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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JATAÍ

UNIDADE ACADÊMICA DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS


CURSO DE DIREITO

DISCIPLINA: Hermenêutica Jurídica e Direito Intertemporal


SEMESTRE: 2021.2
DOCENTE: Prof. Dr. Moisés Alves Soares

RELATÓRIO: ANÁLISE SOBRE CONFLITO DE PRINCÍPIOS NA ADPF 187

INTEGRANTES DO GRUPO:

DANIEL DE LIMA COSTA

IGOR ROBERT ASSIS PIRES

LUCAS HENRIQUE INOCÊNCIO

PEDRO VICTOR DE BRITO SILVA

RODOLFO KALIEL FERNANDES DE CASTRO MORAES

VINICIUS BARBOSA DA SILVA RIBEIRO JUNIOR

JATAÍ
2022
DANIEL DE LIMA COSTA

IGOR ROBERT ASSIS PIRES

LUCAS HENRIQUE INOCÊNCIO

PEDRO VICTOR DE BRITO SILVA

RODOLFO KALIEL FERNANDES DE CASTRO MORAES

VINICIUS BARBOSA DA SILVA RIBEIRO JUNIOR

RELATÓRIO: ANÁLISE SOBRE CONFLITO DE PRINCÍPIOS NA ADPF 187

Trabalho desenvolvido sob a orientação do Prof. Dr. Moisés


Alves Soares, apresentado à disciplina de Hermenêutica e
Direito Intertemporal em Direito como requisito parcial de
conclusão da disciplina.

JATAÍ-GO

202

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Sumário
ADPF – ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL .......................... 3
DO CONFLITO NORMATIVO ......................................................................................................... 5
A ADPF É APLICÁVEL NESTE CASO ........................................................................................... 6
DECISÃO CONTRÁRIA .................................................................................................................. 6
REFERÊNCIAS .............................................................................................................................. 8

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ADPF – ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL
DEFINIÇÃO
A Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) - regulamentada pela lei
9882/99 - se trata de uma ação constitucional de controle concentrado em que, não havendo
outro meio judicial cabível, assegura a supremacia da Constituição federal diante de duas
situações:
a. Ato praticado pelo poder público que esteja ameaçando ou violando um importante
preceito da Constituição;

b. Norma editada pelo poder público que aparentemente seja incompatível com um
importante preceito da Constituição.

A própria nomenclatura da ADPF indica que essa ação tem como propósito proteger a
integridade de um preceito fundamental contido na Constituição. No entanto, ainda não foi
construído um conceito específico e preciso para a definição de "preceito fundamental", mas,
basicamente, preceitos fundamentais representam um conjunto de normas e princípios
constitucionais que são qualificados como pilares da ordem constitucional dotados de
essencialidade. Em prática, competirá ao STF decidir caso a caso se a norma em questão
pode ou não ser um preceito fundamental.

ADPF: AUTÔNOMA E INCIDENTAL

A legislação prevê duas espécies de ADPF, a autônoma e a incidental:


A ADPF autônoma é a ação proposta originariamente no STF com o propósito de evitar
(ADPF preventiva) ou reparar (ADPF repressiva) lesão ao preceito fundamental resultante de
algum ato do poder público.

● Art. 1° da Lei 9882/99 "A argüição prevista no § 1o do art. 102 da Constituição


Federal será proposta perante o Supremo Tribunal Federal, e terá por objeto evitar
ou reparar lesão a preceito fundamental, resultante de ato do Poder Público."
O conceito de "ato" que pode ser questionado pela ADPF autônoma é amplíssimo,
abrangendo qualquer espécie de ato praticado pelo poder público. Desse modo, será cabível a
essa espécie de ADPF para questionar, por exemplo, leis ou atos normativos, atos
administrativos e atos jurisdicionais (decisões judiciais) que estão causando - ou podem
causar - lesão a um preceito fundamental.

Já a ADPF incidental é uma ação proposta originariamente no STF com o propósito de


solucionar uma relevante controvérsia constitucional sobre norma do poder público federal,
estadual e municipal, buscando decidir se ela é ou não compatível com a Constituição.
Solucionar essa controvérsia será uma questão relevante não apenas para o litígio das partes,
mas também para toda sociedade. A ADPF incidental irá se identificar como um instrumento
adequado para que um dos legitimados provoque uma decisão do STF na tentativa de resolver
definitivamente a questão, resultando, assim, numa decisão de controle abstrato com eficácia
erga omnes e efeito vinculante estabelecendo, de uma vez por todas, se aquela norma viola ou
não algum dos preceitos fundamentais da Constituição.

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Além disso, a ADPF incidental pode ser manejada contra normas anteriores à Constituição,
ou seja, contra atos pré-constitucionais. Esse detalhe é importante para compreender que a
ADPF não serve tão somente como instrumento para aferir a constitucionalidade de uma
norma pois, nesse caso, a ADPF servirá para que seja realizado um juízo de recepção, onde o
STF precisará avaliar se essa norma pré-constitucional foi ou não recepcionada pela CF/88.

● Parágrafo único. Caberá também arguição de descumprimento de preceito


fundamental:
I - "quando for relevante o fundamento da controvérsia constitucional sobre lei ou
ato normativo federal, estadual ou municipal, incluídos os anteriores à
Constituição."
Art. 6°(...), §1°Se entender necessário, poderá o relator ouvir as partes nos processos
que ensejaram a argüição, requisitar informações adicionais, designar perito ou
comissão de peritos para que emita parecer sobre a questão, ou ainda, fixar data
para declarações, em audiência pública, de pessoas com experiência e autoridade na
matéria.

LEGITIMIDADE

A legitimidade para a propositura da ADPF é similar às demais ações de controle abstrato,


logo, irá abranger: o Presidente da República; a Mesa do Senado Federal e da Câmara dos
deputados; a Mesa da Assembleia Legislativa do Estado ou da Câmara Legislativa do Distrito
Federal; o Governador de Estado ou do DF; o Procurador Geral da República; o Conselho
Federal da OAB; qualquer partido político que tenha representatividade no Congresso
Nacional; e as confederações sindicais ou entidades de classe de âmbito nacional.
● Art. 2° da Lei 9882/99 Podem propor argüição de descumprimento de preceito
fundamental:
I - os legitimados para a ação direta de inconstitucionalidade.

CARÁTER SUBSIDIÁRIO

A legislação estabelece que a ADPF não será admitida quando houver qualquer outro
meio eficaz de sanar a lesividade. Ou seja, se couber ADI, ADC ou ADO, a APDF não será
cabível. Trata-se aqui de seu caráter subsidiário.

● Art. 4° (...) § 1° Não será admitida argüição de descumprimento de preceito


fundamental quando houver qualquer outro meio eficaz de sanar a lesividade.
PROCEDIMENTO
● Art. 3° da Lei 9882/99 A petição inicial deverá conter:

I - a indicação do preceito fundamental que se considera violado;

II - a indicação do ato questionado;

III - a prova da violação do preceito fundamental;

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IV - o pedido, com suas especificações;

V - se for o caso, a comprovação da existência de controvérsia judicial relevante


sobre a aplicação do preceito fundamental que se considera violado.
Parágrafo único. A petição inicial, acompanhada de instrumento de mandato, se for
o caso, será apresentada em duas vias, devendo conter cópias do ato questionado e
dos documentos necessários para comprovar a impugnação.

DECISÃO

A legislação estabelece que a decisão sobre a ADPF somente será tomada se presentes na
sessão pelo menos dois terços dos ministros do STF.

● Art. 8° A decisão sobre a arguição de descumprimento de preceito fundamental


somente será tomada se presentes na sessão pelo menos dois terços dos Ministros.

EFEITOS DA DECISÃO

Assim como ocorre com as demais ações de controle abstrato, a lei prevê que a decisão final
de mérito da ADPF terá eficácia contra todos (erga omnes), efeito vinculante e também que
sua decisão será ex tunc (possui efeito retroativo) A eficácia erga omnes é o efeito que faz com que a
decisão de controle abstrato tenha eficácia para todos independentemente de quem atuou ou não na
ação.
● Art.10° da Lei 9882/99 (...) §3° A decisão terá eficácia contra todos e efeito
vinculante relativamente aos demais órgãos do Poder Público. Já o efeito vinculante é o efeito que
faz com que os juízes e tribunais não possam decidir de forma contrária ao que foi decidido em sede
de controle abstrato, e que os órgãos públicos não possam executar suas atribuições administrativas
de forma contrária ao que foi decidido em sede de controle abstrato.

De forma mais técnica, é possível afirmar que o efeito vinculante é o efeito que faz com que
a decisão de mérito no controle abstrato tenha caráter vinculante para atividade jurisdicional e
executiva. Se a atividade jurisdicional (atividade de julgar) que é típica do poder judiciário
eventualmente for exercida por outro poder de forma atípica - como no caso de poder
legislativo julgando crime de responsabilidade - esse julgamento precisará observar as
decisões firmadas pelo STF em controle abstrato. Da mesma forma, se a atividade executiva
(atividade de executar as normas) típica do poder executivo for exercida por outro poder de
forma atípica - como no caso de poder legislativo que resolve executar uma lei que autoriza a
contratação de novos servidores - essa execução precisará observar as decisões do STF no
controle abstrato.
DO CONFLITO NORMATIVO
O conflito normativo se apresenta a partir o Art 5º, XVI – “todos podem reunir-se
pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde
que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido
prévio aviso à autoridade competente” o direito de livre manifestação de pensamento representada
pelo inciso IV, da Carta Constitucional dispõe: "É livre a manifestação do pensamento, sendo vedado

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o anonimato" em contraste ao Art. 287 do Código Penal - Fazer, publicamente, apologia de fato
criminoso ou de autor de crime:Pena - detenção, de três a seis meses, ou multa.
O Direito individual de liberdade de expressão e de reunião fundamentou a decisão do STF
favorável a “marcha da maconha”, frente as decisões judiciais que vinculavam o movimento como
apologia de fato criminoso (Art. 287), gerando insegurança jurídica e fomentando a necessidade de
ser estabelecido uma interpretação vinculante pelo STF.

A ADPF É APLICÁVEL NESTE CASO


Uma vez que se discute no caso acerca da inibição do direito à liberdade que cada
cidadão brasileiro tem de expressar suas opiniões políticas, garantido em um primeiro momento
pela constituição federal vigente na presente data (Constituição federal de 1988), é plausível a
utilização da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF). Visto que está
tem por si a função de evitar danos reais ou possíveis, como citado no corpo de texto da própria
ação a ser trabalhada, a preceitos fundamentais, que garantidos pela constituição permitem ao
cidadão brasileiro expressar-se em favor da descriminalização da maconha sem que seja
censurado juridicamente ou reprimido criminalmente como previsto no art. 287 do código
penal (Decreto-Lei nº 2.848 de 1940).

Também é válido citar que a ADPF é cabível de ser utilizada quando não se cabe
utilizar outras ferramentas de controle de constitucionalidade, como por exemplo Ação Direta
de Inconstitucionalidade (ADI) visto que como citado, o Código Penal sendo de 1940, anterior
à constituição de 1988, e segundo o entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) acerca
do direito constitucional intertemporal, não há como uma norma anterior à constituição ser
inconstitucional, ou esta é recepcionada pela nova constituição ou não é recepcionada, e quando
o conteúdo da norma não é recepcionado, então essa norma é revogada. Cabendo assim,
segundo o princípio da subsidiariedade, a aplicação somente da ADPF, sendo ela admissível
para viabilizar uma interpretação adequada.

DECISÃO CONTRÁRIA
A primeiro momento, é importante colocarmos em evidencia os princípios pelos
quais foi tomada a decisão original, sendo fundamentalmente baseada nos princípios do
direito de reunião e do direito à livre expressão de pensamento. Assim, foi decidido, de
forma unanime, que a marcha da maconha seria tida como legitima e legal, valorizando
os supracitados princípios.

Frente a isso, tomamos decisão contraria baseada nas seguintes colocações: Em


primeiro lugar, quando se considera a guerra as drogas no Brasil, se vê demasiada
ineficiência em seu exercício, há uma grande discussão a ser feita sobre sua continuidade
ou não, sobre mais investimento ou não. Entretanto, fato é que, frente a isso, a marcha da
maconha é contraproducente frente a política pública adotada, incentiva (ainda que
indiretamente) cada vez mais a sofisticação do sistema de tráfico, assim como mais
investimento para o mesmo, pois já que há a ilegalidade e apenas repressão por parte do
Estado, o que é arrecadado a partir desse incentivo de mercado aqui presente é
completamente direcionado ao crime, e não para o Estado, como deveria ser.
Em segundo lugar, é importante frisar que, apesar do uso de princípios

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constitucionais (livre expressão, livre reunião), o caso entra diretamente em conflito com
o Art. 287 do Código Penal, que cita a apologia ao crime, e, quando colocado frente aos
Art. 28 e Art. 33 (especialmente no parágrafo 2) do Código Penal, compreende-se que a
marcha da maconha é, indiscutivelmente, uma direta apologia ao crime, uma vez que
incita produção, uso, comercio, etc., ou seja, incita ilícitos penais.
Outro importante argumento a se considerar, é que a marcha da maconha é um
movimento minoritário, nesse sentido, traz bem menos benefícios (quantitativamente
considerando) frente ao que traz a sua supressão hoje, que desestimula praticas delituosas
e busca diminuir a incitação as drogas.

Acreditamos que, para que haja a legalidade da marcha as drogas como um


exercício da livre expressão e reunião (e não incitação ou apologia ao crime), é necessário
que haja, ao mesmo passo, o recuo das políticas de guerra as drogas, assim como o andar
do caminho para a legalização das aqui referidas, elementos que, assim aplicados, trariam
benefícios com políticas melhores exercidas. Ainda, é necessário que haja uma análise
sistemática do caso, já que a partir deste conseguiríamos coerência principiológica
suficiente entre o que se solicita e o que se tem na pratica, tratando não tão somente da
liberdade de expressão, mas a fundamental liberdade individual como um todo.

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REFERÊNCIAS

BRASIL. Decreto-Lei 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Código Penal. Diário Oficial da União,
Rio de Janeiro, 31 dez.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:
Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.
BRASÍLIA - DF. Superior Tribunal Federal. Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental
nº 187. Min. Celso de Mello.

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