicidade inferior a um ano, desde que
pactuada, nos contratos firmados após a Medida Provisória nº 2.170-36/2001,
o próprio STJ se exime de analisar o tema da inconstitucionalidade do art. 5º
da MP 2.170-36/2001, por tratar-se de fundamento exclusivamente
constitucional.9

22. Em contrapartida, é pacífico perante nossos tribunais que a


capitalização de juros é permitida em casos expressamente autorizados por lei,
a exemplo da capitalização anual, autorizada pelo artigo 591 do Código Civil.

8
“ARGUIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE. ART. 5º DA MEDIDA PROVISÓRIA Nº 2170-36.
OPERAÇÕES REALIZADAS PELAS INSTITUIÇÕES INTEGRANTES DO SISTEMA FINANCEIRO.
CAPITALIZAÇÃO DE JUROS COM PERIODICIDADE INFERIOR A UM ANO. MATÉRIA PREVISTA EM LEI
COMPLEMENTAR. ART. 192, CAPUT, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL COM A REDAÇÃO DADA PELA
EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 40. A matéria inserida em Medida Provisória que dispõe sobre "a
administração dos recursos de caixa do Tesouro Nacional", consolidando e atualizando a legislação
pertinente, não pode dispor sobre matéria completamente diversa, cuja regulamentação prescinde
(sic) de Lei Complementar. Declarada, incidenter tantum, a inconstitucionalidade do art. 5º, da
Medida Provisória 2170-36. (20060020017747AIL, Relator LÉCIO RESENDE, Conselho Especial,
julgado em 04/07/2006, DJ 15/08/2006 p. 69)”
9
“(...) No que tange à capitalização mensal de juros, baseada no artigo 5º da Medida Provisória nº
2.170-36/2001, o Tribunal de origem afastou sua aplicação em face do reconhecimento incidental de
inconstitucionalidade do referido dispositivo legal, conforme se denota do seguinte excerto:"E
relativamente à Medida Provisória n. 2.170-36, evidentemente que é inconstitucional, porque a
capitalização dos juros não se enquadra naquelas matérias consideradas urgentes, exigência prevista
no art. 62 da CF/88." (fl. 133). Torna-se, portanto, inviável o recurso especial, porquanto este não se
presta a impugnar fundamento exclusivamente constitucional (ut AgRg no Ag 715606/RS, Rel. Min.
Carlos Alberto Menezes Direito DJ 10.09.2007). E ainda: AgRg no REsp 908905 / DF, Rel. Min. Nancy
Andrighi, DJ 28.05.2007; AgRg no REsp 982698/RS, Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, DJ 12.05.2008.
(...) (RECURSO ESPECIAL Nº 1.000.386 - RS (2007/0253896-7) - Brasília (DF), 23 de junho de 2009.
MINISTRO MASSAMI UYEDA – Relator)”
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23. O artigo 5º, da Medida Provisória 2.170-36, de 23.08.2001,
ostenta a seguinte redação:

Art. 5º. Nas operações realizadas pelas


instituições integrantes do sistema Financeiro
Nacional, é admissível a capitalização de
juros com periodicidade inferior a um ano.

24. Por seu turno, o artigo 192, da Constituição Federal está assim
redigido:

Art. 192. O Sistema financeiro nacional,


estruturado de forma a promover o
desenvolvimento equilibrado do País e a
servir aos interesses da coletividade, em
todas as partes que o compõem, abrangendo
as cooperativas de crédito, será regulado por
leis complementares que disporão, inclusive,
sobre a participação do capital estrangeiro
nas instituições que o integram. (destaque
nosso)

25. Da disposição constitucional transcrita, percebe-se que o sistema


financeiro nacional somente pode ser disciplinado por intermédio de leis
complementares, sendo vedada a edição de medidas provisórias em matéria
reservado à lei complementar, como se infere do inciso III do § 1º do artigo 62
da Constituição Federal.

26. A disposição constitucional em referência ostenta a seguinte


redação:

Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o


Presidente da República poderá adotar
medidas provisórias, com força de lei,
devendo submetê-las de imediato ao
Congresso Nacional.

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§ 1º É vedada a edição de medidas
provisórias sobre matéria:
I - omissis
II - omissis
III - Reservada à lei complementar.

27. Inegável, portanto, que medida provisória não tem o poder de


regulamentar matéria que foi reservada pela Carta Magna aos limites da
disciplina da lei complementar

28. A matéria está sendo apreciada pelo STF, por meio da ADI –
2316, na qual já foram proferidos quatro votos deferindo a suspensão cautelar
do art. 5º da MP 2.170-36/2001.10

29. A questão também aguarda apreciação pelo STF em Recurso


Extraordinário, no qual foi reconhecida a repercussão geral.11

30. Assim, diante dos argumentos jurídicos acima


demonstrados, deve ser acolhida a pretensão da autora para afastar a
capitalização mensal de juros nas Cédulas de Crédito Bancário nºs
023285149-3 de 15/03/2010 e da Cédula de Crédito Bancário – Abertura
de Crédito em Conta Corrente – LIS Recebíveis), para que o débito seja
calculado mediante a utilização de juros na forma simples.

10
“Retomado julgamento de medida liminar em ação direta ajuizada pelo Partido Liberal - PL contra o
art. 5º, caput, e parágrafo único da Medida Provisória 2.170-36/2001, que admitem, nas operações
realizadas pelas instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional, a capitalização de juros com
periodicidade inferior a um ano — v. Informativo 262. O Min. Carlos Velloso, em voto-vista,
acompanhou o voto do relator, Min. Sydney Sanches, que deferiu o pedido de suspensão cautelar dos
dispositivos impugnados (...) ADI 2316 MC/DF, rel. Min. Sydney Sanches, 15.2.2005. (INFORMATIVO
Nº 413 – TÍTULO - Cobrança de Juros Capitalizados)
(...) O Tribunal retomou julgamento de medida cautelar em ação direta ajuizada pelo Partido Liberal -
PL, atual Partido da República - PR, em que se objetiva a declaração de inconstitucionalidade do art.
5º, caput, e parágrafo único da Medida Provisória 2.170-36/2001 (...). A Min. Cármen Lúcia, em voto-
vista, abriu divergência e indeferiu a cautelar. (...) Por sua vez, o Min. Marco Aurélio acompanhou o
voto do relator para deferir a cautelar. (...) Após o voto do Min. Menezes Direito, que acompanhava o
voto da Min. Cármen Lúcia, e do voto do Min. Carlos Britto, que acompanhava o voto do Min. Marco
Aurélio, o julgamento foi suspenso para retomada com quorum completo. ADI 2316 MC/DF, rel. Min.
Sydney Sanches, 5.11.2008. (INFORMATIVO Nº 527 – TÍTULO - Cobrança de Juros Capitalizados)”
11
“REPERCUSSÃO GERAL – CAPITALIZAÇÃO MENSAL DOS JUROS – MEDIDA PROVISÓRIA Nº
2.170-36 – ARTIGO 62 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL – AFASTAMENTO NA ORIGEM. Admissão
pelo Colegiado Maior. (RE 568396 RG, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, julgado em
21/02/08, DJe-065 DIVULG 10-04-08 PUBLIC 11-04-08 EMENT VOL-02314-08 PP-01664)”.
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DA ILEGALIDADE DA CUMULAÇÃO DA COMISSÃO DE
PERMANÊNCIA COM JUROS MORATÓRIOS E MULTA NAS
PARCELAS EM ATRASO (CLÁUSULA 10,0).

31. A finalidade da cobrança da comissão de permanência após o


vencimento da obrigação é manter, por meio dos juros remuneratórios, a base
econômica do negócio; desestimular, mediante os juros de mora, a demora no
cumprimento da obrigação; e reprimir o inadimplemento com a aplicação da
multa contratual.

32. Trata-se, portanto, de parcela admitida na fase de inadimplemento


contratual, a qual abrange três componentes, a saber: juros remuneratórios à
taxa média de mercado apurada pelo Bacen; e juros moratórios e multa
contratual; daí ser impossível a sua cobrança cumulada com juros de mora e
multa contratual, sob pena de incorrer em bis in idem.

33. Além disso, é inadmissível a sua cumulatividade com correção


monetária, a teor da Súmula n. 30/STJ.

34. De todo o exposto, depreende-se que a instituição financeira,


diante do inadimplemento contratual, deve cobrar unicamente a comissão de
permanência admitida como o somatório dos encargos moratórios (juros
remuneratórios calculados à taxa média de mercado estipulada pelo Bacen,
juros moratórios e multa moratória).

35. Contudo, as cláusulas 10ª do Contrato de Empréstimo para


Capital de Giro, datado de 15/03/2010 e a Cláusula 9ª do Contrato de Abertura
de Credito em Conta Corrente, estipulam a cumulação da cobrança dos juros
moratórios com a comissão de permanência, verbis:

“10. Atraso de Pagamento e Multa – Se houver atraso no


pagamento ou vencimento antecipado, pagaremos juros
moratórios de 12% (doze por cento) ao ano mais comissão de
permanência calculada à taxa de mercado do dia do
pagamento.”

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36. A Cláusula 10.3, também dispõe que o Autor pagará despesas de
cobrança, inclusive custas e honorários advocatícios e multa de 2% (dois por
cento).

37. A esse respeito, vejam-se os seguintes julgados: Terceira Turma,


AgRg no REsp n. 1.016.657/RS, relator Ministro Ari Pargendler, DJ de
5.8.2008; e Terceira Turma, AgRg no REsp n. 986.508/RS, relator Ministro
Ari Pargendler, DJ de 5.8.2008.

“V - Juros e multa moratórios

As questões infraconstitucionais relativas à violação dos arts.


52, § 1º, do CDC e 406 e 591 do CC não foram objeto de debate
no acórdão recorrido, nem a respeito foram opostos embargos de
declaração. Caso, pois, de aplicação da Súmula n. 282/STF.

De acordo com entendimento desta Seção, ainda, a cobrança da


comissão de permanência não pode ser acrescida dos encargos
decorrentes da mora, como os juros moratórios e a multa
contratual (c.f. AgRg no REsp n° 712.801/RS, Rel. Ministro
Carlos Alberto Menezes Direito, DJ 04.05.2005).

Assim, não obstante a licitude da cobrança da comissão de


permanência, necessário para sua efetivação a existência de
cláusula contratual específica, pois trata-se de faculdade
conferida às instituições financeiras, que, por gerar ônus à parte
contratante, não é auto-aplicável. Inexistente a demonstração de
expressa pactuação referente à cobrança do encargo, conforme
disposto pelas Instâncias ordinárias, vedada, por conseguinte,
sua incidência. nesta Turma é no sentido de ser lícita a sua
cobrança após o vencimento da dívida. A comissão deve
observar a taxa média dos juros de mercado, apurada pelo Banco
Central do Brasil, limitada a taxa contratada para o período da
normalidade. Não pode, entretanto, ser cumulada com a
correção monetária nem com os juros remuneratórios, nos
termos das Súmulas 30, 294 e 296 do STJ.”

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38. De outro lado, o Superior Tribunal de Justiça tem entendimento
assente no sentido de que "é admitida a cobrança da comissão de
permanência no período da inadimplência, desde que não cumulada com
correção monetária, juros moratórios, multa contratual ou juros
remuneratórios, calculada à taxa média de mercado" (AgRg no REsp
1066206/MS, Rel. Min. SIDNEI BENETI, Terceira Turma, DJ de
10.09.2010).
A propósito:

"AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL.


CONTRATO BANCÁRIO. AÇÃO REVISIONAL.
DISPOSIÇÕES ANALISADAS DE OFÍCIO.
IMPOSSIBILIDADE. JUROS REMUNERATÓRIOS. TAXAS.
ABERTURA DE CRÉDITO. EMISSÃO DE CARNÊ.
DESEQUILÍBRIO CONTRATUAL. INEXISTENTE.
COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. LICITUDE DA
COBRANÇA. CUMULAÇÃO VEDADA. SUCUMBÊNCIA
RECÍPROCA.

1. Omissis.
2. Omissis.
3. É admitida a cobrança da comissão de permanência durante o
período de inadimplemento contratual, calculada pela taxa média
de mercado apurada pelo Bacen, limitada à taxa do contrato, não
podendo ser cumulada com a correção monetária, com os juros
remuneratórios e moratórios, nem com a multa contratual.
4. Agravo regimental desprovido." (AgRg no REsp 1061477/RS,
Rel. Min. JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, Quarta Turma,
DJ de 01.07.2010)

"EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA NO RECURSO ESPECIAL.


AGRAVO REGIMENTAL. CONTRATO BANCÁRIO.
COMISSÃO DE PERMANÊNCIA POSSIBILIDADE DE
COBRANÇA DESDE QUE NÃO CUMULADA COM OS
DEMAIS ENCARGOS MORATÓRIOS.
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- É admitida a cobrança da comissão de permanência em caso de
inadimplemento, à taxa de mercado, desde que (i) pactuada, (ii)
cobrada de forma exclusiva – ou seja, não cumulada com outros
encargos moratórios, remuneratórios ou correção monetária – e
(iii) que não supere a soma dos seguintes encargos: taxa de juros
remuneratórios pactuada para a vigência do contrato; juros de
mora; e multa contratual (REsp nº 834.968/RS, Rel. Ministro ARI
PARGENDLER, DJ de 7.5.07).
Agravo Regimental improvido." (AgRg nos EDcl nos EREsp
833.711/RS, Rel. Min. SIDNEI BENETI, Segunda Seção, DJ
de 02.12.2009) Não obstante, a cédula de crédito comercial não
admite a cobrança da comissão de permanência. Neste sentido:

"AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO


REVISIONAL. CÉDULA DE CRÉDITO INDUSTRIAL.
JUROS REMUNERATÓRIOS. LIMITAÇÃO.
POSSIBILIDADE. COMISSÃO DE
1. Omissis.
2. Nos casos de cédula de crédito rural, comercial e industrial,
esta Corte não admite a cobrança de comissão de permanência em
caso de inadimplência.
3. Agravo regimental a que se nega provimento." (AgRg no
REsp 784.935/CE, Rel. Min. HONILDO AMARAL DE
MELLO CASTRO (Desembargador Convocado do TJ/AP),
Quarta Turma DJ de 22.03.2010)

DA ILEGALIDADE DA COBRANÇA DA TARIFA DE CONTRATAÇÃO (TAC) -


CLÁUSULA 1.5 E 12 DO CONTRATO.

39. Quanto à ilegalidade da TARIFA DE CONTRATAÇÃO (TAC),


o instrumento contratual fez inserir indevido encargo financeiro ao Autor.

40. A cobrança da TARIFA DE CONTRATAÇÃO, no valor de R$


200,00 (Duzentos reais), fere o art. 51, IV do CDC, pois constitui ônus do
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próprio banco a avaliação do cliente, a emissão do contrato e o seu
processamento no banco de dados da instituição.

41. É abusiva a cobrança de TARIFA DE CONTRATAÇÃO. Tais


despesas das operações de crédito devem ser suportadas pela instituição
financeira, sendo abusivo o repasse da incumbência ao consumidor.

42. De acordo com os termos do contrato (Clausula 12), foram


cobradas tarifa de cadastro no valor de R$ 200,00 (Duzentos reais). A
remuneração da instituição financeira advém do pagamento dos juros
remuneratórios, que já estão embutidos nas prestações, de modo que qualquer
outra cobrança constitui abusividade, importando em vantagem exagerada
para o fornecedor, consoante o art. 51, inc. IV, do CDC, in verbis:

“Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas


contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços
que:

(...)

IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que


coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam
incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade;”

43. Sobre o tema, transcrevo ementas dos seguintes julgados, in


verbis:

“APELAÇÃO CIVIL. AÇÃO DE BUSCA E APRENSÃO.


RECONVENÇÃO. FINANCIAMENTO DE VEÍCULO.
REVISÃO DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS.
CAPITALIZAÇÃO MENSAL DE JUROS.
AFASTAMENTO. INAPLICABILIDADE DO ART. 5º
MEDIDA PROVISÓRIA 2.170-36/01. REDUÇÃO DA
TAXA DE JUROS. IMPOSSIBILIDADE. TAXA DE
COBRANÇA DE ABERTURA DE CRÉDITO INDEVIDA.

...................................................................................................
...............

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São nulas as cláusulas contratuais que estipulam a cobrança
da Taxa de Abertura de Crédito - TAC (art. 51, IV, do Código
de Defesa do Consumidor).” (20080410075067APC, Relator
NATANAEL CAETANO, DJ 09/11/2009 p. 99, g.n.)

“DIREITO PROCESSUAL CIVIL. PRELIMINAR DE


INÉPCIA DA PETIÇÃO INICIAL. MATÉRIA AFETA AO
MÉRITO. REJEIÇÃO. PRELIMINAR DE
CERCEAMENTO DE DEFESA REJEITADA. PRODUÇÃO
DE PROVA PERICIAL. ARTIGOS 130, 131 E 427 DO
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. PRELIMINAR DE
NULIDADE DA SENTENÇA. RECONHECIMENTO DE
OFÍCIO DE NULIDADE DE CLÁUSULAS
CONTRATUAIS. REJEIÇÃO. COBRANÇA DE TARIFAS
DE CADASTRO, INCLUSÃO DE GRAVAME E
DESPESAS DE TERCEIROS. COMISSÃO DE
PERMANÊNCIA. ÔNUS SUCUMBENCIAIS. ART. 21,
CAPUT DO CPC.

...................................................................................................
...............

‘A denominada tarifa de contratação ou tarifa de renovação


de cadastro e inclusão de gravame eletrônico cobre os custos
das instituições financeiras com a consulta ao cadastro de
devedores inadimplentes e com a análise cadastral e também
os custos do registro da garantia, o que se conclui serem
despesas inerentes ao negócio.

A abertura de qualquer cadastro do pretendente ao


financiamento é obrigação do credor não devendo ensejar
ônus algum ao devedor, porque além de atender interesse
exclusivo do mutuante, essa cláusula contratual contraria o
disposto no art. 46, parte final, do Código de Defesa do
Consumidor, pois não fornece ao mutuário todas as
informações sobre sua finalidade e alcance. Por não ser
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serviço colocado à disposição do consumidor, não é razoável
transferir a ele o custo da pesquisa e da cobrança. As
Despesas de Serviços de Terceiros, igualmente, mostram-se
abusiva, pois sequer foram indicados quais seriam esses
serviços, pois na letra 'v' do contrato faz apenas genérica
referência a serviços prestados pela correspondente
arrendadora.’ (sentença proferida pela MMª. Magistrada
singular Maria de Fátima Rafael Ramos).

...................................................................................................
...............

Apelação conhecida e parcialmente provida.”


(20090110847867APC, Relatora ANA MARIA DUARTE
AMARANTE BRITO, 6ª Turma Cível, julgado em
15/09/2010, DJ 23/09/2010 p. 150, g.n.)

44. Ademais, ressalte-se, a abertura de cadastro são providências


tomadas para garantir apenas os interesses do credor (de verificação da
solvabilidade do devedor e de constituição da propriedade fiduciária), não
podendo as despesas daí decorrentes serem imputadas ao consumidor.

DA REPETIÇÃO DO INDÉBITO

45. Em relação à repetição do indébito, este eg. Tribunal já decidiu


pela sua admissão independentemente da prova de que o pagamento tenha
sido realizado por erro, com o objetivo de vedar o enriquecimento ilícito do
banco em detrimento do devedor, nos termos da Súmula n. 322, in verbis:
"Para a repetição de indébito, nos contratos de abertura de crédito em
conta-corrente, não se exige a prova do erro".

46. A jurisprudência do STJ está consolidada no sentido de admitir a


compensação de valores e a repetição do indébito sempre que constatada
cobrança indevida do encargo exigido, sem que, para tanto, haja necessidade
de ser comprovado erro no pagamento.

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47. A ratio essendi da regra remete à necessidade de ser evitado o
enriquecimento ilícito da parte beneficiada. Confiram-se: Quarta Turma,
AgRg no REsp n. 647.559/RS, relator Ministro Hélio Quaglia, DJ de
30.10.2006; REsp n. 842.700/RS, relator Ministro Humberto Gomes de
Barros, 30.6.2006; REsp n. 837.226/RS, relator Ministro Carlos Alberto
Menezes Direito, DJ de 30.6.2006; REsp n. 837.759/RS, relator Ministro Aldir
Passarinho Junior, DJ de 30.6.2006.

48. Assim, é cabível a restituição dos valores que foram pagos a


maior, na forma simples, a serem apurados em liquidação de sentença, em
face da existência de polêmica em torno das matérias apreciadas, o que pode
ensejar o engano justificável do banco réu (CDC, 42, p. único) 12, admitida a
compensação com eventual crédito a favor do banco réu. Nesse sentido a
jurisprudência:

“(...) Quanto ao pleito de devolução em dobro, ainda que à


luz das disposições do Código de Defesa do Consumidor,
esta Corte Superior já se pronunciou no sentido de que,
salvo comprovada má-fé, a restituição deve se dar de
forma simples. Confira-se: (...) 8 - Esta Corte Superior já
se posicionou na vertente de ser possível, tanto a
compensação de créditos, quanto a devolução da quantia
paga indevidamente, em obediência ao princípio que veda
o enriquecimento ilícito, de sorte que as mesmas deverão
ser operadas de forma simples - e não em dobro -, ante a
falta de comprovação da má-fé da instituição financeira.
Precedentes (REsp 401.589/RJ, AgRg no Ag 570.214/MG e
REsp 505.734/MA). 9 - Agravo regimental desprovido.
(AgRg no REsp 701406/RS, Rel. Min. Jorge Scartezzini,
DJ 15/05/2006 p. 220. Diante do exposto, nego provimento
ao agravo. Publique-se. Brasília (DF), 02 de agosto de
12
CDC, Art. 42. Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será exposto a ridículo, nem
será submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça.
Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição do indébito, por
valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo
hipótese de engano justificável.
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2010.” (STJ, AGI nº 02.124 - SP (2009/0127783-4), Rel.
Min. Aldir Passarinho Junior, 12/08/10)

49. Assim, no caso dos autos, diante da revisão de cláusulas


contratuais abusivas, a repetição do indébito deve dar-se na forma simples,
admitida a compensação de valores.

DA DESCARACTERIZAÇÃO DA MORA

50. A autora pretende seja determinado o afastamento da mora,


uma vez que restou demonstrado que houve cobrança de valores abusivos.

51. Constatada a abusividade, no período de normalidade dos


contratos, consubstanciada, no presente caso, pela cobrança de juros abusivos,
no capitalização diária de juros e cobrança ilegal da Taxa de Remuneração,
resta descaracterizada a mora.
52. Nos termos da jurisprudência dominante do STJ:

“(...) II - JULGAMENTO DO RECURSO


REPRESENTATIVO (REsp 1.061.530/RS) (...)
Verificada a cobrança de encargo abusivo no período da
normalidade contratual, resta descaracterizada a mora do
devedor. Afastada a mora: i) é ilegal o envio de dados do
consumidor para quaisquer cadastros de inadimplência;
ii) deve o consumidor permanecer na posse do bem
alienado fiduciariamente e iii) não se admite o protesto do
título representativo da dívida. (...) Recurso especial
parcialmente conhecido e, nesta parte, provido, para
declarar a legalidade da cobrança dos juros
remuneratórios, como pactuados, e ainda decotar do
julgamento as disposições de ofício. Ônus sucumbenciais
redistribuídos.” (REsp 1061530/RS, Rel. Min. Nancy
Andrighi, 2ª SEÇÃO, j. em 22/10/08, DJe 10/03/09)
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53. Assim, deve ser afastada a mora do autor, com relação ao
débito objeto da revisão.

DOS PEDIDOS

54. Ante o exposto, requer a Vossa Excelência:

a) a PROCEDÊNCIA do pedido para REVISAR A CLÁUSULA DO


CONTRATO que prevê juros remuneratórios de 2,50% ao mês para
determinar a redução dos juros contratados na Cédula de Crédito
Bancário nº 023285149-3, à taxa de à 2,40% a.m., a fim de que respeitem a
taxa média de juros de mercado, à época da contratação, conforme exige a
jurisprudência dominante no STJ;
b) a PROCEDÊNCIA do pedido para REVISAR A CLÁUSULA DO
CONTRATO PARA afastar a capitalização diária/mensal de juros
remuneratórios nas Cédulas de Crédito Bancário de Empréstimo para Capital
de Giro nº 023285149-3, datado de 15/03/2010 e de abertura de Crédito em
Conta Corrente datado de 21/07/2009, determinando a incidência de
JUROS SIMPLES sobre a taxa de juros remuneratórios do contrato
diante da Inconstitucionalidade da MP 2.170-36/2001 e do art. 28, § 1º, I, da
Lei nº 10.931/04;
c) A PROCEDÊNCIA do pedido para afastar os efeitos da mora, uma vez
que restou demonstrado que houve cobrança de valores abusivos;

d) a PROCEDÊNCIA do pedido de repetição de indébito, determinando a


restituição dos valores pagos a maior, na forma simples.
e) a PROCEDÊNCIA do pedido para declarar NULA AS CLÁUSULAS
1,5 e 12 do Contrato que prevê a cobrança da TARIFA DE
CONTRATAÇÃO (TAC) no Contrato de Cédulas de Crédito Bancário de

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Empréstimo para Capital de Giro nº 023285149-3, no valor de R$ 200,00
(duzentos reais), por ser abusiva;

f) a PROCEDÊNCIA do pedido para declarar NULA A CLÁUSULA 10.0


DO CONTRATO que prevê a cumulação da comissão de permanência
com juros moratórios e multa nas parcelas em atraso (cláusula 10,0),
determinando a incidência apenas dos Juros moratórios à taxa contratual (12%
ao ano).

g) a DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE do artigo 5º da


MP 2.170-36/2001 , quanto à forma, por admitir a capitalização de juros em
período inferior a um ano pois apenas mediante lei complementar é que se
pode dispor sobre Sistema Financeiro Nacional (caput do art. 192 da
Constituição Federal), operando-se o Controle Difuso de Constitucionalidade
das normas infraconstitucionais.

h) Requer-se ainda, a condenação da ré, ao pagamento das despesas


processuais e demais cominações legais e de estilo, mais a verba honorária,
conforme o artigo 20, parágrafo 4º., do Código de Processo Civil.

i) Requer a expedição do competente mandado de CITAÇÃO da ré para


contestar a presente ação no prazo legal sob pena de serem admitidos como
verdadeiros os fatos supra relatados.

Protesta pela produção de prova documental,


testemunhal, pericial e inspeção judicial e de todos os meios probantes em
direito admitidos, ainda que não especificados no CPC, mas desde que
moralmente legítimos e obtidos de forma lícita, especialmente depoimento
pessoal do representante legal ou preposto da ré, sob pena de confissão se não
comparecer, ou, em comparecendo, se negar a depor.

Dá à presente, o valor de R$ 280.000,00 (Duzentos e


oitenta mil reais), para meros efeitos fiscais, ante a impossibilidade de se
apurar o real valor do saldo, se devedor ou credor.

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Termos em que, pede deferimento.

Brasília-DF, 07 de novembro de 2011.

JOSÉ ALBERTO ARAÚJO DE JESUS


OAB/DF 12.490

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