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NOME DO CLIENTE, já qualificados nos autos em epígrafe, vem a nobre presença de Vossa
Excelência, nos autos da EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL, interposta por NOME DA
PARTE CONTRÁRIA, opor EMBARGOS A EXECUÇÃO, com fulcro no art. 915 e seguintes, do
Código de Processo Civil, pelas razões de fato e de direito a seguir expostas:
I. DOS FATOS
Trata-se de ação de execução de título extrajudicial por meio da qual a Cooperativa embargada
pretende a cobrança de suposta dívida representada pela Cédula de Crédito Bancário nº XXXX,
no valor de R$ 9.800,00 (nove mil oitocentos reais), disponibilizada em conta n. XXXX junto à
agência da Cooperativa n. XXXXX, com vencimento final programado para 20/01/2017.
Assevera a exordial que o referido título de crédito (fl. 10-16) foi firmado em 30/01/2013, com
a primeiro embargante XXXXXXXX, sendo que na qualidade de avalistas figuram os
embargantes XXXXXX E XXXXXX
Aduz que o título não foi adimplido integralmente, acarretando no vencimento antecipado da
dívida.
II. PRELIMINARES
1. DA NULIDADE DA EXECUÇÃO: AUSÊNCIA DE DEMONSTRATIVO DE CÁLCULO COM OS
CRITÉRIOS DE APURAÇÃO DO VALOR EXECUTADO (ILIQUIDEZ DO TÍTULO)
Observa-se que a embargada limita-se a apresentar cópia da “Cédula de Crédito Bancário nº
97090 (fls. 10 - 16) e memória simples de cálculo (fl. 9). O cálculo apresentado pela embargada
(Memória Discriminada e Atualizada de Cálculo - fl. 9), não demonstra de forma clara e precisa
os critérios utilizados e a evolução do valor exigido nesta execução.
Vale dizer, omite informações indispensáveis à apuração do débito, a saber: a) não demonstra
a evolução do contrato para o período de inadimplência; b) não apresenta os índices de CDI [1]
mês a mês, desde o início da contratação; e, c) não informa os juros capitalizados no período e
sua evolução.
Entretanto, o art. 798, I, b, do novo CPC) diz que cumpre ao credor, ao requerer a execução,
pedir a citação do devedor e instruir a petição inicial com: [...] II - com o demonstrativo do
débito atualizado até a data da propositura da ação, quando se tratar de execução por quantia
certa”.
“Fundando-se a execução em título judicial, cujo valor talvez se apure através de simples
operações aritméticas, reza o art. 475-B, caput, que o credor a requererá, instruindo a inicial
com memória discriminada e atualizada do cálculo. Correlatamente, o art. 614, II, mercê da
redação determinada pela Lei 8.953/1994, fundando-se a execução em título extrajudicial,
exige demonstrativo do débito atualizado até a data da propositura da ação, e tal exigência,
mediante remissão explícita do art. 475-J, caput, aplica-se ao cumprimento da sentença. [...]
Evidentemente, não bastará o demonstrativo sumário, consignando o valor do principal e dos
respectivos acessórios. É necessário que o credor explicite os elementos e critérios
empregados para atingir tal montante (p. ex., a taxa de juros e a forma de capitalização, índice
de correção monetária aplicado a sua base de cálculo). Isso permitirá ao devedor controlar a
exatidão da quantia executada e controverte-la, se for o caso (retro, 58, 1.4).” (Manual da
Execução. SP: Editora Revista dos Tribunais, 2007, p. 433) (Grifa)
O art. 783 do CPC/2015 reza que “a execução para cobrança de crédito fundar-se-á sempre em
título de obrigação certa, líquida e exigível”. Ainda o art. 803, I, do CPC/2015 diz que é “nula a
execução [...] se o título executivo extrajudicial não corresponder a obrigação certa, líquida e
exigível”.
III. DO MÉRITO
2. DA JUSTIÇA GRATUITA
Preliminarmente, os embargantes por serem pobre na forma do art. 5º, LXXIV, da Constituição
Federal de 1988 e com base no artigo 98 do Novo Código De Processo Civil pleiteiam os
benefícios da justiça Gratuita, por não poder arcar com as despesas cartoriais e honorárias
advocatícias, sem comprometer sua mantença e de sua família. Sendo que tal benefício pode
ser estendido às pessoas jurídicas (Precedentes do STJ).
Ante o exposto, requer a concessão do benefício da justiça Gratuita nos termos do artigo 98 do
Novo Código De Processo Civil.
Caso contrário, ou seja, caso seja mantida a redação original do contrato, a dívida original
abrangerá patamares incalculáveis e inadmissíveis, gerando lucros excessivos e ilegais à
instituição autora.
Neste sentido, dispõe o artigo 51, inciso IV, do Código de Defesa do Consumidor:
“são nulas de pleno direito as cláusulas que estabeleçam obrigações consideradas iníquas,
abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis
com a boa-fé ou a equidade”.
Ou seja, está claramente previsto o instituto da lesão contratual, demonstrando serem nulas
as cláusulas abusivas.
No caso em tela, não restam dúvidas que a instituição embargada utiliza-se de sua condição de
superioridade para levar vantagem sobre os embargantes, caracterizando lesão contratual,
devendo ser decretada a nulidade das cláusulas abusivas.
“Art. 3.º [...] [...] § 2º Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo,
mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária,
salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.” (g.n.)
Neste sentido, o entendimento do ilustre doutrinador RIZZATTO NUNES:
A norma faz uma enumeração específica, que tem razão de ser. Coloca expressamente os
serviços de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, antecedidos do advérbio
“inclusive”. Tal designação não significa que existia alguma dúvida a respeito da natureza dos
serviços desse tipo. Antes demonstra que o legislador foi precavido, em especial, no caso,
preocupado com que os bancos, financeiras e empresas de seguro conseguissem, de alguma
forma, escapar do âmbito de aplicação do CDC. Ninguém duvida que esse setor da economia
presta serviços ao consumidor e que a natureza dessa prestação se estabelece tipicamente
numa relação de consumo. Foi um esforço acautelatório do legislador, que, aliás, demonstrou-
se depois, era mesmo necessário. Apesar da clareza do texto legal, que coloca, com todas as
letras, que os bancos prestam serviços aos consumidores, houve tentativa judicial de se obter
declaração no sentido oposto. Chegou-se, então, ao inusitado: o Poder Judiciário teve de
declarar exatamente aquilo que a lei já dizia: os bancos prestam serviços. (NUNES, Rizzatto.
Curso de Direito do Consumidor. 2ª ed. SP. Saraiva. 2005. p. 95 - grifou-se)
FÁBIO ULHÔA COELHO ressalta que há duas tendências legislativas fortes no tocante à
concepção de consumidor:
“uma, atentando ao aspecto objetivo, ser destinatário final do produto ou serviço, e outra,
observando o aspecto subjetivo, que considera um sujeito consumidor em virtude da
qualidade de não profissional; sendo a primeira mais clara em nosso sistema, pela dicção do
art. 2º do CDC, a qual se refere expressamente a destinatário final como critério de definição
de consumidor: De um lado, a objetiva, em que o conceito enfatiza a posição de elo final da
cadeia de distribuição de riqueza. Nela, o aspecto ressaltado pelo conceito jurídico é Este
documento foi protocolado em 02/05/2017 às 23:43, é cópia do original assinado digitalmente
por PDDE-041450105 e CHRISTIANE KLEIN FEDUMENTI. Para conferir o original, acesse o site
https://esaj.tjsc.jus.br/esaj, informe o processo XXXXX-06.2017.8.24.0038 e código 9668FB8.
fls. 5 6 o do agente econômico que destrói o valor de troca dos bens ou serviços, ao utilizá-los
diretamente, sem intuito especulativo. De outro lado, há a concepção subjetiva de
consumidor, em que a ênfase do conceito jurídico recai sobre a sua qualidade de não
profissional. Entre as duas formulações, pende o direito brasileiro para o conceito objetivo de
consumidor, na medida em que enfatiza a posição terminal na cadeia de circulação de riqueza
por ele ocupada.” (g.n.) (COELHO, Fábio Ulhôa, 1994, p. 45)
ADA PELLEGRINI GRINOVER, arremata:
d) A exigência de clareza nas cláusulas contratuais, sob pena de nulidade (art. 46);
f) A nulidade de cláusulas que ofendem os princípios do sistema jurídico a que pertence (art.
51, § 1.º, I);
Não há como se olvidar do disposto no inciso VIII, do artigo 6º, do CDC que impõe, no que diz
respeito ao consumidor, “a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do
ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a
alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências”.
Ocorre que, não se afigura crível no processo de execução de título de crédito, que o credor
apresente sua memória de cálculo com seus elementos e critérios para apuração do saldo
devedor.
In casu, verifica-se que a embargada omite diversas informações essenciais, tais como:
Art. 5º. Nas operações realizadas pelas instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional,
é admissível a capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano.
Por sua vez, a Lei nº 10.931/2004 em seu artigo 28 estabelece que:
Por estas razões, deve ser excluída a capitalização dos juros da cédula de crédito bancário em
questão em qualquer periodicidade.
Por esta razão, a cédula de crédito bancário está eivada de capitalização de juros, sem prévia
contratação e/ou sem informação clara e adequada a respeito de tais encargos no contrato.
Portanto, ilegal e abusivo.
Assim, a capitalização dos juros no negócio bancário em questão é ilícita, devendo ser afasta
sua aplicação por completo.
Para tanto, deve ser adotado o critério da utilização da menor das taxas de juros entre as taxas
médias de mercado divulgadas pelo Banco Central do Brasil e a taxa contratada no mútuo, no
período da contratação.
Não obstante, não há provas da mora ou da cientificação desta, por meio de notificação válida.
Sendo estas condutas sua obrigação exclusiva, vez que incumbe ao autor o ônus de provar o
que alega, e vemos que nesta lide a exequente foi absurdamente falha neste sentido.
Por esta razão deve a presente demanda ser extinta por insuficiência probatória sem resolver
o mérito. Nos termos do artigo 373, I do NCPC, a prova incumbe a quem alega.
Conforme documentos anexos, o titular da conta (Devedor Principal) possui cotas sociais na
cooperativa embargada, que perfaz o montante R$ XXXXXX (xxx).
Desta forma, conforme previsão contratual, tal valor deve ser abatido do saldo devedor
existente após discursão dos encargos contratuais.
Art. 368. Se duas pessoas forem ao mesmo tempo credor e devedor uma da outra, as duas
obrigações extinguem-se, até onde se compensarem.
Nesse seguimento, colecionamos o seguinte julgado:
c) Cumprida a determinação supra, seja reaberto o prazo aos embargantes para aditarem ou
oferecerem novos embargos, bem como apresentarem memória de cálculo a respeito dos
valores que os embargantes entendem devidos;
d) Cumpridas todas as determinações emanadas deste Juízo, seja o embargado intimado para,
querendo, responder aos termos dos presentes embargos;
j) Afastar a incidência a prática da cumulação da multa com os juros moratórios, com a sua
exclusão do débito;
m) Após a discussão dos encargos contratuais, requer a compensação dos débitos dos
associados com as quotas sociais da cooperativa.
p) Caso não seja este o entendimento de Vossa Excelência, seja ao menos concedido o
benefício da gratuidade da justiça tão somente para liberação do pagamento parcial ou
reduzido das custas e despesas processuais e/ou deferido o direito ao parcelamento das
despesas processuais que o beneficiário tiver que adiantar no curso do procedimento, com
amparo no artigo 98, parágrafo 5º e 6º do NCPC.
r) Requer por fim o prazo suplementar de 10 (dez) dias para se comprovar a impossibilidade de
se recolher as eventuais custas nesta seara, além da juntada de outros documento, afim de
comprovar o ora asseverado.
Atribui-se a causa o valor de R$ 13.873,59 (treze mil, oitocentos e setenta e três reais e
cinquenta e nove centavos).
OAB/SC
[1] CDI: Certificados de Depósitos Interbancários são títulos emitidos pelos bancos como forma
de captação ou aplicação de recursos excedentes.