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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

Escola de Arquitetura
GEO 304 – Planejamento Regional

Matheus Maurício Rodrigues

Os embates da economia capitalista: algumas respostas a Paul


Singer
SINGER, P. 1979.O uso do solo urbano na economia capitalista. In:
MARICATO, E. A produção capitalista da casa (e da cidade) no Brasil
industrial. São Paulo: Ed Alfa-Ômega.

Belo Horizonte
Fevereiro de 2014
O uso do solo urbano na economia capitalista, escrito por Paul Singer no ano
de 1978, nos situa primeiramente no contexto da disputa pelos inúmeros usos do solo.
Segundo o autor, a utilização da propriedade privada gera consequentemente a renda,
o que se assemelha ao capital. É imprescindível se ter em mente que o capital
também está diretamente ligado aos meios de produção, uma vez que associado a
outros fatores proporciona a geração do lucro.
Mais adiante, entra em foco a discussão a respeito do capital imobiliário, que
segundo o próprio autor é “um falso capital”. Fica nítido o posicionamento do autor ao
fazer tal afirmação, já que esse tipo de capital não está relacionado à atividade
produtiva, mas sim “a monopolização do acesso a uma condição indispensável àquela
atividade”. Tal fato se comprova na valorização de preços completamente diferentes
em relação a imóveis que possuem de fato características semelhantes – benfeitorias
– mas que estão em localizações distintas.
A questão renda proporcionada pela propriedade imobiliária está ainda totalmente
relacionada à taxa de juros aplicada à mesma, algo característico da sociedade
capitalista atual.
Na segunda parte, a discussão se direciona à determinação da renda
proveniente da terra urbana. Na sociedade capitalista atual, o uso do solo é controlado
pelo mecanismo de mercado, de modo que seu preço está intrínseco à utilização do
espaço, seja mediante a compra ou aluguel de uma propriedade.
Ainda a respeito dos preços relacionados ao mercado imobiliário, Singer mesmo
naquela época expõe uma situação a qual podemos presenciar nos dias atuais; a
demanda é que controla esse mercado, ou seja, quem detém maior poder aquisitivo é
que escolhe os melhores espaços e lugares. Entretanto, alguns percalços surgem
nesse mesmo mercado, como o autor afirma no seguinte trecho: “Como a demanda
por solo urbano muda frequentemente, dependendo, em última análise, do próprio
processo de ocupação do espaço pela expansão do tecido urbano, o preço de
determinada área deste espaço está sujeito a oscilações violentas, o que torna o
mercado imobiliário essencialmente especulativo”. Cabe uma aqui uma crítica a
respeito da especulação imobiliária, visto que esta procura influir sobre as decisões do
poder público quanto às áreas a serem beneficiadas com a expansão dos serviços,
restringindo assim a grande parcela da população que não detém de grande renda.
Singer demonstra ainda que na busca por espaço na cidade, tem papel
importante às empresas, que são fundamentais para atender as necessidades da
população. Contudo, cada espaço da cidade é fundamental, a fim de proporcionar
vantagens que estão relacionadas a seus custos.
Outro ponto importante retratado por ele é a localização estratégica das
empresas e outros estabelecimentos, de modo que havendo concorrência, esse é um
fator preponderante para vantagens na geração de lucros. Sobre isso afirma: “É
preciso ainda distinguir um terceiro tipo de renda da terra urbana que é a renda de
monopólio, que decorre da existência de localizações que conferem aos que as
ocupam o monopólio do fornecimento de determinadas mercadorias”. Daí se dá a
diferença entre a renda diferencial e a renda de monopólio. A primeira relaciona-se ao
mercado competitivo entre as empresas, sem que haja aumento nos preços de seus
produtos. Já a segunda surge devido à localização privilegiada da empresa, o que lhe
permite o aumento de preço em relação à concorrência.
A terceira parte a discussão passa a ser sobre a estruturação do uso do solo
urbano. Paul Singer menciona sobre uma característica fundamental presente na
grande maioria das cidades brasileiras: a centralidade. Esta pode estar ora esta
relacionada à administração publica, ora ao comércio, ou até mesmo a uma igreja
matriz.
O centro principal de uma localidade é algo atrativo à todos, umas vez que
possui todos os serviços urbanos disponíveis, porém, no que diz respeito a moradia,
só residem ali e em seu entorno a população mais rica. Geralmente tais serviços se
tornam cada vez mais escassos à medida que se distanciam dos centros urbanos.
Nessa linha de raciocínio o autor conclui devidamente que: “De tudo isto resultaria um
‘gradiente’ de valores do solo urbano, que a partir do máximo no centro principal iria
diminuindo até atingir um mínimo nos limites do perímetro da cidade”.
Era de se esperar que com expansão demasiada das cidades colaborasse para
o aparecimento de centros secundários, que consequentemente valorizaria outros
espaços urbanos. Nesse processo de crescimento urbano é necessário, portanto, uma
reestruturação das áreas já ocupadas, ao passo que o centro principal deve se
expandir de acordo com o aumento significativo da população. O autor faz no final
desta análise uma conclusão pertinente e simplificada da real situação da cidade
capitalista atualmente, de forma que segundo sua visão, nessa cidade “não tem lugar
para os pobres. A propriedade privada do solo urbano faz com que a posse de uma
renda monetária seja requisito indispensável à ocupação do espaço urbano. Mas o
funcionamento normal da economia capitalista não assegura um mínimo de renda a
todos”.
Por fim, na última parte o Estado e o uso do solo urbano é que são retratados.
Dentre os agentes produtores do espaço urbano, sabe-se que o Estado é aquele de
maior importância. É ele o responsável pela infraestrutura, instrumentos regulatórios e
outros muitos incentivos imprescindíveis ao uso do solo urbano e consequentemente o
seu valor financeiro. Uma vez que o Estado intervém em determinada localidade,
oferecendo os serviços urbanos adequados e necessários, tal região será então
valorizada e passará a ser atrativa.
Todavia, retorna-se a situação da especulação visto que um determinado local
passa a ser valorizado; como se pode perceber no seguinte trecho: “As
transformações no preço do solo acarretadas pela ação do Estado são aproveitadas
pelos especuladores, quando estes tem possibilidade de antecipar os lugares em que
as diversas redes de serviços urbanos serão expandidas”. Nesse jogo, nem sempre
essa antecipação é favorável, pois devido à concorrência estabelecida pelos
especuladores o preço pode elevar-se antes mesmo de determinado local ter sido
contemplado pelas devidas melhorias.
O que se conclui diante das informações absorvidas é uma visão pessimista,
porém realista da atual situação do uso do solo no país. Dados demonstram que a
distribuição dos serviços urbanos são destinados em sua grande maioria as camadas
de média e alta renda. Pode-se observar que, quanto menor a renda da população,
mais escassos são os serviços urbanos. Afinal, quem acaba promovendo esta
distribuição perversa dos serviços urbanos não é o Estado, mas sim o mercado
imobiliário. O mercado leiloa as áreas providas de infraestrutura, mediante a
valorização diferencial do uso do solo. Assim, têm acesso à terra urbanizada, ou seja,
à cidade, somente aqueles que podem pagar o seu preço.

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