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Processo: 1071413
Natureza: REPRESENTAÇÃO
Representantes: Rogério de Miranda Grazinoli, Valdevino da Silva Mariano
Representada: Prefeitura Municipal de Santana do Deserto
Responsáveis: Walace Sebastião Vasconcelos Leite, Aline Lima da Silva e Renata
Palhares Rodrigues
MPTC: Daniel de Carvalho Guimarães
RELATOR: CONSELHEIRO WANDERLEY ÁVILA
ACÓRDÃO
Documento assinado por meio de certificado digital, conforme disposições contidas na Medida Provisória 2200-2/2001, na Resolução n.02/2012 e na Decisão Normativa
n.05/2013. Os normativos mencionados e a validade das assinaturas poderão ser verificados no endereço www.tce.mg.gov.br, código verificador n. 2793737
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Processo 1071413 – Representação
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II) deixar de aplicar multa aos responsáveis pelas razões expostas na fundamentação desta
decisão, e recomendar que, em credenciamentos futuros, não sejam aplicadas as
disposições dos arts. 47 e 48 da Lei Complementar n. 123/06, ante a previsão do art. 49,
IV, do mesmo diploma;
III) declarar a extinção dos autos do processo com resolução do mérito, com o consequente
arquivamento, nos termos do art. 176, I, do Regimento Interno;
IV) determinar a intimação das partes acerca do teor desta decisão, conforme art. 166, § 1º,
inciso I, do RITCEMG;
V) determinar, após tomadas as providências cabíveis, o arquivamento dos autos, nos moldes
do art. 176, inciso I, do Regimento Interno.
Votaram, nos termos acima, o Conselheiro Cláudio Couto Terrão e o Conselheiro em exercício
Adonias Monteiro.
Presente à sessão a Procuradora Maria Cecília Borges.
WANDERLEY ÁVILA
Presidente e Relator
(assinado digitalmente)
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NOTAS TAQUIGRÁFICAS
SEGUNDA CÂMARA – 24/2/2022
I – RELATÓRIO
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II – FUNDAMENTAÇÃO
1
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Curso de Direito Processual Civil. Vol 1. 17ª ed. São Paulo: Saraiva
Educação, 2020.
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II. 2 – Do mérito
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processos de credenciamentos ou processos licitatórios, seja observado o limite máximo da receita anual
do empresário individual definido em Lei”.
O Ministério Público de Contas emitiu parecer conclusivo à peça n.º 103 do SGAP, nesse
sentido:
[...]
Pois bem. Nota-se que há um equívoco interpretativo nas manifestações dos defendentes e
da unidade técnica. Ambos sustentam a aplicação do art. 49 da LC nº 123/2006,
argumentando que o limite de R$80.000,00 estipulado pelo art. 48, inciso I, não seria
aplicável, restando possível a exclusividade para as MEs e EPPs sem qualquer limite de
valor. [...]
Dessa forma, mesmo se no caso em apreço fosse aplicável algum tratamento diferenciado
– o que, repita-se, não é, em razão do art. 49, IV –, não há justificativa para a exclusão das
MEs e EPPs dos processos de credenciamento, visto que também elas são destinatárias do
mesmo tratamento diferenciado.
Diante disso, considerando que o credenciamento pressupõe a contratação de todos os
interessados, sem relação de exclusão, e que, por se tratar de espécie de inexigibilidade, é
inaplicável o tratamento diferenciado previsto nos arts. 47 e 48 da LC nº 123/2006, conclui-
se pela ilegalidade dos processos de credenciamento realizados pela Prefeitura Municipal
de Santana do Deserto, em razão da previsão editalícia de participação exclusiva de
microempreendedores individuais (MEIs), com restrição à participação das demais pessoas
físicas e jurídicas. [...]
Pois bem. Trata-se de licitações visando o credenciamento de microempreendedores individuais
para a prestação de serviços diversos no Município de Santana do Deserto, no exercício de
2017, 2018 e 2019.
Sobreleva destacar a previsão do objeto constante no Edital de Credenciamento n° 02/2017,
Processo n° 048/2017 (peça n.º 4 do SGAP), in verbis:
1 – DO OBJETO: O presente edital de credenciamento tem por objetivo o credenciamento
de Microempreendedor Individual (MEI) para prestação de serviços em mecânica,
parte elétrica, lanternagem e pintura (leve e pesada) para atender os serviços de reparos,
consertos e revisões dos veículos da frota de veículos do Município de Santana do
Deserto/MG, conforme termo de referência anexo V.
Ab initio, cumpre destacar, de forma sucinta, a definição de credenciamento destacada pela
Zênite2, conforme trechos que abaixo transcrevo:
[...]
O credenciamento é sistema por meio do qual a Administração Pública convoca todos os
interessados em prestar serviços ou fornecer bens, para que, preenchendo os requisitos
necessários, credenciem-se junto ao órgão ou entidade para executar o objeto quando
convocados.
Essa sistemática pressupõe a pluralidade de interessados e a indeterminação do número
exato de prestadores suficientes para a adequada prestação do serviço e adequado
atendimento do interesse público, de forma que quanto mais particulares tiverem interesse
na execução do objeto, melhor será atendido o interesse público.
2
https://zenite.blog.br/afinal-o-que-e-credenciamento/
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Diante dos entendimentos deste Tribunal acima arrolados, entendo não haver óbice na
utilização do sistema de credenciamento, por meio de inexigibilidade licitatória, com base no
caput do art. 25 da Lei n. 8.666/93, observadas as exigências pré-estabelecidas no edital, com
estrito cumprimento ao disposto no art. 26 da Lei 8.666/93 e aos princípios que regem os
procedimentos licitatórios e as contratações públicas, podendo ser conferindo tratamento
diferenciado ao microempreendedor individual, microempresa e empresas de pequeno porte,
nos termos do art. 170, IX, e 179, ambos da CR/88, e do art. 47 da LC 123/06.
Não obstante, diante dos precedentes acima colacionados, entendo que o sistema de
credenciamento se presta para situações onde há possibilidade de competição entre os
interessados, oferecendo igualdade de oportunidade a todos os que tiverem interesse em
satisfazer o interesse público.
No presente caso, o sistema de credenciamento foi utilizado para o credenciamento exclusivo
de Microempreendedor Individual, em diversos processos de credenciamento realizados no
âmbito do Município de Santana do Deserto, restringindo injustificadamente a participação de
outros interessados na prestação dos serviços licitados. Desta forma, inobstante a possibilidade
de tratamento diferenciado, nos termos acima, entendo pela irregularidade na restrição da
participação apenas microempreendedor individual.
Ultrapassadas tais considerações, passo para análise do apontamento referente ao limite de R$
81.000,00 (oitenta e um mil reais) de renda bruta total do microempreendedor individual e o
limite de R$ 80.000,00 (oitenta mil reais) estabelecido no art. 48 da Lei Complementar n°
123/06.
Após análise dos editais realizados nos anos de 2017, 2018 e 2019 (peças n.º 21/49 do SGAP)
verifiquei que os processos de credenciamento n° 048/2017 e 119/2017 continham itens com
valores superiores ao enquadramento de MEI´s. No entanto, conforme demonstrado em sede de
defesa (peça n.° 94 do SGAP), os credenciados prestavam serviços por hora, sendo debitado da
estimativa do total de horas e, por consequência, da estimativa total do valor a ser pago, de
modo que os valores pagos em decorrência da contratação por processo de credenciamento
foram inferiores aos previstos nos editais.
Assim, sob o prisma do princípio da legalidade, entendo pela irregularidade dos editais de
credenciamento n° 02/2017 e n° 119/2017, ante a inobservância do limite da receita anual do
microempreendedor individual e limite disposto no art. 48 da Lei Complementar n° 123/06. No
entanto, uma vez que os valores pagos foram inferiores ao disposto no edital, deixo de aplicar
multa ao gestor municipal e recomendo aos atuais gestores que em eventuais processos de
credenciamentos ou processos licitatórios, seja observado o limite máximo da receita anual do
empresário individual e o limite de contratação dispostos na Lei Complementar n° 123/06.
Na mesma inteira, entendo ter restado prejudicado a insurgência dos Representantes quanto ao
valor pago para a prestação de serviços de reparos, consertos e revisões dos veículos da frota
de Santana do Deserto.
Considerando que o credenciamento pressupõe a contratação de todos os interessados, sem
relação de exclusão, conclui-se pela irregularidade dos processos de credenciamento realizados
pela Prefeitura Municipal de Santana do Deserto, em razão da previsão editalícia de
participação exclusiva de microempreendedores individuais (MEIs).
Não obstante, sob o prisma da análise do caso concreto, tendo em vista a quantidade de
credenciados dos processos de credenciamento em geral (peça n.° 70 do SGAP), bem como a
ausência de manifesto prejuízo, deixo de aplicar multa aos responsáveis e recomendo aos atuais
gestores que em futuros processos de credenciamento não restrinjam injustificadamente a
participação dos interessados.
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II.2.2 – Desvio de finalidade dos processos de credenciamento ocorridos nos anos de 2017,
2018 e 2019 no Município de Santana do Deserto
Os Representantes alegaram que a “atual gestão tem pautado sua atuação na contratação de
Microempreendedores individuais para as mais diversas tarefas e trabalhos públicos, o primeiro
intuito é burlar a Lei de responsabilidade fiscal e o segundo intuito é arrebanhar contratados
como forma de criar um “curral eleitoral”.
Apresentaram um informativo municipal datado de 01 de novembro de 2018 em que
supostamente foram selecionados profissionais “fiéis partidários” do gestor público. Afirmaram
que a atual gestão não observou o limite máximo para gastos de pessoal disposto na lei de
responsabilidade civil em face da contratação continuada por credenciamento sem a realização
de concurso público.
A 2ª Coordenadoria de Fiscalização dos Municípios, em sede de análise inicial da
Representação (peça n.º 51 do SGAP), apresentou uma relação de processos de
credenciamentos para contratação de microempreendedores individuais, realizados no
Município de Santana do Deserto nos exercícios de 2017, 2018 e 2019.
Após a análise do objeto dos processos de credenciamento e apresentação de precedentes desta
Corte de Contas, concluiu que as atividades contratadas não estavam relacionadas à tomada de
decisões, tampouco com poder de polícia, de modo que os processos realizados nos exercícios
de 2017,2018 e 2019 estariam em consonância com o entendimento deste Tribunal de Contas.
O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas, em sede de manifestação preliminar,
apresentou aditamento à peça n.º 70 do SGAP, pugnando pela utilização indevida do
credenciamento, debatendo sobre a existência de requisitos e pressupostos para a utilização do
credenciamento, como a alta demanda pela Administração de determinados serviços, de forma
que o único médio de suprir a demanda é a contratação do máximo de interessados possível.
Ademais, afirmou que o instituto do credenciamento foi utilizado como espécie de “política
pública” para conferir empregos aos cidadãos, corroborando com os Representantes.
Em sede de defesa, o Sr. Walace Sebastião Vasconcelos Leite e a Sra. Aline Lima da Silva
(peça n.° 82 do SGAP) sustentaram a ausência de prova ou comprovação fática do
desvirtuamento do processo de contratação através do sistema de credenciamento.
Em síntese, a Sra. Renata Palhares Rodrigues se manifestou pela improcedência do
apontamento, sob o argumento de que “o Município do Deserto promoveu de forma ampliativa,
para qualquer profissional interessado que preenchesse os requisites contidos no edital,
demonstrando que houve sim impulsionamento na geração de renda e trabalho local, porém,
não com fins eleitoreiros, pois qualquer pessoa estava apta a se credenciar inclusive de outras
cidades” (sic).
A Unidade Técnica (peça n.° 97 do SGAP), destacou que “os editais dos processos em análise
foram devidamente publicados, de forma que todos os interessados puderam participar do
processo, não havendo nem mesmo limitação territorial, sendo, nesse ponto, observados os
princípios da publicidade, da impessoalidade e da isonomia, princípios esses basilares do
processo de contratação pública”. Ademais, entendeu pela improcedência do aditamento
realizado pelo Ministério Público de Contas, sob o fundamento de que não há comprovação de
que os processos de credenciamento foram desvirtuados.
O Parquet de Contas, em sede de parecer conclusivo (peça n.° 103 do SGAP), reitera o desvio
de finalidade dos processos de credenciamentos, uma vez que utilizados com intuito de política
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pública de promoção de empregos à população, e não para suprir alta e corriqueira demanda da
Administração, que só poderia ser satisfeita pela contratação do máximo de prestadores de
serviços possível.
Com efeito, o procedimento administrativo de credenciamento, de acordo com a doutrina e a
jurisprudência, tem por finalidade atender ao interesse público de se obter o maior número
possível de particulares interessados a realizar o serviço pretendido pela administração pública,
sendo uma hipótese de inexigibilidade de licitação.
Compulsando os autos, verifico que foram apresentados documentos com a relação de todos os
processos de credenciamento para microempreendedores individuais ocorridos nos exercícios
de 2017, 2018 e 2019. Em síntese, os objetos dos processos de credenciamento referem-se à
prestação de serviços de pedreiro, mecânica, oficineiros sociais, dentre outros.
Desta forma, os credenciamentos realizados e as consequentes contratações ocorreram para
satisfação de atividades instrumentais, ou atividades meio da prefeitura, não se confundindo
com as atribuições de cargos ou empregos públicos. Da mesma forma, não se tratam de
atividades em que envolvam tomada de decisão, assim como não são atividades estratégicas
para o município, mas que atendam às necessidades básicas da população.
Ademais, na esteira do estudo realizado pela Unidade Técnica (peça n.° 51 do SGAP), a Lei n.
634/96, alterada pela Lei n. 746/2003 prevê apenas 05 (cinco) cargos de pedreiros e 05 (cinco)
cargos de servente de pedreiro no município de Santana do Deserto (peça n.° 24 do SGAP), de
modo a não constar na estrutura administrativa da prefeitura os cargos de mecânico, eletricista,
lanterneiro, pintor, serralheiro, oficineiro e calceteiro, ampliando a viabilidade de contratação
desses cargos.
Ademais, não vislumbro nos autos quaisquer indícios de que os processos de credenciamento
de microempreendedores individuais estejam sendo utilizados como forma de criar um “curral
eleitoral” e empregar cidadãos de Santana do Deserto, utilizado como espécie de “política
pública”, motivo pelo qual julgo improcedente o presente apontamento.
II.2.3 – Da ausência de transparência
Os Representantes alegaram, à peça n.° 4 do SGAP, a ausência de documentos no portal da
transparência do Município de Santana do Deserto em descumprimento ao § 2° do art. 48 da
Lei Complementar n° 101/100.
A 2ª Coordenadoria de Fiscalização dos Municípios, em análise inicial da Representação (peça
n.° 51 do SGAP), entendeu pela procedência do apontamento, diante da ausência de publicação
“no portal da transparência o Relatório de Gestão Fiscal (RGF), Relatório Resumido de
Execução Orçamentária (RREO), Plano Plurianual (PPA), Lei de Diretrizes Orçamentária
(LDO) e Leio Orçamentária Anual (LOA), em flagrante descumprimento à Lei de
Responsabilidade Fiscal, em especial, o artigo 48”.
O Ministério Público de Contas, em sede de manifestação preliminar, se absteve de manifestar
em relação ao apontamento (peça n.° 70 do SGAP).
Os responsáveis, Sr. Walace Sebastião Vasconcelos Leite e Sra. Aline Lima da Silva, afirmaram
que as supostas falhas e ausências de informações disponibilizadas no portal da transparência
do Município foi herdada da gestão anterior, e que ao iniciar seu mandato em janeiro de 2017,
o Prefeito acreditava que o portal estava em harmonia com a legislação regente. Ainda,
informaram que o referido portal já foi atualizado com a inclusão de novos dados e documentos
exigidos pela Lei de Transparência, promovendo a regularidade das informações públicas
disponibilizadas no sítio da Prefeitura (peça n.° 82 do SGAP).
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Na mesma esteira, a defendente Sra. Renata Palhares Rodrigues informa que o portal se
encontra devidamente alimentado e atualizado, e que a regularização das informações ocorreu
antes da citação na presente representação (peça n.° 94 do SGAP).
A Unidade Técnica, em sede de análise de defesa à peça n.° 97 do SGAP, afirmou que após
nova verificação ao portal da transparência do Município de Santana do Deserto, restou
verificado que o sítio foi devidamente atualizado, com inserções de informações relativas a
concursos públicos, convênios, gastos com pessoal, legislação municipal, leis de planejamento,
prestação de contas, de modo a afastar a irregularidade da conduta e possível responsabilização
no que se refere a este apontamento.
Na esteira do estudo realizado pela Unidade Técnica, o Ministério Público de Contas entendeu
que o apontamento realizado inicialmente foi devidamente sanado (peça n.° 103 do SGAP).
Com efeito, o caput do art. 48 da Lei Complementar n° 101/2000 prevê a ampla divulgação de
planos, orçamentos e leis de diretrizes orçamentárias, prestações de contas e o respectivo
parecer prévio, Relatório Resumido da Execução Orçamentária e o Relatório de Gestão Fiscal,
bem como as versões simplificadas desses documentos, sendo instrumentos de transparência da
gestão fiscal.
No caso em epígrafe, conforme demonstrado pelos defendentes (peças n.º 80 do SGAP), e em
consulta ao sítio eletrônico do Município de Santana do Deserto3, verifiquei que o Portal da
Transparência se encontra devidamente atualizado com inserções de informações relativas a
concursos públicos, convênios, gastos com pessoal, legislação municipal, leis de planejamento,
prestação de contas, em conformidade ao disposto no art. 48 da Lei Complementar n° 101/2000.
Desta forma, acompanho integralmente o raciocínio desenvolvido pela Unidade Técnica e pelo
Ministério Público junto ao Tribunal de Contas para afastar a irregularidade apontada e julgar
improcedente a Representação neste aspecto.
II.2.4 – Da pesquisa de preços deficitária e insuficiente
O Ministério Público de Contas, em manifestação preliminar (peça n.º 70 do SGAP), apresentou
aditamento quanto a realização de pesquisa de preços deficitária e insuficiente dos processos
de credenciamentos encaminhados pela Prefeitura Municipal de Santana do Deserto, afirmando
que a pesquisa de preços realizada pela Administração só pode ser considerada razoável e
idônea nos processos nº 048/2017 e n° 074/2019, visto que foram cotados preços com três
empresas, concluindo pela violação ao art. 26, parágrafo único, inciso III, da Lei nº 8.666/93,
nos demais procedimentos.
Os responsáveis, Sr. Walace Sebastião Vasconcelos Leite e a Sra. Aline Lima da Silva,
afirmaram em sede de defesa (peça n.º 82 do SGAP), que a Administração Pública aplicou as
tabelas do “SETOP” e “SINAPI” para a mensuração dos preços.
Ademais, afirmam não existir a figura de um único fornecedor, sob o fundamento de que o
sistema eletrônico utilizado pela Prefeitura para a confecção dos processos de licitação exige
que seja indicada a pessoa responsável pela cotação dos preços, sendo denominado como
“fornecedor”.
Na mesma esteira, a Sra. Renata Palhares Rodrigues apresentou defesa (peça n.º 94 do SGAP),
reiterando que os preços foram definidos com base nas tabelas “SETOP” e “SINAPI”.
A Unidade Técnica, em sede de análise de defesa (peça n.º 97 do SGAP) se manifestou pela
irregularidade no que se refere à ausência de pelo menos três orçamentos nos processos de
3
https://santanadodeserto.mg.gov.br/transparencia/. Acesso em 14/01/2022.
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III – CONCLUSÃO
Por todo o exposto, voto pela procedência parcial da presente Representação, em razão das
seguintes irregularidades apontadas nos processos de credenciamento, deflagrados pela
Prefeitura Municipal de Santana do Deserto, nos exercícios de 2017, 2018 e 2019:
a) credenciamento exclusivo de microempreendedores individuais;
b) inobservância do limite da receita anual do microempreendedor individual e limite disposto
no art. 48 da Lei Complementar n° 123/06, nos processos de credenciamentos de n° 48/2017 e
n° 119/2017.
Deixo, contudo, de aplicar multa aos responsáveis pelas razões expostas na fundamentação e
recomendo aos atuais gestores que nos futuros processos de credenciamento:
1) não restrinjam injustificadamente a participação de interessados;
2) observem o limite máximo da receita anual e o limite de contratação disposto no art. 48 da
Lei Complementar n° 123/06.
Destarte, voto pela extinção dos presentes autos, com resolução de mérito, consoante o disposto
no art. 487, inciso I, do CPC, aqui aplicado supletivamente, com fulcro no art. 379 do
Regimento Interno.
Intimem-se as partes da presente decisão, conforme art. 166, §1º, inciso I, do RITCEMG.
Após tomadas as providências cabíveis, determino o arquivamento dos autos, nos moldes do
art. 176, inciso I, do Regimento Interno.
É como voto.
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SEGUNDA CÂMARA – 7/4/2022
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n.05/2013. Os normativos mencionados e a validade das assinaturas poderão ser verificados no endereço www.tce.mg.gov.br, código verificador n. 2793737
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Processo 1071413 – Representação
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Após tomadas as providências cabíveis, determino o arquivamento dos autos, nos moldes
do art. 176, inciso I, do Regimento Interno.
Na sequência, pedi vista do processo.
É o relatório, no essencial.
II – FUNDAMENTAÇÃO
No item II.2.1 da fundamentação do voto condutor, o relator considerou ser possível a utilização
do sistema de credenciamento, com base no caput do art. 25 da Lei nº 8.666/93, bem como a
concessão de tratamento diferenciado aos Microempreendedores Individuais (MEI), às
Microempresas (ME) e às Empresas de Pequeno Porte (EPP), nos termos dos arts. 170, IX, e
179, ambos da Constituição da República e do art. 47 da Lei Complementar nº 123/06.
Em seguida, entendeu que, no caso em tela, fizeram-se presentes duas irregularidades. Uma
concernente à restrição do tratamento benéfico apenas aos MEI, embora o credenciamento
pressuponha a contratação de todos os interessados, sem exclusão, e outra relacionada aos
limites, tendo em vista que havia itens de valor estimado superior ao enquadramento das
pessoas jurídicas como MEI.
Concluiu, porém, que a quantidade de credenciados e a ausência de prejuízo verificados no caso
concreto não justificavam a aplicação de multa, emitindo recomendação para que, em certames
futuros, não se restrinja injustificadamente a participação de interessados e que se observe o
limite máximo da receita anual e o limite de contratação previsto no art. 48 da Lei
Complementar nº 123/06.
De fato, entendo que houve restrição indevida do universo de possíveis credenciados aos MEI,
tendo em vista que o tratamento diferenciado previsto nos arts. 47 e 48 da Lei Complementar
nº 123/06 não se aplica quando a licitação for dispensável ou inexigível, hipóteses que
contemplam o credenciamento, em virtude da vedação estabelecida no inciso IV do art. 49, que
assim dispõe:
Art. 49. Não se aplica o disposto nos arts. 47 e 48 desta Lei Complementar quando:
[...]
IV - a licitação for dispensável ou inexigível, nos termos dos arts. 24 e 25 da Lei nº 8.666,
de 21 de junho de 1993, excetuando-se as dispensas tratadas pelos incisos I e II do art. 24
da mesma Lei, nas quais a compra deverá ser feita preferencialmente de microempresas e
empresas de pequeno porte, aplicando-se o disposto no inciso I do art. 48.
Constata-se, pois, que a própria lei que estabelece o tratamento diferenciado e favorecido às
MEI, ME e EPP, como instrumento de promoção do desenvolvimento econômico e social,
desautoriza a sua aplicação nas hipóteses de dispensa e de inexigibilidade de licitação, como é
o caso do credenciamento.
Com efeito, manifesto meu acordo com o relator, na parte em que entende que, como o
credenciamento consiste em hipótese de inexigibilidade que pressupõe a contratação de todos,
houve restrição indevida da competitividade na realização de procedimento exclusivo
para MEI, notadamente em virtude do disposto no inciso IV do art. 49 da Lei Complementar
nº 123/06.
Há, todavia, a parte em que o relator reconhece irregularidade na existência de itens no
credenciamento, destinados exclusivamente aos MEI, mas que apresentam valores que superam
o enquadramento da pessoa jurídica como tal.
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Em que pese tenha considerado o fato irregular, o relator deixou de sancionar os responsáveis,
tendo em vista que os valores pagos foram inferiores àqueles que definem o enquadramento
como MEI, porque os serviços eram pagos por hora, propondo a emissão de recomendação,
para que, em credenciamentos futuros, fossem observados o limite máximo da receita anual e
o limite de contratação disposto no art. 48 da Lei Complementar nº 123/06.
Neste ponto, entendo que são pertinentes algumas ponderações acerca do momento da apuração
do enquadramento das empresas para fins do tratamento privilegiado estabelecido pela Lei
Complementar nº 123/06.
Primeiro, importante reiterar que o art. 49, IV, do referido diploma afasta a aplicação do
tratamento mais benéfico previsto nos arts. 47 e 48 quando se tratar de inexigibilidade ou de
dispensa de licitação, ressalvadas apenas as hipóteses de contratação direta por baixo valor.
A partir dessa percepção, considero que não cabe a recomendação de observância, em futuros
credenciamentos, do “limite de contratação disposto no art. 48 da Lei Complementar nº
123/06”, justamente porque o referido dispositivo não se aplica aos casos de inexigibilidade de
licitação – como é o credenciamento – em virtude da previsão do art. 49, IV.
Segundo, ante a proposta de recomendação de observância do limite máximo da receita anual
dos MEI, das ME ou das EPP, entendo necessário distinguir como e quando é realizada a
apuração do seu enquadramento, conforme o regime licitatório aplicável ao certame.
Desde a instituição do Estatuto das Micro e Pequenas Empresas pela Lei Complementar
nº 123/06, inclusive do favorecimento ao seu acesso ao mercado público, firmou-se o
entendimento majoritário segundo o qual, para fazer jus ao tratamento mais benéfico previsto
nos arts. 47 e 48, o enquadramento da empresa nas categorias correlatas deve considerar as
receitas auferidas no ano-calendário anterior à licitação (de janeiro a dezembro), na medida em
que o art. 3º do mesmo diploma4 define as categorias considerando essa metodologia.
Foi esse o posicionamento adotado pelo Plenário do Tribunal de Contas da União, conforme se
observa da síntese do Acórdão nº 250/2021, publicada no Boletim de Jurisprudência:
Acórdão 250/2021 Plenário (Pedido de Reexame, Relator Ministro-Substituto Weder
de Oliveira)
Licitação. Direito de preferência. Pequena empresa. Limite. Receita bruta. Apuração.
Critério.
Para fim de enquadramento como microempresa ou empresa de pequeno porte de acordo
com os parâmetros de receita bruta definidos pelo art. 3º da LC 123/2006, considera-se o
período de apuração das receitas auferidas pela empresa como sendo de janeiro a dezembro
do ano-calendário anterior à licitação, e não os doze meses anteriores ao certame.5
4
LC nº 123/06:
Art. 3º Para os efeitos desta Lei Complementar, consideram-se microempresas ou empresas de pequeno porte, a
sociedade empresária, a sociedade simples, a empresa individual de responsabilidade limitada e o empresário a
que se refere o art. 966 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), devidamente registrados no
Registro de Empresas Mercantis ou no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, conforme o caso, desde que:
I - no caso da microempresa, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta igual ou inferior a R$ 360.000,00
(trezentos e sessenta mil reais); e
II - no caso de empresa de pequeno porte, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta superior a R$
360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais) e igual ou inferior a R$ 4.800.000,00 (quatro milhões e oitocentos
mil reais).
5
Tribunal de Contas da União. Boletim de Jurisprudência nº 344/2021, publicado em 08/03/21. Acórdão nº
250/2021. Plenário. Rel. Min. Subst. Weder de Oliveira. Rel. da deliberação recorrida: Min. Subst. Marcos
Bemquerer Costa. Julgamento em 10/02/21.
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Além disso, o §3º do art. 3º da Lei Complementar nº 123/06 estabelece que o “enquadramento
do empresário ou da sociedade simples ou empresária como microempresa ou empresa de
pequeno porte bem como o seu desenquadramento não implicarão alteração, denúncia ou
qualquer restrição em relação a contratos por elas anteriormente firmados”, a partir do que se
inferia que, uma vez enquadradas, segundo o ano-calendário do ano anterior, como MEI, ME
ou EPP, as empresas poderiam celebrar contratos cujas contraprestações levassem seus
rendimentos para além daqueles que determinaram sua categorização, porque eventual
desenquadramento posterior à contratação não interferiria nos contratos anteriormente
firmados.
Nesse cenário legal, portanto, considerava-se que o contratado que, no momento do processo
de contratação, legitimamente se beneficiou do tratamento privilegiado da Lei Complementar
nº 123/06 não teria a obrigação de manter seu enquadramento durante o período de vigência
contratual.
Também não se verificava, no regime licitatório “anterior”, constituído pelas Leis nos 8.666/93,
10.520/02 e 12.462/11 (Regime Diferenciado de Contratação – RDC), o estabelecimento de
relação entre os valores de enquadramento nessas categorias e o valor estimado dos itens de
licitação, para afastar, a priori, a participação de empresas qualificadas como MEI, ME ou EPP
nas disputas que envolvessem montantes superiores aos que definem o seu enquadramento.
Por isso, no contexto desse regime licitatório, entendo que a recomendação trazida pelo voto
do relator, para que sejam observados “o limite máximo da receita anual e o limite de
contratação disposto no art. 48 da Lei Complementar nº 123/06”, pode soar como uma
associação entre o limite de receita para fins de enquadramento nas categorias e o limite de
contratação que autoriza o tratamento privilegiado das ME e EPP, o que não corresponde à
realidade, conforme visto acima.
Inclusive, no inciso I do art. 48, a própria lei fixa o valor máximo do item de contratação para
licitação exclusiva para ME e EPP, mas no inciso III, por exemplo, estabelece cota em
percentual do total do objeto divisível para a contratação dessas empresas, sem alusão a valor
máximo.
Contudo, tal panorama foi alterado com a edição da Lei nº 14.133/21, a Nova Lei de Licitações,
que trouxe previsão expressa acerca da aplicação das normas contidas na Lei Complementar
nº 123/06 às licitações e contratos por ela disciplinados, cobrindo a lacuna existente no regime
licitatório anterior.
Por esse “novo” regime, diferentemente do anterior, fica afastado o tratamento privilegiado da
Lei Complementar nº 123/06 quando o valor estimado do item superar a receita bruta de
enquadramento como empresa de pequeno porte ou quando a soma dos contratos celebrados
com a Administração Pública no ano-calendário levar a esse resultado.
Eis o que dispõe o seu art. 4º, in verbis:
Art. 4º Aplicam-se às licitações e contratos disciplinados por esta Lei as disposições
constantes dos arts. 42 a 49 da Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006.
§ 1º As disposições a que se refere o caput deste artigo não são aplicadas:
I - no caso de licitação para aquisição de bens ou contratação de serviços em geral, ao item
cujo valor estimado for superior à receita bruta máxima admitida para fins de
enquadramento como empresa de pequeno porte;
II - no caso de contratação de obras e serviços de engenharia, às licitações cujo valor
estimado for superior à receita bruta máxima admitida para fins de enquadramento como
empresa de pequeno porte.
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III – CONCLUSÃO
*****
sb/rb/kl
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