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PROCESSO Nº : 67954/2019(AUTOS DIGITAIS)

ASSUNTO : REPRESENTAÇÃO DE NATUREZA INTERNA


UNIDADE : PREFEITURA MUNICIPAL DE PORTO DOS GAÚCHOS
INTERESSADOS : MOACIR PINHEIRO PIOVESAN (PREFEITO)
ALESSANDRO ISERNHAGEM HYDALGO (PREGOEIRO)
LARISSA FERNANDA DIAS AZOIA (ASSESSOR JURÍDICO)
RELATOR : CONSELHEIRO INTERINO LUIZ CARLOS

PARECER Nº 1.912/2019

EMENTA: REPRESENTAÇÃO DE NATUREZA INTERNA.


PREFEITURA MUNICIPAL DE PORTO DOS GAÚCHOS.
INOBSERVÂNCIA DO PRAZO PREVISTO NO ARTIGO 43,
§1º, DA LC N. 123/06. INOBSERVÂNCIA DO DISPOSTO
NO ARTIGO 3º, I E II, DA LC N. 123/06. INOBSERVÂNCIA
DO DEVER DE REPUBLICAÇÃO DO EDITAL COM SUAS
ALTERAÇÕES, NOS TERMOS DO ARTIGO 21, §4º, DA LEI
N. 8.666/93. EXIGÊNCIA DE VISITA TÉCNICA SEM
MOTIVAÇÃO IDÔNEA. INOBSERVÂNCIA DA SÚMULA N. 18
DESTE TRIBUNAL DE CONTAS. AUSÊNCIA DE DOLO.
EXISTÊNCIA DE ERRO GROSSEIRO. ARTIGO 28 DA
LINDB. ANULAÇÃO DOS ATOS LICITATÓRIOS E
APURAÇÃO DE RESPONSABILIDADE DISCIPLINAR.
INTELIGÊNCIA DO ARTIGO 49 C/C ARTIGO 59 DA LEI N.
8.666/93. PARECER MINISTERIAL PELA PROCEDÊNCIA,
APLICAÇÃO DE SANÇÕES E EXPEDIÇÃO DE
DETERMINAÇÕES.

1. RELATÓRIO

1. Cuida-se de REPRESENTAÇÃO DE NATUREZA INTERNA, COM SUGESTÃO


DE EXPEDIÇÃO DE MEDIDA CAUTELAR, apresentada pela Secretaria de Controle
Externo de Educação e Segurança Pública em razão de supostas irregularidades
verificadas no âmbito do Processo Licitatório n. 001/2019, do Município de Porto dos
Gaúchos, cujo edital prevê como objeto a contratação de empresa especializada no
transporte escolar a fim de suprir a necessidade do município em suas linhas
escolares, durante o exercício de 2019, com valor estimado em R$ 1.327.260,00 (um
milhão, trezentos e vinte e sete mil, duzentos e sessenta reais).
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2. Inicialmente, a equipe técnica apontou as seguintes irregularidades:
Responsáveis: ALESSANDRO ISERNHAGEN HYDALGO - PREGOEIRO /
Período: 09/01/2019 a 31/12/2019 LARISSA FERNANDA DIAS AZOIA -
ASSESSOR JURÍDICO / Período: 09/01/2019 a 31/12/2019 MOACIR
PINHEIRO PIOVESAN - ORDENADOR DE DESPESAS / Período: 01/01/2019
a 31/12/2019

1) GB08 LICITAÇÃO_GRAVE_08. Não-observância do tratamento


diferenciado e simplificado garantido às Microempresas e Empresas de
Pequeno Porte nos procedimentos licitatórios (art. 42 a 49 da Lei
Complementar 123/2006 e legislação específica do ente. 1.1) Não
observância de tratamento diferenciado e simplificado garantido às
microempresas e empresas de pequeno porte nos procedimentos
licitatórios. - Tópico - 2. Análise Técnica

2) GB13 LICITAÇÃO_GRAVE_13. Ocorrência de irregularidades nos


procedimentos licitatórios (Lei 8.666/1993; Lei 10.520/2002; legislação
específica do ente). 2.1) Exigência de visita/vistoria técnica para
participação no certame. - Tópico - 2. Análise Técnica 2.2) A
documentação solicitada extrapola o previsto para qualificação técnica. -
Tópico - 2. Análise Técnica

3) GB15 LICITAÇÃO_GRAVE_15. Especificação imprecisa e/ou insuficiente


do objeto da licitação. (art. 3º, § 1º, I, c/c caput do art. 14 e art. 40, § 2º,
IV, da Lei 8.666/1993; art.40,I, da Lei 8.666/1993; Art. 3º, II, da Lei
10.520/2002; Súmula TCU nº 177). 3.1) O edital não define o objeto da
licitação, em descrição precisa, sucinta e clara. - Tópico - 2. Análise
Técnica

4) GB16 LICITAÇÃO_GRAVE_16. Ausência de publicação dos avisos e


demais atos obrigatórios da licitação nos meios de divulgação previstos
na legislação e/ou fora dos padrões e critérios estabelecidos (art. 21 da
Lei 8.666/1993; art. 4º, V, da Lei nº 10.520/02). 4.1) Não foi respeitado o
prazo legal estabelecido entre a divulgação da licitação e a realização do
evento. - Tópico - 2. Análise Técnica

5) GB17 LICITAÇÃO_GRAVE_17. Ocorrência de irregularidades relativas às


exigências de qualificação técnica das licitantes (art. 30 da Lei
8.666/1993). 5.1) A documentação solicitada extrapola aquela relativa à
qualificação técnica. - Tópico - 2. Análise Técnica

6) GB18 LICITAÇÃO_GRAVE_18. Ocorrência de irregularidades relativas às


exigências de qualificação econômico-financeiro das licitantes (art. 31 da
Lei 8.666/1993). 6.1) A documentação solicita extrapola o previsto para
qualificação econômico financeira. - Tópico - 2. Análise Técnica

3. A medida cautelar sugerida pela Secex para suspensão do certame foi


indeferida pelo Conselheiro Relator (documento digital n. 31105/2019).

4. Os interessados foram devidamente citados e apresentaram defesa

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(documento digital n. 43907/2019) de forma conjunta, sustentando, em síntese, a
ilegitimidade passiva da assessora jurídica (Larissa Fernanda Dias) e a ausência de
irregularidades e/ou prejuízos quanto aos demais itens.

5. Após análise da defesa, a Secretaria de Controle Externo opinou pela


manutenção de todas as irregularidades.

6. Vieram os autos ao Ministério Público de Contas para emissão de


parecer de mérito.

2. FUNDAMENTAÇÃO

2.1 PRELIMINARES

2.1.1 Nulidade – Ausência de intimação do Ministério Público de Contas para manifestar-


se acerca da medida cautelar sugerida pela Secex

7. O Ministério Público de Contas ressalta que não fora intimado para


manifestar-se acerca da concessão ou não da medida cautelar, sendo informado do
feito após a referida decisão e encerrada a instrução processual, inclusive com a
análise de mérito efetuada pela Secretaria de Controle Externo, o que, em tese, pode
ocasionar a nulidade do procedimento, nos termos do artigo 279 do Código de
Processo Civil, por violação ao teor do que dispõe o artigo 297, §3º, do RITCE/MT, que
apesar de asseverar a intimação do MPC após a concessão da medida cautelar não
deve ser interpretada desta forma restritiva, sob pena de violação de sua função
constitucional de fiscal da ordem jurídica e dos interesses sociais, nos termos do artigo
127, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, considerando, ainda
que é função essencial ao controle externo da administração pública, nos termos do
artigo 51, da Constituição do Estado de Mato Grosso.

8. No entanto, considerando o caso concreto, o Ministério Público de


Contas informa não existir prejuízo em razão de sua não intimação para manifestar-se
acerca da medida cautelar solicitada.
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9. Isto posto, nos termos do artigo 279, §2º, do Código de Processo Civil, o
Ministério Público de Contas informa não existir prejuízo por não ter sido intimado a
manifestar-se acerca da medida cautelar pleiteada.

2.1.2 Ilegitimidade passiva da Assessora Jurídica – Larissa Fernanda Dias

10. A defesa sustenta, em sede de preliminar, a ausência de legitimidade


passiva da assessora jurídica Larissa Fernanda Dias para figurar no polo passivo
destes autos, argumentando não existir dolo ou erro grosseiro em sua conduta.

11. Ocorre que tal matéria defensiva não é tema de preliminar por
ausência de legitimidade, mas confunde-se com o próprio mérito, isto é, a verificação
do elemento subjetivo necessariamente demanda análise de mérito, não podendo ser
afastada a responsabilidade através da pretendida preliminar.

12. Ademais, o Ministério Público de Contas filia-se ao posicionamento do


Superior Tribunal de Justiça, de acordo com o qual a legitimidade de parte é verificada
de acordo com a narração da petição inicial, conforme a teoria da asserção. Vejamos:
[...]
3. Nos termos da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, as
condições da ação, aí incluída a legitimidade para a causa, devem ser
aferidas com base na teoria da asserção, isto é, à luz das afirmações
deduzidas na petição inicial.
[...]
(AgInt no REsp 1651138/MG, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA,
TERCEIRA TURMA, julgado em 23/10/2018, DJe 26/10/2018). (grifo meu).

[...]
VI - Para se investigar, entretanto, a presença dessas condições da ação,
segundo a teoria da asserção, a verificação se dá à luz das afirmações
feitas pelo demandante em sua petição inicial, devendo o julgador
considerar a relação jurídica deduzida em juízo in statu assertionies, ou
seja, à vista daquilo que se afirmou. A respeito da aceitação dessa teoria
no âmbito do Superior Tribunal de Justiça, vejam-se os seguintes e
recentes precedentes de ambas as Turmas que tratam de direito público:
AgInt no REsp 1546654/SC, Rel. Ministra REGINA HELENA COSTA,
PRIMEIRA TURMA, julgado em 15/5/2018, DJe 18/5/2018; REsp
1721028/RJ, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado
em 17/4/2018, DJe 23/5/2018.
VII - Ao analisar com certa profundidade as provas para concluir pela
ilegitimidade das ora recorridas, o que o Tribunal de origem fez foi, na
verdade, por decisão de mérito, determinar a improcedência dos pedidos

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quanto a elas.
[...]
(AgInt no REsp 1711322/RJ, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, SEGUNDA
TURMA, julgado em 06/09/2018, DJe 12/09/2018. (grifo meu).

13. Isto posto, o Ministério Público de Contas opina pela rejeição da


preliminar de ilegitimidade passiva.

2.2 MÉRITO

2.2.1 Análise das irregularidades e/ou ilegalidades

14. O procedimento licitatório visa permitir a contratação da melhor oferta


possível à administração pública (artigo 3º, da Lei Nacional n. 8.666/93), sendo esta
entendida não apenas a de menor preço, mas aquela que consiga atender ao mesmo
tempo o quesito de melhor preço e qualidade.

15. Em razão disto e considerando o objetivo regulador de mercado do


procedimento licitatório, deve-se permitir a maior quantidade possível de licitantes,
não sendo possível a inclusão de requisitos ou exigências que não sejam necessários
ao bom desempenho do objeto licitado, assim como que impeçam o adequado caráter
competitivo do certame (artigo 37, XXI, da Constituição da República Federativa do
Brasil de 1988 – CRFB/88 – e artigo 3º, §1º, I, da Lei Nacional n. 8.666/1993).

16. Conforme verificado nos autos diversos itens do processo licitatório n.


001/2019 do Município de Porto dos Gaúchos restringiram a competitividade do
certame, sem qualquer justificativa idônea, o que passamos a analisar
individualmente.

GB08 LICITAÇÃO_GRAVE_08 – Ausência de tratamento diferenciado para micro e


pequenas empresas, nos termos da Lei Complementar n. 123/06
GB18 LICITAÇÃO_GRAVE_18 – A documentação extrapola o previsto para qualificação
econômica

Análise conjunta, em razão de a defesa ter sido apresentada também de forma


conjunta.

17. A defesa apresentou defesa limitando-se a informar que o item está de

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acordo com a norma legal, não existindo qualquer irregularidade, o que não é
verdade, pois conforme podemos observar no item 7.1.2 do edital o prazo concedido
para micro e pequenas empresas sanarem irregularidades documentais foi de 02
(dois) dias úteis, em clara violação ao artigo 43, §1º, da Lei Complementar n. 123/06,
conforme redação dada pela Lei Complementar n. 155/2016.

18. Ademais, ao incluir a limitação de participação às micro e pequenas


empresas com faturamento até R$ 200.000,00 (duzentos mil reais), novamente violou
dispositivo claro da Lei Complementar n. 123/06, qual seja, o artigo 3º, I e II, que
atribuem o valor de R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais) para qualificação
como microempresa e o valor superior a este até R$ 4.800.000,00 (quatro milhões e
oitocentos mil reais) para qualificação como empresa de pequeno porte.

19. Sendo assim, patente a irregularidade, sem qualquer justificativa


idônea apresentada pela defesa, em concordância com a equipe técnica, a
manutenção da irregularidade é medida que se impõe.

GB13 LICITAÇÃO_GRAVE_13 – Exigência de visita técnica para participação do certame

20. A defesa sustenta que inseriu tal previsão no edital de licitação em


razão do contido na súmula n. 03 deste Tribunal de Contas, que possui o seguinte
verbete:
Súmula n° 6 - A Administração Pública deve realizar vistorias periódicas
nos veículos utilizados no transporte escolar, para verificação dos
equipamentos obrigatórios e de segurança, a fim de garantir e preservar
a integridade física dos alunos da rede pública de ensino.

21. No entanto, o enunciado sumular, assim como os precedentes que o


embasaram (distinguishing, nos termos do artigo 489, §1º, VI, do Código de Processo
Civil) não tem qualquer relação de similitude com a irregularidade que se discute
nestes autos, pois a súmula tem a pretensão de expressar o posicionamento do
Tribunal de Contas quanto à necessidade de a administração pública (não licitantes)
efetuar vistorias periódicas nos veículos de transporte escolar, tratando-se, em
verdade, de dever de fiscalização da administração sobre o objeto contratado em
execução e não a obrigatoriedade de, em fase de licitação, o interessado ter de
realizar vistoria técnica, motivo pelo qual completamente inaplicável a referida súmula
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ao caso dos autos.

22. Aplica-se ao caso, no entanto, a súmula n. 18 deste Tribunal de Contas.


Vejamos:
A exigência de visita técnica como condição para habilitação em
processos licitatórios, em regra, restringe a competitividade do certame,
podendo ser admitida somente nas situações em que a complexidade ou
natureza do objeto licitado a justificar, sendo suficiente, para os demais
casos, a simples declaração do licitante de que tem pleno conhecimento
das condições e do local em que ocorrerá a execução do objeto. (grifo
meu).

23. A defesa não só confessou a ocorrência de existência da exigência


como deixou de justificá-la de forma adequada, não demonstrando qualquer situação
de complexidade ou de peculiaridade na natureza do objeto que pudesse justificar a
exigência.

24. Sendo assim, em concordância com a Secretaria de Controle Externo, a


manutenção da irregularidade é medida necessária.

GB15 LICITAÇÃO_GRAVE_15 – Ausência de adequada descrição do objeto licitado

25. A defesa argumentou que existem informações suficientes para


composição do preço do serviço licitado, notadamente a quilometragem, número de
alunos, trajetos, tudo detalhado diariamente e mensalmente, razão pela qual não há
qualquer irregularidade.

26. Em sua manifestação a equipe técnica ressaltou que:

Em que pese existirem algumas informações no termo de referência,


fato é que elas não definem o objeto da licitação de forma precisa,
conforme alegado pela defesa. Verifica-se que o termo de referência
favorece somente as licitantes que conhecem as peculiaridades do
município de Porto dos Gaúchos/MT, pois não foram demonstradas as
rotas de forma clara. No caso, foram inseridas descrições insuficientes
como por exemplo "Faz. Bom Jesus/Sinuelo X Novo Paraná" o que
restringiu a participação de interessados de outras localidades por não
saberem ao certo quais trechos seriam percorridos. Ademais, não foram
detalhadas as linhas escolares informando em quais estradas os veículos
deveriam transitar, os nomes das vias, o ponto de início e de fim de cada
rota e se as vias eram ou não pavimentadas. Por isso não houve a

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comprovação da quilometragem percorrida pois, apesar de ter sido
informado a quantidade de quilômetros, não se demonstrou
precisamente o traçado de cada uma das rotas. Entende-se que todas
essas informações são relevantes para possibitar que os licitantes
saibam quais os veículos para atender a demanda e o que vão enfrentar
durante a execução contratual. Diante do exposto, entende-se que o
objeto do Pregão Presencial n° 01/2019 definido no termo de referência
foi impreciso e insuficiente, prejudicando a participação de licitantes que
desconhecem as peculiaridades do município de Porto dos Gaúchos,
portanto permanece a irregularidade.

27. O Ministério Público de Contas adota posicionamento idêntico ao da


Secretaria de Controle Externo, em razão da falta de detalhamento do objeto
contratual.

28. É certo que a legislação disciplinadora da modalidade licitatória pregão


assevera sua utilização para bens e serviços comuns (artigo 1º, da Lei n. 10.520/02). N
o entanto, a locução “comum” não pode ser confundida com definição inadequada e
insuficiente do objeto a ser contratado, sob pena de prejuízo à formulação das
propostas que ficam a mercê de surpresas durante a execução contratual.

29. Isto posto, em consonância com a equipe técnica, o Ministério Público


de Contas manifesta pela manutenção da irregularidade.

GB16 LICITAÇÃO_GRAVE_16 – Ausência de publicação em tempo hábil das alterações no


instrumento convocatório

30. A defesa argumenta que não houve prejuízo na ausência de publicação


em prazo hábil da alteração do instrumento convocatório, salientando que a alteração
não tem aptidão para impactar nas propostas dos licitantes.

31. No entanto, conforme já ressaltado pela equipe técnica, as alterações


são aptas a modificar o valor a ser apresentado pelos licitantes, notadamente em
razão da alteração da quilometragem em cada linha.

32. Sendo assim, patente o dever de nova publicação, nos termos do artigo
21, §4º, da Lei n. 8.666/93, com a devida observância do prazo de 8 (oito) dias úteis
de antecedência previsto no artigo 4º, V, da Lei n. 10.520/02, motivo pelo qual a
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irregularidade deve ser mantida.

GB17 LICITAÇÃO_GRAVE_17 – Documentação de qualificação técnica que extrapola a


exigência legal

33. Conforme muito bem observando pela Secretaria de Controle Externo,


em verdade, não houve defesa quanto a este ponto, mas meras conjecturas
afirmativas de que não houve frustração da competitividade do certame, mas sem
nenhuma comprovação de tal fato.

34. Vejamos a manifestação da equipe técnica:

Os defendentes não se manifestaram sobre o apontamento, mas tão


somente alegaram que as exigências contidas no edital e descritas no
presente tópico em nada frustaram a competitividade da licitação. No
relatório técnico preliminar (págs. 11 a 14 do doc. digital n° 27867/2019)
foi amplamente demonstrada a quantidade de documentos solicitada no
item 7.1.3 do edital do Pregão Presencial n° 001/2019 que extrapolaram
a exigência relativa à qualificação técnica. Portanto, como não houve
esclarecimentos da defesa sobre o apontamento, mantém-se a
irregularidade.

35. Não havendo observância do ônus de impugnação especificada por


parte dos interessados, imperioso presumir-se verdadeiras as alegações de fato do
relatório técnico preliminar, nos termos do artigo 341 do Código de Processo Civil,
ressaltando não existir nenhuma das exceções previstas nos incisos I a III do mesmo
artigo.

36. Sendo assim, o Ministério Público de Contas manifesta-se pela


manutenção da irregularidade.

2.2.2 Verificação do elemento subjetivo: dolo ou erro grosseiro, conforme artigo 28 da


Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro – LINDB

37. Perpassada a questão quanto à irregularidade da conduta do gestor e


dos respectivos servidores, faz-se necessário analisar se esta se revestiu de dolo ou
de erro grosseiro, conforme exigência do art. 28 da novel redação da Lei de Introdução

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às Normas do Direito Brasileiro, a saber o Decreto-lei 4.657/1942: “O agente público
responderá pessoalmente por suas decisões ou opiniões técnicas em caso de dolo ou
erro grosseiro”. (grifo nosso)

38. Por seu turno, importa ressaltar que o art. 28 da LINDB trata do direito
sancionador, em especial às condições de aplicação de penalidades sobre as quais o
gestor estará sujeito, adentrando, pois, no campo da culpabilidade administrativa.
Doravante, caso não se configure o dolo ou o erro grosseiro, a responsabilidade do
agente público será afastada.

39. Quanto ao dolo, percebe-se que este se aproxima da ideia de “má-fé”.


Fábio Medina Osório afirma que:

o dolo, em direito administrativo, é a intenção do agente que recai sobre


o suporte fático da norma legal proibitiva. O agente quer realizar
determinada conduta objetivamente proibida pela ordem jurídica. Eis o
dolo. Trata-se de analisar a intenção do agente especialmente diante
dos elementos fáticos – mas também normativos – regulados pelas leis
incidentes à espécie.1

40. Já para Hugo Nigro Mazzilli “o dolo [...] é a vontade genérica de fazer o
que a lei veda ou não fazer o que a lei manda.” 2

41. Nesse diapasão, verifica-se que o dolo, em direito administrativo,


basear-se-á no desrespeito à legalidade exigida para o ato, mais especificamente
numa vontade dirigida contra a boa-fé estatal.

42. Tendo o exposto, este Parquet não verificou, no caso concreto, uma
vontade dirigida à prática da ilegalidade. Até porque, não basta a ilegalidade do ato
para comprovar a presença do dolo. Faz-se mister, como dito, avaliar subjetivamente o
ato do agente, para, assim, formar um juízo de reprovabilidade. De modo que
carecem, pois, quaisquer evidências nos autos de que o gestor e os respectivos
servidores, voluntariamente, buscaram a realização de um ato desprovido de
finalidade pública, ou mal-intencionado, não cabe a penalização na modalidade dolo.

43. Nesse caminho, cumpre analisar a suposta presença de erro grosseiro,


em continuidade à dicção do art. 28 da LINDB.
1 OSÓRIO, Fábio Medina. Improbidade Administrativa. Ed. Síntese, Porto Alegre, 1998, p. 135.
2 MAZZILI, Hugo Nigro, A defesa dos interesses difusos em juízo, 7. ed. Saraiva, São Paulo, p. 162.
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44. Embora ausentes na legislação os parâmetros positivos ou negativos
para delimitar o que vem a ser erro grosseiro, cabe informar que o atual entendimento
do TCU é pela existência do referido erro quando a conduta se distancia do esperado
do administrador sem que este tenha que agir de forma extraordinária. No Acórdão nº
2860/2018-Plenário, o Ministro Augusto Sherman enfatizou: “resta configurada a
ocorrência de erro grosseiro quando a conduta culposa do agente público distancia-se
daquela que seria esperada do administrador médio, avaliada no caso concreto”.

45. Ainda, segundo os termos do Acórdão nº 2.391/2018 do TCU:

o erro leve é o que somente seria percebido e, portanto, evitado por


pessoa de diligência extraordinária, isto é, com grau de atenção acima
do normal, consideradas as circunstâncias do negócio. O erro grosseiro,
por sua vez, é o que poderia ser percebido por pessoa com diligência
abaixo do normal, ou seja, que seria evitado por pessoa com nível de
atenção aquém do ordinário, consideradas as circunstâncias do negócio.
Dito de outra forma, o erro grosseiro é o que decorreu de uma grave
inobservância de um dever de cuidado, isto é, que foi praticado com
culpa grave. (grifo nosso)

46. Sendo assim, cumpre indicar que no caso dos autos houve a inequívoca
ocorrência de erro grosseiro por parte de todos os envolvidos, tendo em vista que as
irregularidades apontadas decorrem de princípios básicos da legislação de licitações,
estando até mesmo expressas no texto da Lei n. 8.666/93 (artigo 3º, caput, e seu §3º;
artigo 21, §4º; artigo 27, II e III; e artigos 30 e 31); na Lei n. 12.527/2011 e na Lei n.
10.520/02 (artigo 1º, caput e seu parágrafo único; artigo 4º, V); na Lei Complementar
n. 123/06 (artigo 3º, I e II; e artigo 43, §1º); ou então devidamente sumuladas no
âmbito deste Tribunal de Contas, notadamente a súmula n. 18.

47. Ressalta-se, ainda, que as referidas irregularidades que são graves,


possuem alto potencial para limitação da competitividade e possível direcionamento
licitatório, motivo pelo qual devem ser anulados os atos processuais e republicado o
edital, apurando-se a responsabilidade disciplinar dos agentes que lhe deram causa,
conforme disposto no artigo 49 c/c artigo 59 da Lei n. 8.666/93.

48. Desta forma, o Ministério Público de Contas opina pela procedência


parcial da presente representação externa para: a) aplicar multa, que deverá ser paga
com recursos próprios, ao Sr. Moacir Pinheiro Piovesan, nos termos do artigo 3º, II, “a”,
da Resolução Normativa n. 17/2016 c/c artigo 74, da Lei Complementar Estadual n.
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269/2007 c/c artigo 286, do Regimento Interno do Tribunal de Contas do Estado de
Mato Grosso, por seis vezes, em razão das irregularidades GB08; GB13; GB15; GB16;
GB17; e GB18; b) aplicar multa, que deverá ser paga com recursos próprios, à Sra.
Larissa Fernanda Dias Azoia nos termos do artigo 3º, II, “a”, da Resolução Normativa n.
17/2016 c/c artigo 74, da Lei Complementar Estadual n. 269/2007 c/c artigo 286, do
Regimento Interno do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso, por seis vezes, em
razão das irregularidades GB08; GB13; GB15; GB16; GB17; e GB18; c) aplicar multa,
que deverá ser paga com recursos próprios, ao Sr. Alessandro Iserhagen Hydalgo nos
termos do artigo 3º, II, “a”, da Resolução Normativa n. 17/2016 c/c artigo 74, da Lei
Complementar Estadual n. 269/2007 c/c artigo 286, do Regimento Interno do Tribunal
de Contas do Estado de Mato Grosso, por seis vezes, em razão das irregularidades
GB08; GB13; GB15; GB16; GB17; e GB18; e d) determinar à gestão do Município de
Porto dos Gaúchos que promova imediatamente a anulação3 dos atos licitatórios que se
efetivaram após a publicação do edital, devendo este ser republicado sem as
irregularidades apontadas nestes autos, e, no caso de já ter sido celebrado o contrato,
seja este anulado; e e) pela expedição de determinação à gestão do Município de Porto
dos Gaúchos – MT –, para que proceda a apuração de responsabilidade disciplinar dos
causadores da nulidade do processo licitatório n. 001/2019, nos termos do artigo 49 c/c
artigo 59, parágrafo único, da Lei 8.666/93, e ainda, de acordo com o poder-dever da
administração pública em apurar infrações administrativas, conforme tese fixada por
este Tribunal de Contas no acórdão n. 443/2018 – Tribunal Pleno – no processo n.
28.616-8/2017, devendo a gestão instaurar Processo Administrativo Disciplinar no prazo
de 30 (trinta) dias e concluí-lo no prazo de 60 (sessenta) dias, encaminhando a
3EMENTA Mandado de segurança. Ato do Tribunal de Contas da União. Competência prevista no
art. 71, IX, da Constituição Federal. Termo de sub-rogação e rerratificação derivado de contrato
de concessão anulado. Nulidade. Não configuração de violação dos princípios do contraditório e
da ampla defesa. Segurança denegada. 1. De acordo com a jurisprudência do STF, "o Tribunal
de Contas da União, embora não tenha poder para anular ou sustar contratos administrativos,
tem competência, conforme o art. 71, IX, para determinar à autoridade administrativa que
promova a anulação do contrato e, se for o caso, da licitação de que se originou" (MS 23.550,
redator do acórdão o Ministro Sepúlveda Pertence, Plenário, DJ de 31/10/01). Assim,
perfeitamente legal a atuação da Corte de Contas ao assinar prazo ao Ministério dos
Transportes para garantir o exato cumprimento da lei. 2. Contrato de concessão anulado em
decorrência de vícios insanáveis praticados no procedimento licitatório. Atos que não podem
ser convalidados pela Administração Federal. Não pode subsistir sub-rogação se o contrato do
qual derivou é inexistente. 3. Não ocorrência de violação dos princípios do contraditório e da
ampla defesa. A teor do art. 250, V, do RITCU, participaram do processo tanto a entidade
solicitante do exame de legalidade, neste caso a ANTT, órgão competente para tanto, como a
empresa interessada, a impetrante (Ecovale S.A.). 4. Segurança denegada.
(MS 26000, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Primeira Turma, julgado em 16/10/2012, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO DJe-224 DIVULG 13-11-2012 PUBLIC 14-11-2012). (grifo meu).
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documentação respectiva à esta Corte de Contas imediatamente após a conclusão.

3. CONCLUSÃO

49. Diante de todo o exposto, o Ministério Público de Contas, no exercício


de suas atribuições institucionais, com fulcro no art. 90, § 4° do RITCE/MT c/c o art. 21,
XVI do RITCE/MT, opina:

a) pelo conhecimento da Representação Externa, em vista da presença


de todos de pressupostos de admissibilidade previstos no Regimento Interno do
Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso;

b) pela rejeição da preliminar de ilegitimidade passiva da Sra. Larissa


Fernanda Dias;

c) no mérito, pela procedência, para:

c.1) aplicar multa, que deverá ser paga com recursos próprios, ao Sr.
Moacir Pinheiro Piovesan, nos termos do artigo 3º, II, “a”, da Resolução Normativa n.
17/2016 c/c artigo 74, da Lei Complementar Estadual n. 269/2007 c/c artigo 286, do
Regimento Interno do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso, por seis vezes, em
razão das irregularidades GB08; GB13; GB15; GB16; GB17; e GB18;

c.2) aplicar multa, que deverá ser paga com recursos próprios, à Sra.
Larissa Fernanda Dias Azoia nos termos do artigo 3º, II, “a”, da Resolução Normativa
n. 17/2016 c/c artigo 74, da Lei Complementar Estadual n. 269/2007 c/c artigo 286, do
Regimento Interno do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso, por seis vezes, em
razão das irregularidades GB08; GB13; GB15; GB16; GB17; e GB18;

c.3) aplicar multa, que deverá ser paga com recursos próprios, ao Sr.
Alessandro Iserhagen Hydalgo nos termos do artigo 3º, II, “a”, da Resolução
Normativa n. 17/2016 c/c artigo 74, da Lei Complementar Estadual n. 269/2007 c/c
artigo 286, do Regimento Interno do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso, por
seis vezes, em razão das irregularidades GB08; GB13; GB15; GB16; GB17; e GB18;

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c.4) determinar à gestão do Município de Porto dos Gaúchos que
promova imediatamente a anulação dos atos licitatórios que se efetivaram após a
publicação do edital, devendo este ser republicado sem as irregularidades apontadas
nestes autos, e, no caso de já ter sido celebrado o contrato, seja este anulado; e

c.5) pela expedição de determinação à gestão do Município de Porto dos


Gaúchos – MT –, para que proceda a apuração de responsabilidade disciplinar dos
causadores da nulidade do processo licitatório n. 001/2019, nos termos do artigo 49
c/c artigo 59, parágrafo único, da Lei 8.666/93, e ainda, de acordo com o poder-dever
da administração pública em apurar infrações administrativas, conforme tese fixada
por este Tribunal de Contas no acórdão n. 443/2018 – Tribunal Pleno – no processo n.
28.616-8/2017, devendo a gestão instaurar Processo Administrativo Disciplinar no
prazo de 30 (trinta) dias e concluí-lo no prazo de 60 (sessenta) dias, encaminhando a
documentação respectiva à esta Corte de Contas imediatamente após a conclusão.

Ministério Público de Contas, Cuiabá, 25 de abril de 2019.

(assinatura digital) 4
GETÚLIO VEL ASCO MOREIRA FILHO
Procurador de Contas

4Documento firmado por assinatura digital, baseada em certificado digital emitido por Autoridade Certificadora
credenciada, nos termos da Lei Federal nº 11.419/2006 e Resolução Normativa Nº 9/2012 do TCE/MT.
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