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MINISTÉRIO DA ECONOMIA

ACÓRDÃO Nº 22257556/2022
Processo nº 10128.100324/2022-88
Recorrente/Interessado: CONSELHO DE RECURSOS DA PREVIDÊNCIA SOCIAL

Nº de Protocolo do Recurso: 44233.959341/2019-43

Documento/Benefício: 87/703.987.822-5

Unidade de origem: Agência da Previdência Social CEAB Reconhecimento de Direito da


SRIV

Tipo do Processo: Pedido de Uniformização de Jurisprudência

Recorrente: Instituto Nacional do Seguro Social - INSS

Recorrido: Lionarda Gonçalves Lustosa Batista

Benefício Espécie: Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social à Pessoa


com Deficiência

Relator: Imara Sodré Sousa Neto

EMENTA

Ementa:

Pedido de Uniformização de Jurisprudência ao Conselho Pleno. Art. 63 do Regimento


Interno do Conselho de Recursos da Previdência Social – CRPS aprovado pela Portaria
nº 116/2017. Competência para uniformizar jurisprudência administrativa, conforme
previsão do art. 3º do Regimento Interno do CRPS da Portaria nº 116/2017. Pressupostos
do pedido atendidos na forma do art. 63, I da referia Portaria. Recurso Especial. Benefício
de Prestação Continuada à Pessoa com Deficiência. Requisitos do art. 20, §§ 1º e 3º da Lei
8.742/93, regulamentada pelo Decreto 6.214/2007. Renda per capita de ¼ do salário-
mínimo inferior. Preenche os requisitos. Realização de parecer social.

ACÓRDÃO

(Processo Eletrônico)

Relatório

Trata o presente de Pedido de Uniformização de Jurisprudência apresentado pelo


INSS no processo requerido Lionarda Gonçalves Lustosa Batista, contra decisão da 4ª
Câmara de Julgamento que proferiu o acórdão nº 2065/2020 negando provimento ao recurso
especial do INSS, mantendo a concessão realizada pela Junta de Recursos.

Em uma breve síntese do processo, verificar-se que a lide se refere ao pedido de


Benefício de Prestação Continuada – BPC da espécie 87 requerido em 01/11/2018 com
concessão realizada pela Junta de Recursos e mantida pela Câmara de Julgamento, que
entendeu correta a decisão da primeira instância que excluiu do cálculo da renda familiar o valor
recebido pelo esposo da requerente, que recebe um BPC – LOAS 87 desde 24/09/1996.

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No pedido de Uniformização de Jurisprudência o INSS argumenta, em síntese, que a
requerente omitiu a existência do companheiro no grupo familiar, que é titular de um benefício
assistencial nº 87/104.047.353-6, desde 1996, portanto, na DER a renda familiar era superior a ¼
do salário-mínimo, não sendo devida a concessão do benefício e ainda, não sendo o caso para
aplicar a ACP 044874-22.2013.404.7100/RS, pois não foi apresentada nenhuma documentação
para comprovar a negativa do Estado no fornecimento da assistência médica e hospitalar, etc.,
bem como argumentando pela impossibilidade de aplicação do Estatuto do Idoso.

Em suma o INSS apontou os seguintes acórdãos paradigmas:

- Acórdão nº 690/2019 da 03ª CAJ – processo 44233.046475/2017-31;

- Acórdão nº 2345/2018 da 02ª CAJ – processo 44232.936642/2017-47.

O pedido de uniformização foi recebido pelo sr. Presidente da 4ª Câmara de


Julgamento, encaminhado ao Gabinete do Presidente do CRPS e, posteriormente distribuído para
essa conselheira.

Em atendimento ao que preconiza o § 2º do art. 63 do Regimento Interno do CRPS,


aprovado pela Portaria 116/2017 o processo foi baixado em diligência para que a requerente
apresentasse contrarrazões.

Nas contrarrazões a requerente, por intermédio de seu procurador, argumenta que


quando requereu o benefício não residia com o companheiro, mas que o fato dele receber um
benefício BPC – 87 não é óbice para a requerente obter o seu benefício vez que se trata de
benefício não computável como renda, conforme já decidiu o STF no RE 567.895 decisão com
repercussão geral com efeito erga omnes, solicitando manutenção da decisão.

É o relatório.

Voto:

Preliminarmente, se conhece do Pedido de Uniformização, apresentado


tempestivamente, obedecendo o prazo estabelecido no § 2º do art. 63 do Regimento Interno do
Conselho de Recursos da Previdência Social - CRPS aprovado pela Portaria nº 116/2017, pois o
acórdão foi publicado em 07/04/2020 e o Pedido de Uniformização apresentado em 22/04/2020.

Diante da divergência apontada, conclui-se que também está presente o pressuposto


quanto a competência desse Conselho Pleno, conforme se observa no art. 3º, I da Portaria
116/2017, a saber:

Art. 3º Ao Conselho Pleno compete:

I - uniformizar, em tese, a jurisprudência administrativa previdenciária e


assistencial, mediante emissão de Enunciados; II - uniformizar, no caso concreto,
as divergências jurisprudenciais entre as Juntas de Recursos nas matérias de sua
alçada ou entre as Câmaras de julgamento em sede de Recurso Especial,
mediante a emissão de Resolução; e

Com relação a previsão legal do Pedido de Uniformização de Jurisprudência, o art. 63


da referida Portaria nº 116/2017 diz que:

Art. 63. O Pedido de Uniformização de Jurisprudência poderá ser requerido em


casos concretos, pelas partes do processo, dirigido ao Presidente do respectivo
órgão julgador, nas seguintes hipóteses:

I - quando houver divergência na interpretação em matéria de direito entre


acórdãos de Câmaras de Julgamento do CRSS, em sede de Recurso Especial,

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ou entre estes e resoluções do Conselho Pleno; ou (grifo nosso)

II - quando houver divergência na interpretação em matéria de direito entre acórdãos


de Juntas de Recursos do CRSS, nas hipóteses de alçada exclusiva previstas no art.
30, § 2º, deste Regimento, ou entre estes e Resoluções do Conselho Pleno.

Inicialmente, cabe informar, em síntese, que a lide do processo se refere a


indeferimento do benefício requerido em 01/11/2018 com concessão realizada pela Junta de
Recursos e mantida pela Câmara de Julgamento, que entendeu correta a decisão da primeira
instância que excluiu do cálculo da renda familiar o valor recebido pelo esposo da requerente, que
recebe um BPC – LOAS 87 desde 24/09/1996 e considerou ainda o Parecer Social realizado que
caracteriza a situação familiar como de risco e vulnerabilidade social.

No acórdão paradigma utilizado, Acórdão nº 690/2019 da 03ª CAJ – processo


44233.046475/2017-31 percebe-se que o entendimento adotado foi de considerar o critério
objetivo da renda inferior a ¼ do salário-mínimo vigente, afastando o direito ao benefício, pois a
renda familiar supera o limite estabelecido e é proveniente de recebimento de benefício
assistencial por outro membro familiar e no Acórdão nº 2345/2018 da 02ª CAJ – processo
44232.936642/2017-47, a renda familiar foi considerada superior, pois outro membro familiar
possui vínculo empregatício.

Assim, conclui-se que foi demonstrada a divergência de interpretação de matéria de


direito entre a segunda instância administrativa do CRPS.

No pedido de Uniformização de Jurisprudência o INSS argumenta, em síntese, que a


requerente omitiu a existência do companheiro no grupo familiar, que é titular de um benefício
assistencial nº 87/104.047.353-6, desde 1996, portanto, na DER a renda familiar era superior a ¼
do salário-mínimo, não sendo devida a concessão do benefício e ainda, não sendo o caso para
aplicar a ACP 044874-22.2013.404.7100/RS, pois não foi apresentada nenhuma documentação
para comprovar a negativa do Estado no fornecimento da assistência médica e hospitalar, etc.,
bem como argumentando pela impossibilidade de aplicação do Estatuto do Idoso.

Ocorre que, no acórdão ora debatido, verifica-se que houve realização de Parecer
Social que caracteriza a situação familiar como de risco e vulnerabilidade social, além de não ter
considerado no cálculo a renda recebida por membro familiar proveniente de outro BPC
concedido à pessoa com deficiência.

Com relação a referida matéria, cabe mencionar entendimentos recentes deste


Conselho Pleno, acerca do requisito da renda mensal per capita inferior a ¼ do salário-mínimo na
análise dos Benefícios de Prestação Continuada – BPC, senão vejamos:

Resolução nº 19/2019 de 28/06/2019 do n. conselheiro relator Rodolfo Espinel


Donadon, processo nº 44232.837369/2016-98 do benefício nº 702.236.332-4 com a
seguinte ementa:BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA. LOAS. PEDIDO DE
UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA. Divergência jurisprudencial entre as
Câmaras de Julgamento no que tange aos critérios de fixação da renda per capita
familiar. Competência para análise deste Conselho Pleno na forma do art. 3° inc. II
do Regimento Interno do CRSS aprovado pela Portaria MDAS n° 116/2017.
Pressupostos de Admissibilidade do pedido alcançados na forma do art. 63 do
mesmo Regimento. Para a fixação dos critérios da renda familiar tem-se que o
Supremo Tribunal Federal julgou inconstitucional a regra de 1/4 do salário-mínimo.
Aplicação limitada ao Conselho. Falta de ato legal declarando a norma
inconstitucional. Prevalência do § 3° do art. 20, contudo, a avaliação da situação
de miserabilidade familiar deve ser realizada concomitantemente com aspectos
além da renda conforme § 11 do art. 20 da LOAS. Precedente do Conselho Pleno.
Pedido de Uniformização conhecido e improvido. (grifo nosso)

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No mesmo sentido destaco, ainda, a recente Resolução nº 17/2020 de 29/05/2020 da
n. conselheira relatora Tarsila Otaviano da Costa, processo nº 44232.194905/2014-57 do
benefício nº 560.289.065-0 que foi assim ementado:

PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA. AMPARO SOCIAL A


PESSOA PORTADORA DE DEFICIÊNCIA. PRESSUPOSTOS DE
ADMISSIBILIDADE DO PEDIDO ALCANÇADOS NA FORMA DO ART. 63 DO
REGIMENTO INTERNO (PORTARIA MDAS Nº 116/2017.) EXCLUSÃO DA
RENDA DE MEMBRO DO GRUPO FAMILIAR EM FACE DA CONSTATAÇÃO DE
VULNERABILIDADE SOCIAL ATESTADA POR SERVIDOR AUTÁRQUICO EM
PARECER SOCIAL. INEXISTÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL E AFRONTA AO
PARECER CONJUR-MPS Nº 616/2010. PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO
CONHECIDO E PROVIDO. (grifo nosso)

No entanto, vale ressaltar que, em 06/07/2015 foi incluído pela Lei 13.146/15 o
parágrafo 11 no art. 20 da Lei 8.742/93 possibilitando a análise da condição de miserabilidade e
situação de vulnerabilidade do grupo familiar por outros meios probatórios, podendo ser aplicada
essa previsão legal no caso em tela, uma vez que o benefício foi requerido em 01/11/2018.

Essa foi a segunda tese utilizada no acórdão ora analisado para justificar a concessão
do benefício, pois considerou que o Parecer Social pela Assistente Social comprovou a situação
de miserabilidade e vulnerabilidade social que a requerente vive e assim, portanto, conclui-se que
cabe a aplicação do parágrafo 11 do art. 20 da referida lei ao caso em tela.

Diante de todo o exposto, conclui-se que a tese mantida no acórdão nº 2065/2020


encontra amparo legal, razão pela qual o Pedido de Uniformização de Jurisprudência do INSS não
merece provimento.

Voto, preliminarmente, para CONHECER DO PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO DE


JURISPRUDÊNCIA apresentado pelo INSS, e no mérito NEGAR-LHE PROVIMENTO

Brasília-DF, 28 de janeiro de 2022.

IMARA SODRÉ SOUZA NETO

Relatora

Documento assinado eletronicamente por Imara Sodré Sousa Neto, Agente


Administrativo, em 15/02/2022, às 17:22, conforme horário oficial de
Brasília, com fundamento no § 3º do art. 4º do Decreto nº 10.543, de 13 de
novembro de 2020.

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Referência: Processo nº 10128.100324/2022-88 SEI nº 22257556

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MINISTÉRIO DA ECONOMIA
Secretaria Especial de Previdência e Trabalho
Secretaria de Previdência
Presidência do Conselho de Recursos da Previdência Social

RESOLUÇÃO CRPS/ME Nº 4, DE 28 DE JANEIRO DE 2022

DECISÓRIO

Vistos e relatados os presentes autos, em sessão realizada hoje, ACORDAM os


membros do Conselho Pleno, por UNANIMIDADE, no sentido de CONHECER DO PEDIDO DE
UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA apresentado pelo INSS, e no mérito NEGAR-LHE
PROVIMENTO, de acordo com o Voto da Relatora e sua fundamentação.

Participaram, ainda, do presente julgamento os (as) Conselheiros (as): Vânia


Pontes Santos, Gustavo Beirão Araújo, Paulo Sérgio de Carvalho Costa Ribeiro, Ana Cristina
Evangelista, Márcia Aparecida, Moisés Oliveira Moreira, Maria José de Paula Moraes, Guilherme
Lustosa Pires, Valter Sérgio Pinheiro Coelho, Rodolfo Espinel Donadon, Alexandra Álvares de
Alcântara, Tarsila Otaviano da Costa e Adriene Cândida Borges.

IMARA SODRÉ SOUZA NETO


MÁRCIA ELIZA DE SOUZA

Relatora
Presidente

Documento assinado eletronicamente por Márcia Eliza de Souza,


Presidente, em 09/02/2022, às 18:18, conforme horário oficial de Brasília,
com fundamento no § 3º do art. 4º do Decreto nº 10.543, de 13 de novembro
de 2020.
Documento assinado eletronicamente por Imara Sodré Sousa Neto, Agente
Administrativo, em 15/02/2022, às 17:23, conforme horário oficial de
Brasília, com fundamento no § 3º do art. 4º do Decreto nº 10.543, de 13 de
novembro de 2020.

Resolução 4 (22259531) SEI 10128.100324/2022-88 / pg. 5


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Resolução 4 (22259531) SEI 10128.100324/2022-88 / pg. 6

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