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Conservatório Brasileiro de Música

Centro Universitário Brasileiro de Educação - CBM-UniCBE

Teoria do processo
Programa:

1. NOÇÕES PRELIMINARES:
1.1 BEM DE VIDA;
1.2 CONFLITO DE INTERESSES;
1.3 PRETENSÃO;
1.4 LIDE;
1.5 TUTELA JURÍDICA PROCESSUAL.
1.5.1 INSTRUMENTALIDADE DO PROCESSO E ESCOPOS DA JURISDIÇÃO.
1.5.2 ACESSO À JUSTIÇA.
1.5.3 SOLUÇÃO DE CONFLITOS. JUSTIÇA MULTIPORTAS. NOÇÕES GERAIS SOBE AS FORMAS
DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS
1.5.3.1 OS NEGÓCIOS JURÍDICOS PROCESSUAIS

1.6 INTERESSES DIFUSOS, COLETIVOS E HOMOGÊNEOS: A QUESTÃO DA LEGITIMIDADE;

1.7 JURISDIÇÃO
1.7.1 CONCEITO
1.7.2 CARACTERÍSTICAS
1.7.3 JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA

1.8 . AÇÃO
1.8.1 NATUREZA JURÍDICA;
1.8.2 REQUISITOS PARA JULGAMENTO DO MÉRITO (CONDIÇÕES DA AÇÃO). INTERESSE
PROCESSUAL; LEGITIMIDADE DAS PARTES E CAPACIDADE.
1.8.3 CLASSIFICAÇÃO E INDIVIDUALIZAÇÃO DAS AÇÕES: PARTES, CAUSA DE PEDIR E PEDIDO

1.9 . PROCESSO.
1.9.1 NATUREZA JURÍDICA
1.9.2 OBJETO DO PROCESSO
1.9.3 PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS
1.9.2 PROCESSO E PROCEDIMENTO;
1.9.3 FASES DO PROCESSO E ENTREGA DA PRESTAÇÃO JURISDICIONAL

2. DIREITO PROCESSUAL:
2.1 CONCEITO E FONTES;
2.2 A FUNÇÃO DOS PRINCÍPIOS NA TEORIA DO PROCESSO
2.3 EVOLUÇÃO HISTÓRICA;
2.3.1 FASES METODOLÓGICAS DO DIREITO PROCESSUAL
2.3.2 A TRADIÇÃO JURÍDICA DE CIVIL LAW E A INFLUÊNCIA DO COMMON LAW
2.3.2.1 A DOUTRINA DOS PRECEDENTES NO DIREITO BRASILEIRO
2.3.3 PROCESSOS COLETIVOS E PROCESSOS ESTRUTURAIS
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2.4 PROCESSO CONSTITUCIONAL E ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO.
2.4.1PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO PROCESSO
2.4.1.1 DEVIDO PROCESSO LEGAL
2.4.1.2 CONTRADITÓRIO, NÃO SURRESA E DEVER DE CONSULTA
2.4.1.3 AMPLA DEFESA
2.4.1.4 JUIZ NATURAL
2.4.1.5 IMPARCIALIDADE DO JUIZ
2.4.1.6 IGUALDADE
2.4.1.7 DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
2.4.1.8 MOTIVAÇÃO DAS DECISÕES JUDICIAIS
2.4.1.9 INAFASTABILIDADE DO CONTROLE JURISDICIONAL
2.4.1.10 RESERVA DE PLENÁRIO
2.4.1.11 DURAÇÃO RAZOÁVEL DO PROCESSO
2.4.1.12 PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE E DA RAZOABILIDADE
2.5. NULIDADES PROCESSUAIS

3 A NORMA PROCESSUAL:
3.1 APLICAÇÃO NO TEMPO E NO ESPAÇO;
3.2 INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS PROCESSUAIS; NORMAS GERAIS DO PROCESSO E
PRINCÍPIOS .
3.2.1 A CONSTITUIÇÃO COMO VÉRTICE NORMATIVO
3.2.2 FINS SOCIAIS E BEM COMUM
3.2.3 INÉRCIA DA JURISDIÇÃO
3.2.4 SOLUÇÃO CONSENSUAL DOS CONFLITOS
3.2.5 BOA-FÉ
3.2.6 ORDEM CRONOLÓGICA DE CONCLUSÃO

4 ÓRGÃOS DE FUNÇÃO JURISDICIONAL- ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA FEDERAL E ESTADUAL;

5. O JUIZ;

6. O MINISTÉRIO PÚBLICO;

7. ÓRGÃOS AUXILIARES DE JUSTIÇA;

8. COMPETÊNCIA;

9. SUJEITOS DO PROCESSO

10. LITISCONSÓRCIO

11. INTERVENÇÃO DE TERCEIROS

12. FATOS E ATOS PROCESSUAIS: FORMA, LUGAR E TEMPO DOS ATOS PROCESSUAIS.
PRAZOS. PRECLUSÃO

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Aulas e Metodologia

Bibliografia

1) ALVIM, J.E. Carreira. Teoria geral do processo. Forense.


2) DIDIER JR, Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil,
parte geral e processo do conhecimento. Vol. 1. Salvador: JusPodivm.
3) DINAMARCO, Candido Rangel, BADARÓ, Gustavo Henrique Righi Ivahy, LOPES, Bruno
Vasconcelos Carrilho. Teoria geral do processo. São Paulo: Malheiros.
4) FUX, Luiz. Teoria geral do processo civil. Rio de Janeiro:Forense.
5) GRINOVER, Ada Pellegrini. Ensaio sobre processualidade: fundamentos para uma nova
teoria geral do processo. Brasília: Gazeta Jurídica, 2016.
6) JUNIOR, Humberto Theodoro. Curso de direito processual civil.Vol.1. Rio de Janeiro:
Forense.
7) MARINONI, Luiz Guilherme, ARENHART, Sérgio Cruz, MITIDIERO, Daniel. Curso de
processo civil: teoria do processo civil. Vol. 1. São Paulo: Thomson Reuters Brasil.
8) NUNES, Dierle, BAHIA, Alexandre, PEDRON, Flávio Quinaud. Teoria geral do processo.
Salvador:JusPodivm.

Avaliação
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Noções Preliminares

Aristóteles dizia que o homem é um animal político, já que nasce com essa tendência de viver
em sociedade.
Cada um precisa dos demais para viver e se desenvolver.
O agrupamento social reflete as necessidades, interesses, as pretensões e conflitos do grupo.
A teoria geral do direito reflete sobre o conceito de necessidade.
Necessidade: situação de carência ou desequilíbrio biológico ou psíquico, em razão da falta de
alguma coisa.
Essas necessidades são de variados aspectos e faz concluir que o homem depende de certos
elementos para viver e se desenvolver também em todos os aspectos.
Assim, essa relação de dependência entre o homem e alguma coisa, passou a ser denominada
de necessidade.
A necessidade é satisfeita através do bem da vida.
Bem ou bem da vida: é o elemento capaz de satisfazer a necessidade do homem. Água, roupa,
alimento, paz, honra e amor.
O bem pode ou não ter utilidade para as pessoas.
Utilidade: é a aptidão do bem de satisfazer a necessidade do homem. Assim a utilidade pode ser
subjetiva ou objetiva.
Nem sempre utilidade e necessidade estão juntas, mas quando estão juntas, formam o
interesse.
Interesse: juízo que se forma em relação a um bem, de sua necessidade e de sua aptidão para
satisfazer a sua necessidade.
Sujeito do interesse – é o homem;
Objeto do interesse – é o bem da vida
O interesse pode ser:
o Imediato: quando a situação ou posição se presta diretamente à satisfação de uma
necessidade – tem alimento nas mãos e precisa se alimentar.
o Mediato: tem dinheiro, mas não alimentos em suas mãos.

O interesse pode ser individual X coletivo X público


o Individual (privado): se refere ao indivíduo isoladamente;
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o Coletivo (transindividuais): se refere a vários indivíduos – importante para a formação
dos grupos sociais – família, sindicato;
o Público: aquele em que o titular é o Estado

Interesse Difuso x coletivo x individuais homogêneos


o Difuso: são transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas
indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato. Exemplo: meio ambiente,
destinatários de propaganda enganosa veiculada pelo rádio.
o Coletivo: interesses transindividuais, de grupos, classes ou categorias de pessoas
o Individuais homogêneos: grupo, categoria ou classe de pessoas determinadas ou
determináveis, que compartilhem prejuízos divisíveis, de origem comum, ou seja,
oriundos das mesmas circunstâncias de fato. Mas, em sentido lato, os interesses
individuais homogêneos não deixam de ser também interesses coletivos, segundo
decidiu o plenário do Supremo Tribunal Federal

Conflito de interesse: Como os bens são limitados, surge em relação a determinados bens
choques de forças, que são os conflitos de interesse.
Os conflitos ocorrem quando a situação ou posição favorável de um exclui a posição ou situação
favorável de outro quanto à satisfação de uma necessidade.
O conflito pode ser:
o Subjetivo: não se extravasa da pessoa do próprio sujeito. Resolve-se com uma opção.
Pode ser relevante quando se tratar de um grupo.
o Intersubjetivo: chamado assim por Carnelutti – entre interesse de duas pessoas.

Pretensão: ocorre quando o conflito de interesses não se dilui no âmbito social, levando à
disputa. Trata-se conceitualmente da “exigência de subordinação do interesse de outrem ao
interesse próprio”.
Pretensão x direito: a pretensão pode ser infundada ou desarrazoada. Pretensão é um ato e não
um poder; algo que se faz e não que se tem.
A pretensão pode então sofrer uma resistência, que é o questionamento da pretensão.
Se não houve a subordinação e efetiva desistência, se terá a lide.
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Lide: “conflito de interesse qualificado pela pretensão de um dos interessados e pela resistência
de outro” (Carnelutti). A lide precisa ser solucionada para que não se comprometa a paz social
e a estrutura do estado.
o Elemento material da lide: conflito de interesse;
o Elemento formal da lide: pretensão de um e resistência do outro.

Tutela Jurisdicional x Tutela Adequada


“...a tutela processual adequada, em última análise, se perfaz por intermédio
do procedimento adequado, nesses trabalhos o procedimento assume uma
nova dimensão, sendo, ao lado do processo, instrumento para o atingimento
da pacificação.
Falamos em tutela processual e não em tutela jurisdicional, porque, assim
como a jurisdição hoje, em nossa visão, não se restringe à estatal e à arbitral
– abrangendo os meios consensuais de solução de conflitos – ela é sobretudo
garantia de acesso à justiça”.1

Instrumentalidade do Processo e Escopos Da Jurisdição.

A instrumentalidade foi uma fase metodológica do processo:


“A premissa adotada pelo Instrumentalismo é a de que, para compatibilizar
os escopos jurídico, social e político do processo e, por conseguinte, para
realizar a justiça, cumpre aos juízes conformar o processo às exigências do
direito material encartado nos textos legais, com vistas à sua efetiva
realização. Essa perspectiva metodológica reflete uma mudança de enfoque
na avaliação dos objetivos do processo, proporcionada pelo deslocamento da
jurisdição para a posição central antes ocupada pela ação na Teoria do
Processo, que permitiu ampliar o campo de visão do fenômeno processual,
fazendo renascer o interesse pelo estudo da tutela jurisdicional, instituto de
suma importância na fase sincrética, mas que havia sido deixado de lado
durante o período autonomista”2.

De acordo com a concepção instrumentalista do processo, a jurisdição tem três fins:


a) o escopo jurídico, que consiste na atuação da vontade concreta da lei. A jurisdição tem por
fim primeiro, portanto, fazer com que se atinjam, em cada caso concreto, os objetivos das
normas de direito substancial;

1
GRINOVER, Ada Pellegrini. Ensaio sobre processualidade: fundamentos para uma nova teoria geral do
processo. Brasília: Gazeta Jurídica, 2016, p.3.
2
ZANETI JR, Hermes, MADUREIRA, Claudio. Formalismo-valorativo e novo processo civil. Revista de
Processo, Vol. 272/2017, p.85-125.
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b) o escopo social – consiste em promover o bem comum, com a pacificação, com justiça, pela
eliminação dos conflitos, além de incentivar a consciência dos direitos próprios e o respeito aos
alheios;
c) o escopo político.- é aquele pelo qual o estado busca a afirmação de seu poder, além de
incentivar a participação democrática (ação popular, ação coletivas, presença de leigos nos
juizados etc.) e a preservação do valor liberdade, com a tutela das liberdades públicas por meio
dos remédios constitucionais (tutela dos direitos fundamentais).

ACESSO À JUSTIÇA

Mauro Cappelletti, no “o Acesso à Justiça” – o acesso à justiça de duas formas:

 garantia de poder acionar a função jurisdicional – o início é desde a informação


dessa possibilidade;
 produção de resultados justos – incluindo a realidade prática

o Séc. XVIII e XIX - cabia aos Estados apenas não impedir o acesso à Justiça.
o Séc. XX - a visão individualista anterior muda - cabe ao Estado não somente
garantir o acesso à justiça, mas promovê-lo por condutas positivas.

Configura um dos pilares dos sitemas democráticoos – porque a questão do acesso repercute
no próprio Direito – possuir um direito e não ser capaz de exercê-lo, é o mesmo que não tê-los.
O acesso à justiça é, na realidade, a garantia dos demais direitos.

Trata-se de um Direito Fundamental, que garante a fruição de todos os demais.

SOLUÇÃO DE CONFLITOS. JUSTIÇA MULTIPORTAS. NOÇÕES GERAIS SOBE AS FORMAS DE


RESOLUÇÃO DE CONFLITOS

Justiça Multiportas
 Conciliação e Mediação: Lei 13.140/2015
 Arbitragem: Lei 9.307/96 (Lei de Arbitragem)
 Processo judicial
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 Comitês de Resolução de Conflitos (Dispute Bord)
 ODRs (Online Dispute Resolucion)

Formas de solução de conflito de interesse:


o Autodefesa ou autotutela ou defesa privada: Carnelutti prefere defesa privada, havendo
quem diga autotutela.

Nos primórdios, aquele que encontrasse resistência aos seus interesses, tratava de por
si, remover o obstáculo com sua força.
Hoje, apenas em determinadas situações, os estados modernos permitem a autotutela:
 No processo Penal: legítima defesa;
 No Civil: o desforço possessório, o direito de retenção, o direito de cortar as
raízes ou ramos de arvores que ultrapassem o prédio;
 No Direito do Trabalho: direito de greve;
 No Direito Administrativo: a autoexecutoriedade das decisões administrativas
No entanto, muitas vezes o Estado é chamado para exercer o controle desses atos.
o Autocomposição: representa forma mais evoluída de resolução de conflito de interesse.
Traduz-se em atitude de renúncia ou reconhecimento a favor do adversário. Existem
 Renúncia ou desistência: do atacante
 Submissão ou reconhecimento: de quem resiste à pretensão
 Transação: concessões recíprocas

A evolução foi no sentido de que passaram a designar um sacerdote para que a


resolução do conflito, isso em razão da ligação com a divindade, daí historicamente tem
a raiz do juiz, antes do legislador. Mais tarde, veio o pretor, quando nasceu o Estado

A autocomposição é sempre possível quando se está diante de direitos disponíveis.

o Processo: com certa evolução, os conflitos de interesse passaram a ser entregues à


terceira pessoa sem interesse no conflito.
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O processo passa a ser a última etapa na evolução dos métodos de resolução de conflito
e segundo Niceto Alcalá-Zamora, “dista muito de haver alcançado a sua elaboração
definitiva” (jurista – foi presidente da II República Espanhola de 1931 a 1936).

O juiz passa a substituir a vontade das partes.

A expressão processo vem do latim processus, derivado de procedere. O significado é


caminhar para frente, avançar, dar um passo depois do outro.

O Estado, portanto, chamou para si a função pacificadora dos conflitos.

Meios de Pacificação

O fortalecimento do Estado trouxe a afirmação de sua exclusividade no exercício da


jurisdição.

A autotutela passou a ser crime (art. 345 CP – exercício arbitrário das próprias razões e
art. 350 exercício arbitrário ou abuso de poder).

O Estado não favorecia e nem estimulava a autocomposição.

A arbitragem é praticada de forma intensa em outros países, mas vem ganhando corpo
no Brasil.

O processo é formal, o que o torna inimigo do tempo.

Daí pensou-se em outras formas: conciliação, mediação e arbitragem.

Essas formas de solução de conflito visam:


1) Ruptura com o formalismo processual
2) Gratuidade: os meios informais são mais acessíveis;
3) Deslegalização: abertura dos caminhos para os juízos de equidade;
4) Equidade: julgamentos não necessariamente limitados por disposições legais.
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A Conciliação hoje, deve ser tentada obrigatoriamente nas reclamações trabalhistas


(art. 847 e 850 CLT).

No processo civil agora tem previsão da audiência de conciliação na fase preliminar do


processo (art. 334), de igual forma nos juizados especiais.

A mediação e conciliação vêm hoje prevista na Lei 13.140/2015.

No processo penal, havia muita resistência à conciliação, dada a indisponibilidade


corporal. No entanto, veio a CR com a previsão, sendo que a Lei 9.099/95 a possibilidade
da conciliação e transação penal.

A realidade é que a Lei 9.099/95 introduziu medidas despenalizadoras:

a) Nas infrações de menor potencial ofensivo de iniciativa privada ou pública


condicionada, havendo composição civil, a punibilidade estará extinta (art. 74
§único);
b) Se for ação penal incondicionada, poder-se-á aplicar de imediato penas alternativas,
mediante transação penal (art. 76);
c) Crimes de lesão corporal leve e culposa, passam a depender de representação (art.
88);
d) Crimes com pena mínima não superior a 01 ano, permitem a suspensão condicional
do processo (art. 89)

A conciliação pode ser endoprocessual ou extraprocessual, sendo que no processo penal


só pode ser endoprocessual, já que é necessário o controle jurisdicional nesta demanda.

Na mediação, que se assemelha muito à conciliação, utiliza-se de um terceiro para se


chegar à pacificação do conflito. A diferença é que na conciliação, busca-se um acordo,
mas na mediação busca-se a acabar com o conflito de forma plena, sendo o acordo mera
consequência. No entanto, o resultado é exatamente o mesmo.
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Lei 13.140/2015
Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a mediação como meio de solução de
controvérsias entre particulares e sobre a autocomposição de conflitos no
âmbito da administração pública.
Parágrafo único. Considera-se mediação a atividade técnica exercida por
terceiro imparcial sem poder decisório, que, escolhido ou aceito pelas partes,
as auxilia e estimula a identificar ou desenvolver soluções consensuais para
a controvérsia.
Art. 2º A mediação será orientada pelos seguintes princípios:
I - imparcialidade do mediador;
II - isonomia entre as partes;
III - oralidade;
IV - informalidade;
V - autonomia da vontade das partes;
VI - busca do consenso;
VII - confidencialidade;
VIII - boa-fé.
§ 1º Na hipótese de existir previsão contratual de cláusula de mediação, as
partes deverão comparecer à primeira reunião de mediação.
§ 2º Ninguém será obrigado a permanecer em procedimento de mediação.
Art. 3º Pode ser objeto de mediação o conflito que verse sobre direitos
disponíveis ou sobre direitos indisponíveis que admitam transação.
§ 1º A mediação pode versar sobre todo o conflito ou parte dele.
§ 2º O consenso das partes envolvendo direitos indisponíveis, mas
transigíveis, deve ser homologado em juízo, exigida a oitiva do Ministério
Público.
Art. 4º O mediador será designado pelo tribunal ou escolhido pelas partes.
§ 1º O mediador conduzirá o procedimento de comunicação entre as partes,
buscando o entendimento e o consenso e facilitando a resolução do conflito.
§ 2º Aos necessitados será assegurada a gratuidade da mediação.
Art. 5º Aplicam-se ao mediador as mesmas hipóteses legais de impedimento
e suspeição do juiz.
Parágrafo único. A pessoa designada para atuar como mediador tem o dever
de revelar às partes, antes da aceitação da função, qualquer fato ou
circunstância que possa suscitar dúvida justificada em relação à sua
imparcialidade para mediar o conflito, oportunidade em que poderá ser
recusado por qualquer delas.
Art. 6º O mediador fica impedido, pelo prazo de um ano, contado do término
da última audiência em que atuou, de assessorar, representar ou patrocinar
qualquer das partes.
Art. 7º O mediador não poderá atuar como árbitro nem funcionar como
testemunha em processos judiciais ou arbitrais pertinentes a conflito em que
tenha atuado como mediador.
Art. 8º O mediador e todos aqueles que o assessoram no procedimento de
mediação, quando no exercício de suas funções ou em razão delas, são
equiparados a servidor público, para os efeitos da legislação penal.
Subseção II
Dos Mediadores Extrajudiciais
Art. 9º Poderá funcionar como mediador extrajudicial qualquer pessoa capaz
que tenha a confiança das partes e seja capacitada para fazer mediação,
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independentemente de integrar qualquer tipo de conselho, entidade de
classe ou associação, ou nele inscrever-se.
Art. 10. As partes poderão ser assistidas por advogados ou defensores
públicos.
Parágrafo único. Comparecendo uma das partes acompanhada de advogado
ou defensor público, o mediador suspenderá o procedimento, até que todas
estejam devidamente assistidas.
Subseção III
Dos Mediadores Judiciais
Art. 11. Poderá atuar como mediador judicial a pessoa capaz, graduada há
pelo menos dois anos em curso de ensino superior de instituição reconhecida
pelo Ministério da Educação e que tenha obtido capacitação em escola ou
instituição de formação de mediadores, reconhecida pela Escola Nacional de
Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados - ENFAM ou pelos tribunais,
observados os requisitos mínimos estabelecidos pelo Conselho Nacional de
Justiça em conjunto com o Ministério da Justiça.
Art. 12. Os tribunais criarão e manterão cadastros atualizados dos
mediadores habilitados e autorizados a atuar em mediação judicial.
§ 1º A inscrição no cadastro de mediadores judiciais será requerida pelo
interessado ao tribunal com jurisdição na área em que pretenda exercer a
mediação.
§ 2º Os tribunais regulamentarão o processo de inscrição e desligamento de
seus mediadores.
Art. 13. A remuneração devida aos mediadores judiciais será fixada pelos
tribunais e custeada pelas partes, observado o disposto no § 2º do art. 4º
desta Lei.

Na arbitragem, instituída mediante compromisso arbitral ou cláusula compromissória


inserida em contrato – art. 3º da Lei 9.307/96.

Art. 3º As partes interessadas podem submeter a solução de seus litígios ao juízo


arbitral mediante convenção de arbitragem, assim entendida a cláusula
compromissória e o compromisso arbitral.
Art. 4º A cláusula compromissória é a convenção através da qual as partes em um
contrato comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possam vir a
surgir, relativamente a tal contrato.
§ 1º A cláusula compromissória deve ser estipulada por escrito, podendo estar inserta
no próprio contrato ou em documento apartado que a ele se refira.

Limita-se a arbitragem a litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis (art. 1º da


Lei de arbitragem).

Art. 1º As pessoas capazes de contratar poderão valer-se da arbitragem para


dirimir litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis
§ 1o A administração pública direta e indireta poderá utilizar-se da arbitragem
para dirimir conflitos relativos a direitos patrimoniais
disponíveis. (Incluído pela Lei nº 13.129, de 2015) (Vigência)
§ 2o A autoridade ou o órgão competente da administração pública direta para
a celebração de convenção de arbitragem é a mesma para a realização de
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acordos ou transações. (Incluído pela Lei nº 13.129, de
2015) (Vigência)

A arbitragem nos contratos de adesão só será válida de o aderente tomar a iniciativa da


instauração do procedimento arbitral – art. 4º §2º Lei 9.307/96

Art. 4º A cláusula compromissória é a convenção através da qual as partes


em um contrato comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que
possam vir a surgir, relativamente a tal contrato.
§ 2º Nos contratos de adesão, a cláusula compromissória só terá eficácia se
o aderente tomar a iniciativa de instituir a arbitragem ou concordar,
expressamente, com a sua instituição, desde que por escrito em documento
anexo ou em negrito, com a assinatura ou visto especialmente para essa
cláusula.

Na arbitragem, há possibilidade de escolha das regras de direito material que irão reger
a relação.
Art. 2º A arbitragem poderá ser de direito ou de eqüidade, a critério das
partes.
§ 1º Poderão as partes escolher, livremente, as regras de direito que serão
aplicadas na arbitragem, desde que não haja violação aos bons costumes e à
ordem pública.
§ 2º Poderão, também, as partes convencionar que a arbitragem se realize
com base nos princípios gerais de direito, nos usos e costumes e nas regras
internacionais de comércio.
§ 3o A arbitragem que envolva a administração pública será sempre de direito
e respeitará o princípio da publicidade. (Incluído pela Lei nº 13.129, de
2015)

A decisão arbitral não precisa ser homologada – art.31

Art. 31. A sentença arbitral produz, entre as partes e seus sucessores, os


mesmos efeitos da sentença proferida pelos órgãos do Poder Judiciário e,
sendo condenatória, constitui título executivo.

Art. 33. A parte interessada poderá pleitear ao órgão do Poder Judiciário


competente a declaração de nulidade da sentença arbitral, nos casos
previstos nesta Lei. (Redação dada pela Lei nº 13.129, de 2015)
Art. 34. A sentença arbitral estrangeira será reconhecida ou executada no
Brasil de conformidade com os tratados internacionais com eficácia no
ordenamento interno e, na sua ausência, estritamente de acordo com os
termos desta Lei.
Parágrafo único. Considera-se sentença arbitral estrangeira a que tenha sido
proferida fora do território nacional
Art. 35. Para ser reconhecida ou executada no Brasil, a sentença arbitral
estrangeira está sujeita, unicamente, à homologação do Superior Tribunal de
Justiça. (Redação dada pela Lei nº 13.129, de 2015)
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Há tendência doutrinária que sustenta que a arbitragem tem natureza jurisdicional,


sendo a única diferença que a investidura do árbitro decorre da vontade das partes,
enquanto a jurisdição do Estado é exercida pelos tribunais e juízes.

Por outro lado, há quem diga que se trata de um equivalente jurisdicional.

OS NEGÓCIOS JURÍDICOS PROCESSUAIS

Definição

“Negócio processual é o fato jurídico voluntário, em cujo suporte fático se


reconhece ao sujeito o poder de regular, dentro dos limites fixados no próprio
ordenamento jurídico, certas situações jurídicas processuais ou alterar o
procedimento”3.

“O Direito não é apenas o legal ( a Constituição, os atos administrativos, os


precedentes judiciais e a própria jurisprudência são fontes do Direito), não é
apenas o escrito (há normas implícitas, que não decorrem de textos
normativos, assim como há o costume), nem é apenas o estatal ( um negócio
jurídico também é fonte do Direito)”4.

Existem negócios jurídicas unilaterais (renúncia) e bilaterais (a maioria)

Art. 190 (CPC). Versando o processo sobre direitos que admitam


autocomposição, é lícito às partes plenamente capazes estipular mudanças
no procedimento para ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar
sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou
durante o processo.
Parágrafo único. De ofício ou a requerimento, o juiz controlará a validade das
convenções previstas neste artigo, recusando-lhes aplicação somente nos
casos de nulidade ou de inserção abusiva em contrato de adesão ou em que
alguma parte se encontre em manifesta situação de vulnerabilidade.
Art. 191. De comum acordo, o juiz e as partes podem fixar calendário para a
prática dos atos processuais, quando for o caso.
§ 1º O calendário vincula as partes e o juiz, e os prazos nele previstos somente
serão modificados em casos excepcionais, devidamente justificados.
§ 2º Dispensa-se a intimação das partes para a prática de ato processual ou
a realização de audiência cujas datas tiverem sido designadas no calendário.

3
DIDIER JR, Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil, parte geral e
processo do conhecimento. 23ª Edição. Salvador: JusPodivm, 2021, p.497
4
DIDIER JR, Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil, parte geral e
processo do conhecimento. 23ª Edição. Salvador: JusPodivm, 2021, p.121.
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JURISDIÇÃO

O Estado, por meio do Poder Judiciário, tem o “poder-dever de dizer o direito”, formulando
norma jurídica concreta que deve disciplinar determinada situação jurídica, resolvendo a lide e
promovendo a paz social, este poder-dever do Estado de dizer o direito, resolvendo o conflito,
é o que a doutrina chama de jurisdição.

A jurisdição pode ser vista: como “função do Estado de atuar a vontade concreta da lei com o
fim de obter a justa composição da lide”.

As acepções da jurisdição são: Poder – capacidade de decidir imperativamente e impor decisões;


atividade – dos órgãos para promover pacificação dos conflitos; função – complexo de atos do
juiz no processo.

Hoje se reconhece que a jurisdição não mais se trata de poder, mas apenas de função e
atividade, legitimada pelo devido processo legal, cujo principal escopo é a pacificação social5.

A jurisdição hoje deve ser vista como: estatal, arbitral e pelos meios consensuais de solução de
conflitos. Tudo esses meios garantem o Acesso à Justiça6.

“A jurisdição é a função atribuída a terceiro imparcial (a) de realizar o Direito


de modo imperativo (b) e criativo (reconstrutivo) (c),
reconhecendo/efetivando /protegendo situações jurídicas (d) concretamente
deduzidas (e), em decisão insuscetível de controle externo (f) e com aptidão
para tornar-se indiscutível (g)”7.

Fins da Jurisdição – já estudado acima:

De acordo com a concepção instrumentalista do processo, a jurisdição tem três fins:

a) o escopo jurídico, que consiste na atuação da vontade concreta da lei. A jurisdição tem por
fim primeiro, portanto, fazer com que se atinjam, em cada caso concreto, os objetivos das
normas de direito substancial;

b) o escopo social – consiste em promover o bem comum, com a pacificação, com justiça, pela
eliminação dos conflitos, além de incentivar a consciência dos direitos próprios e o respeito aos
alheios;

c) o escopo político.- é aquele pelo qual o estado busca a afirmação de seu poder, além de
incentivar a participação democrática (ação popular, ação coletivas, presença de leigos nos

5
GRINOVER, Ada Pellegrini, Ensaio Sobre Processualidade: Fundamentos para uma nova Teoria Geral do
Processo, Brasília, DF: Gazeta Jurídica, 2016, p.4.
6
GRINOVER, Ada Pellegrini, Ensaio Sobre Processualidade: Fundamentos para uma nova Teoria Geral do
Processo, Brasília, DF: Gazeta Jurídica, 2016, p.3
7
DIDIER JR, Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil, parte geral e
processo do conhecimento. 23ª Edição. Salvador: JusPodivm, 2021, p.205.
16
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juizados etc.) e a preservação do valor liberdade, com a tutela das liberdades públicas por meio
dos remédios constitucionais (tutela dos direitos fundamentais).

Princípios inerentes à jurisdição:

Inércia

O estado-juiz só atua se for provocado. Ne procedat iudex ex officio, ou seja, o juiz não procede
de ofício (de ofício = por conta própria). Esta regra geral, conhecida pelo nome de principio da
demanda ou principio da inércia, está consagrada no art. 2º CPC, segundo o qual ‘O processo
começa por iniciativa da parte e se desenvolve por impulso oficial, salvo as exceções previstas
em lei”.

Tal principio proíbe, portanto, os juízes de exercerem a função jurisdicional sem que haja a
manifestação de uma pretensão por parte do titular de um interesse, ou seja, não pode haver
exercício da jurisdição sem que haja uma demanda.

Depois de proposta a demanda a inércia dará lugar ao princípio do impulso oficial.

Agora, uma das possíveis exceções ao impulso processual é a vontade das partes, que podem
modular e restringir a atuação judicial.

Tradicionalmente, tinha a exceção quanto abrir inventário de ofício. Hoje isso acabou, pois o juiz
não pode mais abrir o inventário.

Territorialidade

Por se tratar de um ato de poder, o juiz exerce a jurisdição dentro de um limite espacial sujeito
à soberania do Estado. Além desse limite ao território do Estado, sendo numerosos os juízes de
um Estado, normalmente o exercício da jurisdição que lhes compete é delimitado à parcela do
território, conforme a organização judiciária da Justiça em que atua, sendo as áreas de exercício
da autoridade dos juízes divididas na Justiça Federal em seções judiciárias e na Justiça Estadual
em comarcas.

Art. 236. Os atos processuais serão cumpridos por ordem judicial.


§ 1o Será expedida carta para a prática de atos fora dos limites territoriais do
tribunal, da comarca, da seção ou da subseção judiciárias, ressalvadas as hipóteses
previstas em lei.
§ 2o O tribunal poderá expedir carta para juízo a ele vinculado, se o ato houver de
se realizar fora dos limites territoriais do local de sua sede.
§ 3o Admite-se a prática de atos processuais por meio de videoconferência ou outro
recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real.
Art. 237. Será expedida carta:
I - de ordem, pelo tribunal, na hipótese do § 2o do art. 236;
17
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II - rogatória, para que órgão jurisdicional estrangeiro pratique ato de cooperação
jurídica internacional, relativo a processo em curso perante órgão jurisdicional
brasileiro;
III - precatória, para que órgão jurisdicional brasileiro pratique ou determine o
cumprimento, na área de sua competência territorial, de ato relativo a pedido de
cooperação judiciária formulado por órgão jurisdicional de competência territorial
diversa;
IV - arbitral, para que órgão do Poder Judiciário pratique ou determine o
cumprimento, na área de sua competência territorial, de ato objeto de pedido de
cooperação judiciária formulado por juízo arbitral, inclusive os que importem
efetivação de tutela provisória.
Parágrafo único. Se o ato relativo a processo em curso na justiça federal ou em
tribunal superior houver de ser praticado em local onde não haja vara federal, a
carta poderá ser dirigida ao juízo estadual da respectiva comarca.

Art. 255. Nas comarcas contíguas de fácil comunicação e nas que se situem na
mesma região metropolitana, o oficial de justiça poderá efetuar, em qualquer delas,
citações, intimações, notificações, penhoras e quaisquer outros atos executivos.

Inevitabilidade

Este princípio traduz-se na imposição da autoridade estatal por si mesma por meio da decisão
judicial. Quando provocado o exercício jurisdicional, as partes sujeitam-se a ela mesmo contra
a sua vontade, sendo vedado à autoridade pronunciar o non liquet em seu oficio jurisdicional. O
Estado deve decidir a questão, não se eximindo de sentenciar :

Inafastabilidade

Consagrando expressamente o princípio da indeclinabilidade (ou da inafastabilidade ou do


controle jurisdicional).

Art. 5º (CR)
XXXV -a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.
Desta forma, a Lei Maior garante o acesso ao Poder Judiciário a todos aqueles que tiverem seu
direito violado ou ameaçado, não sendo possível o Estado-Juiz eximir-se de prover a tutela
jurisdicional

Em suma, apregoa o princípio da indeclinabilidade que o juiz não pode subtrair-se da função
jurisdicional, sendo que, mesmo havendo lacuna ou obscuridade na lei, deverá proferir decisão.

Art. 3o Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito.


Art. 140. O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade do
ordenamento jurídico.
Parágrafo único. O juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei.
18
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Características da jurisdição

Heterocomposição: terceiro imparcial que soluciona conflitos.

Atividade criativa (reconstrução): reconstrução da norma jurídica de acordo com o caso


concreto.

“Para a formulação dessa norma jurídica individualizada, contudo, não basta


que o juiz promova, pura e simplesmente, a aplicação da norma geral e
abstrata ao caso concreto. Atualmente, reconhece-se a necessidade de uma
postura mais ativa do juiz, cumprindo-lhe compreender as particularidades
do caso concreto e encontrar, na norma geral e abstrata, uma solução que
esteja em conformidade com as disposições e normas constitucionais,
mormente com os direitos fundamentais. Em outras palavras, o princípio da
supremacia da lei, amplamente influenciado pelos valores do Estado liberal,
que enxergava na atividade legislativa algo perfeito e acabado, atualmente
deve ceder espaço à crítica judicial, no sentido de que o magistrado,
necessariamente, deve dar à norma geral e abstrata aplicável ao caso
concreto uma interpretação conforme a Constituição, sobre ela exercendo o
controle de constitucionalidade se for necessário, bem como viabilizando a
melhor forma de tutelar os direitos fundamentais.
[...]
Como se disse, ao se deparar com os fatos da causa, o juiz deve compreender
o seu sentido, a fim de poder observar qual a norma geral que se lhes aplica.
Identificada a norma geral aplicável (norma legal, por exemplo), ela deve ser
conformada à Constituição através das técnicas de interpretação conforme,
de controle de constitucionalidade em sentido estrito e de balanceamento
dos direitos fundamentais. Nesse sentido, o julgador cria uma norma jurídica
(= norma legal conformada à norma constitucional) que vai servir de
fundamento jurídico para a decisão a ser tomada na parte dispositiva do
pronunciamento. É nessa parte dispositiva que se contém a norma jurídica
individualizada, ou simplesmente norma individual (= definição da norma
para o caso concreto; solução da crise de identificação)”8.

Segundo Giuseppe Chiovenda, pode se definir jurisdição como “função do Estado que tem por
escopo a atuação da vontade concreta da lei por meio da substituição, pela atividade de órgãos
públicos, da atividade de particulares ou de outros órgãos públicos.

A teoria de Chiovenda sobre a jurisdição parte da premissa de que a lei, norma abstrata e
genérica, regula todas as situações que eventualmente ocorram em concreto, devendo o
Estado, no exercício da jurisdição, limitar-se à atuação da vontade concreta do direito objetivo.
Em outras palavras, limita-se o Estado, ao exercer a função jurisdicional, a declarar direitos

8
DIDIER JR, Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil, parte geral e
processo do conhecimento. 23ª Edição. Salvador: JusPodivm, 2021, p.213-214.
19
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preexistentes e atuar na prática os comandos da lei. Tal atividade caracterizar-se-ia,
essencialmente, pelo seu caráter substitutivo, já enunciado.

Substitutividade - Consiste na circunstância de o Estado, ao apreciar o pedido, substituir a


vontade das partes, aplicando ao caso concreto a “vontade” da norma jurídica. Em suma, o
poder judiciário ao compor o litígio substitui a vontade das partes. Na jurisdição voluntária não
há substituição da vontade.

Trata-se de mera ficção, posto que na justiça conciliativa, no processo penal e no processo civil
necessários, não há lide.

Imparcialidade –o órgão judicial há de ser imparcial. Para muitos, é a principal característica da


jurisdição.

Lide – conflito de interesses qualificados pela pretensão de alguém e pela resistência de outrem.
Entretanto, nem sempre é necessário lide para exercer a jurisdição, como por exemplo, nos
casos de separação consensual, mudança de nome etc.

Aptidão para a produção de coisa julgada material: a definitividade (imutabilidade) – é a


possibilidade da decisão judicial fazer coisa julgada material, de forma que uma situação que já
foi decidida pelo Poder judiciário não poderá ser revista por outro poder.

No entanto, a doutrina atual faz críticas a essa característica, à medida que a preclusão
administrativa traz comparável imunidade, da mesma forma que existem pronunciamentos
judiciais que, em que pese não cobertos pela coisa julgada tornam-se estáveis9.

Inércia – o exercício da jurisdição deve ser provocado. Agora, uma das possíveis exceções ao
impulso processual é a vontade das partes, que podem modular e restringir a atuação judicial.

Tradicionalmente, tinha a exceção quanto abrir inventário de ofício. Hoje isso acabou, pois o juiz
não pode mais abrir o inventário.

CLASSIFICAÇÕES OU ESPÉCIES DE JURISDIÇÃO

1) Contenciosa x voluntária: se distinguem pela existência ou inexistência de conflito a ser


resolvido;

9
GRINOVER, Ada Pellegrini, Ensaio Sobre Processualidade: Fundamentos para uma nova Teoria Geral do
Processo, Brasília, DF: Gazeta Jurídica, 2016, p.4 e 5.
20
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2) Comum (residual) x especial: trabalhista, eleitoral e militar.
3) Civil x Penal: matéria penal

A JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA E SUAS CARACTERÍSTICAS

A jurisdição voluntária, também conhecida como jurisdição graciosa ou administrativa, é


comumente definida como a administração pública de interesses privados; nela não se cuida da
lide, mas de questões de interesse privado que por força da lei devem ter a chancela do Poder
Público, tais como: nomeação de tutor ou curador, alienação de bens de incapazes, separação
consensual, arrecadação de bens de ausentes etc.

À jurisdição voluntária aplicam-se as garantias fundamentais do processo, necessárias à


sobrevivência do Estado de Direito, bem como todas as garantias da magistratura, asseguradas
constitucionalmente. Em relação aos poderes processuais do magistrado, a doutrina aponta
duas características da jurisdição voluntária:

Possibilidade de decisão fundada na equidade: permite-se ao juiz não observar a legalidade


estrita na apreciação do pedido, facultando-lhe o juízo por eqüidade, que se funda em critérios
de conveniência e oportunidade. O juízo de equidade é excepcional; somente se poderá dele
valer o juiz quando expressamente por lei autorizado. Não se trata, porém, de juízo de equidade
acima da lei. Permite-se, em vários casos, que o magistrado profira juízo discricionário, que deve,
porém, respeitar o princípio da proporcionalidade.

Art. 140. O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade do
ordenamento jurídico.

Parágrafo único. O juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei.
21
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Ação

Deve ser entendida como um direito fundamental (“Direito fundamental à Jurisdição” –


inafastabilidade e devido processo legal), um direito fundamental de pedir a tutela jurisdicional
ao Estado.

Também é conhecida como Demanda

A ação não guarda relação com o direito material (res in iudicium deducta).

O direito de ação não se vincula a nenhum tipo de direito material ou condição – é um direito
abstrato.

Imagine alguém que peça a tutela jurisdicional e ao fim se chega a conclusão da inexistência do
crédito. Por isso pergunta-se: Houve exercício do direito de ação? Sim. Há direito material? Não.
Assim, o direito de ação nada tem a ver com o direito material.

O conteúdo do direito de ação é complexo, já que é formado por feixes de direitos, diante de
variadas situações jurídicas, inclusive pré-processuais, como provocação da atividade
jurisdicional e também quanto à possibilidade de escolher o procedimento.

O direito de provocar o Estado e de escolher o procedimento são direitos potestativos.

Os instrumentos do direito material são processo e procedimento, pois pode haver jurisdição
sem ação. Por isso a ação é mais um dentre outros meios de acesso à justiça10.

Teorias da Ação

1) TEORIA IMANENTISTA ou CIVILISTA/ SAVIGNY - Não haveria distinção entre o direito


de ação e o direito material. O direito de ação é parte do direito material. O direito de

10
GRINOVER, Ada Pellegrini, Ensaio Sobre Processualidade: Fundamentos para uma nova Teoria Geral
do Processo, Brasília, DF: Gazeta Jurídica, 2016, p.5
22
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ação só se manifestaria no momento da violação do direito material - ação como direito
material em movimento.

2) TEORIA CONCRETA/ ADOLF WACH - O direito de ação é direito autônomo ao direito


material, é um direito exercido contra o Estado. Só haveria o direito de ação se o
provimento fosse favorável.

3) TEORIA ECLÉTICA/ LEIBMAN - A ação é um direito público, abstrato e subjetivo.


Contudo, para exercer o direito de ação, a parte deverá demonstrar a existência de
condições da ação. Teoria adotada pelo CPC/73.

4) TEORIA COMO DIREITO ABSTRATO- O direito de ação é autônomo em relação ao direito


material, não é um direito à obtenção de um pleito favorável. A ação, portanto, é um
direito público, subjetivo e abstrato, pois ainda que o provimento não seja favorável à
parte autora, ela terá realizado o seu direito de ação. Teoria adotada pelo CPC/2015.

Clássica classificação das ações:

 Segundo o tipo de Tutela jurisdicional:


o Conhecimento: certificação do direito
o Execução: satisfação/efetivação do direito
o Cautelar: resguardar o resultado prático do processo

 Ações de Conhecimento
o Declaratórias: tão somente reconhecem um direito
o Constitutivas: criação de situações jurídicas novas ou extinção ou modificação
de situações preexistentes.
o Condenatórias: além de reconhecer direitos, determinada o cumprimento de
uma obrigação

No bojo da classificação das ações de conhecimento, Pontes de Miranda sugeriu a inclusão de


mais dois tipos de ações (na realidade são condenatórias):

o Mandamentais: viabiliza a efetivação do direito com base na coerção indireta.


A vontade do devedor é importante, já que a colaboração do devedor é
importante. Coerção indireta: incentivo e temor.

o Executivas em sentido amplo: busca-se a afirmação de uma prestação e


também efetivação do direito – execução direta ou sub-rogação. Não se
necessita da vontade do demandado.
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Há quem diga que as Mandamentais promovem a execução da prestação de fazer e não fazer e
as executivas em sentido amplo a entrega de coisa diversa de dinheiro.

Ações Dúplices: são aquelas em que a condição de autor e réu não é importante para o resultado
do processo, de forma que o resultado pode ser no reconhecimento de direito para um ou para
outro independentemente de dedução de tal pedido pelo réu.

Condições da ação:

Foram desenvolvidas, no Brasil, a partir da concepção de Enrico Tullio Liebaman.

Ação é instrumento através do qual se movimenta todo aparelho do Estado para que responda
a uma pretensão. Trata-se de um direito público subjetivo de acionar o aparelhamento do
Estado.

Isso não quer dizer que o Estado-Juiz realmente solucione o mérito relativo a cada pretensão
que lhe foi submetida, caso haja qualquer irregularidade no exercício desse direito. Por isso,
para que o exercício do direito de ação seja regular, necessária a satisfação de dois requisitos:

 Legitimidade das partes


 Interesse Processual ou interesse de agir

Também merece destaque as palavras do Professor Humberto Theodoro Junior:

“Para atingir-se a prestação jurisdicional, ou seja, a solução do mérito, é necessário que a lide
seja deduzida em juízo com observância de alguns requisitos básicos, sem cuja presença o órgão
jurisdicional não estará em situação de enfrentar o litígio e dar às partes uma solução que
componha definitivamente o conflito de interesses”11.

Fredie Didier sustenta que não existem mais no sistema processual como condição da ação, mas
sim como pressupostos processuais. No entanto, há divergência doutrinária a respeito do
assunto.

É importante observar a diferença entre pressupostos processuais e condições da ação, por


isso, vale destacar o escólio do Professor Humberto Theodoro Junior:

“Os pressupostos processuais são dados reclamados para análise de viabilidade do exercício do
direito de ação sob o ponto de vista estritamente processual. Já as condições da ação importam

11
JUNIOR, Humberto Theodoro, Curso de Direito Processual Civil, Volume I, 56ª Edição, Rio de Janeiro:
Editora Forense, 2015.
24
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o cotejo do direito de ação concretamente exercido com a viabilidade abstrata da pretensão de
direito material”12.

A doutrina atual diverge quanto a remanescer no processo civil as condições da ação. E nesse
sentido, parte da doutrina entende que, embora o CPC não mais mencione o termo “condições
da ação”, as mesmas permanecem íntegras, já que a legitimidade das partes e interesse de agir
foram nomeadamente previstos como hipótese de extinção do processo sem resolução do
mérito.

No entanto, outra parte da doutrina entende que o que se conhecia antes como “condições da
ação” passaram a integrar a categoria dos pressupostos processuais.

Em razão dessa divergência doutrinária, trazemos para leitura escólio divergente de dois
doutrinadores.

Professor Humberto Theodoro Junior:

“Logo, malgrado o combate feito por numerosa corrente doutrinária à figura das condições da
ação, a pretexto de serem elas indissociáveis da matéria de mérito discutida no processo, o certo
é que a lei continua a tratá-las como categoria processual distinta, intermediária entre os
pressupostos de validade do processo e o mérito da causa. Continua, portanto, o Código atual
fiel à doutrina de Liebman.

Para alguns, que reconhecem a impossibilidade de inclusão das condições da ação no julgamento
do mérito, teria o novo Código provocado uma fusão entre elas e os pressupostos processuais,
ou, em outros termos, legitimidade e interesse teriam passado à categoria de pressupostos
processuais.183 Outros, rebatem essa unificação, a nosso ver, com razão, argumentando com a
diferença substancial entre os pressupostos, que se situam no plano puramente processual
(validade do processo), e as condições, no campo da inviabilidade de emissão de um provimento
de mérito, ainda que o processo seja regular e válido (plano da eficácia)”

Professor Fredie Didier Jr.

“Não há mais razão para o uso, pela ciência do processo brasileira, do conceito ‘condição da
ação’.

A legitimidade ad causam e o interesse de agir passarão a ser explicados com suporte no


repertório teórico dos pressupostos processuais.

12
JUNIOR, Humberto Theodoro, Curso de Direito Processual Civil, Volume I, 56ª Edição, Rio de Janeiro:
Editora Forense, 2015.
25
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A legitimidade e o interesse passarão, então, a constar da exposição sistemática dos
pressupostos processuais de validade: o interesse, como pressuposto de validade objetivo
extrínseco; a legitimidade, como pressuposto de validade subjetivo relativo às partes”.13

E continua o professor Fredie Didier:

“O CPC continua a regular essas espécies de requisito de admissibilidade do processo, não mais
sob a rubrica ‘condição da ação’. Ao enumerar as hipóteses de extinção do processo sem
resolução do mérito, o CPC, no inciso VI do art. 485, menciona a ilegitimidade e a falta de
interesse processual.

Subsomem-se, então, à tradicional e consagrada categoria dos ‘pressupostos processuais’,


guarda-chuva que abrange todos os requisitos de admissibilidade de um processo”14

Legitimidade das Partes

Legitimidade das partes: autor e réu da ação deve corresponder no plano material aquele que
tem o direito lesionado ou ameaçado e do outro lado aquele responsável pela ameaça ou lesão.

Nas palavras do Professor Alexandre Câmara, “Legitimidade é a aptidão para ocupar, em um


certo caso concreto, uma posição processual ativa. Exige-se tal requisito não só para demandar
(aquilo a que se costuma referir como ‘legitimidade para agir’), mas para praticar qualquer ato
de exercício do direito de ação. Assim, exige-se legitimidade para demandar, para contestar,
para requerer a produção de uma prova, para recorrer etc. Um ato processual só pode ser
praticado validamente por quem esteja legitimado a fazê-lo. Faltando legitimidade, o ato deve
ser considerado inadmissível (e, no caso de a demanda ter sido ajuizada por quem não esteja
legitimado a fazê-lo, o processo deverá ser extinto sem resolução do mérito, nos termos do art.
485, VI)”15.

A legitimidade pode ser:

 Ordinária: quando os titulares dos direitos materiais envolvidos no processo o disputam


diretamente.
 Extraordinária: aquele que não é titular do direito material vai a Juízo para defender
interesse de outrem (art. 18 CPC). Atua em nome próprio, na defesa de interesse alheio.
Neste caso, pode o substituído intervir no processo? Pode, como assistente
litisconsorcial, instituto da intervenção de terceiros.

13
DIDIER JR, Fredie, Curso de Direito Processual Civil, Introdução ao Direito Processual Civil, Parte Geral,
e Processo de Conhecimento, 18 Edição, Salvador, Editora JusPodivm, 2016, p.308
14
DIDIER JR, Fredie, Curso de Direito Processual Civil, Introdução ao Direito Processual Civil, Parte Geral,
e Processo de Conhecimento, 18 Edição, Salvador, Editora JusPodivm, 2016, p.344
15
CÂMARA, Alexandre Freitas, O Novo Processo Civil Brasileiro, 3ª Edição, São Paulo: Atlas, 2017.
26
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Interesse Processual ou Interesse de Agir

O interesse compõe a utilidade da tutela que se pretende, de forma que o seu resultado seja
útil.

O interesse de agir é avaliado através de dois elementos:

o Interesse-necessidade: que se consubstancia na necessidade da tutela jurisdicional para


o caso concreto. O processo é absolutamente necessário para o reconhecimento e
fruição do direito material aduzido.
o Interesse-adequação: que se consubstancia na verificação se a via eleita é adequada à
tutela pretendida.

Teoria da Asserção

Trata-se de técnica utilizada para verificação da satisfação das condições da ação. Neste sentido,
através da teoria da asserção as condições da ação devem ser aferidas no estado da afirmações
da parte na petição inicial. Por isso, se diz que devem ser verificadas “in statu assertionis”, ou
seja no estado em que são afirmadas.

Assim, todas as vezes que se examinada a legitimidade e interesse à luz das afirmações
hipotéticas contidas na petição inicial, estar-se-á fazendo análise das condições da ação. No
entanto, quando tal análise se faz à luz das provas colhidas, neste caso estar-se-á analisando
o mérito do processo.

Elementos identificadores da ação:

i) Partes: autor (aquele que pede a tutela jurisdicional ) e réu (aquele em face de quem
a tutela é requerida)
ii) Causa de pedir: fundamento de fato e de direito que justificam o pedido. Pode ser
remota e próxima.
Duas teorias:

a) Individuação: basta indicar a causa próxima do pedido – “causa de pedir é


composta tão somente pela relação jurídica afirmada pelo autor”16;
b) Substanciação: deve também indicar a causa remota. Foi a adotada no Brasil,
diante do art. 319, III CPC

16
NEVES, Daniel Amorim Assunpção. Manual de direito processual civil. 8ª Edição. Salvador: JusPodivm,
Volume único, 2016.
27
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iii) Pedido: providência jurisdicional requerida (imediato – declaração, condenação,
constituição, execução ou cautela)) e o bem da vida pretendido pelo autor (mediato
– crédito, restituição de imóvel, etc).

 É possível cumular pedidos e por isso, ações

Art. 327. É lícita a cumulação, em um único processo, contra o mesmo réu, de vários
pedidos, ainda que entre eles não haja conexão.

§ 1o São requisitos de admissibilidade da cumulação que:

I - os pedidos sejam compatíveis entre si;

II - seja competente para conhecer deles o mesmo juízo;

III - seja adequado para todos os pedidos o tipo de procedimento.

§ 2o Quando, para cada pedido, corresponder tipo diverso de procedimento, será


admitida a cumulação se o autor empregar o procedimento comum, sem prejuízo
do emprego das técnicas processuais diferenciadas previstas nos procedimentos
especiais a que se sujeitam um ou mais pedidos cumulados, que não forem
incompatíveis com as disposições sobre o procedimento comum.

§ 3o O inciso I do § 1o não se aplica às cumulações de pedidos de que trata o art. 326

 Cumulação própria (simples e sucessiva) e cumulação imprópria (subsidiária/eventual e


alternativa)

 É lícita a cumulação eventual (ou subsidiária) dos pedidos, de forma que o juiz só aprecia
o segundo pedido se não conceder o primeiro (art. 326).

 Agora há previsão expressa para a cumulação alternativa (art. 326).

Processo

Conceito de Processo: instrumento de que se serve o Estado para, no exercício da função


jurisdicional, resolver os conflitos de interesses. Trata-se de:
28
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“método de criação de normas jurídicas, ato jurídico complexo
(procedimento) e relação jurídica”17.

Conceito de Carnelutti: “o conjunto de atos destinados à formação ou à


atuação de comandos jurídicos, cujo caráter consiste na colaboração, para
tal fim, de pessoas interessadas (partes), com uma ou mais pessoas
desinteressadas (juízes)”.

O processo é composto de um conjunto de atos interligados. Esses atos são praticados por
diversas pessoas (juiz, oficial de justiça, partes, perito, etc).

A ação põe em movimento a jurisdição que se realiza através do processo – esses três elementos
(Jurisdição – Ação – Processo), configuram os pilares do direito processual.

Com certa evolução, os conflitos de interesse passaram a ser entregues à terceira pessoa sem
interesse no conflito. O processo passa a ser a última etapa na evolução dos métodos de
resolução de conflito e segundo Niceto Alcalá-Zamora, “dista muito de haver alcançado a sua
elaboração definitiva” (jurista – foi presidente da II República Espanhola de 1931 a 1936).

A expressão processo vem do latim processus, derivado de procedere. O significado é caminhar


para frente, avançar, dar um passo depois do outro.

O melhor conceito de processo hoje é “processo é um procedimento em contraditório”.

natur

Natureza Jurídica do Processo

Algumas teorias tentam explicar a natureza jurídica do processo, enquanto outras tentam
conceituar processo.

A doutrina se divide em dois grandes grupos: privatistas x publicistas.

 Os privatistas (o processo civil romano era eminentemente privatista) tentam explicar o


processo como: contrato ou quase contrato.

o Contrato (Sec. XVIII e XIX - Ulpiano): autor e réu se ligam numa relação similar a de
um contrato. Tem fundamento no direito romano, porque as partes
convencionavam aceitar a decisão que viesse a ser proferida pelo juiz
(litiscontestatio). Essa teoria tem mero sabor histórico, pois ninguém mais
considera o processo como contrato.

17
DIDIER JUNIOR, Fredie. Teoria geral do processo, essa desconhecida. 3ª Edição. Salvador: Juspodivm,
2016, p.78.
29
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o Quase contrato (Sec. XIX): viam a listiscontestatio como ato bilateral, mas não
totalmente livre, pois se o réu se recusar o autor poderia conduzí-lo à força.

 Os publicistas tentam explicar o processo como instituição; relação jurídica ou situação


jurídica.
o Instituição: complexo de atividades relacionadas entre si, com uma finalidade
específica, submetida ao regime legal.

o Situação jurídica: concebida por Goldschmidt (alemão) – o processo é composto de


uma série de situações jurídicas, capazes de gerar para seus sujeitos deveres,
poderes, faculdades, ônus e sujeições.

o Relação jurídica A teoria mais difundida quanto ao processo é a de Oskar Von Bülow
– Teoria da Relação Processual (1868), afirmava que o processo é o ato de três
pessoas: juiz, autor e réu (“Iudicium est actus trium personarum: iudicis, actoris et
rei”). Por essa teoria o processo seria uma relação intersubjetiva, de direito público,
com seus próprios sujeitos, requisitos (pressupostos processuais).

Através do processo, as partes se encontram vinculadas e ali possuem ônus e


deveres decorrentes da lei ou por estipulação através dos negócios jurídicos
processuais.

A teoria da relação jurídica é importante porque destaca a existência de duas


relações jurídicas distintas. De um lado, a relação jurídica de direito material e de
outro lado a relação jurídica processual, com princípios próprios e pressupostos
específicos.

A relação jurídica processual se forma no momento em que o réu é integrado ao


processo através do ato próprio chamado de citação, a partir de então tem-se o
processo devidamente formado.

Há divergência quanto à sua representação gráfica, já que para alguns haveria


relação direta entre a autor, réu e o Estado. Para outros haveria apenas relação do
autor com o Estado e réu com o Estado. Na doutrina brasileira, predominou a
representação triangular.

Características da Relação Processual

Autonomia: distingue-se do direito material

Progressiva: segue rumo à sentença

Unicidade: os atos praticados e as partes se unem para o deslinde da controvérsia


30
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o Procedimento em Contraditório ( de Élio Fazzalari). É uma crítica à teria da relação


jurídica. O processo seria gênero do contraditório. Não seria um procedimento
realizado tão somente numa relação jurídica, mas sim um procedimento em
contraditório.

o Procedimento animado pela relação jurídica processual: são as duas últimas juntas.

O professor Alexandre Câmara entende que processo é uma categoria jurídica autônoma, assim,
não pode ser incluído em nenhuma outra categoria já conhecida.

Ocorre que hoje, não pode mais ser compreendido como um mecanismo a ser conduzido pelo
juiz como sujeito mais importante. O que existe hoje é uma visão participativa, policêntrica, por
força da qual juiz e partes constroem, juntos, o resultado do processo. Acaba-se com a visão do
juiz como a figura mais importante do processo.

Art. 6o (CPC) Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se
obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva.

Objeto do Processo

É a pretensão – exigência de submissão do interesse alheio ao interesse próprio.

A pretensão é trazida através da demanda e revelada pelo pedido do autor.

Pressupostos Processuais

O processo pode existir na cabeça de cada um, mas para que exista concretamente, deverá
preencher certos requisitos. Estes requisitos são, justamente, os pressupostos processuais de
existência do processo.

Por outro lado, embora exista, o processo precisa ser válido, daí convencionaram-se os
pressupostos processuais de validade do processo.

Assim, existem os pressupostos objetivos e os subjetivos:

 Objetivos – dizem respeito ao seu objeto


 Subjetivos – dizem respeito aos sujeitos do processo – juiz e partes.

Existência Validade
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Partes Capacidade de ser parte; para estar em


juízo; postulatória – art. 75 CPC
Juiz Investido de jurisdição e imparcial
Demanda Regularmente formulada (ausência de
litispendência e coisa julgada)

Processo e Procedimento

São conceitos diversos.

A doutrina mais moderna afirma que processo é espécie de procedimento. Processo é uma
entidade complexa, sendo que um dos elementos é o procedimento.

Michele Taruffo afirma que não se pode ter a ideia de que basta respeita o rito processual
descrito na lei para que o procedimento seja legal. Na realidade, o processo só se legitima
se for justo, e será justa se a verdade processual for buscada.

Fases do processo

18

DIREITO PROCESSUAL

Conceito de Direito Processual: “complexo de normas e princípios responsáveis pela regência de


tal método de trabalho, ou seja, o exercício conjugado da jurisdição pelo Estado-juiz ou pelo
árbitro, da ação pelo demandante e da defesa pelo demandado”19.

Fontes do Direito Processual

18
O quadro é de autoria desconhecida, mas que representa bem o procedimento.
19
DINAMARCO, Candido Rangel, BADARÓ, Gustavo Henrique Righi Ivahy, LOPES, Bruno Vasconcelos
Carrilho. Teoria geral do processo. São Paulo: Malheiros, 2020, p.66.
32
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 Lei
 Usos e Costumes
 Negócios Jurídicos Processuais
 Jurisprudência
 Precedentes

A função dos princípios na teoria do processo

Princípios são alicerces

• Normas: podem ser regras ou princípios. Produto da interpretação sistemática dos


textos
• Princípios: a finalidade de sua previsão vem no primeiro plano, para indiretamente
prever comportamentos. Descrevem fins a serem atingidos. Vive-se hoje o “Estado
Principiológico”, segundo Humberto Ávila (“Teoria dos Princípios”)
• Regras: descrevem regra de comportamento ou atribuição de uma competência. A
finalidade assume a dimensão secundária.
• Observação: uma mesma norma pode funcionar como regra e como princípio
(Humberto Ávila).

Fases metodológicas do direito processual

 Praxismo: é a pré-história do direito processual. O processo era um aspecto do direito


material.

 Processualismo: modernidade processual. Observa-se o direito processual como


autônomo. A partir do Séc. XIX, da polêmica entre Windsheid e Muther.

 Formalismo-valorativo: é a contemporaneidade. Análise do processo a partir das


perspectivas constitucionais. Para alguns a fase é do instrumentalismo, que representa
a superação da fase do processualismo, de forma que o processo visa à realização dos
escopos sociais, jurídicos e políticos.

A tradição de CIVIL LAW e a influência do COMMON LAW

O sistema jurídico brasileiro é misto, pois o sistema constitucional baseado nos EUA (controle
difuso) e austríaco (controle concentrado), sendo que a legislação infraconstitucional baseado
no sistema romano-germânico.

Fredie Didier afirma que operamos com o “braziliam law”


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A DOUTRINA DOS PRECEDENTES NO DIREITO BRASILEIRO

Misto de norma e decisão.

Um precedente, aplicado de forma reiterada, transforma-se em jurisprudência.

Quando a jurisprudência passa a predominar pode transformar-se em Enunciado de


Súmula da Jurisprudência do Tribunal.

A Súmula é o enunciado normativo do precedente, de acordo com a ratio decidendi.

Os enunciados das súmulas devem se referir às circunstâncias fáticas dos precedentes.

Art. 926. Os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-


la estável, íntegra e coerente.
§ 1º Na forma estabelecida e segundo os pressupostos fixados no
regimento interno, os tribunais editarão enunciados de súmula
correspondentes a sua jurisprudência dominante.
§ 2º Ao editar enunciados de súmula, os tribunais devem ater-se às
circunstâncias fáticas dos precedentes que motivaram sua criação.

Conceito: “em sentido lato, o precedente é a decisão judicial tomada à luz de um caso
concreto, cujo elemento normativo pode servir como diretriz para o julgamento posterior
de casos análagos”20.

A decisão contém duas normas:

i) uma de caráter geral, que contém a interpretação dos fatos e da norma.


ii) A outra constitui a regra do caso concreto. É essa segunda que faz coisa
julgada.

O que tem caráter persuasivo é a razão de decidir (ratio decidendi) – onde existir o
mesmo fato, deve existir a mesma razão e o mesmo direito.

A razão de decidir deve ser buscada na identificação dos fatos e motivos jurídicos que
conduziram à solução.

Holding: é a interpretação do ordenamento e tudo mais que será aplicado ao caso


concreto que também poderá ser aplicado a outros casos.

20
DIDIER JR, Fredie, BRAGA, Paula Sarno, OLIVEIRA, Rafael Alexandria. Curso de Direito Processual Civil.
16ª Edição. Salvador: Juspodivm, Vol.2, 2021, p. 565
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Obiter dictum: também chamado tão somente de dictum. É a opinião ou contraponto


posto na decisão de forma adicional, que não é ou não foi importante para a solução do
caso. É um argumento de passagem.

“Traditionally, everthing other than statements of the facts and the


statement of the holding is an obter dictum – literally, in latin,
something said in passing or something said by the way. It is something
extra, and something that not strictly necessary to reach, justifify, or
explain the outcome of the case”21.

O obiter dictum não faz parte do ratio decidendi (razão de decidir).

Apesar de não fazer parte das razões de decidir, o obiter dictum não é algo desprezível.

O voto vencido é um obiter dictum que tem relevância para:

1) Aplicação do art. 942 (técnica do julgamento ampliado);


2) Fundamento para futura superação do precedente;
3) Faz parte do acórdão;
4) Comprovação do pré-questionamento da matéria nele versada

“Art. 941. Proferidos os votos, o presidente anunciará o resultado do


julgamento, designando para redigir o acórdão o relator ou, se vencido
este, o autor do primeiro voto vencedor.
[...]
§ 3º O voto vencido será necessariamente declarado e considerado
parte integrante do acórdão para todos os fins legais, inclusive de pré-
questionamento”.

Distinguishing (ou distinguish): comparação e distinção entre o caso concreto e o


paradigma. Trata-se de um método.

Efeitos dos precedentes

Precedente, por si só, é um fato cujos efeitos variam de acordo com os efeitos que cada
ordenamento jurídico lhes outorga. Assim, por exemplo, nos países da Common Law, a
eficácia dos precedentes é normativa.

21
SCHAER, Frederick. Thinking like a lawyer: a new introduction to legal reasoning. Cambridge: Havard
Unversity Press, 2012, p. 55-56.
35
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Os efeitos da decisão como um precedente ocorre independentemente de qualquer


referência a esse efeito. Por isso, trata-se de um efetivo fato, cujos efeitos ocorrem
independentemente da vontade daquele que proferiu a decisão.

Os efeitos podem ser, segundo Fredie Didier:

i) Vinculante ou obrigatório – art. 927 CPC. O efeito vinculante abrange os


demais efeitos, pois aquele precedente que tem efeito vinculante tem a
qualidade de atingir todos os demais efeitos.
Devem ser conhecidos de ofício
A decisão que não reconhece o precedente é omissa por força de lei.

“Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão:


I - as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado
de constitucionalidade;
II - os enunciados de súmula vinculante;
III - os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de
resolução de demandas repetitivas e em julgamento de recursos
extraordinário e especial repetitivos;
IV - os enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal em
matéria constitucional e do Superior Tribunal de Justiça em matéria
infraconstitucional;
V - a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem
vinculados.
§ 1º Os juízes e os tribunais observarão o disposto no art. 10 e no art.
489, § 1º , quando decidirem com fundamento neste artigo. [...]”

“Art. 489 [...]


§ 1º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela
interlocutória, sentença ou acórdão, que:
V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem
identificar seus fundamentos determinantes nem
demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos;
VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou
precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de
distinção no caso em julgamento ou a superação do
entendimento.[...]”

A vinculação é para o próprio tribunal que deu origem ao precedente e também ao


demais órgãos a ele subordinados.
36
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São vinculantes aqueles precedentes enunciados pelos tribunais locais que assim os
declare, segundo o seu regimento, nos termos do art. 926 CPC:

Art. 926. Os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-


la estável, íntegra e coerente.
§ 1º Na forma estabelecida e segundo os pressupostos fixados no
regimento interno, os tribunais editarão enunciados de súmula
correspondentes a sua jurisprudência dominante.
§ 2º Ao editar enunciados de súmula, os tribunais devem ater-se às
circunstâncias fáticas dos precedentes que motivaram sua criação.

ii) Persuasivo: nenhum órgão jurisdicional está obrigado a segui-lo, mas serve
de parâmetro de escolha realizada anteriormente. É utilizado pelas partes
como forma de convencimento do julgador.
iii) Obstativo de revisão das decisões – art. 932, IV, art. 496, §4º CPC
iv) Obstativo de invalidação do ato jurídico: os precedentes e orientações da
época em que o ato foi praticado devem ser os que deverão ser levados em
consideração para aferição de sua validade – tempus regit actum. – LINDB:

“Art. 24. A revisão, nas esferas administrativa, controladora ou


judicial, quanto à validade de ato, contrato, ajuste, processo ou norma
administrativa cuja produção já se houver completado levará em conta
as orientações gerais da época, sendo vedado que, com base em
mudança posterior de orientação geral, se declarem inválidas
situações plenamente constituídas. (Incluído pela Lei nº 13.655, de
2018) (Regulamento)
Parágrafo único. Consideram-se orientações gerais as interpretações
e especificações contidas em atos públicos de caráter geral ou em
jurisprudência judicial ou administrativa majoritária, e ainda as
adotadas por prática administrativa reiterada e de amplo
conhecimento público”.(Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

v) Autorizante: exemplo daquele que permite a admissão de recursos em certas


situações ou que autoriza o provimento de recursos ou ainda o deferimento
de tutela provisória – art. 932, V CPC;
vi) Rescindente ou que gera perda de eficácia de outra decisão: é o contrário do
acima. Vale, inclusive, para decisões transitadas em julgado, quando o
precedente é anterior à decisão proferida. Exemplos: art. 525, §12, 13 e 14;
art. 535, §5º, 6º e 7º CPC;
37
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Os fundamentos não validados pelo colegiado ainda que sejam fundamento da decisão,
não formam precedentes. O que forma precedente são as mesmas razões
determinantes adotadas pelo colegiado. Nesta esteira, há o Enunciado 317 do FPPC.

Destaque-se que se a decisão colegiada concorda com o dispositivo, mas não há sintonia
nos fundamentos, não há como se formar precedente.

Somente constituem precedentes os argumentos e matérias submetidas ao


contraditório.

Superação dos Precedentes: pode ocorrer por overruling ou por overriding

i) Overruling: o precedente perde a força vinculante e é substituído por outro, de forma


expressa ou tácita, que ocorre quando o próprio tribunal adota posição em confronto
com o precedente. No Direito brasileiro não existe a forma tácita, já que deve haver
referência expressa ao precedente, de forma que, se se pretender aplicar outro
entendimento, obrigatoriamente deverá haver manifestação expressa quanto ao
overruling.

Art. 927.

§ 2º A alteração de tese jurídica adotada em enunciado de súmula ou


em julgamento de casos repetitivos poderá ser precedida de audiências
públicas e da participação de pessoas, órgãos ou entidades que
possam contribuir para a rediscussão da tese.

§ 3º Na hipótese de alteração de jurisprudência dominante do


Supremo Tribunal Federal e dos tribunais superiores ou daquela
oriunda de julgamento de casos repetitivos, pode haver modulação dos
efeitos da alteração no interesse social e no da segurança jurídica.

§ 4º A modificação de enunciado de súmula, de jurisprudência


pacificada ou de tese adotada em julgamento de casos repetitivos
observará a necessidade de fundamentação adequada e específica,
considerando os princípios da segurança jurídica, da proteção da
confiança e da isonomia.
38
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O dever de estabilidade da jurisprudência não impede a mudança, a alteração, mas sim


a falta de previsibilidade, igualdade de tratamento e alteração injustificada.

ii) Overriding: é a superação parcial do precedente. Na realidade, é um distinguishing.

Casos Repetitivos

Art. 928. Para os fins deste Código, considera-se julgamento de casos


repetitivos a decisão proferida em:
I - incidente de resolução de demandas repetitivas;
II - recursos especial e extraordinário repetitivos.
Parágrafo único. O julgamento de casos repetitivos tem por objeto
questão de direito material ou processual.

Processos coletivos e processos estruturais

“Em síntese, o Processo coletivo é a técnica que o ordenamento jurídico coloca à disposição da
sociedade para obter tutela de direitos materiais violados no contexto de litígios coletivos”22.

“O Processo estrutural é um processo coletivo no qual se pretende, pela atuação jurisdicional, a


reorganização de uma estrutura, pública ou privada, que causa, fomenta ou viabiliza a
ocorrência de uma violação a direitos, pelo modo como funciona, originando um litígio
estrutural”23.

Processo constitucional e estado democrático de direito

“O processo civil sofreu uma ruptura paradigmática a partir do final do século XIX, quando se
autonomiza em relação ao direito material, articulando-se nos moldes do movimento pela
socialização processual (daí o já ressaltando caráter publicístico do processo). No Brasil, mais
recentemente, sobretudo a partir dos ganhos democráticos proporcionados desde 1988, este
ramo do direito processual tem-se moldado em perspectiva constitucional”24.

“O processualismo constitucional democrático sustenta que o processo deve se desgarrar da


concepção de processo como técnica de dominação, percebendo-o em perspectiva democrática
e garantidora de direitos fundamentais. Conforme já dito, representando uma sofisticação do
raciocínio Fazzalariano, referida concepção permite, de um lado, uma blindagem (limite) às
atividades equivocadas das partes, advogados e juízes e, de outro, garante a participação e

22
VITORELLI, Edilson. Processo civil estrutural: teoria e prática. Salvador: Juspodivm, 2020, p52.
23
Idem, p.60
24
NUNES, Dierle, BAHIA, Alexandre, PEDRON, Flávio Quinaud. Teoria geral do processo: com
comentários sobre virada tecnológica no direito processual. Salvador: Juspodivm, 2020 p.246
39
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influência de todos os envolvidos e de seus argumentos nas decisões por ele (processo) formadas.
O processo deve garantir a implementação dos direitos, especialmente, fundamentais”25.

Princípios Processuais

a) Imparcialidade do Juiz:
A imparcialidade do julgador, seja ele juiz ou árbitro, é pressuposto de validade do processo.

Por isso, a CR prevê garantias (ar. 95 CR), bem como vedações (art. 95§único) e art. 5º, XXXVII.

Art. 95. Os juízes gozam das seguintes garantias:


I - vitaliciedade, que, no primeiro grau, só será adquirida após dois anos de exercício,
dependendo a perda do cargo, nesse período, de deliberação do tribunal a que o juiz
estiver vinculado, e, nos demais casos, de sentença judicial transitada em julgado;
II - inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, na forma do art. 93, VIII;
III - irredutibilidade de vencimentos, observado, quanto à remuneração, o que
dispõem os arts. 37, XI, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I.
III - irredutibilidade de subsídio, ressalvado o disposto nos arts. 37, X e XI, 39, § 4º,
150, II, 153, III, e 153, § 2º, I. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de
1998)
Parágrafo único. Aos juízes é vedado:
I - exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo uma de
magistério;
II - receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participação em processo;
III - dedicar-se à atividade político-partidária.
IV - receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas físicas,
entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei; (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
V - exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos
três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração. (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:
XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;

O tribunal não pode julgar fato que transcorreu antes de sua constituição

b) Devido processo legal – art. 5º, LIV da CR;


Princípio organizador, sendo um sistema de limitação de poder imposto pelo próprio estado
para preservação dos valores democráticos.

É o resumo de todos os demais e fecha o círculo de garantias e exigências para o legítimo


exercício da função jurisdicional:

25
Idem, p. 252
40
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• Garantia à prova;

• Inadmissibilidade de prova ilícita;

• Inviolabilidade de domicílio;

• Sigilo de comunicação e de dados;

• Motivação das decisões judiciais, etc

Art.5º, LIV (CRFB) – “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido
processo legal”.

c) Contraditório - art. 5º, LV da CR;


Art. 5º CR

LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral


são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela
inerentes

É derivado do princípio do devido processo legal.

Decomposto:

a) participação – audiência, comunicação e ciência

b) possibilidade de influência na decisões

Na dimensão formal: É a garantia de ser ouvido, de participar do processo, de ser comunicado,


de poder falar no processo.

Na dimensão substancial: não apenas permitir a participação, mas que seja ouvida de forma a
influenciar na decisão.

Não pode mais o juiz decidir com base em argumentos não tratados pelas partes.

Art. 9º (CPC) Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja
previamente ouvida.

Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica:

I - à tutela provisória de urgência;

II - às hipóteses de tutela da evidência previstas no art. 311, incisos II e III ;


41
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III - à decisão prevista no art. 701

A lei deve instituir meios para a participação dos litigantes no processo e juiz deve franquear
esses meios.

O primeiro e mais importante ato de comunicação processual é a citação.

O juiz poderá dilatar os prazos processuais para garantir o contraditório.

Art. 139.(CPC) O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código,


incumbindo-lhe:

VI - dilatar os prazos processuais e alterar a ordem de produção dos meios de prova,


adequando-os às necessidades do conflito de modo a conferir maior efetividade à
tutela do direito;

O juiz pode determinar o prazo para apresentação de contestação para 45 dias.

A dobra de prazo não pode ser realizada depois que o prazo acabou. A dilatação do prazo tem
que ser antes do prazo correr. Não pode superar a preclusão com a dilatação do prazo.

Art. 10. (CPC) O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em
fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se
manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício.

Art. 493. Se, depois da propositura da ação, algum fato constitutivo, modificativo ou
extintivo do direito influir no julgamento do mérito, caberá ao juiz tomá-lo em
consideração, de ofício ou a requerimento da parte, no momento de proferir a
decisão.

Parágrafo único. Se constatar de ofício o fato novo, o juiz ouvirá as partes sobre ele
antes de decidir.

Observar que o art. 7º do CPC traz o dever do juiz zelar pelo efetivo contraditório:

Art. 7o (CPC) É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício


de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à
aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo
contraditório.

Pode o juiz dilatar os prazos processuais para garantir o contraditório.

Art. 139.(CPC) O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código,


incumbindo-lhe:
42
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VI - dilatar os prazos processuais e alterar a ordem de produção dos meios de prova,
adequando-os às necessidades do conflito de modo a conferir maior efetividade à
tutela do direito;

O juiz pode determinar o prazo para apresentação de contestação para 45 dias.

O contraditório garante o direito da parte de se manifestar sobre qualquer questão que seja
relevante para a solução da causa, mesmo que seja de matéria que o juiz possa conhecer de
ofício. Exemplo: inconstitucionalidade; incompetência absoluta; decadência legal.

Qualquer questão que possa e que seja levada em consideração pelo juiz em sua decisão deve
ser previamente submetida ao debate.

Essa exigência decorre do dever de consulta – o juiz tem o dever de consultar as partes a respeito
de questão em relação a qual não se manifestaram.

Trata-se do dever de consulta – o juiz tem o dever de consultar as partes a respeito de questão
sobre a qual não se manifestaram.

Além disso, deve-se observar o art. 10 CPC

Art. 10.(CPC) O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em
fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se
manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício.

Consagração do dever de consulta = Proibição de decisão surpresa.

O art. 10 não enuncia o contraditório, mas uma regra, e não um princípio, que impõe o dever de
consulta. Essa regra concretiza o princípio do contraditório.

A regra é tão importante que foi repetida em alguns dispositivos:

Art. 493. (CPC) Se, depois da propositura da ação, algum fato constitutivo,
modificativo ou extintivo do direito influir no julgamento do mérito, caberá ao juiz
tomá-lo em consideração, de ofício ou a requerimento da parte, no momento de
proferir a decisão.

Parágrafo único. Se constatar de ofício o fato novo, o juiz ouvirá as partes sobre ele
antes de decidir.

Se essas regras forem descumpridas, gerará nulidade da decisão por violação do contraditório.

d) Ampla defesa – art. 5º, LV da CR;

e) Igualdade (isonomia) – art. 5º, Caput da CR e art. 7º CPC;


Art. 5º (CR) Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:
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Art. 7º (CPC) É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício
de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à
aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório.
Do art. 7º, é necessário destacar a igualdade processual extraído da primeira parte desse artigo.

Neutralizar desigualdades significa promover a igualdade substancial, que nem sempre coincide
com uma formal igualdade de tratamento.

A isonomia consiste em promover tratamento desigual para promover a igualdade substancial.

Art. 7o (CPC) É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício


de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à
aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório.
A igualdade exige a observância de 04 aspectos:

 Imparcialidade do juiz;

 Igualdade no acesso à justiça – raça, sexo, etc;

 Redução das dificuldades no acesso à justiça. As regras de gratuidade de justiça


mudaram. Esquece-se a lei de 50. Importante também é a redução das dificuldades em
relação à geografia. Exemplo: sustentação no STJ por vídeo conferência. Destaque
também para as dificuldades de comunicação – mudos e surdos, por isso o CPC prevê
de forma expressa a utilização de libras (linguagem brasileira de sinais), quando houver
dificuldade.

 Paridade de informações

Tramitação prioritária: art. 1048

Art. 1.048. Terão prioridade de tramitação, em qualquer juízo ou tribunal, os


procedimentos judiciais:
I - em que figure como parte ou interessado pessoa com idade igual ou superior a 60
(sessenta) anos ou portadora de doença grave, assim compreendida qualquer das
enumeradas no art. 6o, inciso XIV, da Lei no 7.713, de 22 de dezembro de 1988;
II - regulados pela Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do
Adolescente).
§ 1o A pessoa interessada na obtenção do benefício, juntando prova de sua condição,
deverá requerê-lo à autoridade judiciária competente para decidir o feito, que
determinará ao cartório do juízo as providências a serem cumpridas.
§ 2o Deferida a prioridade, os autos receberão identificação própria que evidencie o
regime de tramitação prioritária.
§ 3o Concedida a prioridade, essa não cessará com a morte do beneficiado,
estendendo-se em favor do cônjuge supérstite ou do companheiro em união estável.
§ 4o A tramitação prioritária independe de deferimento pelo órgão jurisdicional e
deverá ser imediatamente concedida diante da prova da condição de beneficiário.

f) Juiz Natural – art. 5, XXXVII e LIII da CR;

Trata-se de princípio que garante ao cidadão o direito de não ser subtraído de seu Juiz
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Trata-se do juízo pré-constituído por lei para exercer validamente a função jurisdicional.

Art. 5º (CR)
LIII - “ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade
competente”
XXXVII - “não haverá juízo ou tribunal de exceção”

Atos de exercício da função estatal devem ser realizados por juízes instituídos pela CR e
competentes segundo à lei.

Os processos devem ser julgados pelo órgão do judiciário que já existia e que já era o
competente no momento em que é praticado o ato imputado à pessoa.

Art. 43. (CPC) Determina-se a competência no momento do registro ou da


distribuição da petição inicial, sendo irrelevantes as modificações do estado de fato
ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem órgão judiciário ou
alterarem a competência absoluta.

No CPC – art. 43 a 69

No CPP – art. 69 a 91

g) Inafastabilidade (indeclinabilidade) – art. 5º, XXXV da CR;

Consagrando expressamente o princípio da indeclinabilidade (ou da inafastabilidade ou do


controle jurisdicional).

Art. 5º (CR)
XXXV -a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.
Desta forma, a Lei Maior garante o acesso ao Poder Judiciário a todos aqueles que tiverem seu
direito violado ou ameaçado, não sendo possível o Estado-Juiz eximir-se de prover a tutela
jurisdicional

Em suma, o juiz não pode subtrair-se da função jurisdicional, sendo que, mesmo havendo lacuna
ou obscuridade na lei, deverá proferir decisão.

Art. 3º (CPC) Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito.


Art. 140. (CPC) O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade
do ordenamento jurídico.
Parágrafo único. O juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei.

h) Motivação das decisões judiciais – art. 93, IX e X da CR;

O convencimento do juiz deve estar fundamentado nos autos. O convencimento não é livre, mas
aparado pelas provas dos autos. O juiz não poderá decidir com base no que está fora dos autos.
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Decisão omissa em alguns pontos de fato ou de direito cujo exame possa conduzir a julgamento
diferente, não pode ser considerada fundamentada.

Art.5º, LIV (CRFB) – “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido
processo legal”.
Art. 93, IX (CRFB)– “todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão
públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei,
se o interesse público o exigir, limitar a presença, em determinados atos, às próprias
partes e a seus advogados, ou somente a estes”.
Art. 11 CPC – “Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e
fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade.
Parágrafo único. Nos casos de segredo de justiça, pode ser autorizada a presença
somente das partes, de seus advogados, de defensores públicos ou do Ministério
Público”.
Art. 371. (CPC) - “O juiz apreciará a prova constante dos autos, independentemente
do sujeito que a tiver promovido, e indicará na decisão as razões da formação de seu
convencimento”.
Art. 489 (CPC). São elementos essenciais da sentença:
I - o relatório, que conterá os nomes das partes, a identificação do caso, com a suma
do pedido e da contestação, e o registro das principais ocorrências havidas no
andamento do processo;
II - os fundamentos, em que o juiz analisará as questões de fato e de direito;
III - o dispositivo, em que o juiz resolverá as questões principais que as partes lhe
submeterem.
§ 1o Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela
interlocutória, sentença ou acórdão, que:
I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar
sua relação com a causa ou a questão decidida;
II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de
sua incidência no caso;
III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;
IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese,
infirmar a conclusão adotada pelo julgador;
V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus
fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta
àqueles fundamentos;
VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado
pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a
superação do entendimento.

i) Razoável duração do processo – art. 5º, LXXVIII da CR.


Art. 5º, LXXVIII – “a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a
razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua
tramitação” – redação da EC 45/2004

O decurso do tempo pode causar perecimento de direitos e insuportáveis angústias pela espera
de uma tutela jurisdicional. Carnelutti falava em “tempo-inimigo”.

Em 1992, veio o decreto incorporando a convenção Americana de Direitos Humanos – Tratado


de São José da Costa Rica (1969) – art.8º, nº 1:

Artigo 8º - Garantias judiciais


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1. Toda pessoa terá o direito de ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um
prazo razoável, por um juiz ou Tribunal competente, independente e imparcial,
estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação penal
formulada contra ela, ou na determinação de seus direitos e obrigações de caráter
civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza.

j) Princípio da Primazia da Decisão de Mérito:


Deixa claro que a decisão de mérito é prioritária. As partes têm o direito à solução de mérito.
Isso quer dizer que a solução de mérito prefere a solução que não é de mérito.

O juiz tem que julgar o mérito. Só não julga o mérito se não tiver jeito.

Art. 4o (CPC) As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral
do mérito, incluída a atividade satisfativa.

Não se pode deixar de comentar que a última parte desse artigo, quando fala da “atividade
satisfativa”, traz ínsito o princípio da efetividade, desta maneira, o processo deve não somente
ser aquele a solução do conflito através de uma decisão que impõe a regra ao caso concreto,
mas sim aquele que não somente impõe a regra, mas também a faz cumprir, através dos atos
executivos.

k) Princípio de promoção do estado de solução por autocomposição – Art. 3º, §3º


CPC
O estado deve atuar para promover para que as pessoas resolvam os seus conflitos de forma
consensual. Trata-se de verdadeira política pública.

Consagra a Resolução 125/10 do CNJ que regulamentava essa questão, que agora tem o
respaldo de lei, no sentido de que cabe ao estado promover a resolução consensual dos
conflitos.

O §3º prevê que o estímulo é de âmbito nacional, pois caberá a todos os profissionais do direito.

Todo o código estimula de forma exaustiva a mediação e conciliação.

l) Quanto à Boa-fé processual.


Art. 5º (CPC) Aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar-
se de acordo com a boa-fé.

Trata-se de um dos pilares do CPC.

Antes do art. 5º, a doutrina extraía o princípio da boa-fé no devido processo legal. Assim, ele foi
enunciado no art. 5º para não deixar dúvidas.

Outra observação é quanto à redação: de qualquer forma participa do processo. Isso é para
deixar claro que a boa-fé se dirige a todos, inclusive para o juiz, advogados, peritos,
testemunhas, etc.
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No processo, não se fala em boa-fé subjetiva. A norma é a boa-fé objetiva, que consiste no
comportamento humano pautado no padrão ético de conduta.

m) Princípio da Cooperação
Art. 6o Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha,
em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva.

Esse artigo consagra o princípio da cooperação, que tem por objetivo, por meta, transformar o
processo em um ambiente cooperativo, numa comunidade de trabalho em que vigora a lealdade
e o equilíbrio entre os sujeitos do processo. Os sujeitos ficam numa posição equilibrada e com
respeito à lealdade, inclusive o juiz.

Impõe o diálogo entre as partes durante todo o processo e que haja equilíbrio durante todo o
processo. É corolário do princípio da boa-fé.

O desenvolvimento da boa-fé processual também gerou deveres de cooperação processual para


todos os sujeitos do processo – das partes e do juiz.

Cooperação não é ajudar o outro, mas sim agir em conformidade com os deveres da boa-fé.
Gera para o juiz alguns deveres: ACEP

 Dever de auxílio: o dever de auxiliar as partes de remover obstáculos. É o zelo pelo


contraditório. No entanto, o real auxílio às partes é realizado pelos advogados e
defensores. O auxílio do juiz aqui é no contexto geral do processo e não diz respeito aos
respectivos direitos e razões trazidos pelas partes no processo.

 Dever de consulta: aquele do art.10, relacionado ao contraditório. Processo cooperativo


é aquele em que o juiz conversa com as partes.

 Dever de esclarecimento: de um lado, é o dever de dar decisões claras. Por outro, o


dever de pedir esclarecimento da parte se não compreender a sua postulação. Não pode
indeferir se não entendeu. Se não entendeu, pede esclarecimento.

 Dever de prevenção: o juiz tem o dever de apontar as falhas do processo, as falhas


processuais. Tem o dever de prevenir as partes de que há problema no processo e de
como deve ser corrigido. Todos devem cooperar para a decisão de mérito justa e efetiva.
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Invalidades Processuais

Adota-se sistemática diferente daquela estudada no direito material, em que se fala em


nulidade e anulabilidades.

Assim, no âmbito processual os vícios poderão ser:

 Mera irregularidade: a formalidade violada é irrelevante.


 Nulidades: produz efeitos até o vício ser reconhecido e declarada a nulidade
o Nulidade absoluta: resguardo do interesse público. Pode ser decretada pelo juiz,
de ofício. Podem ser reconhecidas a qualquer tempo, durante o processo, e
após, em algumas hipóteses, em ação rescisória.
o Nulidade relativa: resguardo do interesse das partes. Deve ser alegada pelas
partes. Deve ser alegada na primeira oportunidade, sob pena de preclusão.

Os requisitos do processo e atos processuais visam resguardar as garantias mínimas para o


devido processo legal.

O sistema de nulidades não pode ter o simples objetivo de proteger formalidades, mas sim
assegurar a efetividade do processo.

Art. 276. Quando a lei prescrever determinada forma sob pena de nulidade,
a decretação desta não pode ser requerida pela parte que lhe deu causa.
Art. 277. Quando a lei prescrever determinada forma, o juiz considerará
válido o ato se, realizado de outro modo, lhe alcançar a finalidade.
Art. 278. A nulidade dos atos deve ser alegada na primeira oportunidade em
que couber à parte falar nos autos, sob pena de preclusão.

Trata o artigo da convalidação subjetiva

Parágrafo único. Não se aplica o disposto no caput às nulidades que o juiz


deva decretar de ofício, nem prevalece a preclusão provando a parte legítimo
impedimento.

Observar o art. 337 (exceção da incompetência relativa e convenção de arbitragem)

Art. 279. É nulo o processo quando o membro do Ministério Público não for intimado
a acompanhar o feito em que deva intervir.
§ 1o Se o processo tiver tramitado sem conhecimento do membro do Ministério
Público, o juiz invalidará os atos praticados a partir do momento em que ele deveria
ter sido intimado.
§ 2o A nulidade só pode ser decretada após a intimação do Ministério Público, que
se manifestará sobre a existência ou a inexistência de prejuízo.
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Art. 280. As citações e as intimações serão nulas quando feitas sem observância das
prescrições legais.
Art. 281. Anulado o ato, consideram-se de nenhum efeito todos os subsequentes
que dele dependam, todavia, a nulidade de uma parte do ato não prejudicará as
outras que dela sejam independentes.
Art. 282. Ao pronunciar a nulidade, o juiz declarará que atos são atingidos e
ordenará as providências necessárias a fim de que sejam repetidos ou retificados.
§ 1o O ato não será repetido nem sua falta será suprida quando não prejudicar a
parte.
Princípio do prejuízo.

Exemplo: necessidade de citação do réu para comparecimento em audiência, com pelo menos
20 dias, sob pena de invalidade (art. 334), mas mesmo sem o cumprimento do prazo o réu
comparece e celebra acordo.

Trata-se da convalidação objetiva do ato

§ 2o Quando puder decidir o mérito a favor da parte a quem aproveite a


decretação da nulidade, o juiz não a pronunciará nem mandará repetir o ato
ou suprir-lhe a falta.
Art. 283. O erro de forma do processo acarreta unicamente a anulação dos
atos que não possam ser aproveitados, devendo ser praticados os que forem
necessários a fim de se observarem as prescrições legais.
Parágrafo único. Dar-se-á o aproveitamento dos atos praticados desde que
não resulte prejuízo à defesa de qualquer parte.

Convalidação
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Normas fundamentais do processo civil.

Esse primeiro capítulo tem 12 artigos, que não exaurem as normas fundamentais. O rol não é
exaustivo. Há normas que estão na Constituição da República (devido processo legal, por
exemplo e a proibição de prova ilícita). Além disso, há normas fundamentais que estão
espalhadas no código.

O rótulo “normas fundamentais” é porque os 12 artigos consagram regras e princípios. Assim,


as normas podem ser de duas espécies: regras ou princípios.

A Constituição como vértice normativo

Art. 1o O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as


normas fundamentais estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil,
observando-se as disposições deste Código.

Hoje não é possível compreender o processo sem se examinar a CR. Assim, deixa claro que um
código produzido atualmente não pode ser interpretado de forma incompatível com a CR.

Inércia da Jurisdição

O processo se inicia somente por iniciativa das partes:

Art. 2º O processo começa por iniciativa da parte e se desenvolve por impulso oficial,
salvo as exceções previstas em lei.

Art. 312. Considera-se proposta a ação quando a petição inicial for protocolada,
todavia, a propositura da ação só produz quanto ao réu os efeitos mencionados no
art. 240 depois que for validamente citado.

Tradicionalmente, tinha a exceção quanto abrir inventário de ofício. Hoje isso acabou, pois o juiz
não pode mais abrir o inventário.

Solução Consensual dos Conflitos

O art. 3º do CPC prevê não somente a indeclinabilidade (já estudado acima), mas também a
arbitragem e a solução consensual dos conflitos, que deve sempre ser estimulada por todos

Art. 3º Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito.


§ 1º É permitida a arbitragem, na forma da lei.
§ 2º O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos
conflitos.
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§ 3º A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de
conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos
e membros do Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial.

Duração Razoável do Processo

Repetição daquilo que a Constituição trouxe pela EC 45/2004.

Art. 4º As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral


do mérito, incluída a atividade satisfativa.

Boa fé

Já comentado acima e envolve todos os que participam do processo.

Art. 5º Aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar-


se de acordo com a boa-fé.

Cooperação

Altera a forma de condução dos trabalhos para o deslinde da causa, de forma que o processo
passa a ser o ambiente próprio para que se chegue à solução do conflito de interesse através de
solução construída em conjunto, da qual com seus argumentos, alegações e provas a serem
levadas ao processo.

Art. 6º Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha,
em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva.

Igualdade e Contraditório

Igualdade Processual, baseada na paridade de armas

Contraditório baseado nos três aspectos: intimação dos atos processuais, oportunidade das
partes se manifestarem sobre os atos processuais e oportunidade das partes influenciarem na
sorte do processo ( parte ser ouvida no processo ).

Art. 7º É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de


direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à
aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório

Fins Sociais, Bem Comum e Dignidade da pessoa humana


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Art. 8o Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às
exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa
humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a
publicidade e a eficiência.

A dignidade da pessoa humana se confunde com o devido processo legal. A dignidade aparece
para iluminar a interpretação do código.

A terceira parte desse artigo lembra o art. 37 da CR, que cuida dos princípios do direito
administrativo.

“Art. 37 (CR). A administração pública direta, indireta ou fundacional, de qualquer


dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá
aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e, também, ao
seguinte”

A eficiência é um princípio novo quando se fala à sua aplicação ao processo. Se se pensar no


poder judiciário como entidade administrativa, daí há repercussão quanto aos demais órgãos.

A eficiência quando aplicada ao processo, é um princípio que recai sobre o juiz como
administrador de um processo.

Essa gestão de processos é uma atividade administrativa. Assim em sua dimensão processual
recai sobre a figura do julgador como administrador de determinado processo, observando a
eficiência.

 Obter o máximo de uma finalidade com o mínimo de recursos.


 Necessário atingir essa finalidade da melhor forma possível. Da forma mais completa.

Não Surpresa e Dever de Consulta

Não surpresa: não pode o juiz, sem ouvir a parte, decidir contrariamente aos seus interesses

Art. 9º Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente
ouvida.
Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica:
I - à tutela provisória de urgência;
II - às hipóteses de tutela da evidência previstas no art. 311, incisos II e III ;
III - à decisão prevista no art. 701 .

Dever de consulta: trata-se de um dos deveres extraídos do art. 6º que vem expresso no art.10.

Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em
fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se
manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício.
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Ordem cronológica de conclusão (preferencialmente)

Regra de respeito à ordem cronológica de conclusão, preferencialmente. Fundamenta-se na


igualdade e também a duração razoável do processo. Somente se aplica às decisões finais. Há
exceções a essa regra. Há casos em que o juiz pode decidir fora da ordem cronológica.

Art. 12. (CPC) Os juízes e os tribunais atenderão, preferencialmente, à ordem


cronológica de conclusão para proferir sentença ou acórdão. (redação da lei
13.256/2016)
§ 1o A lista de processos aptos a julgamento deverá estar permanentemente à
disposição para consulta pública em cartório e na rede mundial de computadores.
§ 2o Estão excluídos da regra do caput:
I - as sentenças proferidas em audiência, homologatórias de acordo ou de
improcedência liminar do pedido;
II - o julgamento de processos em bloco para aplicação de tese jurídica firmada em
julgamento de casos repetitivos;
III - o julgamento de recursos repetitivos ou de incidente de resolução de demandas
repetitivas;
IV - as decisões proferidas com base nos arts. 485 e 932;
V - o julgamento de embargos de declaração;
VI - o julgamento de agravo interno;
VII - as preferências legais e as metas estabelecidas pelo Conselho Nacional de
Justiça;
VIII - os processos criminais, nos órgãos jurisdicionais que tenham competência
penal;
IX - a causa que exija urgência no julgamento, assim reconhecida por decisão
fundamentada.
§ 3o Após elaboração de lista própria, respeitar-se-á a ordem cronológica das
conclusões entre as preferências legais.
§ 4o Após a inclusão do processo na lista de que trata o § 1o, o requerimento
formulado pela parte não altera a ordem cronológica para a decisão, exceto quando
implicar a reabertura da instrução ou a conversão do julgamento em diligência.
§ 5o Decidido o requerimento previsto no § 4o, o processo retornará à mesma
posição em que anteriormente se encontrava na lista.
§ 6o Ocupará o primeiro lugar na lista prevista no § 1 o ou, conforme o caso, no § 3o,
o processo que:
I - tiver sua sentença ou acórdão anulado, salvo quando houver necessidade de
realização de diligência ou de complementação da instrução;
II - se enquadrar na hipótese do art. 1.040, inciso II.

Com a leitura completa do art. 12 CPC, deve-se ler o art. 153 CPC:

Art. 153. O escrivão ou o chefe de secretaria atenderá, preferencialmente, à ordem


cronológica de recebimento para publicação e efetivação dos pronunciamentos
judiciais. (redação da lei 13.256/2016)
§ 1o A lista de processos recebidos deverá ser disponibilizada, de forma permanente,
para consulta pública.
§ 2o Estão excluídos da regra do caput:
I - os atos urgentes, assim reconhecidos pelo juiz no pronunciamento judicial a ser
efetivado;
II - as preferências legais.
§ 3o Após elaboração de lista própria, respeitar-se-ão a ordem cronológica de
recebimento entre os atos urgentes e as preferências legais.
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§ 4o A parte que se considerar preterida na ordem cronológica poderá reclamar, nos
próprios autos, ao juiz do processo, que requisitará informações ao servidor, a serem
prestadas no prazo de 2 (dois) dias.
§ 5o Constatada a preterição, o juiz determinará o imediato cumprimento do ato e a
instauração de processo administrativo disciplinar contra o servidor.

Relação Jurídica Processual

Independe da relação jurídica de direito material, uma vez que distinguem pelos sujeitos, objeto
e pressupostos (art. 2º CPC e art. 24 e 41 do CPP).

Características da Relação Jurídica Processual

Complexidade: soma de posições jurídicas ativas e passivas.

Progressividade: como se refere a um acúmulo de posições jurídicas, vários atos e fatos


processuais acontecem ao longo do arco processual

Unidade: todos os atos processuais são realizados na direção da obtenção da regra jurídica
concreta, que a sentença

Estrutura tríplice (actum trium personarum): Estado, autor e réu. É uma característica clássica.
Hoje conhece-se o processo policêntrico.

Natureza pública: hoje a presença do Estado ocorre apenas na jurisdição estatal, sendo esta
também uma característica histórica.
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Capacidade

Pontes de Miranda dizia que “A capacidade processual ou de estar em juízo diz respeito à prática
e a recepção eficazes de atos processuais, a começar pela petição e a citação, isto é, ao pedir e
ao ser citado"26.

Art. 70. Toda pessoa que se encontre no exercício de seus direitos tem capacidade
para estar em juízo.
Art. 71. O incapaz será representado ou assistido por seus pais, por tutor ou por
curador, na forma da lei.
Art. 72. O juiz nomeará curador especial ao:
I - incapaz, se não tiver representante legal ou se os interesses deste colidirem com
os daquele, enquanto durar a incapacidade;
II - réu preso revel, bem como ao réu revel citado por edital ou com hora certa,
enquanto não for constituído advogado.
Parágrafo único. A curatela especial será exercida pela Defensoria Pública, nos
termos da lei.

Assim, os pressupostos processuais atuam no âmbito da validade processual, no regular


desenvolvimento do processo.

A questão dos cônjuges – legitimidade para agir em juízo:

Art. 73. O cônjuge necessitará do consentimento do outro para propor ação que verse
sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob o regime de separação
absoluta de bens.
§ 1o Ambos os cônjuges serão necessariamente citados para a ação:
I - que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob o regime de
separação absoluta de bens;
II - resultante de fato que diga respeito a ambos os cônjuges ou de ato praticado por
eles;
III - fundada em dívida contraída por um dos cônjuges a bem da família;
IV - que tenha por objeto o reconhecimento, a constituição ou a extinção de ônus
sobre imóvel de um ou de ambos os cônjuges.
§ 2o Nas ações possessórias, a participação do cônjuge do autor ou do réu somente
é indispensável nas hipóteses de composse ou de ato por ambos praticado.
§ 3o Aplica-se o disposto neste artigo à união estável comprovada nos autos.
Art. 74. O consentimento previsto no art. 73 pode ser suprido judicialmente quando
for negado por um dos cônjuges sem justo motivo, ou quando lhe seja impossível
concedê-lo.
Parágrafo único. A falta de consentimento, quando necessário e não suprido pelo
juiz, invalida o processo.

Representação das pessoas e entes – art. 75

26
MIRANDA, Francisco Cavalcanti Pontes de. Comentários ao Código de Processo Civil. 5ª edição. Rio de
Janeiro: Forense, 1997, t. I, p. 238.
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Art. 75. Serão representados em juízo, ativa e passivamente:
I - a União, pela Advocacia-Geral da União, diretamente ou mediante órgão
vinculado;
II - o Estado e o Distrito Federal, por seus procuradores;
III - o Município, por seu prefeito ou procurador;
IV - a autarquia e a fundação de direito público, por quem a lei do ente federado
designar;
V - a massa falida, pelo administrador judicial;
VI - a herança jacente ou vacante, por seu curador;
VII - o espólio, pelo inventariante;
VIII - a pessoa jurídica, por quem os respectivos atos constitutivos designarem ou,
não havendo essa designação, por seus diretores;
IX - a sociedade e a associação irregulares e outros entes organizados sem
personalidade jurídica, pela pessoa a quem couber a administração de seus bens;
X - a pessoa jurídica estrangeira, pelo gerente, representante ou administrador de
sua filial, agência ou sucursal aberta ou instalada no Brasil;
XI - o condomínio, pelo administrador ou síndico.

Sempre que houver problema quanto à representação, o juiz deverá conceder prazo para que a
mesma seja sanada:

Art. 76. Verificada a incapacidade processual ou a irregularidade da representação


da parte, o juiz suspenderá o processo e designará prazo razoável para que seja
sanado o vício.
§ 1o Descumprida a determinação, caso o processo esteja na instância originária:
I - o processo será extinto, se a providência couber ao autor;
II - o réu será considerado revel, se a providência lhe couber;
III - o terceiro será considerado revel ou excluído do processo, dependendo do polo
em que se encontre.
§ 2o Descumprida a determinação em fase recursal perante tribunal de justiça,
tribunal regional federal ou tribunal superior, o relator:
I - não conhecerá do recurso, se a providência couber ao recorrente;
II - determinará o desentranhamento das contrarrazões, se a providência couber ao
recorrido.

Capacidade Postulatória

A função do advogado é indispensável à administração da justiça:

Art. 133 (CR). O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo


inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei.

Os atos e manifestações dos advogados, nos limites traçados pelo Lei, são invioláveis.

A capacidade postulatória é justamente a aptidão para a prática de atos processuais.

A falta de capacidade postulatória causa a extinção do processo e nulidade dos atos praticados
sem a mesma.

“Art. 1º (Lei 8.906/94) São atividades privativas de advocacia:


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I - a postulação a qualquer órgão do Poder Judiciário e aos juizados
especiais; (Vide ADIN 1.127-8)
II - as atividades de consultoria, assessoria e direção jurídicas.
§ 1º Não se inclui na atividade privativa de advocacia a impetração de habeas corpus
em qualquer instância ou tribunal.
§ 2º Os atos e contratos constitutivos de pessoas jurídicas, sob pena de nulidade, só
podem ser admitidos a registro, nos órgãos competentes, quando visados por
advogados.
§ 3º É vedada a divulgação de advocacia em conjunto com outra atividade.
Art. 2º O advogado é indispensável à administração da justiça.
§ 1º No seu ministério privado, o advogado presta serviço público e exerce função
social.
§ 2º No processo judicial, o advogado contribui, na postulação de decisão favorável
ao seu constituinte, ao convencimento do julgador, e seus atos constituem múnus
público.
§ 3º No exercício da profissão, o advogado é inviolável por seus atos e manifestações,
nos limites desta lei.
Art. 3º O exercício da atividade de advocacia no território brasileiro e a denominação
de advogado são privativos dos inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB),
§ 1º Exercem atividade de advocacia, sujeitando-se ao regime desta lei, além do
regime próprio a que se subordinem, os integrantes da Advocacia-Geral da União,
da Procuradoria da Fazenda Nacional, da Defensoria Pública e das Procuradorias e
Consultorias Jurídicas dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e das
respectivas entidades de administração indireta e fundacional.
§ 2º O estagiário de advocacia, regularmente inscrito, pode praticar os atos previstos
no art. 1º, na forma do regimento geral, em conjunto com advogado e sob
responsabilidade deste.
Art. 4º São nulos os atos privativos de advogado praticados por pessoa não inscrita
na OAB, sem prejuízo das sanções civis, penais e administrativas.
Parágrafo único. São também nulos os atos praticados por advogado impedido - no
âmbito do impedimento - suspenso, licenciado ou que passar a exercer atividade
incompatível com a advocacia.
Art. 5º O advogado postula, em juízo ou fora dele, fazendo prova do mandato.
§ 1º O advogado, afirmando urgência, pode atuar sem procuração, obrigando-se a
apresentá-la no prazo de quinze dias, prorrogável por igual período.
§ 2º A procuração para o foro em geral habilita o advogado a praticar todos os atos
judiciais, em qualquer juízo ou instância, salvo os que exijam poderes especiais.
§ 3º O advogado que renunciar ao mandato continuará, durante os dez dias
seguintes à notificação da renúncia, a representar o mandante, salvo se for
substituído antes do término desse prazo”
".

Note que a lei pode outorgar capacidade postulatória a quem não é advogado. Além disso, deve-
se observar que nem todo ato processo exige capacidade postulatória (ato de testemunhar).

Postular significa pedir ao Estado-Juiz uma providência, esse sim é privativo dos advogados,
sendo que em alguns casos é outorgado a quem não o é (juizados especiais, causas trabalhistas,
habeas corpus, solicitação de medida protetiva à Luz da lei Maria da Penha – Lei 11.340/2006 -
, nos arts.19 e 27).
58
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O Estagiário

"Art. 29 (REGULAMENTO GERAL DO ESTATUTO DA ADVOCACIA E DA OAB). Os atos


de advocacia, previstos no Art. 1° do Estatuto, podem ser subscritos por estagiário
inscrito na OAB, em conjunto com o advogado ou o defensor público.
§ 1° O estagiário inscrito na OAB pode praticar isoladamente os seguintes atos, sob
a responsabilidade do advogado:
I - retirar e devolver autos em cartório, assinando a respectiva carga;
II - obter junto aos escrivães e chefes de secretarias certidões de peças ou autos de
processos em curso ou findos;
III - assinar petições de juntada de documentos a processos judiciais ou
administrativos.
§ 2° Para o exercício de atos extrajudiciais, o estagiário pode comparecer
isoladamente, quando receber autorização ou substabelecimento do advogado”

Pode o Advogado Postular sem Procuração??

Art. 104 (CPC). O advogado não será admitido a postular em juízo sem procuração,
salvo para evitar preclusão, decadência ou prescrição, ou para praticar ato
considerado urgente.
§ 1o Nas hipóteses previstas no caput, o advogado deverá, independentemente de
caução, exibir a procuração no prazo de 15 (quinze) dias, prorrogável por igual
período por despacho do juiz.
§ 2o O ato não ratificado será considerado ineficaz relativamente àquele em cujo
nome foi praticado, respondendo o advogado pelas despesas e por perdas e danos.

A procuração é instrumento indispensável.

Procuração.

Art. 105. A procuração geral para o foro, outorgada por instrumento público ou
particular assinado pela parte, habilita o advogado a praticar todos os atos do
processo, exceto receber citação, confessar, reconhecer a procedência do pedido,
transigir, desistir, renunciar ao direito sobre o qual se funda a ação, receber, dar
quitação, firmar compromisso e assinar declaração de hipossuficiência econômica,
que devem constar de cláusula específica.
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Sujeitos do Processo

Sujeitos do processo: é a expressão ampla que quer compreender todo aquele que participa do
processo. Essa expressão designa tanto os sujeitos parciais (partes e terceiros intervenientes)
como os imparciais (juiz).

Os demais exercentes das funções essenciais à administração da justiça, como advogados MP e


Defensoria também, nesta perspectiva ampla também seriam sujeitos do processo.

Partes: “são os sujeitos parciais do processo. São aqueles que participam em contraditório da
formação do resultado do processo”27.

Deveres daquele que de qualquer forma participa do processo:

Art. 77. Além de outros previstos neste Código, são deveres das partes, de seus
procuradores e de todos aqueles que de qualquer forma participem do processo:
I - expor os fatos em juízo conforme a verdade;
II - não formular pretensão ou de apresentar defesa quando cientes de que são
destituídas de fundamento;
III - não produzir provas e não praticar atos inúteis ou desnecessários à declaração
ou à defesa do direito;
IV - cumprir com exatidão as decisões jurisdicionais, de natureza provisória ou final,
e não criar embaraços à sua efetivação;
V - declinar, no primeiro momento que lhes couber falar nos autos, o endereço
residencial ou profissional onde receberão intimações, atualizando essa informação
sempre que ocorrer qualquer modificação temporária ou definitiva;
VI - não praticar inovação ilegal no estado de fato de bem ou direito litigioso.
§ 1o Nas hipóteses dos incisos IV e VI, o juiz advertirá qualquer das pessoas
mencionadas no caput de que sua conduta poderá ser punida como ato atentatório
à dignidade da justiça.
§ 2o A violação ao disposto nos incisos IV e VI constitui ato atentatório à dignidade
da justiça, devendo o juiz, sem prejuízo das sanções criminais, civis e processuais
cabíveis, aplicar ao responsável multa de até vinte por cento do valor da causa, de
acordo com a gravidade da conduta.
§ 3o Não sendo paga no prazo a ser fixado pelo juiz, a multa prevista no § 2 o será
inscrita como dívida ativa da União ou do Estado após o trânsito em julgado da
decisão que a fixou, e sua execução observará o procedimento da execução fiscal,
revertendo-se aos fundos previstos no art. 97.
§ 4o A multa estabelecida no § 2o poderá ser fixada independentemente da incidência
das previstas nos arts. 523, § 1o, e 536, § 1o.
§ 5o Quando o valor da causa for irrisório ou inestimável, a multa prevista no § 2 o
poderá ser fixada em até 10 (dez) vezes o valor do salário-mínimo.
§ 6o Aos advogados públicos ou privados e aos membros da Defensoria Pública e do
Ministério Público não se aplica o disposto nos §§ 2 o a 5o, devendo eventual
responsabilidade disciplinar ser apurada pelo respectivo órgão de classe ou
corregedoria, ao qual o juiz oficiará.

27
CÂMARA, Alexandre Freitas, O Novo Processo Civil Brasileiro, 3ª Edição, São Paulo: Atlas, 2017.
60
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§ 7o Reconhecida violação ao disposto no inciso VI, o juiz determinará o
restabelecimento do estado anterior, podendo, ainda, proibir a parte de falar nos
autos até a purgação do atentado, sem prejuízo da aplicação do § 2 o.
§ 8o O representante judicial da parte não pode ser compelido a cumprir decisão em
seu lugar.

O inciso VI acima, retrata o que antes era chamado de “Atentado”. Por exemplo, uma discussão
de demarcação de terras, sendo que uma das partes manda derrubar vegetação retirando os
marcos iniciais.

Outro exemplo de inovação ilegal é o cônjuge que tenta alienar os bens já arrolados em ação
judicial

Uso de expressões ofensivas

Art. 78. É vedado às partes, a seus procuradores, aos juízes, aos membros do
Ministério Público e da Defensoria Pública e a qualquer pessoa que participe do
processo empregar expressões ofensivas nos escritos apresentados.
§ 1o Quando expressões ou condutas ofensivas forem manifestadas oral ou
presencialmente, o juiz advertirá o ofensor de que não as deve usar ou repetir, sob
pena de lhe ser cassada a palavra.
§ 2o De ofício ou a requerimento do ofendido, o juiz determinará que as expressões
ofensivas sejam riscadas e, a requerimento do ofendido, determinará a expedição de
certidão com inteiro teor das expressões ofensivas e a colocará à disposição da parte
interessada.

Litigância de má-fé e dano processual

Art. 79. Responde por perdas e danos aquele que litigar de má-fé como autor, réu ou
interveniente.
Art. 80. Considera-se litigante de má-fé aquele que:
I - deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei ou fato incontroverso;
II - alterar a verdade dos fatos;
III - usar do processo para conseguir objetivo ilegal;
IV - opuser resistência injustificada ao andamento do processo;
V - proceder de modo temerário em qualquer incidente ou ato do processo;
VI - provocar incidente manifestamente infundado;
VII - interpuser recurso com intuito manifestamente protelatório.
Art. 81. De ofício ou a requerimento, o juiz condenará o litigante de má-fé a pagar multa,
que deverá ser superior a um por cento e inferior a dez por cento do valor corrigido da causa,
a indenizar a parte contrária pelos prejuízos que esta sofreu e a arcar com os honorários
advocatícios e com todas as despesas que efetuou.
§ 1o Quando forem 2 (dois) ou mais os litigantes de má-fé, o juiz condenará cada um na
proporção de seu respectivo interesse na causa ou solidariamente aqueles que se coligaram
para lesar a parte contrária.
§ 2o Quando o valor da causa for irrisório ou inestimável, a multa poderá ser fixada em até
10 (dez) vezes o valor do salário-mínimo.
§ 3o O valor da indenização será fixado pelo juiz ou, caso não seja possível mensurá-lo,
liquidado por arbitramento ou pelo procedimento comum, nos próprios autos.
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O Juiz

É o sujeito imparcial do processo. “A qualidade de terceiro estranho ao conflito em causa é


essencial à condição de juiz”28.

O juiz, no processo, exerce poderes administrativos (ou de polícia) e jurisdicionais. Os primeiros


se referem à necessidade evitar perturbações e desordens. Já os jurisdicionais dizem respeito
aos atos processuais em si, que se destinam à elucidação do caso levado a juízo.

Visando a garantia de imparcialidade e julgamentos justos, a Constituição da República trouxe


as seguintes garantias e restrições à magistratura:

Art. 95 (CR). Os juízes gozam das seguintes garantias:


I - vitaliciedade, que, no primeiro grau, só será adquirida após dois anos de
exercício, dependendo a perda do cargo, nesse período, de deliberação do tribunal
a que o juiz estiver vinculado, e, nos demais casos, de sentença judicial transitada
em julgado;
II - inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, na forma do art. 93, VIII;
III - irredutibilidade de vencimentos, observado, quanto à remuneração, o que
dispõem os arts. 37, XI, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I.
III - irredutibilidade de subsídio, ressalvado o disposto nos arts. 37, X e XI, 39, § 4º,
150, II, 153, III, e 153, § 2º, I. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de
1998)
Parágrafo único. Aos juízes é vedado:
I - exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo uma de
magistério;
II - receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participação em processo;
III - dedicar-se à atividade político-partidária.
IV - receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas
físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei;
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
V - exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos
três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração. (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

Autor e Réu

Autor: aquele que vai a juízo para deduzir uma pretensão (res in iudicium deducta).

Réu: pessoa em face da qual a pretensão é deduzida.

Dependendo da natureza do processo os vocábulos autor e réu recebem variantes, mas com o
mesmo significado acima: exequente x executado; demandante x demandado; credor x
devedor, e assim sucessivamente.

28
CINTRA, Antônio Carlos de Araújo, GRINOVER, Ada Pelegrini, DINAMARCO, Cândido Rangel, Teoria
Geral do Processo, 13ª Edição, São Paulo: Malheiros, 1997, p.297.
62
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O Advogado

São essenciais à administração da justiça, uma vez que guardam “condições psicológicas e
intelectuais de colaborar para que o processo atinja sua finalidade de eliminar conflitos e
controvérsias com a realização da justiça. A serenidade e os conhecimentos técnicos são as
razões que legitimam a participação do advogado na defesa das partes”29.

Art. 133(CR). O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável


por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei.

O CPC traz a obrigatoriedade de representação por advogado, sendo guardada a possibilidade


do advogado, que tiver habilitação legal, postular em causa própria:

Art. 103(CPC). A parte será representada em juízo por advogado regularmente


inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil.
Parágrafo único. É lícito à parte postular em causa própria quando tiver habilitação
legal.
Tema importantíssimo é sobre a postulação sem procuração:

Art. 104(CPC). O advogado não será admitido a postular em juízo sem procuração,
salvo para evitar preclusão, decadência ou prescrição, ou para praticar ato
considerado urgente.
§ 1o Nas hipóteses previstas no caput, o advogado deverá, independentemente de
caução, exibir a procuração no prazo de 15 (quinze) dias, prorrogável por igual
período por despacho do juiz.
§ 2o O ato não ratificado será considerado ineficaz relativamente àquele em cujo
nome foi praticado, respondendo o advogado pelas despesas e por perdas e danos.

Necessário observar os poderes especiais, que precisam constar de forma expressa na


procuração.

Art. 105(CPC). A procuração geral para o foro, outorgada por instrumento público ou
particular assinado pela parte, habilita o advogado a praticar todos os atos do
processo, exceto receber citação, confessar, reconhecer a procedência do pedido,
transigir, desistir, renunciar ao direito sobre o qual se funda a ação, receber, dar
quitação, firmar compromisso e assinar declaração de hipossuficiência econômica,
que devem constar de cláusula específica.
§ 1o A procuração pode ser assinada digitalmente, na forma da lei.
§ 2o A procuração deverá conter o nome do advogado, seu número de inscrição na
Ordem dos Advogados do Brasil e endereço completo.
§ 3o Se o outorgado integrar sociedade de advogados, a procuração também deverá
conter o nome dessa, seu número de registro na Ordem dos Advogados do Brasil e
endereço completo.
§ 4o Salvo disposição expressa em sentido contrário constante do próprio
instrumento, a procuração outorgada na fase de conhecimento é eficaz para todas
as fases do processo, inclusive para o cumprimento de sentença.

29
CINTRA, Antônio Carlos de Araújo, GRINOVER, Ada Pelegrini, DINAMARCO, Cândido Rangel, Teoria
Geral do Processo, 13ª Edição, São Paulo: Malheiros, 1997, p.300.
63
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Prerrogativas trazidas pelo CPC:

Art. 107(CPC). O advogado tem direito a:


I - examinar, em cartório de fórum e secretaria de tribunal, mesmo sem procuração,
autos de qualquer processo, independentemente da fase de tramitação,
assegurados a obtenção de cópias e o registro de anotações, salvo na hipótese de
segredo de justiça, nas quais apenas o advogado constituído terá acesso aos autos;
II - requerer, como procurador, vista dos autos de qualquer processo, pelo prazo de
5 (cinco) dias;
III - retirar os autos do cartório ou da secretaria, pelo prazo legal, sempre que neles
lhe couber falar por determinação do juiz, nos casos previstos em lei.
§ 1o Ao receber os autos, o advogado assinará carga em livro ou documento próprio.
§ 2o Sendo o prazo comum às partes, os procuradores poderão retirar os autos
somente em conjunto ou mediante prévio ajuste, por petição nos autos.
§ 3o Na hipótese do § 2o, é lícito ao procurador retirar os autos para obtenção de
cópias, pelo prazo de 2 (duas) a 6 (seis) horas, independentemente de ajuste e sem
prejuízo da continuidade do prazo.
§ 4o O procurador perderá no mesmo processo o direito a que se refere o § 3o se não
devolver os autos tempestivamente, salvo se o prazo for prorrogado pelo juiz. § 5º
O disposto no inciso I do caput deste artigo aplica-se integralmente a processos
eletrônicos. (Incluído pelaLei nº 13.793, de 2019)
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Litisconsórcio

Presença de duas ou mais pessoas no polo passivo (litisconsórcio passivo), ativo (litisconsórcio
ativo) ou em ambos, ao mesmo tempo (misto), em um único processo.

Razões para existência de litisconsórcio:

a) Harmonização dos julgados;


b) Para evitar a existência de decisões divergentes;
c) Economia processual.

Para formação do litisconsórcio é necessário que haja afinidade de pelo menos um ponto
comum.

A conexidade de pretensões é o que conduz à conexidade

Art. 113. Duas ou mais pessoas podem litigar, no mesmo processo, em conjunto, ativa ou
passivamente, quando:
I - entre elas houver comunhão de direitos ou de obrigações relativamente à lide;
II - entre as causas houver conexão pelo pedido ou pela causa de pedir;
III - ocorrer afinidade de questões por ponto comum de fato ou de direito.
§ 1o O juiz poderá limitar o litisconsórcio facultativo quanto ao número de litigantes na fase
de conhecimento, na liquidação de sentença ou na execução, quando este comprometer a
rápida solução do litígio ou dificultar a defesa ou o cumprimento da sentença.
§ 2o O requerimento de limitação interrompe o prazo para manifestação ou resposta, que
recomeçará da intimação da decisão que o solucionar.

 Originário x ulterior

 Necessário x facultativo.

Necessário: indispensável a presença de duas ou mais pessoas; de formação obrigatória. Tal


obrigatoriedade pode ser prevista em lei ou em razão da relação jurídica de direito material ser
incindível, ou seja, não haja em se desconstruir a relação para um sem que seja desconstituída
também para o outro (casamento, contratos).

*Quando for necessário em razão da relação jurídica incindível, também será unitário, posto que
a decisão deverá ser uniforme para os respectivos litisconsortes. Porém, se o litisconsórcio for
unitário for força de lei, poderá ser unitário ou simples (usucapião).

Art. 114. O litisconsórcio será necessário por disposição de lei ou quando, pela natureza da
relação jurídica controvertida, a eficácia da sentença depender da citação de todos que
devam ser litisconsortes.
65
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Art. 115. A sentença de mérito, quando proferida sem a integração do contraditório, será:
I - nula, se a decisão deveria ser uniforme em relação a todos que deveriam ter integrado o
processo;
II - ineficaz, nos outros casos, apenas para os que não foram citados.
Parágrafo único. Nos casos de litisconsórcio passivo necessário, o juiz determinará ao autor
que requeira a citação de todos que devam ser litisconsortes, dentro do prazo que assinar,
sob pena de extinção do processo.

Facultativo: de formação não obrigatória.

 Comum (simples) x unitário

Comum: admite decisões diferentes para os litisconsórcios.

Unitário: quando a sentença deve ser a mesma para todos os litisconsórcios em razão
da natureza uma e incindível da relação jurídica (contrato e casamento).

Observação: Em regra, o litisconsórcio unitário também é necessário. No entanto, há


uma exceção, que é justamente aquela que envolve legitimidade extraordinária, em que
é unitário, mas nem todos aqueles que serão açambarcados pela decisão não estão no
processo. Exemplo são as ações possessória:, ou reivindicatórias de bens em
condomínio, embora a coisa seja una e tenha vários titulares, as ações possam ser
ajuizadas por apenas um deles
.

Art. 116. O litisconsórcio será unitário quando, pela natureza da relação jurídica, o juiz tiver
de decidir o mérito de modo uniforme para todos os litisconsortes.
Art. 117. Os litisconsortes serão considerados, em suas relações com a parte adversa, como
litigantes distintos, exceto no litisconsórcio unitário, caso em que os atos e as omissões de
um não prejudicarão os outros, mas os poderão beneficiar.

Outras normas processuais em relação aos litisconsórcio:

Art. 118. Cada litisconsorte tem o direito de promover o andamento do processo, e todos
devem ser intimados dos respectivos atos.

Art. 229. Os litisconsortes que tiverem diferentes procuradores, de escritórios de advocacia


distintos, terão prazos contados em dobro para todas as suas manifestações, em qualquer
juízo ou tribunal, independentemente de requerimento.
§ 1o Cessa a contagem do prazo em dobro se, havendo apenas 2 (dois) réus, é oferecida
defesa por apenas um deles.
§ 2o Não se aplica o disposto no caput aos processos em autos eletrônicos.

Art. 345. A revelia não produz o efeito mencionado no art. 344 se:
I - havendo pluralidade de réus, algum deles contestar a ação;
Art. 1.005. O recurso interposto por um dos litisconsortes a todos aproveita, salvo se
distintos ou opostos os seus interesses.
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SUCESSÃO PROCESSUAL E SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL

Sucessão: alteração das partes de um processo já formado. Em casos de morte,


fusão/cisão/extinção de PJs (art. 110).

A sucessão particular decorre da alienação da coisa litigiosa ou do direito litigioso (art.109)

Há sujeito que se exclui da relação processual e um outro que passa a integrá-lo.

Art. 109. A alienação da coisa ou do direito litigioso por ato entre vivos, a título particular,
não altera a legitimidade das partes.
§ 1o O adquirente ou cessionário não poderá ingressar em juízo, sucedendo o alienante ou
cedente, sem que o consinta a parte contrária.
§ 2o O adquirente ou cessionário poderá intervir no processo como assistente litisconsorcial
do alienante ou cedente.
§ 3o Estendem-se os efeitos da sentença proferida entre as partes originárias ao adquirente
ou cessionário.
Art. 110. Ocorrendo a morte de qualquer das partes, dar-se-á a sucessão pelo seu espólio ou
pelos seus sucessores, observado o disposto no art. 313, §§ 1 o e 2o.

Substituição: legitimidade de um sujeito para agir em nome próprio, mas no interesse alheio

Art. 18. Ninguém poderá pleitear direito alheio em nome próprio, salvo quando autorizado
pelo ordenamento jurídico.
Parágrafo único. Havendo substituição processual, o substituído poderá intervir como
assistente litisconsorcial.

DECISÃO STJ

08/08/2016 14:12

Associação só pode defender associados em juízo se houver expressa


autorização

As associações dependem de autorização expressa para ingressar em juízo


na defesa de seus associados. Com base nesse entendimento firmado pelo
Supremo Tribunal Federal (STF), a Terceira Turma do Superior Tribunal de
Justiça (STJ) reconheceu a ilegitimidade ativa da Associação Nacional dos
Funcionários do Banco do Brasil (ANABB) para pedir em juízo indenização
em favor de seus associados.

Na origem, a ANABB ajuizou ação civil pública contra o Banco do Brasil e a


Associação de Poupança e Empréstimo Poupex para obter reposição de
perdas monetárias nas cadernetas de poupança de seus associados,
devido à falta de pagamento de expurgos inflacionários relativos a diversos
planos econômicos.

Fins institucionais

O magistrado de primeiro grau extinguiu o processo, sem julgar o mérito,


por entender que a autora não tem legitimidade para promover a defesa de
consumidores em juízo.
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O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) manteve
a sentença. Para o tribunal, o direito dos associados de serem defendidos
na ação coletiva deve integrar os fins institucionais da associação.

No recurso especial interposto no STJ, a ANABB defendeu que a cláusula


do seu estatuto que autoriza a defesa judicial dos interesses para os quais
foi constituída seria suficiente para o ajuizamento da ação coletiva, ainda
que não haja menção expressa de que atua em defesa de interesses de
consumidores.

Representação

O relator, ministro João Otávio de Noronha, afirmou que a demanda envolve


direitos individuais homogêneos, pois pertencem a indivíduos determinados
ou determináveis.

Ele mencionou entendimento adotado pelo STF em setembro de 2014,


segundo o qual a atuação das associações se dá por representação, e não
por substituição processual.

Em outras palavras, elas dependem de autorização expressa para agir em


juízo em nome dos associados, exceto se atuar por meio de mandado de
segurança coletivo (Recurso Extraordinário 573.232).

“Assim, considerando que, no caso presente, a ANABB não apresentou a


necessária autorização expressa exigida pela Constituição Federal, senão
apenas buscou amparar-se nos seus objetivos estatutários, forçoso o
reconhecimento de sua ilegitimidade ativa”, concluiu.

Da Redação

Esta notícia refere-se ao(s) processo(s): REsp 1325278


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Intervenção de Terceiros

É o ingresso de um sujeito em processo pendente entre outros, como parte.

Assistência

Ingresso de terceiro com interesse jurídico na demanda, na prolação de decisão favorável a uma
das partes, de forma voluntária, com o objetivo de promover auxílio.

Art. 119. Pendendo causa entre 2 (duas) ou mais pessoas, o terceiro juridicamente
interessado em que a sentença seja favorável a uma delas poderá intervir no processo para
assisti-la.
Parágrafo único. A assistência será admitida em qualquer procedimento e em todos os graus
de jurisdição, recebendo o assistente o processo no estado em que se encontre.

Não há limite temporal. Pode ocorrer, inclusive, em fase de recurso

Duas espécies de assistência: simples e a litisconsorcial

 Simples: a relação jurídica é conexa daquela que é objeto do processo. A decisão tem
eficácia reflexa na relação de direito material em que é parte o assistente.

Exemplo: sublocatário, na ação de despejo do locatário.

Art. 121. O assistente simples atuará como auxiliar da parte principal, exercerá os
mesmos poderes e sujeitar-se-á aos mesmos ônus processuais que o assistido.
Parágrafo único. Sendo revel ou, de qualquer outro modo, omisso o assistido, o
assistente será considerado seu substituto processual.
Art. 122. A assistência simples não obsta a que a parte principal reconheça a
procedência do pedido, desista da ação, renuncie ao direito sobre o que se funda a
ação ou transija sobre direitos controvertidos.
Art. 123. Transitada em julgado a sentença no processo em que interveio o
assistente, este não poderá, em processo posterior, discutir a justiça da decisão, salvo
se alegar e provar que:
I - pelo estado em que recebeu o processo ou pelas declarações e pelos atos do
assistido, foi impedido de produzir provas suscetíveis de influir na sentença;
II - desconhecia a existência de alegações ou de provas das quais o assistido, por dolo
ou culpa, não se valeu.

 Assistência litisconsorcial: quando houver relação direta entre o assistente e o


adversário do assistido. Quando for alegado interesse jurídico imediato ao discutido no
processo. É a hipótese do litisconsorte passivo facultativo unitário ulterior. O terceiro,
portanto, assume condição de parte no processo.
Exemplos:
a) Adquirente de coisa litigiosa (art. 109, §2º). Substituído do art. 18, parágrafo único;
b) Cotitular da relação jurídica – condômino;
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Art. 124. Considera-se litisconsorte da parte principal o assistente sempre que a
sentença influir na relação jurídica entre ele e o adversário do assistido.

Chamamento ao Processo

Trata-se de espécie de intervenção de terceiro provocada, pela qual o réu, no prazo da


contestação, tem a possibilidade de chamar ao processo os outros devedores, que também
atuarão no polo passivo da lide e serão condenados na mesma sentença, caso o pedido seja
julgado procedente. Note-se que o devedor que quitar a dívida ficará sub-rogado nos direitos
do credor, podendo exigir dos demais a respectiva cota. Sendo assim, é por meio do
chamamento ao processo que o réu chama os demais coobrigados para que participem da lide
na mesma posição que ele.

Art. 130. É admissível o chamamento ao processo, requerido pelo réu:


I - do afiançado, na ação em que o fiador for réu;
II - dos demais fiadores, na ação proposta contra um ou alguns deles;
III - dos demais devedores solidários, quando o credor exigir de um ou de alguns o
pagamento da dívida comum.
Art. 131. A citação daqueles que devam figurar em litisconsórcio passivo será
requerida pelo réu na contestação e deve ser promovida no prazo de 30 (trinta) dias,
sob pena de ficar sem efeito o chamamento.
Parágrafo único. Se o chamado residir em outra comarca, seção ou subseção
judiciárias, ou em lugar incerto, o prazo será de 2 (dois) meses.
Art. 132. A sentença de procedência valerá como título executivo em favor do réu que
satisfizer a dívida, a fim de que possa exigi-la, por inteiro, do devedor principal, ou,
de cada um dos codevedores, a sua quota, na proporção que lhes tocar.

Denunciação da lide

Ação de denunciação da lide é proposta por qualquer das partes, contra um terceiro, para ver
declarado seu direito de regresso, na eventualidade de vir a sucumbir na ação principal.

Art. 125. É admissível a denunciação da lide, promovida por qualquer das partes:
I - ao alienante imediato, no processo relativo à coisa cujo domínio foi transferido ao
denunciante, a fim de que possa exercer os direitos que da evicção lhe resultam;

O CC/02, no art. 456 foi revogado. O impacto dessa revogação é que se deixa claro que a
denunciação não é obrigatória e não se perde o direito de regresso. A não denunciação não gera
a perda do direito de regresso. Assim, a denunciação não é obrigatória. Além disso, a revogação
do art. 456 faz com que fique vedada a denunciação da lide per saltum, que parecia ser permitida
pelo art. 456 CC. Assim, não se admitida a denunciação per saltum. Ou consequência é que só
se admite uma denunciação da lide. O CPC/73 admite a denunciação sucessiva, já o novo não.

A denunciação da lide pelo réu, deve ser na contestação. Assim como a denunciação da lide pelo
autor é na petição inicial.
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II - àquele que estiver obrigado, por lei ou pelo contrato, a indenizar, em ação
regressiva, o prejuízo de quem for vencido no processo.

Não se admite denunciação da lide nos juizados especiais (Lei 9.099/95, art. 20).

Estabelece o artigo 126 que a citação deve ser requerida na petição inicial, sendo denunciante
o autor, e na contestação, sendo denunciante o réu.

Da decisão que nega a denunciação cabe agravo de instrumento (art. 1.015, IX).

§ 1o O direito regressivo será exercido por ação autônoma quando a denunciação da


lide for indeferida, deixar de ser promovida ou não for permitida.

§ 2o Admite-se uma única denunciação sucessiva, promovida pelo denunciado, contra


seu antecessor imediato na cadeia dominial ou quem seja responsável por indenizá-
lo, não podendo o denunciado sucessivo promover nova denunciação, hipótese em
que eventual direito de regresso será exercido por ação autônoma.

Proibição de denunciação per saltum

Art. 126. A citação do denunciado será requerida na petição inicial, se o denunciante


for autor, ou na contestação, se o denunciante for réu, devendo ser realizada na
forma e nos prazos previstos no art. 131.
Art. 127. Feita a denunciação pelo autor, o denunciado poderá assumir a posição de
litisconsorte do denunciante e acrescentar novos argumentos à petição inicial,
procedendo-se em seguida à citação do réu.
Art. 128. Feita a denunciação pelo réu:
I - se o denunciado contestar o pedido formulado pelo autor, o processo prosseguirá
tendo, na ação principal, em litisconsórcio, denunciante e denunciado;
II - se o denunciado for revel, o denunciante pode deixar de prosseguir com sua
defesa, eventualmente oferecida, e abster-se de recorrer, restringindo sua atuação à
ação regressiva;
III - se o denunciado confessar os fatos alegados pelo autor na ação principal, o
denunciante poderá prosseguir com sua defesa ou, aderindo a tal reconhecimento,
pedir apenas a procedência da ação de regresso.
Parágrafo único. Procedente o pedido da ação principal, pode o autor, se for o caso,
requerer o cumprimento da sentença também contra o denunciado, nos limites da
condenação deste na ação regressiva.
Art. 129. Se o denunciante for vencido na ação principal, o juiz passará ao julgamento
da denunciação da lide.
Parágrafo único. Se o denunciante for vencedor, a ação de denunciação não terá o
seu pedido examinado, sem prejuízo da condenação do denunciante ao pagamento
das verbas de sucumbência em favor do denunciado.

Amicus Curiae

É um terceiro interessado no processo (parcial) que ingressa no processo para fornecer


elementos e subsídios em contribuição para o julgamento da causa.

Pode ser pessoa natural ou jurídica, e até mesmo um órgão ou entidade sem personalidade
jurídica (art. 138).
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Deve ter representatividade adequada, isto é, deve o amicus curiae ser alguém capaz de
representar, de forma adequada, o interesse que busca ver protegido no processo.

Ao amicus curiae interessa que uma das partes saia vencedora na causa, e fornecerá ao órgão
jurisdicional elementos que evidentemente se destinam a ver essa parte obter resultado
favorável

O interesse pode ser institucional, mas não direto ou vinculado ao interesse da causa.

Trata-se de uma intervenção que pode ser voluntária (já que, nos termos do art. 138 do novo
CPC, aquele que pretenda manifestar-se como amicus curiae pode requerer seu ingresso no
processo) ou forçada (já que pode se dar por requerimento das partes, podendo também ser
determinada de ofício pelo juiz ou relator)

A intervenção do amicus curiae não implica alteração de competência

Incumbe ao juiz ou relator, na decisão que admitir ou determinar a intervenção do amicus


curiae, definir quais serão seus poderes processuais. Cabe ao magistrado, então, a decisão
acerca da possibilidade de o amicus curiae ir além da mera apresentação de uma petição com
os elementos que possa oferecer ao juízo

Art. 138. O juiz ou o relator, considerando a relevância da matéria, a especificidade


do tema objeto da demanda ou a repercussão social da controvérsia, poderá, por
decisão irrecorrível, de ofício ou a requerimento das partes ou de quem pretenda
manifestar-se, solicitar ou admitir a participação de pessoa natural ou jurídica, órgão
ou entidade especializada, com representatividade adequada, no prazo de 15
(quinze) dias de sua intimação.
§ 1o A intervenção de que trata o caput não implica alteração de competência nem
autoriza a interposição de recursos, ressalvadas a oposição de embargos de
declaração e a hipótese do § 3o.
§ 2o Caberá ao juiz ou ao relator, na decisão que solicitar ou admitir a intervenção,
definir os poderes do amicus curiae.
§ 3o O amicus curiae pode recorrer da decisão que julgar o incidente de resolução de
demandas repetitivas.

Desconsideração da Personalidade jurídica

Deve ser operado mediante procedimento próprio.

Por isso, determina-se a citação do polo passivo do incidente, que contará com o prazo regular
de 15 dias para se manifestar.

Não existe a desconsideração da personalidade jurídica ex oficio, sendo resolvido por decisão
interlocutória que poderá ser desafiada por Agravo de Instrumento.

O juiz, exercendo o poder geral de cautela, pode conceder tutela para precatar o resultado útil
do incidente.
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É cabível em todas as fases do processo de conhecimento, no cumprimento de sentença e
também na execução fundada em título executivo extrajudicial".

Art. 133. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica será instaurado a


pedido da parte ou do Ministério Público, quando lhe couber intervir no processo.
§ 1o O pedido de desconsideração da personalidade jurídica observará os
pressupostos previstos em lei.
§ 2o Aplica-se o disposto neste Capítulo à hipótese de desconsideração inversa da
personalidade jurídica.

Neste caso, quem comete ato fraudulento e desviado de sua finalidade é o sócio, e não a
administração da empresa em si.

Neste caso, os bens do sócio são o alvo da execução, e é necessário desconsiderar-se a


personalidade justamente para que a jurisdição possa atingi-los

Art. 134. O incidente de desconsideração é cabível em todas as fases do processo de


conhecimento, no cumprimento de sentença e na execução fundada em título
executivo extrajudicial.
§ 1o A instauração do incidente será imediatamente comunicada ao distribuidor para
as anotações devidas.
§ 2o Dispensa-se a instauração do incidente se a desconsideração da personalidade
jurídica for requerida na petição inicial, hipótese em que será citado o sócio ou a
pessoa jurídica.
§ 3o A instauração do incidente suspenderá o processo, salvo na hipótese do § 2 o.
§ 4o O requerimento deve demonstrar o preenchimento dos pressupostos legais
específicos para desconsideração da personalidade jurídica.
Art. 135. Instaurado o incidente, o sócio ou a pessoa jurídica será citado para
manifestar-se e requerer as provas cabíveis no prazo de 15 (quinze) dias.
Art. 136. Concluída a instrução, se necessária, o incidente será resolvido por decisão
interlocutória.
Parágrafo único. Se a decisão for proferida pelo relator, cabe agravo interno.
Art. 137. Acolhido o pedido de desconsideração, a alienação ou a oneração de bens,
havida em fraude de execução, será ineficaz em relação ao requerente.
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Forma dos atos processuais (modo, tempo e lugar)

Forma dos atos processuais: conjunto de aspectos externos do ato. A lei pode impor certas
exigências referentes ao modo, lugar e tempo de realização de cada ato do processo.

Sem o atendimento, o ato padecerá de desconformidade, podendo ser considerado inexistente,


nulo ou ineficaz.

Os requisitos intrínsecos compõe a manifestação de vontade.

Os demais requisitos são exteriores.

O CPC faz solene proclamação da liberdade das formas, já que prevê que eles não dependem de
forma determinada senão quando a lei expressamente exigir.

Art. 188. Os atos e os termos processuais independem de forma determinada, salvo


quando a lei expressamente a exigir, considerando-se válidos os que, realizados de
outro modo, lhe preencham a finalidade essencial.

Trata-se, portanto, da aplicação do princípio da instrumentalidade das formas.

Prazos

Conceito: distância temporal entre dois atos estabelecidos em lei. Entre dois termos (a quo e o
ad quem).

Distância máxima ou prazos máximos: exigência de que os atos sejam realizados até um certo
dia, sendo que se realizados posteriormente não serão eficaz. São chamados de aceleratórios
ou peremptórios, já que visam impulsionar o processo.

O seu descumprimento provoca a preclusão.

Exemplo: prazo para contestação: 15 dias a partir da audiência de conciliação – art. 335.

Art. 335. O réu poderá oferecer contestação, por petição, no prazo de 15 (quinze)
dias, cujo termo inicial será a data:
I - da audiência de conciliação ou de mediação, ou da última sessão de conciliação,
quando qualquer parte não comparecer ou, comparecendo, não houver
autocomposição;
II - do protocolo do pedido de cancelamento da audiência de conciliação ou de
mediação apresentado pelo réu, quando ocorrer a hipótese do art. 334, § 4o, inciso I;
III - prevista no art. 231, de acordo com o modo como foi feita a citação, nos demais
casos.
Se o réu não apresentar resposta no prazo de 15 dias, será revel (não será intimado para os atos
posteriores – o processo corre independentemente de intimação- e as afirmações do autor
poderão ser tidas como verdadeiras).
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Exemplo: Prazo para interposição de apelação – se protocolada fora do prazo, não impedirá o
trânsito em julgado.

Prazos mínimos: imposição de uma espera para realização de certo ato, como condição para que
possa ser realizado o ato subsequente. São considerados dilatórios, pois impedem o
prosseguimento do processo sem o cumprimento daquele prazo mínimo.

O seu descumprimento provoca nulidade.

Exemplo1: o comparecimento de uma pessoa somente será exigível a partir de 48 horas depois
de sua intimação:

Art. 218. Os atos processuais serão realizados nos prazos prescritos em lei.
§ 1o Quando a lei for omissa, o juiz determinará os prazos em consideração à
complexidade do ato.
§ 2o Quando a lei ou o juiz não determinar prazo, as intimações somente
obrigarão a comparecimento após decorridas 48 (quarenta e oito) horas.
§ 3o Inexistindo preceito legal ou prazo determinado pelo juiz, será de 5
(cinco) dias o prazo para a prática de ato processual a cargo da parte.
§ 4o Será considerado tempestivo o ato praticado antes do termo inicial do
prazo.

Preclusão

Conceito: é a perda de uma faculdade processual imposta pela lei em determinados casos.

Espécies de preclusão:

 Temporal: imposta como consequência do não exercício de uma faculdade


 Consumativa: quando decorrer da prática do ato, de forma que não é possível a sua
repetição.
Exemplo1: apresentado um recurso, não pode querer apresenta-lo novamente por achar
que o mesmo não foi bem elaborado.
 Lógica: em razão da incompatibilidade entre a faculdade ou seu exercício com uma
conduta já realizada pela parte
Exemplo1: se reconheceu o direito do autor, não pode apresentar contestação

Os prazos podem ser próprios ou impróprios:

 Próprios: são os preclusivos.


 Impróprios: fixados para o juiz tão somente cumprimento de dever e não de interesse
no processo
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Cartas

o De Ordem
o Precatórias
o Rogatórias
o Arbitral

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