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Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES

Centro de Ciências Sociais Aplicadas – CCSA


Curso de Direito
Disciplina – Metodologia da Pesquisa do Trabalho Jurídico

Ficha Analítica
Título: A Era dos Direitos
Referência: BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. 1 ed. 12. Tir. Rio de Janeiro: Campus, 1992.
Aluno: Renan Ribeiro da Silva

Introdução

Norberto Bobbio foi um escritor, filósofo político, historiador e senador vitalício


italiano, Defensor da democracia social. Conhecido principalmente por seus escritos concisos,
lógicos e ainda assim densos.
Noberto Bobbio escreveu sua obra "A Era do Direito", com a ajuda de Michelangelo
Bovero e Luigi Bonanate, o livro trata dos problemas dos direitos humanos ligados à
democracia e suas proteções.
A introdução do livro aborda principalmente os direitos fundamentais e as relações de
mudanças  que se configuraram entre os cidadãos e o estado moderno, onde cada indivíduo
possui direitos fundamentais para uma vida com dignidade, dentro de uma organização
estatal. 
Bobbio relata que para que haja uma democracia, é necessária a proteção desses
direitos pelo estado. O autor destaca a importância que esses direitos representam para cada
pessoa, direitos esses direitos que são garantidos pela constituição, um conjunto de normas, de
nível hierárquico dentro da sociedade. O professor Lenio Streck, jurista brasileiro, assume
uma posição similar ao afirmar que: "A efetivação dos direitos fundamentais está conectada
com a noção do Estado Democrático de Direito construído a partir do preenchimento de
lacunas ao longo da história, em que apontam promessas como a igualdade, justiça social e a
garantia dos direitos fundamentais e sociais." (STRECK, 2013, p.150).
Na obra estão contidas três teses mencionadas pelo o autor: a que os direitos humanos
são direitos históricos, de que nasce juntamente com a concepção individualistas da sociedade
na era moderna moderna e de que se tornaram um dos principais indicadores do progresso
histórico. Essas teses serão discutidas durante a introdução e ao longo de todo o livro.
Bobbio sempre defendeu fortemente que os direitos dos homens são direitos
históricos, por mais fundamentais que sejam. Eles nasceram de forma gradual, não todos de
uma só vez, em circunstâncias com características de lutas em defesas de novas liberdade e

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contra velhos poderes. José Joaquim Gomes Canotilho partilha de entendimento semelhante,
ele afirma que:
“A colocação do problema – boa ou má deixa claramente intuir que o filão do discurso
subseqüente – destino da razão republicana em torno dos direitos fundamentais – se localiza no terreno
da história política, isto é, no locus globalizante onde se procuram captar as idéias, as mentalidades, o
imaginário, a ideologia dominante a consciência coletiva, a ordem simbólica e a cultura política.”  
(GOMES CANOTILHO, 2004, p. 9)

Noberto Bobbio fixa os direitos dos homens, e a paz como a base da democracia, pois
sem os direitos do homem reconhecidos e protegidos, não existem condições mínimas para
ela. A democracia é a sociedade dos cidadãos e tendo seus direitos reconhecidos, haverá paz
estável. O especialista em Direito Internacional Mehrdad Payandeh, em seu texto intitulado
"Porque democracia e direitos humanos são as duas faces de uma medalha", expressa uma
opinião similar à de Noberto Bobbio, e diz que são os direitos humanos que garantem; as
eleições livres e justas; uma comunicação aberta; um processo de livre formação de opinião; e
a implementação das decisões tomadas democraticamente. Segundo Payandeh, a democracia
e os direitos humanos caminham lado a lado, e são atinentes ao êxito da comunidade política.

Primeira Parte

Sobre os Fundamentos dos Direitos dos Homens


No tópico "Sobre os Fundamentos dos Direitos dos Homens", Bobbio se propõe a
discutir três temas, sendo eles: Qual o sentido do problema que nos pusemos a acerca do
fundamento absoluto dos direitos dos homens; Se um fundamento absoluto é possível e se,
caso seja possível, e também desejável.
Bobbio relata que o problema do fundamento de um direito se mostra diferente se essa
busca é de um direito que já se tem, ou de um direito que gostaria de ter. Pois no primeiro
caso se investiga no ordenamento jurídico positivado, no qual é titular de direitos e deveres,
no segundo caso tenta-se buscar boas razões para defender o direito em questão, e convencer
a maior quantidade de pessoas a reconhecê-la.
Os direitos são coisas desejáveis, são fins que merecem ser perseguidos mas que,
apesar disso, ainda não foram reconhecidos em sua totalidade. Estamos convencidos que o
meio adequado para que eles obtenham um reconhecimento mais amplo, é trazer motivos para
justificar a nossa escolha e a escolha que gostaríamos que os outros tivessem feito.

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Primeiramente, o autor aponta que a expressão "Diretos do Homem" é uma expressão


muito vaga, e se pergunta como é possível colocar o fundamento de direitos dos quais é
impossível dar uma noção precisa. Miranda por sua vez, utilizando-se do termo "Direitos dos
Povos" faz uma definição mais clara acerca desse termo:
"Utiliza-se a expressão direitos dos povos para designar aqueles a direitos que os povos têm de
determinar seu destino, no campo político, social, cultural, econômico, o direito de se relacionar com
outros Estados, direito a paz, não abrangendo, entretanto os direitos da pessoas como individuais,
concretas, insubstituíveis." (MIRANDA, 2000, p. 68).
Em segundo lugar, Bobbio argumenta pela constante transformação e abundância dos
direitos fundamentais ao dizer que os direitos do homem constituem uma classe variável,
como demonstrado nos últimos séculos, não se concebe como seria possível atribuir um
fundamento absoluto a direitos historicamente relativos. Com isso ele conclui que esses
direitos não são determináveis, mas estão em constante criação e evolução.
O autor define que além de variável e mal definível, a classe dos direitos do homem é
heterogênea, pois entre os direitos abordados na declaração, há pretensões muito diversas
entre si, e até mesmo incompatíveis.
O fundamento absoluto não se trata apenas de uma ilusão, mas também um pretexto
para defender posições conservadoras. Não se trata de encontrar um fundamento absoluto,
mas de buscar os vários fundamentos possíveis, porém essa busca não terá nenhuma
importância histórica se não for acompanhada pelo estudo das condições, meio e situações
que o direito pode ser realizado.
Presente e Futuro dos Direitos do Homem
No tópico “Presente e Futuro dos Direitos do Homem” Bobbio inicia dizendo que o
grande problema desse tempo com relação ao direito dos homens, não era mais fundamentá-
los, mas sim protegê-los. Esse problema não é filosófico, mas jurídico e político em um
sentido mais amplo. Se trata de garantir que esses direitos não sejam continuamente violados.
Entende-se então, que ele considerava o problema do fundamento dos direitos dos homens
como resolvidos.
Esse problema foi solucionado com a Declaração Universal dos direitos humanos,
aprovada em dezembro de 1848, pela Assembleia Geral das Nações Unidas. Somente depois
dela é que temos certeza histórica de que a toda a humanidade divide alguns valores em
comum, podemos crer na universalidade dos valores. Ana Maria D’Ávila Lopes, Mestre e
Doutora em Direito Constitucional pela Universidade Federal de Minas Gerais. Expressa
opinião parecida com a de Bobbio ao dizer: “Quando a comunidade internacional reconhece a

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importância da DUDH para o estabelecimento de um mínimo de proteção a todo ser humano,


através de cada Estado que a ratificou, este não foi senão o primeiro passo do processo de sua
universalização.” (LOPES, 2011)
A terceira e última fase na qual a afirmação dos direitos é universal é,
simultaneamente positiva e universal, tem início com a Declaração de 1948. Universal pois
não se direciona apenas a um determinado estado, mas para todos os homens, e positiva pois
serão efetivamente protegidos, e não apenas ideologicamente reconhecidos.
Segundo Bobbio, a Declaração Universal é como um resumo do passado e uma luz
para o futuro, ela marca a consciência da humanidade com os próprios valores. Por sua vez
CASSIN, considerado um dos pais da Declaração, se manifesta da seguinte maneira acerca da
amplitude e da universalidade da mesma:
“Esta Declaração se caracteriza, primeiramente, por sua amplitude. Compreende um conjunto
de direitos e faculdades sem as quais o ser humano não pode desenvolver sua personalidade física,
moral e intelectual. Sua segunda característica é a universalidade: é aplicável a todas as pessoas de
todos os países, raças, religiões e sexos, seja qual for o regime político dos territórios nos quais incide.
Ao finalizar os trabalhos, a Assembléia Geral, graças à minha proposição, proclamou a Declaração
Universal, tendo em vista que, até então, ao longo dos trabalhos, era denominada Declaração
internacional. Ao fazê-lo, conscientemente, a comunidade internacional reconheceu que o indivíduo é
membro direto da sociedade humana, na condição de sujeito direto do Direito das Gentes.
Naturalmente, é cidadão de seu país, mas também é cidadão do mundo, pelo fato mesmo da proteção
internacional que lhe é assegurada. Tais são as características centrais da Declaração.” (CASSIN, p.
130)

Bobbio diz que a comunidade internacional se vê atualmente diante da dificuldade de


continuar aperfeiçoando o conteúdo da declaração, de forma a não permitir que as normas se
tornem rígidas e vazias, e não só de fornecer e garantir aqueles direitos.
Noberto Bobbio conclui que o fortalecimento da implementação da proteção aos
direitos humanos está relacionado ao desenvolvimento global da civilização humana. Isso não
pode, em nenhuma hipótese ser isolado, pois isolá-lo significaria perdê-lo.
A Era do Direito
No tópico “A Era do Direito”, tópico que dá nome ao livro, é descrito sobre o
problema do reconhecimento dos direitos dos homens, problema esse que existe desde o
início da era moderna, com a ampliação das doutrinas jusnaturalistas e posteriormente com o
Estado de Direito. Porém, vale ressaltar que somente após a segunda guerra mundial, é que
esse problema se tornou de âmbito internacional, envolvendo todos os povos.
O progresso moral e o progresso técnico e científico, são duas coisas que se
diferenciam muito uma da outra. Primeiramente porque o conceito de moral já é algo bastante

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problemático, e mesmo que houvesse um acordo acerca desse termo, a moral não é algo que
pode ser medida. Em contrapartida, o progresso técnico e científico é efetivo e possui
indicadores precisos. Embora o autor tenha expressado a dificuldade em medir a efetividade
do progresso moral, ele pontua alguns fatos históricos relevantes, que em sua concepção, são
indicativos do progresso moral humano. A busca da preservação da integridade física e moral
do homem, a descoisificação da pessoa humana e a busca da preservação da vida, por
exemplo, sinalizam esse progresso.
Bobbio cita Kant, ao falar sobre a problemática do conceito de moral. Segundo Kant, a
“consciência moral” com a sua grande influência da educação cristã, está relacionada ao
fortalecimento de um estado de sofrimento e infelicidade.
O autor cita o exemplo de um preceito considerado fundamental nos fundamentos da
moral, o de “não matar”. Ele conclui então que tal preceito visa evitar a desagregação do
próprio grupo, e não apenas a proteção individual. Algo que deixa isso bem claro, é que isso
se aplica unicamente dentro do grupo, não se aplicando em membros de outros grupos.
Bobbio explica que para que fosse possível a transição entre o código de deveres e o
código de direitos, foi necessário que o problema da moral fosse considerado por aquele
indivíduo, e não mais unicamente do ponto de vista da sociedade.
A base filosófica de todas as democracias é o individualismo, cada pessoa representa
um voto, uma vontade e opinião. O poder e a liberdade somente se derivam do
reconhecimento dos direitos fundamentais como os direitos do homem, que são invioláveis e
inalienáveis. Contrapondo-se à Edmundo Burke, que dizia que “Os indivíduos desaparecem
como sombras; somente a comunidade é fixa e estável”.
O autor então conclui que em um estado despótico, os indivíduos possuem apenas
deveres. Em um estado absoluto, indivíduos têm direitos privados em relação ao soberano. Já
em um estado de direito, os indivíduos possuem tanto direitos quanto deveres, pois o estado
de direito é o estado dos cidadãos.
Direito do Homem e Sociedade
No tópico “Direito do Homem e Sociedade”, Bobbio diz que para não confundir
planos bem distintos, se estabelece que o desenvolvimento da prática e principalmente da
teoria dos direitos dos homens, acontece após a guerra, em duas principais direções, na de sua
multiplicação, e na sua universalização. O autor se refere principalmente às etapas necessárias

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para expandir os direitos humanos, entre essas etapas, a proclamação da Declaração Universal
dos Direitos Humanos em 1948, período pós guerra.
Bobbio explica que a universalização dos direitos dos homens se deu de três maneiras:
O homem passou a ser visto de forma concreta e específica, de diversas formas há sociedade,
como por exemplo doente, crianças, idoso, e deixou de ser considerado como ente abstrato ou
genérico; Houve um aumento da quantidade dos considerados bens que cabiam tutela;
Ocorreu a extensão da titularidade de alguns dos direitos considerados típicos a sujeitos
diversos do homem. Aqui ele deixa claro mais uma vez, que a conquista desses direitos foi
algo gradual, e não previamente estabelecido.
Os direitos naturais, não são direitos propriamente ditos do ponto de vista do
ordenamento jurídico. São unicamente premissas que procuram validade, com o objetivo de,
eventualmente, se tornarem um novo ordenamento jurídico, com o atributo de um novo modo
de proteção dos mesmos. A transição de um determinado ordenamento jurídico para outro,
não ocorre de maneira preestabelecida, mas sim, em um determinado contexto social.
O autor encerra esse tópico dizendo que a extensão do debate teórico acerca dos
direitos dos homens e os limites do processo de efetivação da proteção deles no sistema
internacional e nos Estados particulares é algo extremamente defasado. A única maneira de
superar essa defasagem, é por meio das forças políticas. Porém, os sociólogos do direito são,
entre os cultores de disciplinas jurídicas, os que estão em melhores condições de documentar,
explicar e analisar essa defasagem. Ele deixa então bem claro o poder de transformação que a
política, a sociologia e o direito possuem na sociedade.

REFERÊNCIAS:

BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. 1 ed. 12. Tir. Rio de Janeiro: Campus, 1992.

CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Estudos sobre Direitos Fundamentais. Coimbra:


Coimbra Editora, 2004.

CASSIN, René apud PIOVESAN, Flávia. Op. Cit. P. 130.

LOPES, Ana Maria D’Avilla. A era dos direitos de Bobbio: entre a historicidade e a
atemporalidade. Disponível em:
<http://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/242925/000936205.pdf?sequence=3>.
Acesso em: 28/05/2015.

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MIRANDA, Jorge. Manual de Direito Constitucional Tomo IV. 3 ed. Coimbra: Coimbra
editora, 2000.

PAYANDEH, Mehrdad. Porque democracia e direitos humanos são as duas faces de uma
medalha. Deutschland. Disponível em:
https://www.deutschland.de/pt-br/topic/politica/direitos-humanos-e-democracia . Acesso em:
31 de out. de 2021.

STRECK, Lenio Luiz. Jurisdição constitucional e decisão jurídica. 3. Ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2013.

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