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ECONÔMICO
AULA 1
CONTEXTUALIZANDO
2
Entretanto, todas essas questões que nos parecem normais e naturais
nem sempre foram a ideia dominante. Houve um tempo em que o trabalho era
considerado degradante e apenas os escravizados o deveriam fazer, assim
como a ideia de cobrar juros era considera imoral. Além disso, já foi considerada
absurda a ideia de comprar algo e vender posteriormente por um preço maior.
Você já pensou que as concepções de mundo que possuímos hoje são
construções da sociedade em que vivemos? Que diversas ideias comuns em
épocas passadas foram desafiadas por pessoas que, por distintas razões,
pensavam diferente e conseguiram transformar o mundo com esses
questionamentos? Que a economia não possui leis restritas e está sempre em
debate, justamente se transformar conforme a própria sociedade se transforma?
Nesta etapa, convidamos você a abrir sua mente para um universo de
ideias que desafiam nossa compreensão e que já transformaram o mundo
diversas vezes. Com isso, conseguimos subsídios para questionar nosso
contexto atual e nossa sociedade, entendendo que as coisas não são tão
imutáveis quanto tantas vezes nos parece, observando apenas o tempo em que
vivemos. A História do Pensamento Econômico nos auxilia a pensar a história
da própria sociedade. O que podemos descobrir ao desvendá-la?
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A História do Pensamento Econômico é a disciplina basilar para
compreender a própria economia política. Mas, se na economia política
estudamos as teorias, na HPE buscamos compreender também as condições
históricas em que tais ideias se desenvolveram, pois “só pela contextualização
das teorias na história do pensamento econômico é que podemos avaliar com
propriedade as questões de fundo que estão envolvidas no debate econômico”
(Oliveira; Gennari, 2009, p. 1). Ou seja, para compreender as discussões que
eram feitas, precisamos compreender os problemas daqueles contextos.
Nesse sentido, fica claro que os economistas não lidam sempre com as
mesmas questões: a economia é uma ciência social justamente porque estuda
uma matéria que se modifica constantemente. Ao tratar sobre o pensamento
econômico na Antiguidade ou na Idade Média, por exemplo, precisamos
considerar que a noção de economia não existia como a entendemos
atualmente, ainda que houvesse produção material. Existiam, portanto, reflexões
de questões econômicas, mas não teorias econômicas propriamente ditas.
Enquanto o pensamento da Antiguidade refletia a economia escravista da
época, o pensamento da Idade Média refletia o feudalismo como modo de
produção (Rubin, 2014). As produções eram, mais naturais no sentido de que
visavam à autossuficiência e não ao lucro, como ocorre no modo de produção
capitalista. Apesar disso, é importante ter, no mínimo, algumas noções do que
se discutia na Antiguidade e na Idade Média, porque muitas dessas ideias
fundamentaram discussões posteriores.
Já no mercantismo, as ideias econômicas começaram a se adensar,
tomando forma mais próxima ao caráter científico que esses estudos assumiram
no século XVIII – um período de transição do feudalismo para o capitalismo, que
inclui a busca pelo caminho das Índias e a conquista da América, além de
diversas outras mudanças que alteram constantemente as perspectivas
econômicas. Assim, os chamados mercantilistas escrevem nesse caráter
transitório, mais prático do que teórico, visando resolver as questões que
surgiam sem ter clara ideia de como funcionava aquele mundo.
Os fisiocratas também atuaram em um mundo transitório. Situados na
França e vivendo os conflitos bélicos com os ingleses, na Guerra dos Sete Anos
(1756-1763), deram um significativo passo na compreensão do sistema
capitalista em formação naquele momento. Mas é apenas posteriormente que
Adam Smith inaugura um estudo da economia com um “modelo abstrato
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completo e relativamente coerente da natureza, da estrutura e do funcionamento
do sistema capitalista” (Hunt, 2021, p. 33).
A partir de então, diversos pensadores desenvolveram as teorias que
fazem parte da construção da Ciência Econômica, sendo a maioria deles
europeus, visto que a partir da conquista e colonização de diversas partes do
mundo por aquele continente ideias, costumes e religiões foram sobrepostas ao
que havia originalmente em cada território conquistado. Assim, a HPE deve ser
pensada nesse contexto de construção de um mundo capitalista eurocentrado.
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TEMA 2 – NOÇÕES SOBRE PENSAMENTO ECONÔMICO NA ANTIGUIDADE
E NA IDADE MÉDIA
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dinheiro, ao concluir que não é o valor intrínseco (valor do material com que é
feito o dinheiro) que o faz valer como meio de troca, mas, sim, a crença coletiva
ou o costume da comunidade em utilizá-lo. Além disso, apesar de acreditar que
a moeda surgiu para facilitar as trocas, o pensador percebeu que ela estava
sendo utilizada para acumular valor e multiplicar riquezas por meio dos
empréstimos. Por muito tempo, esse caráter de acumulação foi considerado
odioso no mundo ocidental, chegando a ser encarado como pecado no período
medieval, em que era bastante presente o conceito de usura.
Depois de Aristóteles, podemos avançar alguns séculos e observar
considerações importantes desenvolvidas no Império Romano (27 a.C.-
476 d.C.). Mesmo ainda não havendo o desenvolvimento de teorias econômicas,
o sistema de direitos privados individuais criados pelo sistema jurídico romano
possibilitou pensar a economia sob outros aspectos, já mais separada da política
e das discussões sobre ética.
Prosseguindo nessa resumida linha histórica, chegamos ao período em
que o pensamento era dominado pela Igreja: a Idade Média (século V ao
século XV). O principal pensador medieval foi Santo Tomás de Aquino (1225-
1274), que se inspirava também em Aristóteles e condenava o comércio feito
com o objetivo de acumulação. Nesse sentido, o que Aristóteles considerava
antinatural, os pensadores medievais consideravam imoral (Rubin, 2014). O
trabalho, o comércio, a usura, dentre tantos outros temas, foram objetos de
debate nesse longo período da Idade Média, marcado pelo crescimento da
economia mercantil, que foi forçando a mudança, pouco a pouco, de muitas das
regras canônicas em voga (Oliveira; Gennari, 2009), abrindo caminho para as
ideias chamadas mercantilistas.
TEMA 3 – MERCANTILISMO
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que esse processo desencadeou na Europa alterou as estratégias
mercantilistas, que passaram a se pautar num sistema de equilíbrio comercial
(Rubin, 2018), defendido mediante políticas protecionistas que incentivassem a
produção agrícola e manufaturada interna e desestimulassem a compra de
produtos acabados no exterior, garantindo uma balança comercial positiva.
O pensamento mercantilista surgiu com discursos mais práticos, mas
oportunizou a alguns pensadores o desenvolvimento de ideias econômicas mais
teóricas e científicas, como no caso do inglês William Petty (1623-1687), ou mais
filosóficas, como no caso de David Hume (1711-1776). Destaca-se também o
nome de Jean-Baptiste Colbert (1619-1683), ministro e conselheiro econômico
de Luís XVI, na França, que implantou diversos códigos e regulamentos para
produção de manufaturas e comércio exterior, visando proteger indústria interna
e promover exportações.
Uma curiosidade: o ministro francês Jean-Baptiste Colbert foi interpretado
pelo ator Steve Cumyn na série televisiva Versailles. Apesar de ser um seriado
de ficção, a ambientação do roteiro no período do reinado de Luís XIV permite
identificar alguns acontecimentos e processos históricos importantes daquele
período. A terceira e última temporada da série é a mais interessante para nos
aproximarmos de alguns dos problemas econômicos da época mercantilista.
Mas, lembre-se de que a série é uma ficção e deve ser vista como tal!
No mercantilismo, a transição entre feudalismo e capitalismo revela a
redução do poder dos senhores feudais e o fortalecimento dos Estados, com
guerras e expansões imperialistas sendo motivadas a buscar o enriquecimento
estatal. Era uma disputa constante entre os Estados, como se a riqueza de um
representasse a pobreza de outro. Nesse sentido, o período mercantilista é
marcado por uma intensa aliança entre os donos do dinheiro e os detentores de
poder, ou seja, entre capital e Estado. Mas esse processo não ocorreu
igualmente nos diferentes países europeus, de modo que o processo francês
desencadeou um novo movimento no pensamento econômico: a fisiocracia.
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TEMA 4 – FISIOCRACIA: FISIOCRATAS COMO REFORMADORES SOCIAIS
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tarifas, impostos e subsídios) e reorganizar a política de terras, para criar no país
uma agricultura capitalista que produzisse em grande escala. Para financiar a
estrutura estatal, bastaria um único imposto, segundo os fisiocratas, pago sobre
as atividades agrícolas (Hunt; Lautzenheiser, 2021). Essas propostas fisiocratas
mexiam com a estrutura da sociedade francesa, pois enfraqueceriam a nobreza
feudal e fortaleceriam a classe dos agricultores capitalistas.
Por isso, essa escola de pensamento, fundamentalmente de seguidores
de Quesnay, ofereceu mais discussões teóricas e ideias do que políticas
efetivas. Uma excessão foi a passagem de Anne Robert Jacques Turgot (1727-
1781) pelo ministério da Fazenda francês, entre 1774 e 1776, que conseguiu
implementar algumas reformas e logo foi forçado à renúncia, justamente por
mexer com os interesses das classes reacionárias francesas. Ao invés de
reforma, portanto, a França passou pela Revolução, iniciada em 1789, levando
a outro caminho de desenvolvimento rumo à economia capitalista.
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TEMA 5 – IDEIAS ECONÔMICAS DE QUESNAY
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Com Tableau Économique Quesnay foi o primeiro a dividir a economia em
setores e demonstrar como eles se relacionavam, utilizando conceitos médicos
– como fluxos, circulação, órgãos e funções – para tal (Vasconcellos; Garcia,
2001, p. 15). O texto traz basicamente um modelo econômico de ciclos anuais,
que “mostra os processos de produção, circulação das moedas e das
mercadorias e a distribuição de renda” (Hunt; Lautzenheiser, 2021, p. 30).
Para Quesnay, o ano começava com a colheita realizada, de modo que
acompanhava ao longo do texto o processo de circulação dessa produção,
analisando no agregado as transações realizadas entre as classes. A terra está
no centro desse modelo, pois é ela que gera riqueza, enquanto a indústria e o
comércio são estéreis. O economista considerava que as nações se dividem em
três classes: produtiva (agricultores e capitalistas agrícolas), proprietários
(incluindo Coroa e clero), e estéril (comerciantes e trabalhadores industriais).
Repare que a classe produtiva é composta por agricultores e capitalistas,
ou seja, há uma parte que vende sua força de trabalho para sua própria
subsistência (agricultores), e outra parte que possui renda maior do que o
necessário (capitalistas). Esse é um ponto importante por ser bastante distinto
do que se verificou nas situações que estudamos anteriormente: na Grécia
Antiga o trabalho era servil ou escravo, sendo considerado degradante; na Idade
Média o feudalismo se caracterizava pelo trabalho do servo, que recebia um
pedaço de terra sobre o qual produzia para sustentar a si e ao senhor feudal; e
no mercantilismo a escravidão fez parte da própria acumulação de riquezas pelo
comércio transatlântico de escravos.
Assim, na teoria de Quesnay há uma situação relativamente nova para
pensar a economia: o trabalho assalariado. Essa questão será fundamental para
compreender o funcionamento do capitalismo e, por isso, é um ponto central no
desenvolvimento da Economia Política. Nesse sentido, ainda que Quesnay não
tenha desenvolvido uma teoria acerca de valor e salários, ele percebeu que havia
diferença entre o que era pago a esses grupos dentro das classes que ele
delimitou. Na classe produtiva, a diferença entre o pagamento aos capitalistas e
aos trabalhadores era explicado pela complexidade do trabalho, ou seja, os
capitalistas tinham um trabalho mais complexo com a administração da produção
e por isso recebiam mais do que os agricultores que faziam o trabalho braçal.
Entretanto, aos fisiocratas era mais importante compreender como a
riqueza se formava e circulava na sociedade, o que foi demonstrado pelo quadro
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de Quesnay, no qual os trabalhadores rurais produzem o suficiente para cobrir
despesas e investimentos necessários para o ano seguinte, assim como a renda
que os capitalistas deveriam pagar aos proprietários de terra. Estes últimos não
produziam riqueza, apenas recebiam a renda excedente do processo produtivo,
considerada um presente da natureza. Esses valores recebidos pela classe
ociosa seriam gastos com os produtos agrícolas e industriais dessa economia.
Saiba mais
*Os adiantamentos anuais consistem nas despesas feitas anualmente com os trabalhos do
cultivo; esses adiantamentos devem ser distinguidos dos adiantamentos primitivos que foram os
fundos para estabelecer o cultivo e que valem cerca de cinco vezes mais que os adiantamentos
anuais.
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Nesse modelo, portanto, era necessário que a moeda estivesse
circulando perfeitamente, ou seja, que todos os produtos seriam vendidos ao
longo do período e pagos com dinheiro, de modo que o entesouramento aparecia
como um problema, pois tirava a moeda de circulação. Esse problema também
foi bastante debatido por economistas posteriores.
Quesnay e os fisiocratas iniciaram a utilização do termo laisse-faire na
economia para explicar que natureza e racionalidade deveriam mover o sistema
econômico, que funcionaria tão mais perfeitamente quanto menos interferência
estatal tivesse. Eles nunca conseguiram provar essa teoria, pois antes que
aprofundassem a tentativa a Revolução Francesa mudou todo o sistema francês.
TROCANDO IDEIAS
Como vimos ao longo desta etapa, a economia nem sempre foi vista como
uma esfera autônoma da existência humana. Na Grécia Antiga, estava
subordinada à política e à moral, no mercantilismo estava suborndinada ao
poder, aos Estados. Com os fisiocratas, entretanto, essa esfera finalmente vai
ganhando autonomia e sendo entendida enquanto tal. Outro importante ponto de
mudança é com relação ao trabalho, que passa por um processo compulsório ao
assalariado, assim como as percepções acerca do comércio e da acumulação
foram se tranformando.
Nesse contexto, toda discussão acerca da moral, das leis da natureza e
do próprio funcionamento da sociedade foi se alterando. Em 1723 foi publicado
na Grã-Bretanha o livro A fábula das abelhas ou vícios privados, benefícios
públicos, escrito por Bernard de Mandeville. O texto é uma sátira britânica que
explicava como o vício era fundamental para a emergência do capitalismo nas
sociedades. Ela rejeitava que a natureza humana fosse essencialmente positiva,
demonstrando que os vícios geravam benefícios públicos.
Um vídeo muito interessante sobre esse texto foi publicado pelo canal da
Universidade de Amsterdam no YouTube, disponível em: <https://www.youtu
be.com/watch?v=y-6qdHzSDug&t=214s&ab_channel=SocialSciences-UvA>.
Acesso em: 16 ago. 2022. Esse link direciona ao vídeo oficial, mas você pode
encontrá-lo com as legendas em português nessa mesma plataforma. Depois de
assistir, responda: se a sociedade capitalista necessita de vícios privados para
prosperar, assim como de crimes e corrupções, como afirmou Mandeville, você
acha que a luta contra a corrupção deve ser uma bandeira mais importante dos
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políticos brasileiros do que um projeto com políticas econômicas e sociais que
visem ao desenvolvimento para o Brasil?
NA PRÁTICA
FINALIZANDO
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REFERÊNCIAS
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RESPOSTAS
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HISTÓRIA DO PENSAMENTO
ECONÔMICO
AULA 2
CONTEXTUALIZANDO
2
TEMA 1 – O CONTEXTO HISTÓRICO DA ESCOLA CLÁSSICA
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pela Inglaterra, começando a reunir trabalhadores para a produção em um
mesmo ambiente, superando as produções domésticas. Agora muitos
trabalhadores recebiam salários, pagos pelos empresários das manufaturas.
Elas ainda se diferenciavam das fábricas: enquanto essas últimas se
caracterizavam pelos maquinários, a manufatura seguia utilizando
essencialmente o trabalho manual. Mas a crescente demanda por produtos
ingleses no exterior estimulou o desenvolvimento de maquinário, que
favoreceram principalmente o setor têxtil e a metalurgia. Esses
aperfeiçoamentos foram resultado de um longo processo de invenções
precedentes, como a Spinning Mule, de 1779, que combinava tecnologias das
duas máquinas anteriores e chegava a produzir duzentos vezes mais fios do que
sem ela (Rubin, 2014).
Na metalurgia, novas técnicas permitiram a utilização do carvão e do
ferro, de modo que se deixava de depender de lenha para a produção. Mas a
mais importante invenção desse período foi da máquina a vapor. Com ela, já não
seria necessário montar as fábricas perto de rios para utilizar a energia
hidráulica, ocasionando o deslocamento de diversas empresas ao longo do
território inglês. A máquina a vapor também foi resultado de invenções
anteriores, mas foi o aperfeiçoamento de James Watt em 1781 que transformou
uma bomba de sucção de água das minas em uma máquina a vapor universal,
utilizada inicialmente na produção têxtil e metalúrgica, passando por outros
ramos até chegar ao transporte (Rubin, 2014).
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Nesse processo de transformação de manufaturas em fábricas, trabalhos
que antes eram desenvolvidos após muito tempo de estudo e aprendizado nas
guildas, foram fragmentados de forma tão específica que pessoas sem nenhuma
experiência puderam aprender rapidamente. A divisão social do trabalho, que
era representada pelas diversas empresas individuais (como a separação da
produção do transporte, por exemplo), apareceria agora também sob a forma de
divisão técnica, com cada trabalhador realizando uma parte do processo dentro
de um mesmo espaço.
A sociedade aparecia dividida em classes: capitalistas, trabalhadores
assalariados ou proletários, e ainda os proprietários de terras. A divisão do
trabalho colocava a produção em constante crescimento. Nesse contexto de
imenso progresso material, sobretudo na Inglaterra e Escócia, é que Adam Smith
se deparou com as bases que fundamentaram sua teoria econômica, que
inaugurou a chamada Escola Clássica da Economia Política.
Adam Smith e David Ricardo foram os mais importantes expoentes da
Escola Clássica, mas diversos economistas escreviam e contribuíam com o
debate desse período, que vai da segunda metade do século XVIII até meados
do século XIX. Um deles, que veremos nesta etapa é Thomas Malthus, mas além
dele há Jeremy Bentham, Jean-Baptiste Say e Nassau William Senior, com seu
subjetivismo racionalista; William Thompson e Thomas Hodgskin com a
economia política dos pobres; Frédéric Bastiat e John Stuart Mill, que debatiam
formas distintas de utilitarismo (Hunt; Lautzenheiser, 2021).
Conforme veremos a seguir, Smith foi o pensador que inaugurou a Escola
Clássica.
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TEMA 2 – ADAM SMITH – CRESCIMENTO ECONÔMICO, ACUMULAÇÃO E
PREÇOS, COMÉRCIO INTERNACIONAL
Adam Smith (1723-1790) era escocês e viveu em seu país durante a maior
parte de sua vida. Um dos maiores diferenciais de sua trajetória, com relação
aos economistas anteriores, era o fato de ser professor universitário, tendo
cursado as universidades de Glasgow e Oxford (1737-1746). Sua principal obra
é intitulada Uma Investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das
Nações, de 1776.
Dentre tantos nomes, “Adam Smith pode ser chamado de o economista
do período manufatureiro da economia capitalista” (Rubin, 2014, p. 204), pois
percebeu naquele período de transição, antes das fábricas dominarem o mundo,
diversas normas que regeriam o sistema capitalista, como veremos no tópico a
seguir.
Segundo Winston Fritsch (2004, p. 16), o modelo de Adam Smith, que era
essencialmente empírico, enfatizava o “crescimento econômico como o
fenômeno a ser explicado e o crescimento de produtividade e acumulação de
capital como suas causas finais”. Nesse sentido, Smith rompe com a ideia de
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direito natural de Quesnay analisando a economia política como uma ciência
independente, o que se torna um grande feito da Escola Clássica (Rubin, 2004).
Seu método é individualista, pois analisa o lado econômico da sociedade
como um conjunto de indivíduos que se unem por seus interesses individuais,
tendo a troca como o intercurso necessário para essa coesão (Rubin, 2014). É
nesse sentido que Smith profere uma de suas mais conhecidas frases: “Não é
da benevolência do açougueiro, do cervejeiro ou do padeiro que esperamos
nosso jantar, mas da consideração que eles têm pelo seu próprio interesse”
(Smith, 1996, p. 74).
Assim, na teoria de Smith, se os fenômenos socioeconômicos advêm
desses interesses individuais, logo a economia possui leis e lógicas próprias,
que não devem sofrer interferência do Estado. Por essa ideia Smith é conhecido
também como um pai do liberalismo econômico. Para ele, o papel do Estado
estava na defesa da segurança externa, na proteção contra a opressão de um
indivíduo a outro e na realização de algumas atividades sociais (Rubin, 2014).
O crescimento econômico seria promovido, portanto, pelas ações não
intencionais que os interesses individuais acarretavam, ou seja, era como se
uma “mão invisível” conduzisse o conjunto das ações individuais para o bem
comum. Esse crescimento possuía inclusive uma ordem natural, que iniciava
com a agricultura, passava pela manufatura urbana e atingia seu auge no
comércio exterior (Hunt; Lautzenheiser, 2021).
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TEMA 3 – THOMAS MALTHUS – ECONOMIA E DEMOGRAFIA
9
Em seus textos, Malthus posicionava-se em defesa dos interesses da
aristocracia rural, em contraposição a Smith e Ricardo, que defendiam a
burguesia industrial (Rubin, 2014). Com isso, argumentava que o aumento da
renda dessa classe traria prosperidade a todo o país, defendendo a estratégia
de manter e até aumentar a taxação sobre os cereais importados. Isso porque,
segundo ele, os proprietários de terras gastavam sua renda de forma a equilibrar
a produção e o consumo, já que eles consumiam sem produzir.
Esse consumo improdutivo Malthus chamava de serviços pessoais,
representado tanto pelo consumo de alimentos e bens de luxo quanto pela
contratação de empregados, que por sua vez também teriam renda para
consumir. Nesse sentido, essa classe seria importante para resolver outra
questão importante na teoria de Malthus: diferente do que havia sido afirmado
por Smith, ele acreditava que no capitalismo havia a possibilidade de crises
generalizadas, ou seja, ele não acreditava que a oferta e a demanda sempre
encontrariam um equilíbrio.
Para Malthus, o capitalismo possuía um problema de insuficiência de
demanda efetiva, ou seja, apesar de as riquezas serem produzidas, nem sempre
elas originavam consumo suficiente. Isso ocorria porque as pessoas poderiam
guardar dinheiro, sem investir nem gastar em nada, apenas acumulando para o
futuro. Os capitalistas, eram um exemplo desse problema, justamente porque
eles estavam acumulando fortunas e nem tinham tempo para gastá-las.
Assim, como poderia ser evitada essa crise de superprodução? Para
Malthus, que defendia a aristocracia rural, era necessário o aumento da renda
dessa classe, pois essa tudo gastava, o que garantiria a demanda efetiva
necessária ao sistema. Nesse sentido, as ideias e teorias de Malthus estavam
bastante alinhadas às suas opiniões particulares sobre diversas questões.
A lei de população, por exemplo, baseava-se na ideia de “que quase todas
as pessoas eram impelidas por um desejo quase insaciável de prazer sexual”
(Hunt; Lautzenheiser, 2021, p. 63) e por isso a reprodução humana era tão
acelerada; assim como que “Existem pessoas azaradas que na grande loteria da
vida tiraram o bilhete em branco” de modo que “a partir das leis inevitáveis da
nossa natureza, alguns seres humanos devem sofrer por causa da necessidade”
(Malthus, 1996, p. 310). Malthus defendia, portanto, que os pobres deveriam se
conformar com sua posição na sociedade e que deveriam evitar a procriação
para não piorar o problema, tanto deles mesmos quanto de toda a sociedade.
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Malthus escreveu alguns de seus textos para responder a teorias, debates
e opiniões que circulavam naquele momento, posicionando-se, como pudemos
perceber até aqui, sempre a favor dos ricos. Seu “Ensaio sobre a população”,
publicado pela primeira vez em 1798 respondia ao francês Marquês de
Condorcet e ao inglês William Godwin, que defendiam a classe trabalhadora. Já
o texto “Princípios de Economia Política e considerações sobre sua aplicação
prática” ele desenvolveu como resposta a David Ricardo, considerado um dos
clássicos da Economia Política, como veremos no tópico a seguir.
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Ele teria iniciado o estudo da economia política de forma despretensiosa,
mas acabou sendo considerado o “teórico mais rigoroso entre os economistas
clássicos”, já que desenvolveu o mais lógico modelo abstrato sobre o
funcionamento do capitalismo (Hunt; Lautzenheiser, 2021, p. 77). Seu mais
importante trabalho foi o livro Princípios da economia política e tributação,
publicado em 1817.
Já no prefácio de seu texto, Ricardo afirma que a principal questão da
Economia Política é determinar as leis que regulam a distribuição do produto
total da terra entre as três classes da sociedade: os proprietários de terra, os
donos do capital ou capitalistas e os trabalhadores (Ricardo, 1982). Buscando
resolver essa questão, Ricardo desenvolveu diversas teorias, dentre as quais
destacam-se a teoria do valor-trabalho, a teoria da renda da terra e a teoria das
vantagens comparativas e comércio internacional, que veremos no último tópico
desta etapa.
4.2 Valor-trabalho
1
Há uma exceção: há produtos que não são submetidos à reprodução e que podem ter seu
valor definido pela escassez, como “estátuas e quadros famosos, livros e moedas raras, vinhos
de qualidade peculiar” etc. (Ricardo, 1982, p. 44).
12
medida que essa demanda aumenta, terras menos férteis e mais afastadas
passarão a ser utilizadas. É necessário mais trabalho para produzir nessas terras
a mesma quantidade de produtos da terra mais fértil, por isso a renda do
capitalista diminui, já que ele precisa pagar mais trabalhadores. Para facilitar a
compreensão, vamos chamar a terra mais fértil de 1 e a menos fértil de 2.
Se o capitalista da terra 2 tem que pagar mais trabalhadores do que o da
terra 1, este último teria uma renda maior. Só que essa diferença, segundo
Ricardo, era apropriada pelo dono da terra, que passa a cobrar uma renda maior
do capitalista justamente por sua terra ser mais fértil e, portanto, mais rentável.
Se uma terceira terra fosse adicionada a esse esquema, mais trabalho seria
necessário para produzir e mais renda seria gerada aos proprietários da primeira
e da segunda terra.
Ou seja, Ricardo percebeu que o valor do produto agrícola seria
determinado pela quantidade de trabalho despendido na terra menos produtiva,
e que quanto mais terras de menor qualidade fosse incorporada nesse processo
produtivo, menor seria o produto líquido 2. Com isso, mais renda seria apropriada
pelos proprietários de terra, e menos renda seria acumulada pelos capitalistas.
Como era o capitalista que aumentava a prosperidade da sociedade, já
que com seus investimentos eram aumentadas as taxas de emprego e mesmo
dos salários, esse processo de apropriação de renda pelos proprietários de
terras deveria ser evitado. Com isso Ricardo respondia a uma questão que
estava em voga naquele momento: defendia o fim da taxação à importação de
cereais, para que o preço dos alimentos fosse reduzido e com isso os capitalistas
obtivessem maior lucro. Ricardo era, portanto, inimigo intelectual de Malthus,
que defendia os interesses da classe dos proprietários de terra.
Vejamos, no último tópico, mais uma das importantes contribuições de
Ricardo à Economia Política: a teoria das vantagens comparativas.
2
Produto líquido é definido pela quantidade total produzida menos os custos de produção
necessários.
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TEMA 5 – A TEORIA DAS VANTAGENS COMPARATIVAS E O COMÉRCIO
INTERNACIONAL
14
unidade de tecido e 120 horas para uma unidade de vinho. Já Portugal, necessita
de 90 horas para a produção de tecido e 80 horas para o vinho. Observando
essas três primeiras colunas do quadro, somos levados a acreditar que é mais
vantajoso a Portugal produzir os dois produtos.
15
TROCANDO IDEIAS
Saiba mais
Entenda mais do assunto acessando o artigo da BBC disponível no link a
seguir. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/internacional-
57353573>. Acesso em: 31 ago. 2022.
NA PRÁTICA
FINALIZANDO
17
REFERÊNCIAS
18
RESPOSTAS
19
HISTÓRIA DO PENSAMENTO
ECONÔMICO
AULA 3
Nesta etapa, estudaremos alguns aspectos da obra de Karl Marx. Ele foi
um dos maiores estudiosos do capitalismo e foi quem formulou uma das teorias
e análises mais desenvolvidas da economia política acerca desse modo de
produção. Vivendo no século XIX, Marx presenciou a consolidação da Revolução
Industrial e se aproximou de movimentos políticos da classe trabalhadora.
Identificou a exploração e miséria dos trabalhadores como parte constituinte do
capitalismo e como contradição: essa condição permitia tanto a reprodução do
capital e do capitalismo quanto permitiria a sua ruína.
Conceitos como dialética, contradição, processo histórico etc. aparecem
nos textos de Marx como elaborações e abstrações que refletem a ação dos
homens no processo produtivo. Ao mesmo tempo em que foi um pensador que
deixou o legado de diversos escritos científicos, dentre os quais se destaca O
Capital, também militou em movimentos operários e escreveu importantes
manifestos, como o Manifesto do Partido Comunista de 1848. Foi um dos
pensadores mais influentes de todos os tempos.
Saiba mais
CONTEXTUALIZANDO
Saiba mais
Karl Marx nasceu em 5 de maio de 1818 em Trier, uma das mais antigas
cidades alemãs, que remonta ao Império Romano. Iniciou os estudos em Direito,
na Universidade de Bonn, mas logo transferiu-se para a Universidade de Berlim,
onde se dedicou mais aos estudos de filosofia e história, tornando-se Doutor em
Filosofia em 1841. Sua principal obra, O Capital, é o maior dentre os diversos
trabalhos publicados de Marx. Essa obra é dividida em três livros, tendo sido
apenas o primeiro deles publicado pelo próprio Marx. Os demais foram
organizados e publicados por seu amigo Friedrich Engels após a morte de Marx,
que ocorreu em 1883 em Londres, na Inglaterra.
Assim, a relação entre em Marx e Engels foi não apenas como uma
profícua parceria de trabalho, de modo que publicaram juntos alguns textos,
como também de uma sólida amizade.
4
Em sua crítica à economia política, Marx foi bastante influenciado por
Adam Smith e David Ricardo em diversos aspectos de sua teoria; também
considerou John Stuart Mill como antagonista intelectual, e citou Thompson e
Hodgskin com alguma frequência. A todos esses, porém, e mais ainda a Malthus,
Senior, Say e Bastiat, Marx teceu diversas críticas (Hunt; Lautzenheiser, 2021).
A principal questão para Marx é que, com uma relativa exceção de Smith, faltava
aos economistas a perspectiva histórica, porque eles analisavam as relações de
produção como se tivessem apenas uma forma possível: a capitalista.
Segundo Hunt e Lautzenheiser (2021, p. 176), duas eram as principais
distorções identificadas por Marx nos textos dos clássicos: “a primeira era a
crença de que o capital era um elemento universal em todos os processos de
produção [da história], e a segunda era que toda atividade econômica podia ser
reduzida a uma série de trocas”. O capital, se entendido como o trabalho
passado constituído em instrumento de produção, como dizia Ricardo, poderia
mesmo ser considerado como uma relação geral e eterna da natureza na
economia política, porque ele sempre foi necessário nos diversos modo de
produção (Hunt; Lautzenheiser, 2021). Entretanto, o capital é uma relação
específica do modo de produção capitalista, segundo Marx, e não algo natural.
É uma relação entre proprietário e não proprietário que se relacionam por
meio da compra e da venda da força de trabalho. Quando os clássicos assumem
a propriedade privada como sagrada, eles ignoram que cada modo de produção
possuía a sua própria forma de propriedade, sendo essa forma a que determina
a distribuição de riquezas na sociedade (Hunt; Lautzenheiser, 2021). No modo
de produção capitalista, a força de trabalho está submetida a um momento prévio
que é a compra: a compra da mercadoria força de trabalho. Essa ideia, que faz
os clássicos pensarem que representa um individualismo harmonioso, de
igualdade e liberdade porque todos são livres para comprar e vender, ignora a
própria relação de produção conflituosa e as contradições mais pungentes desse
sistema. Veremos nos próximos tópicos alguns meios pelo qual Marx constrói
sua teoria.
5
TEMA 2 – NATUREZA SOCIAL DA PRODUÇÃO DE MERCADORIAS
Saiba mais
M–D–M
6
em que a mercadoria (M) era trocada por dinheiro (D) para ser trocada
novamente por mercadoria (M). Para Marx, esse processo demonstrava a
metamorfose da mercadoria em dinheiro (M – D), representada pela venda, e a
metamorfose do dinheiro em mercadoria (D – M), que era a compra. Nesse
exemplo, o objetivo é vender para trocar, de modo que se inicia e se termina o
processo com o mesmo valor. Há uma mudança apenas qualitativa.
Em um estágio mais desenvolvido desse processo, entretanto, a relação
se torna distinta. É o estágio em que já há um capitalista do qual os trabalhadores
dependem para comprar seus produtos de subsistência, no qual Marx percebeu
que há uma fonte de poder do capitalista sobre os trabalhadores. Aqui o objetivo
já não é apenas a troca, mas sim a produção de mais dinheiro. Vejamos alguns
aspectos desse ponto.
Esse processo de ascensão do poder do capitalista sobre a classe
trabalhadora se combinou, segundo Marx, com uma sociedade dominada pelo
valor de troca. Para isso, foi preciso a consolidação de três condições:
D–M–D
Entretanto, que sentido faria trocar dinheiro por uma mercadoria e receber
o mesmo dinheiro de volta? Escreveu Marx (1996a, p. 270) que “intercambiar
7
por meio de um rodeio, dinheiro por dinheiro, o mesmo pelo mesmo, parece uma
operação tão sem finalidade quanto insossa”. O que o capitalista busca, na
verdade, é receber mais dinheiro ao final do processo, o que seria representado
pela fórmula
D – M – D’
8
D – M... P... M’ – D’
Saiba mais
10
Marx foi bastante irônico em diversas partes de seu trabalho, sendo um
dos exemplos justamente o início desse capítulo XXIV. Nele, Marx foi criticando
como os economistas descreviam o que eles mesmos chamaram de
“acumulação primitiva”, comparando esse problema na economia política ao
caso do pecado original na teologia:
O que ele buscava desmontar logo no início desse texto, portanto, era a
tese idílica de que a classe capitalista havia emergido enquanto tal porque
possuía um comportamento moderado e comedido e até mesmo alguma
superioridade moral, como teriam argumentado Malthus, Say, Senior, Bastiat e
Mill (Hunt; Lautzenheiser, 2021, p. 200). Era como se uma classe tivesse
enriquecido por que economizou e outra tivesse ficado pobre porque gastou
todas as suas riquezas. Marx critica e contesta essa interpretação: a chamada
acumulação primitiva seria na realidade uma história de apropriação “inscrita nos
anais da humanidade com traços de sangue e fogo” (Marx, 1996b, p. 341).
Então ele prossegue seu argumento com uma análise sobre a história
inglesa que trata sobre a dissolução dos vínculos feudais, com a expropriação
do povo do campo de sua base fundiária, o confisco dos bens da igreja, a
apropriação do Estado e seus bens pela classe burguesa, que representam, por
um lado, a transformação de uma grande massa popular em proletariados e, por
outro, o acúmulo de riqueza e poder sobre uma classe que, utilizando-se da
pilhagem, transforma bens comunais em propriedade privada e capital.
Nessa história se inclui também o aumento das riquezas por meio de mais
condições violentas e sanguinárias, como os processos de colonização da
América e de escravidão na África, dentre os quais podemos incorporar a
pilhagem de metais preciosos e outras riquezas naturais que exterminavam
povos originários em prol do enriquecimento europeu. Esse enriquecimento,
entretanto, não foi para toda a Europa, mas sim para apenas parte dela, que,
como classes privilegiadas, construíam seus patrimônios com o sangue
derramado em diversas partes do mundo.
O fundamento era “libertar” os homens da servidão feudal e da coação de
suas vivências comunitárias, mas esse movimento se fez retirando dessas
pessoas qualquer possibilidade de sobrevivência que não fosse pelo trabalho
11
assalariado, justamente para garantir as condições de produção e de reprodução
do capital de forma ampliada:
Saiba mais
12
TEMA 5 – MAQUINARIA E ALIENAÇÃO
13
Figura 6 – Maquinaria e alienação
Saiba mais
14
Figura 7 – Máquina industrial
Saiba mais
Você já deve ter ouvido falar sobre o filme Tempos Modernos, de Charles
Chaplin, ou provavelmente deve se lembrar de cenas do personagem apertando
parafusos ou embrenhando-se às grandes engrenagens da fábrica em que
estava trabalhando. Esse filme é uma excelente ilustração do que estamos
discutindo nesta parte da nossa etapa, ao colocar o personagem principal como
uma mera parte do processo de produção da mercadoria.
O filme já está em domínio público e pode ser assistido gratuitamente no
Youtube no seguinte link:
TEMPOS Modernos (1936), de Charles Chaplin, filme completo em 720p
e legendado em português. Cine Antiqua – filmes clássicos, 29 dez. 2019.
15
Dispobnível em: <https://www.youtube.com/watch?v=ZUtZ8q_vkKY>. Acesso
em: 26 jul. 2022.
Esse estranhamento do trabalhador com o próprio trabalho faz com que
ele não se sinta livre nessa atividade. Sendo assim, ele só é livre para fazer suas
funções mais animais como comer, dormir, procriar etc. enquanto sua atividade
mais humana, esse trabalho que visaria a um fim consciente, ele o faz sentindo-
se um animal, porque ele não pertence a si mesmo, mas sim ao outro, ao
capitalista: “o animal torna-se humano, e o humano torna-se animal” (Marx, 2010,
p. 83).
Saiba mais
Saiba mais
TROCANDO IDEIAS
Saiba mais
16
MILANOVIC, B. ‘Capitalismo sem rivais’: o mundo inteiro sob um mesmo
sistema. Nexo, 28 maio 2020. Disponível em:
<https://www.nexojornal.com.br/estante/trechos/2020/05/28/%E2%80%98Capit
alismo-sem-rivais%E2%80%99-o-mundo-inteiro-sob-um-mesmo-sistema>.
Acesso em: 26 jul. 2022.
Com base neste texto e nos aprendizados alcançados sobre Marx e sua
teoria, responda: você acha que é possível enxergar uma alternativa ao
capitalismo ou ele é realmente um sistema sem rivais? Você concorda com o
autor sobre a ideia de que na disputa entre os capitalismos liberal estadunidense
e político chinês nenhum deles deve dominar todo o planeta?
NA PRÁTICA
D – M - ... P ... – M’ – D’
Respostas:
1. A principal questão, para Marx, é que com uma relativa exceção de Smith,
faltava aos economistas a perspectiva histórica, porque eles analisavam
as relações de produção como se tivessem apenas uma forma possível:
a capitalista.
2. No capitalismo, o dinheiro compra as mercadorias para passar pelo
processo produtivo, onde a força do trabalho incorpora valor ao produto,
gerando uma nova mercadoria de valor superior, que será vendida por um
valor em dinheiro superior ao valor inicialmente gasto pelo capitalista (D –
M - ... P ... – M’ – D’).
FINALIZANDO
17
seguem analisando e debatendo seus escritos. Nesse sentido, aprendemos
nesta etapa apenas algumas das ideias desenvolvidas por esse pensador. Na
crítica aos economistas clássicos, Marx aponta a falta de percepção histórica
que não permite perceber as especificidades do modo de produção capitalista
no tempo, como se elas tivessem existido sempre.
É necessário, segundo Marx, entender a natureza histórica e social da
reprodução do capital, que é específica. Assim ele ressalta a importância dos
estudos históricos para a economia, com os quais ele perceber a natureza da
produção social de mercadorias, a mais-valia gerada nos processos produtivos,
o processo de acumulação de capital que origina as classes, a alienação gerada
pelo desenvolvimento da mercadoria, a miséria dos trabalhadores e as
condições que o próprio capitalismo desenvolve para sua reprodução e
destruição. Isto é, considerando essas como apenas algumas das contribuições
de Marx para a compreensão da economia.
18
REFERÊNCIAS
_____. O Capital: crítica da economia política. São Paulo: Nova Cultural, 1996b.
(Coleção Os Economistas). Livro Primeiro. Tomo 2.
19
HISTÓRIA DO PENSAMENTO
ECONÔMICO
AULA 4
Escola Neoclássica
CONTEXTUALIZANDO
Crédito: Andrei/AdobeStock.
3
Alfred Marshall (1842 – 1924) nasceu em Londres, era matemático e foi
por vários anos professor de economia política na Universidade de Cambridge.
Sua principal obra é intitulada Princípios de Economia e foi publicada em 1890,
podendo ser considerada, junto
4
Ao analisar a utilidade dessa forma, a teoria do valor de Marshall se
mostrou determinada pela troca, mais especificamente pela oferta e pela
demanda, modelo teórico básico da Escola Neoclássica. Nesse modelo, há dois
pontos focais: a família e a firma, ou o consumidor e o produtor. As famílias são
donas dos fatores de produção e consumidoras dos bens de consumo finais; já
as firmas compram os fatores de produção e vendem os produtos de consumo
finais.
Com isso, enquanto as famílias visam maximizar sua utilidade, as firmas
visam maximizar seus lucros. Nessas relações e tomadas de decisões racionais
e calculadas, os preços são determinados pela oferta e pela demanda que
sempre tendem ao equilíbrio. A curva da demanda, que representaria, portanto,
o consumo do indivíduo, demonstraria que a queda do preço da mercadoria
levaria a um aumento do consumo deste, desde que tudo ou mais se mantivesse
constante.
Família Firma
Donas dos fatores de Compram fatores de
produção produção
5
TEMA 2 – A TEORIA DA FIRMA DE MARSHALL
6
era fixa, no curto prazo, já seria possível alterar a oferta por meio de mudanças
nos custos variáveis, enquanto se mantinham os custos fixos. Já no longo prazo,
tanto a demanda quanto a oferta podem ser alterados. No último tempo, o
secular, os preços poderiam se alterar pelas mudanças no conhecimento e nos
hábitos das gerações (Oliveira; Gennari, 2009).
A curto e longo prazo, é que Marshall se dedica mais em seus estudos.
Com a análise do tempo, foi possível “reconciliar o princípio clássico do custo de
produção com o princípio da utilidade marginal” (Strauch, 1996, p. 27), porque o
custo de produção era analisado no longo prazo enquanto a utilidade marginal
era analisada no curto prazo, sendo os dois fundamentais, nessa teoria, para a
determinação do valor.
No que diz respeito às decisões das firmas, Marshall introduziu dois
importantes conceitos na análise econômica: primeiro, a ideia de que os
empresários estavam sempre buscando reduzir os custos de produção
substituindo um fator de produção por outro, de modo que os fatores escolhidos
representavam sempre a escolha com menor custo; segundo, que havia uma lei
de rendimentos decrescentes, que explicava porque um fator de produção não
podia ser muito mais utilizado do que outro (por exemplo, se a firma passasse a
empregar mais trabalho com relação à quantidade utilizada de capital, o retorno
do trabalho passaria a ser decrescente a partir de certo ponto, a cada quantidade
de trabalho adicional) (Hunt; Lautzenheiser, 2021).
A essa altura, talvez você já tenha percebido que a substituição dos
fatores de produção pela firma é semelhante à substituição dos bens de
consumo pelas famílias e que a lei dos rendimentos decrescentes do
desequilíbrio entre os fatores de produção se assemelha à lei da utilidade
marginal decrescente que vimos no tópico anterior. Sendo assim:
7
Família Firma
Substituição dos Substituição dos
bens de consumo fatores de produção
8
Todo o modelo do equilíbrio, tanto o parcial como o geral, depende da
admissão a priori de que o equilíbrio é uma propriedade do sistema
econômico, que a livre atuação das forças de mercado tende a
conduzir o sistema ao estado de equilíbrio. Daí se segue a teoria que
procura reafirmar a premissa. Foi necessário esperar até a crise de
1929 para que essa convicção sofresse um abalo consistente.
(Oliveira; Gennari, 2009, p. 165)
9
na economia, por meio de impostos e subsídios, que garantissem o aumento da
utilidade líquida do consumidor e o bem-estar máximo (Oliveira; Gennari, 2009).
Por isso, a partir de Marshall, a teoria marginalista e a neoclássica se
dividiram em duas vertentes: a primeira fazia uma defesa teórica e abstrata do
livre mercado, de modo que o Estado deveria interferir o mínimo na economia,
visando apenas a garantia das condições perfeitas de concorrência e livre
mercado; já a segunda defendia uma discussão mais aprofundada acerca dos
efeitos da busca cega pela eficiência causados no bem-estar social, integrando
a Escola do Bem-Estar (Oliveira; Gennari, 2009).
John Bates Clark (1847 – 1938) nasceu em Rhode Island, nos Estados
Unidos, estudou em Amherst, em Massachusetts, assim como teve passagens
pela Alemanha, tendo sido professor em diversas universidades na Europa e nos
Estados Unidos. Seu mais famoso livro, The Distribution of Wealth: A Theory of
Wages, Interest and Profits (A Distribuição da Riqueza: Uma Teoria de Salários,
Juros e Lucros), foi publicado em 1899.
Clark desenvolveu uma teoria mais bem formulada do que foi tentado por
Marshall para explicar a distribuição da riqueza, porque avaliava os efeitos das
variações marginais nas proporções em que os insumos eram combinados.
10
Desta forma, conseguiu desenvolver mais claramente um princípio de
substituição do trabalho e do capital (Hunt; Lautzenheiser, 2021).
Com sua teoria da distribuição da renda, Clark demonstrava que o
princípio que rege as recompensas dos capitalistas era o mesmo que
recompensava os operários, sempre com base no que cada um produziu. Nesse
sentido, não haveria excedente nem exploração. Assim como vimos em
Marshall, ele acreditava na “lei natural”. Ele considerava que, se aplicada
perfeitamente, essa lei poderia garantir a distribuição a cada um conforme o que
houvesse criado. Era isso que ele buscava explicar no livro The Distribution of
Wealth.
12
TEMA 5 – AS RELAÇÕES DE CLASSE CAPITALISTA, SEGUNDO A TEORIA
NEOCLÁSSICA DA DISTRIBUIÇÃO
TROCANDO IDEIAS
14
<https://www.youtube.com/watch?v=f0XuUj7Furs&ab_channel=CasadoSaber>.
Acesso em: 17 ago. 2022.
NA PRÁTICA
FINALIZANDO
15
utilitarismo e o individualismo. A defesa da propriedade privada também se
mostra bastante marcante nessa escola e acaba pautando muitos dos debates
sobre esse assunto na sociedade.
Por fim, chegamos ao fim da nossa quarta aula de História do Pensamento
Econômico, aprendendo mais uma das formas de pensar e fazer a ciência
econômica. É possível, com nossos estudos até aqui, que você já tenha se
identificado com alguma escola ou linha de pensamento, mas também é possível
que, diante de tantas possibilidades, você ainda não se veja tendendo para
qualquer lado desses debates. Não se preocupe, não há certo ou errado nessa
situação. O importante é que você prossiga os estudos com dedicação,
mantendo-se curioso e aberto às diversas visões possíveis sobre essa ciência
social aplicada tão fascinante, que é a Economia.
16
REFERÊNCIAS
17
Gabarito
18
HISTÓRIA DO PENSAMENTO
ECONÔMICO
AULA 5
A Escola Keynesiana
CONTEXTUALIZANDO
Saiba mais
Saiba mais sobre o assunto em:
<https://www.nexojornal.com.br/colunistas/2021/A-s%C3%BAbita-
preocupa%C3%A7%C3%A3o-keynesiana-de-Guedes>. Acesso em: 17 ago.
2022.
2
TEMA 1 – O CONTEXTO TEÓRICO DA ANÁLISE DE KEYNES
Crédito: SMD90/Shutterstock.
4
políticas fiscais manteriam o orçamento equilibrado (impostos sendo iguais aos
gastos do governo); e a taxa de juros sempre igualaria a poupança e o
investimento (Hunt; Lautzenheiser, 2013).
Com relação à igualdade entre a poupança e investimento, Keynes
desenvolveu uma interpretação diferente. Segundo os neoclássicos, os
indivíduos sempre preferiam o consumo presente no consumo futuro, portanto,
as pessoas só poupariam quando recebessem uma recompensa para fazer isso,
e essa recompensa era a taxa de juros. Assim, quanto mais alta a taxa de juros,
mais as pessoas poupariam. Da mesma forma, os responsáveis pelas firmas
precisavam tomar empréstimos para investir e tinham de pagar por esses
recursos. Quanto mais baixa a taxa de juros, mais baratos os recursos e mais
eles investiriam.
Segundo a interpretação neoclássica, a concorrência criava
automaticamente uma taxa de juros em que poupança e o investimento sempre
se igualariam. Isso significava que todos os três vazamentos do fluxo renda-
gastos seriam automaticamente corrigidos, e a demanda agregada seria
automaticamente igual à oferta agregada no pleno emprego. Nesse contexto
teórico, se os mercados se ajustam automaticamente, quanto menos os
governos interferirem na economia melhor será, pois evitam-se, inclusive, ações
corruptas ou autoritárias que desequilibrem o mercado.
No entanto, o sistema capitalista de mercado sempre sofreu com crises e
instabilidades, nunca se ajustando tranquila e automaticamente ao equilíbrio
com pleno emprego. Em fins do século XIX, o desenvolvimento do mercado de
capitais mundiais e os progressos na produção e nos transportes provocaram
imensas concentrações de poder industrial em corporações gigantescas, trustes
e cartéis, levando a duas consequências principais: a concorrência não
regulamentada tornou-se extremamente custosa e prejudicial para essas
empresas gigantescas; e o novo cenário reduziu significativamente o grau de
flexibilidade e capacidade de ajuste que o mercado apresentava anteriormente.
Assim, com as diversas crises econômicas desde o final do século XIX até
a Grande Depressão dos anos 1930, a crença no mercado autorregulado tornou-
se cada vez mais custosa para os capitalistas. Nesse contexto, foram criadas
uma série de comissões reguladoras governamentais e leis antitruste
ostensivamente voltadas para a promoção da concorrência, para salvar as
grandes empresas da chamada concorrência desleal. Argumentava-se que “o
5
governo só intervinha na situação econômica para assegurar o funcionamento
harmonioso e benéfico da mão invisível” (Hunt; Lautzenheiser, 2013, p. 350).
No entanto, com o agravamento das crises, a teoria neoclássica não
oferecia alternativas, pois, de acordo com seus preceitos, as depressões não
aconteciam. Por isso, ela necessitava ser drasticamente modificada. Foi a essa
tarefa que se dedicou Keynes, em sua obra intitulada A Teoria Geral do
Emprego, do Juro e da Moeda, publicada em 1936, propondo medidas para
preservar o funcionamento pleno do sistema capitalista (Hunt; Lautzenheiser,
2013).
Crédito: JrCasas/AdobeStock.
6
Vamos supor que o trabalho seja um fator de produção homogêneo.
Nesse caso, a concorrência dos trabalhadores pelos empregos disponíveis e dos
capitalistas pelos trabalhadores disponíveis irá fazer com que os salários sejam
iguais à produtividade do último trabalhador empregado. Isso porque nunca será
economicamente vantajoso para o capitalista pagar a um trabalhador adicional
um salário superior ao produto adicional que obtém ao empregá-lo.
Os capitalistas irão empregar trabalho até o ponto em que a taxa de
salário real prevalecente no mercado se iguale à produtividade marginal do
trabalho. Obtém-se, dessa forma, a função demanda de trabalho, segundo a qual
a quantidade demandada de trabalhadores irá aumentar se o preço do trabalho
(salário real) cair. Como a quantidade disponível de trabalhadores é dada,
segue-se que os rendimentos do trabalho serão determinados no ponto em que
a quantidade demandada de trabalho se igualar à quantidade disponível de
trabalhadores (Oreiro, 2018).
Keynes basicamente concordava com a teoria neoclássica da distribuição,
como concordava com quase todos os princípios da teoria neoclássica. Um
ponto fundamental em que Keynes discordava era com relação à crença de que
a demanda agregada sempre seria igual à oferta agregada no nível da renda de
pleno emprego. Entretanto, quando Keynes afirmou, na Teoria Geral, que
discordava da economia neoclássica, teve o cuidado de reafirmar que
concordava com seu primeiro postulado, de que o salário é igual ao produto
marginal do trabalho.
O economista inglês argumentou que para aumentar o emprego, os
salários teriam de baixar e os lucros teriam de aumentar, ou seja, se a
maximização dos lucros motivasse os capitalistas a empregar trabalhadores até
o salário igualar ao valor de seu produto marginal, a diminuição do salário real
dos trabalhadores seria a única resposta para o desemprego.
Isso poderia ser feito de duas maneiras: (i) o salário nominal poderia ser
baixado e os preços dos bens-salários poderiam permanecer constantes (opção
recomendada pela maioria dos neoclássicos); e (ii) o preço dos bens-salários
poderia aumentar e os salários nominais permanecerem constantes ou
aumentarem mais lentamente. Ou seja, ou se baixavam os salários se
mantivessem os preços, ou aumentavam os preços sem aumentar os salários.
Apesar de as duas formas serem prejudiciais ao poder de compra dos
7
trabalhadores, Keynes considerava que os trabalhadores nunca aceitariam a
primeira alternativa, mas aceitariam a segunda (Hunt; Lautzenheiser, 2013).
Por fim, a teoria neoclássica foi se chocando com a realidade econômica.
Na perspectiva dessa teoria, a oferta de trabalho é que determina o salário e o
nível total da produção. No entanto, se esse pressuposto estivesse correto,
assim como o da teoria da distribuição, a queda brusca de empregos na década
de 1930 teria resultado em um aumento substancial da produtividade marginal
do trabalho. A consequência teria sido um aumento dos salários. Como na
realidade os salários reais não tinham aumentado, tendo em muitos casos
diminuído, concluía-se que os trabalhadores empregados estavam recebendo
salários reais substancialmente menores do que sua produtividade marginal
(Hunt; Lautzenheiser, 2013).
Outro pressuposto neoclássico foi posto à prova com a Grande Depressão
dos anos 1930. Segundo os neoclássicos, só existiria desemprego se os
trabalhadores se recusassem a trabalhar pelo valor da produção marginal do
trabalho (desemprego voluntário). Ou seja, quando parecia existir desemprego,
era apenas porque os trabalhadores se recusavam a aceitar os cortes salariais,
que eram necessários para igualar o salário ao menor valor do produto marginal
que resultaria quando fossem empregados mais trabalhadores. Mas milhões de
trabalhadores estavam ansiosos para trabalhar naqueles anos, mesmo
recebendo os salários vigentes, mas não conseguiam emprego (Hunt;
Lautzenheiser, 2013).
8
TEMA 3 – KEYNES E A ANÁLISE DAS DEPRESSÕES CAPITALISTAS
Crédito: Spyarm/AdobeStock.
10
produção no momento seguinte, gerando desemprego e consequente
diminuição da renda agregada.
Com a queda na renda, o público gastaria ainda menos na compra de
bens e serviços no período seguinte. Então, os empresários, verificando que
mesmo com o nível mais baixo de produção não conseguiam vender tudo o que
tinham produzido, novamente reduziam a produção, reproduzindo o movimento
espiral de baixa. Esse processo continuaria até as quedas na renda terem
reduzido a poupança, a ponto de ela não ser mais superior ao nível mais baixo
de investimento. Com esse nível baixo de renda, reestabelecia-se o equilíbrio e
a economia se estabilizava. O custo, entretanto, seria muito alto: um nível de alto
desemprego e muita capacidade ociosa (Hunt; Lautzenheiser, 2013).
Em alguns casos, o problema poderia ser solucionado se as autoridades
monetárias aumentassem a oferta monetária até o ponto em que a taxa de juros
igualasse os níveis de poupança e investimento. Porém, em determinadas
situações, isso não bastava. Keynes argumentava que, se a taxa de juros que
igualasse os níveis de poupança e investimento a pleno emprego fosse muito
baixa, a política monetária poderia não ser capaz de baixar a taxa de juros o
bastante, porque as pessoas esperariam que ela iria subir muito no futuro, e
prefeririam reter dinheiro, mesmo com grande aumento da quantidade de
moeda. Esse fenômeno monetário Keynes identificou como armadilha da
liquidez.
A solução proposta por Keynes era então de que o governo poderia
interferir quando a poupança superasse o investimento, tomando emprestado o
excesso de poupança e gastando o dinheiro em projetos úteis para a sociedade.
Esse tipo de Política Fiscal não deveria levar ao aumento da capacidade
produtiva da economia nem diminuir as oportunidades de investimentos no
futuro, levando assim ao equilíbrio em pleno emprego (Hunt; Lautzenheiser,
2013).
11
TEMA 4 – EFICÁCIA DAS POLÍTICAS KEYNESIANAS
Crédito: VZ_Art/AdobeStock.
12
Em fins da década de 1980, com o fim da Guerra Fria, parecia que o
incentivo às despesas militares poderia diminuir, no entanto, estas
permaneceram elevadas e o perigo de redes terroristas se tornaram o novo
motivo para os enormes gastos militares. Desde a Segunda Guerra Mundial, as
taxas de desemprego nunca se aproximaram das taxas que se verificaram na
grande depressão, mantendo-se abaixo dos 5% em média desde os anos 1950
até os 1970, e não ultrapassando os 10% até o início da grande crise financeira
mundial em 2007 (Hunt; Lautzenheiser, 2013).
Embora o que aconteceu depois da Segunda Guerra Mundial possa ser
menos impressionante do que a visão otimista de muitos economistas
keynesianos que escreveram na década de 1940, dada a estagnação e a quase
desintegração do capitalismo na década de 1930, pode-se dizer que, durante
aproximadamente três décadas, as políticas inspiradas nas teorias keynesianas
funcionaram razoavelmente bem (Hunt; Lautzenheiser, 2013).
13
emprego. A partir da crítica a esse princípio, Keynes procurou fundamentar
teoricamente sua explicação sobre as causas do desemprego e apresentou
como solução a proposição de intervenção do Estado como mecanismo gerador
de demanda efetiva, como meio de garantir que o nível de emprego se
mantivesse elevado (Keynes, 1985).
Sua tentativa de teorizar a respeito da superação dos princípios
neoclássicos resultou na sua obra A Teoria Geral do Juro, do Emprego e da
Moeda. Apesar de classificada como uma obra controversa por diversos autores,
e ainda ser tema de acalorados debates até os dias atuais, pode-se afirmar que
a mensagem central do texto é a de que o sistema capitalista é intrinsecamente
instável e que a chamada “mão invisível” do mercado não leva ao equilíbrio entre
o interesse individual dos agentes econômicos racionais e o bem-estar social.
Ao contrário, o automatismo do mercado pode gerar crises profundas que
ameaçam até a perpetuação do sistema. Essas crises, segundo Keynes,
ocorrem por conta da insuficiência de demanda agregada efetiva. Para estudar
as flutuações nos níveis de produto e emprego, Keynes começou por explicar as
principais determinantes da demanda e da oferta agregadas. Afirmou que os
níveis de produção e emprego são determinados pela igualdade entre a oferta e
a demanda agregadas, sem a garantia de que todos aqueles que queiram
trabalhar possam efetivamente encontrar emprego (Keynes, 1985).
Keynes centrou sua análise principalmente nos determinantes da
demanda agregada, decompondo-a em demanda por bens de consumo e
demanda por bens de investimento. A demanda por bens de consumo depende,
em primeiro lugar, da renda e, depois, da taxa de juros. Nesse ponto, sua
contribuição reside na hipótese de que o nível de consumo cresce
proporcionalmente menos do que a renda corrente.
A demanda por bens de investimento, por outro lado, depende da
expectativa de lucro futuro dos empresários e da taxa de juros. Portanto, como
a demanda por bens de consumo tem uma relação estável com a renda, as
flutuações da demanda agregada estão associadas aos movimentos do nível de
investimento. Em um cenário de crescimento, com expectativas otimistas de
lucro futuro, os investimentos geram mais empregos, maior nível de produto e
de renda e, portanto, maior nível de consumo e poupança. Com recessão,
perspectivas pessimistas de lucro geram quedas no lucro da indústria, no
emprego e renda e, por isso, nos níveis de consumo e poupança (Keynes, 1985).
14
Para Keynes, é nas flutuações do nível de investimento que reside a
chave para a compreensão dos movimentos cíclicos do capitalismo. Em
qualquer decisão de investimento, o capitalista tenta prever a evolução futura do
mercado para o produto que ele deseja produzir, assim como o salário que ele
espera pagar ao trabalhador e o preço e a disponibilidade da matéria-prima a ser
transformada. As incertezas sobre essas variáveis são a fonte primária da
instabilidade dos investimentos e, consequentemente, do nível de emprego.
Em condições normais, o empresário estima a taxa de retorno de seu
investimento a partir do lucro esperado, calculado a partir de sua visão sobre o
comportamento das variáveis envolvidas no processo produtivo. Se essa taxa de
retorno é maior que a taxa para a obtenção de fundos ou de aplicação de
recursos no mercado financeiro (a taxa de juros), então ele se sente motivado a
realizar o investimento. Portanto, a instabilidade do sistema capitalista pode advir
tanto de flutuações nas expectativas empresariais sobre o lucro futuro como do
comportamento da taxa de juros (Keynes, 1985).
É importante lembrar que, do ponto de vista ideológico, embora Keynes
tenha sido taxado como radical por alguns de seus colegas economistas
ortodoxos neoclássicos, seu objetivo ao desenvolver sua teoria, que implicou
premissa neoclássica da automaticidade do mercado autorregulado era salvar o
capitalismo da destruição. Além do mais, Keynes tentou manter válidos os outros
dois principais princípios da economia neoclássica, o da teoria da distribuição
baseada na produtividade marginal, e o da eficiência alocativa do mercado.
Conclui sua obra enfatizando a continuidade da validade da teoria neoclássica,
a despeito de suas proposições que a haviam alterado em partes:
15
TROCANDO IDEIAS
NA PRÁTICA
1) Com relação à análise das crises capitalistas, quais são as duas principais
divergências de Keynes com relação à teoria neoclássica?
Respostas:
1) DIVERGÊNCIA (1): ele acreditava que o nível de renda agregada era uma
variável muito mais importante do que a taxa de juros para avaliar o nível
da poupança (mesmo aceitando que a taxa de juros tem alguma influência
sobre a poupança); DIVERGÊNCIA (2): a taxa de juros representava o
preço da moeda, ou seja, ela igualava a demanda e a oferta de moeda, o
que era bastante diferente da ideia neoclássica de que era o equilíbrio
entre poupança e investimento.
2) A expectativa.
FINALIZANDO
16
É interessante notar, no contexto da História do Pensamento Econômico,
como Keynes parte da economia neoclássica, a reafirma, reinventa, cria outra
teoria, e acaba por gerar outras escolas. Por um longo período do século XX,
portanto, a teoria keynesiana foi hegemônica, pelo menos desde o fim da
Segunda Guerra Mundial até os anos 1970. A crise que se inicia nos anos 1970
também tem impacto sobre a hegemonia do pensamento keynesiano, abrindo
espaço para as teorias macroeconômicas de natureza neoclássica.
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REFERÊNCIAS
18
HISTÓRIA DO PENSAMENTO
ECONÔMICO
AULA 6
2
escola institucionalista. Por isso, sugerimos a você observar as referências
bibliográficas e siga buscando novos conhecimentos.
CONTEXTUALIZANDO
1
Disponível em: <https://www.ipea.gov.br/revistas/index.php/rtm/issue/view/10>. Acesso em: 11
jul. 2022.
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Como trabalhamos ao longo desse estudo, a HPE trata de analisar o
desenvolvimento das ideias, teorias e escolas que formaram a Ciência
Econômica como a conhecemos hoje. Essa análise, entretanto, passa não
apenas pelas ideias, mas também pelos contextos em que foram desenvolvidas.
Além disso, a amplitude alcançada por muitas dessas ideias na história
econômica mundial é fundamental para a compreensão do desenvolvimento do
próprio sistema capitalista.
Segundo Karl Polanyi (2012), importante historiador econômico, a
civilização do século XIX se firmava em quatro instituições: o sistema de
equilíbrio de poder (que garantiu que não houvesse guerra prolongada e
devastadora entre as grandes potências na Europa entre 1815 e 1914); o padrão
ouro internacional (baseado na libra, moeda inglesa); o mercado autorregulável;
e, o Estado liberal.
Você deve reconhecer as duas últimas instituições, pois assim como a
“mão invisível” e a teoria da distribuição da renda baseada na produtividade
marginal, elas fazem parte da teoria neoclássica, funcionando como pilares do
utilitarismo (Hunt; Lautzenheiser, 2021). Entretanto, ao longo do século XIX, ao
mesmo tempo em que essas ideias neoclássicas passaram a ser mais debatidas,
desenvolvidas e mais profundamente formuladas, as crises econômicas
tornaram-se cada vez mais frequentes e mais graves.
Hunt e Lautzenheiser (2021, p. 350-351) afirmam que, se na primeira
metade do século XIX, os Estados Unidos só tiveram duas crises econômicas
graves (1819 e 1837), e a Inglaterra teve quatro (1815, 1825, 1836 e 1847), na
segunda metade do século elas passaram a ser cinco nos Estados Unidos (1854,
1857, 1873, 1884 e 1893), e seis na Inglaterra (1857, 1866, 1873, 1882, 1890 e
1900). Ao mesmo tempo, sobretudo a partir do último quarto do século XIX, a
Inglaterra expandia seu império pelo mundo e se consolidava como a principal
economia mundial, coordenando o sistema monetário internacional por meio do
sistema libra-ouro.
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Figura 2 – O imperialismo britânico por volta da década de 1920 representado
em um mapa
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Os preços, para Sraffa, estão longe de ser determinados pela oferta e pela
demanda, ou mesmo pelo que foi considerado um uso distorcido das noções de
rendimentos decrescentes, já que Ricardo a utilizava apenas para a teoria da
distribuição e das terras, e os marginalistas estenderam para qualquer fator de
produção e a relacionaram aos preços (Possas, 1983). A partir dessas negações,
ele desenvolveu sua própria teoria – baseada na teoria do preço de David
Ricardo. O economista italiano conseguiu, desse modo, encontrar uma
alternativa para o problema da falta de uma medida invariável de valor, criando
a mercadoria-padrão.
A mercadoria-padrão era uma representação de todas as mercadorias
básicas utilizadas na produção de outras mercadorias, de modo que tanto o
produto quanto os meios de produção contêm quantidades distintas dessa
mercadoria-padrão. Diferente das mercadorias simples, ela conserva seu preço
mesmo se variarem os salários e os lucros (Singer, 1997). É essa mercadoria-
padrão que funcionaria, portanto, como uma medida invariável de valor.
Entretanto, Sraffa tem como base de seu pensamento a teoria do valor-
trabalho, de modo que a mercadoria-padrão serve então para quantificar a longa
série de preços de outras mercadorias que serviram para fazer a mercadoria-
padrão, transformando esses valores passados em um valor atual. Esses valores
são baseados na quantidade de trabalho despendido. Desse modo, no sistema
de produção de mercadorias por meio de mercadorias (que intitula seu livro), “os
preços relativos, os salários e os lucros são determinados, em última análise,
pelo tempo de trabalho que é gasto na produção dessas mercadorias” (Singer,
1997, p. 9).
Mas essa teoria envolve ainda outra inovação de Sraffa com relação aos
clássicos: os salários não representariam apenas a subsistência do trabalhador,
como também poderiam incluir uma parte do excedente. Dessa forma, os
salários seriam compostos por uma parte fixa – a subsistência –, e uma parte
variável – o excedente. Para facilitar o cálculo, entretanto, ele considera todo o
salário como variável, considerando o consumo dos trabalhadores como parte
das mercadorias utilizadas no processo de produção.
Nesse sentido, o excedente seria considerado “toda a produção que
excede a reposição de mercadorias usadas na produção” (Hunt; Lautzenheiser,
2021, p. 447). Esse excedente seria destinado então aos lucros e aos salários,
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ligando a determinação dos preços a uma análise da distribuição. Assim, Hunt e
Lautzenheiser (2021, p. 453) definem que
o que Sraffa fez foi definir como excedente toda a produção acima dos
meios físicos de produção usados no processo de produção e então
mostrar como, dadas as condições técnicas de produção, variações
nos salários e nos lucros afetavam os preços.
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Joseph Alois Schumpeter (1883-1950) era austríaco, tendo se graduado
em seu país e lecionado em países europeus e nos Estados Unidos.
Considerado bastante precoce em seus estudos e influência, Schumpeter
formulou sua teoria antes dos 30 anos: aos 25 anos, publicou o livro A natureza
e a essência da economia política (1908) e, três anos depois, Teoria do
desenvolvimento econômico (1911). Essas são apenas duas de suas
publicações, mas que o estabeleceram como importante teórico econômico.
Em meio à disputa mundial entre socialismo e capitalismo, Schumpeter
publicou o livro Capitalismo, socialismo e democracia (1942), “obra considerada
por muitos como um trabalho pessimista por concluir pelo inevitável triunfo do
socialismo e o consequente desaparecimento do capitalismo” (Costa, 1997, p.
8). Entretanto, Schumpeter não era socialista. Sua análise teórica o levou a
essas conclusões. O economista admirava e respeitava as ideias de Karl Marx,
mas era de fato influenciado por Léon Walras (citado na etapa sobre a escola
neoclássica), por meio do qual Schumpeter se interessou pelas formulações
matemáticas e econométricas, utilizando modelos econômicos para a
compreensão do sistema capitalista (Costa, 1997).
Podemos concentrar as contribuições de Schumpeter em três áreas:
primeiro, a história da análise econômica, que ele realizou em um livro publicado
após sua morte, em 1954; depois, seus estudos teóricos acerca do
desenvolvimento capitalista; por fim, sua análise sobre ciclos econômicos. Um
dos importantes diferenciais de suas teorias é que ele coloca o empresário
empreendedor como agente fundamental do desenvolvimento econômico
capitalista, pois ele desempenha uma função econômica específica: a realização
de novas combinações de meios de produção e de crédito, gerando inovação.
Ou seja, o empresário empreendedor é o que leva a invenção à prática.
Essa inovação é importante porque é o que possibilita romper o fluxo
circular, ou seja, esse equilíbrio a que tenderia a economia. O empresário
empreendedor tem a utilização da intuição como uma de suas características,
tanto para a criação de oportunidades, quanto de produtos, inserindo novos
desejos aos consumidores e, com isso, criando novos hábitos de consumo e
mercados pela “destruição-criadora”, ou seja, eliminando velhos hábitos de
consumo para a criação de outros. É esse movimento gerado pela inovação que
movimenta a economia por dentro, levando-a ao desenvolvimento.
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Além disso, a teoria schumpeteriana contribuiu também com a ideia de
que o crédito possui papel fundamental no desenvolvimento econômico.
Schumpeter explica que o crédito é a principal forma para o empreendedor
conseguir dinheiro para novas aquisições, para que consiga, então, realizar
novas combinações de fatores de produção. Nesse sentido, os bancos criam
esse poder de compra necessário para os processos de inovação, tornando-se
agentes, ou mesmo substitutos do capitalista (Schumpeter, 1997). O crédito é,
portanto, muito mais importante para o empreendedor – para financiar as
inovações –, do que para o consumo.
12
Enquanto Smith e Ricardo transformavam o valor em preço por meio do
valor-trabalho, Marx entendeu que era necessário realizar uma transição com
mediações dialéticas para a correta apreensão dessa dinâmica. Marx discutiu
isso no terceiro livro de O capital, cujo tema central é “o processo global da
produção capitalista”, publicado por Engels após a morte de seu amigo.
A discussão desse problema se desenrolou desde a publicação dos livros
de Marx, com a formulação de diversas soluções, porém sem que se resolvesse
o problema efetivamente, pois sempre restavam “pontas soltas”. Até que, em
1960, houve a publicação de Produção de mercadorias por meio de mercadorias,
de Sraffa. Embora muitos tenham considerado que a mercadoria-padrão de
Sraffa tivesse resolvido o problema, essa opinião não era unânime.
Se, por um lado, era preciso admitir o mérito da crítica aos postulados
neoclássicos, tampouco era possível fechar os olhos à oposição entre
Marx e Sraffa, uma vez que o último colocara sua demonstração do
movimento dos preços sobre a base das quantidades físicas das
mercadorias (retornando ao enfoque de Ricardo [...]). Do ponto de vista
teórico, isso equivalia a tomar por um atalho que excluía o valor-
trabalho, a mais-valia e a composição orgânica do capital. Que excluía,
por conseguinte, o essencial da Economia Política marxiana.
(Gorender, 1996, p. 49)
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Uma terceira corrente, também iniciada nos anos 1980, contou com a
contribuição de Wolff, Callari e Roberts, Fred Moseley e Ramos, e Rodriguez,
conhecidos pela busca pela construção de um sistema chamado sistema único
simultâneo; por fim, uma quarta corrente da mesma década, conhecida como
sistema único temporal foi formulada por Kliman e McGlone, Freeman, Carchedi,
Perez, Ernst, Langston, Maldonado Filho e Borges Neto (Paula, 2000).
Essa grande quantidade de pesquisadores citados demonstra a
vivacidade desse debate sobre a teoria do valor-trabalho, sobretudo nos anos
1980, quando o mundo estava ainda dividido pelos dois modos de produção
coexistentes naquele momento: o socialista e o capitalista. A Guerra Fria é,
portanto, um momento interessante para análise da História do Pensamento
Econômico, pois a opção metodológica e teórica dos pesquisadores podia levar
a consequências para além da vida acadêmica, afetando muitas vezes a vida
econômica e pessoal desses economistas.
TROCANDO IDEIAS
NA PRÁTICA
2
Disponível em: <https://www.nexojornal.com.br/expresso/2022/06/13/Por-que-o-mundo-corre-
risco-de-ter-uma-nova-recess%C3%A3o-global>. Acesso em: 11 jul. 2022.
14
estudo. Para tanto, desenvolva e preencha um quadro como o do exemplo a
seguir. Você pode utilizar esse modelo ou acrescentar outras colunas. O
importante é que você consiga sistematizar as informações.
FINALIZANDO
15
REFERÊNCIAS
16
SCHUMPETER, J. A. Teoria do desenvolvimento econômico: uma
investigação sobre lucros, capital, crédito, juro e o ciclo econômico. São Paulo:
Nova Cultural, 1997.
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GABARITO
Principais
Período Palavras-chave
teóricos
William Petty
Séc. XVII e Metais preciosos, comércio, monopólios,
Mercantilismo David Hume
XVIII protecionismo, política cambial
Colbert
Terra, leis naturais, natureza, reforma
Séc. XVII e
Fisiocratas François Quesnay social, agricultura, imposto único,
XVIII
circulação, laissez-faire
Revolução industrial, acumulação,
Adam Smith
Séc. XVIII e comércio internacional, mão invisível,
Escola clássica Thomas Malthus
XIX liberalismo, individualismo, lei da
David Ricardo
população, valor-trabalho
Operariado, contradição, dialética,
Karl Marx
Karl Marx Século XIX materialismo histórico, mais-valia,
Engels
alienação, excedente
Utilitarismo, individualismo, marginalismo,
Jevons, Menger,
Escola Séc. XIX e mercado, oferta e demanda, ceteris
Walras, Marshall,
neoclássica XX paribus, firma, família, equilíbrio,
Clark, Fisher
abstinência, estática
Escola John Maynard Moeda, incerteza, demanda efetiva,
1936
keynesiana Keynes expectativa
Robinson, Sraffa,
Minsky, Kaldor,
Escola pós- Década de Tempo histórico, incerteza, concorrência
Weintraub,
keynesiana 1970 imperfeita, desenvolvimento econômico
Cardim de
Carvalho
Teoria A partir dos Ciclos econômicos, empresário
Schumpeter
schumperiana anos 1920 empreendedor, crédito, inovação
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