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FIAM-FAAM Centro Universitário

Arquitetura e Urbanismo
Projeto de Urbanismo e Paisagismo – Cidade
Professor: Braz Casagrande

O DIREITO À CIDADE

https://terradedireitos.org.br/wp-content/uploads/2016/07/direito-%c3%a0-cidade.jpg

Apresentação com contribuições dos docentes Luciana Itikawa, João Bonett, Lígia Pinheiro, Janaina Peruzzo e Lígia Paludetto
Cidade e propriedade
Planejamento urbano, Estado de Bem-Estar
Direito à cidade
Instrumentos de construção urbana: o Estatudo da Cidade
Cidade e propriedade
Evolução da cidade capitalista e o significado do processo de urbanização

Cidade não é só um lugar, é um processo.


As diferenças / desigualdades acontecem ao longo da história

o Religiões antigas
o Escravidão / Servidão
o Homens e mulheres

❖ Cristianismo (todos somos filhos de Deus)


❖ Renascimento / Iluminismo (liberdade, igualdade, dotados de razão,
antropocentrismo)
❖ Revolução Francesa (e Constituição)
❖ Globalização (igualdade x muros)

Dilvo Peruzzo: Minorias e conflitos - https://www.youtube.com/watch?v=2eVHEcVmQyI


A definição básica de propriedade

• Direito de usar, gozar e dispor de bens, e de reavê-los do poder de quem


quer que injustamente os possua; bens sobre os quais se exerce este
direito. (Definição do Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa)

A idéia de propriedade é extremamente importante nas definições de


relações sociais. Rousseau já a havia definido como ‘o grande mal’. Quando
um homem se diz o dono de um pedaço de terra e o outro o aceita como
tal, inicia-se o processo de subordinação, exploração e acumulação.

A relação do indivíduo em sua sociedade está baseada em grande parte no


que se diz respeito ao seu sentimento de pertencer a este grupo, ter
responsabilidades perante este e de se sentir protegido por este.
Decorrente dos processos econômicos e de formação da sociedade, as
transformações dentro desta sociedade acontecem através de sua
estrutura básica. Nas sociedades capitalistas, o proprietário cuida de suas
propriedades, no caso, sua terra. A partir do momento que o indivíduo
passa a ser proprietário, se torna conservador, preservador.
Propriedade privada e formação do trabalho assalariado
propriamente capitalista são coisas inseparáveis.
Desde o início, as cidades emergiram da concentração
social e geográfica do produto excedente.
Portanto, a urbanização sempre foi um fenômeno

de classe, já que o excedente é extraído de algum


lugar e de alguém, enquanto o controle sobre sua
distribuição repousa em umas poucas mãos.
(Harvey:2)
Planejamento urbano, Estado de Bem-Estar
República de 1889 e “reformas urbanas”

Reformas urbanas de Pereira Passos no


Rio Republicano. Demolição dos cortiços e
expulsão da população pobre, formação
das favelas.

Imagens do quadrinho “A voz do morro”.


Reforma urbana: um projeto e uma

luta de longa gestação. 1950´s - “Mapa das margaridas” –


Estudo SAGMACS sobre a
1960 – inauguração de aglomeração urbana de São Paulo.
Brasília. Caricatura de Joseph Lebret.

1970s – Serfhau, Política urbana do


Celso Furtado, autor do Plano Trienal e das PND II. Lei de 1979 sobre
“reformas de base”. Movimento das parcelamento do solo.
reformas de base. À direita, hotel
quitandinha, palco do Seminário sobre
reforma urbana.
Constituição de 1988 e o Art. 182
Art. 182. A política de desenvolvimento
urbano, executada pelo poder público
municipal, conforme diretrizes gerais
fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o
pleno desenvolvimento das funções
sociais da cidade e garantir o
bem-estar de seus habitantes.

Art. 183. Aquele que possuir


como sua
área urbana de até 250m2, por
cinco anos, ininterruptamente e sem oposição,
utilizando-a para sua moradia ou de sua família,
adquirir-lhe-á o domínio, desde
que não seja proprietário de outro imóvel urbano
ou rural.
Ulysses Guimarães, presidente da Assembleia Constituinte, 1988.

Constituição de 88 e direito à cidade: uma trajetória feita de participação popular - Educação e Território (educacaoeterritorio.org.br)
Direito à cidade
Henri Lefebvre (1901-1991)
Sociólogo e filósofo francês, um dos intelectuais
marxistas mais proeminentes do sec. XX, ampliou a
aplicação das teorias marxistas para uma abordagem do
quotidiano e da produção da cidade. Escreveu mais de
60 livros e 300 artigos.

Aliança entre riqueza e poder que 1968


orienta a produção da cidade.

O capitalismo produz não apenas produtos, mas sim o


urbano, o cotidiano e o espaço.
David Harvey
Professor da University of New York, sociologia e
geografia urbana, crítica ao capitalismo e defesa da tese
do crescimento zero para a economia global

Vivemos num mundo onde os direitos de propriedade


privada e a taxa de lucro se sobrepõem a todas as
outras noções de direito”

Se nosso mundo urbano foi


imaginado e feito então ele pode ser
REIMAGINADO e REFEITO
Debate: A crise urbana (aprofundamento das desigualdades e extensão
da segregação)

Uma parcela significativa se move e o grito do direito à cidade surge como


uma necessidade do modo de pensar em mudar a realidade urbana –
pensar o direito à cidade: Henri Lefebvre

Pensamento utópico ajuda a “refletir o futuro através da compreensão


da realidade presente contra o discurso que justifica pela a emergência
em superar a crise a ação do Estado reproduzindo a lógica do capital”.
Ana Fani Carlos (em: Henri Lefebvre e a Utopia do Direito à Cidade:
https://www.youtube.com/watch?v=VxmyOVw9Q-s)

A ideia de Lefebvre do direito à cidade projeta o pensamento e a ação


para o futuro como momento de construção da humanidade. O direito à
cidade orienta a mudança, é uma estratégia. O ato de pensar traz em si o
movimento como possibilidade.
2001 –promulgada e publicada – Lei 10.257

Capa do Guia do Estatuto da Cidade


elaborado pelo Instituto Pólis.
Toda cidade com mais de 20 000 habitantes deve ter
obrigatoriamente um plano diretor.

Município é ente político: faz leis, governa.


É a esfera da política urbana.

descentralização x
fragmentação
democracia x
oligarquia
A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende as exigências
fundamentais de ordenação da cidade expressas no Plano Diretor assegurando o
atendimento das necessidades dos cidadãos quanto à qualidade de vida, à justiça
social e ao desenvolvimento das atividades econômicas, respeitadas as diretrizes
previstas no Art. 2

INSTRUMENTOS DO PLANO DIRETOR:

1. Parcelamento, edificação ou utilização compulsório.


2. Imposto predial e territorial progressivo no tempo
3. Desapropriação para fins de reforma urbana com pagamento de títulos da dívida
pública, que não tem fins de acumulação tributária, mas sim respeitando o
direito de propriedade, porém valendo-se do interesse público (função social).
DIRETRIZES:

FUNÇÃO SOCIAL DA CIDADE E DA PROPRIEDADE URBANA


O INTERESSE COLETIVO PREVALECE SOBRE O USO DA PROPRIEDADE INDIVIDUAL

PARTICIPAÇÃO POPULAR / GESTÃO DEMOCRÁTICA


TODAS AS DECISÕES DE INTERESSE PÚBLICO DEVEM CONTEMPLAR A PARTICIPAÇÃO COLETIVA E DEMOCRÁTICA

JUSTA DISTRIBUIÇÃO DOS BENEFÍCIOS E ÔNUS DA URBANIZAÇÃO


ALGUÉM NÃO PODE SEMPRE PERDER OU GANHAR

RECUPERAÇÃO DOS INVESTIMENTOS PÚBLICOS


REDISTIBUIÇÃO DOS INVESTIMENTOS QUE VALORIZAM IMÓVEIS URBANOS PARA ÁREAS

DESENVOLVIMENTO URBANO
ADEQUAÇÃO DOS INSTRUMENTOS DE POLÍTICA ECONÔMICA, TRIBUTÁRIA E FINANCEIRA DOS GASTOS PÚBLICOS

DIREITO A CIDADES SUSTENTÁVEIS


ACESSO DEMOCRÁTICO À HABITAÇÃO DIGNA, SERVIÇOS, EQUIPAMENTOS URBANOS E MELHORIAS
OUTRAS DIRETRIZES:

▪ Cooperação entre governo, iniciativa privada e sociedade civil no processo de


urbanização, em atendimento ao interesse social;
▪ Integração e complementariedade entre as atividades urbanas e rurais;
▪ Regularização fundiária e urbanização de áreas ocupadas por população pobre;
▪ Simplificação da legislação de parcelamento de uso e ocupação do solo;
▪ Isonomia de condições para os agentes públicos e privados na promoção de
empreendimentos e atividades.

A função social da propriedade e da cidade


INSTRUMENTOS DO ESTATUDO DA CIDADE:

OUTORGA ONEROSA SOBRE O Permitir que investimentos públicos de infra-estrutura


DIREITO DE CONSTRUIR (OU O possam ser parcialmente restituídos aos cofres públicos.
SOLO-CRIADO)

O município tem preferência de aquisição das


DIREITO DE PREEMPÇÃO
propriedades a serem colocadas à venda, sob valor real.

OPERAÇÕES URBANAS Promover a integração de investimentos públicos e


CONSORCIADAS privados em uma determinada área.

Permissão do poder público de utilizar certa área não


TRANSFERÊNCIA DO DIREITO utilizada pelo proprietário privado quando este concede
DE CONSTRUIR o valor equivalente em outra área ou uma parte do
equipamento instalado.

ZEIS, ZONAS ESPECIAIS DE Produção e manutenção de habitação de interesse


INTERESSE SOCIAL social em áreas estratégicas
Durante um processo de desenvolvimento das cidades “o Estado, atendendo principalmente

aos interesses das classes dominantes, investe os recursos obtidos, por exemplo, através
da receita tributária, nas áreas onde residem ou produzem esse mesmo segmento da sociedade,

criando áreas de valorização diferenciada. Além disso, através da regulação

urbanística que serve para garantir espaço de produção e o retorno de


investimentos imobiliários, o processo de supervalorização fundiária expulsa para longe
quem não pode pagar os preços dos lotes, ou os aluguéis das moradias.
Portanto, concluímos que é absolutamente essencial o papel do Poder Público municipal na

regulação do preço da terra, através dos investimentos que devem ser distribuídos nas
áreas de população de baixa renda, e também através da regulamentação urbanística que não
deve reforçar a supervalorização fundiária urbana” (Somek: 84-85).

A função social da cidade estará sendo atendida de forma plena quando


forem reduzidas as desigualdades sociais, e promovidas a justiça social e
a qualidade de vida urbana (Somek: 84-85).
“O capitalismo só triunfa quando se identifica com o
Estado, quando é o Estado” (Arrighi, 11).

“O Estado atua como agente da classe capitalista. O trabalho usa o


ambiente construído como uma forma de consumo e um modo para a
sua própria reprodução”. (Harvey)
UTOPIA ?

Superação da sociedade de consumo, deste mundo


produzido pelo capital (Lefebvre)
Kate Raworth

Economista, professora das Universidades de


Oxford e Cambridge. Modelo econômico que
considera as necessidades essenciais das
pessoas e da sociedade dentro dos limites
planetários.

https://www.ted.com/talks/kate_raworth_a_healthy_economy_should_be_designed_to_thrive_not_grow?language=pt-br
https://www.ted.com/talks/kate_raworth_a_healthy_economy_should_be_designed_to_thrive_not_grow?language=pt-br
Vídeo: Quais são os desafios das cidades?
https://www.youtube.com/watch?v=bzZ4m7Uke8c

Vídeo: Tão Longe, Tão Perto [Ermínia Maricato]


https://www.youtube.com/watch?v=z75m-Z5lJU4

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