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569

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ESG, pacto global e o abc do papel das empresas na efetivação dos


direitos humanos
Ana Júlia Amaro Miyashiro

Nota-se que a responsabilidade de empresas frente às obrigações de direitos humanos é reiterada na comunidade internacional, o que
resulta na necessária a adoção de práticas que visem a efetivação desses direitos.
segunda-feira, 3 de outubro de 2022
Atualizado às 08:57

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Em julho de 2020, sobreveio a sentença do caso Empregados da Fábrica de Fogos de Santo


Antônio de Jesus e seus familiares vs. Brasil, que resultou na nona condenação do Estado brasileiro
pela Corte Interamericana de Direitos Humanos. Trata-se de importante precedente no qual a Corte
IDH reconheceu a responsabilidade estatal pátria por violações de direitos humanos decorrentes da
explosão ocorrida em uma fábrica de fogos de artifício localizada no Estado da Bahia que levou 64
pessoas à óbito e deixou outras seis pessoas gravemente feridas.

A Fábrica de Fogos Santo Antônio de Jesus funcionava de maneira clandestina e sem a garantia de
condições mínimas de trabalho. Este contexto levou a Corte IDH a avaliar a obrigação estatal de
fiscalização e regulação sobre as atividades perigosas exercidas por entidades privadas, bem como
a própria responsabilidade de empresas na garantia dos direitos humanos de seus empregados. Por
este motivo, determinou, dentre as reparações, que o Estado apresentasse um relatório sobre a
implementação das Diretrizes Nacionais sobre Empresas e Direitos Humanos (Decreto 9.571/2018).

Destaca-se que, diante da ausência de normativa específica sobre direitos humanos e empresas no
Sistema Interamericano, a Corte IDH pautou sua análise pelos Princípios Orientadores das Nações
Unidas. Tratam-se de instrumento de soft law elaborado pelas Nações Unidas e fundado nos pilares
de "proteção, respeito e reparação" com a finalidade de conduzir as boas práticas de empresas
voltadas aos direitos humanos. 

Esse instrumento consolida os chamados Princípios Ruggie, em homenagem a seu idealizador John
Ruggie, que fora nomeado pelo Secretário-Geral da ONU como Representante Geral para
Empresas e Direitos Humanos em 2005. A elaboração desses princípios ocorre em um cenário em
que a globalização econômica produz diversas mudanças sociais, políticas e culturais, as quais
agregam à agenda dos direitos humanos a necessidade da incorporação de responsabilidade aos
novos atores internacionais. Assim, os Princípios Ruggie representam o primeiro marco normativo
internacional que expressamente identifica a responsabilidade das empresas em matéria de
direitos humanos.1

No mesmo sentido, as Nações Unidas adotaram a perspectiva de compartilhamento de


responsabilidade sobre direitos humanos no lançamento do Pacto Global, uma iniciativa que visa a
adoção de políticas de responsabilidade social corporativa e de sustentabilidade a partir da
efetivação de dez princípios das áreas de direitos humanos, trabalho, meio ambiente e
anticorrupção. Desde então, o Pacto Global conta com mais de 1.400 participantes e signatários no
Brasil, dentre os quais também se destacam importantes escritórios de advocacia, ainda que
estejam fora do escopo da atividade empresarial.

Importa salientar que foi na publicação Who Care Wins realizada pelo Pacto Global conjuntamente
ao Banco Mundial que se cunhou o termo ESG (Envoronmental, Social and Governance) para se
referir às práticas ambientais, sociais e de governança de instituições. A atuação em conformidade
aos critérios ESG consiste, hoje, em uma recorrente demanda do próprio mercado. Logo, torna-se
um atrativo a investidores, vez que confere melhor reputação e consistência à empresa.

A implementação de critérios ESG é crescente no âmbito nacional. Isto porque está acompanhada
também pelo fortalecimento da noção de função social da atividade empresária, a qual, segundo
Ana Frazão, contempla "além dos interesses dos sócios, os interesses dos diversos sujeitos
envolvidos e afetados pelas empresas."2 Há, portanto, a integração de um dever de cuidado ao
funcionamento das empresas. À vista disso, dá-se o nascimento das responsabilidades
compartilhadas, as quais incorporam as responsabilidades pública e privada quanto à proteção dos
direitos humanos.3
Nessa toada, é cada vez maior a procura de assessoria jurídica voltada à adoção de iniciativas que
considerem a responsabilidade social corporativa. Fala-se, inclusive, no uso do contrato como
instrumento de proteção e promoção de direitos humanos por meio das chamadas "cláusulas
éticas".4
Diante do exposto, nota-se que a responsabilidade de empresas frente às obrigações de direitos
humanos é reiterada na comunidade internacional, o que resulta na necessária a adoção de
práticas que visem a efetivação desses direitos. Frisa-se que a adesão de iniciativas de
responsabilidade social pelas empresas não só favorece a sociedade como um todo, como
também a própria atividade empresarial, que ganha em termos de reputação e investimentos.
Desse modo, é, mais do que nunca, imprescindível avançar na construção de uma lógica
corporativa com enfoque em direitos humanos.

_____________

1 PIOVESAN, Flávia & GONZAGA, Victoriana. Empresas e Direitos Humanos: Desafios e perspectivas à luz do direito
internacional dos direitos humanos. In: Pamplona, Danielle Anne; FACHIN, Melina Girardi (Coord.); BOLZANI, Giulia
Fontana (Org.). Direitos Humanos e Empresas. Curitiba: Íthala, 2019. p. 140.

2 FRAZÃO, Ana. Função social da empresa. In: PUCSP. Enciclopédia jurídica. Tomo direito comercial. Disponível em:
https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/222/edicao-1/ funcao-social-da-empresa. Acesso em 21 de set.
2022.

3 FACHIN, Melina Girardi. Empresas e direitos humanos: compartilhando valor e responsabilidades. Revista de
Direito Internacional, Brasília, v. 17, n. 1, p.324-339, 2020. p. 328.

4 PIMENTEL, Mariana Barsaglia. O contrato como instrumento de proteção e promoção dos direitos humanos no
âmbito empresarial: as cláusulas éticas. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Paraná, Setor de
Ciências Jurídicas, Programa de Pós-graduação em Direito. Curitiba, 2018.

Ana Júlia Amaro Miyashiro


Discente do quarto ano do curso de Direito da Universidade Federal do Paraná, integrante do Núcleo de
Estados em Sistemas de Direitos Humanos (NESIDH) e colaboradora do escritório Fachin Advogados
Associados.

Fachin Advogados Associados

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