Você está na página 1de 10

EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA

COMARCA DE SÃO PAULO - SP

REQUERENTE..., pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob


o nº..., com sede em..., nº..., Bairro..., São Paulo/SP, CEP..., telefone...,
endereço eletrônico...

AÇÃO ANULATÓRIA DE AUTO DE INFRAÇÃO AMBIENTAL COM


PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA

em face de REQUERENTE, pessoa jurídica de direito público, inscrita no


CNPJ sob o nº..., com sede em..., pelos motivos de fato e de direito que
passa a expor.

1. DOS FATOS
Inicialmente cabe destacar que a REQUERENTE é empresa que se dedica à
fabricação de etanol e açúcar a partir da industrialização da cana de açúcar, para tanto possui três
estabelecimentos industriais.
Igualmente, esclarece-se que a REQUERENTE não possui áreas agrícolas próprias
para produção de sua matéria prima, a qual é fornecida por terceiros sob regime de fornecimento ou
parceria rural, sempre mediante contratação específica.
Feita esta breve introdução sobre a atividade da REQUERENTE e o seu compromisso
com a sustentabilidade na produção agroindustrial cabe voltar à atenção para os autos de infração
objetos da presente demanda lavrados ainda.
A propriedade alvo da infração está localizada na Fazenda..., situada no Estado de...,
onde foi executada a colheita mecanizada de cana de açúcar crua em outubro de 2018, e os tratos
culturais foram realizados para permitir a rebrota necessária.
Todavia, no início de agosto de 2019, ou seja, antes que a cana de açúcar estivesse
suficientemente madura uma das torres de vigilância da REQUERENTE observou a ocorrência de foco
de queimada no local.
Imediatamente foi deslocada uma equipe de controle munida de dois caminhões pipa
cujo principal objetivo foi a proteção das residências existentes no local. Devido a queimada, não houve
tempo suficiente para maturação da cana de açúcar.
Uma vez controladas as chamas foram consumidos alguns talhões de cana de açúcar
de forma integral, os quais foram objeto de colheita para minimização dos prejuízos, bem como atingida
parte da vegetação nativa da propriedade.
Como resultado dos fatos os agentes militares de fiscalização lavraram em 06/08/2019
em desfavor da REQUERENTE três autos de infração ambiental, no valor total de R$ 480.000,00, os
quais tiveram suas condutas descritas da seguinte forma que segue respectivamente:
1. “Dificultar a regeneração natural de vegetação exótica gramínea e arbustiva, em
área correspondente a 1,29 ha, em área de preservação permanente, sem
autorização da autoridade ambiental competente mediante o uso de fogo”.
2. “Danificar mediante uso de fogo vegetação nativa em estágio médio de regeneração,
em área correspondente a 0,96 ha, em área de especial preservação, sem
autorização da autoridade ambiental competente”.
3. “Fazer uso de fogo em áreas agropastoris, em área correspondente a 33.897 ha,
sem autorização da autoridade ambiental competente”.
Realizado o primeiro atendimento ambiental, foram apresentados os argumentos
relativos à negativa de autoria da REQUERENTE e determinada pelos julgadores que se fizesse
verificação de autoria pelos agentes militares de fiscalização.
Entretanto, foi mantida a infração ambiental, bem como foram triplicadas as multas por
reincidência específica sem indicação do auto de infração ambiental com trânsito em julgado que daria
sustentação.
Apresentadas as defesas tempestivamente (sustentou-se da seguinte forma em suma:
(i) a ilegalidade da majoração da multa;
(ii) violação ao princípio da reserva legal por ter sido a sanção imposta com fundamento em
Resolução;
(iii) da ausência de autoria, relação ou benefício com a infração nos termos da Lei Federal nº
12.651/12;
(iv) inexistência de dolo ou culpa da REQUERENTE;
(v) necessidade de processo administrativo prévio para imposição das sanções;
(vi) ausência de prova técnica e apuração da área autuada;
(vii) desproporcionalidade do valor da multa; e
(viii) pela conversão da multa em serviços ambientais.
Submetido a julgamento pela Coordenadoria de Fiscalização Ambiental - IX houve
parecer indicando que:
(i) o auto de infração estaria revestido de todas as formalidades legais e em conformidade com
a legislação pertinente;
(ii) que a REQUERENTE não apresentou documento técnico corroborando com suas
alegações, contendo a devida Anotação de Responsabilidade Técnica – ART, recolhida;
(iii) que não há como a multa simples ser precedida de advertência;
(iv) que não seria possível a conversão da multa simples em prestações de serviços de melhoria
ao meio ambiente;
(v) aponta legislação relativa à responsabilidade civil por danos ambientais; e
(vi) que as atenuantes foram analisadas pelos agentes de conciliação, não cabendo a
aplicabilidade das mesmas.
Enfim, quando do recebimento da notificação de indeferimento de defesa
administrativa, foi interposto tempestivamente o recurso administrativo contra as referidas decisões,
reiterando as alegações de defesa que foram então analisadas pela Comissão de Julgamento de Autos
de Infração Ambiental e mantidas conforme relatório final.
Foram então recebidas as notificações de indeferimento do recurso, bem como
necessidade de pagamento das multas aplicadas, informando ainda que não seria mais possível a
interposição de nenhum tipo de recurso administrativo, razão pela qual caso as multas não fossem
pagas, o débito seria incluído em Dívida Ativa para cobrança judicial.
Estes são, em suma, os fatos.

2. DO DIREITO

2.1.Da ausência da autoria ou benefício com a infração e da aplicação do


art. 38 da Lei Federal nº 12.651/12
Na forma descrita nos fatos indicou-se claramente que a REQUERENTE não foi
causadora do fogo que motivou a lavratura do auto de infração, mas que o real causador do evento é
terceiro desconhecido.
Analisando a topografia do local, verifica-se que se trata de propriedade em que se faz
rotineiramente a colheita mecanizada que dispensa o uso de fogo e não estava incluída entre aquelas
que seriam objeto de queima prévia à colheita.
Ausente está qualquer indício de que a REQUERENTE tenha praticado ou guarde
relação com a conduta, mas sim mera presunção de autoria derivada da parceria agrícola existente,
sobretudo teve claros prejuízos porque não havia maturação suficiente.
Conforme indica a EMBRAPA a maturação da cana ocorre no período de 12 a 18
meses da última colheita quando o índice de maturação se entrar entre 0,85 e 1, mas no caso em voga
este era inferior a 0,85 porque entre a colheita em outubro de 2018 e a realizada em 2019 transcorreram
apenas 10 (dez) meses.
O argumento da ausência de autoria lastreado na ocorrência de prejuízo e
necessidade de deslocamento da frente foi inicialmente reconhecido pela comissão julgadora, mas
mesmo assim, restou mantida a infração por ser a RECORRENTE aquela que explora atividade rural
próxima ao local da infração.
Nos moldes da Lei Federal nº 9.605/98, art. 70, só poderá ser considerado autor de
infração administrativa aquele que produzir a ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso,
gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente, assim como prevê o art. 38 da Lei Federal
12.651/12.
Não há também nos autos qualquer indício de que o fogo tenha sido de autoria da
REQUERENTE, pois a autuação ocorreu em seu desfavor apenas pela exploração comercial de cana-
de-açúcar no local derivada de contrato de parceria.
Cabia ao agente de fiscalização ter identificado de fato se o foco de fogo inicial foi
realmente de responsabilidade da REQUERENTE e seus colaboradores.
Fundado em simples ilações, que inclusive no caso em voga estão desprovidas de
qualquer indício, o agente de fiscalização deveria ter considerado que em sede de processo
administrativo sancionador vigora o princípio da verdade material.
Desta forma, incumbia ao agente público apurar com exatidão o real causador do
ilícito efetivo atinente ao uso de fogo ao invés de automaticamente autuar a REQUERENTE.
Some-se ainda que a atual legislação ambiental impede a autuação derivada de uso
de fogo sem a efetiva identificação do nexo de causalidade por ação ou omissão, conforme dita o art.
38, §3º, da Lei Federal nº 12.651/12:
Art. 38. É proibido o uso de fogo na vegetação, exceto nas seguintes situações: (...)
§ 3o Na apuração da responsabilidade pelo uso irregular do fogo em terras públicas ou
particulares, a autoridade competente para fiscalização e autuação deverá comprovar o nexo
de causalidade entre a ação do proprietário ou qualquer preposto e o dano efetivamente
causado.
Em sede de infração administrativa ambiental o simples juízo de probabilidade
utilizado para imputar infração e a sucessiva sanção não é pode ser admitido e se faz essencial a
perfeita indicação da autoria e identificação da relação de causalidade com a infração, como demonstra
a jurisprudência análoga:
ADMINISTRATIVO. IBAMA. APLICAÇÃO DE MULTA. INFRAÇÃO AMBIENTAL.
ARMAZENAMENTO DE MADEIRA PROVENIENTE DE VENDAVAL OCORRIDO NA
REGIÃO. EXISTÊNCIA DE TAC. COMPROVADA BOA-FÉ. REEXAME DE PROVAS.
SÚMULA 7/STJ. 1. A responsabilidade é objetiva; dispensa-se portanto a comprovação de
culpa, entretanto há de constatar o nexo causal entre a ação ou omissão e o dano causado,
para configurar a responsabilidade. 2. A Corte de origem, com espeque no contexto fático dos
autos, afastou a multa administrativa. Incidência da Súmula 7/STJ. Agravo regimental
improvido" (STJ AgRg no RECURSO ESPECIAL nº 1.277.638 - SC. Rel. Min. HUMBERTO
MARTINS. Jul. 07/05/2013).
Desta forma, deveria ter sido apurado o nexo de causalidade e não atribuir-se autoria
apenas com fundamento na relação comercial existente.
Na forma como se deu a autuação, bastaria, por exemplo, a imputação de autoria por
um desafeto da REQUERENTE e que sucessivamente a autoridade de fiscalização aceitasse suposta
alegação sem qualquer investigação adicional.
Temos que em relação a responsabilidade administrativa ambiental os preceitos da
responsabilidade civil ambiental prevista na Lei nº 6.938/81 não se aplicam como expõe a doutrina sobre
a necessidade de identificação da autoria:
Tem-se dito no Direito Ambiental a responsabilidade por infração administrativas é objetiva,
ou seja, dispensa a culpa ou o dolo do agente chegando-se ao extremo de dispensar a
própria atuação do autuado, fazendo-o responder pelo fato de terceiros sem razoabilidade
alguma – o que talvez o fizesse responder como garante... ...Em diversas ocasiões se
confunde a obrigação de reparar o dano com o pagamento de multas sobre os bens
ambientais lesados, validando cobrança de multas ambientais sem que haja a comprovação
de culpa e em alguns casos, até mesmo da autoria. (Eduardo Fortunato Bim. O Mito da
Responsabilidade Objetiva no Direito Ambiental. In Doutrinas Essenciais do Direito Ambiental
Vol. V. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, pp. 808/809. Marcações nossas).
Assim, deveria ter sido apurado o nexo causal pela demonstração de que a
REQUERENTE tenha empregado o fogo por meio de seus colaboradores, mas nunca a imputação
direta derivada somente do mero vínculo comercial existente, como a REQUERIDA faz de praxe e sem
cumprir com o seu real papel de ente fiscalizadora.
Tal uso do poder de polícia ambiental é no mínimo temeroso e a própria disposição
dos fatos no corpo do auto de infração impede extrair qualquer conclusão sobre a autoria e detalhes das
circunstâncias da prática da infração imputada:
A conduta pode ser imputada à pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, que
tenha concorrido, por ação ou omissão, para a prática da infração. É certo, portanto, que a
responsabilização administrativa, ao contrário do que ocorre na esfera civil e analogicamente
ao que se dá em âmbito penal (igualmente de índole repressiva), é absolutamente pessoal,
não podendo o órgão administrativo punir uma pessoa pelo evento danoso causado por
outra. (Édis Milaré. Direito do Ambiente. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009, pp. 885.
Marcações nossas).
Configura-se, verdadeira hipótese de ilegitimidade da REQUERENTE por não ser ela
a efetiva responsável pela conduta infracional apurada e pela fragilidade das constatações feitas pelo
agente público não há como afirmar que a conduta tenha sido gerada pela REQUERENTE, e em tais
hipóteses o E. Tribunal de Justiça de São Paulo tem afastado as autuações ambientais:
AÇÃO ANULATÓRIA DE AUTO DE INFRAÇÃO AMBIENTAL E RESPECTIVA MULTA.
PROVA DO DANO AMBIENTAL. INCERTEZA QUANTO À AUTORIA. INFRAÇÃO QUE
DEIXA VESTÍGIOS. Ausência de perícia técnica ou análise laboratorial a comprovar o
potencial poluidor dos efluentes. Presunção de legitimidade do ato administrativo afastada.
Sentença de procedência. Recurso oficial e apelação desprovidos. (TJSP; APL 9197070-
33.2004.8.26.0000; Ac. 5361057; São Paulo; Câmara Reservada ao Meio Ambiente; Rel.
Des. Aguilar Cortez; Julg. 25/08/2011; DJESP 09/09/2011);
A simples presunção de causalidade não basta para gerar a imputação de infrações e
de sanção pecuniária conjunta, no entanto a fome de arrecadação e o descaso com aquilo que deva
resultar em procedimento de fiscalização se mostrou mais intenso que a atuação com parcimônia em
defesa do ambiente no intuito de identificar os responsáveis.
A obrigação de apurar a conduta era dos entes de fiscalização da REQUERIDA:
O agente, após um incêndio florestal, deve colher todas as informações para tentar descobrir
se o incêndio foi criminoso ou não. Fatores como direção da propagação do fogo e objetos
encontrados no local podem ser de grande utilidade para resolver o caso. (João Leonardo
Mele. A Proteção do Meio Ambiente Natural: Manual de fiscalização dos recursos naturais.
São Paulo: 2006, p. 200).
Por todas estas razões é que se identifica a total ilegitimidade da REQUERENTE quanto as infrações
identificadas, sendo totalmente ilegítima as sanções e necessária desconstituição dos atos
administrativos sancionadores correspondentes por ausência total de causalidade.

2.2.Da violação à tipicidade e à reserva legal.


Antes de penetrar propriamente na questão da violação à tipicidade e à reserva legal para aplicação da
sanção pecuniária em questão cumpre fazer breve discussão a respeito da similaridade entre os
regimes do direito penal e do direito administrativo sancionador ambiental.
Os ilícitos ambientais são um evento único sobre qual se debruçará uma sanção administrativa com um
regime jurídico próprio, mas como se pretende demonstrar no caso das sanções administrativas as
regras de direito penal se aplicam de forma subsidiária:
A mais importante e fundamental consequência da suposta unidade de ius puniendi ao
Estado é a aplicação de princípios comuns ao direito penal e ao direito administrativo
sancionador, reforçando-se nesse passo algumas garantias individuais. (Fábio Media Osório.
Direito Administrativo Sancionador. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 102.);
A Lei Federal nº 9.605/98, que traz o regime geral das infrações administrativas
ambientais, justamente em seu art. 79, estabelece a possibilidade de aplicação subsidiária do direito
penal.
Já o dispositivo básico da responsabilização administrativa ambiental como previsto
no art. 72, da Lei Federal nº 9.605/98, prevê que as disposições penais relativas à gradação da pena
criminal, constantes do próprio artigo 6º do diploma, servem para a dosimetria das sanções
administrativas ambientais.
Resta muito evidente a relação próxima que o direito penal e o direito administrativo
ambiental possuem no trato que dão à apuração das infrações administrativas ambientais.
Vigora no direito administrativo sancionador o princípio da legalidade, como
preceituam os arts. 5º, II e 37, da Constituição Federal:
Por tais motivos, a infração administrativa e a respectiva sanção devem ser criadas pelo
órgão legislativo, composto por representantes da coletividade. (Rafael Munhoz de Mello.
Princípios Constitucionais de Direito Administrativo Sancionador. São Paulo: Malheiros, 2007,
p. 132).
A partir da necessidade que as infrações e as sanções sejam previstas em lei em
sentido estrito surge o princípio da tipicidade como decorrente direto da legalidade.
Pela tipicidade o comportamento proibido e a sanção a ele atrelada devem estar
descritos de forma detalhada em lei para que o particular não seja surpreendido com a imposição de
sanção por um comportamento que desconhecia ser proibido.
Desta forma, é imensa a fragilidade do auto de infração lavrado pelo agente público
sustentado unicamente em norma infralegal que deve ser desconstituída por clara violação à tipicidade.

2.3. Da desproporcionalidade da sanção aplicada


A partir da análise dos autos verifica-se que as multa imposta de elevadíssimo valor
não guardam correspondência com a conduta e suas eventuais consequências ao meio.
Não se olvide também que as multas foram triplicadas em sede de atendimento
ambiental por reincidência, ato que também não deve prosperar, como se verá.
No que se refere a multa simples aplicada inicialmente, é impossível traçar a
correlação entre as infrações imputadas e os sansões em razão da precariedade da descrição da
conduta da REQUERENTE nos autos de infração e da ausência de efetiva apuração das áreas afetadas
ou dos reais impactos ao ambiente.
Não houve apuração objetiva das áreas afetadas e deixou-se de identificar os
impactos reais ao meio ambiente para a imposição das multas na intensidade feita, portanto esta não
guarda relação direta com os fatos e acaba por ser desproporcional.
As multas que foram impostas deveriam refletir com exatidão, dentre outros
elementos, a intensidade e a real extensão da intervenção feita sob a ótica ambiental e um agente
público não pode por si só estabelecer o valor da multa quando esta dependa desta apuração técnica
ampla:
Seria um paradoxo aceitar que o agente sem formação técnica superior emitisse auto de
infração de até R$ 50.000.000,00 (cinquenta milhões de reais), quando na esfera penal a
cominação de pena de multa é de no máximo 356 vezes o salário mínimo (R$ 48.416,00),
onde se exigem dois peritos portadores de diploma de curso superior para encontrar a
materialidade e extensão e um juiz de direito para cominar a pena de multa. (Luís Carlos
Silva de Moraes. Curso de Direito Ambiental. São Paulo: Atlas, 2001, pp. 111. Marcações
nossas).
A forma sumária de apuração da infração realizada não se mostra acertada ao que
preceitua também a Lei Federal nº 9.605/98 que:
Procura assegurar a proporcionalidade entre os ilícitos administrativos e as sanções a serem
impostas, permitindo que o aplicador confira aos poluidores tratamento compatível com os
gravames efetivamente causados. (Nicolao Dino De Castro e Costa Neto, Ney De Barros
Bello Filho e Flávio Dino de Castro e Costa. Crimes e Infrações Administrativas Ambientais.
Brasília: Brasília Jurídica, 2001, p. 406)
O art. 74, da Lei Federal nº 9.605/98 exige que a multa tenha por base o objeto
jurídico lesado, ou seja, o dano ambiental causado, sem embargo, as multas simples aplicadas ferem a
proporcionalidade e a razoabilidade por ter deixado de observar este critério básico e serem totalmente
desconhecidos os critérios manejados para delimitação da área atingida e assim fixação da multa.
É desproporcional a imposição de multas administrativas de tamanha monta, tendo
em vista que não se pode traçar qualquer relação de correspondência com a conduta por falta de
apuração objetiva, pois em nenhum instrumento de fiscalização foi relatada a forma de medição das
áreas afetadas.
O ato punitivo deve sempre obedecer a critérios aceitáveis do ponto de vista do bom
senso e segundo o princípio da proporcionalidade deve ser limitado em sua extensão e intensidade para
que seja suficiente à satisfação do interesse público.
O princípio da proporcionalidade implica em verdadeira vedação ao excesso, pois a
autuação administrativa deve estar adstrita aos limites legais da Lei Federal nº 9.605/98, o que não
ocorreu.
Por todas as razões expostas não subsistem motivos para manutenção das sanções
na forma como foi lançada nos autos de infração porque ela se marca pela desproporcionalidade
resultante da ausência de apuração objetiva das áreas afetadas.
A multa que seja imposta deveria refletir, dentre outros elementos, a intensidade e a
amplitude da intervenção feita sob a ótica ambiental:
Na atividade da autoridade ambiental, é preciso, pois, correlação entre meios e fins; se uma
dada fábrica polui, embora de forma pouco grave, a eventual penalidade administrativa deve
ser imposta à medida dos fatos, ou motivos, que a originaram. O mesmo não ocorre se o
agente ambiental aplicar a sanção administrativa aquém do que seria suficiente para atender
à finalidade legal. (Heraldo Garcia Vitta. Responsabilidade Civil e Administrativa por Dano
Ambiental. São Paulo: Malheiros, 2008, pp. 34/35).
Resulta que as elevadas sanções administrativas impostas, não se adequam aos fatos
porque a área não foi devidamente mensurada, os impactos ambientais seriam presumidos, bem como
não foi executada a devida apuração dos efeitos ambientais.
Por todas as razões expostas não subsistem motivos para manutenção da sanção na
forma como foi lançada nos autos de infração porque ela se marca pela desproporcionalidade resultante
da ausência de apuração objetiva da área afetada, bem como os parâmetros legais das sanções
específicas da legislação que regula a queima de cana de açúcar foram desconsiderados.
Sobretudo, a multa que seja imposta deveria refletir, dentre outros elementos, a
intensidade e a amplitude da intervenção feita sob a ótica ambiental:
Na atividade da autoridade ambiental, é preciso, pois, correlação entre meios e fins; se uma
dada fábrica polui, embora de forma pouco grave, a eventual penalidade administrativa deve
ser imposta à medida dos fatos, ou motivos, que a originaram. O mesmo não ocorre se o
agente ambiental aplicar a sanção administrativa aquém do que seria suficiente para atender
à finalidade legal. (Heraldo Garcia Vitta. Responsabilidade Civil e Administrativa por Dano
Ambiental. São Paulo: Malheiros, 2008, pp. 34/35).
Resulta que as elevadas sanções administrativas impostas não se adequam por si só
aos fatos porque as áreas atingidas foram presumidas e não foi executada a devida apuração dos
efeitos ambientais para apuração proporcional das infrações e suas sanções consequentes.
No caso em tela, a majoração da multa já aplicada à REQUERENTE decorreu da
reincidência específica e nem ao menos há descrição da qual seria a infração anterior na ata de
atendimento com claros prejuízos ocorridos à defesa.
Igualmente, a referida majoração nunca poderia ter sido aplicada porque viola o
princípio do “non reformatio in pejus” consagrado pela Constituição Federal em processos para
aplicação de sanções penais e administrativas.
O dispositivo de direito penal citado, por sua vez, aplica-se subsidiariamente às
infrações administrativas ambientais como dispõe o art. 79, da Lei Federal 9.605/98.
Logo é ilegal a majoração no curso do processo administrativo instaurado
especificamente para apurar recurso administrativo da REQUERENTE seja pela violação ao princípio do
“non reformatio in pejus” ou alternativamente pela ausência de demonstração objetiva da ocorrência da
reincidência específica por ausência prova de trânsito em julgado da infração anterior a majoração não
poderia ter sido imputada.
Posto isto, e diante de tudo que foi exposto até o presente momento, os autos de
infração em voga devem ser desconstituídos por falta de proporcionalidade ou omissão na aplicação das
sanções referentes ao uso de fogo.
3. DA ANTECIPAÇÃO DE TUTELA
Como sabido, os pressupostos para concessão de antecipação de tutela em geral são
a urgência do direito e a verossimilhança das alegações.
No que tange a relevância da demanda, esta foi devidamente exposta no mérito e
demonstrada através de vasta documentação relativa ao processo administrativo ambiental.
Como exposto nesta peça: (i) não houve autoria ou benefício com as infrações; (ii) não
houve apuração objetiva das infrações e de seus efeitos; (iii) houve violação à tipicidade e a reserva
legal; e (iv) as sanções aplicadas são desproporcionais.
Todos estes vícios de autuação impedem a regular execução fiscal do suposto débito.
A REQUERENTE não pode ser inscrita em Dívida Ativa e executada judicialmente em
razão de autos de infrações ambientais sobre o qual pesam tamanhos desajustes.
O risco da demora também é evidente, pois, como a REQUERENTE não efetuará o
pagamento das ilegais multas impostas terá início a cobrança judicial dos débitos, pela via executória,
gerado por autos de infrações nulos.
Sabe-se que sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio
de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente para que seja
assegurado o resultado da demanda ao final.
Deve-se ainda chamar a atenção para o que determina o art. 151, V, do CTN:
Art. 151. Suspendem a exigibilidade do crédito tributário: V – a concessão de medida liminar
ou de tutela antecipada, em outras espécies de ação judicial; (Inciso incluído pela Lcp nº 104,
de 10.1.2001) (Vide Medida Provisória nº 38, de 13.5.2002).
Assim, basta estarem previstos os requisitos para antecipação de tutela para que
incida o art. 151, V, do CTN:
Ante tudo o que vimos, podemos concluir que é plenamente possível que o crédito tributário
tenha a sua exigibilidade suspensa por ordem judicial concedida a título de antecipação dos
efeitos da tutela, genericamente considerada, com base nos arts. 273 e /ou 461 do CPC.
Permitese, pois, a aplicação por analogia, conforme expressa previsão do art. 4º da Lei de
Introdução ao Código Civil, bem como o art. 126 do Código de Processo Civil. (...). Nas ações
de anulação de auto de infração, suspende-se a exigibilidade do crédito tributário, que é
efeito anexo da sentença que decidir pela invalidade do ato administrativo tributário. (...). É
induvidoso, pois, o cabimento da tutela antecipatória para a obtenção, independentemente do
depósito, da suspensão da exigibilidade do crédito tributário. (Fredie Didier Jr..
www.magisteronline.com.br em 16/11/2011.)
Uma vez não deferida a tutela para que a propositura de execução fiscal seja
sobrestada até o julgamento final do mérito da presente, a eventual decisão final na presente demanda
será inócua:
O processo chega ao fim e o provimento de mérito é emitido, quando o mal temido já está
consumado e nada mais se pode fazer (Cândido Rangel Dinamarco. Nova Era do Processo
Civil. São Paulo: Malheiros, 1º Edição, p. 56. Marcações nossas).
Mostra-se, em razão de todo o colocado, ser indispensável a concessão da liminar
inibitória no presente feito para suspender a exigibilidade dos débitos decorrentes dos autos de
infrações, bem como impedir que a REQUERENTE seja inscrita em Dívida Ativa.
Alternativamente requer, que seja facultado à REQUERENTE o oferecimento de
garantia idônea, a fim que se suspenda a exigibilidade dos créditos fiscais por ser medida de bom
senso, evitando-se risco de prejuízo para ambas as partes.

4. DO PEDIDO
Ante o exposto, requerer-se Vossa Excelência se digne a:

a) Conceder a liminar inibitória, sem a oitiva da parte contrária, para suspender imediatamente o
crédito gerado pelos autos de infração ambiental, assim como impedir a eventual inclusão do
nome da REQUERENTE em Dívida Ativa, bem como a propositura de futura execução fiscal;

b) A citação da Requerida;

c) Que, ao final, seja a presente ação julgada procedente, confirmando eventual liminar concedida
para anular e desconstituir todos os efeitos dos autos de infração ambiental em questão, assim
como a eventual certidão de dívida ativa que o siga eventualmente;

d) A produção de todas as provas admitidas em direito admitidas;

e) A condenação do réu ao pagamento de honorários advocatícios nos parâmetros previstos no art.


85, §2º do CPC;

f) Desde já manifesta seu interesse na audiência conciliatória, nos termos do Art. 319, inc. VII do
CPC.

Dá-se à causa o valor de R$ 450.000,00.

Pede deferimento.

Farenzena Advocacia

OAB/SC

Você também pode gostar