Você está na página 1de 6

THIAGO FERAN

Advocacia e Consultoria Jurídica

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 3ª VARA DE FAMÍLIA E


SUCESSÕES DA COMARCA DE UBERLÂNDIA - MG

FERNANDA LIMA, brasileira, solteira, estudante, portadora do RG nº 19125409


SSP/MG e do CPF nº 070.771.076-63, residente e domiciliada na Quadra 404, conjunto 12-B, n° 19, Recanto
das Emas – DF, por intermédio do seu advogado Dr. THIAGO FERAN FREITAS ARAÚJO, OAB-DF n°
32.482, brasileiro, solteiro, advogado, com domicílio profissional na SQNW 109, bloco D, apt. 407, Setor
Noroeste, CEP 70686-420, Brasília-DF, e-mail: tferan@gmail.com, em obediência à diretriz fixada no art.
77, inc. V, do Código de Processo Civil, indicado para as intimações que se fizerem necessárias, apresentar a
presente

CONTESTAÇÃO

No presente processo, em que se defende das alegações apresentadas pelo Sr. ALTAIR GONÇALVES DE
LIMA, já devidamente qualificado e representado, pelas razões de fato e de direito trazidas, após as prelimi-
nares abaixo.

DAS PRELIMINARES

a) Da Gratuidade de Justiça

A Alimentada é estudante e a única renda que aufere atualmente é a pensão alimentícia


para a sua subsistência, pois está desempregada. Atualmente, a decisão recorrida baixou o valor para R$
969,60 (novecentos e sessenta e nove reais e sessenta centavos), conforme extratos – doc. 1, em que se observa
a inexistência de nenhuma outra fonte de renda, e declaração de hipossuficiência anexa. O valor atual da
pensão alimentícia é mais do que suficiente para a Recorrente ser merecedora dos benefícios da Justiça Gra-
tuita, conforme art. 98 do CPC.

b) Da Impugnação da Justiça Gratuita


O Alimentante, pelas mesmas razões de fato e de direito que serão apresentadas no
mérito da presente peça de defesa, também não faz jus aos benefícios da Justiça Gratuita. Desta forma, im-
pugna-se acerca da sua concessão.
THIAGO FERAN
Advocacia e Consultoria Jurídica

c) Da Preliminar de Incompetência Relativa

O presente processo deve ser extinto, porque vai contra a inteligência do art. 53, II do
CPC, abaixo transcrito:
Art. 53. É competente o foro:
[...]
II - de domicílio ou residência do alimentando, para a ação em que se pedem alimentos;

A jurisprudência entende que a Ação Revisional de Alimentos é também, em regra, o


foro de domicílio do alimentando, tratando-se de competência relativa, conforme se observa abaixo:
CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. REVISIONAL DE ALIMENTOS. FIXAÇÃO DE ALI-
MENTOS. CONEXÃO. INEXISTÊNCIA. DISTRIBUIÇÃO ALEATÓRIA. COMPETÊNCIA TERRI-
TORIAL. RELATIVA. EXAME DE OFÍCIO. IMPOSSIBILIDADE. I. Na ação de revisão de alimen-
tos o foro do domicílio do alimentando é, em regra, o competente para conhecer e julgar o pe-
dido. II. Tratando-se de competência relativa, o magistrado não pode decliná-la de ofício, con-
forme preconizado pelo enunciado da Súmula nº 33/STJ. III. Não configuradas as hipóteses
do art. 253, do CPC, será aleatória a distribuição de ação revisional de alimentos, sobretudo se
já julgada ação de alimentos anteriormente ajuizada pelas mesmas partes. lV. Declarou-se a
competência do Juízo da 1ª Vara de Família e de Órfãos e Sucessões de Sobradinho/DF.
(TJDF; Rec 2015.00.2.026564-9; Ac. 913.868; Segunda Câmara Cível; Rel. Des. José Divino de
Oliveira; DJDFTE 22/01/2016; Pág. 177)

Desta forma, o presente processo deve ser extinto, por não estar sendo respeitada a
competência territorial correta, uma vez que o foro correto é a Vara Cível, de Família e de Órfãos e Sucessões
da Sessão Judiciária do Recanto das Emas – DF, pela residência da Alimentada – conforme comprovante de
residência no nome da genitora anexo.

DOS FATOS

O Alimentante ajuizou Ação Revisional de Alimentos, por supostamente estar com


uma situação financeira mais desfavorável atualmente, em virtude da aposentadoria que teria diminuído os
seus rendimentos. Solicitou a revisão dos valores dos alimentos de 1,25 do salário mínimo vigente para 0,495
do salário mínimo, o que equivaleria hoje a R$ 600,00 (seiscentos reais).
Em sede de cognição sumária, teve o seu pleito parcialmente atendido, uma vez que
teve a pensão alimentícia diminuída para um valor de 80% (oitenta por cento) do salário mínimo, nos termos
abaixo transcrito:
Portanto, tratando-se de juízo de cognição sumária, considerando a maioridade da requerida
(atualmente com 21 anos) e visando apenas adequar o valor da obrigação alimentar ao trinômio
necessidade – possibilidade – proporcionalidade, acolho sugestão da I. Promotora de Justiça e
defiro parcialmente o pedido liminar de redução da verba alimentar, para fixar os alimentos em
favor de FERNANDA LIMA no patamar de 180% do salário mínimo, a serem pagos pelo autor
ATAIR GONCALVES DE LIMA, até o dia 10 de cada mês.

O termo “180% do salário-mínimo” acima transcrito, na verdade, foi mero erro mate-
rial, uma vez que o montante fixado foi em 80% do salário mínimo.
Na remota possibilidade de o processo não ser extinto pela incompetência alegada,
passa-se à contradição das razões apresentadas na exordial.
THIAGO FERAN
Advocacia e Consultoria Jurídica

DAS RAZÕES DE FATO CONTRADITADAS

A primeira inverdade presente na exordial é que a remuneração total do Alimentante


hoje corresponde a somente o que ele recebe como aposentado do INSS, que corresponde a R$ 3.977,80 (três
mil, novecentos e setenta e sete reais e oitenta centavos).
O Alimentante, propositalmente, para induzir V. Excelência a erro, omite as suas duas
outras fontes de renda, que aumentam consideravelmente os seus rendimentos.
Primeiramente, o Alimentante recebe benefício de aposentadoria da BRF Previdência,
fundo de pensão fechado do seu antigo empregador, o que pode ser facilmente comprovado com expedição
de ofício para a BRF Previdência, localizada na Avenida Paulista nº 2.439, 10º andar – Condomínio Edifício
Eloy Chaves, Bela Vista, São Paulo/SP - CEP 01311-936.
Em segundo lugar, o Alimentante recebeu de herança, uma casa localizada na Rua Ran-
cheira 84, bairro Guarani (foto abaixo), que ele aluga e aufere uma outra fonte de renda dali.

Ademais, o Alimentante possui residência própria, não possui outros dependentes e é


solteiro. Também seus pais já faleceram, ou seja, não há gastos com eles.
Ou seja, das três fontes de renda que o Alimentante possui, ele somente informou o
valor que recebe do INSS como aposentadoria, para aparentar que teve uma grande queda nos seus rendimen-
tos, o que eventualmente fundamentaria a presente revisional, contudo, conforme informado, ele possui duas
fontes de renda, recorrentes, que fazem com que a sua renda não tenha sofrido diminuição.
como se comprovou, não condiz com a realidade, pelas suas outras duas fontes de numerários.
Em verdade, a condição financeira do Alimentante hoje aparenta ser melhor do que era
quando da concessão da pensão alimentícia, no ano de 2002, pois naquela época, não havia rendimentos frutos
de aluguel.
THIAGO FERAN
Advocacia e Consultoria Jurídica

DOS SUPOSTOS GASTOS E DA SAÚDE DO ALIMENTANTE

O Alimentante apresentou alguns documentos para comprovar supostos gastos recor-


rentes.
Primeiramente, apresenta notas fiscais – doc. n° 8859972997 - da compra de seis tipos
de remédios de uso contínuo, que totalizam pouco mais de R$ 50,00 (cinquenta reais). Ou seja, um valor bem
baixo para seis medicamentos.
Em relação à alegação de que não possui mais plano de saúde por ter se aposentado, o
Alimentante não apresentou nenhuma declaração fidedigna ou documentação que comprove isso, pois a con-
dição de se aposentar não necessariamente impossibilita a utilização do plano de saúde fornecido pelo antigo
empregador.
Sobre os gastos com tratamento odontológico, trata-se de gasto esporádico, que não
pode ser considerado apto a afetar, de forma recorrente, a saúde financeira do Alimentante.
Finalmente, em relação à condição de saúde do Alimentante, não se visualizou ne-
nhuma condição grave, que gere custos recorrentes e altos. Ao contrário, a maioria dos exames apresentados
por ele foram considerados dentro dos parâmetros da normalidade.

DOS GASTOS DA ALIMENTADA


A Alimentanda faz faculdade de Biologia no Centro Universitário UDF, instituição
particular, pagando mensalidade de R$ 537,05 (quinhentos e trinta e sete reais e cinco centavos), conforme
comprovante abaixo:

Em verdade, o valor da mensalidade somente é esse porque a Alimentada é beneficiá-


ria do programa Educa Mais Brasil, modalidade de financiamento estudantil, em que há o pagamento de
cerca de R$ 1000,00, por semestre, conforme demonstrativo abaixo:
THIAGO FERAN
Advocacia e Consultoria Jurídica

DA CONDIÇÃO DE SAÚDE DA ALIMENTADA


Ao contrário do Alimentante, a condição de saúde da Alimentada ocasiona gastos altos
recorrentes, que exigem o reestabelecimento da pensão alimentícia aos valores anteriores.
Conforme relatórios médicos anexos – doc. 2, apresenta sintomas depressivos há cerca
de nove anos, tendo sido diagnosticada anteriormente com depressão bipolar. Contudo, o médico atual dela
ainda não consegue fechar o diagnóstico se o seu transtorno é depressão bipolar ou depressão maior unipolar.
Mas o fato é que independente de qual for o diagnóstico final, qualquer uma dessas doenças exigem trata-
mentos caros e contínuos, pois há a necessidade de tratamento medicamentoso, acompanhamento por psicó-
logo e psiquiatra.
A consulta psiquiatra é R$ 190,00 (cento e noventa reais) – doc. 3 – um valor bem
abaixo da média do mercado, porque a Alimentada não tem condições de pagar mais.
Em relação aos remédios, conforme relatório médico – doc. 2 – e receitas médicas –
doc. 4, a Alimentada usa três remédios controlados, possuindo um gasto mensal de cerca de R$ 200,00 (du-
zentos reais).
Sobre o atendimento psicoterápico, a consulta custa R$ 250,00 (duzentos e cinquenta
reais), que por sinal a última foi realizada em junho – doc. 5, pois com a diminuição liminar da pensão ali-
mentícia, a Alimentada não teve mais condições financeiras de continuar com essa terapêutica, o que prejudica
a sua saúde.
Isso sem contar demais despesas básicas, como alimentação, transporte, comunicação
etc.
Ademais, a sua genitora encontra-se desempregada, conforme comprovam a sua car-
teira de trabalho – doc. 6 e os seus extratos bancários – doc. 7 - que não apresenta nenhum vínculo trabalhista
desde 2012 e depósitos de salários, respectivamente.
THIAGO FERAN
Advocacia e Consultoria Jurídica

Desta forma, seja por não haver diminuição nos rendimentos do Alimentante, seja por
tentar ludibriar o juízo “a quo”, seja pela manutenção das necessidades básicas e de saúde da Alimentada, a
revisional não deve prosperar.

DA LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ

Assim dispõe o art. 80 do CPC/15:

Art. 80. Considera-se litigante de má-fé aquele que:


[...]
II - alterar a verdade dos fatos;

O Alimentante, ao não informar que recebe benefício de previdência da BRF Previdên-


cia, ou mencionar a renda de aluguel que recebe recorrentemente, claramente busca falsear a realidade, para
que com isso, possa parecer que há pressupostos fáticos para minorar o valor da pensão alimentícia, devendo
por isso ser condenada por litigância de má-fé.

DOS PEDIDOS

Ante o exposto, respeitosamente, a Alimentada requer:

a) A extinção do processo por incompetência relativa alegada;

b) A concessão dos efeitos da Justiça Gratuita para a Alimentada;

c) A revogação da concessão dos efeitos da Justiça Gratuita para o Alimentante;

d) Que a presente Ação Revisional seja julgada improcedente por não encontrar
elementos fáticos que a sustentem; e

e) A condenação do Alimentante pelo ônus de sucumbência.


.

Nestes termos.

Brasília, 06 de setembro de 2022.

THIAGO FERAN FREITAS ARAÚJO


OAB-DF n° 32.482

Você também pode gostar