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TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Processo 1071413 – Representação


Inteiro teor do acórdão – Página 1 de 21

Processo: 1071413
Natureza: REPRESENTAÇÃO
Representantes: Rogério de Miranda Grazinoli, Valdevino da Silva Mariano
Representada: Prefeitura Municipal de Santana do Deserto
Responsáveis: Walace Sebastião Vasconcelos Leite, Aline Lima da Silva e Renata
Palhares Rodrigues
MPTC: Daniel de Carvalho Guimarães
RELATOR: CONSELHEIRO WANDERLEY ÁVILA

SEGUNDA CÂMARA – 7/4/2022

REPRESENTAÇÃO. PREFEITURA MUNICIPAL. CONTRATAÇÃO DE SERVIÇOS DE


MECÂNICA, PARTE ELÉTRICA, LANTERNAGEM E PINTURA. CREDENCIAMENTO.
PRELIMINAR. ILEGITIMIDADE PASSIVA. AFASTADA. MÉRITO. RESTRIÇÃO À
MICROEMPREENDEDOR INDIVIDUAL. INEXIGIBILIDADE DE LICITAÇÃO.
OBSERVÂNCIA AOS PRINCÍPIOS QUE REGEM AS CONTRATAÇÕES PÚBLICAS.
PROCEDÊNCIA PARCIAL. RECOMENDAÇÃO.
1. A legitimidade está atrelada aos possíveis atos ilegais ou antieconômicos, de modo que, o
que se verifica é a existência dos pressupostos que legitimam a presença do responsável no
polo passivo da demanda.
2. O credenciamento é uma hipótese de inexigibilidade de licitação por meio do qual a
Administração Pública convoca todos os interessados em prestar serviços ou fornecer bens,
para que, preenchendo os requisitos necessários, credenciem-se junto ao órgão ou entidade
para executar o objeto quando convocados.
3. O tratamento diferenciado aos microempreendedores individuais, microempresas e
empresas de pequeno porte não se aplica aos procedimentos de inexigibilidade, inclusive
credenciamentos.
4. Tendo em vista a inaplicabilidade ao credenciamento as disposições dos arts. 47 e 48 da Lei
Complementar nº 123/06, ante a previsão do art. 49, IV, do mesmo diploma que favorecem
os MEI, as ME e as EPP e considerando que, nos procedimentos regidos pelo regime anterior
à Lei n. 14.133/21, o modelo de aplicação do tratamento privilegiado, quando cabível, não
relaciona o valor estimado do item licitado e o limite de enquadramento da empresa, julga-
se regular o apontamento.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, ACORDAM os Exmos. Srs. Conselheiros da


Segunda Câmara, por unanimidade, na conformidade da Ata de Julgamento, das Notas
Taquigráficas, e diante das razões expendidas no voto do Relator, que acolheu as
recomendações do voto-vista do Conselheiro Cláudio Couto Terrão, em:
I) julgar parcialmente procedente a representação, em virtude da irregularidade relativa ao
credenciamento exclusivo de microempreendedores individuais (MEI), embora o art. 49,
IV, da Lei Complementar n. 123/06 afaste o tratamento diferenciado nas hipóteses de
inexigibilidade;

Documento assinado por meio de certificado digital, conforme disposições contidas na Medida Provisória 2200-2/2001, na Resolução n.02/2012 e na Decisão Normativa
n.05/2013. Os normativos mencionados e a validade das assinaturas poderão ser verificados no endereço www.tce.mg.gov.br, código verificador n. 2793737
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II) deixar de aplicar multa aos responsáveis pelas razões expostas na fundamentação desta
decisão, e recomendar que, em credenciamentos futuros, não sejam aplicadas as
disposições dos arts. 47 e 48 da Lei Complementar n. 123/06, ante a previsão do art. 49,
IV, do mesmo diploma;
III) declarar a extinção dos autos do processo com resolução do mérito, com o consequente
arquivamento, nos termos do art. 176, I, do Regimento Interno;
IV) determinar a intimação das partes acerca do teor desta decisão, conforme art. 166, § 1º,
inciso I, do RITCEMG;
V) determinar, após tomadas as providências cabíveis, o arquivamento dos autos, nos moldes
do art. 176, inciso I, do Regimento Interno.
Votaram, nos termos acima, o Conselheiro Cláudio Couto Terrão e o Conselheiro em exercício
Adonias Monteiro.
Presente à sessão a Procuradora Maria Cecília Borges.

Plenário Governador Milton Campos, 7 de abril de 2022.

WANDERLEY ÁVILA
Presidente e Relator

(assinado digitalmente)

Documento assinado por meio de certificado digital, conforme disposições contidas na Medida Provisória 2200-2/2001, na Resolução n.02/2012 e na Decisão Normativa
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NOTAS TAQUIGRÁFICAS
SEGUNDA CÂMARA – 24/2/2022

CONSELHEIRO PRESIDENTE WANDERLEY ÁVILA:

I – RELATÓRIO

Tratam os autos de Representação formulada por Rogério de Miranda Grazinoli e Valdevino


da Silva Mariano, Vereadores da Câmara Municipal de Santana do Deserto, cujo objeto consiste
na suposta irregularidade de credenciamentos promovidos pela Prefeitura sem observância das
formalidades legais, notadamente o limite de valores legalmente estipulado para a modalidade
licitatória eleita, a restrição à competitividade promovida em função de somente serem
admitidos Microempreendedores Individuais (MEI), não sendo abertos os credenciamentos
para Empresas de Pequeno Porte (EPP), além de não estar a Prefeitura supostamente dando a
devida transparência aos instrumentos e demonstrativos orçamentários e financeiros da gestão.
A presente Representação foi protocolizada no dia 18/06/2019 e distribuída à minha relatoria
em 24/06/2019 (peça n.º 5 do SGAP).
Os autos foram encaminhados à 1ª Coordenadoria de Fiscalização dos Municípios, que se
manifestou pela necessidade de apresentação de documentação, como cópia de todos os
processos de credenciamento de microempreendedores individuais, realizados nos exercícios
de 2017, 2018 e 2019 (peça n.º 7 do SGAP).
Nessa esteira, determinei no despacho de peça 8 do SGAP, a intimação do Prefeito Municipal
da Prefeitura de Santana do Deserto, Sr. Walace Sebastião Vasconcelos Leite, para o
cumprimento da diligência sugerida pela Unidade Técnica.
Devidamente intimado, o requerido encaminhou documentação (peças n.os 21 a 49 do SGAP).
Em seguida, os autos foram encaminhados à 2ª Coordenadoria de Fiscalização dos Municípios,
que em análise inicial da Representação (peça n.º 51 do SGAP), concluiu pela procedência no
que se refere à restrição de participação nos credenciamentos exclusivos para
microempreendedores individuais nos anos de 2017, 2018 e 2019, e ausência de documentos
no portal da transparência do município. Ainda, requereu a citação dos responsáveis para
apresentação de defesa.
Na mesma esteira, o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas requereu a citação dos
responsáveis para que apresentassem defesa (peça n.º 70 do SGAP).
O Sr. Walace Sebastião Vasconcelos Leite, Prefeito Municipal de Santana do Deserto, e Aline
Lima da Silva, Presidente da Comissão de Licitação, apresentaram defesa à peça n.º 82 do
SGAP. A Sra. Renata Palhares Rodrigues, Assessora Jurídica da Prefeitura Municipal,
apresentou defesa à peça n.º 94 do SGAP.
Em análise das defesas apresentadas, a 2ª CFM se manifestou pelo acolhimento da preliminar
de ilegitimidade passiva suscitada pela Sra. Renata Palhares Rodrigues, e pela irregularidade
quanto a restrição de participação nos credenciamentos exclusivos para microempreendedores
individuais nos anos de 2017, 2018 e 2019, sugerindo a multa ao Sr. Walace Sebastião
Vasconcelos Leite, Prefeito Municipal, e Aline Lima da Silva, Presidente da Comissão de
Licitação (peça n.º 97 do SGAP).
Por sua vez, o Parquet de Contas opinou pela procedência parcial da Representação e pela
aplicação de multa ao Sr. Walace Sebastião Vasconcelos Leite, Prefeito Municipal, e à Sra.

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Renata Palhares Rodrigues, Assessora Jurídica, em razão da restrição indevida à participação


nos processos de credenciamentos e da utilização indevida do credenciamento para contratação
de diversos serviços (peça n.º 103 do SGAP).
É o relatório.

II – FUNDAMENTAÇÃO

II. 1 – Da preliminar de ilegitimidade passiva


Em síntese, a Sra. Renata Palhares Rodrigues, ocupante do cargo de Assessora Jurídica da
Prefeitura Municipal, sustentou sua ilegitimidade passiva, sob o fundamento de que os
pareceres jurídicos emitidos possuíam natureza meramente opinativa, e não vinculante.
Afirmou, ainda, que na posição de parecerista somente poderia ser responsabilizada em caso de
erro grosseiro ou inescusável. Por fim, requereu o acolhimento da preliminar de ilegitimidade
passiva.
A 2ª Coordenadoria de Fiscalização dos Municípios, em sede de análise de defesa (peça n.º 97
do SGAP) entendeu pela ausência de demonstração de erro grosseiro, afastando a
responsabilidade da Assessora Jurídica Municipal, Sra. Renata Palhares Rodrigues.
Lado outro, o Ministério Público de Contas opinou pela rejeição da preliminar de ilegitimidade
passiva, diante do nexo de causalidade entre a conduta da defendente, qual seja, a emissão de
pareceres jurídicos favoráveis nos diversos processos de credenciamento, e eventuais
ilegalidades cometidas (peça n.º 103 do SGAP).
Pois bem.
Ab initio, far-se-á necessário diferenciar, de forma sucinta, legitimidade e responsabilidade do
agente público.
Para tanto, destaco a lição do doutrinador Marcos Vinicius Rios Gonçalves1, que assim entende
sobre a legitimidade ad causam, in verbis:
A relação de pertinência subjetiva entre o conflito trazido a juízo e a qualidade para litigar
a respeito dele, como demandante ou demandado. Tem de haver uma correspondência
lógica entre a causa posta em discussão e a qualidade para estar em juízo litigando sobre
ela.
Com efeito, legitimidade ad causam constitui atributo jurídico que confere ao legitimado sua
relação com o que será discutido, sendo uma análise propriamente subjetiva.
Lado outro, o caput do art. 12 do Decreto Federal n° 9.830/2019, que regulamenta o disposto
no art. 20 ao art. 30 da Lei de Introdução às normas do Direito brasileiro, dispõe que o agente
público somente poderá ser responsabilizado por suas decisões ou opiniões técnicas se agir ou
se omitir com dolo, direto ou eventual, ou cometer erro grosseiro, no desempenho de suas
funções.
Nesse sentido, o Superior Tribunal de Justiça vem aplicando a Teoria da Asserção, vejamos:
RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE NULIDADE DE
PROMESSAS DE COMPRA E VENDA E DE PERMUTA DE IMÓVEL. VIOLAÇÃO
DO ART. 535, II, DO CPC. OMISSÃO INEXISTENTE. REFORMA DO JULGADO.
IMPOSSIBILIDADE. INTERESSE PROCESSUAL. LEGITIMIDADE ATIVA.

1
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Curso de Direito Processual Civil. Vol 1. 17ª ed. São Paulo: Saraiva
Educação, 2020.

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CONDIÇÕES DA AÇÃO. APLICABILIDADE DA TEORIA DA ASSERÇÃO.


NECESSIDADE DE DILAÇÃO PROBATÓRIA. POSSIBILIDADE DE JULGAMENTO
ANTECIPADO DA LIDE. SÚMULA Nº 7 DO STJ. RECURSO ESPECIAL NÃO
PROVIDO.
1. Não há violação ao art. 535, II, do CPC se foram analisadas as questões controvertidas
objeto do recurso pelo Tribunal de origem, afigurando-se dispensável a manifestação
expressa sobre todos os argumentos apresentados, especialmente no caso em que a análise
aprofundada das condições da ação é obstada pela teoria da asserção. 2. As condições da
ação, dentre elas o interesse processual e a legitimidade ativa, definem-se da narrativa
formulada inicial, não da análise do mérito da demanda (teoria da asserção), razão
pela qual não se recomenda ao julgador, na fase postulatória, se aprofundar no exame
de tais preliminares.3. A decisão das instâncias ordinárias sobre a necessidade de dilação
probatória não pode ser revista em sede de recurso especial, sob pena de adentrar no
conjunto fático-probatório dos autos (Súmula nº 7 do STJ). 4. Recurso especial não
provido. (REsp 1561498/RJ, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, TERCEIRA TURMA,
julgado em 01/03/2016, DJe 07/03/2016) (Grifo nosso)
Desta forma, aplicando a teoria da asserção no caso em epígrafe, verifica-se que a legitimidade
da defendente, neste primeiro momento, está atrelada às possíveis irregularidades apontadas
pelos Representantes.
Assim, uma vez que a Sra. Renata Palhares Rodrigues era Assessora Jurídica da Prefeitura
Municipal de Santana do Deserto, responsável pela emissão de pareceres jurídicos, entendo que
a defendente está vinculada às possíveis irregularidades apresentadas na Representação em
comento, atraindo a competência de fiscalização deste Tribunal de Contas.
Ressalto que a análise individualizada da responsabilidade do Sra. Renata Palhares Rodrigues
e eventual responsabilização, constitui matéria de mérito, que será realizada oportunamente.
Por todo o exposto, afasto a preliminar de ilegitimidade passiva suscitada e passo à análise do
mérito.

CONSELHEIRO CLÁUDIO COUTO TERRÃO:


De acordo.

CONSELHEIRO EM EXERCÍCIO ADONIAS MONTEIRO:


De acordo.

CONSELHEIRO PRESIDENTE WANDERLEY ÁVILA:


FICA APROVADA.

II. 2 – Do mérito

II.2.1 – Das irregularidades nos Processos de Credenciamento de Microempreendedores


nos exercícios de 2017, 2018 e 2019
Em síntese, os Representantes alegam que o Processo de Credenciamento n° 48/2017, Edital de
Credenciamento n° 02/2017, foi realizado com a intenção de não promover a concorrência entre
os participantes, uma vez que estipulado um valor único a ser pago pelo serviço.

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Apontaram a irregularidade na contratação de microempreendedor individual (MEI) para


prestação de serviços de mecânica, parte elétrica, lanternagem e pintura, que pelo
enquadramento social, deveria auferir renda bruta de até R$ 81.000,00 (oitenta e um mil reais).
Ressaltaram o limite estabelecido no art. 48 da Lei Complementar n° 123/06, que vai de
encontro ao montante de R$ 378.266,62 (trezentos e setenta e oito mil duzentos e sessenta e
seis reais e sessenta e dois centavos) somado na contratação com a empresa “Luiz Cesar
Benazzi Duante”, no período compreendido entre 02/06/2017 a 16/05/2018.
Além disso, informou que o contrato foi prorrogado pelo período de 09/05/2018 a 31/12/2019,
onde foram despendidos mais R$ 53.173,63 (cinquenta e três mil, cento e setenta e três reais e
sessenta e sete centavos), pugnando pela nulidade do contrato de prestação de serviços
decorrente do Processo de Credenciamento n° 048/2017, por vício formal prescrito em lei.
Por fim, insurgiram em face do alto valor pago pelo município por serviços dessa natureza,
tendo em vista que a frota municipal orbita em torno de apenas 50 (cinquenta) veículos.
A 2ª Coordenadoria de Fiscalização dos Municípios, após analisar a relação de processos de
credenciamentos exclusivos para microempreendedores individuais nos anos de 2017, 2018 e
2019, se manifestou pela procedência do apontamento em relação à exigência de participação
exclusiva de microempreendedores individuais nos itens 2 e 3 do edital nº 02/2017, assim como
os itens “serviços de pedreiro”, “serviços de eletricista” e “serviços de servente” do edital nº
119/2017, haja vista que seus valores, isoladamente, superam o montante de R$ 80.000,00 (peça
n.º 51 do SGAP).
O Ministério Público Junto ao Tribunal de Contas, em sede de manifestação preliminar (peça
n.º 70 do SGAP), apresentou aditamento apontando a violação ao princípio da isonomia,
contemplado no art. 3° da Lei n° 8.666/93, diante da restrição da participação no Processo de
Credenciamento n° 048/2017 para Microempreendedor Individual, excluindo a possibilidade
de participação de pessoas físicas e empresas, dentre elas as Microempresas e Empresas de
Pequeno Porte (EPP).
Ademais, concluiu pela inaplicabilidade da exclusividade de licitação para MEs, EPPs e MEIs,
com base no disposto no art. 49 da Lei de Licitações, destacando enunciados de jurisprudência
do TCU sobre o tema.
Devidamente citados, o Sr. Walace Sebastião Vasconcelos Leite, Prefeito Municipal, e a Sra.
Aline Lima da Silva, Presidente da Comissão de Licitação, apresentaram defesa (peça n.º 82 do
SGAP) e afirmaram tratar-se de ato de perseguição política por parte dos Representantes.
Ainda, sustentaram que o credenciamento é uma hipótese de inexigibilidade de licitação, de
modo a não aplicar o regramento disposto no art. 47 e 48 da Lei Complementar n° 123/2006.
Alegaram a ampla participação de Microempreendedores de outros Municípios existentes ao
redor do Município de Santana do Deserto, de modo a afastar o apontamento de restrição de
participação no processo de credenciamento.
Na mesma esteira, a Sra. Renata Palhares Rodrigues, Assessora Jurídica da Prefeitura
Municipal, em sede de defesa (peça n.º 94 do SGAP), afirmou que o limite de valor disposto
no art. 48 da Lei Complementar n° 123/2006 não se aplicaria ao caso em apreço. Lado outro,
sustentou que, ainda que aplicável o limite contemplado na referida norma, os valores
constantes nos editais de credenciamentos mencionados eram apenas valores estimados, de
modo que em nenhum dos itens acima listados o Município ultrapassou em pagamentos o limite
de R$ 80.000,00 (oitenta mil reais).
Em sede de análise final de defesa (peça n.º 97 do SGAP), a Unidade Técnica reiterou o
entendimento inicial, sugerindo “a emissão de recomendação ao jurisdicionado para que em eventuais

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processos de credenciamentos ou processos licitatórios, seja observado o limite máximo da receita anual
do empresário individual definido em Lei”.
O Ministério Público de Contas emitiu parecer conclusivo à peça n.º 103 do SGAP, nesse
sentido:
[...]
Pois bem. Nota-se que há um equívoco interpretativo nas manifestações dos defendentes e
da unidade técnica. Ambos sustentam a aplicação do art. 49 da LC nº 123/2006,
argumentando que o limite de R$80.000,00 estipulado pelo art. 48, inciso I, não seria
aplicável, restando possível a exclusividade para as MEs e EPPs sem qualquer limite de
valor. [...]
Dessa forma, mesmo se no caso em apreço fosse aplicável algum tratamento diferenciado
– o que, repita-se, não é, em razão do art. 49, IV –, não há justificativa para a exclusão das
MEs e EPPs dos processos de credenciamento, visto que também elas são destinatárias do
mesmo tratamento diferenciado.
Diante disso, considerando que o credenciamento pressupõe a contratação de todos os
interessados, sem relação de exclusão, e que, por se tratar de espécie de inexigibilidade, é
inaplicável o tratamento diferenciado previsto nos arts. 47 e 48 da LC nº 123/2006, conclui-
se pela ilegalidade dos processos de credenciamento realizados pela Prefeitura Municipal
de Santana do Deserto, em razão da previsão editalícia de participação exclusiva de
microempreendedores individuais (MEIs), com restrição à participação das demais pessoas
físicas e jurídicas. [...]
Pois bem. Trata-se de licitações visando o credenciamento de microempreendedores individuais
para a prestação de serviços diversos no Município de Santana do Deserto, no exercício de
2017, 2018 e 2019.
Sobreleva destacar a previsão do objeto constante no Edital de Credenciamento n° 02/2017,
Processo n° 048/2017 (peça n.º 4 do SGAP), in verbis:
1 – DO OBJETO: O presente edital de credenciamento tem por objetivo o credenciamento
de Microempreendedor Individual (MEI) para prestação de serviços em mecânica,
parte elétrica, lanternagem e pintura (leve e pesada) para atender os serviços de reparos,
consertos e revisões dos veículos da frota de veículos do Município de Santana do
Deserto/MG, conforme termo de referência anexo V.
Ab initio, cumpre destacar, de forma sucinta, a definição de credenciamento destacada pela
Zênite2, conforme trechos que abaixo transcrevo:
[...]
O credenciamento é sistema por meio do qual a Administração Pública convoca todos os
interessados em prestar serviços ou fornecer bens, para que, preenchendo os requisitos
necessários, credenciem-se junto ao órgão ou entidade para executar o objeto quando
convocados.
Essa sistemática pressupõe a pluralidade de interessados e a indeterminação do número
exato de prestadores suficientes para a adequada prestação do serviço e adequado
atendimento do interesse público, de forma que quanto mais particulares tiverem interesse
na execução do objeto, melhor será atendido o interesse público.

2
https://zenite.blog.br/afinal-o-que-e-credenciamento/

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Assim, se não é possível limitar o número exato de contratados necessários, mas há a


necessidade de contratar todos os interessados, não é possível estabelecer competição entre
os interessados em contratar com a Administração Pública.
A licitação, portanto, é inexigível! [...] (Grifos no original)
Conforme exposto, o credenciamento se configura como ato administrativo de chamamento
público destinado à contratação de serviços ou fornecimento de bens, e é indicado quando o
mesmo objeto puder ser realizado por muitos contratados simultaneamente, devendo-se
assegurar tratamento isonômico aos interessados na prestação dos serviços.
Diante da inviabilidade de competição, tem-se por aplicável o caput do art. 25 da Lei n°
8.666/93, que preconiza ser inexigível a licitação quando houver inviabilidade de competição.
Nesse sentido, destaco o entendimento esboçado nos autos da Representação n° 986.740, de
relatoria do Conselheiro Sebastião Helvecio, em que restou sedimentado a regularidade do
sistema de credenciamento por meio de inexigibilidade de licitação, conforme ementa que
abaixo colaciono:
REPRESENTAÇÃO. PREFEITURA MUNICIPAL. CONTRATAÇÃO DE SERVIÇOS
TÉCNICOS DE CONSULTORIA EM ÁREA CONTÁBIL, ADMINISTRATIVA,
FINANCEIRA E DE GESTÃO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.
INEXIGIBILIDADE DE LICITAÇÃO. SINGULARIDADE E NOTÓRIA
ESPECIALIZAÇÃO. LEI N. 14.039/2020. REGULAR. SISTEMA DE
CREDENCIAMENTO. POSSIBILIDADE. OBSERVÂNCIA AOS PRINCÍPIOS QUE
REGEM AS CONTRATAÇÕES PÚBLICAS. PROCEDÊNCIA PARCIAL.
APLICAÇÃO DE MULTA. DETERMINAÇÃO. ARQUIVAMENTO.1. Considerando as
recentes alterações trazidas pela Lei n. 14.039/2020, segundo a qual os serviços
profissionais de advogado e contador são, por sua natureza, técnicos e singulares, aliada à
demonstração da notória especialização, não há que se falar em irregularidade da
contratação dos serviços técnicos de consultoria em área contábil, administrativa,
financeira e de gestão em administração pública, nos termos do art. 25, II, da Lei n.
8.666/1993.2. A não observância, pelo agente público, das exigências insculpidas na lei
licitatória para a realização das contratações públicas mediante certames licitatórios ou
procedimentos de dispensas e inexigibilidades, poderá ensejar a aplicação de multa pessoal
por este Tribunal de Contas.3. É regular a utilização do sistema de credenciamento, que
se perfaz por meio de inexigibilidade licitatória, com base no caput do art. 25 da Lei
n. 8.666/93, sempre que o interesse público necessitar obter o maior número possível
de particulares realizando a prestação do serviço, considerando que a necessidade da
Administração não restará atendida com a contratação de apenas um particular,
desde de que sejam observadas as exigências pré-estabelecidas no edital, com estrito
cumprimento ao disposto no art. 26 da Lei 8.666/93 e aos princípios que regem os
procedimentos licitatórios e as contratações públicas, em especial, os princípios da
publicidade, isonomia e impessoalidade. [REPRESENTAÇÃO n. 986740. Rel. CONS.
SEBASTIÃO HELVECIO. Sessão do dia 01/12/2020. Disponibilizada no DOC do dia
13/01/2021.] (Grifo nosso)
Outro não é o entendimento do Tribunal de Contas da União, a exemplo do Acórdão n°
3567/2017-Plenário, de relatoria do Ministro José Mucio Monteiro, que assim decidiu:
O credenciamento é hipótese de inviabilidade de competição não
expressamente mencionada no art. 25 da Lei 8.666/93 (cujos incisos são meramente
exemplificativos). Adota-se o credenciamento quando a Administração tem por objetivo
dispor da maior rede possível de prestadores de serviços. Nessa situação, a inviabilidade
de competição não decorre da ausência de possibilidade de competição, mas sim da
ausência de interesse da Administração em restringir o número de contratados.

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Com efeito, é indubitável que o sistema de credenciamento se perfaz por meio de


inexigibilidade licitatória.
Quanto aos requisitos de utilização do credenciamento, destaco o Acórdão n° 768/2013-
Plenário, de relatoria do Ministro Marcos Bemquerer, que entendeu pela necessidade de
demonstração da inviabilidade de competição, a justificativa do preço e a igualdade de
oportunidade a todos que tiverem interesse em fornecer o bem ou prestar o serviço desejado:
A despeito da ausência de expressa previsão legal do credenciamento dentre os casos de
inexigibilidade de licitação previstos na Lei n° 8.666/1993, nada impede que a instituição
contratante lance mão de tal procedimento e efetue a contratação direta entre diversos
fornecedores previamente cadastrados que satisfaçam os requisitos estabelecidos pela
Administração. Para tanto, deve-se demonstrar, fundamentalmente, a inviabilidade de
competição, a justificativa do preço e a igualdade de oportunidade a todos os que
tiverem interesse em fornecer o bem ou serviço desejados. (Grifo nosso)
Ainda, destaco o entendimento esboçado no Acórdão 1150/2013-Plenário, de relatoria do
Ministro Aroldo Cedraz, que reitera a necessidade de oferecer igual oportunidade de
credenciamento para todos os interessados, in verbis:
O credenciamento, entendido como espécie de inexigibilidade de licitação, é ato
administrativo de chamamento público de prestadores de serviços que satisfaçam
determinados requisitos, constituindo etapa prévia à contratação, devendo-se oferecer a
todos igual oportunidade de se credenciar. (Grifo nosso)
Diante dos entendimentos acima colacionados, conclui-se que o credenciamento comporta
licitantes múltiplos para a satisfação do interesse público, de modo que todos os licitantes
interessados poderão contratar com a administração pública.
In casu, a controvérsia da Representação cinge-se em torno da restrição de participação nos
credenciamentos exclusivos para microempreendedores individuais.
Sabe-se que o ordenamento jurídico impõe tratamento diferenciado para Microempresa e
Empresa de Pequeno Porte, com vistas à promoção do desenvolvimento econômico e social,
nos termos do art. 47, caput, da Lei Complementar n° 123/2006, in verbis:
“Art. 47. Nas contratações públicas da administração direta e indireta, autárquica e
fundacional, federal, estadual e municipal, deverá ser concedido tratamento
diferenciado e simplificado para as microempresas e empresas de pequeno porte
objetivando a promoção do desenvolvimento econômico e social no âmbito municipal
e regional, a ampliação da eficiência das políticas públicas e o incentivo à inovação
tecnológica.” (Redação dada pela Lei Complementar nº 147, de 2014) (g.n)
No que tange à contratação de microempreendedor individual para serviços de mecânica, parte
elétrica, lanternagem e pintura, este Tribunal de Contas já se manifestou entendendo pela
possibilidade de se realizar contratações similares por meio de credenciamento, nos autos da
Consulta n° 812.006, apreciada em sessão plenária de 30/03/2011, de relatoria do Conselheiro
Elmo Braz:
CONSULTA — MUNICÍPIO — SISTEMA DE CREDENCIAMENTO — HIPÓTESE
DE INEXIGIBILIDADE DE LICITAÇÃO — INVIABILIDADE DE COMPETIÇÃO —
POSSIBILIDADE DE TRATAMENTO DIFERENCIADO AOS
MICROEMPREENDEDORES INDIVIDUAIS E MICRO E PEQUENAS EMPRESAS —
IMPOSSIBILIDADE DE CESSÃO DE MÃO DE OBRA POR MICRO E PEQUENAS
EMPRESAS OPTANTES PELO SIMPLES NACIONAL — RESTRIÇÃO DE CESSÃO
DE MÃO DE OBRA AOS MICROEMPREENDEDORES INDIVIDUAIS
PRESTADORES DE SERVIÇOS DE HIDRÁULICA, ELETRICIDADE, PINTURA,
ALVENARIA, CARPINTARIA E DE MANUTENÇÃO OU REPARO DE VEÍCULOS.

Documento assinado por meio de certificado digital, conforme disposições contidas na Medida Provisória 2200-2/2001, na Resolução n.02/2012 e na Decisão Normativa
n.05/2013. Os normativos mencionados e a validade das assinaturas poderão ser verificados no endereço www.tce.mg.gov.br, código verificador n. 2793737
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Processo 1071413 – Representação
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1. O sistema de credenciamento é hipótese especial de inexigibilidade de licitação, que


permite a execução indireta de atividades-meio na Administração Pública e admite
tratamento diferenciado aos microempreendedores individuais, às micro e pequenas
empresas — nos termos dos arts. 170, IX, e 179, ambos da CR/88, e do art. 47 da LC n.
123/06 —, desde que haja previsão e regulamentação da matéria na legislação.
2. O processo de credenciamento que compreender a cessão de mão de obra só pode ser
realizado em relação aos microempreendedores individuais que prestarem serviços de
hidráulica, eletricidade, pintura, alvenaria, carpintaria e de manutenção ou reparo de
veículos e, no caso das micro e pequenas empresas que não optarem pelo Simples Nacional,
consoante inciso XII do art. 17 da LC n. 123/06.
[...]
a) A Administração Pública pode promover o credenciamento conferindo tratamento
diferenciado aos microempreendedores individuais, bem como às micro e pequenas
empresas, nos termos do art. 170, IX, e 179, ambos da CR/88, e do art. 47 da LC
123/06, desde que observado o requisito constante da parte final deste artigo de haver
previsão e regulamentação do tratamento diferenciado na legislação do respectivo
ente. Saliente-se que a cessão de mão de obra só pode ser realizada por
microempreendedores individuais que prestem os serviços de hidráulica, eletricidade,
pintura, alvenaria, carpintaria e de manutenção ou reparo de veículos, nos termos do § 5º
do art. 6º da Resolução CGSN n. 58/09, bem como por micro e pequenas empresas que não
optem pelo Simples Nacional, consoante inciso XII do art. 17 da LC 123/06.
b) O credenciamento, por consistir em hipótese especial de inexigibilidade de licitação, não
deve ser tratado como regra, mas adotado em caráter suplementar, de modo que tal sistema
de contratação não viole as regras do concurso público e observe os preceitos contidos na
Lei de Licitações, notadamente os princípios da isonomia, impessoalidade, publicidade,
eficiência e vinculação ao instrumento convocatório, além do regime de execução do
contrato e o valor pago pelo serviço credenciado. (Grifo nosso)
Nessa esteira, apresento a Decisão n° 3305/2017, proferida pelo Tribunal de Contas do Distrito
Federal que, nos autos do Processo n° 30230/2016, tratou sobre assunto semelhante,
reconhecendo pela possibilidade do credenciamento de Microempreendedor Individual (MEI)
para prestação de serviço de eletricista, de técnico em informática e de técnico de
eletrodoméstico:
LICITAÇÃO. CHAMADA PÚBLICA. CREDENCIAMENTO DE INTERESSADOS
PARA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE PEQUENOS REPAROS EM PRÉDIOS
PÚBLICOS. INEXIGIBILIDADE DE LICITAÇÃO. QUALIFICAÇÃO TÉCNICA.
REGISTRO PROFISSIONAL E REGISTRO DE ATESTADO DE CAPACIDADE
TÉCNICA EM CONSELHO DE FISCALIZAÇÃO DE EXERCÍCIO PROFISSIONAL.
1. A seleção de prestadores de serviço, mediante credenciamento, é lícita e enquadra-se
como hipótese de inexigibilidade de licitação, nos termos do “caput” do art. 25 da Lei n.º
8.666/1993, nas situações em que a garantia do interesse público se efetiva por meio da
contratação de todos os interessados no objeto licitado, desde que observem todos os
requisitos previamente prescritos no instrumento convocatório. A inexigibilidade de
licitação decorre da inviabilidade de competição entre os interessados, já que inexiste
relação de exclusão entre eles, considerando que todos os habilitados serão credenciados e
poderão ser contratados pela Administração. 2. O credenciamento de Micro Empreendedor
Individual (MEI) para prestação de serviço de eletricista, de técnico em informática e de
técnico de eletrodoméstico, deve exigir a comprovação do seu registro profissional no
Conselho Regional de Engenharia e Agronomia – CREA. 3. Não devem ser exigidos
atestados de capacidade técnica registrados nos Conselhos competentes (CREA e Conselho
de Arquitetura e Urbanismo do Brasil – CAU/BR) caso os serviços a serem prestados pelos
credenciados sejam de baixa complexidade técnica.

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Diante dos entendimentos deste Tribunal acima arrolados, entendo não haver óbice na
utilização do sistema de credenciamento, por meio de inexigibilidade licitatória, com base no
caput do art. 25 da Lei n. 8.666/93, observadas as exigências pré-estabelecidas no edital, com
estrito cumprimento ao disposto no art. 26 da Lei 8.666/93 e aos princípios que regem os
procedimentos licitatórios e as contratações públicas, podendo ser conferindo tratamento
diferenciado ao microempreendedor individual, microempresa e empresas de pequeno porte,
nos termos do art. 170, IX, e 179, ambos da CR/88, e do art. 47 da LC 123/06.
Não obstante, diante dos precedentes acima colacionados, entendo que o sistema de
credenciamento se presta para situações onde há possibilidade de competição entre os
interessados, oferecendo igualdade de oportunidade a todos os que tiverem interesse em
satisfazer o interesse público.
No presente caso, o sistema de credenciamento foi utilizado para o credenciamento exclusivo
de Microempreendedor Individual, em diversos processos de credenciamento realizados no
âmbito do Município de Santana do Deserto, restringindo injustificadamente a participação de
outros interessados na prestação dos serviços licitados. Desta forma, inobstante a possibilidade
de tratamento diferenciado, nos termos acima, entendo pela irregularidade na restrição da
participação apenas microempreendedor individual.
Ultrapassadas tais considerações, passo para análise do apontamento referente ao limite de R$
81.000,00 (oitenta e um mil reais) de renda bruta total do microempreendedor individual e o
limite de R$ 80.000,00 (oitenta mil reais) estabelecido no art. 48 da Lei Complementar n°
123/06.
Após análise dos editais realizados nos anos de 2017, 2018 e 2019 (peças n.º 21/49 do SGAP)
verifiquei que os processos de credenciamento n° 048/2017 e 119/2017 continham itens com
valores superiores ao enquadramento de MEI´s. No entanto, conforme demonstrado em sede de
defesa (peça n.° 94 do SGAP), os credenciados prestavam serviços por hora, sendo debitado da
estimativa do total de horas e, por consequência, da estimativa total do valor a ser pago, de
modo que os valores pagos em decorrência da contratação por processo de credenciamento
foram inferiores aos previstos nos editais.
Assim, sob o prisma do princípio da legalidade, entendo pela irregularidade dos editais de
credenciamento n° 02/2017 e n° 119/2017, ante a inobservância do limite da receita anual do
microempreendedor individual e limite disposto no art. 48 da Lei Complementar n° 123/06. No
entanto, uma vez que os valores pagos foram inferiores ao disposto no edital, deixo de aplicar
multa ao gestor municipal e recomendo aos atuais gestores que em eventuais processos de
credenciamentos ou processos licitatórios, seja observado o limite máximo da receita anual do
empresário individual e o limite de contratação dispostos na Lei Complementar n° 123/06.
Na mesma inteira, entendo ter restado prejudicado a insurgência dos Representantes quanto ao
valor pago para a prestação de serviços de reparos, consertos e revisões dos veículos da frota
de Santana do Deserto.
Considerando que o credenciamento pressupõe a contratação de todos os interessados, sem
relação de exclusão, conclui-se pela irregularidade dos processos de credenciamento realizados
pela Prefeitura Municipal de Santana do Deserto, em razão da previsão editalícia de
participação exclusiva de microempreendedores individuais (MEIs).
Não obstante, sob o prisma da análise do caso concreto, tendo em vista a quantidade de
credenciados dos processos de credenciamento em geral (peça n.° 70 do SGAP), bem como a
ausência de manifesto prejuízo, deixo de aplicar multa aos responsáveis e recomendo aos atuais
gestores que em futuros processos de credenciamento não restrinjam injustificadamente a
participação dos interessados.

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II.2.2 – Desvio de finalidade dos processos de credenciamento ocorridos nos anos de 2017,
2018 e 2019 no Município de Santana do Deserto
Os Representantes alegaram que a “atual gestão tem pautado sua atuação na contratação de
Microempreendedores individuais para as mais diversas tarefas e trabalhos públicos, o primeiro
intuito é burlar a Lei de responsabilidade fiscal e o segundo intuito é arrebanhar contratados
como forma de criar um “curral eleitoral”.
Apresentaram um informativo municipal datado de 01 de novembro de 2018 em que
supostamente foram selecionados profissionais “fiéis partidários” do gestor público. Afirmaram
que a atual gestão não observou o limite máximo para gastos de pessoal disposto na lei de
responsabilidade civil em face da contratação continuada por credenciamento sem a realização
de concurso público.
A 2ª Coordenadoria de Fiscalização dos Municípios, em sede de análise inicial da
Representação (peça n.º 51 do SGAP), apresentou uma relação de processos de
credenciamentos para contratação de microempreendedores individuais, realizados no
Município de Santana do Deserto nos exercícios de 2017, 2018 e 2019.
Após a análise do objeto dos processos de credenciamento e apresentação de precedentes desta
Corte de Contas, concluiu que as atividades contratadas não estavam relacionadas à tomada de
decisões, tampouco com poder de polícia, de modo que os processos realizados nos exercícios
de 2017,2018 e 2019 estariam em consonância com o entendimento deste Tribunal de Contas.
O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas, em sede de manifestação preliminar,
apresentou aditamento à peça n.º 70 do SGAP, pugnando pela utilização indevida do
credenciamento, debatendo sobre a existência de requisitos e pressupostos para a utilização do
credenciamento, como a alta demanda pela Administração de determinados serviços, de forma
que o único médio de suprir a demanda é a contratação do máximo de interessados possível.
Ademais, afirmou que o instituto do credenciamento foi utilizado como espécie de “política
pública” para conferir empregos aos cidadãos, corroborando com os Representantes.
Em sede de defesa, o Sr. Walace Sebastião Vasconcelos Leite e a Sra. Aline Lima da Silva
(peça n.° 82 do SGAP) sustentaram a ausência de prova ou comprovação fática do
desvirtuamento do processo de contratação através do sistema de credenciamento.
Em síntese, a Sra. Renata Palhares Rodrigues se manifestou pela improcedência do
apontamento, sob o argumento de que “o Município do Deserto promoveu de forma ampliativa,
para qualquer profissional interessado que preenchesse os requisites contidos no edital,
demonstrando que houve sim impulsionamento na geração de renda e trabalho local, porém,
não com fins eleitoreiros, pois qualquer pessoa estava apta a se credenciar inclusive de outras
cidades” (sic).
A Unidade Técnica (peça n.° 97 do SGAP), destacou que “os editais dos processos em análise
foram devidamente publicados, de forma que todos os interessados puderam participar do
processo, não havendo nem mesmo limitação territorial, sendo, nesse ponto, observados os
princípios da publicidade, da impessoalidade e da isonomia, princípios esses basilares do
processo de contratação pública”. Ademais, entendeu pela improcedência do aditamento
realizado pelo Ministério Público de Contas, sob o fundamento de que não há comprovação de
que os processos de credenciamento foram desvirtuados.
O Parquet de Contas, em sede de parecer conclusivo (peça n.° 103 do SGAP), reitera o desvio
de finalidade dos processos de credenciamentos, uma vez que utilizados com intuito de política

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pública de promoção de empregos à população, e não para suprir alta e corriqueira demanda da
Administração, que só poderia ser satisfeita pela contratação do máximo de prestadores de
serviços possível.
Com efeito, o procedimento administrativo de credenciamento, de acordo com a doutrina e a
jurisprudência, tem por finalidade atender ao interesse público de se obter o maior número
possível de particulares interessados a realizar o serviço pretendido pela administração pública,
sendo uma hipótese de inexigibilidade de licitação.
Compulsando os autos, verifico que foram apresentados documentos com a relação de todos os
processos de credenciamento para microempreendedores individuais ocorridos nos exercícios
de 2017, 2018 e 2019. Em síntese, os objetos dos processos de credenciamento referem-se à
prestação de serviços de pedreiro, mecânica, oficineiros sociais, dentre outros.
Desta forma, os credenciamentos realizados e as consequentes contratações ocorreram para
satisfação de atividades instrumentais, ou atividades meio da prefeitura, não se confundindo
com as atribuições de cargos ou empregos públicos. Da mesma forma, não se tratam de
atividades em que envolvam tomada de decisão, assim como não são atividades estratégicas
para o município, mas que atendam às necessidades básicas da população.
Ademais, na esteira do estudo realizado pela Unidade Técnica (peça n.° 51 do SGAP), a Lei n.
634/96, alterada pela Lei n. 746/2003 prevê apenas 05 (cinco) cargos de pedreiros e 05 (cinco)
cargos de servente de pedreiro no município de Santana do Deserto (peça n.° 24 do SGAP), de
modo a não constar na estrutura administrativa da prefeitura os cargos de mecânico, eletricista,
lanterneiro, pintor, serralheiro, oficineiro e calceteiro, ampliando a viabilidade de contratação
desses cargos.
Ademais, não vislumbro nos autos quaisquer indícios de que os processos de credenciamento
de microempreendedores individuais estejam sendo utilizados como forma de criar um “curral
eleitoral” e empregar cidadãos de Santana do Deserto, utilizado como espécie de “política
pública”, motivo pelo qual julgo improcedente o presente apontamento.
II.2.3 – Da ausência de transparência
Os Representantes alegaram, à peça n.° 4 do SGAP, a ausência de documentos no portal da
transparência do Município de Santana do Deserto em descumprimento ao § 2° do art. 48 da
Lei Complementar n° 101/100.
A 2ª Coordenadoria de Fiscalização dos Municípios, em análise inicial da Representação (peça
n.° 51 do SGAP), entendeu pela procedência do apontamento, diante da ausência de publicação
“no portal da transparência o Relatório de Gestão Fiscal (RGF), Relatório Resumido de
Execução Orçamentária (RREO), Plano Plurianual (PPA), Lei de Diretrizes Orçamentária
(LDO) e Leio Orçamentária Anual (LOA), em flagrante descumprimento à Lei de
Responsabilidade Fiscal, em especial, o artigo 48”.
O Ministério Público de Contas, em sede de manifestação preliminar, se absteve de manifestar
em relação ao apontamento (peça n.° 70 do SGAP).
Os responsáveis, Sr. Walace Sebastião Vasconcelos Leite e Sra. Aline Lima da Silva, afirmaram
que as supostas falhas e ausências de informações disponibilizadas no portal da transparência
do Município foi herdada da gestão anterior, e que ao iniciar seu mandato em janeiro de 2017,
o Prefeito acreditava que o portal estava em harmonia com a legislação regente. Ainda,
informaram que o referido portal já foi atualizado com a inclusão de novos dados e documentos
exigidos pela Lei de Transparência, promovendo a regularidade das informações públicas
disponibilizadas no sítio da Prefeitura (peça n.° 82 do SGAP).

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Na mesma esteira, a defendente Sra. Renata Palhares Rodrigues informa que o portal se
encontra devidamente alimentado e atualizado, e que a regularização das informações ocorreu
antes da citação na presente representação (peça n.° 94 do SGAP).
A Unidade Técnica, em sede de análise de defesa à peça n.° 97 do SGAP, afirmou que após
nova verificação ao portal da transparência do Município de Santana do Deserto, restou
verificado que o sítio foi devidamente atualizado, com inserções de informações relativas a
concursos públicos, convênios, gastos com pessoal, legislação municipal, leis de planejamento,
prestação de contas, de modo a afastar a irregularidade da conduta e possível responsabilização
no que se refere a este apontamento.
Na esteira do estudo realizado pela Unidade Técnica, o Ministério Público de Contas entendeu
que o apontamento realizado inicialmente foi devidamente sanado (peça n.° 103 do SGAP).
Com efeito, o caput do art. 48 da Lei Complementar n° 101/2000 prevê a ampla divulgação de
planos, orçamentos e leis de diretrizes orçamentárias, prestações de contas e o respectivo
parecer prévio, Relatório Resumido da Execução Orçamentária e o Relatório de Gestão Fiscal,
bem como as versões simplificadas desses documentos, sendo instrumentos de transparência da
gestão fiscal.
No caso em epígrafe, conforme demonstrado pelos defendentes (peças n.º 80 do SGAP), e em
consulta ao sítio eletrônico do Município de Santana do Deserto3, verifiquei que o Portal da
Transparência se encontra devidamente atualizado com inserções de informações relativas a
concursos públicos, convênios, gastos com pessoal, legislação municipal, leis de planejamento,
prestação de contas, em conformidade ao disposto no art. 48 da Lei Complementar n° 101/2000.
Desta forma, acompanho integralmente o raciocínio desenvolvido pela Unidade Técnica e pelo
Ministério Público junto ao Tribunal de Contas para afastar a irregularidade apontada e julgar
improcedente a Representação neste aspecto.
II.2.4 – Da pesquisa de preços deficitária e insuficiente
O Ministério Público de Contas, em manifestação preliminar (peça n.º 70 do SGAP), apresentou
aditamento quanto a realização de pesquisa de preços deficitária e insuficiente dos processos
de credenciamentos encaminhados pela Prefeitura Municipal de Santana do Deserto, afirmando
que a pesquisa de preços realizada pela Administração só pode ser considerada razoável e
idônea nos processos nº 048/2017 e n° 074/2019, visto que foram cotados preços com três
empresas, concluindo pela violação ao art. 26, parágrafo único, inciso III, da Lei nº 8.666/93,
nos demais procedimentos.
Os responsáveis, Sr. Walace Sebastião Vasconcelos Leite e a Sra. Aline Lima da Silva,
afirmaram em sede de defesa (peça n.º 82 do SGAP), que a Administração Pública aplicou as
tabelas do “SETOP” e “SINAPI” para a mensuração dos preços.
Ademais, afirmam não existir a figura de um único fornecedor, sob o fundamento de que o
sistema eletrônico utilizado pela Prefeitura para a confecção dos processos de licitação exige
que seja indicada a pessoa responsável pela cotação dos preços, sendo denominado como
“fornecedor”.
Na mesma esteira, a Sra. Renata Palhares Rodrigues apresentou defesa (peça n.º 94 do SGAP),
reiterando que os preços foram definidos com base nas tabelas “SETOP” e “SINAPI”.
A Unidade Técnica, em sede de análise de defesa (peça n.º 97 do SGAP) se manifestou pela
irregularidade no que se refere à ausência de pelo menos três orçamentos nos processos de

3
https://santanadodeserto.mg.gov.br/transparencia/. Acesso em 14/01/2022.

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credenciamentos nº 20/2018 e nº 25/2019, sugerindo-se multa ao Sr. Walace Sebastião


Vasconcelos Leite - Prefeito Municipal, e Aline Lima da Silva - Presidente da Comissão de
Licitação.
Lado outro, o Ministério Público de Contas concluiu que o apontamento foi devidamente
sanado com a apresentação de defesa e documentação juntada que comprovasse os preços
praticados por Municípios vizinhos, uma vez que “os defendentes esclareceram que as
pesquisas de preços dos processos de credenciamento foram efetuadas com base nas tabelas
SINAPI e SETOP – tabelas de preços a nível nacional e estadual, respectivamente (peça n.º 103
do SGAP).
Em análise ao apontamento em tela, acompanho integralmente o raciocínio desenvolvido pelo
Ministério Público junto ao Tribunal de Contas, em sede de manifestação conclusiva.
Isso porque, em análise das defesas e documentos apresentados, verifiquei que a fixação do
preço final no credenciamento para a contratação da prestação de serviços ocorreu com base
nas tabelas “SINAPI” 01/2017 e “SETOP” 12/2016, de aplicação em todo o território nacional
(peça n.º 95 do SGAP).
Além disso, a documentação juntada aos autos às peças n.os 87/93 do SGAP demonstram a
consonância com os preços praticados por Municípios vizinhos, motivo pelo qual considero
regular a pesquisa de preços realizada nos procedimentos de credenciamentos, nos termos do
art. 26, inciso III, da Lei n° 8.666/93.
Assim, voto, no presente caso, pela improcedência do apontamento envolvido neste item.

III – CONCLUSÃO

Por todo o exposto, voto pela procedência parcial da presente Representação, em razão das
seguintes irregularidades apontadas nos processos de credenciamento, deflagrados pela
Prefeitura Municipal de Santana do Deserto, nos exercícios de 2017, 2018 e 2019:
a) credenciamento exclusivo de microempreendedores individuais;
b) inobservância do limite da receita anual do microempreendedor individual e limite disposto
no art. 48 da Lei Complementar n° 123/06, nos processos de credenciamentos de n° 48/2017 e
n° 119/2017.
Deixo, contudo, de aplicar multa aos responsáveis pelas razões expostas na fundamentação e
recomendo aos atuais gestores que nos futuros processos de credenciamento:
1) não restrinjam injustificadamente a participação de interessados;
2) observem o limite máximo da receita anual e o limite de contratação disposto no art. 48 da
Lei Complementar n° 123/06.
Destarte, voto pela extinção dos presentes autos, com resolução de mérito, consoante o disposto
no art. 487, inciso I, do CPC, aqui aplicado supletivamente, com fulcro no art. 379 do
Regimento Interno.
Intimem-se as partes da presente decisão, conforme art. 166, §1º, inciso I, do RITCEMG.
Após tomadas as providências cabíveis, determino o arquivamento dos autos, nos moldes do
art. 176, inciso I, do Regimento Interno.
É como voto.

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CONSELHEIRO CLÁUDIO COUTO TERRÃO:


Peço vista.

CONSELHEIRO PRESIDENTE WANDERLEY ÁVILA:


VISTA CONCEDIDA AO CONSELHEIRO CLÁUDIO TERRÃO.

(PRESENTE À SESSÃO A PROCURADORA MARIA CECÍLIA BORGES)

RETORNO DE VISTA

NOTAS TAQUIGRÁFICAS
SEGUNDA CÂMARA – 7/4/2022

CONSELHEIRO CLÁUDIO COUTO TERRÃO:


I – RELATÓRIO
Trata-se de representação oferecida pelos Senhores Rogério de Miranda Grazinoli e Valdevino
da Silva Mariano, vereadores da Câmara Municipal de Santana do Deserto, por meio da qual
noticiam supostas irregularidades em credenciamentos realizados pela Prefeitura Municipal de
Santana do Deserto, notadamente em relação à modalidade de contratação direta utilizada, ao
direcionamento apenas para Microempreendedores Individuais (MEI) e à ausência de
transparência.
Na sessão da Segunda Câmara do dia 24/02/22, foi afastada, por unanimidade, a preliminar de
ilegitimidade passiva suscitada pela Senhora Renata Palhares Rodrigues. No mérito, o relator,
conselheiro Wanderley Ávila, reconheceu a procedência parcial da representação, nos seguintes
termos:
Por todo o exposto, voto pela procedência parcial da presente Representação, em razão
das seguintes irregularidades apontadas nos processos de credenciamento, deflagrados pela
Prefeitura Municipal de Santana do Deserto, nos exercícios de 2017, 2018 e 2019:
a) credenciamento exclusivo de microempreendedores individuais;
b) inobservância do limite da receita anual do microempreendedor individual e limite
disposto no art. 48 da Lei Complementar n° 123/06, nos processos de credenciamentos de
n° 48/2017 e n° 119/2017.
Deixo, contudo, de aplicar multa aos responsáveis pelas razões expostas na fundamentação
e recomendo aos atuais gestores que nos futuros processos de credenciamento:
1) não restrinjam injustificadamente a participação de interessados;
2) observem o limite máximo da receita anual e o limite de contratação disposto no art. 48
da Lei Complementar n° 123/06.
Destarte, voto pela extinção dos presentes autos, com resolução de mérito, consoante o
disposto no art. 487, inciso I, do CPC, aqui aplicado supletivamente, com fulcro no art. 379
do Regimento Interno.
Intimem-se as partes da presente decisão, conforme art. 166, §1º, inciso I, do RITCEMG.

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Após tomadas as providências cabíveis, determino o arquivamento dos autos, nos moldes
do art. 176, inciso I, do Regimento Interno.
Na sequência, pedi vista do processo.
É o relatório, no essencial.

II – FUNDAMENTAÇÃO

No item II.2.1 da fundamentação do voto condutor, o relator considerou ser possível a utilização
do sistema de credenciamento, com base no caput do art. 25 da Lei nº 8.666/93, bem como a
concessão de tratamento diferenciado aos Microempreendedores Individuais (MEI), às
Microempresas (ME) e às Empresas de Pequeno Porte (EPP), nos termos dos arts. 170, IX, e
179, ambos da Constituição da República e do art. 47 da Lei Complementar nº 123/06.
Em seguida, entendeu que, no caso em tela, fizeram-se presentes duas irregularidades. Uma
concernente à restrição do tratamento benéfico apenas aos MEI, embora o credenciamento
pressuponha a contratação de todos os interessados, sem exclusão, e outra relacionada aos
limites, tendo em vista que havia itens de valor estimado superior ao enquadramento das
pessoas jurídicas como MEI.
Concluiu, porém, que a quantidade de credenciados e a ausência de prejuízo verificados no caso
concreto não justificavam a aplicação de multa, emitindo recomendação para que, em certames
futuros, não se restrinja injustificadamente a participação de interessados e que se observe o
limite máximo da receita anual e o limite de contratação previsto no art. 48 da Lei
Complementar nº 123/06.
De fato, entendo que houve restrição indevida do universo de possíveis credenciados aos MEI,
tendo em vista que o tratamento diferenciado previsto nos arts. 47 e 48 da Lei Complementar
nº 123/06 não se aplica quando a licitação for dispensável ou inexigível, hipóteses que
contemplam o credenciamento, em virtude da vedação estabelecida no inciso IV do art. 49, que
assim dispõe:
Art. 49. Não se aplica o disposto nos arts. 47 e 48 desta Lei Complementar quando:
[...]
IV - a licitação for dispensável ou inexigível, nos termos dos arts. 24 e 25 da Lei nº 8.666,
de 21 de junho de 1993, excetuando-se as dispensas tratadas pelos incisos I e II do art. 24
da mesma Lei, nas quais a compra deverá ser feita preferencialmente de microempresas e
empresas de pequeno porte, aplicando-se o disposto no inciso I do art. 48.
Constata-se, pois, que a própria lei que estabelece o tratamento diferenciado e favorecido às
MEI, ME e EPP, como instrumento de promoção do desenvolvimento econômico e social,
desautoriza a sua aplicação nas hipóteses de dispensa e de inexigibilidade de licitação, como é
o caso do credenciamento.
Com efeito, manifesto meu acordo com o relator, na parte em que entende que, como o
credenciamento consiste em hipótese de inexigibilidade que pressupõe a contratação de todos,
houve restrição indevida da competitividade na realização de procedimento exclusivo
para MEI, notadamente em virtude do disposto no inciso IV do art. 49 da Lei Complementar
nº 123/06.
Há, todavia, a parte em que o relator reconhece irregularidade na existência de itens no
credenciamento, destinados exclusivamente aos MEI, mas que apresentam valores que superam
o enquadramento da pessoa jurídica como tal.

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Em que pese tenha considerado o fato irregular, o relator deixou de sancionar os responsáveis,
tendo em vista que os valores pagos foram inferiores àqueles que definem o enquadramento
como MEI, porque os serviços eram pagos por hora, propondo a emissão de recomendação,
para que, em credenciamentos futuros, fossem observados o limite máximo da receita anual e
o limite de contratação disposto no art. 48 da Lei Complementar nº 123/06.
Neste ponto, entendo que são pertinentes algumas ponderações acerca do momento da apuração
do enquadramento das empresas para fins do tratamento privilegiado estabelecido pela Lei
Complementar nº 123/06.
Primeiro, importante reiterar que o art. 49, IV, do referido diploma afasta a aplicação do
tratamento mais benéfico previsto nos arts. 47 e 48 quando se tratar de inexigibilidade ou de
dispensa de licitação, ressalvadas apenas as hipóteses de contratação direta por baixo valor.
A partir dessa percepção, considero que não cabe a recomendação de observância, em futuros
credenciamentos, do “limite de contratação disposto no art. 48 da Lei Complementar nº
123/06”, justamente porque o referido dispositivo não se aplica aos casos de inexigibilidade de
licitação – como é o credenciamento – em virtude da previsão do art. 49, IV.
Segundo, ante a proposta de recomendação de observância do limite máximo da receita anual
dos MEI, das ME ou das EPP, entendo necessário distinguir como e quando é realizada a
apuração do seu enquadramento, conforme o regime licitatório aplicável ao certame.
Desde a instituição do Estatuto das Micro e Pequenas Empresas pela Lei Complementar
nº 123/06, inclusive do favorecimento ao seu acesso ao mercado público, firmou-se o
entendimento majoritário segundo o qual, para fazer jus ao tratamento mais benéfico previsto
nos arts. 47 e 48, o enquadramento da empresa nas categorias correlatas deve considerar as
receitas auferidas no ano-calendário anterior à licitação (de janeiro a dezembro), na medida em
que o art. 3º do mesmo diploma4 define as categorias considerando essa metodologia.
Foi esse o posicionamento adotado pelo Plenário do Tribunal de Contas da União, conforme se
observa da síntese do Acórdão nº 250/2021, publicada no Boletim de Jurisprudência:
Acórdão 250/2021 Plenário (Pedido de Reexame, Relator Ministro-Substituto Weder
de Oliveira)
Licitação. Direito de preferência. Pequena empresa. Limite. Receita bruta. Apuração.
Critério.
Para fim de enquadramento como microempresa ou empresa de pequeno porte de acordo
com os parâmetros de receita bruta definidos pelo art. 3º da LC 123/2006, considera-se o
período de apuração das receitas auferidas pela empresa como sendo de janeiro a dezembro
do ano-calendário anterior à licitação, e não os doze meses anteriores ao certame.5

4
LC nº 123/06:
Art. 3º Para os efeitos desta Lei Complementar, consideram-se microempresas ou empresas de pequeno porte, a
sociedade empresária, a sociedade simples, a empresa individual de responsabilidade limitada e o empresário a
que se refere o art. 966 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), devidamente registrados no
Registro de Empresas Mercantis ou no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, conforme o caso, desde que:
I - no caso da microempresa, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta igual ou inferior a R$ 360.000,00
(trezentos e sessenta mil reais); e
II - no caso de empresa de pequeno porte, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta superior a R$
360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais) e igual ou inferior a R$ 4.800.000,00 (quatro milhões e oitocentos
mil reais).
5
Tribunal de Contas da União. Boletim de Jurisprudência nº 344/2021, publicado em 08/03/21. Acórdão nº
250/2021. Plenário. Rel. Min. Subst. Weder de Oliveira. Rel. da deliberação recorrida: Min. Subst. Marcos
Bemquerer Costa. Julgamento em 10/02/21.

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Além disso, o §3º do art. 3º da Lei Complementar nº 123/06 estabelece que o “enquadramento
do empresário ou da sociedade simples ou empresária como microempresa ou empresa de
pequeno porte bem como o seu desenquadramento não implicarão alteração, denúncia ou
qualquer restrição em relação a contratos por elas anteriormente firmados”, a partir do que se
inferia que, uma vez enquadradas, segundo o ano-calendário do ano anterior, como MEI, ME
ou EPP, as empresas poderiam celebrar contratos cujas contraprestações levassem seus
rendimentos para além daqueles que determinaram sua categorização, porque eventual
desenquadramento posterior à contratação não interferiria nos contratos anteriormente
firmados.
Nesse cenário legal, portanto, considerava-se que o contratado que, no momento do processo
de contratação, legitimamente se beneficiou do tratamento privilegiado da Lei Complementar
nº 123/06 não teria a obrigação de manter seu enquadramento durante o período de vigência
contratual.
Também não se verificava, no regime licitatório “anterior”, constituído pelas Leis nos 8.666/93,
10.520/02 e 12.462/11 (Regime Diferenciado de Contratação – RDC), o estabelecimento de
relação entre os valores de enquadramento nessas categorias e o valor estimado dos itens de
licitação, para afastar, a priori, a participação de empresas qualificadas como MEI, ME ou EPP
nas disputas que envolvessem montantes superiores aos que definem o seu enquadramento.
Por isso, no contexto desse regime licitatório, entendo que a recomendação trazida pelo voto
do relator, para que sejam observados “o limite máximo da receita anual e o limite de
contratação disposto no art. 48 da Lei Complementar nº 123/06”, pode soar como uma
associação entre o limite de receita para fins de enquadramento nas categorias e o limite de
contratação que autoriza o tratamento privilegiado das ME e EPP, o que não corresponde à
realidade, conforme visto acima.
Inclusive, no inciso I do art. 48, a própria lei fixa o valor máximo do item de contratação para
licitação exclusiva para ME e EPP, mas no inciso III, por exemplo, estabelece cota em
percentual do total do objeto divisível para a contratação dessas empresas, sem alusão a valor
máximo.
Contudo, tal panorama foi alterado com a edição da Lei nº 14.133/21, a Nova Lei de Licitações,
que trouxe previsão expressa acerca da aplicação das normas contidas na Lei Complementar
nº 123/06 às licitações e contratos por ela disciplinados, cobrindo a lacuna existente no regime
licitatório anterior.
Por esse “novo” regime, diferentemente do anterior, fica afastado o tratamento privilegiado da
Lei Complementar nº 123/06 quando o valor estimado do item superar a receita bruta de
enquadramento como empresa de pequeno porte ou quando a soma dos contratos celebrados
com a Administração Pública no ano-calendário levar a esse resultado.
Eis o que dispõe o seu art. 4º, in verbis:
Art. 4º Aplicam-se às licitações e contratos disciplinados por esta Lei as disposições
constantes dos arts. 42 a 49 da Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006.
§ 1º As disposições a que se refere o caput deste artigo não são aplicadas:
I - no caso de licitação para aquisição de bens ou contratação de serviços em geral, ao item
cujo valor estimado for superior à receita bruta máxima admitida para fins de
enquadramento como empresa de pequeno porte;
II - no caso de contratação de obras e serviços de engenharia, às licitações cujo valor
estimado for superior à receita bruta máxima admitida para fins de enquadramento como
empresa de pequeno porte.

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§ 2º A obtenção de benefícios a que se refere o caput deste artigo fica limitada às


microempresas e às empresas de pequeno porte que, no ano-calendário de realização da
licitação, ainda não tenham celebrado contratos com a Administração Pública cujos valores
somados extrapolem a receita bruta máxima admitida para fins de enquadramento como
empresa de pequeno porte, devendo o órgão ou entidade exigir do licitante declaração de
observância desse limite na licitação.
§ 3º Nas contratações com prazo de vigência superior a 1 (um) ano, será considerado o
valor anual do contrato na aplicação dos limites previstos nos §§ 1º e 2º deste artigo.
Ou seja, para as licitações e contratos regidos pela Lei nº 14.133/21, há, de fato, vinculação
entre o valor de enquadramento e o valor estimado para os itens de contratação.
De todo modo, é preciso considerar que, por força do disposto no art. 193 da Lei nº 14.133/21,
os regimes licitatórios “antigo” (Leis nos 8.666/93, 10.520/02 e RDC) e “novo” (Lei
nº 14.133/21) vão coexistir entre 1º/04/21 e 31/03/23, período em que o gestor público poderá
optar por utilizar um ou outro em suas contratações.
Assim, enquanto perdurar a vigência simultânea dos regimes licitatórios, o modelo de aplicação
do tratamento diferenciado dispensado aos MEI, às ME e às EPP deverá seguir o regramento
da licitação, nos moldes demonstrados acima, o que equivale dizer que:
- se o gestor licitar/contratar de acordo com as Leis nos 8.666/93, 10.520/02 e RDC, o
valor estimado do item não interfere na incidência do tratamento privilegiado da Lei
Complementar nº 123/06, bastando que a empresa esteja enquadrada como MEI, ME
ou EPP no momento da contratação, segundo a receita auferida no ano-calendário
anterior;
- se o gestor licitar/contratar de acordo com a Lei nº 14.133/21, fica afastado o
tratamento privilegiado da Lei Complementar nº 123/06 quando o valor estimado do
item superar a receita bruta de enquadramento como empresa de pequeno porte ou
quando a soma dos contratos celebrados com a Administração Pública no ano-
calendário levar a esse resultado.
Em face dessas ponderações, assim como o relator, voto pela procedência parcial da
representação, porém reconheço a irregularidade apenas do credenciamento exclusivo de
microempreendedores individuais (MEI), deixando de sancionar o gestor pelas mesmas razões
apostas no voto condutor.
Proponho que a recomendação seja para que, em credenciamentos futuros, não sejam aplicadas
as disposições dos arts. 47 e 48 da Lei Complementar nº 123/06, ante a previsão do art. 49, IV,
do mesmo diploma.
Ademais, tendo em vista a inaplicabilidade ao credenciamento dessas disposições que
favorecem os MEI, as ME e as EPP e considerando que, nos procedimentos regidos pelo regime
anterior à Lei nº 14.133/21, o modelo de aplicação do tratamento privilegiado, quando cabível,
não relaciona o valor estimado do item licitado e o limite de enquadramento da empresa, deixo
de reconhecer a irregularidade constante na alínea b da conclusão do relator.
Por fim, justamente porque o tratamento diferenciado não se aplica aos procedimentos de
inexigibilidade, inclusive credenciamentos, entendo não ser o caso de veicular a segunda
recomendação, que alude à observância, em futuros processos de credenciamento, do “limite
máximo da receita anual e o limite de contratação disposto no art. 48 da Lei Complementar nº
123/06”.

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III – CONCLUSÃO

Pelo exposto, voto pela procedência parcial da representação, em virtude da irregularidade


relativa ao credenciamento exclusivo de microempreendedores individuais (MEI), embora o
art. 49, IV, da Lei Complementar nº 123/06 afaste o tratamento diferenciado nas hipóteses de
inexigibilidade.
Deixo de aplicar multa aos responsáveis por esta irregularidade, pelas mesmas razões
despendidas no voto do relator, e recomendo que, em credenciamentos futuros, não sejam
aplicadas as disposições dos arts. 47 e 48 da Lei Complementar nº 123/06, ante a previsão do
art. 49, IV, do mesmo diploma.
Ainda, determino a extinção do processo com resolução do mérito, com o consequente
arquivamento, nos termos do art. 176, I, do Regimento Interno.

CONSELHEIRO PRESIDENTE WANDERLEY ÁVILA:


Antes de colher o voto do Conselheiro Adonias, acrescento em meu voto as recomendações
propostas no voto do Conselheiro Cláudio Terrão.

CONSELHEIRO EM EXERCÍCIO ADONIAS MONTEIRO:


Vou pedir vênia a Vossa Excelência para acompanhar o voto-vista.

CONSELHEIRO PRESIDENTE WANDERLEY ÁVILA:


FICA APROVADO O VOTO DO RELATOR, QUE ACOLHEU AS RECOMENDAÇÕES
FEITAS NO VOTO-VISTA.

(PRESENTE À SESSÃO A PROCURADORA MARIA CECÍLIA BORGES)

*****
sb/rb/kl

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