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Livros publicados nesta Coleção sob os auspícios da

Sociedade Brasileira de Direito Público - sbdp ADRIANA VOJVODIC


Jurisdição Constitucional no Brasil (sbdp/Malheiros Editores, São Paulo, 2012) - HENRIQUE MOTTA PINTO
Orgs. ADRIANA Vmvomc, HENRIQUE MOITA PINTO, PAULA GoRZONI e RooR100
PAGANI :)E SOUZA PAULA GORZONI
Direito Administrativo para Céticos (sbdp/Direito GV/Malheiros Editores, São Pau-
lo, 2012) - CARLOS ARI SuNDFEW RODRIGO PAGANI DE SOUZA
Parcerias Público-Privadas (sbdp/Direito GV/Malheiros Editores, 2ª ed., São Paulo,
2011) -Coord. CARLOS ARI SuNDPELD (Organizadores))
Direito das Concessões de Serviço Público - Inteligência da Lei 8.98711995 (Parte
Geral) (sbdp/Malheiros Editores, São Paulo, 2010)- EooN BocKMANN MOREIRA
Concessão (sbdp/Malheiros Editores, São Paulo, 2010) - VERA MoNTEtRo
Comentdrios à Lei de PPP - Parceria Público-Privada (Fundamentos Econômi-
cos-Juridicos) (sbdp!Malheiros Editores, 1ª ed., 2 11 tir., São Paulo, 2010) - MAu-
RíCJO PORTUGAL RIBEIRO e LUCAS NAVARRO PRADO
Estatuto da Cidade (sbdp/Malheiros Editores, 311 ed., São Paulo, 2010) - Coords. JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL
ADILSON ABREU ÜALLARI e SÉRGIO FERRAZ
Jurisprudência Constitucional: Como Decide o STF? (.'i·bdp/Malheiros Editores, São NO BRASIL
Paulo, 2009) - Orgs. Drooo R. COUTINHO e ADRIANA Vmvomc
Direito Administrativo Econômico (sbdp/Malheiros Editores, 1" ed., 311 tir., São Pat1lo,
2006) - Coord. CARLOS Am SuNDFELD ANDRÉ IANJÁCOMo RosILHo • ANDRESsA LIN FmEus
As Leis de Processo Administrativo - Lei Federal 9.784/1999 e Lei Paulista BRUNA DE BEM ESTEVES• CAMILA BATISTA PrNTO • CARLOS ARI SuNDFELD
10.177/1998 (s;bdp/Malheiros Editores, 1' ed., 2' tir., São Paulo, 2006)- Coords. CAROLINA IGNÁCIO PONCE • CONRADO HüBNER MENDES • FELIPE DE PAULA
CARLOS ARI SuNDFELD e GUILLERMO ANDRÉS MuNoz FELIPE ÜUARTE GONÇALVES VENTURA DE PAULA• FELIPE KAZUO TATENO
Direito Processual Público -A Fazenda Pública em Juíza (sbdp/Malheiros Editores, FRJ,JPE PENTEADO BALERA • FJLLIPI MARQUES BORGES • FLÁVIA ANNENBERG
111 ed., 2ª tir., São Paulo, 2003) - Coords. CARLOS ARr SuNDFELD e CAssm ScARPI- FLÁVIO BEICKER • GABRIELA ROCHA• GUILHERME MARTINS PELLEGRINI
NELLA BUENO
lsADORA BRANDÃO • LíVIA GIL GUIMARÃES
Improbidade Administrativa - Questões Polêmicas e Atuais (sbdp/Malheiros Edito-
Luís FERNANDO MATRICARor RODRIGUES • LuízA ANDRADE CoRRÊA
res, 2u ed., São Paulo, 2003)- Coords. CAssm ScARPINELLA BuENO e PEDRO PAULO
DE REZENDE PORTO FILHO MARIA ÜLÍVIA PESSONI JUNQUEIRA• MARIANA FERREIRA CARDOSO DA SILVA

Comunidades Quilombolas: Direito à Terra (Artigo 68 do ADCT) (sbdp/Centro de


MARIANA M. C. CHAIMOVICH • MARINA CARDOSO DE FREITAS
Pesquisas Aplicadas/Fundação Cultural Palmares/Ministério da Cultura/Editora NATÁLIA LOPES COSTA. PAULO MASSI ÜALLARI
Abaré, Brasília, 2002) - Coord. CARLOS ARI SuNDFELD
Direito Global (sbdp/School of Global Law/Max Limonad, São Paulo, 1999)-Coords.
CARLOS ARI SUNDFELD e ÜSCAR VILHENA VIEIRA
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PEDRO GUILI-IERME LINDENBERG SCHOUERI • RAFAEL BELLEM DE LIMA
RODRIGO SARMENTO BARATA. VERJDIANA ALIMONTJ

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C.-11u~1ko - - MALHEIROS .. .. .. .. .. ..
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DIREITOGV
302 JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL NO BRASIL

VELOSO, Zeno. Controle Jurisdicional de Constitucionalidade. 2ª ed. Belo


Horizonte, Dei Rey, 2000.
VILLALÓN, Pedro Cruz. La Formaci6n dei Sistema Europeo de Control de
Constitucionalidad. Madri, Centro de Estudios Constitucionales, 1987.

MOTIVOS QUE LEVAM AO USO DA INTERPRETAÇÃO


CONFORME A CONSTITUIÇÃO PELO STF'- 1

GutUJERME MARTINS PELLEGRINI

1. Introdução. 2. A origem da interpretação conforme a Constitui-


ção. 3, Motivos de adoção da interpretação conforme a Constituição:
3 .1 Uso para evitar vácuo legislativo ou bloquear retorno a uma
ordem normativa indesejada - 3 .2 Uso para regular objeto que
necessitava urgentemente de normas, do qual surgiriam graves
riscos se houvesse falta de regulação - 3 .3 Uso para preservar o
trabalho do legislador quando a norma apresentar hipóteses cons-
titucionais de aplicação - 3.4 Uso para dar eficácia e salvar nor-
mas - 3 .5 Uso para minimizar a interf-er&ncia em emenda constitu-
cional. 4. Conclusão.

1. lntrodução
1,.
O controle de constitucionalidade brasileiro, tanto o concreto
como o abstrato, apresentou, desde o final da década de 1980,2 a par-

* Resumo: O uso da interpretação conforme a Constituição encontra-se consa-


1
grado no STF. Destarte, analisando empiricamente os casos nos quais a técnica inter-
pretativa é aplicada, é possível identificar alguns motivos que levam à sua adoção na
jurisprudência do Tribunal. Ademais, há uma predominância na utilização da inter-
pretação conforme a Constituição no controle concentrado de constitucionalidade,
Palavras-chave: Controle de Constitucionalidade; Interpretação Conforme a
Constituição; Lei 9.868/1999; Motivos. 1

1. O presente artigo foi desenvolvido a partir de monografia apresentada à sbdp 11


como trabalho de conclusão do curso da Escola de Formação do ano de 2007, sob a 1.
orientação de Bruno Ramos Pereira. A versão original encontra-se disponível no en-
dereço http://www.sbdp.org .br/ver_monografia.php? idMono=97.
2. O controle abstrato somente veio a ser objeto de uso da interpretação confor-
me a Constituição na década de 1990.
'i!
304 JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL NO BRASIL INTERPRETAÇÃO CONFORME A CONSTITUIÇÃO 305

tir de conceituações jurisprudenciais e doutrinárias de outros Países,' (i) a presunção de constitucionalidade, (ii) a unidade da ordem jurídi-
uma nova técnica de decisão que, de certa forma, se afasta da mais ca e (iii) a preservação do trabalho legislativo.7
comum declaração de inconstitucionalidade ou constitucionalidade Assim, os motivos - conceito central do trabalho - abarcam tanto
da norma. o pressuposto quanto as justificativas para a adoção da interpretação
Intitulou-se tal método de interpretação conforme a Constitui- conforme a Constituição. Logo, o intuito do trabalho é, basicamente,
ção,4 a qual, sem o intuito de ser definitiva ou abarcar todas as concei- verificar (i) quais são os motivos presentes para o uso da técnica na
tuações já firmadas, pode ser conceituada da seguinte maneira: diante jurisprudência do STF e (ii) a congruência que apresentam com a hi-
de uma norma que abarca, em sua interpretação, múltiplos sentidos, pótese tradicional.
deve-se adotar, graças à unidade da ordem jurídica, à preservação do Para isso, foram procurados acórdãos sobre o tema no sítio ele-
trabalho legislativo e à presunção de constitucionalidade das normas, trônico do STF.' A pesquisa das expressões "interpretação adj. con-
aquela interpretação que seja mais compatível - conforme - com a forme" e "interpretação adj. conforme adj. constituição" resultou em
Constituição, excluindo todas as demais.5 mais de 200 acórdãos nos quais aparecem as expressões, A monogra-
Dessa forma, há um pressuposto para o uso da interpretação con- fia da qual decorre este artigo analisa os resultados da pesquisa com
forme, que é a pluralidade de sentidos da norma, sendo um deles com- maiores detalhes. Por uma questão de espaço, irei abordar as conclu-
patível com a Constituição, e três fundamentos que justificam a apli- sões da monografia por meio da indicação e exposição dos casos mais
significativos do tema.
cação do sentido que está em maior conformidade com a Constituição:'

3. Há notadamente, quando da introdução da técnica na jurisprudência do STF, 2. A origem da interpretação


referência aos Estados Unidos, à Itália e à Alemanha. Virgílio Afonso da Silva ("La conforme a Constituição
interpretación conforme a la Constitución: entre la trivialidad y la centralización ju-
",, dicial", Cuestiones Constitucionales 798/3-28, 2005) refere-se a diversos outros Paí- A pai· da análise intrínseca dos votos e dos casos nos quais a in-
li
ses que utilizam de forma parecida a técnica a ser descrita. terpretação conforme a Constitnição é utilizada, bons indícios sobre
4. A expressão abreviada "interpretação conforme", disseminada na jurispru-
o modo de utilização da técnica podem ser obtidos com a observação
dência do STF, também será, por vezes, adotada aqui.
5. Para essa definição utilizei, principalmente: Gilmal' Ferreira Mendes, Ju- da classe de ações nas quais mais aparece, Assim, antes de tratar dos
risdição Constitucional, São Paulo, Saraiva, 2005, pp. 287-295 e 346-357; José casos específicos em que a interpretação é utilizada, creio ser benéfico
Joaquim Gomes Canotilho, Direito Constitucional, Coimbra, Livraria Almedina, efetuar essa contextualização.
1993, pp. 229-230; Paulo Bonavides, Teoria Constitucional da Democracia Par-
ticipativa, São Paulo, Malheiros Editores, 2003, pp. 254-261; e o acórdão da Rp Procurei verificar em qual modo de controle de constituciona-
1.417 (rel. Min. Moreira Alves), pp. 33-43. As paginações dos acórdãos refe- lidade o uso da técnica interpretativa é mais assíduo, classificando as
rem-se à formatação do, programa em que se encontram disponíveis para download ações nas quais os votos vencedores apresentaram a interpretação
no sítio do STF, e não à página do processo. Todas essas referências mencionam conforme a Constituição. Os casos em que a proposta de interpretação
a polissemia de sentidos como base para a realização da interpretação conforme
a Constituição. As três justificativas, porém, não se encontram em todas essas
restou vencida ficaram fora da classificação, pois o objetivo da quan-
menções; apresentam variações que eliminam ou acrescentam outras razões. Ape- tificação foi também verificar em qual espécie de controle a técnica é
nas tive que estabelecer um conceito-base para o desenvolvimento do restante do mais bem sucedida.
trabalho.
6. Emprego no trabalho, indistintamente, os conceitos de "interpretação'', "com-
preensão" e "aplicação", na linha da teoria hermenêutica de Hans-Georg Gadamer. 7. Essa conceituação encontra-se na teoria da interpretação conforme a Constih
Para o desenvolvimento da ideia, v. Hans-Georg Gadamer, Verdade e Método, Petró- tuição. Cf. nota de rodapé 5, para maiores referências.
polis, Vozes, 2002, especialmente pp. 459-465. 8. www.stfJus.br. A pesquisa em 20.9.2010 retornou 216 resultados.

;j
JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL NO BRASIL JNTERPRETAÇÃO CONFORME A CONSTJTUIÇÃO 307
306

Tabela 1 - Origem dos votos vencedores que apresentaram abstrato, os quais muitas vezes precisam ser devidamente delineados
interpretação conforme a Constituição em seus limites temporal, espacial, pessoal ou material.
··.
. Modo de .controle . l'roporção .
.
3. Motivos de adoção da interpretação conforme a Constituição
Concentrado 88 (81,48%)
Para descobrir os motivos de adoção da interpretação conforme,
Difuso 20 (18,52%) precisa-se determinar uma relação de causalidade entre um argumen-
Total 108 (100%) to e a conclusão à qual se chega. No entanto, realizar essa análise em
~córdãos do STF pode ser extremamente complicado, devido à plura-
lidade de argumentos e conclusões diversas que emergem dos votos
Como se pode perceber, há uma incidência mnito maior da inter- individuais. Como determinar que o argumento detectado, o qual po-
pretação conforme no controle concentrado de constitucionalidade. deria explicar o aparecimento da interpretação conforme, é realmente
Este foi talvez o principal fenômeno descoberto na pesquisa, já qne o argumento principal que leva à decisão por meio dessa interpreta-
1
com tal dado é possível levantar algumas hipóteses para explicar o nso ção, ou seja, sua ratio decidendi? 10 Um modo de inferir a causalidade ?
da interpretação conforme. e~t.re argumento e conclusão presente no voto poderia ser, frente à •I
"j
Primeiramente, não há como não se referir à tradição de nso da dificuldade ou até mesmo impossibilidade de realização da tarefa
interpretação conforme a Constituição no controle abstrato para tentar descrita, declarar, no mais das vezes, que o argumento detectado para
explicar o fenômeno, até porque já bonve voto abarcando o entendi- o emprego da interpretação conforme é apenas um dentre vários utili-
mento de que ela não pode ser usada no controle difuso? No entanto, zados no voto em questão e que, caso fosse excluído, não necessaria-
uma única referência à tradição não é capaz de explicar inteiramente mente ruiria o uso da interpretação conforme a Constituição. Apesar
a dicotomia existente. de relativizar muitas das conclusões aqui obtidas, essa última posição
facilitaria o desenvolvimento do trabalho.
Uma explicação é a de que o Tribunal se sente menos motivado
a utilizar a interpretação conforme no controle difuso por ela não ter, Na metodologia do trabalho, porém, optei por não seguir estrita-
nesses casos, efeito vinculante e valer tão somente para a ação julgada mente nenhum dos dois caminhos. Se a causalidade fosse, de certa
naquele instante. A predisposição para usar a interpretação conforme maneira, visível, caberia a mim demonstrá-la. Já, quando não fosse
a Constituição no controle concentrado estaria atrelada, assim, ao possível determinar concretamente a relação entre argumento e deci-
ensejo de regular a situação de modo geral e com irrestrita aplicabili- são, ?P~i pela segunda opção acima exposta. Assim, a escolha que
dade da interpretação oferecida. segm fm dupla, conforme as possibilidades de cada acórdão.
Outrossim, também cumpre vislumbrar que no controle concen-
trado o Tribunal analisa a norma de forma abstrata. Assim, as hipóte- 3 .1 Uso para evitar vácuo legislativo ou bloquear retorno
ses de aplicação da norma levadas em conta no julgamento são muito a uma ordem normativa indesejada
mais amplas que aquelas oferecidas no controle concreto. Logo, a in-
terpretação conforme a Constituição serve também como meio de Uma consequência indesejada que pode decorrer da declaração
modular os efeitos da declaração de inconstitucionalidade no controle de inconstitucionalidade é que, uma vez que ela atua retirando normas

9. No julgamento do I-IC 78.168, discrepante do restante da jurisprudência do STF, . 10._Entende-se ra_tio decide~i 001~0 o fundamento que embasa a decisão, a prin-
o Min. Néri da Silveira declara que a interpretação conforme a Constituição é própria do cipal razao que determma o sentido do Julgamento. Em outras palavras, pode-se dizer 1

controle concentrado de constitucionalidade (cf. HC 78.168, pp. 12-13 do acórdão). que a conclusão do julgado não seria a mesma sem a ratio decidendi subjacente.
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308

do ordenamento jurídico, não há a garantia de que em todas as vezes efeito satisfativo, ( ...) submetendo todos os empreendimentos e ativida-
a norma repristinada (a que foi revogada pela lei que está sendo obje- des que já firmaram o 'termo de compromisso', previsto na legislação
to de controle de constitucionalidade) seja desejada ou, mesmo, exis- atacada, mediante ajustamento de suas atividades a um cronograma de
ta. A solução, assim, poderia ser a interpretação conforme a Constitui- adequamento às novas exigências ambientais, a um incalculável trans-
ção, já qne ela não atua estritamente excluindo normas do sistema. torno sob todos os aspectos, sobretudo legais, ambientais, econômicos
AADI/MC 2.083,julgada em 2000, ilustra bem como a interpre- e sociais, cujas consequências são irreparáveis" .13
tação conforme pode servir para bloquear o retorno a uma situação O voto do Ministro-Relator, Moreira Alves, concorda com o argu-
indesejada.'' No julgamento era arguida a inconstitucionalidade da mento apresentado. A solução adotada, então, foi a utilização da inter-
Medida Provisória 1.874/1999, a qual trata, em diversos dispositivos, pretação conforme a Constituição para suspender"( ... ), ex tunc e até
acerca do "termo de compromisso" que poderia ser firmado com ór- o julgamento final desta ação, a eficácia dela fora dos limites de nor-
gãos ambientais visando a adequá-los à legislação ambiental." ma de transição, e, p01tanto, no tocante à sua aplicação aos empreen-
Nas informações prestadas pela Consultoria Jurídica do Ministé- dimentos e atividades que não existiam anteriormente à entrada em vi-
rio do Meio Ambiente, representando o Presidente, começa a tomar gor da Lei n. 9.605/1998". 14
f corpo tal argumentação. A Consultoria traz o seguinte argumento:
Interessante notar que, através do seu uso, impediu-se o retorno a
I' "Por todo o exposto, é imperioso que não haja, em hipótese alguma,
nma situação jurídicâ indesejada, mantendo-se a "ordem social" e
a concessão da medida cautelar pleiteada, suspendendo a eficácia da
,, tendo "como objetivo o bem-estar e a justiça social". Desse modo, de
medida provisória em questão, pelo fato de que, se concedida, gerará
"., uma forma que não poderia ser atingida pela mera declaração de in-
~
constitucionalidade, expressa-se 1mm das variantes desse primeiro con-

'1'
'
,
~ 11. Como representativas deste primeiro tópico também podem ser consultadas
as ADI 2.884 e 3.324 e os RE 220.906, 225.011, 229.696 e 241.292.
junto de motivos.
,," Para demonstrar, por sua vez, o vazio ou vácuo legislativo de-
12. Medida Provisória 1.874/1999: .
"Art. 1-º-. A Lei n. 9.605, de 12 de fevereiro de 1988, passa a vigorar acrescida corrente da declaração de inconstitucionalidade, um bom exemplo é 1
'"
do seguinte artigo: _ . . . a ADI 2.655. Nesse julgamento era questionado o art. 7º da Lei
'"Art. 79-A. Para cumprimento no disposto nesta Lei, os órgaos am?ientais m-
tegrantes do SISNAMA, responsáve~s pela execuçã~ ~e programas ,e ~roJetos e _pelo
7.603/2001 do Estado do Mato Grosso do Snl, o qual fixou, no res-
controle e fiscalização dos estabelecnnentos e das atividades suscetivei~ de degrnd~- pectivo Estado, o valor das custas, despesas e emolumentos relativos
rem a qualidade ambiental, ficam autorizados a celebrar, ~om forç_a ~e _titulo execut~- aos atos praticados no foro judicial. 15 O artigo foi questionado prin-
vo extrajudicial, termo de compromisso com pessoas físicas ou Jundtcas ~esponsa- cipalmente em relação ao art. 7º, IV, da CP, que veda a vinculação do
veis pela construção, instalação, ampliação e funcionamento d~ estabelecm1:entos e
atividades utilizadoras de recursos ambientais, considerados efetiva ou potencialmen- salário-mínimo para qualquer fim.
te poluidores. . . ~ No entanto, apresenta-se um problema: declarada a inconstitucio-
"'§ lll. O termo de compromisso a que se refere este artlg? destinar-se-a, exclu-
sivamente, a permitir que as pessoas físicas ou jurídicas mencionadas no .caput pos- nalidade, não haveria mais critério para definir o valor dos atos pra-
sam promover as necessárias correções de suas atividades, para o aten~unen!o das ticados no foro judicial. Em diálogo entre os ministros tal situação é
exigências impostas pelas autoridades ambientais competentes, sendo obrigatóno que
o respectivo instrumento disponha sobre: ( ...).
"'( .. ). . 13. ADI/MC 2.083, p. 15 do acórdão.
"' § 3u. Da data da protocolização do requerimento previsto no par~grafo ant:- 14. ADI/MC 2.083, p. 24 do acórdão.
rior e enquanto perdurar a vigência do correspondente termo de c~mprom1sso ficara? 15. Lei 7.603/2001, de Mato Grosso do Sul: "Art. 7º. Nas causas de valor supe-
suspensas, em relação aos fatos que deram causa à celebração do 1~strum~nto,_ a apli- dor a 1.000 (mil) vezes o salário-mínimo, as custas relativas à parcela excedente se-
cação e a execução de sanções administl·ativas contra a pessoas física ou Jurídica que rão calculadas_à base de 0,5% (meio por cento), não podendo ultrapassar o valor de
o houver firmado'." R$ 20.000,00 (vinte mil Reais)".
JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL NO BRASIL !Nl'ERPRETAÇÃO CONFORME A CONSTITUIÇÃO 311
310
6
percebida, e a opção é pela interpretação co~rorme a Co_nstituição,' a voga. 19 Independentemente das potenciais ofensas do artigo à Constitui-
qual é acatada pelo Tribunal para fixar que ( ... ) .ª alusao a ,1_.ooo ,s~- ção Federal, é importante ressaltar os problemas levantados que con-
lários-núnimos se refira exclusivamente ao múltiplo do salano-m1m- tribuíram para o emprego da interpretação conforme a Constituição.
mo vigorante no início da vigência da lei". 17 Dessa forma supre-se o Eles já aparecem no relatório, o qual expõe: "Sob o ângulo da
vazio que surgiria com a inconstitucionalidade, detectando-se outro concessão da medida acauteladora, assevera-se a relevância do tema
motivo para sua utilização. e o risco de manter-se com plena eficácia o quadro. O processo sele-
tivo de alunos para as universidades federais já estaria em andamen-
to, podendo vir a ser prejudicado. Alude-se ao exemplo verificado na
3 .2 Uso para regular objeto que necessitava
Universidade de Brasília/UnB, no que suspenso o vestibular para o
urgentemente de normas, do qual surgiriam
curso de Direito e sinalizada a adoção de idêntica medida relativa-
graves riscos se houvesse falta de regulação
mente aos cursos de Administração e Medicina. Afirma-se que no
Primeiramente, antes de apres~ntar o caso em que esta segunda curso de Direito, apenas em 2004, 79 alunos ingressaram por trans-
classificação aparece, entendo ser mais conveniente distingu~-la ~a ferência obrigatória, 50 deles originários de instituições particulares.
primeira. Os casos que necessita_m urgentemente de regu(açao nao Em 2003, o saldo fora de 111 estudantes militares transferidos, con-
surgem somente do vazio normal!vo; eles podem vir tambem de ou- forme notícia do Decanato de Ensino de Graduação da UnB, havendo
tras normas que não estão solucionando adequadamente o problem~. sido oferecidas apenas 50 vagas para cada vestibular, configurando-se,
O que pretendo mostrar neste caso é a existência de uma realidade fa- como regra, o ingresso de estudantes por transferência e, corno ex-
tica subjacente da qual, de alguma forma, emanam diversos problemas ceção, a entrada mediante vestibular; o privilégio tornara-se regra e o
que necessitam urgentemente de regulação. Aqui, a falta de regula- mérito, a exceção" ,20
mentação em uma área não enseja, por si só, graves pro?lemas, que ne- A solução para o problema passa, então, pela interpretação con-
cessitem de uma atuação normativa para serem soluc10nados. O que forme a Constituição, primeiramente proposta pelo Min. Marco Auré"
faz com que ela necessite de regulação são elementos fáticos que per- Jio, e que aparece na ementa com a seguinte forma: "A constitucio-
turbam a ordem. Por esses motivos, preferi separar esta segunda cate- nalidade do art. 1° da Lei n. 9.536/1997, viabilizador da transferência
goria da primeira .18 de alunos, pressupõe a observância da natureza jurídica do estabeleci-
O caso da transferência universitária de civis e militares, da ADI mento educacional de origem, a congeneridade das instituições envol-
3.324, ilustra bem esse tópico. Tal transferência ganhou eficác(a com vidas - de privada para privada, de pública para pública-, mostran- 1

0 art. [º da Lei 9.537/1997, que modificou a legislação anterior em do-se inconstitucional interpretação que resulte na mesclagem - de 1
privada para pública" .2 1 Como é possível notar, toda essa grave situa-
16. "O Sr. Min. Sepúlveda Pertence (pres.) - Acho que para não cri~· o vazio
podemos admitir é que os 1.000 salários-mínimos nela referidos sejam os vigentes na ,[
data da lei. , 19. Lei 9.537/199: "Art. 1º. A transferência ex officio a que se refere o pará-

"O Sr. Min. Cézar Peluso -Aí, sim, não haverá elevação automática. grafo único do art. 49 da Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, será efetivada,
"O Sr. Min. Carlos Britto - Na data da lei. Aí, seria uma interpretação conforme entre instituições vinculadas a qualquer sistema de ensino, em qualquer época do
a Constituição. . , ano e independente da existência de vaga, quando se tratar de servidor público fe-
"O Sr. Min. Sepúlveda Pertence (pres.) - Seria para não deixar~ vazm, pois se deral civíl ou militar estudante, ou seu dependente estudante, se requerida em razão
ficarmos aqui esse sistema não funciona" (ADI 2.655, p. 23 do acórdao). de comprovada remoção ou transferência de ofício, que acarrete mudança de domi-
17. ADI 2.655, p. 27 do acórdão. , . cílio para o Município onde se situa a instituição recebedora ou para a localidade
18 Darei somente um exemplo neste tópico, mas no sentido descnto também mais próxima deste".
podem ;er consultadas a ADI/MC 1.236, a ADI/MC 1.597, aADI/MC 1.600, a ADI/ 20. ADI 3.324, pp. 5 e 7 do acórdão.
MC 2.596. a ADI/MC 3.395, a ADI 2.925, a ADI 3.685 e a ADI/BD 3.522. 21. ADI 3 .324, p. 1 do acórdão.
312 JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL NO BRASIL INTERPRETAÇÃO CONFORME A CONSTITUIÇÃO 313

ção não surgiu do vazio normativo, mas de urna própria regulamen- O resultado de seu voto, assim, é ressalvar, mediante interpreta-
tação, solucionada pela interpretação conforme a Constituição. ção conforme, que o poder requisitório do Ministério Público não
abarca documentos protegidos pelo sigilo bancário e fiscal.

3.3 Uso para preservar o trabalho do legislador 3 .4 Uso para dar eficácia e salvar normas
.quando a norma apresentar hipóteses constitucionais
de aplicação Primeiramente preciso explicar a inclusão deste tópico corno cate-
goria separada das outras mais. Entendo "dar eficácia a normas" e "salvar
Esta justificativa corresponde, em parte, ao argumento tradicio-
normas" corno a correção de imperfeições constantes em determinada
nal apresentado para a utilização da interpretação conforme a Cons- norma, necessária para impedir sua inconstitucionalidade, o que levaria
tituição. Apresento-o aqui sob o enfoque específico de evitar a de- à perda da eficácia da norma. Salvar normas ou lhes dar eficácia não
claração de inconstitucionalidade graças à existência de hipóteses implica necessariamente que elas possuam interpretações ou aplicações
constitucionais de aplicação da norma, razão pela qual ela deve ser constitucionais, o que afasta este uso do elencado em 3.2. Há também
preservada.22 uma diferença em relação ao tópico 3 .2, pois aqui não há uma urgência
OMS 21.729 ilustra bem a situação. No caso, a possibilidade de na regulamentação. Pode-se dar eficácia a uma norma sem que o objeto
usar a técnica adveio durante longas discussões sobre o direito ao si- regulado apresente consequências maléficas caso não fosse regulado.
gilo bancário e fiscal, suscitadas graças ao § 2º do art. 8º da Lei Com-
'
,, Encontrei esse argumento no AI/AgR 427.533. Ao discutir o en-
~ plementar 75/1993.23 tão novo art. 296 do CPC25 e a possibilidade de ele ferir o contraditó-
"' No meio da discussão o argumento é levantado pelo Min. Maurí- rio e a ampla defesa, o Min. Cézar Peluso se manifestou no seguinte
cio Corrêa, e está diretamente ligado à impossibilidade de se optar sentido: "Eu sugeriria que a interpretação fosse a de que não faz pre-
pela declaração de inconstitucionalidade. Um pouco antes de realizar clusão em relação ao réu. Por quê? Com isso salvaríamos a norma,
a interpretação conforme a Constituição, o Min. Corrêa expõe: "A dando-lhe a interpretação de que não produz preclusão em relação ao
declaração de inconstitucionalidade deste § 2º subtrairia do Ministério réu, o qual poderá ressuscitar a discussão". 26
Público importante instrumento para a consecução dos seus objetivos Ou, então, em outro excerto do mesmo Ministro: "Eu sugeriria
precípuos - de defender a sociedade, o Estado de Direito e a Consti- que a interpretação fosse neste sentido: não faz preclusão em relação
tuição - e para que possa cumprir o desígnio de ser o principal fiador ao réu. De outro modo subtrairíamos o caráter pragmático da reforma,
da moralização dos costumes, visto que a disposição possa ser apli- o qual é permitir que, na grande maioria dos casos, as decisões sejam
cada em outras situações sem que haja ofensa à Constituição,ficando confirmadas sem necessidade de incomodar o réu e estabelecer con-
preservada a sua utilidade residuaI" 24 (grifos meus). traditório que só prolongaria as causas" .27
.º.
que emana desses trechos, assim, é que o Tribunal optou por
corngJI eventuais falhas na norma, pois entendeu ser mais benéfico
22. Também são esclarecedoras desta situação as ADI 1.371 e 1.377.
23. Lei Complementar 75/1993: preservá-las que declarar a inconstitucionalidade e remeter o trabalho
"Art. 8º. Para o exercício de suas funções o Ministério Público poderá, nos novamente ao legislador.
procedimento de sua competência: ( ...).
"( ...).
"§ 2º-. Nenhuma autoridade poderá opor ao Ministério Público, sob qualquer 25. CP~, _art. 296: "Art. 296. Indeferida a petição inicial, o autor poderá apelar,
pretexto, a exceção de sigilo, sem prejuízo da subsistência do caráter sigiloso da in- facultado ao JUIZ, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, reformar sua decisão".
formação, do registro, do dado ou do documento que lhe seja fornecido." 26. AI/AgR 427.533, p. 16 do acórdão.
24. MS 21.729, p. 33 do acórdão. 27. AI/ AgR 427.533, p. 17 do acórdão.
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314 JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL NO BRASIL INTERPRETAÇÃO CONFORME A CONSTITUIÇÃO 315

3 .5 Uso para minimizar a interferência em emenda constitucional 4. Conclusão


A última razão, que eu gostaria de expor, encontrada para o uso Mesmo com as dificuldades em detectar os motivos de uso da
da interpretação conforme a Constituição diz respeito à intenção de interpretação conforme a Constituição nos votos dos ministros, é pos-
minimizar a interferência do STF no trabalho legislativo referente às sível destacar que em algumas ocasiões ela foi utilizada para: (i) evitar
emendas constitucionais, no seu controle de constitucionalidade. um vácuo legislativo on frear retorno a uma ordem normativa indese-
Esse motivo pode ser visualizado no julgamento da ADI/MC jada; (ii) regular com urgência determinado caso; (iii) preservar a lei
3 .854, julgada em 28.2.2007.28 A ação foi proposta pela Associação questionada; (iv) dar eficácia e salvar normas; (v) minimizar interfe-
dos Magistrados Brasileiros/AMB e questionava a redação dada pelo rências no trabalho legislativo de emendas.
art. lº da Emenda Constitucional 41/2003 ao art. 37, XI, da CF bem Interessante notar que não houve menção às justificativas tra-
como duas resoluções do Conselho Nacional de Justiça decorrentes dicionalmente encontradas na conceituação da técnica da interpre-
do novo modelo normativo da emenda. tação conforme a Constituição, referentes à unidade do ordenamen-
Como relatado na inicial, as normas daí decorrentes"( ...) criaram e to jurídico e à presunção de constitucionalidade. Isso não quer dizer
disciplinaram o subteto para a Magistratura Estadual, inferior ao da Ma- que elas não influenciem o uso da interpretação conforme ou sir-
gistratura Federal: enquanto esta última está submetida ao teto do fun- vam indiretamente como motivos para os diversos tópicos apresen-
cionalismo público, qne corresponde aos subsídios dos ministros do tados. Porém, de forma expressa, nem o princípio da unidade do or-
STF, aquela está submetida a um subteto inferior, correspondente aos denamento jurídico nem a presunção de constitucionalidade foram
subsídios dos desembargadores de Tribunais de Justiça, os quais, por sua citados na jurisprudência do STF. Apenas indiretamente, pela refe-
vez, estão limitados a 90,25% dos subsídios dos ministros do STF" .29 rência ao "salvamento das normas", ou de forma dúbia, por meio da
Não procurarei me estender muito na descrição desse julgado: grande quantidade de normas interpretadas conforme a Constituição
com considerações a respeito da isonomia, da estrntnra do Poder Ju- de modo restritivo, é que podemos chegar a tal presunção. Com re-
diciário e da proporcionalidade, a cautelar foi deferida para, mediante lação ao respeito pelo trabalho do legislador, ele se manifestou em
interpretação conforme a Constituição do art. 37, inciso XI e § 12, da pequena escala, conforme descrito principalmente no item 3.4. A uni-
CF, excluir a submissão dos membros da Magistratura Estadual ao dade do ordenamento jurídico também não foi expressamente detec-
subteto de remuneração. tada na pesquisa.
O ponto que me interessa aparece no voto do Min. Gilmar Men- As diversas justificativas surgidas enumeram novas razões para o
des. Consta a seguinte passagem do seu voto: "Por isso, Sra. Presidente, aparecimento da técnica na jurisprudência do STF. Desse modo, o que
com essas brevíssimas e desalinhadas considerações, subscrevo, inte- as justificativas apresentadas revelam são contextos mais específicos,
gralmente, o voto do eminente Relator. Também, acompanho - embo- que ajudam a entender o aparecimento da técnica. Importante salien-
ra registrando nm incômodo-a opção que me parece, pelo menos, no tar que questões como a aprovação ou validade que dou para a utili-
caso, mais suave, pela interpretação conforme, dentro da preocupa- zação da interpretação conforme, a legitimidade do Tribunal para a
ção, já aqui revelada, de minimizar a intervenção em relação ao pro- elaboração dessas decisões, a possível transgressão ocorrida na se-
cesso de emenda"'º (grifos meus). paração dos Poderes, juntamente com a discussão sobre a atuação do
STF como ente legislador, foram, propositadamente, deixadas de la-
do. Assim, o enfoque adotado aqui foi mais descritivo que normativo,
28. Apesar de ser o único julgado em que a fundamentação apareceu, resolvi
incluí-lo, pois a argumentação exposta pareceu-me relevante. já que preocupei-me prioritariamente em elucidar como a técnica vem
29. ADIIMC 3.854, p. 3 do acórdão. sendo utilizada. No entanto, os resultados apresentados podem ofere-
30. ADIIMC 3.854, p. 51 do acórdão. cer bons subsídios para a discussão dessas questões.
316 JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL NO BRASIL

Até porque na pesquisa inicial verifiquei ligeiro aumento no uso


da interpretação conforme a Constituição na última década. Desde
o primeiro aparecimento da interpretação conforme na jurisprudên-
cia do STF até a edição da Lei 9 .868/1999 foram 28 os acórdãos que
apresentaram um voto vencedor com a técnica, ao passo qne de 1999
até 2007 foram 56. Assim, um ponto a ser futuramente observado é o
possível crescimento no uso da interpretação conforme a Constitui-
ção; bem como sua presença em julgamentos marcantes do STF. Co- O STF ÀS VOLTAS COM A "NAVALHA DE OCKHAM":
mo exemplo, dois importantes julgamentos recentes do STF - aADPF UMA "PROIBIÇÃO DE INSUFICIÊNCIA"
153 e a ADPF 130, as quais questionaram as Leis da Anistia e de Im- COMO CONTROLE DE PROPORCIONALIDADE
prensa, respectivamente - apresentaram propostas de interpretações DAS OMISSÕES?'º 1
conforme a Constituição.
Luís FERNANDO MATRICARDI RODRIGUES

Bibliografia 1. Exposição do problema: 1.1 A "navalha de Ockham" como referên-


BONAVIDES, Paulo. Teoria Constitucional da Democracia Participativa. São cia de racionalidade argumentativa. 2. Delimitação do tema: 2 .1 Me-
todologia -2.2 Hipóteses em torno do problema. 3. Algumas premis-
Paulo, \1:alheiros Editores, 2003.
sas: 3 .1 As teóricas - 3 .2 As prdticas. 4. A proibição de insuficiência
no STF - Visão geral: 4.1 Aspectos quantitativos ~ 4 .2 Aspectos quali-
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional. Coimbra, Livraria tativos. 5. Análise comparativa dos julgados: 5 .1 Deveres de proteção:
Almedina, 1993. 5.1.1 A STA 408-BA - 5.1.2 A PSV 30 (SV 26)- 5.2 Direitos sociais:
5.2.1 As decisões daPresidêncio SS 3.724-CE e STA419-RN-5.2.2 Os
acórdãos nos agravos regimentais. 6. Conclusão: 6.1 A volta às hipó-
GADAMER, Hans-Georg. Verdade e Método. Trad. de Flávio Paulo Meurer. teses - 6.2 As voltas com a "navalha de Ockham".
Petrópolis, Vozes, 2002.

* Resumo: Entidades não devem ser multiplicadas além da necessidade. A má-


:MENDES, Gilmar Ferreira. Jurisdição Constitucional. São Paulo, Saraiva, 2005. xima, atribuída ao franciscano Guilherme de Ockham, expressa racionalidade espe-
rada (também) de decisões judiciais, que se devem pautar pelos argumentos bastantes
à sua justificação. Focado na misteriosa figura da proibição de insuficiência - impor-
SILVA, Virgílio Afonso da, "La interpretación conforme a la Constitución: entre tada da Alemanha como a "segunda face da proporcionalidade"-, o propósito deste
la trivialidad y la centralización judicial". Cuestiones Constitucionales - Re- artigo é verificar a utilidade dogmática de sua aplicação pelo STF. Para tanto, retoma
vista Mexicana de Derecho Constitucional, n. 12, pp. 3-28. Instituto de In- pesquisa de jurispmdência sobre o tema em busca de novas respostas a velhas per-
vestigaciones Jurídicas, UNAM, Cidade do México, 2005. guntas: O STF é coerente no emprego da proibição de insuficiência? Efetua por meio
dela o controle de proporcionalidade das omissões estatais, como pretende?.
Palavras-chave: Dever de Proteção; Direitos Ftmdamentais; Direitos Sociais; Omis~
são Estatal; Proibição de Insuficiência; Proporcionalidade; Supremo Tribunal Federal.
Acórdãos citados: ADI 1.371, 1.377, 2.655, 2.884, 2.925, 3.324 e 3.685; 1. O presente artigo foi desenvolvido a pmtir de monografia apresentada à sbdp
ADI/ED 3.522; ADI/MC 1.236, 1.597, 1.600, 2.083, 2.596, 3.395 e 3.854; ADPF como trabalho de conclusão do curso da Escola de Formação do ano de 2009, sob a
130 e 153; AI/AgR 427.533; HC 78.168; MS 21.729; RE 220.906, 225.011, orientação de Dimitri Dimoulis. A versão original encontra~se disponível em http://
229.696 e 241.292; Rp 1.417. www.sbdp.org .br!ver_monografia.php ?idMono= 158.
Gostaria agradecer ao professor Dimih·i Dimoulis, a Carla Osmo e aos amigos
Rodrigo Barata e Bruna de Bem pelas críticas e sugestões feitas às versões iniciais
deste artigo.

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