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PROCESSO : 43.

786-7/2022 (AUTOS DIGITAIS)


ASSUNTO : REPRESENTAÇÃO DE NATUREZA EXTERNA COM PEDIDO DE MEDIDA
CAUTELAR
UNIDADE : PREFEITURA MUNICIPAL DE GUIRATINGA
GESTOR : WALDECI BARGA ROSA
RELATORA : CONSELHEIRO GUILHERME ANTÔNIO MALUF

PARECER Nº 3.214/2023

REPRESENTAÇÃO DE NATUREZA EXTERNA COM PEDIDO


DE MEDIDA CAUTELAR. PREFEITURA MUNICIPAL DE
GUIRATINGA. IRREGULARIDADES NO JULGAMENTO DAS
PROPOSTAS DO PREGÃO PRESENCIAL Nº 51/2022. ERRO
SANÁVEL DA PROPOSTA DE PREÇOS. INABILITAÇÃO
ILEGAL DE LICITANTE. DESPESA ANTIECONÔMICA. BAIXA
MATERIALIDADE. OBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO DA
RELAÇÃO CUSTO-BENEFÍCIO DA ATIVIDADE DE
CONTROLE EXTERNO PARA INSTAURAÇÃO DE TOMADA
DE CONTAS. MANIFESTAÇÃO PELA PROCEDÊNCIA,
MULTAS, RECOMENDAÇÕES E DETERMINAÇÃO.

1. RELATÓRIO

1. Cuidam os autos de representação de natureza interna com pedido de


medida cautelar apresentada pela empresa SÓ ÔNIBUS COMÉRCIO E SERVIÇOS EIRELI,
por intermédio de seu procurador nos autos, em desfavor da Prefeitura Municipal de
Guiratinga, sob a gestão do Sr. Waldeci Barga Rosa, em razão de supostas
irregularidades ocorridas no Pregão Presencial n.º 51/2022, Processo Administrativo
n.º 516/2022.

Este documento foi assinado digitalmente. Para verificar sua autenticidade acesse o site: http://www.tce.mt.gov.br/assinatura e utilize o código 2HZ2C.
2. O certame, do tipo “maior desconto por lote”, possui por finalidade de
“Registro de preços para futura e eventual contratação de empresa especializada no
fornecimento parcelado de peças e acessórios de reposição genuínas e/ou originais de
1ª (primeira) linha da parte mecânica e elétrica para manutenção de veículos da frota
municipal”.

3. Alega a representante que foi inabilitada ilegalmente pela Pregoeira


responsável, Sra. Débora dos Anjos Vilela, sob alegação de que a sua proposta de
preços não seguia o modelo estabelecido no edital, e que havia dubiedade no
desconto proposto. Aduz que a decisão é ilegal e afronta o princípio da vinculação ao
instrumento convocatório.

4. Alega também que as demais licitantes e vencedores do certame, T7


Distribuidora de Pneus Automotivos Ltda. e a TNOVE Comércio de Peças EIRELI, fazem
parte do mesmo grupo econômico, ferindo, supostamente, o princípio da isonomia da
contratação pública em questão.

5. Em atenção ao art. 195, §1º, da Resolução Normativa nº. 16/2021


(RITCE/MT), o Relator1 postergou o exame do pedido acautelatório e determinou a
notificação do Prefeito do município, Sr. Waldeci Barga Rosa, e à Pregoeira, Sra.
Débora dos Anjos Vilela, para que, no prazo de 5 (cinco) dias úteis, apresentassem
manifestação prévia acerca dos achados discriminados na representação.

6. Após a apresentação da manifestação prévia conjunta2 pelos


notificados, o Conselheiro Relator, por meio da Decisão nº 612/GAM/2022 3, admitiu a
presente representação e concedeu a medida cautelar, considerando presentes os
requisitos do fumus boni iuris e do periculum in mora, para determinar à gestão da
Prefeitura Municipal de Guiratinga que promova a imediata suspensão da utilização da
Ata de Registro de Preço n.º 170/2022, decorrente do Pregão Presencial n.º 51/2022,
até decisão de mérito do caso por este Tribunal, sob pena de multa diária de 10
UPFs/MT, nos termos do art. 327, III c/c 342 do Regimento Interno.

1 Doc.437867/2022.
2 Doc.261951/2022.
3 Doc.266177/2022.

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7. Após manifestação do Parquet de Contas favorável à homologação, a
Decisão nº 612/GAM/2022 foi homologada pelo Tribunal Pleno por meio do Acórdão nº
386/2022 – TP, publicado no Diário Oficial de Contas – (DOC), edição nº 2758 e
publicado em 14/12/20224.

8. Passando-se a fase de instrutória, a 4ª Secretaria de Controle Externo


elaborou relatório técnico preliminar5, indicando a ocorrência dos seguintes achados
de auditoria:

Responsáveis:

Senhor WALDECI BARGA ROSA – Prefeito Municipal.

Senhora DEBORA DOS ANJOS VILELA – Pregoeira.

GB 99. Licitação_Grave_99. Irregularidade referente à Licitação, não


contemplada em classificação específica na Resolução Normativa do
TCE-MT nº 17/2010.

Achado nº1: Desclassificação da empresa SÓ ÔNIBUS COMÉRCIO DE


PEÇAS E SERVIÇOS PARA ÔNIBUS E CAMINHÕES LTDA (procedimento
licitatório na modalidade pregão presencial nº 051/2022), por excesso
de formalismo, devido ao preenchimento do desconto na proposta de
preço em local diferente do sugerido no edital, negligenciando desta
forma a escolha da melhor proposta.

JB 02. Despesa_Grave_02. Pagamento de despesas referente a bens e


serviços em valores superiores ao praticado no mercado e/ou superiores
ao contratado – superfaturamento (art. 37, caput, da Constituição
Federal; art. 66, da Lei nº 8.666/1993).

Achado nº 2: A desclassificação, por excesso de formalismo da empresa


SÓ ÔNIBUS COMÉRCIO DE PEÇAS E SERVIÇOS PARA ÔNIBUS E
CAMINHÕES LTDA, que apresentou a melhor proposta, causou prejuízo
ao erário, uma vez que foi escolhida a proposta que ofertou desconto da
ordem de 55%, enquanto a desclassificada ofertou desconto da ordem
de 62%, com prejuízo de 7% nos descontos que poderiam ter sido obtido
nas aquisições.

9. Em observância aos ditames do contraditório e da ampla defesa, os


responsáveis foram citados para apresentar defesa, apresentando manifestações
acostadas aos documentos digitais nº 8438/2023 e 84630/2023.
4 Doc.179053/2022
5 Doc. 44287/2023

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10. Ato contínuo, no meio de relatório de defesa 6, a SECEX manteve os
achados do relatório preliminar e opinou pela procedência, multa e instauração de
tomada de contas.

11. Por fim, vieram os autos ao Ministério Público de Contas, para emissão
de parecer, nos termos do artigo 55, III, do Regimento Interno.

12. É o relatório, no que necessário. Segue a fundamentação.

2. FUNDAMENTAÇÃO

13. Conforme relatado, a presente representação foi apresentada pela


empresa SÓ ÔNIBUS COMÉRCIO E SERVIÇOS EIRELI, em razão de supostas
irregularidades ocorridas no Pregão Presencial n.º 51/2022, realizado pela Prefeitura
Municipal de Guiratinga.

14. O certame é do tipo “maior desconto por lote”, e possui a finalidade de


“Registro de preços para futura e eventual contratação de empresa especializada no
fornecimento parcelado de peças e acessórios de reposição genuínas e/ou originais de
1ª (primeira) linha da parte mecânica e elétrica para manutenção de veículos da frota
municipal”.

15. A Representante narra que participou do pleito do Pregão Presencial n.º


51/2022, realizado no dia 19/08/2022, em que supostamente veio a ser inabilitada
ilegalmente pela Pregoeira responsável, Sra. Débora dos Anjos Vilela.

16. Relata que, após realizada a análise dos envelopes com as propostas e
depois de devolvidos para conferência, no momento da colheita de assinaturas,
apenas o representante da empresa TNOVE teria esboçado insatisfação quanto a
proposta apresentada pela ora Representante, pois essa não seguia o modelo
estabelecido no edital.

6 Doc. 149155/2023

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17. Em seguida, o procurador da Representante se dirigiu à mesa diretora
e frisou que o valor mencionado no desconto de sua proposta seria aquele ofertado no
campo “Percentual de Desconto” de 62%, informando, ainda, que não havia colocado
dentro do campo intitulado de “Desconto Mínimo Aceito” presente no documento
modelo do edital, por deixar claro que tal lugar seria o desconto mínimo aceito pela
Prefeitura Licitante (10%), cujo edital do certame não consta nenhuma informação de
que este seria o campo específico para informar o desconto pretendido na proposta
ofertada.

18. Salienta a Representante que, após esse momento, a Pregoeira teria


ouvido as observações e realizado diligência ao setor jurídico, confirmando a ausência
de dúvidas quanto ao valor de desconto ofertado, concluindo, primeiramente, que não
havia dúvida quanto ao percentual de desconto, até mesmo por observar a proposta
ofertada pela mesma empresa para o lote 12 do Pregão, na qual novamente não havia
sido alterado o campo presente no modelo de “Desconto Mínimo Aceito”.

19. Todavia, a Representante assevera que o Sr. Diones, representante da


empresa TNOVE, ainda demonstrando insatisfação e causando tumulto no certame,
argumentou com a Pregoeira que a empresa Só Ônibus havia ofertado dois descontos
e, após nova diligência da Pregoeira responsável ao setor jurídico, esta teria
reformulado sua decisão inicial e desclassificado a empresa Representante, sob o
argumento de que a licitante não teria seguido o modelo sugerido no edital.

20. A Representante alega que o “modelo de proposta” sugerido pelo


edital não era obrigatório, não restando dúvidas em relação a proposta no licitante no
pleito, argumentando, inclusive, que as demais licitantes T7 Distribuidora de Pneus
Automotivos Ltda. e a TNOVE Comércio de Peças EIRELI fazem parte do mesmo grupo
econômico, ferindo, supostamente, o princípio da isonomia da contratação pública em
questão.

21. Em relatório preliminar, a SECEX, com relação a participação de duas


empresas do mesmo grupo econômico, T7 Distribuidora de Pneus Automotivos Ltda. e
a TNOVE Comércio de Peças EIRELI, aponta que esta Corte de Contas tem
jurisprudência no sentido de que é possível a participação de empresas do mesmo

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grupo econômico em Pregão (Acórdão 158/2016 – 2ª Câmara Julgado em 30/11/2016.
Publicado no DOC/TCE-MT em 01/12/2016. Processo 25607/2015) e conclui pela
ausência de irregularidade neste ponto.

22. Todavia, sobre os demais fatos relatados pelo Representante, imputou


à Pregoeira e ao Prefeito Municipal a responsabilidade pelos seguintes achados de
auditoria:

Responsáveis:

Senhor WALDECI BARGA ROSA – Prefeito Municipal.

Senhora DEBORA DOS ANJOS VILELA – Pregoeira.

GB 99. Licitação_Grave_99. Irregularidade referente à Licitação, não contemplada em classificação


específica na Resolução Normativa do TCE-MT nº 17/2010.

Achado nº1: Desclassificação da empresa SÓ ÔNIBUS COMÉRCIO DE PEÇAS E SERVIÇOS PARA ÔNIBUS E
CAMINHÕES LTDA (procedimento licitatório na modalidade pregão presencial nº 051/2022), por excesso
de formalismo, devido ao preenchimento do desconto na proposta de preço em local diferente do
sugerido no edital, negligenciando desta forma a escolha da melhor proposta.

23. A Equipe Técnica considera que houve excesso de formalismo na


desclassificação da empresa SÓ ÔNIBUS COMÉRCIO DE PEÇAS E SERVIÇOS PARA
ÔNIBUS E CAMINHÕES LTDA pelo simples fato de não ter apresentado o desconto
ofertado no quadro onde se lê “desconto mínimo aceito”, mas inserido o desconto na
coluna direita a partir da quinta linha, junta a descrição dos itens ofertados, conforme
imagens abaixo, que compara o modelo elaborado pela administração municipal e o a
proposta apresentada pela empresa7:

7 Doc. 40044/2023, pág. 25 e

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Figura 1: Modelo elaborado pela Administração

Figura 2: proposta apresentada pela SÓ ONIBUS

24. Aponta ainda que a Representante está correta, pois o modelo para
apresentação de proposta constante no edital é que está confuso, pois, “se o pregão
presencial buscava o maior desconto sobre uma tabela, não deveria constar valores,
pois não se sabe o certo qual o valor será utilizado, e isso poderia confundir o licitante
a apresentar desconto sobre estes valores apresentados no modelo”.

25. Entende que a proposta ideal para o pregão por desconto sobre o preço
de determinada tabela deve buscar somente os percentuais de descontos, e não
trazer valores, pois isso sim confundiria e até poderia afastar possíveis licitantes.

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26. Observa ainda que o modelo para as propostas encontrado no edital é
um documento meramente sugestivo, e não há nota explicativa sobre o modo do seu
preenchimento, como por exemplo, indicação do local/lacunas em que deveriam ser
alteradas e inseridos os percentuais de descontos, o que poderia justificar a alegação
de preenchimento dúbio e justa desclassificação.

27. Pelo exposto, conclui que não é possível afirmar que houve erro no
preenchimento, uma vez que inexiste disposição em contrário prevista para o
preenchimento pela licitante.

28. Em manifestação defensiva, a Sra. Débora dos Anjos Vilela, Pregoeira,


reitera a manifestação prévia quanto a alegação de que não poderia agir de modo
diverso, pois se assim o fizesse privilegiaria indevidamente a Representante e em
detrimento à sua concorrente, violando o princípio do julgamento objetivo das
propostas e da isonomia, não havendo ilicitude na sua conduta.

29. Alega que no processo licitatório foram suscitadas inúmeras


irregularidades, sendo o percentual de desconto (se válido) apenas um deles. Afirma
ainda que proposta de preços da licitante Só Ônibus, na forma em que redigida, gerou
dúvida consistente nela e nos demais licitantes, acerca do percentual de desconto
oferecido e, por isso, terminou por ser eliminada do certame.

30. Alega que a necessidade de diligência (esclarecimento verbal do


representante da empresa), de reflexão, naquele que é o ponto essencial da disputa
(o percentual de desconto), induziu à conclusão, naquele momento, de que a proposta
apresentada não foi objetiva o suficiente para que se permitisse à Administração
concluir pelo que se propunha a licitante.

31. Aduz que no seu entendimento a licitante teria feito proposta


alternativa, vedada pelo item 5.1 do edital, pois ofereceu descontos de 10% e de 62%
e, para isso, diversos fatores teriam corroborado: O layout da proposta, a forma com
que inseridas as informações ou até mesmo de outros artifícios (empregados
propositalmente, ou não) que induzem a uma dubiedade que, a princípio, não se
coadunam com o julgamento objetivo.

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32. Aduz que se houve falha por parte da Administração é preciso
reconhecer que está se deu no intuito de preservar os princípios que regem as
licitações públicas, jamais para que se excluísse indevidamente um licitante da
disputa. Desse modo, fundado no entendimento de que agira conforme a lei e
segundo as disposições do edital, pugna o Requerido pela desconsideração do
apontamento realizado pela SECEX.

33. A defesa do Sr. Waldeci Barga Rosa, Prefeito Municipal, traz as mesmas
alegações da Pregoeira, já expostas, acrescentando que não houve participação direta
sua no ato objurgado, seja na elaboração do edital, seja no julgamento das propostas
apresentadas, mas apenas a avaliação, a seu tempo, de que os atos praticados teriam
sido razoáveis à luz do que se justificara no processo.

34. Aduz que àquela época, e antes da decisão cautelar proferida pro esta
Corte) não vislumbrava o ponto de vista albergado pelo r. Relator e pelo ilustre
Procurador de Contas no sentido de que não teria havido proposta
subjetiva/alternativa a implicar a desclassificação da proposta formulada pela
Representante.

35. Com o desenrolar do processo, considerou por bem revogar o certame,


já que a irregularidade então apontada, ao que parece, poderia afetar a lisura de todo
o processo, diante da possível confusão que o modelo de proposta teria gerado nos
licitantes. Conclui que houve pronta atuação do gestor no sentido de afastar quaisquer
ilegalidades.

36. Em relatório conclusivo, a Equipe Técnica não coaduna com as


alegações apresentadas pelos defendentes, apontando que a proposta da empresa Só
Ônibus, como foi apresentada, ficou bem mais apresentável e explicativa, pois trazia o
percentual mínimo que seria aceito pela Prefeitura e, no corpo do documento, estava
demonstrado percentual de desconto ofertado para cada item, e isso não causou
nenhuma dúvida quanto qual seria o desconto ofertado.

37. Ressalta que a Pregoeira só desclassificou a representante após


manifestação de outra empresa, que a induziu a tomar a decisão de desclassificar a

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representante, beneficiando-a. Entende que, como haveria disputa, por tratar-se de
Pregão Presencial, a atitude correta seria aguardar a disputa, não privilegiando
nenhuma empresa em detrimento de outra, essa era a conduta esperada.

38. Aponta ainda que falta de uma diligência e de reflexão para sanar
qualquer dúvida na proposta evitaria o transtorno de ter que anular o certame por
vício. E, mesmo que não houvesse a diligência, mas se não houvesse a
desclassificação da representante e sua proposta fosse levada para disputa essa
dúvida seria afastada e o certame seguiria com o cumprimento do objetivo da
licitação que é a busca da melhor proposta, evitando também o prejuízo à
Administração com a seleção da proposta que não a melhor.

39. Observa, portanto, que não houve a apresentação de propostas com


dois percentuais e não houve erro na apresentação da proposta, tanto é que à
Administração anulou o certame licitatório.

40. Sobre a responsabilidade do Prefeito Municipal, acrescenta que o


gestor, quando homologou o procedimento licitatório, confirmou todos os atos
praticados pela Pregoeira, e assim atraiu para si a responsabilidade solidária pelas
irregularidades.

41. Conclui, então, que as defesas não apresentaram justificativas capazes


de afastar a irregularidade, ou afastar a responsabilidade do gestor, com relação a
desclassificação da empresa representante por excesso de formalismo,
negligenciando desta forma a escolha da melhor proposta, e mantém a irregularidade
apresentada.

42. No entendimento do Ministério Público de Contas, a decisão da


Pregoeira de desclassificação da participante, ora Representante, com o motivo de
suposta apresentação de duas propostas de desconto para o mesmo lote, causando
dualidade na sua interpretação, não encontra guarida no ordenamento jurídico pátrio.

43. Conforme apontou a Equipe Técnica, está claro que a licitante ofertou o
percentual de 62% de desconto, visto que o valor mínimo a ser aceito pela Prefeitura
era 10%, conforme amplamente divulgado no Termo de Referência e Edital.

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44. Assim, assiste razão a insurgência da Representante quando assevera
que o campo “desconto mínimo aceito – 10% (dez por cento)”, presente na sua
proposta, trata-se apenas da descrição de informação do desconto mínimo aceito pela
Prefeitura.

45. Frisa-se ainda que o modelo de propostas (encontrado em anexo ao


edital do certame) é um documento sugestivo, pois não há nota explicativa sobre o
modo de preenchimento deste último, que, por exemplo, indique de forma assertiva o
local/lacunas que podem ser alteradas pelas participantes para a apresentação das
propostas ou as que devem obrigatoriamente ser mantidas.

46. A defesa alega que no processo licitatório “foram suscitadas inúmeras


irregularidades, sendo o percentual de desconto (se válido) apenas um deles”;
contudo, não demostra quais seriam as outras irregularidades que motivaram a
desclassificação, pois no recurso administrativo interposto pela empresa e a decisão
indeferindo este recurso8não constam outros motivos além da suposta dubiedade no
desconto da proposta.

47. Ademais, diante da dúvida acerca do percentual de desconto ofertado


na proposta, cabe a Pregoeira efetuar diligência para sanar erros e falhas que não
alterem a substância das propostas, a fim de garantir a proposta mais vantajosa para
a Administração Pública, prerrogativa prevista no art. 43, §3º, da Lei n.º 8.666/93, art.
47, Decreto n.º 10.024/19 e item 5.4 e 5.5 do edital, in verbis:

8 Doc. 254136/2022. pág. 98/100

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48. No mesmo sentido é a jurisprudência desta Corte de Contas e do
Tribunal de Contas da União:

Licitação. Procedimento. Diligências. A ausência de informações da


licitante não deve levar necessariamente à sua inabilitação ou
desclassificação, cabendo ao pregoeiro ou à comissão de licitação
promover as devidas diligências destinadas a sanar falhas processuais,
esclarecer dúvidas ou complementar o processamento do certame,
possibilitando um julgamento baseado na verdade real, em busca da
proposta mais vantajosa para a Administração. (REPRESENTACAO
(NATUREZA EXTERNA). Relator: ISAIAS LOPES DA CUNHA. Acórdão
235/2020 - PLENÁRIO. Julgado em 18/08/2020. Publicado no DOC/TCE-MT
em . Processo 139416/2019). (Divulgado no Boletim de Jurisprudência,
Ano: 2020, nº 67, jul/ago/2020).

Licitação. Procedimento. Inabilitação/desclassificação de propostas.


Formalismo moderado. Convalidação de falhas formais. Interesse público.
1) A existência de falhas meramente formais cometidas pelos licitantes,
que possam ser supridas por informações já disponibilizadas ou pela
realização de diligências, e que não repercutam concretamente, não
autoriza a inabilitação ou a desclassificação de propostas. 2) Na
realização de procedimentos licitatórios, a Administração Pública deve
pautar-se pelo princípio do formalismo moderado, que prescreve a
adoção de formas simples e suficientes para propiciar adequado grau de
certeza, segurança e respeito aos direitos dos administrados,
promovendo a prevalência do conteúdo sobre o formalismo extremo,
respeitadas, ainda, as praxes essenciais à proteção das prerrogativas
dos administrados, não significando desmerecimento ao princípio da
vinculação ao instrumento convocatório (art. 41, caput, Lei 8.666/1993).
3) De forma a preservar o interesse público, é possível, em caráter
excepcional, convalidar medidas irregulares como a desclassificação
inadequada de licitante com base em falhas meramente formais que

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possam ser sanadas, relativizando-se o princípio da vinculação ao edital.
(TOMADA DE CONTAS. Relator: JAQUELINE JACOBSEN MARQUES. Acórdão
91/2020 - PLENÁRIO. Julgado em 19/05/2020. Publicado no DOC/TCE-MT
em . Processo 104345/2019). (Divulgado no Boletim de Jurisprudência,
Ano: 2020, nº 65, abr/mai/2020).

Observe os princípios da supremacia do interesse público, da


razoabilidade, da proporcionalidade, da motivação e da ampla defesa,
de forma a evitar a desclassificação de propostas em face de falhas em
que não haja comprovação de que o licitante obteve vantagem com a
situação, especialmente quando a motivação para o ato
desclassificatório for imprecisa e houver o risco de contratação
antieconômica. Acórdão 536/2007 Plenário. Licitações e contratos :
orientações e jurisprudência do TCU / Tribunal de Contas da União. – 4.
ed. rev., atual. e ampl.
(grifos da transcrição).

49. Dessa forma, ainda que se estivesse diante de um equívoco no


preenchimento da proposta, com a previsão de dois valores diferentes, pode-se
afirmar que qualquer diligência não alteraria substancialmente o seu conteúdo, uma
vez que não haveria inovação na proposta, apenas o esclarecimento da dúvida
suscitada durante a sessão de julgamento sobre qual era o percentual de desconto.

50. Sendo assim, mesmo diante do preenchimento da proposta de forma


um pouco diferente da sugerida, não houve alteração substancial de seu conteúdo,
uma vez que fica explícito que o desconto ofertado pela licitante seria de 62%,
ficando, inclusive, até mais clara que o modelo sugerido. Informação essa mantida
mesmo após diligência da Pregoeira ao representante da empresa Só Ônibus Comércio
de Peças e Serviços para Ônibus e Caminhões Ltda.

51. Porém, a Pregoeira manteve a decisão pela desclassificação, em


flagrante inobservância do art. 3º, caput e art. 43, §3º, da Lei n.º 8.666/93 e o art. 47,
Decreto n.º 10.024/19 e jurisprudência desta Corte de Contas, incorrendo, portanto,
em conduta ilícita, eivada de, no mínimo, erro grosseiro, capaz de atrai sua
responsabilização na esfera administrativa, nos termos do art. 28 do Decreto-Lei nº
4.657/1942 (Lei de Introdução as Normas do Direito Brasileiro – LINDB).

52. Quanto a responsabilidade do gestor, quando homologou o


procedimento licitatório confirmou todos os atos praticados pela Pregoeira, e assim

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atraiu para si a responsabilidade solidária pelas irregularidades, também nos termos
do art. 28 da LINDB, conforme comprova a decisão do recurso interposto pela
represente, indeferido pela Pregoeira e ratificado pelo Prefeito Municipal:

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53. Diante disso, o Ministério Público de Contas manifesta pela manutenção
da irregularidade, com aplicação de multa à Sra. Débora dos Anjos Vilela, Pregoeira, e
ao Sr. Waldeci Barga Rosa, Prefeito Municipal, com fundamento no art. 75, III, da Lei
Complementar nº 269/07 c/c art. 327, II, do Regimento Interno do TCE/MT, devendo
ser considerados, na fixação do valor da penalidade, os patamares estabelecidos pela
Resolução Normativa nº 17/2016.

54. Ademais expedição de recomendações à atual gestão da Prefeitura

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Municipal de Guiratinga para que: 1) nas proximas licitação similhares, cujo critério de
julgamento seja maior desconto, aprimore o modelo de proposta anexo ao edital, para
consta campo próprio para o desconto a ser ofertado pelos licitantes; 2) abstenha-se
de desclassificar licitante em razão de dúvida facilmente sanável quanto a proposta
de preços e que não implica em alteração da proposta.

Responsáveis:

Senhor WALDECI BARGA ROSA – Prefeito Municipal.

Senhora DEBORA DOS ANJOS VILELA – Pregoeira.

JB 02. Despesa_Grave_02. Pagamento de despesas referente a bens e serviços em valores superiores ao


praticado no mercado e/ou superiores ao contratado – superfaturamento (art. 37, caput, da Constituição
Federal; art. 66, da Lei nº 8.666/1993).

Achado nº 2: A desclassificação, por excesso de formalismo da empresa SÓ ÔNIBUS COMÉRCIO DE PEÇAS


E SERVIÇOS PARA ÔNIBUS E CAMINHÕES LTDA, que apresentou a melhor proposta, causou prejuízo ao
erário, uma vez que foi escolhida a proposta que ofertou desconto da ordem de 55%, enquanto a
desclassificada ofertou desconto da ordem de 62%, com prejuízo de 7% nos descontos que poderiam ter
sido obtido nas aquisições.

55. Diante da irregularidade anteriormente analisada, verifica a Equipe


Técnica que proposta apresentada pela empresa desclassificada (62% de desconto)
era mais vantajosa para a Administração Pública do que a proposta vencedora (54,5%
de desconto) e, considerando a modalidade de escolha por maior desconto, leva-se a
crer que a empresa desclassificada poderia se sagrar vencedora, havendo, portanto,
afronta ao princípio da seleção da proposta mais vantajosa para a administração (art.
3, lei nº 8.666/93).

56. Aponta que não houve por parte da Pregoeira ação no sentido de sanar
o preenchimento que entendia dúbio da proposta apresentada pela empresa SÓ
ÔNIBUS COMÉRCIO DE PEÇAS E SERVIÇOS PARA ÔNIBUS E CAMINHÕES LTDA, optando
por desclassificá-la por falha meramente formal, não pautando pelo formalismo
moderado, e isso pode ter causado prejuízo aos cofres da Prefeitura Municipal de
Guiratinga, uma vez que houve a adjudicação e homologação do procedimento
licitatório, firmando a Ata de Registro de Preço – ARP nº 169/2022.

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57. Assim, diante das considerações acima delineadas as falhas apontadas
têm o potencial de levar à nulidade do Pregão Presencial nº 51/2022, uma vez que se
tratam de falhas graves e insanáveis, comprometedoras do caráter competitivo da
licitação.

58. Ambos os responsáveis alegam que não houve dano ao Erário, a uma,
porque a conduta dos Requeridos não se afigura ilícita – daí não sendo possível
imputar-lhe resultado danoso. A duas, porque o prejuízo sustentado no relatório
técnico preliminar é aventado sem levar em conta que não se sabe ao certo se a
empresa Só Ônibus se sagraria vencedora da licitação, já que não foram averiguados
os seus documentos concernentes à etapa de habilitação.

59. Discorrem sobre a responsabilização civil, sobretudo no âmbito


administrativo, e afirmam que é indispensável a comprovação do efetivo prejuízo aos
cofres públicos, o que não se tem na hipótese. Aduzem que não estamos diante de
valores pagos acima dos praticados em mercado, já que os orçamentos acostados ao
processo licitatório, assim como as propostas dos demais licitantes, denotam que o
percentual de desconto aceito pela Administração (55%) era razoável.

60. Ressalta a defesa do Prefeito Municipal que assim que tomara


conhecimento de que a conduta objurgada poderia ser considerada ilícita e trazer, por
isso, danos aos cofres do município, o Gestor municipal revogou o processo licitatório,
o que denota, mais uma vez, que agiu em defesa do patrimônio público.

61. Sendo assim, na remota hipótese de ser julgada procedente a


representação nos pontos arguidos pela SECEX, requer que o julgamento não a
imponha dever de ressarcimento, mas sim recomendações ao gestor público e à
Pregoeira acerca do modo de agir nas licitações futuras com vistas a evitar que novos
equívocos se repitam.

62. Em relatório conclusivo, a SECEX mantém a irregularidade, pois


considera patente que houve prejuízo com a decisão pela desclassificação da empresa
que ofertou o melhor desconto.

63. Observa que, somente pelas peças adquiridas no período entre


20/09/2022 até 31/12/2022, as quais obtiveram o desconto concedido de 55% e

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poderia ter obtido descontos de 62%, uma diferença de 7%, o que representaria uma
economia da ordem de R$ 16.759,13 (dezesseis mil setecentos e cinquenta e nove
reais e treze centavos), e por isso fica a Pregoeira e o Prefeito responsáveis pelo
ressarcimento aos cofres da prefeitura pelo prejuízo causado na desclassificação a
empresa que apresentou proposta mais vantajosa à Administração.

64. Por fim sugere a determinação de instauração de Tomada de Contas


Especial, para apurar os prejuízos causados pela desclassificação da empresa SÓ
ÔNIBUS COMÉRCIO DE PEÇAS E SERVIÇOS PARA ÔNIBUS E CAMINHÕES LTDA, no
Pregão Presencial nº 051/2022, durante toda a sua execução.

65. O Ministério Público de Contas entende que, em decorrência dos fatos


já narrados no achado de auditoria nº 01 (restrição indevida da disputa) houve
contratação de produtos mais onerosos à Administração, ocorrendo, no caso em tela,
afronta ao princípio geral de que as licitações públicas devem-se pautar pela seleção
da proposta mais vantajosa, nos termos do art. 3º, caput, da Lei n.º 8.666/93, o que,
por si só, contraria a alegação da defesa de que não houve ato ilícito.

66. Quanto a alegação de que não há comprovação do efetivo prejuízo aos


cofres públicos, observa-se que a SECEX não imputou aos responsáveis a imediata
restituição de valores ao erário; ao contrário, reconheceu que há ainda apenas
indícios, porém suficientes a fundamentar instauração de tomada de contas especial,
precisamente para possibilitar a quantificação mais precisa do dano, apuração das
responsabilidades, com possibilidade do exercício do contraditório e a ampla defesa.

67. A defesa do Prefeito Municipal alega que, assim que tomara


conhecimento de que a conduta objurgada poderia ser considerada ilícita, revogou o
processo licitatório em decisão publicada em 09/02/2023, conforme se verifica dos
documentos colhidos pela Equipe técnica em anexo do relatório preliminar 9.

68. Ressalta-se, entretanto, que a Ata de Registro de Preços nº 169/2022


(registrou os preços da empresa T7 DISTRIBUIDORA DE P AUT LTDA., lotes 02, 04, 05,
07, 09, 11 e 12) e a Ata de Registro de Preços nº 170/2022 (registrou os preços da
empresa TNOVE COMERCIO DE PECAS EIRELI, lotes 01, 03, 06, 08, 10), decorrentes do

9 Doc. 40044/2023, pág. 93

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Pregão Presencial n.º 51/2022 foram assinadas em 20/09/2022 e o certame foi
suspenso, por força da Decisão nº 612/GAM/2022, publicada em 25/11/2022,
homologada pelo Acórdão nº 386/2022 – TP.

69. Conforme levantamento realizado pela Equipe técnica 10, verifica-se que
no período de pouco mais de 2 (dois) meses em que as Atas vigeram foram adquiridos
o montante de R$ 131.678,85 (cento e trinta e um mil seiscentos e setenta e oito reais
e oitenta e cinco centavos) em peças, oriundo da Ata de Registro de Preços nº
170/2022 e a aquisição de apenas 1 peça, no valor de 24,30 (vinte e quatro reais e
trinta centavos) oriunda da Ata de Registro de Preços nº 169/2022.

70. Diante destas informações a Equipe Técnica quantificou um suposto


dano ao Erário de R$ 16.759,13 (dezesseis mil setecentos e cinquenta e nove reais e
treze centavos), referente ao que economizaria a Administração Pública ante a
classificação da proposta da representante Só Onibus, todavia, ao final da instrução,
sugeriu a conversão do processo em tomada de contas, nos termos do art. 151 do
Regimento Interno do TCE/MT.

71. Neste sentido, verifica-se que de fato não foi proporcionada ao


defendentes apresentar defesa quanto a estes valores, ante a ausência de nemória de
calculo que explicitasse como fora obtido este montante de prejuízo ao erário.

72. Há de se pontuar que, nos casos semelhantes ao dos autos,


normalmente o Tribunal de Contas procede à instauração de tomada de contas por
iniciativa própria para apurar devidamente os fatos, identificar os responsáveis,
quantificar o dano e adotar providências com vistas ao ressarcimento ao erário.

73. Ocorre que os processos de ressarcimento de dano ao erário devem


pautar-se pelos princípios da racionalidade administrativa, da economia processual, da
celeridade.

74. Mais do que um exame frio sobre a ocorrência ou não de dano ao


erário, a análise da relação custo-benefício, importante aspecto qualitativo sobre o
gasto público, deve pautar a atuação da Corte de Contas. É dizer, o princípio da
relação custo-benefício recomenda que a atividade de fiscalização e controle não se

10 Item, pág. 104/116

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torne mais onerosa que seu próprio objeto de aferição. Cada caso concreto indicará a
forma e os meios mais adequados e compatíveis para a realização da fiscalização e
controle, com ponderação, razoabilidade e eficiência.

75. Com base nessa premissa, o Tribunal de Contas, considerando a


recomposição de dano à administração pública deve pautar-se pelos princípios da
economicidade, da racionalização administrativa e da economia processual, de modo
a evitar que os custos da apuração e da cobrança sejam superiores ao valor da
importância a ser ressarcida, editou a Resolução Normativa n. 24/2014, modificada
pela Resolução Normativa n. 27/2017, em que fixou o valor de alçada para
instauração de tomadas de contas especiais em R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) 11.

76. Pelas razões alinhavadas, o Ministério Público de Contas sugere a


manutenção da irregularidade, sem prejuízo multa à Sra. Débora dos Anjos Vilela,
Pregoeira, e ao Sr. Waldeci Barga Rosa, Prefeito Municipal, com fundamento no art.
75, III, da Lei Complementar nº 269/07 c/c art. 327, II, do Regimento Interno do
TCE/MT, devendo ser considerados, na fixação do valor da penalidade, os patamares
estabelecidos pela Resolução Normativa nº 17/2016.

77. por fim, pela expedição de determinação à gestão da Prefeitura


Municipal de Guiratinga para que adote medidas administrativas destinadas a
quantificar os prejuízos causados pela desclassificação da empresa SÓ ÔNIBUS
COMÉRCIO DE PEÇAS E SERVIÇOS PARA ÔNIBUS E CAMINHÕES LTDA, no Pregão
Presencial nº 051/2022, e a promover a recomposição ao erário municipal, devendo
encaminhar as providências adotadas ao Tribunal de Contas no prazo de 120 (cento e
vinte) dias.

3. CONCLUSÃO

11 Art. 7º Salvo determinação em contrário do Tribunal de Contas, fica dispensada a instauração da


tomada de contas especial, quando:
I- o valor do débito atualizado monetariamente for inferior a R$ 50.000,00;
II- o prazo transcorrido entre a data provável de ocorrência do dano e a primeira notificação dos
responsáveis pela autoridade administrativa competente seja superior a dez anos. (grifou-se)

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78. Por todo o exposto, o Ministério Público de Contas, instituição
permanente e essencial às funções de fiscalização e controle externo do Estado de
Mato Grosso, com escoro no art. 51 da Constituição Estadual e no uso de suas
atribuições institucionais, opina:

a) pela procedência da representação de natureza externa, ante a


ocorrência das irregularidades GB99 e JB02;

b) pela aplicação de multa à Sra. Débora dos Anjos Vilela, Pregoeira, e


ao Sr. Waldeci Barga Rosa, Prefeito Municipal, com fundamento no art. 75, III, da Lei
Complementar nº 269/07 c/c art. 327, II, do Regimento Interno do TCE/MT, devendo
ser considerados, na fixação do valor da penalidade, os patamares estabelecidos pela
Resolução Normativa nº 17/2016, pela ocorrência das seguintes irregularidades:

GB 99. Licitação_Grave_99. Irregularidade referente à Licitação, não


contemplada em classificação específica na Resolução Normativa do
TCE-MT nº 17/2010.

Achado nº1: Desclassificação da empresa SÓ ÔNIBUS COMÉRCIO DE


PEÇAS E SERVIÇOS PARA ÔNIBUS E CAMINHÕES LTDA (procedimento
licitatório na modalidade pregão presencial nº 051/2022), por excesso
de formalismo, devido ao preenchimento do desconto na proposta de
preço em local diferente do sugerido no edital, negligenciando desta
forma a escolha da melhor proposta.

JB 02. Despesa_Grave_02. Pagamento de despesas referente a bens e


serviços em valores superiores ao praticado no mercado e/ou superiores
ao contratado – superfaturamento (art. 37, caput, da Constituição
Federal; art. 66, da Lei nº 8.666/1993).

Achado nº 2: A desclassificação, por excesso de formalismo da empresa


SÓ ÔNIBUS COMÉRCIO DE PEÇAS E SERVIÇOS PARA ÔNIBUS E
CAMINHÕES LTDA, que apresentou a melhor proposta, causou prejuízo
ao erário, uma vez que foi escolhida a proposta que ofertou desconto da
ordem de 55%, enquanto a desclassificada ofertou desconto da ordem
de 62%, com prejuízo de 7% nos descontos que poderiam ter sido obtido
nas aquisições.

c) pela expedição de determinação à gestão da Prefeitura Municipal de

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Guiratinga para que adote medidas administrativas destinadas a quantificar os
prejuízos causados pela desclassificação da empresa SÓ ÔNIBUS COMÉRCIO DE PEÇAS
E SERVIÇOS PARA ÔNIBUS E CAMINHÕES LTDA, no Pregão Presencial nº 051/2022, e a
promover a recomposição ao erário municipal, devendo encaminhar as providências
adotadas ao Tribunal de Contas, no prazo de 120 (cento e vinte) dias.

d) pela expedição de recomendações à atual gestão da Prefeitura


Municipal de Guiratinga para que:

d.1) nas proximas licitação similhares, cujo critério de julgamento seja


maior desconto, aprimore o modelo de proposta anexo ao edital, para
consta campo próprio para o desconto a ser ofertado pelos licitantes;

d.2) abstenha-se de desclassificar licitante em razão de dúvida


facilmente sanável quanto a proposta de preços e que não implica em
alteração da proposta.

É o parecer.

Ministério Público de Contas, Cuiabá, 18 de maio de 2023.

(assinatura digital)12
WILLIAM DE ALMEIDA BRITO JÚNIOR
Procurador-geral de Contas Adjunto

12Documento firmado por assinatura digital, baseada em certificado digital emitido por Autoridade Certificadora credenciada, nos
termos da Lei Federal nº 11.419/2006 e Resolução Normativa Nº 9/2012 do TCE/MT.

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