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UNIDADE I

Introdução à
Ciência Econômica
e o Funcionamento
do Mercado
Dr. André Luiz Cordeiro Cavalcanti
Dr. Ricardo Goncalves da Silva
Me. André Teixeira de Carvalho
Aula 01

Introdução à Economia e ao
Pensamento Econômico

Prezado(a) estudante,

Nesta disciplina estudaremos os conceitos básicos que ajudarão a você entender como o seu
dia a dia, e o de sua organização, são impactados pelas forças econômicas nacionais e globais.

Bons Estudos!

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Olá, estudante! Faremos aqui uma introdução à Economia e às mudanças no modo de pensar
econômico ao longo dos tempos. Boa aula!

Introdução
Caro(a) estudante...

Você sabe o que é Economia?


Por que, a toda hora e a todo dia, há notícias econômicas na mídia?
Qual a importância dessa ciência para nós, cidadãs e cidadãos, e para as organizações onde
trabalhamos?
Por que é necessário “crescer” economicamente?
O “crescimento” econômico traz bem-estar para a sociedade?

Tudo isso será discutido neste curso de Economia. Primeiro, entretanto, vamos entender o que
é Economia.

Segundo o sítio eletrônico da


Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo
(FEAUSP) :

Economia é a ciência social que estuda a produção, distribuição e consumo de bens e serviços.
Ela estuda as formas de comportamento humano resultantes da relação entre as
necessidades dos homens e os recursos disponíveis para satisfazê-las. Assim sendo, esta
ciência está intimamente ligada à política das nações e à vida das pessoas, sendo que uma
das suas principais funções é explicar como funcionam os sistemas econômicos e as relações
dos agentes econômicos , propondo soluções para os problemas existentes.

(FEAUSP, 2014)

Parece complicado... Mas vocês verão aqui que essa fascinante ciência possui conceitos
básicos facilmente entendidos. Esses conceitos, ademais, são fortemente relacionados à nossa
vida diária, ajudando-nos a tomar melhores decisões.

Mas a Economia é uma ciência moderna?

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Não, longe disso! Para o professor Nali Souza ,

O termo Economia origina-se das palavras gregas oikos (casa) e nomos (normas). Na Grécia
antiga, economia significava a arte de administrar o lar, levando-se em conta a renda familiar
e os gastos efetuados, durante um período de tempo.

(SOUZA, 2003 )

A economia visa, assim, auxiliar a humanidade no atendimento de suas necessidades. É uma


ciência social, pois estuda as relações dos agentes econômicos (conceito a ser explicado
adiante) no que se chama de mercado. Essas relações, traduzidas em atividades econômicas –
sobretudo trocas monetárias – permitem o atendimento das referidas necessidades.

Em razão da natureza humana, de querer sempre mais, podemos dizer que as necessidades
humanas são ilimitadas, enquanto os recursos para o seu atendimento são escassos. Nesse
assunto, estudante, você deve estar atento ao fato de que, em um mundo que comportará 9
bilhões de habitantes em 2050, os recursos serão cada vez mais escassos e, portanto, as
pessoas deverão ser cada vez mais cuidadosas em suas escolhas.

SAIBA MAIS

Para saber mais, acesse a reportagem da pesquisa da Organização das Nações Unidas
(ONU) sobre a projeção do número de habitantes na Terra para 2050, lendo o

QRCode a seguir!

Vamos agora entender o que é mercado...

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SAIBA MAIS

Mercado é todo lugar, físico ou virtual, onde os agentes econômicos estabelecem


livremente trocas – de bens, serviços, trabalho ou recursos monetários – para atender
suas respectivas necessidades.

Pronto! Podemos juntar os dois conceitos – Economia e mercado – em um conceito só:

A disciplina Economia I estuda as trocas entre agentes econômicos em um mercado para a


satisfação de suas respectivas necessidades, em um ambiente de livre concorrência.

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QUER UM EXEMPLO?

Recentemente, uma criança veio feliz de uma “feira de trocas”. Nessa feira, a criança
levou uma boneca antiga e a trocou por um carrinho usado de outra criança.

Isso é Economia de Mercado? Vejamos:

Houve Trocas? Sim, da boneca pelo carrinho.


Havia Agentes? Sim, pelo menos duas crianças.
Existia o Mercado livre? Claro! O local de encontro dessas crianças.
As necessidades foram atendidas? Foram. Uma criança saiu feliz com a pequena
boneca e a outra criança ficou satisfeita com o carrinho usado.

É claro que nem todo mercado se baseia em trocas puras, conforme descrito anteriormente.
Veremos, no decorrer da disciplina, como os recursos monetários auxiliam em muito essa
tarefa.

Entendemos agora o que é Economia de Mercado. Podemos então descobrir o objeto da


ciência econômica, ou seja, seu objetivo.

O objeto da ciência econômica é auxiliar os agentes econômicos a decidir quais trocas realizar,
em um contexto no qual suas necessidades são ilimitadas e os recursos dos quais eles dispõem
são escassos.

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O Pensamento Econômico ao Longo dos
Tempos
Nosso objetivo neste tópico é apresentar, de forma cronológica, as principais correntes
econômicas e suas influências na condução das sociedades a um maior nível de bem-estar.

Podemos, grosso modo, dividir a evolução do pensamento econômico em quatro épocas


distintas, que veremos em detalhes nesta aula e na aula seguinte.

1ª Fase | das Origens até Cerca de 1750: Fase Pré-Cientí ca


da Economia

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Na Antiguidade grega, a Economia não passava de ideias fragmentadas e soluções adaptadas a
problemas específicos. Essas ideias são encontradas, aqui e acolá, em estudos filosóficos e
políticos da época. Durante o Império Romano, houve muitas trocas comerciais, mas não havia
um pensamento econômico integrado. Apesar do enorme fluxo de transações comerciais no
império, a contribuição romana à Humanidade foi mais política do que econômica.

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Após a queda do Império Romano no ano 476 da era cristã, inicia-se o período conhecido por
Idade Média. Na Alta Idade Média (476 até o ano 1000), observou-se o encolhimento das
atividades mercantis no que restou do antigo Império Romano. As atividades econômicas,
antes centradas nas cidades, retornam ao setor rural, e os feudos são formados: pequenas
regiões dominadas pelo senhor feudal. Nestes, a atividade econômica existia para satisfazer
necessidades básicas, ou seja, a economia era de subsistência (produção para o consumo e não
para a troca) e baseava-se no trabalho do servo, que não era pago em salários. A essa
organização social chamamos de feudalismo (SANDRONI, 1999) .

Outra característica dessa época é o pouco uso do dinheiro, com predomínio do escambo
(troca de bens e serviços sem a intermediação do dinheiro) e reduzido contato entre regiões
(SANDRONI, 1999) .

Na Baixa Idade Média (século XI até o século XV), a atividade econômica entre regiões
ressurge nas chamadas feiras. As corporações de ofícios (associações de pessoas do sexo
masculino e de fé cristã que trabalhavam em um mesmo setor de atividade e passavam seus
conhecimentos de uma geração para a outra) são criadas.

O comércio no mar Mediterrâneo é retomado e importantes centros comerciais reaparecem


(com destaque para Gênova, Florença e Veneza). Por não praticarem a fé cristã, judeus e
outros povos eram impedidos de trabalhar nas corporações e se dedicam ao comércio entre as
regiões e à crescente intermediação financeira, origem dos atuais bancos.

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A Igreja Católica, todavia, influencia as atividades comerciais. Estimula o “justo preço” (“aquele
bastante baixo para poder o consumidor comprar, sem extorsão e suficientemente elevado
para ter o vendedor interesse em vender e poder viver de maneira decente” (HUGON, 1998, p.
51 apud SOUZA, 2009, p. 28) . A igreja pregava a moderação aos agentes econômicos.

A partir de 1450, o poder religioso não mais contém o crescente interesse dos europeus por
transações econômicas. É a época dos “grandes descobrimentos”. Aliando a redescoberta ou
criação de tecnologias de navegação em alto-mar ao descobrimento de novos territórios –
sobretudo nas Américas – os europeus inauguram uma época de progresso denominada
Mercantilismo (1450-1750). Nesse período, o pensamento econômico apoiava os governantes
no aumento da riqueza das nações. Ademais, a busca de melhores condições materiais
(melhores habitações, alimentos e vestuários, por exemplo) cria vasto mercado para novos
bens e serviços. Oriundos das Américas, metais preciosos e recursos naturais permitiram a
melhoria do padrão de vida na Europa. Pinho (2004, p. 28) esclarecem que:

Durante os três séculos do Mercantilismo, as nações da Europa Ocidental organizaram sua


economia interna, baseadas na unidade nacional e na exportação de recursos econômicos, sob
o controle e direção do Estado.

2ª Fase | de 1750 a 1870: Fase Cientí ca da Economia - A


Fisiocracia, a Escola Clássica e o Marxismo
Após 1750, e até 1870, inicia-se o período científico da Economia. Podemos dividi-lo em três
subperíodos: Primeiro, a Fisiocracia, do francês François Quesnay. Em segundo, a Escola
Clássica, liderada pelo escocês Adam Smith. Por fim, o pensamento do alemão Karl Marx
(Marxismo), opositor à Escola Clássica.

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François Quesnay

A Fisiocracia considera o sistema econômico como um organismo, regido por leis próprias, mas
derivado da ordem natural das coisas. Para os fisiocratas, “o universo é regido por leis naturais,
imutáveis e universais, desejadas pela Providência Divina” (PINHO, 2004, p. 29-30).
Consideram essa ordem natural cientificamente relevante e acreditavam que, por meio da
razão, poderiam descobri-la. O pensamento fisiocrata influenciará posteriormente as teorias
econômicas que veem o sistema econômico como fundamentalmente equilibrado. Uma
importante contribuição de Quesnay é observar a interdependência das atividades
econômicas de uma nação; seu “tableau économique” (em português, tabela econômica) é
demonstrativo dessa interdependência.

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Adam Smith

Adam Smith é mais conhecido pela sua obra prima Inquérito sobre a natureza e as causas da
riqueza das Nações. Tem como discípulos brilhantes pensadores: Malthus, Ricardo, Stuart Mill
e Say, “que buscam [...] explicar pontos ambíguos da obra de Smith”. (PINHO, 2004, p. 31) . Para
Adam Smith, todo indivíduo se esforça para melhorar o seu próprio bem-estar. Para isso, cada
indivíduo tenta ganhar o maior lucro no mercado, oferecendo bens ou serviços que outros
indivíduos necessitam e/ou desejam. Segundo ele, existe, entretanto, uma “mão invisível” que
combina os esforços individuais, faz a sociedade avançar economicamente e aumenta o bem-
estar de todos. Para Smith:

Não devemos esperar que nosso jantar venha da benevolência do açougueiro, do cervejeiro ou
do padeiro, mas, sim, de sua consideração para com seus próprios interesses. Nós não nos
dirigimos ao seu humanitarismo, e sim ao seu amor-próprio, e nunca lhe falamos de nossas
necessidades, mas de suas vantagens.

(SMITH apud HUNT, 1984, p. 81)

Dessa maneira, deixados sem interferência do Estado, todos os agentes econômicos, ao


buscarem seu próprio bem-estar (seus próprios interesses, nas palavras de Smith), seriam
conduzidos pela “mão invisível” em direção a um maior bem-estar de toda a sociedade.
Modernamente, a obra de Adam Smith pode ser considerada uma teoria de desenvolvimento
econômico.

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Karl Marx

Contrapondo-se aos processos analíticos da Escola Clássica, Karl Marx vê o desenvolvimento


econômico como resultante da luta de classes sociais. De um lado, coloca empresários
capitalistas (denominados burgueses), que buscam o máximo lucro; do outro, estão
trabalhadores, explorados pelos primeiros. O avanço tecnológico (uso intensivo de máquinas e
especialização crescente da mão de obra) – típico de sua época e que constituiu o que se
tornou mais tarde conhecido como Revolução Industrial – reduzia a importância da mão de
obra na formação da riqueza. Segundo Marx, os empresários pagavam aos trabalhadores
salários de subsistência (que permitiam apenas a mínima manutenção do bem-estar dos
trabalhadores e sua reprodução física). Isso aumentaria o lucro, o qual seria reinvestido em
mais máquinas, com o consequente aumento da produção. Essa produção, todavia, não
encontraria compradores entre os trabalhadores (que recebiam muito pouco), levando o
capitalismo a crises periódicas, cada vez mais profundas. A solução para essas crises seria a
Revolução do Proletariado (trabalhadores), que acabaria com a propriedade privada –
passando a propriedade de tudo para o Estado – e daria a cada homem e mulher parcela da
produção equivalente ao respectivo esforço individual.

Podemos dizer que a abordagem feita por Marx de sua época é correta: havia, em meados do
século XIX, muita exploração social. Suas conclusões, entretanto, não foram validadas pelos
acontecimentos futuros. Seus estudos tiveram mais influência política e social do que efeito
prático no desenvolvimento econômico posterior.

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É claro que nem todo mercado se baseia em trocas puras, conforme descrito anteriormente.
Veremos, no decorrer da disciplina, como os recursos monetários auxiliam em muito essa
tarefa.

Entendemos agora o que é Economia de Mercado. Podemos então descobrir o objeto da


ciência econômica, ou seja, seu objetivo.

O objeto da ciência econômica é auxiliar os agentes econômicos a decidir quais trocas realizar,
em um contexto no qual suas necessidades são ilimitadas e os recursos dos quais eles dispõem
são escassos.

Caro(a) estudante, continuaremos com o percurso histórico e evolução do pensamento econômico.


Nesta aula, veremos a primeira e a segunda fase deste. Boa aula!

3ª Fase | de 1870 a 1929: a Análise


Econômica Moderna

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O ano de 1870 marca o início da análise econômica moderna. Os economistas desenvolvem
ideias de como alocar recursos escassos entre usos alternativos, com o objetivo de maximizar a
utilidade ou a satisfação dos consumidores. Nasce a economia marginalista: segundo esta, o
homem é um ser essencialmente racional, que toma decisões calculadas, aloca os recursos
escassos para a otimização de seu bem-estar: ele é o “homem econômico”.

Por sua vez, o termo “marginalista” aqui é entendido da seguinte maneira: caso aumentemos o
uso de recursos para a produção de determinado bem ou serviço em uma unidade, em quanto
aumentaria, na margem, a satisfação do consumidor desse bem ou serviço?

Ou seja: “O ‘homem econômico’, racional e calculador, estaria empenhado em equilibrar seus


dispêndios marginais (aumento do uso de recursos em uma unidade) com seus ganhos
marginais (ganho adicional de bem-estar).”

A análise marginalista apoia-se na crescente sofisticação da Matemática que ocorre no final do


século XIX e início do século XX. Para seus seguidores (chamados de marginalistas ou
neoclássicos) a economia tenderia ao equilíbrio. As intervenções do Estado, ao contrário de
ajudar nesse equilíbrio, levariam à redução do bem-estar social. Era a época do “laissez-faire,
laissez-passer” (deixar fazer, deixar passar, em francês): os agentes econômicos não deveriam
ser importunados em suas atividades econômicas pelo Estado, o qual tinha participação
mínima. Dessa maneira, a alocação de recursos seria ótima e a economia tenderia ao
crescimento contínuo e equilibrado.

4ª Fase | De 1929 em Diante: a Fase


Contemporânea

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Em outubro de 1929, o pensamento neoclássico sofre um rude golpe. O forte desenvolvimento
econômico das primeiras décadas do século XX é pulverizado pela queda da Bolsa de Valores
de Nova Iorque. Durante anos, os países ocidentais acreditavam que, sem a interferência do
Estado, a economia cresceria continuamente. Parcelas crescentes da população investiam em
ações das empresas: o preço dessas ações subia continuamente, o que estimulava mais
pessoas a investir no mercado de ações.

De forma simplificada, o preço de uma ação depende de dois fatores:

Primeiro, a demanda e oferta pela mesma; e,


Segundo, o potencial de lucro da empresa que comercializa suas ações.

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Apesar de o crescimento da população aumentar a demanda por produtos e serviços nas
primeiras décadas do século XX, há um teto para o potencial de lucro de uma empresa. Esse
teto foi estabelecido no que foi conhecido como Crash de 1929. Em 15 de outubro daquele
ano, o mercado norte-americano de ações começou a cair. Todos os investidores tentaram
vender suas ações ao mesmo tempo. O preço das mesmas desabou e fortunas foram perdidas.
As pessoas, agora mais pobres, deixaram de consumir. As empresas, sem o dinheiro que vinha
do mercado de ações e observando o consumo por seus bens e serviços se reduzir, sofreram
prejuízos e, em consequência, começaram a demitir. Os fazendeiros foram arruinados, pois não
havia mais compradores para os produtos agrícolas. Essa conjuntura reduziu ainda mais o
consumo de toda a sociedade. Instalou-se o que foi conhecido como a Grande Depressão: a
redução contínua da atividade econômica, o fechamento de inúmeras companhias e o aumento
do desemprego. Calcula-se que, em 1932, nos Estados Unidos, um em cada quatro
trabalhadores estava desempregado!

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SAIBA MAIS

Para entender como os EUA enfrentou uma crise econômica mundial, entre os anos

de 1929 e 1933, leia o QRCode a seguir e leia o texto disponível.

A fase contemporânea do pensamento econômico inicia-se propriamente com a Revolução


Keynesiana. Após 1929, não mais se acreditava no equilíbrio econômico automático. A
depressão econômica que se inicia em 1929 irá durar quase 13 anos em alguns países, e o
papel “imparcial” do Estado na condução da economia é questionado.

John Maynard Keynes

O economista inglês John Maynard Keynes (daí o termo keynesianismo ) acredita que o
Estado, ao contrário de ficar isento em tempos de crise econômica, deve ter na ação
governamental um instrumento que leve ao aumento do uso de recursos produtivos ociosos.

Em épocas de crise, Keynes sugeria que o Estado deveria promover amplos programas de
incentivo econômico que levassem ao pleno emprego dos recursos econômicos ociosos. Como
durante uma recessão econômica reduz-se o recebimento de impostos pelo Estado, o
financiamento desses programas econômicos deveria ser feito pela impressão de dinheiro.
Keynes acreditava que programas econômicos reestimulariam as empresas a produzir e a
reempregar as pessoas. A economia sairia da depressão e, com o aumento da produção,

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haveria o aumento do pagamento de impostos, o que permitiria ao Estado reequilibrar suas
finanças e reduzir a impressão de dinheiro para pagar suas contas.

A partir de 1932, as ideias keynesianas influenciaram fortemente o presidente norte-


americano Franklin Roosevelt em seu programa econômico de reforma da economia norte-
americana, conhecido como “New Deal” (Novo Acordo). Simplificadamente, Roosevelt utilizou
os seguintes instrumentos para levantar a economia americana:

Um vasto programa de obras públicas.

A destruição de estoques de produtos agrícolas que estavam sem compradores, de modo


a levantar os preços desses produtos.

O controle de preços e produção para evitar crises de superprodução.

A diminuição e regulamentação da jornada de trabalho, para aumentar a oferta de


empregos.

As ações empreendidas reverteram a deterioração da economia norte-americana. Essas ações,


em maior ou menor medida, foram adotadas por outros países atingidos pela Grande
Depressão.

Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), as ideias keynesianas dominam o pensamento


econômico. Para manter a atividade econômica em alta, o Estado atua cada vez mais

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intensamente na economia. Surge o Estado intervencionista, ou seja, um Estado que interfere
na economia com os seguintes objetivos:

Regulação do setor privado, com a fixação de regras do mercado, dos preços de bens e
mercadorias e dos salários;

Estímulo ao crescimento contínuo da economia;

Redução das desigualdades sociais; e

Correção das falhas de mercado: “Os mercados ‘falham’ na alocação de recursos e o


governo é chamado a corrigir essas falhas” (SOUZA, 2009, p. 43).

Apesar da aplicação crescente das ideias de Keynes após 1945, houve críticos que
expressaram preocupação com o que eles chamavam de “intervenção excessiva” do Estado na
economia. Entre esses críticos, destacam-se os monetaristas (ou neoclássicos conservadores).
Para estes, ao contrário do que pensam os keynesianos, a economia tende a trabalhar
eficientemente se a participação do Estado for reduzida. Ao reduzir-se a participação estatal
na economia, alcança-se o pleno emprego de recursos da economia, inclusive o pleno emprego
da mão de obra disponível.

Outra crítica dos monetaristas é o fato de que, ao intervir na economia, sobretudo quando há
poucos impostos a recolher, o governo tende a gastar mais do que recebe e, para cobrir a
diferença, imprime moeda. No entanto, a impressão de moeda pode causar inflação , ou seja, o
aumento contínuo e generalizado dos preços de uma economia.

SAIBA MAIS

Para entender mais sobre o processo inflacionário pelo qual passou o Brasil há
algumas décadas, veja vídeo da TV Folha disponível.

Folhacóptero mostra o histórico da inflação no Brasil;

Por fim, a partir de 1950, importantes trabalhos sobre desenvolvimento econômico – focados
no subdesenvolvimento – foram elaborados pela Comissão Econômica para a América Latina e
o Caribe (Cepal), sediada na capital do Chile, Santiago. Esses estudos observaram os problemas

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econômicos dos países componentes da Cepal. Surge a tese estruturalista, segundo a qual o
quadro de pobreza encontrado na maioria dos países dessas duas regiões se devia a causas
estruturais, tais como:

1. Os países da região eram principalmente exportadores de produtos primários (exemplo: café


no Brasil e estanho na Bolívia); haveria pouca oferta de alimentos e outros produtos para as
populações locais, o que elevava o preço desses bens e causava pobreza crônica. Além disso, a
posse da terra era muito concentrada, dificultando ainda mais a produção de alimentos.

2. Os países das regiões latino-americana e caribenha comprariam produtos importados


industrializados, cujos preços se elevavam continuamente. O contrário, entretanto, ocorreria
com os preços dos produtos exportados por esses países (sobretudo alimentos e minérios), que
apresentavam queda contínua de preços nos mercados mundiais. Dessa maneira, poucos
recursos eram obtidos com exportações e muitos recursos eram gastos com importações. Isso
causava problemas de balanço de pagamentos .

Dessa maneira, para resolver problemas econômicos, haveria a necessidade de mudanças nas
estruturas econômicas dos países latino-americanos e caribenhos, mudanças que incluíssem a
reforma agrária e a promoção de maior produção para o mercado interno. Ademais, esses
países deveriam estimular exportações de produtos mais industrializados, em lugar de se
concentrarem na exportação de alimentos e minérios.

A tese estruturalista, lançada após os anos 1950, enfrentou forte resistência política por parte
de países como os Estados Unidos, que a viam como uma ameaça aos interesses dos países
mais desenvolvidos nas regiões latino-americana e caribenha. Ademais, temas como reforma
agrária foram sempre complicados na América Latina e no Caribe, regiões onde há forte
concentração de terras em mãos de poucos proprietários.

A tese estruturalista explica as dificuldades de desenvolvimento que países como o Brasil


enfrentaram de 1950 até muito recentemente.

Para finalizar, vejamos um quadro-resumo com as principais correntes de pensamento e


características das quatro fases abordadas.

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PRINCIPAIS ÉPOCAS, PENSAMENTOS ECONÔMICOS E RESPECTIVAS
FASE
CARACTERÍSTICAS.

Antiguidade: Soluções adaptadas a princípios específicos.


Das origens até cerca de Idade Média: Feudalismo e retorno à atividade rural, economia de subsistência e
1750: fase pré-científica trabalho servil. Corporações de Ofício. Justo preço. Moderação.
da Economia Mercantilismo: Grandes Descobrimentos, afluxo de metais e produtos das
Américas para a Europa. Riqueza das Nações.

Fisiocracia: sistema econômico é um “organismo” regido por leis próprias, mas


De 1750 a 1870: fase derivado da ordem natural das coisas. Tableau économique.
científica da Economia – a Adam Smith e seguidores: nenhuma interferência do Estado, bem-estar “dirigido”
Fisiocracia, a Escola pela “mão invisível”, favorece o esforço individual.
Clássica e o Marxismo Karl Marx: desenvolvimento econômico é resultado da luta de classes. Revolução
do Proletariado. Análise mais política e social do que econômica.

De 1870 a 1929: a análise Teoria Marginalista: economia tende ao equilíbrio automático. “Homem
econômica moderna econômico”. Nenhuma intervenção estatal. Laissez-Faire.

Revolução Keynesiana: Grande Depressão, forte intervenção estatal em tempos


de crise. Busca do pleno emprego. “New Deal”.
Monetaristas: redução da participação do Estado. Inflação pode ser causada por
De 1929 em diante: a fase excesso de gastos governamentais financiados pela impressão de moeda.
contemporânea Tese Estruturalista: o subdesenvolvimento ocorre por causas estruturais. Países
pobres exportam alimentos e minérios e importam produtos industrializados.
Forte concentração de terras. Reforma Agrária. Grande resistência por parte dos
países mais desenvolvidos.

Olá, estudante! Nesta unidade iremos ver como o mercado realmente funciona. Teremos como
objetivos entender: como são realizadas as trocas em uma economia de mercado, como são
alocados bens e serviços entre os agentes econômicos, o porquê de chamarmos esses agentes
econômicos deprodutores e consumidores . Veremos igualmente, que, em uma economia de
mercado, podem existir diferentes relações entre produtores e consumidores, a depender da
estrutura de mercado existente.

Veremos os seguintes conceitos:

variável, função e plano cartesiano;

produtores e consumidores;

preços e quantidades;

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Para melhor entendermos esses conceitos, serão necessários, entretanto, estudar alguns
conceitos básicos. Vejamos quais são eles.

Primeiro Conceito Básico


Primeiro Conceito Básico / Variável, Variável Dependente e
Variável Independente.
Sandroni (1999) esclarece que:

Variável é uma quantidade algébrica cujo valor pode mudar. [...] Se uma variável é função de
outra, como na equação y = 2x2, y é a variável dependente, uma vez que seu valor depende de
x, que é a variável independente. Ou seja, o valor de y dependerá do valor que x tomar.

(SANDRONI, 1999, p. 650, grifo nossos)

Um exemplo simples que ajuda a entender é um corredor que necessita percorrer dez
quilômetros de distância. A variável dependente é o tempo que ele demora em percorrer esta
distância. A variável independente é a velocidade que ele utiliza para cobrir a distância de dez
quilômetros.

Segundo Conceito Básico / Função


Em estudos científicos, devemos estabelecer a relação entre grandezas mensuráveis (IEZZI,
2010, p. 49) . No exemplo acima, tentamos estabelecer a relação entre o tempo que o corredor
necessita para percorrer os dez quilômetros (tempo: medida mensurável) e sua velocidade
(medida também mensurável).

Uma função relaciona um valor da variável dependente a um valor da variável independente.

Terceiro Conceito Básico / Grá co Cartesiano

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Para melhor explicarmos a relação entre variável dependente e variável independente,
utilizamos o conceito de gráfico cartesiano .

Um gráfico cartesiano (ou sistema de coordenadas ou plano cartesiano) é “um esquema


reticulado necessário para especificar pontos num determinado ‘espaço’ com dimensões”.

Um gráfico cartesiano é formado por dois eixos cartesianos, perpendiculares e com a mesma
origem, e que constituem um sistema de eixos. Esse sistema de eixos é designado por
referencial cartesiano. Um ponto num sistema de dois eixos tem duas coordenadas. À primeira
coordenada (primeiro eixo), designamos por abcissa, e, à segunda, por ordenada (segundo
eixo).

Vejamos um exemplo de um gráfico cartesiano:

Gráfico 1. Relação dos eixos de ordenadas e abcissas. Disponível em:


<http://tinyurl.com/pddalo2>. Acesso em: 03 fev. 2014.

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Por exemplo, no Gráfico 1, o ponto A tem, como abcissa, o valor 6 e, como ordenada, o valor 4.

Normalmente, a variável dependente estará descrita no eixo das ordenadas, enquanto a


variável independente estará descrita no eixo das abcissas.

Todavia, e isto é importante, em Economia, quando falarmos da relação entre preços e


quantidades, inverteremos esta ordem! É intuitivo que você irá comprar um produto a
depender de seu preço. Isto é, o preço é variável independente (e, portanto, deveria estar no
eixo das abcissas) e a quantidade comprada é a variável dependente (e portanto deveria estar
no eixo das ordenadas).

Por razões históricas, no caso de planos cartesianos que relacionam preço e quantidade, essa
relação se inverte! A reversão de eixos na economia existe há mais de um século. León Walras,
um economista do século XIX, em seus escritos, colocava quantidade como variável
dependente (que fica o eixo das ordenadas). Todavia, outro economista, Alfred Marshall,
popularizou a representação gráfica para explicar fenômenos econômicos e colocava em seus
gráficos o preço como variável dependente (no eixo das ordenadas). Como ambos os
economistas foram muito importantes para o desenvolvimento posterior da economia, os
economistas atuais trataram de utilizar a teoria de Walras (quantidade como variável
dependente), mas utilizaram os gráficos de Marshall, na qual preço é a variável dependente.
Assim todos os economistas atuais desenham planos cartesianos com as variáveis invertidas!
Ou seja, tudo é uma questão de tradição!

Encontraremos o preço no eixo das ordenadas (apesar de ser a variável independente) e a


quantidade (que é a variável dependente) no eixo das abcissas.

Não se esqueça deste detalhe a partir de agora!

SAIBA MAIS

Para mais detalhes sobre a vida e obra do economista León Walras, leia o QRCode a

seguir e leia o material.

Mas por que utilizamos gráficos para explicar relações econômicas? Há várias razões, entre as
quais destacamos:

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1. Gráficos revelam muito mais informações do que tabelas e planilhas.

2. É mais fácil compreender mudanças em gráficos do que em tabelas.

3. Podemos usar escalas de valores diferentes para os dois eixos (preço em valores monetários
e quantidades em quilos, por exemplo).

4. É igualmente fácil encontrar pontos de equilíbrio e como um determinado ponto de


equilíbrio muda caso algo aconteça.

Quarto Conceito Básico/ Produtores e Consumidores


Em economia, empresários proprietários de firmas e consumidores (de bens e serviços) têm
“objetivos bem definidos. Os primeiros procuram maximizar os lucros, enquanto os segundos
procuram obter a maior satisfação possível no consumo (destes) bens e serviços” (SOUZA,
2009. p. 49) .

Empresários proprietários de firmas e que forneçam produtos e serviços em busca da


maximização de lucros são chamados de produtores.

Por sua vez, consumidores são todos aqueles que buscam comprar esses bens e serviços para
obter a maior satisfação possível em seu consumo.

Observem que a relação entre produtores e consumidores se dá no mercado e usamos os


preços de bens e serviços para balizarmos esta relação.

Quinto Conceito Básico/ Preço e Quantidade


Preço é todo valor monetário cobrado por um bem e serviço. Quantidade é parcela de um bem
ou serviço que é obtida pela troca por um valor monetário.

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Aula 02

Conceitos Básicos e Ideias Principais


da Ciência Econômica (parte 1)

Esta aula é a primeira parte do conteúdo sobre conceitos básicos e ideias principais da ciência
econômica. Fique atento, os conceitos apreendidos aqui têm grande valia para a formação nessa área.
Continue estudando!

Lei da Escassez
Nesta aula, veremos conceitos básicos que serão utilizados para a compreensão de algumas
ideias principais da ciência econômica. Comecemos com a chamada lei da escassez.

Sandroni (1999, p. 211) esclarece que:

A escassez surge do pressuposto de que as necessidades humanas são infinitas, ao passo que
os bens ou os meios de satisfazê-las são sempre finitos. [...] O homem pode produzir o
suficiente de qualquer bem [...] para satisfazer completamente determinada necessidade, mas
jamais poderá produzir o suficiente de todos os bens para atender simultaneamente a todas
as necessidades. De acordo com essa definição, a ciência econômica serviria exatamente para
gerir a escassez.

(SANDRONI, 1999, P. 211 )

26
Ou seja, haveria uma lei que apresenta à humanidade alternativas de consumo e a faz escolher
qual tipo de bem econômico deseja produzir. Como já explicamos, os desejos da humanidade
não têm fim, mas isso não desobriga a humanidade de escolher como alocar seus recursos para
atender o máximo possível de suas necessidades.

SAIBA MAIS

Observe que o sentido de lei econômica aqui não é o mesmo do que lei jurídica. A lei
econômica deve ser entendida como um princípio que deriva da observação de uma

dada situação econômica. Para saber mais, leia o QRCode a seguir e leia o
conteúdo.

Curva de Possibilidades de Produção


(CPP), Pleno Emprego e Fatores de
Produção
Uma maneira simplificada de expressar a capacidade máxima de produção de uma economia é
apresentado pela Curva de Possibilidades de Produção (CPP). Segundo Vasconcellos e Garcia
(2008, p. 5) ,

Trata-se de conceito teórico com o qual se ilustra como a escassez de recursos impõe um
limite à capacidade produtiva de uma sociedade, que terá que fazer escolhas entre diferentes
alternativas de produção.

(VASCOCENLOS; GARCIA, 2008, p. 5 )

Para entender esse conceito, pensemos em uma economia que produza apenas canhões ou
manteiga, como a descrita no gráfico abaixo. Caso a defesa do país seja mais importante,

27
canhões terão preferência nas decisões de produção. Caso queira mais alimentos, a sociedade
produzirá mais manteiga.

Como ilustra a figura, nos pontos A, B, C, D, E, e F, a economia estará em seu limite de pleno
emprego, ou seja, utiliza o máximo de suas capacidades produtivas, e escolherá uma das
alternativas de produção. No caso do ponto G, a economia está produzindo abaixo do pleno
emprego e a sociedade poderá escolher produzir mais canhões e mais manteiga, ao mesmo
tempo.

Finalmente, a economia não poderá produzir no caso do ponto H, pois este se encontra acima
da curva de possibilidades de produção. Para alcançar um ponto como H, a economia deverá se
expandir tecnologicamente, ou seja, utilizar melhor seus fatores de produção , de molde a
alcançar maior produtividade.

Afinal, quais são as questões centrais da Economia?

Para decidir entre diversas alternativas de produção, a humanidade deve responder três
questões centrais. Rizzieri (2004, p. 11) esclarece que essas questões são as descritas a seguir,
resumidas no quadro.

28
QUESTÃO OBJETIVO DA QUESTÃO

O que e
Significa escolher quais produtos deverão ser produzidos (por exemplo, carros ou ônibus) e
quando
em quais quantidades.
produzir?

Como Implica escolher quais recursos serão utilizados e de que maneira eles serão combinados
produzir? dentro de um processo técnico determinado.

Para quem Informa a quem se destinará a produção. Esta, talvez, seja a escolha mais difícil e de maior
produzir? impacto na distribuição de bem-estar de toda a sociedade.

SAIBA MAIS

Para saber mais sobre a escassez e a Curva de Possibilidades de Produção, veja o


vídeo.

Escassez e CPP. ECONOMIA 1.2

Agentes Econômicos
Devemos igualmente entender que a economia é praticada por agentes conhecidos como
agentes econômicos. A Associação Portuguesa de Bancos , em seu sítio eletrônico, estabelece
esse conceito:

Os agentes econômicos são todos os indivíduos, instituições ou conjunto de instituições que,


através das suas decisões e ações, tomadas racionalmente, intervêm num qualquer circuito
econômico. Apesar de terem funções diferenciadas no circuito econômico, de produção, de
consumo ou de investimento, estabelecem entre si relações econômicas essenciais:

Estado: Que toma decisões de consumo, de investimento e de política econômica; Famílias:

29
Que tomam decisões sobre o consumo de bens e serviços e de poupança, mediante os
rendimentos auferidos;

Empresas: Que tomam decisões sobre investimento, sobre produção e a oferta de trabalho.

Estes três agentes, em conjunto com as instituições financeiras, fazem parte de uma
Economia Fechada. Contudo, e cada vez mais, deve considerar-se um quarto agente, o
Exterior, com os quais os restantes agentes econômicos nacionais estabelecem, num quadro
de Economia Aberta, relações econômicas intensas.

(ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE BANCOS, 2014) Acesso em: 27 jan. 2014.

As interações entre esses agentes econômicos estabelecem as “respostas” às questões acima


mencionadas.

Esta é a segunda parte do conteúdo sobre conceitos básicos e ideias principais da ciência econômica.
Continue estudando para desenvolver as competências e habilidades necessárias a essa área de
atuação e do conhecimento. Boa aula!

Bem Econômico e Fluxos Fundamentais da


Economia
Outro tipo de conceito necessário ao bom entendimento da disciplina Economia é o de bens.
Primeiro conceituemos bem econômico.

Sandroni (1999) informa que “bem é tudo o que tem utilidade, podendo satisfazer uma
necessidade ou suprir uma carência”. Esclarece também que “os bens econômicos são aqueles
relativamente escassos ou que demandam trabalho humano (e para os quais podemos atribuir
um preço). Assim, por exemplo, o ar é um bem livre, mas o minério de ferro é um bem
econômico” (SANDRONI, 1999, p. 51) .

Os bens podem ser classificados em dois tipos básicos:

BENS FINAIS: aqueles destinados ao consumo final pelos agentes econômicos. Por exemplo, o
pão, uma residência ou um carro.

30
BENS INTERMEDIÁRIOS: aqueles necessários para a produção de bens finais. Por exemplo, a
farinha (pão), o cimento e o tijolo (residência); e o aço e a borracha (carro).

Esse uso de bens pelos agentes econômicos se faz no que se denomina fluxos fundamentais da
economia. Em uma economia de mercado, os bens e serviços que serão vendidos terão suas
quantidades e valores decididos pela livre concorrência entre os agentes econômicos. Os bens
e recursos circulam entre famílias e empresas e daí o conceito de fluxos.

Veja, de forma esquemática, a seguir, como esse fluxo é organizado:

FONTE: Disponível em: http://tinyurl.com/mfhb5lh. Acesso em: 01 fev. 2014.

Há dois tipos básicos de fluxos fundamentais:

1. No lado real da economia ocorre o fluxo de bens e serviços. Nesse caso, as famílias fornecem
recursos às empresas e as empresas suprem as famílias com unidades de bens e serviços finais.

2. No lado monetário da economia, ocorre o fluxo referente ao pagamento pelos recursos


empregados e por bens e serviços adquiridos. Empregando a moeda como meio de pagamento, as
empresas remuneram as famílias pelos recursos empregados. Essas, por sua vez, transferem às
empresas parte dos ganhos recebidos, ao pagarem pelos bens e serviços adquiridos.

31
Tipos de Organização de Mercado
Vejamos quais tipos de economia o mundo atual apresenta:

ECONOMIA DE MERCADO: este conceito já foi apresentado anteriormente, mas não custa
repeti-lo:

SAIBA MAIS

Economia de mercado é a livre relação entre agentes econômicos em um mercado


para a satisfação de suas respectivas necessidades, utilizando um sistema de preços
para sinalizar essas trocas.

ECONOMIA CENTRALMENTE PLANIFICADA: para SANDRONI (1999, p. 190) ,

Economia centralmente planificada é a denominação dada às economias socialistas, por


oposição à descentralização que caracteriza as economias [...] de mercado. Distingue-se pela
propriedade estatal dos meios de produção e pela planificação centralizada da economia
nacional. O Estado, por meio de órgãos especializados, administra a produção em geral,
determinando seus meios, objetivos e prazos de concretização; organiza os processos e
métodos de emprego dos fatores de produção; controla de forma rígida os custos e preços dos
produtos; controla ainda os mecanismos da distribuição e dimensiona o consumo.

(SANDRONI, 1999, p. 190, grifos nossos)

Observa-se que existem atualmente pouquíssimas economias centralmente planificadas.


Podemos citar Cuba e Coreia do Norte como economias que efetivamente são centralmente
planificadas.

ECONOMIA MISTA: Sandroni (1999, p. 191) , sobre esse tipo de economia, esclarece que:

[...] é um sistema econômico em que uma parte dos meios de produção pertence ao Estado e a
outra, a empresários particulares. Existe em muitos países capitalistas [...]. Nessas condições,

32
o Estado, além de orientar a economia, detém a propriedade de empresas em setores
considerados estratégicos (bancos, indústrias de base, transporte, saúde e educação). Deixa à
iniciativa privada importantes segmentos da economia.

(SANDRONI, 1999, p. 191, grifos nossos, com adptações)

Podemos dizer que, por conta da influência keynesiana a partir de 1945, as economias mistas
dominam o cenário mundial.

SAIBA MAIS

Veja a palestra e saiba mais sobre as teorias econômicas de Keynes.

As Teorias Econômicas de Keynes - Análise do Professor Luíz Belluzzo

33
Aula 03

Teoria Elementar da Demanda e Teoria


Elementar da Oferta

Caro(a) estudante, nesta aula veremos duas importantes teorias elementares, a da demanda e a da
oferta. Vamos, então, buscar responder os questionamentos a seguir. Boa aula!

O que é demanda e de que esta depende?


O que faz com que as pessoas desejem (demandem) um bem ou um serviço?
Quais são os fatores que influenciam a demanda individual ou de um grupo (demanda
agregada).

Vimos que as pessoas têm necessidades ilimitadas, mas contam com recursos escassos para
atender esses desejos. Neste tópico, entenderemos quais são os determinantes básicos que as
pessoas encontram para atender suas necessidades.

Vamos entender primeiro o conceito de demanda. Sandroni (1999, p. 160) esclarece que
“demanda (ou procura) é a quantidade de um bem ou serviço que um consumidor deseja e está
disposto a adquirir por determinado preço e em determinado momento”. Observe que este
autor explica aqui o conceito de demanda individual, ou seja, aquela realizada por uma pessoa
apenas.

Há dois elementos adicionais a serem entendidos em demanda individual:

1. o desejo de adquirir manifestado pelo consumidor; e

2. o fluxo de consumo por unidade de tempo.

34
Devemos acrescentar que o consumidor procurará distribuir sua renda (seu orçamento) entre
vários bens e serviços de modo a obter a melhor combinação possível, ou seja, aquela que lhe
trará o maior nível de satisfação possível.

Quer Um Exemplo?

Pense que você tenha ido a uma lanchonete. No cardápio, há diversos pratos, alguns
mais baratos e outros mais caros. Você tem um dinheiro “certo” para poder utilizar
nessa lanchonete: esse é seu orçamento. Ademais, sua fome é muita, e assim sua
necessidade de se alimentar parece (pelo menos naquele momento) ilimitada! O
primeiro aspecto de sua escolha é o preço dos diversos pratos. Digamos que você
escolha um hambúrguer. A escolha por este item dependeu não apenas de seu
gosto, mas de diversos outros aspectos:

1. o preço desse item específico (observe que se o valor do hambúrguer estivesse


muito alto, você possivelmente escolheria outro item);

2. do preço de outros itens, que seriam bens substitutos para saciar sua fome, caso o
preço do hambúrguer estivesse fora de suas possibilidades;

3. do preço das batatas fritas, um item que é complementar ao consumo do


hambúrguer; e

4. de sua renda (seu orçamento), ou seja, o dinheiro que você tem no momento para
atender aquela necessidade.

Formalmente, há quatro determinantes da demanda individual (MONTORO FILHO, 2004, p.


134) :

1. o preço do bem demandado;

2. o preço de outros bens;

3. a renda do consumidor; e

4. gosto e a preferência do consumidor.

Vejamos as relações entre esses determinantes e a quantidade demandada.

35
Teoria Elementar da Demanda
Relação Entre a Demanda de Um Bem e Seu Preço
Quando o preço do pão aumenta, é intuitivo que iremos comprar menos pão.

Assim, dizemos que, normalmente, há uma relação inversa entre o preço de um bem ou serviço
e a quantidade demandada pelo mesmo, desde que todos os outros preços e condições de
mercado se mantenham constantes.

Essa condição (tudo o mais constante) recebe um nome em economia: caeteris paribus ou
ceteris paribus : expressão em latim que significa “permanecendo constantes todas as demais
variáveis” (SANDRONI, 1999, p. 71) .

SAIBA MAIS

Observe que estamos tratando o pão como um bem normal . Bens normais são “bens
cuja demanda aumenta com o aumento da renda do consumidor ou, ao contrário, bens
cuja demanda diminui quando a renda do consumidor diminui”.

36
Gráfico 2. Relação entre preço e quantidade demandada. Fonte:
http://tinyurl.com/nhjntvu.

Uma maneira de ver a relação entre o aumento do preço do pão e a redução do seu consumo
(ou o inverso, a redução do preço do pão e o aumento de seu consumo) é através da construção
de uma curva de demanda individual, como a que se segue.

Observe que, no ponto F, o preço do pão estaria muito alto e o consumidor demandaria apenas
duas unidades. Inversamente, no ponto I, onde o preço do pão estaria muito baixo, o
consumidor irá demandar dez pães. Observe que há uma relação inversa entre preço (Px) e
quantidade demandada (Dx) de um bem normal, caeteris paribus.

Oliveira (2004, p. 111) fazem o seguinte esquema para que não esqueçamos:

Quando P. ⇑ D. ⇓
e quando P. ⇓ D. ⇑

Relação Entre a Demanda de Um Bem e o Preço de Outros


Bens
37
Nossa decisão de demandar (consumir) pão pode ser afetada pelas nossas decisões de
demanda por outros bens.

Vejamos Um Exemplo:

caso o preço do pão suba muito, é natural que se reduza a quantidade demandada
de pão e se aumente a quantidade demandada de outro bem, biscoito, por exemplo.

Há duas possíveis reações sobre a quantidade demandada de pão. Vejamos:

Caso o preço do pão suba muito e isso causar um aumento da demanda por biscoito, por
exemplo, diremos que pão e biscoito são bens substitutos entre si. Ou seja, um bem
substituto existe quando um aumento do preço de um bem (pão) aumenta a demanda
pelo outro bem, seu substituto (biscoito). Outros exemplos de bens substitutos são
manteiga e margarina, café e chá, etanol e gasolina.

38
Gráfico 3. Relação de um bem e o preço de seu substituto.

Observe, todavia que o aumento do preço do pão só vai causar um aumento da demanda
por biscoito, se o preço do biscoito não se alterar (ou se alterar em menor proporção do
que o aumento no preço do pão).

Podemos observar a relação entre a demanda de um bem e o preço de seu substituto no


Gráfico 3. Ou seja, caso o preço do bem i (pão, por exemplo) (repare no subscrito de Pi)
aumente, você certamente consumirá mais do bem x (biscoito por exemplo) (observe o
subscrito de Qx ).

39
Se o aumento do preço do pão ocasionar uma queda na demanda de manteiga, por
exemplo, diremos que pão e manteiga são bens complementares, ou seja, o uso de um
bem (pão) é complementado pelo uso de outro bem (manteiga). Sandroni (1999, p.
51)esclarece que “bens complementares devem ser combinados para satisfazer uma
necessidade; usados em conjunto, eles aumentam sua utilidade”. Outros exemplos de
bens complementares são automóveis e pneus, eletricidade e lâmpadas, etc.

40
Gráfico 4. Relação de um bem e complementar.

Graficamente, a relação entre um bem (o bem de subscrito x, por exemplo) e seu


complementar (o bem de subscrito i) pode ser vista no Gráfico 4.

Pelo gráfico, caso o bem de subscrito i for complementar ao bem de subscrito x, e se o


preço do bem de subscrito i aumentar, cairá o consumo do bem x. Caso o preço do bem
complementar cair, aumentará o consumo do bem x.

Relação da Demanda Individual de Um Bem e a Renda do


Consumidor
Normalmente, “há uma relação crescente e direta” (MONTORO FILHO, 2004, p. 137 ) entre a
renda de uma pessoa e a quantidade demandada de um bem.

Assim, quanto maior a renda desse consumidor, mais ele irá demandar um bem ou serviço.

Há exceções a esta regra:

1. A primeira exceção são os bens de consumo saciado. Há casos em que a demanda de um


bem não se altera, por unidade de tempo, quando aumenta a renda do consumidor: são os bens

41
de consumo saciado. Um exemplo de bem de consumo saciado é o sal: não importa sua renda,
você não irá consumir além de uma certa quantidade de sal em um dado período de tempo.

Gráfico 5. Relação do bem de subscrito e renda do consumidor.

2. A outra exceção são os chamados bens inferiores. Em Economia, um bem é considerado


inferior quando sua procura (demanda) diminui quando aumenta a renda real do consumidor,
tudo o mais constante (condição caeteris paribus). Um exemplo de bem inferior é carne de
segunda: quando a renda do consumidor cresce, é normal ele reduzir a quantidade de carne de
segunda (músculo, por exemplo) que ele consome e passar a adquirir mais carne de primeira
(filé mignon, por exemplo).

No Gráfico 5 (MONTORO FILHO, 2004, p. 137 ), que relaciona o consumo do bem de subscrito
x com a renda do consumidor (R), a curva (1) representa os bens normais; a curva (2)
representa os bens saciados e, por fim, a curva (3) representa os bens inferiores. Observe, para
esta última curva, que, a partir de um certo aumento da Renda (R), o consumo pelo bem x
diminui.

Relação da Demanda de Um Bem e o Gosto ou a Preferência


do Consumidor
Por fim, temos a relação entre a demanda por um bem e o gosto (ou preferência) do
consumidor. Caso o consumidor seja incentivado a aumentar o consumo de um bem (aumentar

42
seu “gosto” por este bem), caeteris paribus, ele aumentará a demanda por este bem, ou seja, há
uma relação positiva entre demanda e aumento do gosto do consumidor por este bem.

Para finalizarmos o estudo da teoria da demanda, devemos falar que “a demanda de mercado é
a soma das demandas individuais” (MONTORO FILHO, 2004, p. 138 ). Ou seja, a demanda de
mercado por pão é a soma das demandas de todos os indivíduos que consomem pão em um
determinado mercado (o Distrito Federal, por exemplo).

Teoria Elementar da Oferta


Observe, estudante, que o consumidor, para atender sua necessidade, requer que produtores
queiram vender o bem ou serviço demandado. Dessa forma, podemos definir oferta como “a
quantidade de um bem ou serviço que os produtores desejam vender por unidade de tempo”
(MONTORO FILHO, 2004, p. 138 ).

Como no caso da demanda, a oferta de um bem ou serviço dependerá de alguns fatores.


Vejamos:

O preço do bem (ou serviço);

O preço dos fatores de produção necessários para este bem ou serviço; e

O preço de outros bens produzidos.

Analisemos cada um deles de forma mais detida.

O Preço do Bem ou Serviço

43
Gráfico 6. Relação entre preço de um bem e quantidade ofertada.

A oferta de um bem ou serviço irá aumentar com o aumento do preço deste bem ou serviço,
atendida a condição caeteris paribus, Assim, quanto maior o preço de um bem (ou serviço),
normalmente maior será a oferta do mesmo.

Vejamos uma relação gráfica entre o preço de um bem (normal) e a quantidade ofertada.

44
No Gráfico 6, quando o preço está baixo, a quantidade ofertada é pequena. Quando,
entretanto, o preço sobe, a quantidade ofertada igualmente sobe. O gráfico evidencia o fato de
que há uma relação

O Preço dos Fatores de Produção Necessários Para Este


Bem ou Serviço

O preço de um bem ou serviço dependerá, entre outros aspectos, do custo dos fatores de
produção (e da tecnologia) necessários para a sua criação. Por exemplo, caso o preço da farinha
aumente, é normal que o preço do pão aumente.

O Preço dos Outros Bens Produzidos


Vejamos um exemplo prático. Caso o preço do biscoito suba muito, e o preço do pão fique
parado, é intuitivo que será mais vantajoso ao produtor reduzir a produção de pão (a oferta de
pão) e aumentar a produção de biscoito, pois, assim, ele terá mais lucro.

Dessa maneira, caeteris paribus, um aumento do preço de um bem substituto reduzirá a


oferta do bem que está sendo ofertado.

O Equilíbrio de Mercado
45
Os preços e quantidades de equilíbrio no mercado são determinados pelas forças de oferta e
de demanda. Consumidor e produtor, influenciados pelos fatores explicados acima, buscam
encontrar um preço e quantidade de equilíbrio para um bem ou serviço. Unindo os gráficos da
curva de oferta e da curva de demanda, teríamos um gráfico como representado no Gráfico 7.

Gráfico 7. Curva de oferta e curva de demanda.

Observando o Gráfico 7, podemos concluir que o equilíbrio dar-se-á quando o preço estiver em
P0 e a quantidade (tanto demandada quanto ofertada) estiver em Q0. Dessa maneira, o preço
de equilíbrio é P0 e a quantidade de equilíbrio será Q0.

No ponto de interseção (cruzamento de duas linhas ou duas superfícies) das duas curvas –
Ponto E – a quantidade que os consumidores demandam coincide com a quantidade que os
produtores ofertam.

O gráfico, ademais, explica o que ocorre em duas situações distintas, o excesso de oferta e o
excesso de demanda.

No excesso de oferta, os produtores querem ofertar mais do que os consumidores querem


demandar. Nesse ponto, os produtores querem cobrar um preço maior do que o de
equilíbrio (o máximo que os consumidores gostariam de pagar).

46
Haverá excesso de oferta no mercado e a tendência é de que os preços caiam e a oferta
igualmente caia, até que se retorne ao ponto de equilíbrio (a interseção das duas curvas).

A situação inversa ocorre quando há excesso de demanda. Nesse caso, os compradores


querem mais produto do que os produtores, naquele momento, podem ofertar.

Haverá uma pressão para que os produtores ofertem mais produto, mas eles se aproveitarão
dessa situação e elevarão o preço até que demanda e oferta voltem ao equilíbrio.

Mas quais são as situações que levem a alterações desse ponto de equilíbrio? Vejamos.

1.

Gráfico 8. Alteração de consumo de bens.

Os consumidores podem ter um aumento da renda real , ou seja, aumentem a sua capacidade
de consumir. Nesse caso, e não esquecendo a hipótese caeteris paribus, haverá um aumento do
consumo dos bens. Isso ocasionaria um deslocamento à direita da curva de demanda (por
exemplo, ela passaria da curva DD para a curva D´D´), como no Gráfico 8.

47
Nesse caso, um novo equilíbrio se estabeleceria, ou seja, a quantidade demandada passaria de
Q para Q´, e o preço de P para P´. Observe que, com a mudança na demanda, e ao preço
anterior, haveria excesso de demanda e haverá um aumento do preço e uma redução no
excesso de demanda.

Gráfico 9. Alteração de oferta.

2. Poderemos observar igualmente deslocamentos na curva de oferta (causados, por exemplo,


em uma redução dos preços dos fatores de produção necessários para produzir o bem em
questão, o que causaria a redução de seu preço), de OO para O´O´, por exemplo, conforme está
no Gráfico 9.

Agora, no novo equilíbrio dar-se-á com um preço menor (P´ em lugar de P) e uma nova
quantidade de equilibrio (Q´ em lugar de Q). Com o deslocamento da oferta, a quantidade
ofertada será maior e o preço de equilíbrio menor.

48
SAIBA MAIS

Para aprofundar os conhecimentos sobre equilíbrio de mercado, leia o QRCode a

seguir .

49
Aula 04

Sobre a Elasticidade

Olá, estudantes! Veremos aqui o conceito de elasticidade aplicado à Economia. Boa aula!

Elasticidade

50
Observamos que alterações nos preços dos bens podem alterar as quantidades ofertadas e
demandadas.

Mas, em quanto?

Esta pergunta é importante para sabermos quanto um aumento do preço de um bem –


derivado de um aumento dos tributos, por exemplo – vai interferir em sua demanda.

Para entender essa alteração, os economistas cunharam a expressão elasticidade . Para


Sandroni (1999, p. 199) , elasticidade é “relação entre as diferentes quantidades de oferta e
procura de certas mercadorias, em função das alterações verificadas em seus respectivos
preços”.

Há três tipos básicos de elasticidade:

elasticidade-preço da demanda de um bem;

elasticidade-renda da demanda de um bem; e

elasticidade-preço da oferta.

MONTORO FILHO (2004, p. 142) esclarece que:

51
Elasticidade-preço da demanda é a variação percentual da quantidade demandada do bem x
para cada unidade de variação percentual no preço do bem x. Em outras palavras, a
elasticidade-preço da demanda indica quantos por cento vai variar (ou reduzir) a quantidade
demandada de um bem para cada um por cento de variação no seu preço.

(MONTORO FILHO, 2004, p. 142 )

Matematicamente, temos:

V ar. %Qx
nD =
V ar. %P x

Onde:

ND = elasticidade - preço da demanda;

Var. % Qx representa a variação percentual da quantidade demandada do bem x; e

Var. % Px representa a variação percentual do preço do bem x.

Graficamente, temos:

Gráfico 10. Elasticidade e preço da demanda.

52
Vamos explicar melhor a elasticidade-preço da demanda, observando o Gráfico 10. Vejamos
que o preço subiu de P1 para P2. Quando houve esse aumento de preço, a demanda caiu de Q1
para Q2.

Dessa maneira, a Var. % Qx foi igual a

ΔQ

Onde ΔQ é igual a: ΔQ = Q2 - Q1

Por sua vez, a Var. % P, foi igual ax foi igual a

ΔP

Onde ΔP é igual a: ΔP = P2 - P 1

SAIBA MAIS

A elasticidade é uma medida sempre calculada em módulo, ou seja, em seu valor

absoluto. Sobre esse assunto, leia o QRCode a seguir e leia o texto disponível.

Há três situações distintas para a elasticidade-preço da demanda:

1. DEMANDA ELÁSTICA

Uma variação em percentual no preço causa uma maior variação, também em percentual, na
demanda, ou seja, uma expansão nos preços, em percentual, causa uma redução mais que
proporcional na demanda, também em percentual. Nesse caso: % Var. Q > % Var. P.

2. DEMANDA UNITÁRIA

53
Uma variação em percentual no preço causa igual variação, também em percentual, na
demanda, ou seja, uma expansão nos preços, em percentual, causa uma igual variação na
demanda, também em percentual. Nesse caso: % Var. Q = % Var. P.

3. DEMANDA INELÁSTICA

Uma variação em percentual no preço causa menor variação, também em percentual, na


demanda, ou seja, uma expansão nos preços, em percentual, causa uma menor variação na
demanda, também em percentual. Nesse caso: % Var. P.

Elasticidade-Renda da Demanda
A elasticidade-renda da demanda mede a variação percentual da quantidade demandada de
um bem x quando ocorre uma unidade de variação percentual na renda do consumidor deste
bem, mantendo-se constantes todos os outros fatores que influenciam a demanda.
(MONTORO FILHO, 2004, p 148 , com adaptações).

Ou seja,

variação percentual da quantidade


Elaticidade − reda da demanda =
variação percentual da renda

Matematicamente, temos:

V ar. %Q
E rd =
V ar. %R

Há duas possibilidades para a elasticidade-preço da demanda:

1. No caso de bens normais, quanto maior a renda do consumidor, maior será a quantidade
demandada de um bem, ou seja:

Elasticidade-renda > 0

2. No caso de bens inferiores, quanto maior a renda do consumidor, menor será a quantidade
demandada de um bem, ou seja:

Elasticidade-renda < 0

54
Elasticidade-Preço da Oferta
Neste caso, medimos qual é a variação percentual na quantidade ofertada do bem x para cada
unidade de variação percentual no preço do bem “X”. (MONTORO FILHO, 2004, p. 148).

Matematicamente, temos:

V ar. %Q
E0 =
V ar. %R

Há três casos para a elasticidade-preço da oferta:

E0 > 1, elasticidade-preço da oferta é elástica.

E0 = 1, elasticidade-preço da oferta é unitária.

E0 < 1, elasticidade-preço da oferta é inelástica.

SAIBA MAIS

Para complementar seus conhecimentos sobre a elasticidade, leia o conteúdo

complementar, acessando o acervo da disciplina ou lendo o QRCode a seguir.

55
Aula 05

Estrutura de mercado

Nesta última aula da unidade, veremos sobre a estrutura de mercado. Fique atento e boa aula!

Estrutura do Mercado
Quando a economia de mercado começava a se firmar na maioria das sociedades, as trocas
ocorriam entre um grande número de pequenos produtores (ofertantes) e um grande número
de consumidores. Com a evolução econômica, outras formas de interação entre produtores e
consumidores apareceram, levando inclusive a situações em que a produção de algum bem ou
serviço se concentrasse na mão de um ou poucos produtores, os quais, assim, exerciam maior
controle sobre o preço praticado.

Para melhor compreender essas mudanças, os economistas criaram quatro modelos teóricos
de mercado, classificados por ordem decrescente de competição e denominados estruturas
de mercado.

56
SAIBA MAIS

Saiba mais sobre os quatro modelos teóricos de mercado, lendo o QRCode a seguir.

Para Mendes (2004, p. 124) ,

A interação entre a oferta e a demanda, que vai resultar na determinação de preço [...], é
abordada sob diferentes estruturas de mercado. O termo estrutura de mercado refere às
características organizacionais de um mercado, as quais determinam as relações entre:
vendedores no mercado; compradores no mercado; vendedores e compradores; e
vendedores estabelecidos e novos vendedores.

(MENDES, 2004, p. 127 , grifo nosso)

O citado autor acrescenta que “a estrutura de mercado engloba as características que


influenciam no tipo de concorrência e na formação de preços” (MENDES, 2004, p. 124 ).

Há várias características que podem ter influência em qual tipo de estrutura ocorrem trocas
entre consumidores e produtores. As principais seriam:

A quantidade de vendedores e compradores em um dado mercado, o que gera maior ou


menor grau de competição;

O grau de diferenciação do produto no mercado – bananas são produtos bastante


homogêneos, enquanto equipamentos eletrônicos podem ser bastante diferentes entre
si. Produtos diferenciados permitem ao produtor cobrar maiores preços; e

O grau de dificuldade (também conhecido como barreiras à entrada) que novos


produtores encontram para entrar em um dado mercado.

Ao se levar em conta essas características citadas anteriormente, encontraremos as seguintes


estruturas de mercado:

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Competição Perfeita (igualmente conhecida como concorrência perfeita).

Competição Monopolística.

Oligopólio (do lado da oferta) ou Oligopsônio (do lado da demanda).

Monopólio (do lado da oferta) ou Monopsônio (do lado da demanda).

Pelo lado da oferta, as principais características dessas estruturas podem ser vistas no quadro-
resumo abaixo:

Competição Perfeita (igualmente conhecida como concorrência perfeita)

Número de Inúmeros ofertantes e inúmeros compradores, e todos são muito pequenos em relação
participantes ao mercado total.

Tipo de produto
Homogêneo.
ofertado

Barreiras à
entrada de outros Nenhuma.
ofertantes

Nenhum controle. Todos os ofertantes e compradores são muito pequenos para


Domínio dos
exercerem qualquer influência sobre o preço. Todos os consumidores e produtores são
ofertantes sobre
tomadores de preços, ou seja, usam o preço que encontram no mercado como referência
o preço cobrado
para suas transações.

Acesso a
informações
Tanto produtores (ofertantes) como consumidores têm completo acesso a todas as
importantes para
informações necessárias à formação de preços e quantidades de equilíbrio.
a formação de
preços

Exemplo Mercado de hortaliças

Competição Monopolística (ou concorrência monopolística)

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Número de
Muitos ofertantes e muitos compradores.
participantes

Tipo de produto
Diferenciado.
ofertado

Barreiras à entrada de
Nenhuma.
outros ofertantes

No curto prazo (produto é ainda diferenciado): o produtor tem algum controle sobre
Domínio dos ofertantes o preço.
sobre o preço cobrado No longo prazo (quando a diferenciação foi imitada por outros produtores): não há
controle de preço.

Acesso a informações No curto prazo, os produtores que ofertam produtos diferenciados buscam guardar
importantes para a segredos que possam influenciar na formação de preços de seus competidores. No
formação de preços longo prazo, essa possibilidade se reduz.

Exemplo Cafés, lojas especializadas, restaurantes.

Oligopólio (do lado da oferta)

Número de participantes Um ofertante e inúmeros compradores.

Tipo de produto ofertado Único.

Barreiras à entrada de outros


Existem consideráveis barreiras para outro competidor entrar.
ofertantes

Domínio dos ofertantes sobre o preço


Total controle sobre o preço. O monopolista é formador de preço .
cobrado

Acesso a informações importantes O monopolista nega qualquer tipo de informação que possa reduzir o
para a formação de preços preço do produto ou serviço ofertado.

Exemplo Produção de energia nuclear.

Monopólio (do lado da oferta)

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Número de participantes Um ofertante e inúmeros compradores.

Tipo de produto ofertado Único.

Barreiras à entrada de outros


Existem consideráveis barreiras para outro competidor entrar.
ofertantes

Domínio dos ofertantes sobre o preço


Total controle sobre o preço. O monopolista é formador de preço .
cobrado

Acesso a informações importantes O monopolista nega qualquer tipo de informação que possa reduzir o
para a formação de preços preço do produto ou serviço ofertado.

Exemplo Produção de energia nuclear.

Pelo lado da demanda, encontramos dois tipos adicionais de estruturas:

MONOPSÔNIO (DO LADO DA DEMANDA)

Quando há apenas um comprador em determinado mercado. Um exemplo de monopsônio


seria uma cooperativa de leite que é a única compradora de todas as fazendas em uma
determinada região. A entrada de outra cooperativa na região seria ineficiente, haja vista que a
oferta de leite daquela região já é totalmente absorvida pela cooperativa existente.

OLIGOPSÔNIO (DO LADO DA DEMANDA)

Quando há alguns (poucos) compradores em determinado mercado. Um exemplo seria a


venda de árvores em determinada região por duas ou três empresas de celulose. Essas poucas
empresas costumam ter contratos de longo prazo com os produtores de árvores – de forma a
garantir a produção da celulose. Isso dificulta a possibilidade de outras empresas comprarem
dos mesmos produtores de árvores.

Algumas Importantes Observações

60
1º Em primeiro lugar, observem que a estrutura de competição perfeita exige muitas
características para existir. Há necessidade de inúmeros ofertantes e compradores e todos
precisam ter acesso às informações necessárias à formação do preço de equilíbrio ao mesmo
tempo. Esta última característica é bastante irreal. Dessa maneira, podemos dizer que um
mercado em competição perfeita é muito difícil de existir.

2º A maioria dos mercados existentes atualmente é de competição monopolística ou de


oligopólio. Atualmente, a diferenciação – característica principal da competição
monopolística – é a chave dos lucros. As empresas atuais buscam diferenciar seu produto de
forma a conseguir maiores lucros ou maior participação de mercado.

3º Por conta da capacidade de manipular preços, os oligopólios são bastante combatidos por
todos os órgãos de regulação. Apesar disso, eles existem em alguns mercados e são difíceis
de desaparecerem. Há, todavia, uma falha essencial na formação de um oligopólio: há
incentivo para uma empresa “fugir” do acordo de preços e praticar um preço menor para
conseguir maior parcela do mercado total.

4º Há monopólios que são necessários: um exemplo seria a produção de fuzis automáticos


leves (conhecidos como FAL) para o Exército brasileiro. Por razões de segurança, apenas
uma empresa fornece este item ao exército de nossa Nação.

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5º Existe ainda monopólios naturais. Um monopólio natural é:

Situação de mercado em que o tamanho ótimo de instalação e produção


de uma empresa seria suficientemente grande para atender a todo o
mercado, de forma que existiria espaço para apenas uma empresa. O
monopólio natural existe sempre que a demanda é pequena o bastante
para ser totalmente coberta por apenas uma empresa, com produção que
atenda a um decréscimo de custos por economia de escala. Na suposição
de outra empresa entrar em concorrência por um mercado restrito, os
custos seriam elevados em demasia para ambas (e a primeira empresa
talvez pudesse impedir a entrada da segunda por meios monopolistas,
como preços artificialmente baixos e restrição à distribuição dos produtos
da segunda). Uma situação típica de monopólio natural ocorre nas
ferrovias, onde cada passageiro ou carga transportados a mais contribui
para reduzir os custos de instalação. Se outra ferrovia disputasse o mesmo
mercado, passageiros e cargas seriam necessariamente divididos, mas a
infraestrutura de funcionamento seria duplicada, com evidentes prejuízos
para ambas.

(SANDRONI, 1999, p. 410 )

6º Por fim, temos os chamados monopólios governamentais. Um exemplo desse


tipo de monopólio é a empresa de Correios, que tem o monopólio sobre o
transporte de correspondências pessoais no Brasil.

O monopólio dos Correios abarca:

O telegrama, o cartão postal, a correspondência agrupada e as cartas; e


possibilita o financiamento à universalização na prestação do serviço
postal – direito do cidadão e obrigação da União – sem que o contribuinte
seja onerado pela necessidade de subsídio governamental.

(OLIVEIRA, 2011)

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SAIBA MAIS

Leia o QRCode a seguir e saiba mais sobre “Gestão de qualidade de vida no


trabalho: o caso da Gerência de Administração dos Correios”.

Concluindo
As trocas operadas por produtores e consumidores vão depender da estrutura de mercado em
que esses agentes econômicos operam. Uma determinada estrutura irá ter forte influência no
preço de equilíbrio e na quantidade de equilíbrio existentes. O estudante deverá estar ciente
dessas estruturas quando fizer suas decisões de compra e/ou vender um determinado produto
ou serviço.

Outro item importante é entender que, quanto mais um mercado é competitivo, mais as forças
de oferta e demanda irão decidir o preço e a quantidade de equilíbrio.

A competição é, portanto, essencial para o bom funcionamento dos mercados.

Para finalizarmos a unidade 2, observe o mapa mental abaixo com os tópicos estudos até o
momento:

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