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Carina Frahm
Advogada Tributarista, Mestranda em
Direito pela Pontifícia Universidade
Católica do Paraná (PUCPR).
1. Introdução
1
Como ilustração, relembramos que foi tema de grande polêmica na mídia a utilização da mão-de-
obra infantil na produção de bolas de futebol da NIKE no Paquistão, Vietnã, China e Indonésia.
2
KEYNES, John Maynard. A teoria geral do emprego, do juro e da moeda. São Paulo: Atlas,
1992. p. 33.
A expressão dumping provém do verbo inglês “dump” significando desfazer-se de
algo e depositá-lo em determinado local, deixando-o lá como se fosse ‘lixo’3. No mercado
internacional, uma empresa executa dumping quando: (a) detém certo poder de estipular o
preço do seu produto no mercado local (empresa em concorrência imperfeita); e (b) possui
perspectiva de aumentar o lucro por meio de vendas no mercado internacional. Essa
empresa, então, vende no mercado externo seu produto a preço inferior ao vendido no
mercado local, provocando elevada perda de bem-estar ao consumidor nacional, porque os
residentes locais não conseguem comprar o bem no preço a ser vendido para o estrangeiro.
Para adquirir parcela de mercado, a empresa poderá inclusive vender ao exterior a preço
inferior ao custo de produção4. O subsídio do governo pode contribuir para a prática de
dumping uma vez que aufere renda ao produtor e permite que o produto seja vendido a
preços bem inferiores ao custo de produção ou ao preço interno.
A prática do dumping tem sua vedação basilar hoje no artigo VI do Acordo Geral
sobre Tarifas e Comércio (GATT) de 19475. Estipulou-se que se a prática deste ato
provocar danos à indústria doméstica será permitido a aplicação de Direito Compensatório,
conforme a autoridade competente do país prejudicado.
O GATT disciplina muito pouco o comércio desleal provocado pela violação de
normas trabalhistas. O artigo XX, alínea “e”, é exemplo unitário da regulamentação do
GATT de tal sorte. Este artigo proíbe a comercialização de produtos fabricados em
prisões6.
3
In verbis: to put something that is not wanted in a place and leave it as rubbish. Jonathan Crowther
(Coordenador), Oxford advanced learner’s dictionary of current English. 5a. ed. Oxford: Oxford
University Press, 1995. p. 360-361.
4
KRUGMAN, Paul R.; OBSTFELD, Maurice. Economia Internacional. 5a. ed. São Paulo:
Makron, 2001. p. 147-151.
5
O Decreto Legislativo nº 43 de 20/06/1950, publicado no Diário Oficial da União em 21/06/1950,
reporta-se ao art. VI do GATT.
6
VEIGA, Pedro da Motta. As normas trabalhistas e ambientalistas na agenda de negociações
internacionais. In: CINTRA, Marcos; CARDIN, Carlos Henrique (Organizadores). O Brasil e a Alca.
Brasília: Centro de Documentação e Informação, 2002. p. 328.
2.1 Relação entre dumping social e as cláusulas sociais
Ainda que na grande maioria das vezes a liberalização do comércio não represente
aumento de empregos, os países desenvolvidos forçaram a abertura dos mercados para os
produtos que exportavam; contudo, paralelamente, protegeram os produtos que
representassem ameaça às suas economias7. As políticas estratégicas adotadas auxiliaram
os países desenvolvidos na grande luta pela hegemonia dos novos mercados por meio: (a)
da promoção de indústrias com externalidades tecnológicas; (b) de incentivos para as
empresas nacionais obterem lucros às custas de suas rivais estrangeiras8.
Em contrapartida, os países em desenvolvimento concentraram-se em fomentar a
industrialização e organizar o desenvolvimento desordenado da economia doméstica, causa
do sério desemprego urbano9. Uma via alternativa para países em desenvolvimento foi
utilizada pelos países do Leste Asiático (China, Taiwan, Coréia do Sul e Japão), os quais
adotaram o entendimento de que a igualdade aumentaria o crescimento. Nesses países os
negócios prosperaram em virtude da preocupação com os limites da desigualdade salarial e
a oportunidade educacional10.
Porém, ressalta-se que estes países asiáticos, incluindo o Japão, adotaram a
ideologia de “devorar o outro” por meio da “cultura de vencer a qualquer preço”,
utilizando-se de jornadas extensas, legislação precária e governos autoritários11.
A China, país com crescimento próximo a 7% ao ano e com alta taxa de poupança
interna, é o principal país acusado de praticar o dumping. Entrementes, uma breve leitura da
Constituição da República Popular da China e sua política permite concluir que há interesse
expresso em proteger o trabalhador12. Verdade seja que se trata de mera proteção formal e
não garantia material de observância aos direitos mínimos do labor, mas tendo em vista que
7
STIGLITZ, Joseph. A globalização e seus malefícios. São Paulo: Futura, 2002. p. 93.
8
Os Estados Unidos defendem evidentes políticas estratégicas na agricultura e alto orçamento para
indústria de alta-tecnologia.
9
KRUGMAN, Paul R.; OBSTFELD, Maurice. Op. cit., p. 279-280.
10
STIGLITZ, Joseph. Op. cit., p. 114.
11
VIANA, Márcio T. Desregulamentar regulamentando. Revista LTr, São Paulo, vol. 59, nº 07,
julho de 1995, p. 885.
12
O item “5.4” deste estudo tratará especificamente sobre o direito chinês.
a atual e mais eficaz política para os países em desenvolvimento13 é a promoção de
exportação de bens manufaturados14, obstruir o comércio de um produto por motivos de
dumping social em nada contribui para a perseguição da garantia material dos direitos
mínimos do trabalhador – pelo contrário, agrava a pobreza, isto porque, como bem
expressou Amartya Sen, ganhador do Prêmio Nobel, “a rejeição da liberdade de
participar do mercado de trabalho é uma das maneiras de manter a sujeição e o
cativeiro da mão-de-obra (...) a liberdade de entrar em mercados pode ser, ela
própria, uma contribuição importante para o desenvolvimento, independentemente do
que o mecanismo de mercado possa fazer ou não para promover o crescimento econômico
ou a industrialização” (destaque nosso)15.
Agravando o cenário econômico-jurídico, percebe-se, na atual conjuntura, que desde
a década de setenta há o crescente esvaziamento da função estatal de executar políticas
sociais em função da quebra do compromisso keynesiano, do debilitamento do estado do
bem estar, do aumento do poder econômico das empresas transnacionais nas decisões
políticas e da constante influência neo-liberal.
3. Evolução histórica
13
Em remate, por meio desta política desenvolveram-se os países de alto desempenho asiático: os
EADAs.
14
KRUGMAN, Paul R.; OBSTFELD, Maurice. Op. cit., p. 279-280.
15
SEN, Amartya. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. p. 21
16
SÜSSEKIND, Arnaldo. Convenções da OIT. 2a. ed. São Paulo: LTr, 1998. p. 17.
São os argumentos dos países em desenvolvimento insurgentes à adoção de
cláusulas sociais: 1) não há evidências na relação violação de direitos do trabalho e
exploração; 2) não é verdade que a liberalização comercial sempre acompanha a violação
de direitos do trabalho; 3) o respeito ou não dos direitos trabalhistas não é fator importante
quanto à decisão do país para instalar as multinacionais.
Assim ficou a redação final da Cúpula Ministerial de 1996:
17
CRIVELLI, Ericson. Normas internacionais do trabalho e o comércio internacional. Revista LTr,
São Paulo, vol. 66, janeiro de 2002, p. 42.
18
Ibidem, p. 47-48.
19
Ibidem, p. 42.
negociação coletiva; (c) Convenções nº. 29 e nº. 105: abolição do trabalho forçado; (d)
Convenção nº. 100: igualdade salarial entre homem e mulher; (e) Convenção nº. 111: não
discriminação no emprego; (f) Convenção nº. 138: idade mínima para trabalhar; (g)
Convenção nº. 182: piores formas de trabalho infantil.
Das supracitadas Convenções Internacionais do Trabalho, o Brasil apenas não
ratificou a de nº. 87 tendo em vista a Unicidade Sindical, atrelada à cobrança de
Contribuição obrigatória denominada Contribuição Sindical.
Cumpre ressaltar que a OIT também aprovou três declarações fundamentais, por
meio da Assembléia Geral: 1) da Filadélfia, em 1944, sobre fins e objetivos da OIT; 2)
sobre o Apartheid, em 1964; 3) sobre Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho em
1998.
20
Observa-se que na base dos direitos econômicos e sociais da Declaração está o princípio da
solidariedade.
21
Ibidem, p. 230.
22
GUNTHER, Luiz Eduardo. Cláusulas anti-dumping em normas coletivas do trabalho. Trabalho
apresentado no Seminário Ítalo-Brasileiro de Direito do Trabalho (PUCPR), Marco Antônio César
Villatore (Coordenador). Curitiba, 31 de março de 2003 a 01 de abril de 2003. p. 14.
fundamentais inscritos na Constituição da Organização, assim como
promover sua aplicação universal; A Conferência Internacional do
Trabalho,
1. Lembra:
a) que no momento de incorporar-se livremente à OIT, todos os
Membros aceitaram os princípios e direitos enunciados em sua
Constituição e na Declaração de Filadélfia, e se comprometeram a
esforçar-se por alcançar os objetivos gerais da Organização na medida
de suas possibilidades e atendendo a suas condições específicas; b)
que esses princípios e direitos têm sido expressados e desenvolvidos
sob a forma de direitos e obrigações específicos em convenções que
foram reconhecidas como fundamentais dentro e fora da
Organização.
2. Declara que todos os Membros, ainda que não tenham ratificado as
convenções aludidas, têm um compromisso derivado do fato de
pertencer à Organização de respeitar, promover e tornar realidade, de
boa fé e de conformidade com a Constituição, os princípios relativos
aos direitos fundamentais que são objeto dessas convenções, isto é:
a) a liberdade sindical e o reconhecimento efetivo do direito de
negociação coletiva;
b) a eliminação de todas as formas de trabalho forçado ou
obrigatório;
c) a abolição efetiva do trabalho infantil; e
d) a eliminação da discriminação em matéria de emprego e
ocupação.
3. Reconhece a obrigação da Organização de ajudar a seus Membros,
em resposta às necessidades que tenham sido estabelecidas e
expressadas, a alcançar esses objetivos fazendo pleno uso de seus
recursos constitucionais, de funcionamento e orçamentários, incluída a
mobilização de recursos e apoio externos, assim como estimulando a
outras organizações internacionais com as quais a OIT tenha
estabelecido relações, de conformidade com o artigo 12 de sua
Constituição, a apoiar esses esforços:
a) oferecendo cooperação técnica e serviços de assessoramento
destinados a promover a ratificação e aplicação das convenções
fundamentais; b) assistindo aos Membros que ainda não estão em
condições de ratificar todas ou algumas dessas convenções em seus
esforços por respeitar, promover e tornar realidade os princípios
relativos aos direitos fundamentais que são objeto dessas
convenções; e c) ajudando aos Membros em seus esforços por criar
um meio ambiente favorável de desenvolvimento econômico e social.
(...)
5. Sublinha que as normas do trabalho não deveriam utilizar-se
com fins comerciais protecionistas e que nada na presente
Declaração e seu seguimento poderá invocar-se nem utilizar-se de
outro modo com esses fins; ademais, não deveria de modo algum
colocar-se em questão a vantagem comparativa de qualquer país sobre
a base da presente Declaração e seu seguimento. (destaques nossos)
4. Competência de fiscalizar as cláusulas sociais: discussão entre a Organização
Internacional do Trabalho (OIT) e a Organização Mundial do Comércio (OMC)
23
Conforme já explicado, a competência da OIT de fiscalizar as cláusulas sociais ficou determinada
pela Cúpula Ministerial da OMC, de 1996, em Cingapura.
24
CRIVELLI, Ericson. Op. cit., p. 48-49.
25
VEIGA, Pedro da Motta. Op. cit., p. 350.
5) instigar o envio anual de relatório refletindo o cenário jurídico e estatístico dos direitos
protegidos26.
Ericson Crivelli argumenta que a viabilidade da introdução das cláusulas sociais
representa ainda grande desafio jurídico e, com isso, estabeleceu três políticas para sua
adoção: 1) reforçar a OIT e seus órgãos de controle para a aplicação das Convenções; 2)
inserir as normas trabalhistas no Tratado de Criação da OMC e nas Normas e
Procedimentos sobre a Solução de Controvérsias (Anexo 2); 3) estabelecer vínculos
institucionais entre o sistema de solução de controvérsias da OMC e o sistema de controle
de normas da OIT27.
Como frisado por Gunther: “a negociação coletiva a nível nacional seria suficiente
para incluir a cláusula social? Não, porque essa cláusula tem conotações no comércio
internacional. Daí a razão de se examinar a necessidade de normas coletivas internacionais,
o que constitui experiência novíssima no âmbito do direito do trabalho”28.
Georgenor de Souza Franco Filho salienta, entretanto, que há sérios obstáculos à
utilização de normas coletivas internacionais, destacando: 1) a pouca experiência; 2) o
grande temor dos trabalhadores quanto à opressão patronal; 3) as evidentes diferenças
econômicas, sociais e culturais29.
A OIT e a União Européia tendem para o sentido de permitir a aplicação de
contratos coletivos nas relações que envolvam empresas transnacionais e empregados30. Por
derradeiro, salienta-se que a negociação coletiva dentro da União Européia tem algumas
facilidades: (a) há uma política supranacional, a qual facilita o combate por meio de
política comunitária; (b) há tratado que unifica a legislação; (c) há proximidade
geográfica31.
26
GUNTHER, Luiz Eduardo. Op. cit., p. 16.
27
CRIVELLI, Ericson. Op. cit., p. 46.
28
GUNTHER, Luiz Eduardo. Op. cit., p. 23.
29
FRANCO FILHO, Georgenor de Souza. Negociação coletiva transnacional. In: FRANCO FILHO,
Georgenor de Souza (Coordenador). Curso de Direito Coletivo do Trabalho (estudos em homenagem ao
Ministro Orlando Teixeira da Costa). São Paulo: LTr, 1998. p. 303.
30
GUNTHER, Luiz Eduardo. Op. cit., p. 20-24.
31
Ibidem, p. 24.
32
Exprime exemplo: regras para a migração, para as condições de trabalho, melhoria de vida, direito
ao emprego, formação profissional, informação, direito à proteção da saúde no trabalho, proteção aos idosos e
aqueles com limitações. Informação retirada de: PAULA, Nélia Cristina Cruz de. Não intervenção dos Estado
5.1. Brasil
nas relações de trabalho – cláusula social nos tratados internacionais. Revista do Tribunal Superior do
Trabalho. TST – Síntese, Brasília - Porto Alegre, vol. 66, out./dez. 2000, p. 239-240.
33
CUT. Política Internacional da CUT. Retirado de: www.cut.org.br Acessado em: abril/2003.
34
IBGE. Síntese de indicadores sociais 2002. Retirado de: www.ibge.gov.br Acessado em:
julho/2003.
35
VEIGA, Pedro da Motta. Op. cit., p. 346.
36
Desde sua criação em 1967, o PNAD tem o objetivo de produzir informações básicas para o estudo
do desenvolvimento sócio-econômico do Brasil. O IBGE utiliza-se do PNAD e de sua parceria com a OIT
para elaborar os indicadores sócio-econômicos do país. Também se estipulou o Programa de Informações
Estatísticas e Monitoramento do Trabalho Infantil (SIMPOC) para combater o trabalho infantil e para
proporcionar uma visão ampla da situação da criança e do adolescente no mercado de trabalho e na escola.
37
O ingresso precoce do homem no mercado de trabalho decorrente da cultura do homem como
sendo o provedor da família.
38
IBGE. Síntese de indicadores sociais 2002. Retirado de: www.ibge.gov.br Acessado em:
julho/2003.
39
BECK, Ulrich. Il lavoro nell´epoca della fine del lavoro. Traduzido por: Hellmut Riediger.
Torino: Giulio Einaudi, 2000. p. 148-149.
Estima-se hoje que cerca de 40% da economia brasileira pertença ao setor informal
– precisamente 61,5% dos trabalhadores de 2002 têm carteira assinada. Já a taxa de
contribuição previdenciária, responsável por demonstrar a qualidade dos empregos, é de
45,7% da população ocupada40.
Em remate, Márcio Túlio Viana ressalta dois fatores específicos que agravam a
economia informal brasileira: (a) os encargos sociais e (b) a cultura do desrespeito às leis,
incentivada pela impunidade. Por conseguinte, vivemos “fragmentados e sem qualquer
poder de barganha, os informais [grifos do autor] pressionam os salários para baixo,
aguçando e aviltando a concorrência pelo mercado de trabalho. De certo modo é também o
que faz o Estado, ao fixar o salário-mínimo em níveis de quarto mundo”41. Reportando-se à
doutrina da flexibilização do direito brasileiro, Osiris Rocha traz à colação que “é preciso
advertir para a realidade (...) que estão querendo aproveitar uma fase de crise para (...)
aumentar lucros das empresas por via da redução de direitos”42.
A melhor ilustração do progresso brasileiro em virtude da pressão externa é o caso
da laranja – o Brasil é o maior produtor de laranja e de suco concentrado do mundo. Neste
caso, percebe-se a ocorrência de duas mobilizações: (a) dos empregadores preocupados na
diminuição das exportações de laranja por empregarem crianças; (b) dos norte-americanos
que solicitaram à ABECITRUS (Associação Brasileira de Exportadores de Cítricos –
associação empresarial que representa os interesses do setor) a fiscalização da observância
das regras da OIT.
Para auxiliar as confederações sindicais, foi criado o Observatório Social, em 1997,
financiado com verbas da OIT e confederações sindicais de países desenvolvidos. O
Observatório já conseguiu a alteração de algumas políticas das transnacionais43.
A indústria brasileira afetada deverá endereçar sua petição anti-dumping à SECEX44
(Secretaria do Comércio Exterior do Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo).
Observa-se que o requerente deverá representar 50% da produção nacional (artigo 20º, § 2º,
do Decreto 1.602/95)45 – este requisito é também estabelecido pela OMC. A própria
SECEX fornece um formulário, no qual deve-se comprovar a existência do dumping e
danos conseqüentes46.
Compete ao Departamento de Defesa Comercial (DECOM), subordinado à
SECEX, propor a abertura e conduzir investigações para a aplicação de medidas anti-
40
IBGE. Síntese de indicadores sociais 2002. Retirado de: www.ibge.gov.br Acessado em:
julho/2003.
41
VIANA, Márcio T. Op. cit., p. 886.
42
ROCHA, Osiris. Globalização da economia e flexibilização do direito do trabalho: bom-senso e
realidade. Revista da Academia Nacional de Direito do Trabalho, São Paulo, ano IV, nº 6, 1998, p. 78.
43
VEIGA, Pedro da Motta. Op. cit., p. 347.
44
A SECEX pertence ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC).
45
O art. 20º, § 2º, do Decreto 1.602/95 estabelece que:
“Os elementos de prova da existência de dumping e de dano por ele causado serão considerados,
simultaneamente, na análise para fins de determinação da abertura da investigação.
§ 2º A SECEX procederá a exame do grau de apoio ou rejeição à petição, expresso pelos demais
produtores nacionais do produto similar, com objetivo de verificar se a petição foi feita pela indústria
doméstica ou em seu nome. No caso de indústria fragmentária, que envolva um número especialmente alto de
produtores, poderá se confirmar apoio ou rejeição mediante a utilização de técnicas de amostragem
estatisticamente válidas.”
46
BARRAL, Welber Oliveira. Dumping e comércio internacional: a regulamentação
antidumping após a Rodada Uruguai. Rio de Janeiro: Forense, 2000. p. 249.
dumping, averiguar o dano e a relação de causalidade47. O DECOM está incumbido
também de, entre outros, recomendar a aplicação das medidas de defesa comercial previstas
nos correspondentes Acordos da OMC, acompanhar a evolução de aplicação das normas
internacionais relacionadas, acompanhar as investigações de defesa comercial abertas por
terceiros países contra exportações brasileiras e prestar assistência à defesa do exportador.
Afora o DECOM, subordinado à SECEX está também o Comitê consultivo de Defesa
Comercial (CCDC), cuja incumbência é examinar em instância consultiva as questões de
dumping. “Assim, todas as decisões, preliminares ou finais, relativas ao anti-dumping, são
tomadas com base em Parecer elaborado pelo DECOM, examinado pelo CCDC”48.
Segundo a legislação brasileira, o exame para determinar a existência de dano
decorrente da prática do dumping é objetivo e leva-se em consideração a análise de: (a)
volume das importações objeto da prática desleal e de seus efeitos sobre os preços
praticados no mercado interno de produtos similares; (b) efeito destas importações sobre os
produtos domésticos similares; (c) impacto sobre a indústria doméstica49.
A título de informação, Welber Barral observa que desde a implementação do
sistema de defesa comercial de 1987 no Brasil, verifica-se que 50% dos processos iniciados
encerram com a imposição de medidas anti-dumping. Dentre os principais países
acionados, os Estados Unidos estão em primeiro lugar, seguido pela República Popular da
China50.
Somente em 1998, por pressão das centrais sindicais, propôs-se um diploma legal
com o objetivo de promover o emprego, condições saudáveis de trabalho, o diálogo social e
47
GUEDES, Josefina Maria; PINHEIRO, Silvia M. Anti-dumping, subsídios e medidas
compensatórias. 2ª ed. São Paulo: Aduaneiras, 1996. p. 74.
48
BARRAL, Welber Oliveira. Op. cit., p. 250.
49
Decreto no 1.602, de 23 de agosto de 1995.
50
BARRAL, Welber Oliveira. Op. cit., p. 259-260.
51
A legislação internacional de caráter social de pano de fundo para o Mercosul é: Declaração
Universal dos Direitos Humanos (1948), Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (1966), Pacto
Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1966), Declaração Americana de Direitos e
Obrigações do Homem (1948), Carta Interamericana de Garantias Sociais (1948), Carta da Organização dos
Estados Americanos (1948), Convenção Americana de Direitos Humanos sobre Direitos Econômicos, Sociais
e Culturais (1988).
o bem-estar dos trabalhadores do Cone Sul. A Declaração Sociolaboral do Mercosul52
permitiu a negociação coletiva para combater o dumping e regular as condições de trabalho
conforme as práticas nacionais, além de estabelecer regras reportando-se às oito
Convenções Internacionais do Trabalho Fundamentais da OIT (do seu artigo 1o. ao 9o.). As
principais regras, referentes à negociação coletiva e ao fomento do emprego, são as
seguintes:
52
COSTA, Armando Casimiro; FERRARI, Irany; MARTINS, Melchíades Rodrigues. Consolidação
das Leis do Trabalho. 30a. ed. São Paulo: LTr, 2003. p. 208-210.
53
LIMA, Otávio Augusto Custódio. As multinacionais e as relações trabalhistas no Mercosul.
Retirado de: www.sites.uol.com.br/globalization/asmulti.htm Acessado em: abril/2003.
54
CRIVELLI, Ericson. Op. cit., p. 43.
5.3. União Européia
55
A versão consolidada pode ser encontrada no site: www.europa.eu.int.
56
TESTA, Felice. Clausole anti-dumping sociale nella contrattazione collettiva. Trabalho
apresentado no Seminário Ítalo-Brasileiro de Direito do Trabalho (PUCPR), Marco Antônio César
Villatore (Coordenador). Curitiba, 31 de março de 2003 a 01 de abril de 2003. p. 8.
Art. 137 - 1. A fim de realizar os objetivos enunciados no artigo 136,
a Comunidade apoiará e completará a ação dos Estados-Membros nos
seguintes domínios:
a) melhoria, principalmente, do ambiente de trabalho, a fim de
proteger a saúde e a segurança dos trabalhadores; b) condições de
trabalho; c) segurança social e proteção social dos trabalhadores; d)
proteção dos trabalhadores em caso de rescisão do contrato de
trabalho; e) informação e consulta dos trabalhadores; f) representação
e defesa coletiva dos interesses dos trabalhadores e das entidades
patronais, incluindo a co-gestão; g) condições de emprego dos
nacionais de países terceiros que residam legalmente no território da
Comunidade; h) integração das pessoas excluídas do mercado de
trabalho; i) igualdade entre homens e mulheres quanto às
oportunidades no mercado de trabalho e ao tratamento no trabalho; j)
luta contra a exclusão social; k) modernização dos sistemas de
proteção social.
O caminho da União Européia dá-se, portanto, por intermédio de uma política social
comunitária junto à livre circulação de trabalhadores, para que exista um verdadeiro
mercado comum de trabalho aumentando as chances de um melhoramento de condições de
vida e de emprego.
Felice Testa cita, ainda, que “a experiência comunitária européia constitui,
provavelmente, o mais relevante caso de integração ´internacional´ em uma ótica de
promoção de condições sociais, mas se deve frisar para que o mesmo termo ´internacional´
não seja juridicamente apto às relações existentes entre os Estados Membros da União
Européia”57.
Em 22 de setembro de 1994 foi emanada uma Diretiva Comunitária, de número 45,
regulando as modalidades de constituição de Comitês Empresariais Europeus,
estabelecendo os procedimentos de informação e de consulta dos trabalhadores nas
empresas e nos grupos de empresas transnacionais comunitárias.
Não nos podemos esquecer de que a Europa sempre foi a precursora da famosa
flexibilização, desde a década de 70, em função da falta de combustíveis que desencadeou
grande número de desempregos, naquilo que se refere à Reunião dos 15 Estados Membros,
em março de 2002, comentada por nós em outra oportunidade58.
Cumpre observar que o Sistema Geral de Preferência (SGP)59 da União Européia
permite a concessão de preferências suplementares aos países que demonstrem respeito aos
direitos trabalhistas fundamentais. Havendo violações a estes direitos pode-se suspender
temporariamente o tratamento preferencial. Benefícios atribuídos à Mianmar (ex-Birmânia,
na Ásia) foram suspensos em 1997 em virtude da utilização de trabalho forçado60.
57
Ibidem, p. 10.
58
VILLATORE, Marco Antônio César. Flexibilização do direito do Trabalho – Novidades na União
Européia. Jornal do 10o Congresso Brasileiro de Direito do Trabalho, LTr, São Paulo de 16 a 17 de abril
de 2002, p. 57-58.
59
O SGP é um programa de benefícios tarifários de cunho mercantil criado em 1970 pela Junta de
Comércio e Desenvolvimento da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento
(UNCTAD). O objetivo do programa é desenvolver a pauta de comercialização entre países por meio da
concessão de benefícios tarifários dos países desenvolvidos aos países em desenvolvimento.
60
VEIGA, Pedro da Motta. Op. cit., p. 329.
Felizmente, a União Européia adota propostas contrárias ao uso de sanções
comerciais para incentivar a proteção do trabalhador. À guisa de exemplo, o plano de
iniciativas domésticas da Comissão Européia tem como política atribuir maior eficácia aos
instrumentos da OIT por intermédio de mecanismos de supervisões, incentivos e
apresentações de queixas61.
A China precisa atingir apenas um quinto da renda per capita norte-americana para
tornar-se a maior economia do mundo – desta forma, o país não precisa ser tão produtivo
quanto às demais nações. Com a abertura comercial houve grande deslocamento de
trabalhadores agrícolas para os centros urbanos. Percebe-se que o atual problema chinês é o
paulatino início da carência de trabalhadores rurais para a agricultura62.
Na Constituição da República Popular da China, 04/12/1982, há uma grande gama
de direitos trabalhistas. Em seu Preâmbulo observa-se a influência marxista-leninista na
elaboração de preceitos jurídicos e finalidades que a sociedade chinesa busca alcançar:
“Nos próximos anos, a tarefa fundamental da nação será
concentrar os esforços na modernização socialista. Sob a égide do
Partido Comunista da China e a inspiração do marxismo-
leninismo e do pensamento de Mao Zedong, o povo chinês de
todas as nacionalidades continuará a aderir à ditadura
democrático-popular e a seguir a via socialista, a melhorar
constantemente as instituições socialistas, a desenvolver a
democracia socialista e a trabalhar, arduamente e com toda a
independência, para a modernização da indústria, da agricultura,
da defesa nacional, da ciência e da tecnologia, a fim de
transformar a China num país socialista de alto nível de cultura e
de democracia (...) As classes exploradoras, enquanto tais, foram
banidas do nosso país. No entanto, a luta de classes perdurará
ainda por muitos anos dentro de certos limites. O povo chinês terá
de lutar contra as forças e os elementos que, no país e no
estrangeiro, são hostis ao regime socialista chinês e tentam
subvertê-lo. (destaques nossos)
61
Ibidem, p. 330.
62
KRUGMAN, Paul; OBSTFELD, Maurice. Op. cit., p.277-278.
coletivas rurais e urbanas devem cumprir as suas tarefas em
consonância com a sua condição de senhores do País. O Estado
Promove a emulação socialista no trabalho e enaltece e recompensa os
trabalhadores modelares e mais avançados. O Estado encoraja os
cidadãos a participar em trabalhos voluntários. O Estado proporciona
aos cidadãos a formação vocacional necessária antes do emprego.
Art. 43 - Os trabalhadores da República Popular da China têm
direito ao descanso. O Estado fomenta os estabelecimentos
destinados ao repouso e à recuperação dos trabalhadores e determina
as horas de trabalho e as férias de trabalhadores e funcionários.
Art. 44 - O Estado define por lei o sistema a que obedece a reforma
dos trabalhadores e funcionários das empresas e a dos funcionários
dos órgãos do Estado. A subsistência dos reformados é garantida pelo
Estado e pela sociedade.
Art. 45 - Os cidadãos da República Popular da China têm direito a um
auxílio material do Estado e da sociedade na velhice, na doença e
na deficiência. O Estado desenvolve os serviços de segurança
social, assistência social e saúde necessária para que os cidadãos
possam gozar de tal direito. O Estado e a sociedade garantem a
subsistência aos membros das Forças Armadas que adquiram
deficiências, concedem pensões às famílias dos mártires e dão um
tratamento preferencial às famílias dos militares. O Estado e a
sociedade contribuem para que os cegos, os surdos-mudos e outros
cidadãos deficientes tenham trabalho, disponham de condições de
subsistência e recebam instrução.
Art. 46 - Os cidadãos da República Popular da China têm o dever
e o direito de educação. O Estado fomenta os desenvolvimentos
morais, intelectuais e físicos das crianças e dos jovens.
Art. 47 - Os cidadãos da República Popular da China são livres de
se dedicar à investigação científica, à criação literária e artística e
a outras atividades culturais. O Estado incentiva e apóia as
atividades criadoras, de interesse do povo, levadas a cabo por cidadãos
empenhados em trabalho educativo, científico, tecnológico, literário,
artístico e cultural em geral.
Art. 48 - As mulheres na República Popular da China gozam dos
mesmos direitos dos homens em todas as esferas da vida política,
econômica, cultural, social e familiar. O Estado protege os direitos e
interesses das mulheres, aplica a homens e mulheres sem distinção o
princípio de "a trabalho igual salário igual" e forma e escolhe quadros
de entre as mulheres.
Art. 49 - O casamento, a família, a mãe e a criança são protegidos
pelo Estado. Tanto o marido como a mulher têm o dever de praticar o
planejamento familiar. Os pais têm o dever de criar e educar os filhos
menores e os filhos maiores têm o dever de manter e auxiliar os pais.
É proibida a violação da liberdade de casamento. São proibidos os
maus tratos a velhos, mulheres e crianças. (destaques nossos)
63
LAWSNET. China's new anti-dumping regulations. Retirado de:
www.lawsnet.com/china/cowlingr.htm Acessado em: julho/2003.
governo chinês utilizar-se da lei conforme suas políticas econômicas64. Compete ao
Ministério de Trocas Internacionais e Cooperação Econômica (MOFTEC) investigar os
casos de dumping.
Entre Brasil e China há um famoso caso de dumping sobre o lápis de cor e de
grafite, instituído a pedido da Labra S/A e da Johann Faber S/A em fevereiro de 1996. Em
virtude da perda do mercado nacional e caracterizado dano às empresas nacionais – redução
de empregos e níveis de preços – o Brasil aplicou direitos definitivos de 301,5% para lápis
de grafite e 203,3% para lápis de cor. Todavia, como a China não tem uma economia de
mercado, não foi possível calcular o valor normal do produto no seu mercado65.
5.5. Japão
64
YOUNG, Laura W. China´s Anti-Dumping Regulations. Retirado de:
www.wangandwang.com/dumping.htm Acessado em: julho/2003.
65
BARRAL, Welber Oliveira. Op. cit., p. 264-265.
66
Acredita-se que a política do aço foi responsável pelo aceleramento do crescimento econômico do
Japão, mas não na proporção que se esperava porque a taxa de rendimento deste investimento caiu ficando
pouco superior à média. O problema foi que se investiu muito no aço e pouco em outros setores mais
rentáveis.
67
SEN, Amartya. Op. cit., p. 301-302.
68
Japan Information Network. Medidas anti-dumpig e regras para investimentos chamam a
atenção. Retirado de: www.japao.org.br/portugues/po22.htm Acessado em: Abri/2003.
pensamento é extremamente criticado pela doutrina americana por estar em conflito com o
pensamento de paz pregado pelos Estados Unidos 69.
Estabelece o Preâmbulo da Constituição Japonesa:
We, the Japanese people, desire peace for all time and are deeply
conscious of the high ideals controlling human relationship and we
have determined to preserve our security and existence, trusting in the
justice and faith of the peace-loving peoples of the world. We desire to
occupy an honored place in an international society striving for the
preservation of peace, and the banishment of tyranny and slavery,
oppression and intolerance for all time from the earth. We recognize
that all peoples of the world have the right to live in peace, free from
fear and want. We believe that no nation is responsible to itself alone,
but that laws of political morality are universal; and that obedience to
such laws is incumbent upon all nations who would sustain their own
sovereignty and justify their sovereign relationship with other nations.
We, the Japanese people, pledge our national honor to accomplish
these high ideals and purposes with all our resources70. (destaques
nossos)
Art. 26 - All people shall have the right to receive an equal education
correspondent to their ability, as provided for by law.
Art. 27 - All people shall have the right and the obligation to work. 2)
Standards for wages, hours, rest and other working conditions shall
be fixed by law. 3) Children shall not be exploited.
Art. 28 - The right of workers to organize and to bargain and act
collectively is guaranteed71. (destaques nossos)
69
TSUNEOKA, Setsuko Norimoto. Pacifism and some misconceptions about the Japanese
Constitution. The Constitution of Japan. Tokyo: Kashiwashobo, 1996. p. 126.
70
Nós, o povo japonês, desejamos paz para todos os tempos e estamos profundamente conscientes de
que há grandes ideais controlando as relações internacionais e estamos determinados a preservar nossa
segurança e existência, confiando na justiça e fé dos amantes da paz do mundo. Nós desejamos ocupar um
lugar honrado na sociedade internacional, a qual esforça-se para a preservação da paz, e a eliminação da
tirania e escravidão, da opressão e da intolerância para sempre na terra. Nós reconhecemos que todos os
povos do mundo têm o direito de viver em paz, livre do medo e de carências. ar do medo e querer. Nós
acreditamos que nenhuma nação é responsável por si sozinha, mas que as leis político-morais são universais;
e que a obediência de tais leis é dever de todas as nações que sustentam sua própria soberania e justificam sua
soberania perante outras nações. Nós, o povo japonês, prometemos em nossa honra nacional que realizaremos
estes grandes ideais e finalidades com todos os nossos recursos. (tradução nossa)
71
Art. 26 - Todos terão o direito de receber educação igual conforme sua habilidade, como é
resguardado pela lei (...)
Art. 27 - Todos terão o direito e a obrigação de trabalhar. 2) Os padrões para salários, horas,
descansos e outras condições de trabalho serão fixadas por lei. 3) As crianças não serão exploradas.
Art. 28 – Está garantido o direito dos trabalhadores de organizarem-se e negociarem e agir
coletivamente é garantida. (tradução nossa).
5.6 Estados Unidos da América
72
GOYOS, Durval Noronha. A lei dos Estados Unidos face ao Regionalismo e ao
Multilateralismo. Retirado de: www.noronha advogados.com.br Acessado em: janeiro/2003.
73
GUEDES, Josefina Maria; PINHEIRO, Silvia M. Op. cit., p. 48-49.
74
Hoje o prazo norte-americano para a manutenção dos direitos anti-dumping é de cinco anos.
Decorrido o prazo, há a obrigação do país re-analisar a necessidade desta medida.
75
VEIGA, Pedro da Motta. Op. cit., p. 328-329.
5.5. Área de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA)
76
THORSTEN, Vera. O Brasil frente a um tríplice desafio: negociações simultâneas da OMC, da
Alca e do Acordo CE/Mercosul. In: CINTRA, Marcos; CARDIN, Carlos Henrique (Organizadores). O
Brasil e a Alca. Brasília: Centro de Documentação e Informação, 2002. p. 473.
77
Ibidem, p. 478.
Todavia, consta na proposta da ALCA observar os diferentes níveis de
desenvolvimento de cada Estado membro, para criar oportunidades e permitir a plena
participação das economias menores78. Consta nos objetivos gerais que: (a) a crescente
integração econômica tem em seu cerne elevar o nível de vida, melhorar as condições de
trabalho e proteger o meio-ambiente; (b) assegura-se o compromisso e respeito da
observância e promoção dos direitos trabalhistas fundamentais “conforme as nossas
respectivas leis e regulamentos, a observância e a promoção dos direitos trabalhistas”79.
Para evitar maiores conflitos, a Organização dos Estados Americanos (OEA)
estipulou uma comissão composta por Ministros do Trabalho com o fim de discutir as
propostas trabalhistas na ALCA.
No Grupo de Negociações do Capítulo de Investimentos há também propostas
apresentadas com textos obrigando os países signatários do Acordo ao comprometimento
de não reduzir ou ignorar as normas trabalhistas domésticas para atrair investimentos
externos80.
6. Considerações Finais
Como podemos verificar, no presente estudo, o dumping social tem sido muito
discutido na sociedade contemporânea. Percebe-se, porém, que a utilização do dumping
social afigura muito mais uma barreira comercial para proteger o mercado interno de cada
país, ao invés de uma preocupação quanto à exploração do trabalhador ou modalidade de
política social.
Com efeito, que modelo de anti-dumping é esse que estabelece punições monetárias
a outro país, muitas vezes de forma arbitrária, tendo por conseqüência o enfraquecimento
das exportações do país subdesenvolvido e gerando, com isso, maior desemprego?
Felizmente a União Européia vem adotando políticas que fortalecem as regras da
OIT como forma de diluir a utilização do dumping social. Nas discussões estimuladas em
sala-de-aula, no Mestrado em Direito Econômico e Social da Pontifícia Universidade
Católica do Paraná, o mestrando Rafael Palumbo muito bem apontou, como solução de
política social, que os valores arrecadados como medidas anti-dumping pelo país
importador (geralmente país desenvolvido) fossem direcionados à própria sociedade e, de
preferência, aos próprios trabalhadores que estão sendo prejudicados com jornadas
estafantes, com trabalho infantil, com discriminações entre trabalhadores (homens e
mulheres), dentre outros problemas.
Qual seria a forma de repasse de tais valores? Caso o Estado tivesse Governos
fracos e corruptos ou fosse embasado em Ditadura, o repasse poderia ser realizado através
de Organismos Não Governamentais (ONGs). Caso o Estado prejudicado fosse confiável,
tais valores poderiam ser repassados a programas de auxílio, como é o caso de nosso
Programa de Auxílio ao Trabalhador (PAT), mas desde que fossem direcionados aos
trabalhadores que sofreram as violações ou perderam o emprego com o fechamento da
empresa que estava praticando o dumping social.
78
GARCIA JÚNIOR, Armando Álvares. A Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) e seu
marco jurídico. São Paulo: LTR, 1998. p. 30
79
Ibidem, p. 37.
80
VEIGA, Pedro da Motta. Op. cit., p. 329
Defende-se neste estudo, que a melhor forma de coibir os excessos da exploração da
mão-de-obra é por intermédio da real aplicação das Convenções Internacionais do
Trabalho.
No Brasil, temos um problema cultural seriíssimo, que é a utilização das
Convenções Internacionais como sendo uma mera Recomendação da OIT, sendo que, na
maioria das vezes, mesmo após a inserção das regras no direito interno, por meio dos
Decretos, as normas ali estabelecidas são esquecidas. Pode-se citar o exemplo da
Convenção 132, da OIT, trazida ao Direito do Trabalho brasileiro por meio do Decreto no.
3197, de 5 de outubro de 1999, que estabelece regras sobre férias anuais remuneradas.
Enquanto não modificarmos o nosso pensamento, no que diz respeito às normas
emanadas de organismos internacionais e de integração de Direito do Trabalho, não
poderemos asseverar que o nosso intuito é fortalecer o Brasil – por meio de uniões entre
Estados, como o Mercosul e a ALCA – muito menos que estaremos trabalhando para
erradicar a fome no nosso país; e quiçá que haja um propósito semelhante no mundo, como
tentado na reunião do G-8.
7. Referências Bibliográficas
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Riediger. Torino: Giulio Einaudi, 2000.
IBGE. Síntese de indicadores sociais 2002. Retirado de: www.ibge.gov.br Acessado em:
julho/2003.
KEYNES, John Maynard. A teoria geral do emprego, do juro e da moeda. São Paulo:
Atlas, 1992.
KRUGMAN, Paul R.; OBSTFELD, Maurice. Economia Internacional. 5a. ed. São Paulo:
Makron, 2001.
PAULA, Nélia Cristina Cruz de. Não intervenção do Estado nas relações de trabalho –
cláusula social nos tratados internacionais. Revista do Tribunal Superior do Trabalho,
TST - Síntese, Brasília - Porto Alegre, vol. 66, out./dez. 2000, p. 235-247.
SEN, Amartya. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo: Companhia das Letras,
2002.
SÜSSEKIND, Arnaldo. Convenções da OIT. 2a. ed. São Paulo: LTr, 1998.
TSUNEOKA, Setsuko Norimoto. Pacifism and some misconceptions about the Japanese
Constitution. The Constitution of Japan. Tokyo: Kashiwashobo, 1996.
VIANA, Márcio T. Desregulamentar regulamentando. Revista LTr. São Paulo, vol. 59, nº
07, julho de 1995, p. 884-889.