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Associação Brasileira de

Constitucionalistas Democratas
ABCD

ABCD -Associação Brasileira de Constitucionalistas Democratas

Presidente: MARCELO FIGUEIREDO


Vice-Presidente: REGINA MACEDO NERY FERRARI Cadernos de
Diretor Executivo: MôNICA DE MELLO
Diretor de Relações Internacionais: VALMIR PONTES FILHO
Soluções Constitucionais
Diretor Tesoureiro: ANTONIO CARLOS MENDES 3
Diretor Cultural: CLôVIS BEZNOS
Diretor Regional: REGINA QUARESMA (RJ)

Com os <:omprimentos da
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ra�---

- -MALHEIROS
i�: EDITORES
200 SOLUÇÕES CONSTlTUCIONA!S

SMITH, Rhona K. M., e·VAN DENANKER, Christien (eds.). The Essentials ofHuman
Rights. Londres, HodderArnold, 2005.
VALENZUELA, J. Samuel, MAINWARING, Scott, e O'DONNEL, Guillenno (orgs.).
Jssues in Democratic Consolidation: the New South American Democracies in
Comparative Perspective. Notre Dame, University ofNotre Dame Press, 1992.
VAN DENANKER, Christien, e SMITH, Rhona K. M. (eds.). The Essentials ofHuman
Rights. Londres, Hodder Arnold, 2005.
ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO
VASAK, Karel (ed.). The lnternational Dimensions ofHuman Rights. Revisado e edita­ DE PRECEITO FUNDAMENTAL
do para a edição inglesa por PhilipAlston. vol. l. Connecticut, Greenwood Press, -INTERPRETAÇÃO CONFORME À CONSTITUIÇÃO
1982.
DE DISPOSITIVOS DO CÓDIGO PENAL
VILJOEN, Frans, e HEYNS, Christof "An overview ofhuman rights protection inAfri­
ca". South African Journal on Human Rights 11. Parte 3. 1999. -DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE
DA INCIDÊNCIA SOBRE A HIPÓTESE
DE ANTECIPAÇÃO DE PARTO DE FETO
COMPROVADAMENTE ANENCEFÁLICO
Antecipação de parto de feto anenct;,(álico - Comprovação da anomalia
mediante laudo médico - Desnecessidade de prévia autorização judicial -
Enquadramento no tipo de aborto - Controvérsiajurisprudencial -Ineficá­
cia de ações individuais - Duração do processo não-razoável - Ofensa a
preceitos fundamentais -Jnte1pretação conforme à Constituição dos dispo­
sitivos do Código Penal que disciplinam o tipo penal do aborto - Controle
concentrado de constitucionalidade - Meio processual eficaz-A,güição de
descumprimento de preceitojimdamental - Cabimento -Requisitos satisfei­
tos - Devido julgamento pelo STF.

JosE AFONSO DA SILVA e


CLEMERSON MERLIN CLEVE
fi

1. A consulta. 2. Estudo do caso: 2.1 lntrodução-2.2 Ameaça ou viola­


ção a preceitofundamental -2.3 Decorrência de ato do Poder Público
-2.4 Subsidiariedade - 2.5 Relevância dofundamento da controvérsia
constitucional sobre lei ou ato normativo federal, inclusive anteriores
à Constituição. 3. Conclusão e resposta ao quesito único.

PARECER

J. A co11sulta

A Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde - CNTS, atra­


vés do ilustre advogado professor Dr. Luís Roberto Barroso, honra-nos
com a formulação de consulta sobre o cabimento de argüição de descum-
202 SOLUÇÕES CONSTITUCIONAIS ANTECIPAÇÃO DE PARTO DE FETO ANENCEFÃLICO 203

primento de p receito fundamental no caso em que se requer a interpretação sitos não são claros em seu alcance, ensejando certa dose de cautela do in­
conforme à Constituição dos arts. 124, 126 e 128 do CP para o fim de pro­ térpret e.
nunciar a inconstitucionalidade da incidência dos dispositivos na hipótese Uma vez realizados os pressupostos na ação proposta, toma-se in­
de antecipação de parto de fetos comprovadamente anencefálicos, decl�­ questionável seu cabimento. Analisemos, então, cada um deles, em cotejo
rando-se, para a gestante, o direito subjetivo de se _su�n:eter �º procedi­ com a situação ave ntada.
.
mento médico adequado sem necessidade de ordem Judicial previa.
O quesito único apresentado a reclamar a presente 1:1anife�ta?ã� opi­
nativa envolve, portanto, o cabimento da ação constituc10nal d1sc1plmada
pela Lei 9.882/1999 na hipótese referida. 2.2 Ameaça ou violação a preceito fundamental

2. Estudo do caso A primeira questão que em erge a propósito da configuração da ameaça


ou da violação a preceito fundamental envolve o conceito de preceito fim­
2.1 Introdução damental. Duvidosos à época da promulgação da Constituição, o conceito
A L ei 9.882, de 3.12.1999, que regulamentou o art. 102, § F, da CF, 1 e o alcance da expre ssão, reafinnados com a edição da Lei 9.882/1999, são
dispõe sobre a argüição de descumprimento de preceito fundamental pe­ hoj e passíveis de concordância na doutrina e na jurisprudência.
rante o STF, in verbis: Uma interpretação sistemática2 do texto constitucional oferece precio­
"Art. l '. A argüição prevista no § F do art. 102 da Constituição Fede­ sos elementos para a dete rminação do que é preceito fimdamental. Primei­
ral será proposta perante o Supremo Tribuna l Fe deral, e terá por objeto ramente, tem-se que pode ser tanto uma regra quanto um princípio,3 eis que
evitar ou reparar lesão a preceito fundamental, resultante de ato do Poder
Público. 2. Para uma leitura atualizad a da interpretação sistemática do Direito, cf. Juarez Freitas,
A Jnte1pretação Sistemática do Direito, 4� ed. "V
«Parágrafo único. Caberá também argüição de descumprimento �e 3. "Preceito é termo genérico utilizado tanto para designar regra ou dispositivo como
preceito fundamental: I - quando for relevante o fundam ento da controve:­ para designar princípio, seja ele expresso ou implicito no texto constitucional" (Roberto Men­
sia constitucional sobre lei ou ato normativo federal, estadual ou mumc1- des Mandelli Jr., Argüição de Descumprimento de Preceito Fundamental: J11strume11to de
pal, incluídos os anteriores à Constituição; II - (vetado) (...). Proteção dos Direitos Fundamentais e da Constituição, p. 112). Sobre a distinção entre regras
e princípios, vale a pena lembrar as consagradas lições de Dworkin e Alexy. Para Dworkin "a 1,
"( ... ). diferença entre princípios e regras jurídicas é de natureza lógica. Os dois conjuntos de padrões
"Art. 4'. (... ). apontam para decisões particulares acerca da obrigação jurídic a em circunstâncias específi­
cas, mas distinguem-se quanto à natureza da orientação que oferecem. As regras são aplicá­
"§ 1n. Não será admitida argüição de descumprimento de preceito��­ veis à maneira do tudo-ou-nada. Dados os fatos que uma regra estipula, então, ou a regra é
damental quando houver qualquer outro meio eficaz de sanar a les1v1- válida, e neste caso a resposta que ela fornece deve ser aceita, ou não é válida, e neste caso em
dade." nada contribui para a decisão.(...). A regra pode ter exceções, mas, se tiver, será impreciso e
incompleto simplesmente enunciar a regra, sem enumerar as exceções. Pelo menos em teoria,
Depreende-se do texto legislativo a existência de tr� s requisitos p�ra a todas as exceções podem ser arroladas, e, quanto mais o forem, mais completo será o enuncia­
argüição de descumprimento de prec eito fundamental: (1) amea�a ou vwl�­ do da regra. Mas não é assim que funcionam os princípios (...). Mesmo aqueles que mais se
ção a precei to fundamental, (ii) causada por ato do Poder Publico, (111) assemelham a regras não apresentam conseqüências jurídicas que se seguem automaticamente
. , quando as condições são dadas. (...). Os princípios possuem uma dimensão que as regras não
quando não houver outro meio eficaz de tutela. Em que pese a controversrn
têm - a dimensão do peso ou importância" (Ronald Dworkin, Levando os Direitos a Sério,
em torno da aplicação do inciso I do parágrafo único do art. F da su_pra­ pp. 39-42). Uma releitura das considerações de Dworkin é oferecida por Alexy, que acrescenta
mencionada lei, vislumbra-se aí um quarto elemento a demandar mamfes­ a caracterização dos princípios como mandados de otimização. Classificando a distinção de
tação: (iv) relevância do fundamento da controvérsia constitucion.al sobr_e qualitativa, Alexy dá especial relevância para a forma como se soluciona um conflito entre
lei federal, inclusive anterior à Constituição. Embora expressos, tais reqm- regras ou entre princípios. Par a tanto conceitua as normas, que, por su a estrutura, ordenam
que algo seja realizado na maior medida possível, dentro das possibilidades jurídicas e reais
existentes, como princípios. Portanto, princípios são mandados de otimização que estão ca­
1. O § l º do art. 102 da CF de 1988, originalmente parágrafo único, foi renumerado p ela racterizados pe lo fato de que podem ser cumpridos em diferentes graus, e a medida devida de
Emenda Constitucional 3/1993. seu cumprimento não só depende das possibilidades reais, senão também das jurídicas. Desta
204 SOLUÇÕES CONSTITUCIONAIS ANTECIPAÇÃO DE PARTO DE FETO ANENCEFÁLICO 205

a Constituição se apresenta como um sistema aberto composto por ambas T�ata-se, :ntão, de um rol exemplificativo e - afirme-se - mínimo, pois,
as espécies nonnativas .4 Não é qualquer regra ou princípio, mas tão-so­ se a tais preceitos não pode ser negada a condição de fundamentais outros
mente aquele fundamental, ou seja, essencial, basilar ao Estado Democrá­ todavia, p�derão ser �escobertos pela comunidade aberta dos intérr'retes d�
.
tico de Direito,5 que aponta para a identidade da Constituição. Encontram­ Constlhnçao - para utilizar expressão consagrada de Peter Hãberle.7
se aí os princípios fundamentais da República (arts. l -4 da CF), os
º º
Ora, limitando-se o Constituinte de 1 988 a enunciar a locução "precei­
princípios sensíveis (att. 34, VII, da CF), as cláusulas pétreas (art. 60, § 4 ,
º
to fundamental", acabou, por um lado, dificultando a aplicação da garantia
da CF) e os direitos e garantias fundamentais (Título II da Constituição),' constitucional até sua regulamentação8 e, por outro, privilegiando a dimen­
entre outros. são democrática da jurisdição constitucional.9
. _ O STF, enquanto órgão jurisdicional máximo de proteção da Consti­
fonna, a colisão entre princípios é solucionada co m a precedência de um s obre o outro, sem tu1çao, desenvolve um papel ímpar na construção do conceito de preceito
declaração de invalidade deste que foi afastado na decisão do caso concreto (Robert Alexy, fundamental. Para tanto, deve levar em consideração, no desempenho da
Teoría de los Derechos Fimdamentales, pp. 86�89).
Sobre a diferença entre regras e prillcípios, cf., ainda: Martín Borowski, La Estructura
tarefa, o escopo democratizador dos direitos fundamentais numa comuni­
de los Derechos Fundamentales, pp. 47-56; Luís Roberto Barroso, "Fundamentos teórico s e
dade que é desigual não apenas do ponto de vista material, mas também
filosóficos do novo direito constitucional brasileiro: pós-modernidade, teoria crítica e pós­ cultural. 10
positivismo", Revista da Academia Brasileira de Direito Constituc ional 1/41-54; Ana Paula
de Barce\los, A Eficácia Jurídica dos Princípios Co11sti111cionais: o Principio da Dignidade
''!e� dências do Direito Brasileiro: a ampliação da jurisdição constitucional e da proteção dos
da Pessoa Humana, pp. 40-57; José Joaqui m Gomes Canotilho, Direfto Constitucional e Teo­
ria da Constituição, 3� ed., pp. l.085- 1.099; Humberto Bergman A vila, "A distinção entre d1re1tos do homem e do cidadão . A Lei 9.882, de 3.12. 1999", in Ives Gandra da Silva Martins
(coor? .), As Vertentes do Direito Co11stit11cio11a/ Con temporâneo, p. 1 65). A propósito, cf.
,,,,'
princípios e regras e a redefinição do dever de proporcionalidade", RDA 215/1 5 1 - 179; Sérgio
Fernando Moro, Jurisdição Co11stit11cional como Democracia, pp. 1 84-192; Eros Roberto tambem: Mandelli Jr., Argüição de Descumprimelllo de Preceito Fundamental: Instrumento
Grau, Ensaio e Discurso sobre a Interpretação/Aplicação do Direito, PP· 1 22-1 79. de Proteção dos Direitos Fundamentais e da Constituição, pp. 1 1 7-1 1 8 e 120; e Gilmar Fer­
4. Sobre a noção de sistema aberto de regras e princípios valemo-nos da lição de Cano ­ re ira Mendes, "Argüição de descumpri mento de preceito fundamental: parâmetro de co ntrole
ti\ho: "(l ) é um sistemajurídico porque é um sistema dinâmico de nonnas; (2) é um sistema e objeto", in André Ramos Tavares e Walter Claudius Rothenburg (o rgs.), Argiiição de Des­
aberto porque tem uma estrutura dialógica (Caliess), traduzida na disponibilidade e 'capa­ cumprimento de Preceito Fundamental: Análises à Luz da Lei 9.882/1999, pp. 128- 129.
cidade de aprendizagem' das nonnas constitucionais para captarem a mudança da realidade 7. Peter Hãberle, Hermenêutica Constitucional: a Sociedade Aberta dos I11té1pretes da
e estarem abertas às concepções cambiantes da 'verdade' e da 'justiça'; (3) é um sistema Constituição. Contribuição para a Jnte,pretação Pluralista e "Procedimental" da Constitui­
normativo porque a estruturaç ão das expectativas referentes a valores , programas, funções e ção, 1 997.
pessoas é feita através de normas; (4) é um sistema de regras e de princípios pois as nonnas 8. P ara alguns auto�es, ainda quando in �xistente a le i regula mentadora da argüição de
.
do sistema tanto podem revelar-se sob a fonna de principias <;:orno sob a sua fonna de regras" descumpnmento de preceito fundame ntal as v10lações a preceito s fundamentais deveriam ter f,
(Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 3ª ed., p. 1 .085). sido analisadas ne �ta via. �ão ·cabe, aqui, discutir a tese. O que i mporta lembrar é que, tanto
5. "Entra, aqui, a importância da noção de Estado Democrãtico de Direito, que, p or antes quanto depms da Lei 9.882/1999, não é a enu meração de preceitos fundamentais con­ f•
agregar o conjunto de conquistas da modernidade, nas três dimensões que p ossuem os direitos sidera � a condição de �ossibilidade de conheci mento e processamen to da argüição de des·

fundamentais, constitui, na revolução paradigmãtica proporcionada pelo novo constituciona­ cumprimento de preceito fundam ental. Neste sentido, cf. Streck, Jurisdição Constitucional e
lismo do pós-guerra, um verdadeiro plus nonnativo, no interior do qual o Direito é gerido p elo Hermenêutica: uma Nova Crítica do Direito, p. 634.
próprio Direito, e onde o Estado deve, na sua organização, respeitar a confonnação dos �i­ 9. "A ausência dessa previsão confere à jurisprudência maior flexibilidade, pennitindo
reito s sociais e fundamentais. Esse plus nonnativo, basicame nte, ancora-se tanto n o conceito alterações quanto à densidade axiológica da nonna constitucional, possibilitando acom odar
'democrãtico ', como na nec essidade do respeito aos direitos fundamentais, donde a realização com mais �acilid �de mudanças na sociedade, aplicando o método da interpretação constitucio·
desses direitos tomam-se [sic} condição de p ossibilidade para a p rópria caracterização da na! evolutiva, deixando espaço tanto para que um preceito constitucional passe a ser tratad o
democracia. Os mecanismos de realização dos direitos fundamentais assumem lugar cimeiro como fundamental, bem como para que deixe de sê�lo, po is os preceito s fundamentais decor­
no contexto do constitucionalismo do Estado Demo crático de Direito" (Lênio Luiz Streck, re m da p �ópria história constitucional do Estado" (Mandelli Jr.,A,giiição de Descumprimento
Jurisdição Constitucional e Hermenêutica: uma Nova Crítica do Direito, p. 638). de Preceito Fundamental: Instrumento de Proteção dos Direitos Fundamentais e da Consti·
6. "Com a expressão 'preceitos fundamentais' o legislador constitucional pretendeu al­ tuição, p. I I ?). Nesse sentid�: C!C merson Merlin CICve e Cibele Fernandes Dias, "Argüição
cançar todos os direitos e garantias fundamentais. Mas não somente aqueles que se encontram de descumprnnento de preceito fundamental", Revista de Direito da Procuradoria-Geral do
agasalhados na declaração de direitos; também, na minha avaliação, to dos aqueles direitos Es!ado de Goiás 21/5 1 ; Walter Claudius Rothenburg, "Argüição de descumprimento de pre·
vinculados ao exercício das liberdades públicas e ao s direito s sociais, vinculados à dignidade ce1to fundamental", in André Ramos Tavares e Walter Claudius Rothenburg (o rgs.), Argüição
humana, alcançando, assim, os fundam entos da República, tal e qual definidos no art. 1 ° da de Descumprimento de Preceito Fundamental: Análises à Lu= da Lei 9.882/1999, p. 212.
CF suscetíveis de descumprimento pelo Poder Público, oriundo o descumprimento de atos 10. Menezes D ireito lembra da lição de Cardoso: "O grande juiz da Suprema Corte dos
ab�sivos dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário" (Carlos Alberto Menezes Direito, Estados Unidos da América [Benjamin Natlwn Cardoso] ensinou, considerando a 'questão
206 SOLUÇÕES CONSTITUCIONAIS ANTECIPAÇÃO DE PARTO DE FETO ANENCEFÁLICO 207

"A função de um Tribunal Constitucional ou de uma Corte Suprema nais, haverá de guardar consonância com o debate público, responsável
em matéria de constitucionalidade das leis é a de zelar pela garantia dos pela atualização de significado dos comandos estatais. 14- 15 Na era
procedimentos institucionalizados aptos à geração de provimentos estatais tecnológica, 16 em razão dd"v'v!{Jcidade com que as relações sociais se trans­
como mecanismo de tutela da democracia." 1 1 formam, nem é preciso que a época da edição da lei seja tão distante para
É claro que o debate em si comporta a defesa de todos os pontos de que o intento original que a moveu, caso aferível, possa se apresentar, even­
vista; porém, ao STF, aquele que vai dar a última palavra no contencioso tualmente, como exigente de compreensão atualizadora.
judicial, cumpre referendar o pluralismo inerente ao Estado Democrático "'Em verdade, após a edição da lei, esta assume tal autonomia que o
de Direito. 12 Por mais difícil que a tarefa possa se apresentar, é preciso con­ seu alcance e sentido serão, efetivamente, definidos pela comunidade jurí­
siderar que a eficácia dos direitos fundamentais não pode ficar restringida dica, incluindo as pessoas leigas de uma determinada sociedade. Um mes­
aos núcleos de interesses da maioria. 1 3 mo texto de lei, após reiterada interpretação, vai 'amadurecendo' seu senti­
Um espaço que se pretenda democrático, não obstante, a legitimidade do e alcance, seja no debate que se estabelece nos meios de comunicação,
dos atos públicos, incluídos aí os normativos, administrativos e jurisdicio- seja na leitura que se faz nos tribunais. " 17
Não se olvida que, com a complexização das relações sociais, a tutela
sobre como deveria decidir um juiz diante do conflito entre suas convicções e as convicções dos direitos fundamentais tem apresentado crescentes dificuldades herme­
da comunidade, diante da resposta de um seu colega, que indicava a predominância das con­ nêuticas em razão das questões del icadas que chegam ao Judiciário. A uti-
vicções pessoais do juiz', que: 'Não se verificará, provavelmente, na prática. Raro, na ver­
dade, será o caso cm que nada exista para inclinar a balança, além das noções contraditórias
sobre o procedimento correto. Se, entretanto, o caso suposto aqui estivesse, creio que erraria
�1'
o juiz que quisesse impor à comunidade, como norma de vida, suas próprias idiossincrasias 14. "Não é demais lembrar que a vida é muito mais rica e complexa que a melhor das
de procedimento ou de crença'" (Menezes Direito, "Tendências do Direito Brasileiro: a am­ teorias. Portanto, cumpre, sim, manter a coerência dos postulados teóricos e doutrinários, mas
pliação da jurisdição constitucional e da proteção dos direitos do homem e do cidadão. A nem por isso está-se autorizado a desprezar as exigências e desafios que a experiência vai
Lei 9.882, de 3.12.1 999", in Ives Gandra da Silva Martins (coord.), As Vertentes do Direito impondo às condutas humanas e às categorias jurídicas. Cabe à jurispmdência e ao Judiciário
Constitucional Contemporâneo, p. 1 64). a insubstituível tarefa de, observados os valores que o Direito não pode descurar, atualizar o
1 1 . Álvaro Ricardo de Souza Cruz, J11ri:�dição Constitucional Democrática, p. 439. sentido dos preceitos legais e a utilidade das formulações teóricas, adaptando uns e outras aos
12. "O Estado Democrãtico de Direito, em que se constitui a República Federativa do renovados fatos que a vida oferece todos os dias" (Clêmerson Merlin ClCve, A Fiscalização
Brasil, assegura os valores de uma sociedade pluralista (Preâmbulo) e fundamenta-se no plu­ Abstrata da Constitucionalidade 1to Direito Brasileiro, 2ª ed., p. 255).
ralismo político (art. P'-, V). A Constituição opta, pois, pela sociedade pluralista que respeita 15. "Cidadãos e grupos, órgãos estatais, o sistema público e a opinião pública ( ...) repre­
a pessoa humana e sua liberdade, em lugar de uma sociedade monista que mutila os seres e sentam forças produtivas de interpretação (!11te1]Jretatorisclte Produktivla'iifte); eles são intér­
engendra as ortodoxias opressivas. O pluralismo é uma realidade, pois a sociedade se compõe pretes constitucionais cm sentido Jato, atuando nitidamente, pelo menos, como pré-intérpretes
de uma pluralidade de categorias sociais, de classes, grupos sociais, econômicos, culturais e (Vorinte1vrete11). Subsiste sempre a responsabilidade da jurisdição constitucional, que forne­
ideológicos. Optar por uma sociedade pluralista significa acolher uma sociedade conflitiva, ce, em geral, a última palavra sobre a interpretação (com a ressalva da força normatizadora do
de interesses contraditórios e antinômicos. O problema do pluralismo está precisamente cm voto minoritário). Se se quiser, tem-se aqui uma democratização da interpretação constitucio­
construir o equilíbrio entre as tensões múltiplas e por vezes contraditórias, em conciliar a so­ nal. Isso significa que a teoria da interpretação deve ser garantida sob a influência da teoria
ciabilidade e o particularismo, em administrar os antagonismos e evitar divisões irredutíveis" democrática. Portanto, é impensável uma interpretação da Constihtição sem o cidadão ativo
(José Afonso da Silva, Curso de Direito Co11stit11cional Positim, 2 P ed., p. 143). Cf., ainda: e sem as potências públicas mencionadas" (Hübcrle, Hermenêutica Constitucional: a Socie­
Gcorges Burdca11 , Traité de Sciencc Politiq11e, 2g ed., t. I, p. 185, 1. III, p. 1 69, e t. VII, pp. 559 dade Aberta dos lnté1JJretes da Constituição. Contribuição para a Interpretação Pluralista e
e ss.; André Hauriou, Droit Constitutionnel et !nstitutions Politiques, 5ª ed., p. 226. "Procedimental" da Constituição, p. 14).
1 3. "A maioria não pode dispor de toda a 'legalidade', ou seja, não lhe está facultado, 16. "Em grande parte, a tecnologia expressa a habilidade de uma sociedade para im­
pelo simples facto de ser maioria, tomar disponível o que é indisponível, como acontece, por pulsionar seu domínio tecnológico por intermédio das instituições sociais, inclusive o Estado.
exemplo, com os direitos, liberdades e garantias e, em geral, com toda a disciplina constitucio­ O processo histórico em que esse desenvolvimento de forças produtivas ocorre assinala as
nalmente fixada (o princípio da constitucionalidade sobrepõe-se ao princípio maioritário). ( ... ). características da tecnologia e seus entrelaçamentos com as relações sociais. Não é di ferente
O princípio maioritário não exclui, antes respeita, o 'pensar de outra maneira', o 'pensamento no caso da revolução tecnológ ica atual. Ela originou-se e difundiu-se, não por acaso, em um
alternativo' . Noutros termos: o princípio maioritário assenta politicamente num 'relativismo período histórico da recstmturação global do capitalismo, para o qual foi uma ferramenta
pragmãtico', e não num 'fundamentalismo de maiorias'. Para utilizannos as palavras de um básica. Portanto, a nova sociedade emergente desse processo de transformações é capitalista e
ex-presidente do Tribunal Constitucional alemão: o pressuposto básico da praticabilidade do também informacional" (Manuel Castells, A Sociedade em Rede, 7ª ed., vol. I, pp. 49-50).
princípio maioritário é a ausência de pretensões absolutas de verdade" (Canotilho, Direito 17. Eduardo Appio, !11te1pretação Co11fo1111e à Constituição: Instrumento de Tutela Ju·
Constitucional e Teoria da Constituição, 3� ed., pp. 3 1 6-3 17). risdicional dos Direitos Fundamentais, p. 30.
208 SOLUÇÕES CONSTITUCIONAIS ANTECIPAÇÃO DE PARTO DE FETO ANENCEFÁLICO 209

lização do princípio da proporcionalidade evidencia isso. 18 Mesmo nestes dade da Constituição, 19 o princípio da força normativa da Constituição20 e
casos dificeis é imperativo harmonizar os preceitos, se não restringi-los o o princípio da concordância prática. 21
mínimo possível. Seja qual for a circunstância, as vedações constitucionais Imp011a ao intérprete resguardar a unidade da Constituição e proteger
expressas são barreiras intransponíveis, e dentre elas pode-se citar a proibi­ sua supremacia no ordenamento jurídico. À jurisdição constitucional cabe
ção de o Poder Público, em qualquer âmbito, estabelecer vínculos religio­ inegavelmente o papel de instância adequada para a garantia da coerência
sos (mt 19, I, da CF), de criar diferenciações entre brasileiros (art. 19, III, que as normas infraconstitucionais devem guardar com o corpo da Consti­
art. 5', caput, e art. 3', IV, da CF) e de discriminar direitos e liberdades (art. tuição, no qual se encontram os preceitos fundamentais.
5º, XLI, da CF). A suspeita de contrariedade a qualquer destas situações dá
ensejo ao mecanismo devido de tutela.
19. Tido como mais importante, o princípio da unidade da Constituição significa que
A ameaça ou violação de preceito fundamental nem sempre será pa­ "a conexão e a interdependência dos elementos individuais da Constituição fundamentam a
tente, haja vista o intercâmbio valorativo que permeia as normas protetoras necessidade de olhar nunca somente a norma individual, senão sempre também a conexão
total na qual ela deve ser colocada; todas as normas constitucionais devem ser interpretadas
de tais direitos. Ora, sendo certo que os direitos fundamentais não são ab­ de tal modo que contradições com outras normas sejam evitadas" (Konrad Hesse, ob. cit., p.
solutos e que seus contornos dificilmente são aferíveis em abstrato, é preci­ 65). Disto se pode retirar fundamento tanto para a inexistência de hierarquia normativa entre
so fazer uso de métodos hermenêuticos arrojados para se identificar tanto o normas constitucionais quanto para a limitação ou restrição a direitos fundamentais e para
preceito quanto o ato ofensivo. Nesse intuito cunharam-se os princípios da a necessidade de harmonização de divergências entre disposições de direitos fundamentais
interpretação co11stitucional, dentre os quais ressaltam o princípio da uni- (cf.: Wilson Antônio Steinmetz, Colisão de Direitos Fundamentais e Princípio da Propor­
cionalidade, pp. 94-95; Stumm, Princípio da Proporcionalidade 110 Direito Constitucional
Brasileiro, pp. 56-58).
20. O princípio daforça normativa da Constituição, segundo Hesse, indica que se deve
18. O STF tem reiterado a aplicação do princípio da proporcionalidade como meio de dar preferência aos pontos de vista que proporcionam força de efeito ótimo às normas da
testar a racionalidade das restrições aos direitos fundamentais. Citam-se como precedentes Constituição (Konrad Hesse, ob. cit., p. 68). Sua inobservância no âmbito dos direitos fun­
anteriores à promulgação da atual Constituição as decisões proferidas no RE 18.331 (rel. damentais gera conseqüências graves, como afirma Steinmetz: "A perda da força nonnativa
Min. Orozimbo Nonato), em que ficou assentado que "o poder de taxar não pode chegar à significaria fazer dos direitos fundamentais, como no passado, meras declarações políticas,
desmedida do poder de destruir"; na Repr. 930 (rei. Min. Rodrigues deA!ckmin), tratando das sem força vinculante. Seria voltar ao tempo em que esses direitos estavam à livre disposição
condições de capacidade para o exercício das profissões; na Repr. 1.077 (RTJ 112/34); e na do legislador, apenas ganhando força jurídica quando objeto de lei" (Colisão de Direitos Fun­
Repr. 1.054 (RTJ 110/937 e ss.). A referência expressa à aplicação do princípio veio a aconte­ damentais e Principio da Proporcionalidade, p. 96).
cer já sob a égide da nova ordem constitucional, na ADI 855-2, onde se discutia a obrigação 21. O princípio da concordância prática é a harmonização, otimização, dos bens jurí­
determinada em lei paranaense de pesagem de botijões de gás à vista do consumidor no mo­ dicos protegidos constitucionalmente. Ensina Hesse: "O desenvolvimento da atualidade na
mento da venda, com pagamento imediato da eventual diferença a menor.Ainda em sede cau­ resolução de problemas jurídico-constitucionais torna necessária geralmente e em medida
telar, reconheceu o STF manifestar-se hipótese de violação ao princípio da proporcionalidade crescente comparação de direito que, com razão, foi qualificada de parte integrante indispen­
e razoabilidade das leis restritivas de direitos. Decisões dotadas de sentido semelhante são sável da interpretação constitucional moderna. Em conexão estreita com isso está o principio
encontradas nas ADI l.158, 966-4, 958-3 e 2.019-MC. O manejo da técnica na jurisprudên­ da concordância prática: bens jurídicos protegidos jurídico�constitucíonalmente devem, na
cia do STF pode ser encontrado, ainda, no HC 71.374-4, sobre a possibilidade da condução resolução do problema, ser coordenados um ao outro de tal modo que cada um deles ganhe
coercitiva do paciente para colheita de material indispensável ao exame de DNA em ação de realidade. Onde nascem colisões não deve, em 'ponderação de bens' precipitada ou até 'pon­
investigação de paternidade, e no MS 23.466, sobre quebra de sigilo bancário. Há ainda vários deração de valor' abstrata, um ser realizado à custa do outro. Antes, o princípio da unidade
casos atuais em que transparece o manejo do princípio da proporcionalidade. da Constituição põe a tarefa de uma otimização: a ambos os bens devem ser traçados limites,
N ão cabe, aqui, trazer a lista exaustiva dos julgados da Suprema Corte brasileira para para que ambos possam chegar à eficácia ótima. Os traçamentos dos limites devem, por con­
demonstrar que aquele se apresenta já como solução metódica incorporada ao cotidiano de sua seguinte, no respectivo caso concreto, ser proporcionais; eles não devem ir mais além do que
atividade jurisdicional. Sobre o tema, cf.: Gilmar Ferreira Mendes, Direitos Fundamentais e é necessário para produzir a concordância de ambos os bens jurídicos. 'Proporcionalidade'
Controle da Constit11cio11alidade: Estudos de Direito Constitucional, pp. 67-83; Raquel De­ expressa, nessa conexão, uma relação de duas grandezas variáveis, e precisamente esta que
nise Stumm, Princípio da Proporcionalidade no Direito Constit11cio11al Brasileiro, pp. 89-93; satisfaz melhor aquela tarefa de otimização, não uma relação entre uma 'finalidade' constante
Gustavo Ferreira Santos, O Princípio da Proporcionalidade na Jurisprudência do Supremo e um 'meio' variável ou vários" (Konrad Hesse, ob. cit., pp. 66-67). Rodrigo Meyer Bomholdt
Tribunal Federal: Limites e Possibilidade, pp. 157-200; Daniel Sarmento, A Ponderação de atribui um conteúdo fonnal ao princípio da concordância prática, ao afirmar que "não possui
Interesses na Constituição Federal, pp. 171-193; Clêmerson Merlin Cléve, "Contribuições ele um conteúdo próprio, dependendo, ademais, da dogmática particular de cada direito funR
previdenciárias. Não-recolhimento. Art. 95, 'd', da Lei 8.212/1991. Inconstitucionalidade", damental colidente. Simplesmente, imporá ele que nenhum direito seja sacrificado, devendo
RT736/52I-526; Suzana de Toledo Barros, O Princípio da Proporcionalidade e o Controle de ser ao máximo otimizado" (Colisão entre Direitos Fundamentais: Metódica Estruturante e
Constitucionalidade das Leis Restritivas de Direitos Fundamentais, 3ª ed., pp. 104-130. Ponderação, p. 146).
SOLUÇÕES CONSTITUCIONAIS ANTECIPAÇÃO DE PARTO DE FETO ANENCEFÁLICO 211
210

No caso em apreço, em sede de argüição de descumprimento de p re­ Disto decorre uma conclusão importante: nenhum ato emanado do Poder
ceito fundamental alegou-se violação aos seguintes preceitos fundamen­ Público, seja legislativo, administrativo ou jurisdicional, pode ser a priori
tais: (i) dignidade da pessoa humana (art. 1 °, IV, da CF); (ii) pri�cípio da excluído do controle via argüição de descumprimento de preceito funda­
legalidade, liberdade e autonomia privada (art. 5°, 11, da CF); e (m) dueito mental em razão de sua natureza.24
à saúde (arts. 6', caput, e 196 da CF). Sem pretender entrar no mérito da É bem verdade que o STF criou exceções, tais como os atos políticos,
demanda, cumpre avaliar (i) se tais elementos configuram preceitos funda­ que, ainda que provindos de autoridade pública, foram excluídos do âmbito
mentais e (ii) se é plausível sua violação ou ameaça por ato do Poder Públi­ de aplicação da argüição de descumprimento de preceito fundamental." O
co consubstanciada inclusive em decisões judiciais fundadas em interpre­ mesmo ocorreu em relação ao cabimento de ação direta de inconstituciona­
ta�ão inconstitucional de dispositivos do Código Penal. lidade contra atos normativos anteriores à Constituição26 e atos normativos
secundários.27
A partir dos dados teóricos explicitados, a constatação patente é a de
que todos os preceitos invocados se encontram na base da identidade polí­ Bem se vê que a criação e a regulamentação da argüição de descum­
primento de preceito fundamental no sistema de controle de constituciona­
tica social e cultural da comunidade, residindo, portanto, no círculo óbvio
lidade pátrio trouxeram novos horizontes nesta seara.28 Enquanto m ecanis­
dos'preceitos fundamentais. De fato, ninguém alegaria o contrário sem in­
mo inovador, a argüição de descumprimento de preceito fundamental tem
correr em grave risco de esvaziar o conteúdo material da Constituição. Ca­
campo próprio de atuação, não coincidente com o que até então era objeto
lha, aqui, o alerta de Cláudio Pereira de Souza Neto: "Deve o método de das ações diretas. 29
_
interpretação buscar realizar o interesse público e o bem-estar geral, mev1-
tavelmente afetados pela concretização das nonnas constitucionais, e não
invadir a esfera/competência dos outros cm detenninados aspectos 'políticos' que envolvam
só se ater a preocupações com a correção fonnal da operação silogística. preceitos fundamentais" (Marco Aurélio Paganela, A Argüição de Descumprimento de Precei­
Para isso toma-se inevitável a utilização de teorias capazes de refletir so­ to Fundamental no Contexto do Controle da Constit11cio11a!idade, p. 80).
bre a Co�stituição não só do ponto de vista lógico-formal, mas também 24. "A expressão 'ato do Poder Público', empregada pelo legislador, deve ser com­
sobre o prisma dos reflexos concretos da nonna constitucional interpretada preendida. em seu sentido mais lato" (Daniel Sannento, "Apontamentos sobre a argüição de
descumprimento de preceito fundamental", in André Ramos Tavares e Walter Claudius Ro­
na realidade social". 22 thenburg (orgs.), Argüição de Descumprimento de Preceito Fundamental: Análises à Luz da
Identificados os preceitos fundamentais, cumpre analisar a lesividade Lei 9.882/1999, p. 91).
e sua decorrência de ato do Poder Público. 25. ADPF/QO 1-RJ, rel. Min. Néri da Silveira,j. 3.2.2000, Informativo STF 176.
26. ADI 2, rei. Min. Paulo Brossard,j. 6.2.1992; ADI 129, rel. Min. Francisco Rezek,
j. 7.2.1992, DJU28.8.l992; ADI 454, rei. Mio. Marco Aurélio; ADI 30, rei. Min. Marco Au­
rélio, j. 11.6.1997, DJU 15.8.1997.
2.3 Decorrência de ato do Poder Público 27 ADI/MC 360-DF, rei. Min. Moreira Alves, j. 21.9.1990, DJU 26.2.1993; ADI/MC
Não é o caso, aqui, de disconer sobre os atos do Poder Público, seu 1.25 �-1:_F, re�. Min. �arlos Velloso, j. 30.6.1994, DJU25.8.1995; ADI!MC 1.590-SP, rei. para
o acordao Mm. Sepulveda Pertence, j. 19.6.1997, DJU 15.8.1997.
conceito ou natureza. Importa avançar. 28. "De certa fonna, a argüição de descumprimento vem completar o sistema de contro­
Não tendo a Constituição nem a lei regulamentadora da argüição de le de constitucionalidade de perfil relativamente concentrado no STF, uma vez que as questões
que até então não podiam ser apreciadas no âmbito do controle abstrato de constitucionalidade
descumprimento de preceito fundamental especificado quais atos do Poder (ação direta de inconstitucionalidade e ação declaratória de constitucionalidade) serão objeto
Público são sujeitos ao controle por meio de argüição de descumprimento de exame no âmbito do novo procedimento" (Mendes, "Argüição de descumprimento de pre­
.
de preceito fundamental, resta claro que toda a gama deles é abrangid� ceito fundamental: parâmetro de controle e objeto", in André Ramos Tavares e Walter Clau­
; dius Rothenburg (orgs.), A,giiição de Descumprimento de Preceito Fundamental: Anti/ises à
desde que esteJam configurados os demais pressupostos de cabimento.
Luz da Lei 9.882/1999, p. 135).
29. "( ...) a nova lei [Lei 9.882/1999] traz uma novidade em controle concentrado de
22. Cláudio Pereira de Souza Neto, Jurisdição Constitucio11a!, Democracia e Raciona­ constitucionalidade, fazendo o país se lançar à frente mais uma vez neste campo, dando mais
lidade Prática, p. 166. um passo em direção ao respeito à cidadania e ao Estado de Direito. Cria, a lei, um controle
23. "Nota-se que o dispositivo não disse nem especificou qual dos Poderes Públicos e de ampla eficácia (erga omnes), sobre atos não-legislativos e, também, atos municipais. Isto
nem tampouco falou e/o [sic] quais espécies de atos oriundos destes Poderes serão (seriam) fica claro quando, da leitura dos arts. f Q e 2\ percebe-se que a lei se refere a 'ato do Poder
objeto da argüição de descumprimento de preceito fundamental. Em face deste 'silêncio elo­ :.ú.bli.�? ·� sem restrições. categóricas" (C.elso Ribeiro Bastos e Aléxis Galiás de Souza Vargas,
qüente' quanto aos Poderes Públicos, subentende-se que esta prescrição abrange tanto o pró­ Argmçao de descumprimento de preceito fundamental", Revista de Direito Constitucional e
prio Judiciário como O Executivo e o Legislativo, não obstante a reticência do STF em entrar/ lntemacional 30/70).
SOLUÇÕES CONSTITUClONAIS ANTECIPAÇÃO DE PARTO DE FETO ANENCEFÁLICO 213
212

dire­ a constitucionalida de do ab ort o quando indispensável para salvar a vida da


"Não há equivalência ou simetria entre o antigo objeto da s ações
tos fun men ais) e a atual argüiç ão, já que a mãe ou de interrupçã o de gravidez resultante de estupro.
tas (relativa mente aos precei da t
concr
esfera de incidência desta engloba também a im pugnaçã o de atos � Ningué m desconhece que a Constituição tutela o direito à vida, inclu­
tos

s não-es t tais, que n nca es eve in eri do nas ações genéncas sive do nascituro . Nessa linh a, vários direitos fundamentais foram consa­
e até de at o a o u t s

d e controle de constitucion alidad e, assim


c omo omissões, que tradici�nal­ grados, como a proibição d a tortura33 ou da pena de morte34 e como o direi­
a partir da
mente também não cont avam com re médio adequado, senão to. de tutela da família e da sociedade e a proibição de violência e abus o de
própria Carta de 1988."30 cnanças e a dolescentes. 35 Qualquer ato que encerre prematuramente o de-
tiv o senvo lvimento potencial de uma pessoa pode ser puni do. Não é preciso
O caso em apreço não tem por objeto ato político ou ato norma
ei t m­ tomar partid o na discussão para se perceber que a anencefalia não se apre­
secundário, mas, sim, ato legislativo cuj a interpretação e a�licação � �
entos medic as senta como um ato, mas sim como um fato alheio a qu alquer vontade e
pos modernos não lograram consenso acerca dos procedim
permitidos. independente de qualquer causa intencional. Este fato impossibilita o de­
tuição senvolvimento do feto com vida, aind a que as técnicas mais m odernas da
Os enunciados normativos elaborados antes da vigente Consti Medicina estejam à disposição.
o aborto enc ix m- e perfeit ente n � hipóte se
para compor o tipo penal d a a � am
argüição de descu mpnmen o de A situação descrita, sempre delicada, diante das d istintas ót icas dos
de ato do P oder Público impugnável via
t

menta l, eis que, quan o aplica dos aos casos de ge�tação de distintos órgãos jurisdicionais, vem gerando insegurança.
preceito fund a d
o poten­
feto anencefálico dão margem à construção de n onnas de decisa "Em um sistema dotado de órgão de cúpula que tem missão de guarda
s irei s fun damen-
cialmente ofensi�as aos hodiernos contornos de cert o d to da Constituição a multiplicid ade ou a diversidade de soluções pode c onsti­
tais. tuir-se, por si só, em uma ameaça ao princípio constitucional da segurança
onai� jurídica e, por conseguinte, em uma autênt ica lesã o a preceito fund amen­
Nesta linha, quando observados atos legislativos e/ou_j urisdici
etaçã descon forme à Cons ituiçã , dúvi da não �av�ra tal. ,,36
fundados em interpr o t o
on st1tuc10-
sobre a possibilidade de ser objeto d e controle concentrado de c Nã o se pretende discutir, aqui, o acert o, ou nã o, do entend imento se­
viola e a segu­
nalidade.31 Com isso protegem-se o preceito fundamental do gundo o qual a intenupção da gestaçã o de feto anencefálico é aborto; entre­
rança jurídica de uma só vez. tanto, não é dado ignorar que inexiste regra específica tr atando do assunto
Na ação proposta perante o STF não se observa a di�cussã o, certa�en­ - para pennit ir ou proibir - em nosso ordenamento.
te mais p olêmica, sobre a legalização do
aborto,32 ou seJa, sobre se a mte�­ No mun do contemporâneo os princípios cons titucionais assumem im­
r upção da gravidez, em todo e qualquer caso, independent e1:1ente �o moti­ portância ímpar, irradiand o37 seus efeitos por todo o ordenamento jurídico
_
vo , deve ser descriminalizada. Da mesma forma, nao se esta question para confonnar, desta feita, a interpretação de outras normas. Da mesma
ando

30. André Ramos Tavares, "Argüição de descumprimento de preceito fundamental: as­ 33. CF, art. 5º, III: "ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou
pectos essenciais do instituto na Constituição e na !ei", in André �amos Tavares e Wal�er degradante;(...)".
_
Claudius Rothenburg (orgs.), Argüição de Descumpr1111e11to de Preceito Fundamental.. Anali­ 34. CF, art. 5º, XLVII: "não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de guerra decla­
ses à Luz da Lei 9.882/1999, p. 46. rada, nos tennos do art. 84, XIX;(...)".
31. Ademais, a Lei 9.882/1999 deixa explícita a possibilidade de controle de consti- 35. CF, art. 227: "É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e
tucionalidade de interpretação judicial de preceitos fundamentais ao disp?r, em seu art. 1 0. ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saú.de, à alimentação, à educação,
. ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência
caput, que entre os efeitos possíveis da decisão de argüição de dcscumpn� ento de prece1!0
. _ familiar e comunitária, além de colocá-la a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
fundamental está a fixação das condições e modo de mterpretaçao de preceitos fundamentais,
para O quê certamente poderá se valer o STF da interpre tação conforme à Co?stituição ou da exploração, violência, crueldade e opressão".
declaração parcial de inconstitucionalidade sen:i redução de te��º· Neste sentido, cf. Rothen­ 36. Hely Lopes Meirelles, Mandado de Segurança, Ação Popula,; Ação Civil Pública,
. _ Mandado de Injunção, "Habeas Data", Ação Direta de l11constit11cionalidade, Ação Declara­
burg, "Argüição de descumprimento de preceito fundame�tal , m Andre �amos Tavares �
Walter Claudius Rothenbur (orgs.), Argüição de Descumpnmento de Precello Fundamenta/, tória de Constitucionalidade. Argüição de Descumprimento de Preceito Fundamental, Con­
Análises à Luz da Lei 9.882/1999, p. 227. trole Incidental de Normas no Direito Brasileiro, 27J ed., p. 444.
32. Dworkin conceitua aborto como sendo a prática de "matar deliberadamente um 37. Sobre o efeito de irradiação dos direitos fundamentais, cf.: Alexy, Teoria de los
embrião humano em formação"; uma opção pela "morte antes que a vida tenha realmente Derechos Fundamentales, pp. 507-510; Wilson Antônio Steinmetz, A Vinculação dos Parti­
começado" (Domínio da Vtda: Aborto, Eutanásia e Liberdades Individuais, p. 1). culares a Direitos Fundamentais, pp. 123-128.
214 SOLUÇÕES CONSTITUCIONAIS ANTECIPAÇÃO DE PARTO DE FETO ANENCEFÁLICO 215

forma que as lacunas do Direito, que um dia autorizaram a discricionarie­ lesão a preceito fundamental resultante desse ato judicial do Poder Público
dade do julgador, foram gradativamente sendo combatidas e repelidas, a nos termos do art. 1° da Lei 9.882/1999."39
adstrição do intérprete aos princípios constitucionais foi se firmando como Te�do em conta �ue º caso e volve preceitos fundamentais
. . � e que a
standard jurídico vinculante para a fiscalização de nonnas e atos infracons­ aphcaçao dos ato_s leg1sla!Ivos refendas tem revelado dúvida plausível so­
tih1cionais. 38 bre o tratamento Jurídico dado à antecipação de parto de feto anencefálico
Se a leitura das condutas tipificadas nos m1s. 124, 126 e 128 do CP em conclui-se, neste pon:o, estarem presentes os dois primeiros requisit
o�
face dos preceitos fundamentais consagrados na Constituição atual não apontados para o cabnnento da argüição de descumprimento de preceito
comporta a inclusão nas hipóteses ali descritas da antecipação do parto de fundamental.
feto anencefálico, as decisões em sentido contrário, seja por este ou por
outro fundamento, desafiam a manifestação da Corte Constitucional. Te­ 2.4 Subsidiariedade
mos aí um caso constitucional, possivelmente dificil, exigente de solução
jurisdicional. Antes de mais, é preciso dizer que a confi0!lllração do pressuposto da
"Pode ocon-er uma lesão a preceito fundada em simples interpretação s�bsidiariedad� somente comporta, no presente caso, uma exceção condi­
judicial do texto constitucional. Nesses casos, a controvérsia não tem por c10�al, qua ! S�Ja, a compreensão de que a técnica da interpretação confor­
base a legitimidade ou não de uma lei ou de um ato n01mativo, mas se as­ me a Constttmção, quando aplicada a dispositivos pré-constitucionais des­
senta simplesmente na legitimidade ou não de uma dada interpretação qualifica a hip�te�e de revo ?aç�o ou não-recepção que autoriza a res;rição
_ _ _
constitucional. No âmbito do recurso extraordinário, essa situação apresen­ do acessa a JUrtsd1çao constituc10nal nos termos da jurisprudência do STF.
ta-se como um caso de decisão judicial que contraria diretamente a Consti­ Feita a ressalva, cumpre enfrentar o tema.
tuição (art. 102, III, 'a').
. . Embora não contemplada no texto da Carta Magna, a subsidiariedade
"Não parece haver dúvida de que, diante dos termos amplos do art. l' foi msenda �elo legislador entre os pressupostos de cabimento da argüição
da Lei 9.882/1999, essa hipótese poderá ser objeto de argüição de descum­ �e descur?pnmento de preceito fundamental. Ainda que sua constituciona­
primento - lesão a preceito fundamental resultante de ato do Poder Público hdade SeJa questionável, não é necessário aprofundar essa investigação
-, até porque se cuida de uma situação trivial no âmbito de controle de para a c�n�lusão do presente estudo. Basta lembrar que, uma vez admitida,
_
constitucionalidade difuso. a subs1�1anedade deve ser compreendida de acordo com o escopo da medi­
"Assim, o ato judicial de interpretação direta de um preceito funda­ da. A�stm, tendo em vista a criação desta ação constitucional para tutelar
mental poderá conter uma violação da no1ma constitucional. Nessa hipóte­ prece1t�s fundamentais, seria inconstitucional transfonná-la em instituto
se, caberá a propositura da argüição de descumprimento para se evitar a decorativo.
Neste s�ntido ensina Menezes Direito: "Não creio que se deva mini­
.
38. As críticas de Dworkin à teoria positivista de Hart desempenharam papel importante rrnzar a argütç?o pelo fato de existirem tantos outros meios disponíveis.
para a teoria dos princípios. Em breve síntese, as principais características da teoria positivista Deve �er considerada a natureza da argüição no sentido de que busca 0
(defendida por Hart) refutadas por Dworkin foram: (i) regras de Direito são assim conside­ cumpr:mento d� detenninado preceito fundamental. O objetivo é permitir a
radas pelo modo como foram criadas ou desenvolvidas, com o propósito de o Poder Público ces_ �açao da lesao, devendo prevalecer o temperamento necessário para ad­
punir certos comportamentos; (ii) só há obrigação legal se fundada em regra jurídica válida;
(iii) se um caso não pode ser decidido pelas regras jurídicas que existem, a ele não se aplicará �mttr a argüição diante de um interesse relevante capaz de autorizar uma
o Direito . O maior argumento de Dworkin contra o império de regras do positivismo jurídico t �tervenç�� imediata e antecipada do STF, se, por exemplo, mesmo dispo­
é a existência de outros standards, como os princípios e as políticas públicas. Os princípios mvel e utilizado, o outro meio não se mostrar eficaz para cessar ou reparar
são os requisitos de justiça, cujo conteúdo admite com exclusividade uma dimensão de peso o descumprimento".4º
ou importância.Para o autor, não há como se falar em discricionariedade do juiz para resolver
um cnso dificil (ao menos, não no sentido que os positivistas dão à discricionariedade), pois
as argumentações e decisões, aí, apelam para princípios jurídicos. Assim, indigna-se com 39..Me d�s, "Arg?ição de descumprimento de preceito fundamental: parâmetro de con­
teorias da decisão judicial que afirmam que em hipótese alguma juízes devem "criar Direito". trole e ObJ�to?,, m Andre �amos Tavares e Walter Claudius Rothenburg (orgs.), Argüição de
Isso não teria cabimento principalmente pela atividade de interpretação e pela necessidade Descumpmnento de Precello Fundamental: Análises à Luz da Lei 9.882/1999 143
.
de decidir os casos dificeis. Afirma que não há tensão entre originalidade judicial e história . 40. Menezes Di eito, "T�n?ências do Direito Brasileiro: a ampliação daj���dição cons­
. �
institucional (cf Dworkin, ob. cit., p. 23-203). htuc1ona[ e da proteçao dos d!feltos do homem e do cidadão. A Lei 9.882, de 3.12.1999", in
.
SOLUÇÕES CONSTITUCIONAIS ANTECIPAÇÃO DE PARTO DE FETO ANENCEFÁLICO 217
216

Não há prejuízo deste entendimento se uma argüição de descumpri­ A regula.mentação da argüição de descumprimento de preceito funda­
mento de preceito fundamental proposta deixar de ser conhecida em virtu­ mental na Lei 9.882/1 999 atribuiu à decisão nesta sede os mesmos efeitos
de da existência de outro meio de tutela do preceito fundamental quando daquela proferida nas ações direta de constitucionalidade e de inconstitu-
.
1 . ad � -45 v·ISlumbra-se, portanto, uma eficácia geral, "pelo quê a lei
�10na1·d
ofereça resultado processualmente mais satisfatório.4 1 Uma exigência qua­
mconst1:_11c10n� I toma-se ineficaz para todos e para sempre, e não mera­
se-irracional no sentido de que a subsidiariedade da argüição de descumpri­
mente nao aplicada em um caso concreto".46 Diante do formato estabeleci­
mento de preceito fundamental tome como referência toda e qualquer me­
do na lei, e� itada com os vetos presidenciais, a argüição de descumprimen­
dida judicial, inclusive o recurso extraordinário, fatalmente tomaria inócua
to de preceito fundamental assume inegável caráter de ação constitucional
essa ação constitucional,42 ferindo frontalmente a Constituição.43 47
� e controle_concentra?º de constituci ?� ali �ade. Nada anormal, portanto,
Não se busca delinear exceções à aplicação do princípio da e a produçao dos efeitos erga onmes e vmculante49 no plano nonnativo
subsidiariedade,44 mas tão-somente aplicá-lo como deve ser. Para isso é nacional. 50
preciso compreender a natureza da argüição de descumprimento de precei­
to fundamental.
45. Art. I ?, � 3\ da Lei 9.882/1999. A argüição de descumprimento atende também às
.
d�mais c�ractensticas do controle abstrato de constitucionalidade, dentre as quais podemos
_
Ives Gandra da Silva Martins (co ord.), As Vertentes do Direito Constitucional Contemporâ­ citar: (1) e c?ncentrado, na medida �m que apenas o STF dispõe de competência quanto aos
.
neo, p. 1 61. � t o s nonnattv o s federais e estaduais, e em face da Constituição Federal, para processar e
4 1 . O STF já teve oportunidade de se manifestar sobre o alcance da subsidiariedade da Julgar � ação direta de inconstitucionalidade; (ii) principal, na medida em que é suscitada
argüição de descumprimento de preceito fundamental no julgamento da ADPF 4, em que se Pº � ?1e10 d: uma ação autônoma que visa a verificar, em tese, a validade do ato normativo;
decidiu que o outro meio há de ser eficaz. Esse entendimento deve ser conjugado, ainda, com . _
e (m) obJ 1:hvo, porque, "à margem de tal ou qual interesse, tem em vista a preservação ou a
o caráter principiológico das no nnas constitucionais, que as caracteriza como mandados de _
reconshtmção da constitucionalidade objetiva, quando o que avulta é a constante conformi­
otimi::ação. Assim, o outro meio somente terá o condão de afastar o cabimento da argüição de dade ?u �roc�r� de confo�idade dos comportamentos, dos actos e das nonnas com as regras
descumprimento de preceito fundamental se oferecer solução mais eficaz para o caso. A ex­ co? stttuc10nais (Jo rge Mtranda, Manual de Direito Co11stitucio11al, 2� ed., t. 2, p. 3 1 3). Cf.
pressão destacada é utilizada por Alexy para identificar nos princípios a qualidade de ordenar Clemerson Merlin Clêve, "Declaração de inconstitucionalidade de dispositivo normativo em
que algo seja realizado na maior medida possível dentro das possibilidades jurídicas e reais sede �e juízo abstrato e efeitos sobre os atos singulares praticados sob sua égide", Cadernos
existentes (cf. Alexy, Teoria de los Derechos Fundamentales, p. 86). de D1re1to Constitucional e Ciência Política 19/285.
42. "(...) não se torna desarrazoado afinnar que a exigência que a lei regulamentadora 46. Mauro Cappetletti, O Controle Judicial de Constitucionalidade das Leis no Direito
faz do esgotamento das vias judiciárias p ode tomar a argüição de descumprimento de preceito Comparado, 2ª ed., p. 1 1 9.
fundamental inócua e desnecessária, uma vez que existe o recurso extraordinário como meio 47. "A argüição de descumprimento de preceito fundamental decorrente da Constitui­
de levar as discussões acerca da violação da Constituição até a instância máxima, que é o ção Fed�ral é, então, uma fonna de controle concentrado de constitucionalidade, sobre atos
STF. Aqui, a lição do Direito Alemão poderia - e ainda pode - ser aproveitada, mormente em (no �at1vos ou não) .d? Pod�: Público, aí compreendidas todas as esferas federativas" (Cels o
face do que dispõe o § 90, alínea 2, frase 2, da Lei sobre o B11ndesve1fassungsgericht, onde se .
Ribeiro Bastos e Alex1s Gabas de Souza Vargas, "Argüição de descumprimento de preceito
pennite desconsiderar a exigência do esgotamento das vias judiciais. Ou seja, na Alemanha a fundamental", Revista de Direito Constitucional e Internacional 3 0/71).
exceção surge quando o recurso constitucional é de significado geral ou suceder ao impetrante 4 8. '�A e �cácia erga omnes significa que a declaração da constitucionalidade ou da
um prejuizo grave e irreparável, caso seja remetido, inicialmente, à via judicial" (Streck, Ju­ . _
mconstl�c1onahdade da lei se estende a todos os feitos em andamento, paralisando-os, com
risdição Constitucional e Hermenêutica: uma Nova Crítica do Direito, p. 642). o desfaz1mento dos efeitos das decisões neles proferidas no primeiro caso ou com a confir­
43. CF, art. s�. XXXV: "a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou mação desses efeitos no segundo caso" (Silva, Curso de Direito Constitucional Positivo, 2 1 ª
ameaça a direito; ( ... )".
ed., p. 60).
44. Traçando um paralelo entre a argüição de descumprimento de preceito fundamental
"Caracterizando um verdadeiro exercício do direito de ação, o julgamento efetuado
e o recurso constitucional alemão, Celso Bastos nos dá a seguinte notícia: "( ... ) na Alemanha,
pelo STF refere-se à lei em tese, e os efeitos dessa decisão deverJo atingir todas as hipóteses
a doutrina é assente no sentido de que, quando a matéria versada no recurso constitucional
em que possa haver sua incidência, vale dizer, a decisão que declara a inconstitucionalidade
for de interesse geral, não se exige o prévio esgotamento das instâncias ordinárias, o que
em tese é de alcance erga omnes, e reveste-se da autoridade da coisa julgada erga omnes,
representa uma exceção ao princípio da subsidiariedade do Ve1fass1111gbeschwerde. Conforme .
obngand�, �ortant�, não só o Poder Judiciário, como todos os demais Poderes - Legislativo
observou Klaus Schlaich, citando decisão da Corte Constitucional em matéria fiscal, nestas . .
hipóteses a exaustão das vias judiciárias não é exigida, porque 'a decisão esperada (do recurso e Executivo (Regma Mana Macedo Nery Ferrari, Efeitos da Declaração de Inconstituciona­
lidade, 5ª ed., pp. 230-23 1).
constitucional), além do caso concreto, irá esclarecer a situação jurídica de urna multiplicida­
de de casos que se apresentam de modo idêntico " ("Argüição de descumprimento de preceito 49. "O efe!t� vincula?t�, que representa, em essência, a imp osição obrigatória do cum�
.
fundamental e legislação regulamentadora", in André Ramos Tavares e Walter Claudius Ro ­ pnmento da dec1suo, constttu1, no caso da ação direta de inconstitucionalidade, decorrência
_
thenburg (orgs.), Argüição de Descumprimento de Preceito Fundamental: Análises à Luz da natural do sistema de controle de constitucionalidade" (Teori Albino Zavascki, Eficácia das
Lei 9. 882/1999, p. 1 05). Sentenças na Jurisdição Constitucional, p. 53).
ANTECIPAÇÃO DE PARTO DE FETO ANENCEFÁLICO 219
218 SOLUÇÕES CONSTlTUCIONAJS

de Apenas par� não deixar sem menção, cumpre, brevemente, lembrar


"Apesar de o Direito Brasileiro adotar um complexo sistema misto _
que certamente nao s_ena o caso de ação direta de inconstitucionalidade por
alidad e, a argüiç ão de descu mprim ento é um _
fiscalização de constitucion omissao, tendo em vista primafacie a patente ineficácia do instituto para 0
mentar a prote­
instrumento que complementa esse sistema, a fim de imple presente caso, �ue reclama uma declaração vinculante do órgão de cúpula
a argüição de _
ção da Constituição e dos direitos fundamentais. Portanto, do 1'.'oder Jud1crnno sobre a mterpretação dos dispositivos do Código Penal
um sistema de
descumprimento de preceito fundamental está inserida em e nao a mora do Legislativo para inserir qualquer nova regra. Sem conta;
parte des­
fiscalização de constitucionalidade e precisa ser entendida como que, para q�al�uer �aso que re�lam� uma prestação positiva emergencial
com outros ins­
se sistema, devendo ser interpretada e aplicada em cotejo do Poder Pubhco, ainda que se1a a liberação de um procedimento médico
m propo rciona m
trumentos existentes no Direito Brasileiro que també par� fi�s terapêuticos, a eficácia da ação direta de inconstitucionalidade por
51
esse controle." om1ssao fa talmente, �a forma que foi revestida de normatividade pelo STF,
sua eficá­ _ _
Cumpre analisar em cada caso a existência de outro meio e configmana um obstaculo para a tutela pretendida.
itar a prior i que o campo de invest iga­
cia. Não obstante, é possível delim Nem se cogita da continuação de ações individuais como meio eficaz
conce ntrada de consti tucion alidad e. Acei­
ção é o sistema de fiscalização por razõ:,s óbv�as. Ora, é justamente das decisões nestes casos que result�
mentos aí
tando-se um temperamento nos campos de incidência dos instru a confusao de mt�rpretações que se pretende findar por estarem, em tese,
a uma vedaç ão estabe lecida pelo Pretór io Ex­ .
inseridos, em que se verific v10lando os preceitos fundamentais aduzidos. Não obstante, a duração dos
pré-co nstituc ional nas ações direta s - leia­
celso de fiscalização de direito pro�essos �mda quando se maneja o habeas c01pus, traz o risco eminente
de constitu­
se "ação direta de inconstitucionalidade" e "ação declaratória
_,
de meficac1a do provimento. Prova cabal disso foi o desfecho do HC
proteção dos
cionalidade" -, a conclusão lógica sobre o meio eficaz de 84.025-6-RJ que teve em primeiro grau deferida liminar, na seqüência re­
do Decreto­
preceitos fundamentais em jogo na aplicação dos dispositivos vogada �el� Pres1dente
_
da Câmara e restabelecida pelo colegiado do res­
na gestação de
lei 2.848, de 7.12.1940, aos casos de intervenção médica pec!Jvo orgao. Subm ao STJ, que suspendeu os efeitos da liminar, e final­
de precei­
feto anencefálico é o cabimento de argüição de descumprimento �ente chegou ao STF,_ �uando, por _ém, já era impossível a tutela requerida,
ito da subsid iarie-
to fundamental. Com isso, restaria preenchido o requis
52
eis que o feto anencefahco havta sido parido, falecendo menos de oito mi­
dade. nutos após. A �ficácia do meio nesse caso deve necessariamente ser coteja­
da com a celendade do procedimento judicial. 53
Sobre a diferença entre eficácia erga omnes e efeito vinculante, cf.: Clêve, A Fisca­
lização Abstrata da Constitucionalidade no Direito Brasileiro, 2ª ed., pp. 240-259; Ferrari, Ar�ii!ção de D:scumprimento de Preceito Fundamental, Controle Incidental de Normas 110
_
Efeitos da Declaração de Inconstitucionalidade, 5� ed., pp. 237-245; Cruz, Jurisdição Consti­ D1re1to Bras1/e1ro, 27n ed., p. 442).
lltcional Democrática, pp. 174-176; lves Gandra da Silva Martins e Gilmar Ferreira Mendes, 53:"? problema que se apresenta é quanto à celeridade dos meios existentes. Afinal
Controle Concentrado de Co nstit11cio11alidade: Comentários à Lei 9.868, de 10.11.1999, pp. a todo ?,ire1to co n;;spo�? e uma ação judicial tendente a preservá-lo ou assegurá-lo quand�
. _
326-345. Sobre a coincidência dos fenômenos, cf. Edmar Oliveira Andrade Filh o, Controle de v10lado (B��t�s, Arg�1çao de descumprimento de preceito fundamental e legislação regu­
Constitucionalidade de Leis e Atos Normativos, pp. 93-94. lamentad�� , m Andre R�mos Tavares e Walter Claudius Rothenburg (orgs.), Argüição de
50. "(...) os efeitos produzidos pela decisão no contr ole abstrato residem no plano nor­ Descwnp, tmento de Preceito Fundamental: Análises à Luz da Lei 9. 882/1999 ,p. 80) A pro-
.
mativo . Por isso, os atos singulares praticados co m fundamento direto n a lei reputada inconsti­ e�ao a ser of.erec1da pelo ordenamento jurídico para este especial viés do direito funda mental
t-
tucional não são automaticamente d esconstituídos pela decisão do STF. Os efeitos da decisão, _
(v1�laç�o ?u o �ensa causada por ato do Poder Público) deve ser sufici ente. Tendo em vista a
reitere-se, repousam no plano da nonna e não n o p lano nonnado (fato constituído p elo ato a� l�:ªJªº imediata �os direitos fundamentais, infere-se um verdadeiro dever de atuação do Ju­
singular ou c oncreto praticado com fundamento na norma)" (Clêve, A Fiscalização Abstrata d1cmno Pª:° garantir a proteção razoável aos preceitos fundamentais em jogo. Não se olvid
da Constitucionalidade no Direito Brasileiro, 2� ed., p. 253). que � �eseJO � ª necessidade de agilidade no andamento dos processos judiciais elevaram :
51. Mandelli Jr., Argüição de Descumprimento de Preceito F1111damental: instrumento .
cond1çu o de direito fundamental sua razoável duração (CF, art. 511, LXXVJJJ·. "a todos, noam-
de Proteção dos Direitos Fundamentais e da Constituição, p. 132. . . . .
·d"·
b1to JU tem1 e ad?1m1stratlvo, são a ssegurados a razoáve l duração do processo e os meios que
52. "(...) e o que ocorre, fundamentalmente, nas hipóteses relativas ao controle de legi­ _
garantam a celendade de sua tramitação"). Jamais poderá ser considerada razoável duração
timidade do direito pré-constitucional, do direito municipal e m face da Constituição Federal do pr�c.esso aquela que imp ossibilite �tutela.No caso de gestante de feto anence fálico, 0 pra­
e nas controvérsias sobre direito pós-constitucional já revogado ou cujos efeitos já se exau­ ,
zo max1mo �o pr�ce �so tera n:cessanamente de ser inferior ao restante de mes es de gestação
riram. Nesses casos, em face do não-cabimento da ação direta de inconstitucionalidade, não .
normal, porem, ai, so se estara dentro do prazo máximo. A duração razoável deve ser aind
há como deixar de reconhecer a admissibilidade da argüição de descumprimento" (Meirelles, menor para ue haja efetivida� �esta forma, pode-se concluir, sem dúvidas, que inexiste ou�
Mandado de Segurança, Ação Popu/a,; Ação Civil Pública, Mandado de injunção, "Habeas � �:
tro meio mais eficaz que a argmçu o de descumprimento de preceito fundamental para O caso.
Data", Ação Direta de Jnconstit11cionalidade, Ação Declaratória de Constitucionalidade,
220 SOLUÇÕES CONSTITUCIONAIS ANTECIPAÇÃO DE PARTO DE FETO ANENCEFÁLICO 221

As únicas hipóteses que admitiriam um campo intercambiável de ca­ Os efeitos da aplicação da técnica em comento no caso sob análise não
bimento das ações diretas e da argüição de descumprimento de preceito geram qualquer atrito com o que até então tem sido praticado,56 eis que
fundamental - e, portanto, afastariam a aplicação desta última - seriam: (i) "por meio da interpretação confmme (...) a Corte reduz/limita o campo de
a mudança na orientação da Excelsa Corte sobre a fiscalização abstrata de incidência dos elementos tipológicos da norma, por meio de interpretação
constitucionalidade de dispositivos anteriores à promulgação da atual restritiva" ,57 tal qual se pleiteia para a alegada incidência questionável dos
Constituição; ou (ii) a compreensão de que as hipóteses em que a utilização dispositivos penais relativos ao abortamento que tem sido operada em ca­
da técnica da interpretação confonne à Constituição, com a conseqüente sos dispersos na jurisdição pátria. Ora, se "oportunidade para a interpreta­
manutenção da regra no ordenamento jurídico, embora diminuída sua inci­ ção confonne à Constituição existe sempre que determinada disposição le­
dência em um ou mais casos específicos, não se enquadrariam no objeto gal ofereça diferentes possibilidades de interpretação, sendo algumas delas
ressalvado do controle via ação direta de inconstitucionalidade. incompatíveis com a Constituição",58 e se na argüição proposta perante o
STF argumenta-se com a ofensa a preceitos fundamentais decorrentes de
Sobre a aplicabilidade da técnica de controle de constitucionalidade
uma particular leitura dos dispositivos penais que regem o aborto, a conclu­
nominada de "interpretação conforme à Constituição"54 não há resistência são lógica é a possível aplicação da referida técnica.
doutrinária ou jurispmdencial digna de conhecimento. Ela está consagrada,
como bem leciona Bonavides:
2.5 Relevância do fundamento da controvérsia constitucional
"A interpretação das leis 'confonne à Constituição', se já não tomou
sobre lei ou ato normativo federal, inclusive anteriores à Constituição
foros de método autônomo na hermenêutica contemporânea, constitui fora
de toda a dúvida um princípio largamente consagrado em vários sistemas Esse dispositivo da Lei 9.882/1999 tem gerado grande celeuma dou­
constitucionais. Decorre em primeiro lugar da natureza rígida das Consti­ trinária por conta do difundido entendimento de que ele encerra modalida­
tuições, da hierarquia das normas constitucionais - de onde promana o re­ de adjacente de argüição de descumprimento de preceito fundamental, cha­
conhecimento da superioridade da norma constitucional - e enfim do cará­ mada de incidental.59 Para os fins deste estudo, não é necessário adentrar a
ter de unidade que a ordem jurídica necessariamente ostenta. questão.
"Em rigor não se trata de um princípio de interpretação da Constitui­
ção, mas de um princípio de interpretação da lei ordinária de acordo com a 56. "A 'interpretação confonne' é técnica conhecida do Supremo desde antes da Cons­
tituição de 1988" (Clêve, A Fiscalização Abstrata da Constitucionalidade no Direito Brasi­
Constituição."55 leiro, 2� ed., p. 263).
57. Cruz, Jurisdição Constitucional Democrática, p. 182. No mesmo sentido: Zeno
Veloso, Controle de Constitucionalidade, p. 128.
54. Cf., entre outros, (i) no Direito Alemão: Ernst Friesenhah n , La Giurisdi=ione Cos­ 58. Arthur de Castilho Neto, "Reflexões críticas sobre a ação direta de constitucionali­
tihdonale nella Repubblica Federa/e Tedesca, p. 92; Jean-Claude Béguin, Le Contrôle de dade no STF", RPGR 2/14.
la Co11stit11tio11alité des Lois en Répub/ique Fédérale d'Allemagne, p. 185; Konrad Hesse, 59. Não há consenso doutrinário sobre a existência de uma modalidade de argüição
Escritos de Dereclw Constitucional, p. 50, e Elementos de Direito Co11s/it11cio11al ... , p. 70; de descumprimento de preceito fundame ntal autônoma e outra incidental. Menezes Direito
(ii) no Direito Espanhol: Eduardo Garcia de Enterría, La Conslitució11 como Norma y e! Tri­ assim entende: "Embora prestigiada por autores de peso, não creio que a lei, com o veto
bzmal Co11stitucia11al, p. 95; (iii) no Direito Italiano: Nicola Jaegger, "Sui limiti di efficacia ao inciso II do art. 2n, autorize interpretação que admita a possibilidade de propositura da
delle decisio ni della Corte Costituzionale", Rivista di Diritto Processuale, 1958, pp. 364-383; argüição iucidelller tantum. A argüição incidental não está cogitada no texto cm vigor. Se não
Luigi Montesano, "Norma e formula legislativa nel giudizio costituzionale", Rivista di Diritto tivesse havido o veto, seria possível admiti-la. Mas a interpretação construtiva, no caso, não
Processuale, 1958, pp. 524-534; Gustavo Zagrebelsky, La Giustizia Costit11zio11ale, p. 292; me parece, com respeitosa vênia aos Mestres que entendem em sentido contrário, adequada.
Thierry di Manno, Le Juge Co11stit11tio1111el et la Téclmique des Décisions ··111te1prétatives" A tanto não chego com a leitura do parágrafo único do art. ! º. Os expressamente legitimados
e11 France et en Jta!ie, 1997; (iv) no Direito Português: Jorge Miranda, Manual de Direito podem, sim, propor a argüição naquela hipótese, com a prova de que existe a controvérsia ju­
Constitucional, 2ª ed., t. 2, p. 232; J. J. Gomes Canotilho, Direito Constitucional e Teoria da dicial relevante sobre a aplicação do preceito constitucional, mas já considerando aS decisões
Constituição, 3� ed., p. l.225. judiciais existentes, assim, por exemplo, aquelas decorrentes de numerosas medidas liminares
55. Paulo Bonavidcs, Curso de Direito Co11stit11cio11a/, 14� ed., pp. 517-518. Não se en frentando a aplicação de preceito fundamental. A admissão da argüição incidental, no rigor
pretende, aqui, discutir se a interpretação confonne é um princípio constitucional, um princí­ da doutrina, por outro lado, levaria, necessariamente, a ampliar o rol dos legitimados para
pio da interpretação constitucional ou uma técnica de controle de constitucionalidade. Sobre o propô-la, o que, também, não me parece possível. A hipótese de os legitimados apresentarem
tema, cf. Appio, Jnte1pretação Conforme à Constituiçiio: Instrumento de Tutela Jurisdicional a argüição estando cm curso a ação judicial é, ainda, argüição na modalidade direta, não inci­
dos Direitos Fundamentais, pp. 27-37. dental, que seria aquela, e somente aquela, que qualquer das partes ou o próprio órgão judicial
222 SOLUÇÕES CONSTITUCIONAIS ANTECIPAÇÃO DE PARTO DE FETO ANENCEFÁLICO 223

Já foi aludido no item II que os atos jurisdicionais se enquadram no tais.60 Assim, mais que explicitar tal circunstância, o inciso I do parágrafo
conceito de atos do Poder Público e que a interpretação de atos legislativos único do art. l º da Lei 9 . 882/1 999 serve para a emergência do controle de
na construção de nonnas de decisão pode gerar lesão a preceitos fundamen- constitucionalidade dos atos normativos municipais e outros, em qualquer
esfera, anteriores à Constituição. O dispositivo em comento pode ser com­
preendido, então, como uma tentativa de exemplificar os casos de cabimen­
poderia suscitar, como no caso do incidente de inconstitucionalidade nos tri?unais. Na mi�ha to de argüição de descumprimento de preceito fundamental mais sujeitos a
compreensão, não há argüição incidental, mas, sim, a p ossibilidade do defenmento da medida
liminar que atinja processos em andamento, efeito possível, mas não necessário, porque o
resistência doutrinária e jurisprudencial.
comando legal apenas determina que ela poderá consistir. O fato de atingir processos em an�
<lamento, a meu juízo, não configura a modalidade incidental, nos termos do texto em vigor"
Apenas para co ntribuição no debate entre aqueles que aceitam a existência de duas
("Tendências do Direito Brasileiro: a ampliação da jurisdição constitucional e da � roteção �os
modalidades distintas de argüição de descumprimento de preceito fundamental, faz-se neces­
direitos do homem e do cidadão. A Lei 9.882, de 3.12. 1 999", in Ives Gandra da Silva Martms sária a seguinte colocação . Se a argüição de descumprimento de preceito fundamental veio
(coord.), As Vertentes do Direito Constitucional Con temporân eo, p. 1 69). justamente a propiciar o controle de constitucionalidade nos casos que as outras ações do
. .
Em sentido contrário, entende André Ramos Tavares: "Há uma argüição mctdental, controle abstrato não alcançavam, não haveria razão de ser para uma pretensa autoconstrição
ao lado daquela exercida por ação, porque a controvérsia com 'relevante fundamento' à qual de seu cabimento, pois, como disposto na Lei 9.882/1999, ela já é instrumento subsidiário.
faz menção o parágrafo único do art. 1 11 só pode ser aquela que se apresenta em juízo, e não Esta subsidiariedade, no entanto, não pode ser usada contra ela mesma. Não é plausível deixar
qualquer controvérsia que se instale entre particulares. A 'controvérsia', no se1�t �do técnico, é de admitir a argüição de descumprimento de preceitofi111dame11tal autônoma porque cabível
aquela instaurada perante o Judiciário, ou levada ao conhecimento deste. Aux1ha o reconhe­ argüição de descumprimento de preceitofimdam ental incidental. "Imaginemos que o requisi­
cimento dessa modalidade a apreciação do disposto no inciso V do art. 3\! da Lei de Argüição, to da relevância do fundamento da controvérsia constihlcional se aplicasse apenas à argüição
que exige que se .apresente, conjuntamente com a petição inicial, se 'for o caso, a comprova­ incidental. O STF perderia a oportunidade de poder recusar argüições diretas de diminuta
ção de existência de controvérsia judicial relevante sobre a aplicação do preceito fund�m�ntal relevância. Para ambas as modalidades de argüição (tanto a direta quanto a incidental) é certo
.
que se considera violado'. O cumprimento do artigo impõe-se apenas para � argütção mc1de�­ que se exige o descumprimento de preceito fundamental, ou seja, o STF avaliara a funda­
tal. Daí a eventualidade ('se for o caso') da aplicação do mesmo" ("Argüição de descumpn­ mentalidade do preceito constitucional descumprido. A avaliação da relevância da controvér­
mento de preceito fundamental: aspectos essenciais do instihlto na Constituição e na lei", in sia constitucional completa esse quadro de apreciação discricionária - verdadeira filtragem
André Ramos Tavares e Walter Claudius Rothenburg (orgs.), Argüição de Descumprimento de realizada pelo STF. Logo, não tem sentido o Supremo Tribunal apenas poder avaliar essa
Preceito Fundamental: Análises à Luz da Lei 9.882/1999, p. 64). relevância em relação à argüição incidental e não também em relação à argüição direta. Se
É preciso, no entanto, deixar claro que, seja qual for o entendimento, não há fundamento 'lei ou ato normativo federal, estadual ou municipal, incluídos os anteriores à Constituição',
para uma separação de hipóteses de cabimento. Neste sentido, afirma Mandelli Jr. que, mesmo fossem objetos exclusivos da argüição incidental, estaríamos esvaziando desmesuradamente
entendendo existir uma modalidade de argüição de descumprimento de preceito fundamental a argüição direta, excluindo indevidamente tais atos normativos da compreensiva expressão
autônoma e outra incidental, não há restrição do cabimento de uma e outra no art. l O da Lei 'ato do Poder Público' (constante do caput do art. I Q). Também não teria sentido retirar da
9.882/1999, como se o caput identificasse uma e o parágrafo único outra. "Essa correspondên­ argüição direta a possibilidade de discutir o descumprimento de preceito fundamental por atos
cia não se justifica, pois limitaria os objetos sindicáveis de cada argüição. Adotada essa posi­ normativos de quaisquer esferas da Federação, incluídos os pré-constitucionais. Esses atos
ção, não seria possível, por exemplo, a argüição autônoma que tivesse como objeto lei anterior já podem ser objeto do controle concreto e difuso de constitucionalidade: veja-se que o art.
à Constihlição; nem mesmo a argüição incidental de ato concreto (não normativo) do Poder 102, III, da Constituição não restringe o cabimento de recurso extraordinário" (Rothenburg,
Público. A restrição do objeto não se harmoniza com a finalidade da argüição, que pretendeu "Argüição de descumprimento de preceito fundamental", in André Ramos Tavares e Walter
superar a jurisprudência restritiva do STF que se formou em tomo do objeto da ação direta Claudius Rothenbur (orgs.), Argüição de Descumprimento de Preceito Fundamental: Análi­
de inconstitucionalidade, não admitindo o controle concentrado de constitucionalidade do ses à Luz da Lei 9.882/1999, pp. 204-205).
direito municipal e do direito pré-constihlcional" (Mandelli Jr., Argiiição de Descumprimento 60. "A possibilidade de incongruências hermenêuticas e confusões jurisprudenciais de�
de Preceito Fundamen tal: Instrumen to de Proteção dos Direitos Fundamentais e da Consti­ correntes dos pronunciamentos de múltiplos órgãos pode configurar uma ameaça a preceito
tuição, pp. 106- 1 07; cf., ainda, Souza, ob. cit., p. 436). Rothenburg concilia os entendimen­ fundamental (pelo menos, ao da segurança jurídica), o que também está a recomendar uma
tos, aduzindo que "os textos devem ser compreendidos como informadores de uma mesma leitura compreensiva da exigência aposta à Lei da Argüição, de modo a admitir a propositura
norma, que traça o perfil completo da argüição de descumprimento de preceito fundamental, da ação especial toda vez que uma definição imediata da controvérsia mostrar-se necessária
em ambas as modalidades (direta ou incidental), estabelecendo que o objeto poderá ser, cm para afastar aplicações erráticas, tumultuárias ou incongruentes, que comprometam grave­
qualquer caso, ato do Poder Público, compreendidos 'lei ou ato normativo federal, estadual mente o princípio da segurança jurídica e a própria idéia de prestação judicial efetiva. Ade­
ou municipal, incluídos os anteriores à Constihlição', desde que seja 'relevante o fundamento mais, a ausência de definição da controvérsia� ou a própria decisão prolatada pelas instâncias
da controvérsia constitucional'" ("Argüição de descumprimento de preceito fundamental", judiciais - poderá ser a concretização da lesão a preceito fundamental" (Meirelles, Mandado
in André Ramos Tavares e Walter Claudius Rothenbur (orgs.), Argüição de Descumprimento de Segurança, Ação Pop11la1; Ação Civil Pública, Mandado de Injunção, "Habeas Data ",
de Preceito Fundamental: Análises à Luz da Lei 9.882/1999, pp. 206-207). E arremata: "A Ação Direta de Inconstitucionalidade, Ação Declaratória de Constitucionalidade, Argüição
condição de admissibilidade da relevância da questão constitucional aplica-se a ambas as de Descumprimento de Preceito Fundamental, Controle Incidental de Normas no Direito
modalidades. Com isso, cresce a margem de apreciação do STF" (p. 210). Brasileiro, 27� ed., p. 444).
224 SOLUÇÕES CONSTITUCIONAIS ANTECIPAÇÃO DE PARTO DE FETO ANENCEFÁLICO 225

O que importa nesta previsão legal é a explicitação de que as contro­ "Não basta, pois, que haja relevante controvérsia; o que é necessário
vérsias envolvendo preceitos fundamentais com ceita proeminência axio­ d�monstrar, como ponto principal, é que a controvérsia tenha por base a
lógica simplesmente não devem deixar de ser analisadas pelo órgão de cú­ _
d1scussao acerca da violação de preceito fundamental."65
pula do Judiciário pátrio, em virtude da grande comoção social que geram. 61
É o caso da antecipação do parto de fetos anencefálicos. 62 �ão se perca de vista que a configuração de um quarto requisito para
o cabimento da argüição de descumprimento de preceito fundamental deve
"Cumpre, no particular, não olvidar que um dos objetivos que inspirou ser compr'.'endido em cotejo com todos os dispositivos da Lei 9 8. 82/1999,
a criação da argüição de descumprimento de preceito fundamental foi o de os quais nao contemplam de modo expresso sequer sua indispensabilidade
possibilitar a antecipação de decisões do STF sobre temas constitucionais (�a .s sim u� "também"), quanto mais sua exclusividade para qualquer es­
relevantes, que, antes desta ação, só poderiam ser examinadas pelo Supre­ pecie de açao que se venha a admitir na doutrina e na jurisprudência. Desta
mo depois de muito tempo, após longas batalhas judiciais, quando já insta­ forma, parece que o mais acertado é compreender que a relevância da con­
lado um deletério clima de insegurançajurídica."63 trovérsia constitu�ional se configura como um requisito complementar a
Mesmo para aqueles que vejam aí um quarto requisito para o cabi­ corroborar a autoridade do STF para conferir uniformidade de tratamento
jurídico às questões constitucionais mais sensíveis.
mento da ação constitucional, não haveria óbice na admissibilidade do plei­
to relativo à antecipação terapêutica de parto de feto anencefálico. Para
tanto, sequer seria preciso despender muitas palavras para indicar a rele­ 3. Co11clusão e 1·esposta ao quesito único
vância da controvérsia. O interesse público na solução da sensível questão Isto posto, re�po�de-se ao quesito proposto afirmativamente - ou seja:
já toma imprescindível o pronunciamento da Corte Suprema." Não obstan­ _
apresenta-se a argu1ça o de descumprimento de preceito fundamental como
te, reitera-se que ainda assim os demais pressupostos restam configurados. meio proces�ual hábil para tratamento do caso da antecipação de
_ parto de
feto anencefahco, mclus1ve para que o STF possa decidir com caráter
vin­
61. O STF tem certa discricionariedade para conhecer das argüições de descumprimen­
culante e efeito contra todos.
to de preceito fundamental, a qual decorre "do fato de que toda Corte que exerce a jurisdição É o que nos parece.
jurisdicional [sic] não é somente um órgão judiciário comum, mas órgão político diretivo das
condutas estatais, uma vez que interpreta o significado dos preceitos constitucionais, vincu­
lando todas as condutas dos demais órgãos estatais, e como tal deve priorizar os casos de re­ Curitiba, 19 de abril de 2005.
levante interesse público" (Alexandre de Moraes, "Comentários à Lei 9.882/1999-Argüição
de descumprimento de preceito fundamental", in André Ramos Tavares e Walter Claudius
Rothenburg (orgs.), Argüição de Descumprimento de Preceito Fundamental: Análises à Luz
Referências bibliográficas
da Le; 9.88211999, p. 29). ALEX�', Robe�. Teoria de los Derechos Fundamentales. Trad.
62. "( ...) o Tribunal poderá conhecer da argüição de descumprimento toda vez que o de Ernesto Garzón Val­
des. Madri, Centro de Estudios Constitucionales, 1997.
princípio da segurança jurídica restar seriamente ameaçado, especialmente em razão de con­
flitos de interpretação ou de incongruências hermenêuticas causadas pelo modelo pluralista ANDRADE FILHO, Edmar Oliveira. Controle de Constitucionalid
ade de Leis e Atos
de jurisdição constitucional" (Meirelles, Mandado de Segurança, Ação Populai; Ação Civil Normativos. São Paulo, Dialética, 1997.
Pública, Mandado de Injunção, "Habeas Data", Ação Direta de Inconstitucionalidade, Ação APPIO, Eduardo. Interpretação Conforme à Constituição: Instrum
ento de Tutela Juris-
Declaratória de Constitucionalidade, Argüição de Descumprimento de Preceito Fimdamen­ dicional dos Direitos Fundamentais. Curitiba, Juruá, 2002.
,
tal, Controle Incidental de Normas no Direito Brasileiro, 27ª ed., p. 446). AVILA, Humberto Bergman. "A distinção entre princípios e regras
e a redefinição do
63. Bastos, "Argüição de descumprimento de preceito fundamental e legislação regu­ dever de proporcionalidade". RDA 215/151-179.
lamentadora", in André Ramos Tavares e Walter Claudius Rothenburg (orgs.), Argüição de BARCE�LOS, Ana Paula de. A Eficácia Jurídica dos Princíp
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