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Fichamento livro – MARICATO, Ermínia.

A produção capitalista da casa (e da


cidade) no Brasil. São Paulo: Alpha – Omega, 1982.

Pág. 17 – Francisco de Oliveira: “Não há nada de surpreendente no fato de que a ação do


BNH se tenha desviado de sua pretensa intenção de resolver a questão da casa popular
para se tornar um poderoso mecanismo de acumulação, que só pode realizar as
mercadorias produzidas procurando um mercado junto a outras classes sociais com
maiores recursos.”

SINGER, Paul. O uso do solo urbano na economia capitalista. In: MARICATO,


Ermínia. A produção capitalista da casa (e da cidade) no Brasil. São Paulo: Alpha –
Omega, p. 21-36, 1982.

Pág. 21: “A posse dos meios de produção é condição necessária e suficiente para a
exploração do trabalho produtivo, ao passo que a ocupação do solo é apenas uma
contingência que o seu estatuto de propriedade privada torna fonte de renda para quem a
detém.”

Pág. 22: “O “capital” imobiliário é, portanto, um falso capital. Ele é, sem dúvida, um
valor que se valoriza, mas a origem de sua valorização não é atividade produtiva, mas a
monopolização do acesso à uma condição indispensável aquela atividade.
“basta lembrar que os imóveis com as mesmas benfeitorias podem ter preços
completamente diferentes, conforme sua localização.

Pág. 23: “No mercado imobiliário, a oferta de espaço não depende do preço corrente, mas
de outras circunstâncias. A produção de espaço urbano se dá, em geral, pela incorporação
a cidade de glebas que antes tinham uso agrícola.

“Mas não há uma relação necessária entre esse custo e o preço corrente no mercado
imobiliário urbano. a demanda do solo urbano muda frequentemente, e é próprio do
processo de ocupação do espaço pela expansão do tecido urbano, o preço de determinada
área deste espaço está sujeita às relações violentas, o que torna o mercado imobiliário
essencialmente especulativo.”
“A valorização da gleba é antecipada em função de mudanças na estrutura urbana que
ainda estão por acontecer.”

Pág. 23: “A procura por espaços na cidade é formada por empresas, por indivíduos ou por
entidades que atendem às necessidades de consumo coletivo. A procura das empresas
objetiva uso do espaço para realizar as atividades produtivas (secundários ou terciárias)
ou atividades de circulação comercial, financeira, tec. Do ponto de vista das empresas,
cada ponto no espaço urbano é o único, no sentido de proporcionar determinado elenco
de vantagens que influem sobre os seus usos.”

Pág. 25: “como todo o espaço urbano é propriedade privada (com as eXceções cabíveis),
mesmo a pior localização tem que ser comprada ou alugada.”

Pág. 27: “A demanda de solo urbano para fim de habitação, também distingue vantagens
locacionais, determinadas principalmente pelo maior ou menor acesso aos serviços
urbanos, tais como transporte, serviços de água esgoto, escolas, comércio, telefone, etc E
pelo prestígio social da vizinhança. Este último fator de corrida a tendência dos grupos
mais ricos de se segregar do resto da sociedade da aspiração dos membros da classe média
de ascender socialmente.
O acesso aos serviços urbanos tende a privilegiar determinadas localizações em medida
tanto maior quanto mais escassos forem os serviços em relação à demanda. Em muitas
cidades vir a rápida expansão do número de seus habitantes leva essa escassez a nível
crítico, o que exacerba a valorização das poucas áreas bem servidas.”

Sobre o BNH - Pág. 28: “No Brasil, há uma tendência crescente de o Estado subsidiar a
reprodução da força de trabalho através de planos de habitação popular, implementados
nos muitos anos pelo BNH. Na medida em que tais planos aumentam a demanda solvável
por espaço para morar sem que a oferta de serviços urbanos cresça na mesma proporção
o preço do solo aumenta, frustrando os objetivos inicialmente propostos. O resultado tem
sido que a parte da população mais carente de condições adequadas de habitação não é
atendida.
Consequências – unifica o mercado urbano de cada cidade, fundindo as demandas por
uso produtivo e habitacional do espaço. As leis de zoneamento, que objetivam
especializar o uso de cada área do solo urbano, colocam obstáculos à plena realização
dessas tendências.”

Pág. 33: “A cidade capitalista não tem lugar para os mais pobres. A propriedade privada
de solo urbano faz com que a posse de uma renda monetária seja requisito indispensável
a ocupação do espaço urbano. Mas eu funcionamento um normal da economia capitalista
não assegura um mínimo de solo a todos. Antes, pelo contrário, este funcionamento tende
a manter uma parte da força de trabalho em reserva, o que significa que uma parte
correspondente da população não tem meios para pagar pelo direito de ocupar um pedaço
do solo urbano. Essa parte da população acaba morando em lugares em que, por alguma
razão, os direitos da propriedade privada não vigoram: áreas de propriedade pública,
terrenos em inventário, glebas mantidas vazias com fins especulativos, que formam a sua
mostra as invasões, favelas, mocambos, etc. Quando os direitos da propriedade privada
se fazem valer de novo, os moradores das áreas em questão são despejados, dramatizando
a contradição entre a marginalidade econômica e a organização capitalista do uso do
solo.”

O Estado e o uso do solo urbano - Pág. 34: “Sempre que o poder público data uma zona
qualquer da cidade de um serviço público, água encanada, escola pública ou uma linha
de ônibus, por exemplo desvia para esta zona demandas de empresas e moradores que
anteriormente, devido à falta do serviço em questão, davam preferência a outras
localizações. Estas novas demandas, deve-se supor, estão preparadas a pagar pelo uso do
solo, em termos de compra ou aluguel um preço maior do que as demandas que se
dirigiam a mesma zona quando esta não disponha do serviço daí a valorização do solo
nesta zona, em relação às demais.

“A disponibilidade do novo serviço atrai famílias de renda mais elevada e que se dispõem
a pagar um preço maior pelo uso do solo, em comparação com os moradores mais antigos,
de renda mais baixa.”

“As transformações no preço do solo acarretadas pela ação do Estado são aproveitadas
pelos especuladores, quando estes têm possibilidade as diversas redes de serviços urbanos
serão expandidas; a especulação imobiliária procura influir suas decisões do poder
público quando as áreas a serem beneficiadas com expansão de serviços.”
Pág. 35: “A distribuição dos serviços urbanos com saudade do estado ter idade verificar
facilmente que eles se encontram apenas à disposição dos moradores de rendimentos
elevados ou médios.”

“O Estado agrava sistematicamente os desníveis econômicos e sociais, al adotar somente


as parcelas da população que já são privilegiadas de serviços urbanos, dos quais as
parcelas mais pobres possivelmente parecem mais. Mas a suspeita é infundada. Quem
promove essa distribuição perversa dos serviços urbanos não é o Estado, mas o mercado
imobiliário.” (Ou seja, o Estado promove as transformações, mas estas são provocadas
pelo setor imobiliário).

BOLAFFI, Gabriel. Habitação e Urbanismo: o problema e o falso problema. In:


MARICATO, Ermínia. A produção capitalista da casa (e da cidade) no Brasil. São Paulo:
Alpha – Omega, p. 37-70, 1982.

Sobre o BNH - Pág. 38: “E o BNH, como já vem fazendo nos últimos anos, com toda a
certeza aumentará a aplicação dos seus excedentes financeiros em letras do Tesouro
Nacional, contribuindo com seus recursos não inflacionários para financiar o déficit
interno.”

Sobre o Estado e a dominação – Pág. 39: “Os governos e os grupos no poder enfrentam
problemas reais, particulares e determinados, de cuja solução depende a sua possibilidade
de manter-se enquanto poder. Porém, o caráter particular, e não universal, desses
problemas reais exige que a sua verdadeira natureza seja transfigurada para que possam
assumir um significado compatível com a vontade popular. Em síntese, é este o processo
pelo qual a ideologia mascara os problemas do real e o substitui pelos falsos problemas.
Isto é, formulam se problemas que não se pretende vir não se espera aí nem seria possível
resolver, para legitimar o poder e para justificar medidas destinadas a satisfazer outros
propósitos.”

Pág.40: “Outros problemas da população do país têm sido formulados falsamente;


formulados não a partir das características intrínsecas ao problema, mas a partir das
necessidades da estratégia do poder e das ideologias que foram elaboradas durante os
últimos 15 ou 20 anos.
Com relação à habitação popular, já faz algum tempo que o BNH de emitir publicamente
que não se pode construir lá porque, em que se pese o caráter de subsídio que os seus
empréstimos vem assumindo de alguns anos para cá, ainda assim é mínima a parcela da
população que dispõem de renda para comprá-la.”

Sobre o falso problema da habitação popular – Pág. 41: “o ser humano sadio formula
projetos e aspirações compatíveis com os problemas que ele é capaz de resolver, e que as
necessidades e as aspirações de uma sociedade são sempre formuladas pela própria
sociedade antes de sê-lo pelos indivíduos que a compõem.”

Pág. 42: “embora a produção se tenha tornado social em virtude da divisão do trabalho
requerida pela tecnologia contemporânea, a apropriação e o consumo continuam
individuais e privados, ainda há milhões de carentes. Carentes e necessitados de tudo de
tanto, que de tão grande carência morrem quase sempre antes do tempo.

Sobre o BNH – Pág. 42: “Habitação eleita pelo governo federal, em 1964, como
“problema fundamental”. Que se tratou de uma decisão importante não demonstram os
decretos, os discursos, ou outras manifestações oficiais daqueles anos, mas, sim, o fato
de que o banco criado naquela época, com o objetivo manifesto de solucionar o problema
da habitação, recebe em 1967 a gestão dos depósitos do Fundo de Garantia por Tempo de
Serviço. Em consequência da soma de recursos que para ele foram canalizados, a partir
de 1969, o BNH tornar-se-ia o segundo banco do país em termos de magnitude de
recursos disponíveis, precedido apenas pelo Banco do Brasil.”

Pág. 43: “as características do estilo de vida das classes de renda média e baixa que
conferem a casa própria a importância subjetiva e objetiva que ela lhes atribuem ao
transformá-la na sua principal aspiração. Subjetivamente, a aquisição de um imóvel se
constitui na principal evidência de sucesso e da conquista de uma posição social mais
elevada. Objetivamente, a casa própria não só melhora a possibilidade de acesso ao
crediário, como liberto orçamento familiar da obrigação mensal inexorável do aluguel.
Pág. 44: “Em 1964, o regime revolucionário que se estabeleceu assumiu, juntamente com
o poder, o compromisso de conter e reduzir as pressões inflacionárias mas a sobrevivência
política dependia da capacidade de atingir esse objetivo sem provocar uma depressão
econômica profunda e prolongada. E dependia também de conseguir formular projetos
capazes de conservar o apoio das massas populares, compensando-as psicologicamente
pelas pressões a que vinham sendo submetidas pelas políticas de contenção salarial. Para
tanto, nada melhor do que casa própria.
Com efeito, a contenção dos meios de pagamentos, a redução do investimento público e
dos créditos ao setor privado, iriam provocar contra ações inevitáveis na demanda, e, ao
mesmo tempo, reduziriam necessariamente, a rentabilidade e os investimentos no setor
industrial. Tratava-se de riscos previsíveis não a partir das teorias econômicas
keynesianas sobre os mecanismos de geração da renda e do emprego, mas,
principalmente, a partir da experiência econômica recente da maioria do países do
continente. Lembrancinhas as tentativas deflacionárias do pós-guerra não haviam
resistido aos efeitos negativos sobre a conjuntura. Assim, em 1964 tinha se consciência
não só do alto preço que a contenção da espiral inflacionária iria implicar, mas também
dos riscos de lançar a economia do país num estado de letargia análogo ao da Argentina
desde a queda de Perón nos anos 50.
A política econômica anti-inflacionária foi possível e logrou ser implantada até suas
últimas consequências graças principalmente a eliminação de setores consideráveis da
população do peso da balança política. Ainda assim, dificilmente teria resistido ao
desgaste de uma depressão demasiadamente prolongada, sem pelo menos indicar alguns
resultados concretos e palpáveis na saída do túnel.
Em 1965, esperava-se estimular a produção mediante um amplo plano governamental de
construção de residências populares que ao mesmo tempo incentivaria indústrias básicas,
fornecedoras da construção civil, problema social representado pela aguda carência de
habitações nas cidades (discurso do governo). Isso teria sido possível no quadro das
soluções que a economia moderna oferece para uma conjuntura em depressão. Mesmo
antes da generalização das teorias econômicas Keynesianas sobre controle das crises
conjunturais, consubstanciada nas metáforas sobre as pirâmides do Egito, a história
econômica do século XX, apresenta inúmeros exemplos de governos que se socorreram
de grandes investimentos em obras públicas para estimular economias deprimidas.”
Pág. 46: “a saída mais eficaz para as crises conjunturais, digamos clássicas, ao contrário
do corte nas despesas governamentais, é o seu aumento, para criar emprego e demanda a
partir do investimento em obras de longa maturação e, preferivelmente desnecessários ou
de prioridade secundária durante os períodos de depressão econômica.”

O porquê do BNH direcionar todas as suas funções para a iniciativa privada: “No Brasil
durante o governo Kubitschek, já haviam sido construídas em Brasília todas as pirâmides
keynesianas que a economia do país podia suportar.
O sistema engendrado em torno de BNH conseguiu superar o impasse, por meio de uma
fórmula que canalizaria para a construção civil recursos gerados no próprio setor privado.
Ao mesmo tempo, o setor privado foi liberado do ônus para o qual os recursos absorvidos
estavam sendo destinados.
Como é feito, os recursos não inflacionários que poderiam estimular a construção civil
originaram-se, principalmente, do FGTS - fundo de garantia por tempo de serviço.
Embora implicado em ônus de 8% sobre o total de salários pagos, a criação do FGTS
praticamente não errou com empresas privadas pois libertou-as das reservas necessárias
para o pagamento das indenizações compulsórias. Assim, o novo mecanismo criado teve
para o setor privado, na pior das hipóteses, efeitos ligeiramente negativos, mas
perfeitamente toleráveis, na redução do capital de giro. E se esses efeitos existiram, foram
amplamente compensados, isso nas relações trabalhistas, quero pela repercussão
favorável sobre a conjuntura econômica, do reinvestimento dos recursos arrecadados.
Tudo indica, portanto, o problema da habitação popular, formulado há mais de 10 anos e
até agora não resolvido - e, como veremos mais adiante, consideravelmente agravado -
apesar dos fatos recursos que supostamente foram destinados para a solução, não passou
de um artifício político formulado para enfrentar um problema econômico conjuntural. A
partir de 1967, quando a conjuntura econômica tende a se inverter preocupações para as
condições habitacionais das camadas populares vão sendo paulatinamente esquecidas.”

Pág. 48: “No Brasil o efeito econômico mais acelerado reproduzido pelas indústrias de
bens de consumo duráveis e pela indústria automobilística e não pela indústria de
construção civil, por isso a partir de 1967 as indústrias de bens de consumo duráveis e
automobilística são as 2 opções escolhidas pelo governo para reativar a economia. porém
se a ênfase dos investimentos tivesse recaído sobre habitação popular, a recuperação
econômica teria sido mais lenta mas também mais duradoura não teria havido milagres e
nem um crescimento desnecessariamente rápido e socialmente oneroso, mas em
compensação teria sido criado uma conjuntura econômica menos vulnerável.”

“nos períodos de expansão econômica, como ocorreu antes da recessão de 1964/1967, a


habitação popular, necessariamente subsidiada, ou pelo menos financiada, é obviamente
uma prioridade secundária porque toda a poupança disponível, pública ou privada, é
rapidamente drenada para os investimentos lucrativos. À habitação popular no Brasil
jamais recebeu qualquer prioridade além daquela que lhe pareciam dar os discursos
eleitorais. Mas no período de recessão motivado a investir em edificações de alto padrão
e nem encontra mercado para investimentos imobiliários, a construção civil, estimulada
pelos recursos disponíveis para o financiamento da habitação popular poderia ter sido
usada como uma pirâmide keynesiana.
Se isso não ocorreu é precisamente porque, as suas origens, a necessidade de melhorar as
condições habitacionais das populações urbanas de baixa renda foi formulada como falso
problema que realmente é. O BNH não só jamais tomou qualquer medida eficiente no
sentido de organizar a indústria da construção civil e aumentar sua produtividade veicula
como na realidade desempenhou funções totalmente alheias aos seus objetivos
manifestos.

Sobre o que foi o BNH e seus objetivos – Pág. 50: “O Banco Nacional da Habitação
(BNH) e o Sistema Financeiro da Habitação foram criados pela Lei n.º 4.380 de 21 de
agosto de 1964, com a missão de “promover a construção e a aquisição da casa própria”,
especialmente pelas “classes de menor renda”.
Em 1967, como já afirmamos, o bnh assumiu a gestão dos depósitos do fundo de garantia
por tempo de serviço e foi implantado o sistema brasileiro de poupança e empréstimo,
carregando para os seus cofres recursos que o tornariam uma das principais potências
financeiras do país e talvez a maior instituição mundial voltada especificamente para o
problema da habitação.
Os objetivos eram:
1- coordenação da política habitacional e do financiamento para o saneamento;
2- de fusão da propriedade residencial, especialmente entre as classes menos
favorecidas;
3- melhoria do padrão habitacional e do ambiente bem como eliminação de favelas;
4- redução do preço da habitação pelo aumento da oferta, da economia de escala na
produção, do aumento da produtividade nas indústrias da construção civil e
redução de intermediários;
5- melhoria sanitária da população;
6- redistribuição regional dos investimentos;
7- estimula a poupança privada e, consequentemente ao investimento;
8- aumento na eficiência da aplicação dos recursos estaduais e municipais;
9- aumento de investimento nas indústrias de construção civil, materiais de
construção e de bens de consumo duráveis, inicialmente de forma acentuada - até
o atendimento da demanda reprimida - e de forma atenuada, mas permanente, para
atendimento das semanas vegetativas e de reposição;
10- aumento da oferta de emprego, permitindo absorver mão-de-obra ociosa não
especializada;
11- criação de polos de desenvolvimento com a consequente melhoria das condições
de vida nas áreas rurais.

Pág. 52: “Com efeito, ponto de vista da economia política vigente, o Brasil possui
exatamente o número de habitação para o qual existe uma demanda monetária, como
aliás, ocorre com qualquer outra mercadoria.”

“se o problema é o “déficit” e não há carência, por que o déficit da habitação e não
tantos outros mais angustiantes e urgentes como de alimentos, vacinas, remédios,
hospitais, etc? Por que não canalizar os recursos para o desenvolvimento das
indústrias de bens de capital, para o aumento da produção agrícola e das oferta de
demais bens e serviços de primeira necessidade?”(Usar na dissertação).

Críticas ao Sistema - Pág. 53: “Segundo o relatório anual do BNH de 1971 “os
recursos utilizados pelo Sistema Financeiro da Habitação só foram suficientes para
atender a 24% da demanda populacional” (urbana).
Ora se o BNH não consegue nem espera conseguir atingir os objetivos para os quais
foi criado a que fim seria atendido ou estaria atendendo? as operações do BNH foram
as de transmitir todas as suas funções para a iniciativa privada. O banco limita se a
arrecadar os recursos financeiros para em seguida transferidos a uma variedade de
agentes privados intermediários. Até recentemente as prefeituras que sentiam
necessidade o que eram compelidas por lei a elaborar planos urbanísticos para os seus
municípios, só podiam se qualificar para obtenção de empréstimos junto ao Serviço
Federal de Habitação e Urbanismo, se elaboração dos referidos planos fosse confiada
a empresas privadas.
Mesmo a cobrança das prestações devidas ao BNH é confiada a uma variedade de
agentes financeiros, companhias habitacionais, iniciadores, sociedade de crédito
imobiliário e outras, às quais além de reterem uma parte dos juros, conservam os
recursos financeiros provenientes das prestações recebidas durante um ano, antes de
os devolverem ao BNH. Assim, os recursos são injetados diretamente nos bancos, e
provavelmente, foram aplicados em investimentos totalmente estranhos à habitação
popular ou mesmo a construção civil, para financiar atividades econômicas mais
lucrativas e compatíveis com o milagre que se procurou produzir.
Ao transferir para a iniciativa privada todas as decisões sobre a localização e a
construção das habitações que financia OBNH tem gerado uma cadeia de negociatas
inescrupulosos, que se inicia com a utilização de terrenos inadequados e mal
localizados, prossegue na construção de edificações imprestáveis e se conclui com a
venda da casa a quem não pode pagá-la, por preços frequentemente superiores ao
valor do mercado. Cerca de 74% da receita de 1968 dos recursos do FGTS foram
drenados para o setor privado, para alimentar o mecanismo da acumulação e da
concentração de renda E os capitais supostamente reservados para a moradia popular
fluem dos pequenos fundos de cada assalariado e vamos se concentrar nas mãos dos
iniciadores, Gerando um processo industrial de favelamento.”
Pág. 66: “o candidato a casa própria paga 2 vezes Por Ela. Paga, direta ou
indiretamente, por meio dos impostos e das demais contribuições – ICMS, IPI, IR,
FGTS - das quais resultam os dinheiros que o governo aplica para valorizar os terrenos
suburbanos, e paga novamente ao adquirir a sua habitação a preços que se elevaram em
decorrência dos investimentos realizados.

“O BNH ter medidas no sentido de organizar uma indústria da construção civil e


aumentar a produtividade do setor para baixar os custos de produção da habitação.
Nesse sentido, a principal omissão do banco e dos governos que ditaram a sua política
foi, precisamente, não ter formulado uma política fundiária.”

Pág. 59: “O solo urbano deixa de significar apenas uma necessidade para transformar
se, como já dissemos, no objeto de ações econômicas alheias ao seu valor de uso.”
Pág. 64: “as tentativas de planejamento físico debatem se com uma multiplicidade de
pequenos e grandes problemas jurídicos, legais políticos administrativos e técnicos,
por que na realidade, não podem adquirir a necessária operacionalidade, nas
condições em que foram estabelecidas para a sua atuação vírgula como por exemplo,
a Lei de Zoneamento, que afeta o uso do solo e acaba não resistindo à pressões
políticas para a modificação dos usos permitidos nos terrenos afetados.”

MARICATO, Ermínia. Autoconstrução, a arquitetura do possível. In: MARICATO,


Ermínia. A produção capitalista da casa (e da cidade) no Brasil. São Paulo: Alpha –
Omega, p. 71-93, 1982.

Causas da autoconstrução - Pág. 74: “se ela ocorre é porque os trabalhadores não têm
condições de comprar nesses produtos ou pagar por esses serviços, seja pelo baixo poder
aquisitivo dos salários, seja porque as políticas oficiais estatais tratam a infra-estrutura
equipamento urbano, coletivos ou não, como mercadorias a exemplo dos setores privados,
ou quando não, e mais frequentemente, combinadas a eles.
Se o estado ignora o assentamento residencial da classe trabalhadora urbana, oriunda dos
fluxos migratórios, é principalmente porque essa classe não constitui demanda econômica
para pagar esses bens e serviços.”

Custo da habitação nos países capitalistas “centrais” – Pág. 75: “geralmente são cobertos
pelo salário cujo poder aquisitivo permite ao trabalhador adquirir a casa através do
mercado imobiliário privado ou pelo estado que toma para si o encargo de produzir ao
financiar habitações populares a preços acessíveis. Entre nós, entretanto, se o salário não
cobre os custos da habitação de acordo com as leis do mercado imobiliário privado e se
as políticas oficiais dirigem seus investimentos ou sua produção para as camadas restritas
da sociedade que tem poder aquisitivo mais alto, a população trabalhadora é obrigada a
apelar para seus próprios recursos para suprir essas necessidades de habitação, repetindo
tradicionais hábitos rurais.”

Sobre o BNH - Pág. 79: “O Estado é injusto na aplicação de seus recursos, e quando
aplicados continuam a lógica da acumulação.”
Linkar com as críticas ao BNH (Bolaffi) “a máquina administrativa do estado ignora a
reprodução da força de trabalho para investir em setores economicamente mais
dinâmicos, onde a reprodução do capital se faz de maneira segura e mais rápida. Além de
funcionar como instrumento do capital privado ele passa a funcionar também como um
investidor capitalista, procurando reproduzir o seu capital.”

Pág. 80: “O BNH, órgão centralizador dos vultuosos recursos destinados a solucionar o
déficit habitacional no país tem um importante papel de repassar esses recursos para uma
variedade de agentes privados (ou para organismos estaduais ou municipais) atuando
como eficaz agente de dinamização da economia.”

Críticas ao BNH - Pág. 80-81: “O BNH afastou a aplicação de seus recursos financeiros
na habitação popular para investi-los em habitações de alto e médio custo e ainda para
obras de infraestrutura (transporte, saneamento, equipamentos urbanos, drenagem),
buscando evidentemente atingir o mercado com poder aquisitivo que pudesse fazer frente
aos preços nos imóveis e as taxas de juros e correções monetárias que aumentam
anualmente mais do que o aumento do salário-mínimo. Particular é um captador
compulsório de recursos passando os para a iniciativa privada através de agentes
financeiros ainda de organismos administrativos estaduais e municipais, mobilizando
principalmente a indústria de construção civil e com ela a indústria de materiais de
construção. E a política de concentração de renda orientadas pelo Estado são decisivas
para viabilizar a política do BNH através da criação da demanda econômica, isto é,
mercado com poder aquisitivo necessário para viabilizar o sistema proposto.”(Isto está
relacionado à queda do poder aquisitivo da classe trabalhadora da época).

“A prática do Estado de exigir retorno pelos investimentos feitos frequentemente


procurando extrair um excedente na transação, exclui a maior parte da população do
campo de abrangência dos recursos investidos em meio urbano.”
“Essa prática tem como consequência expulsar para áreas menos urbanizadas os
moradores que não podem arcar com as prestações relativas ao pagamento da obra e que
vem vantagens em vender a casa valorizada pelo calçamento ou outro melhoramento
urbano qualquer.” (Também pode acontecer com os moradores de conjuntos
habitacionais – inadimplência e venda do apartamento).
Além de obter altos lucros, o setor privado se exime dos prejuízos (dívidas, problemas na
e da construção dos imóveis) - Pág. 82: “O BNH passa recursos aos agentes
intermediários que após a venda do produto retiram-se do negócio ficando a dívida, e
outros problemas que a constante baixa de qualidade de produto acarreta, entre BH e os
compradores.
Percebe-se que o BNH tem um importante papel de diminuir o tempo de giro de capital
das empresas de construção civil: pois vendido o imóvel, o agente financeiro (geralmente
ligado à construtora), que recebeu o financiamento, se retira da transação ficando o BNH
e o computador para o interminável ajuste de contas.
Desse modo, estando na mão do setor privado, a habitação, a infraestrutura urbana e os
equipamentos urbanos constituem mercadorias, essa política habitacional é centralizadora
e elitista.”

Pág. 85: “Após os primeiros anos de experiências malsucedidas com habitação de baixo
custo, o BNH e orienta seus investimentos para os mercados de maior poder aquisitivo,
mais claramente a partir de 1969. Podemos fixar em 5 salários-mínimos a renda limite
abaixo da qual a população não tem se beneficiado dos financiamentos do BNH e que
exclui portanto a maioria das famílias que habitam as grandes cidades. Por exemplo, na
grande São Paulo 84,9% da população tem rendimentos que variam as de zero a 5 salários
mínimos, sendo que esses estratos médios e elevados de renda comparativamente às
outras regiões metropolitanas do país ou a zona rural é alto.” Justamente a população
cujas faixas de renda são de zero a 5 salários-mínimos que a tela para o processo de
autoconstrução para a obtenção da casa própria.” (a falta de acesso dos financiamentos
para a população de baixa renda pode ter como resultado o processo de autoconstrução e
favelas).

Pág. 92: “os poucos recursos aplicados no assentamento residencial popular ou no


crescimento urbano que diz respeito a reprodução da força de trabalho (habitação e infra-
estrutura e equipamentos urbanos) determina que o espaço da periferia das grandes
cidades, local de residência da classe trabalhadora ser reproduzido através de prática de
subsistência.
Isso ocorre porque nenhum estado investe significativamente na reprodução da força de
trabalho, e nem os salários progressivamente desvalorizados cobrem os custos relativos a
habitação urbana (casa e seus complementos).
Pág. 93: “O BNH, organismo federal criado com a finalidade de resolver o problema do
déficit habitacional no país, mas que funcionou até agora essencialmente como
dinamizador do processo de acumulação de capital, ao concentrar e elitizar o destino de
seus financiamentos.”

BONDUKI, Nabil; ROLNICK, Raquel. Periferia da Grande São Paulo: Reprodução


do espaço como expediente de reprodução da força de trabalho. In: MARICATO,
Ermínia. A produção capitalista da casa (e da cidade) no Brasil. São Paulo: Alpha –
Omega, p. 117-154, 1982.

Pág. 12: “a casa própria se constitui numa forma encontrada pelo trabalhador, como
expediente de reprodução, para subsistir na situação em que o salário se situa abaixo do
custo de reprodução da força de trabalho.
No custo de reprodução, determina a magnitude do trabalho necessário, o componente
habitação entraria como aluguel de uma moradia e não com o pagamento da aquisição de
uma propriedade, pois o custo da reprodução é o mínimo necessário para que o
trabalhador possa subsistir, possuindo apenas sua força de trabalho a ser vendida
cotidianamente.
Como o salário é insuficiente frente às despesas referentes aos diversos componentes do
orçamento do trabalhador, este busca eliminar gastos monetários de sua cesta de
consumo, mediante a produção de valores de uso.

Pág. 128:” Pressionado pelos crescentes gastos monetários, o trabalhador procurará


eliminar o gasto mensal com habitação através da obtenção de uma casa própria.”

Pág. 151: “As favelas estigmatizadas pelo seu “desafio” à propriedade privada - pilar da
organização territorial e própria da sociedade capitalista - sofrem de constante repressão,
material e ideológica, onde se junta o poder público e a grande imprensa a denunciar esta
forma irregular de habitação. Na realidade, paralelamente à ocupação ilegal dos terrenos
urbanos, as favelas são um obstáculo a atuação da especulação imobiliária, uma vez que
ocupam muitas vezes, terrenos situados em áreas bastante valorizadas. A evidência de
que o poder público estava realmente empenhado em erradicar as favelas, não para
melhorar as condições de habitação de seus moradores, mas para atender aos interesses
da especulação E não a melhoria das condições de seus moradores, sem retirá-los das
privilegiadas localizações onde há anos se instalaram.

Pág. 152-153: “As Moradias financiadas pelo BNH, através das cooperativas
habitacionais não podem oferecer habitações aos estratos de renda baixa, pois a casa que
constroem é executada com trabalho pago, segue as normas do código de obras, obedece
a legislação municipal e tem que oferecer um mínimo de infraestrutura (o que nem sempre
é realmente executado), condições que o trabalhador não pode pagar, uma vez que o bnh
somente vende unidades prontas (e não aluga, pois um dos seus objetivos é o de difundir
a propriedade privada) e o estado não subsidia a aquisição de moradias. OBNH, peça
indispensável do “milagre”, criado demagogicamente para “resolver o problema da
habitação popular”, nem de longe serviu como uma opção real para o trabalhador de
baixos rendimentos.
As consequências na (des)organização do espaço urbano, pois uma cidade “produzida”
por agentes individuais capitalistas não pode apresentar nenhuma racionalidade, se não a
de um deles, isto é o lucro.”

Possíveis soluções - Do direito à moradia ao direito a cidade – Pág. 154: “a luta contra a
espoliação urbana tem como base de organização local de moradia e como principal
interlocutor o estado pois no atual estágio de desenvolvimento do capitalismo no Brasil,
cabe-lhe financiar e gerir uma série de serviços urbanos - desde transportes e
equipamentos de infraestrutura até educação e saúde - e oferecê-los de forma subsidiada
à população. Obter esses serviços, cada vez mais necessários nas condições urbanas de
vida dos trabalhadores, seria o objetivo principal dessa luta.
Num projeto de uma nova política habitacional, fundiária e urbana, discutida e elaborada
por organizações e movimentos de base territorial e sindical.”

Usar:
Introdução do capítulo 3 da dissertação – Pág. 84: “Em qualquer lugar em que a habitação
é mercadoria e propriedade privada a questão da habitação se identifica com a questão da
casa própria. Seja pela forma como a iniciativa privada encaminha a questão, através da
publicidade incentivando a aquisição da casa, seja pela forma como estado encaminha,
oferecendo financiamento para a compra ou construção da casa própria, a questão da
habitação fica bastante dirigida, deslocando para o campo da ficção discussões e estudos
acerca de inovações arquitetônicas coletivistas que se referem a um novo modo de habitar.

- Descaso da administração pública em relação às áreas de residência da classe


trabalhadora.

- Reproduzem o espaço urbano de uma forma que só interessa ao capital.

Existe uma tendência atual, na política habitacional, de retorno de um dos


artifícios usados no período da ditadura: concentrar os investimentos nas faixas
mais altas do chamado mercado econômico, por meio dos mesmos recursos
daquele período, em especial o FGTS, já que recursos orçamentários estariam
proibidos pelos gestores financeiros de antes e de agora. Os que mais precisam
de moradia ficariam de fora.

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