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Home > De Peso > ESG, Pacto Global E O Abc Do Papel Das Empresas Na Efetivação Dos Direitos Humanos
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Nota-se que a responsabilidade de empresas frente às obrigações de direitos humanos é reiterada na comunidade internacional, o que
resulta na necessária a adoção de práticas que visem a efetivação desses direitos.
segunda-feira, 3 de outubro de 2022
Atualizado às 08:57
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A Fábrica de Fogos Santo Antônio de Jesus funcionava de maneira clandestina e sem a garantia de
condições mínimas de trabalho. Este contexto levou a Corte IDH a avaliar a obrigação estatal de
fiscalização e regulação sobre as atividades perigosas exercidas por entidades privadas, bem como
a própria responsabilidade de empresas na garantia dos direitos humanos de seus empregados. Por
este motivo, determinou, dentre as reparações, que o Estado apresentasse um relatório sobre a
implementação das Diretrizes Nacionais sobre Empresas e Direitos Humanos (Decreto 9.571/2018).
Destaca-se que, diante da ausência de normativa específica sobre direitos humanos e empresas no
Sistema Interamericano, a Corte IDH pautou sua análise pelos Princípios Orientadores das Nações
Unidas. Tratam-se de instrumento de soft law elaborado pelas Nações Unidas e fundado nos pilares
de "proteção, respeito e reparação" com a finalidade de conduzir as boas práticas de empresas
voltadas aos direitos humanos.
Esse instrumento consolida os chamados Princípios Ruggie, em homenagem a seu idealizador John
Ruggie, que fora nomeado pelo Secretário-Geral da ONU como Representante Geral para
Empresas e Direitos Humanos em 2005. A elaboração desses princípios ocorre em um cenário em
que a globalização econômica produz diversas mudanças sociais, políticas e culturais, as quais
agregam à agenda dos direitos humanos a necessidade da incorporação de responsabilidade aos
novos atores internacionais. Assim, os Princípios Ruggie representam o primeiro marco normativo
internacional que expressamente identifica a responsabilidade das empresas em matéria de
direitos humanos.1
Importa salientar que foi na publicação Who Care Wins realizada pelo Pacto Global conjuntamente
ao Banco Mundial que se cunhou o termo ESG (Envoronmental, Social and Governance) para se
referir às práticas ambientais, sociais e de governança de instituições. A atuação em conformidade
aos critérios ESG consiste, hoje, em uma recorrente demanda do próprio mercado. Logo, torna-se
um atrativo a investidores, vez que confere melhor reputação e consistência à empresa.
A implementação de critérios ESG é crescente no âmbito nacional. Isto porque está acompanhada
também pelo fortalecimento da noção de função social da atividade empresária, a qual, segundo
Ana Frazão, contempla "além dos interesses dos sócios, os interesses dos diversos sujeitos
envolvidos e afetados pelas empresas."2 Há, portanto, a integração de um dever de cuidado ao
funcionamento das empresas. À vista disso, dá-se o nascimento das responsabilidades
compartilhadas, as quais incorporam as responsabilidades pública e privada quanto à proteção dos
direitos humanos.3
Nessa toada, é cada vez maior a procura de assessoria jurídica voltada à adoção de iniciativas que
considerem a responsabilidade social corporativa. Fala-se, inclusive, no uso do contrato como
instrumento de proteção e promoção de direitos humanos por meio das chamadas "cláusulas
éticas".4
Diante do exposto, nota-se que a responsabilidade de empresas frente às obrigações de direitos
humanos é reiterada na comunidade internacional, o que resulta na necessária a adoção de
práticas que visem a efetivação desses direitos. Frisa-se que a adesão de iniciativas de
responsabilidade social pelas empresas não só favorece a sociedade como um todo, como
também a própria atividade empresarial, que ganha em termos de reputação e investimentos.
Desse modo, é, mais do que nunca, imprescindível avançar na construção de uma lógica
corporativa com enfoque em direitos humanos.
_____________
1 PIOVESAN, Flávia & GONZAGA, Victoriana. Empresas e Direitos Humanos: Desafios e perspectivas à luz do direito
internacional dos direitos humanos. In: Pamplona, Danielle Anne; FACHIN, Melina Girardi (Coord.); BOLZANI, Giulia
Fontana (Org.). Direitos Humanos e Empresas. Curitiba: Íthala, 2019. p. 140.
2 FRAZÃO, Ana. Função social da empresa. In: PUCSP. Enciclopédia jurídica. Tomo direito comercial. Disponível em:
https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/222/edicao-1/ funcao-social-da-empresa. Acesso em 21 de set.
2022.
3 FACHIN, Melina Girardi. Empresas e direitos humanos: compartilhando valor e responsabilidades. Revista de
Direito Internacional, Brasília, v. 17, n. 1, p.324-339, 2020. p. 328.
4 PIMENTEL, Mariana Barsaglia. O contrato como instrumento de proteção e promoção dos direitos humanos no
âmbito empresarial: as cláusulas éticas. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Paraná, Setor de
Ciências Jurídicas, Programa de Pós-graduação em Direito. Curitiba, 2018.
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