Disciplina: Geografia Agrária Prof.ª Neusa de Fátima Mariano
Fichamento do texto:
MARTINS, José de Souza. A sujeição da renda da terra ao capital e o novo
sentido da luta pela reforma agrária. (p.151-179). In: MARTINS, José de Souza. Os camponeses e a política no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1995.
José de Souza Martins começa seu texto falando da grande
associação que é estabelecida hoje em dia entre o mundo rural e a expansão do capitalismo, e a utilização dessa associação como um “conceito mágico” que explicaria tudo para diversas áreas como a da economia, sociologia, antropologia e dos movimentos sociais diversos. Martins aponta para o erro de apenas empregar este conceito para aplicar veracidade e assim tornar simples algo muito mais complexo.
Martins pontua que sim, o capitalismo está em expansão, tanto no
campo quanto na cidade e que a tendência do capital é tomar conta de todos os ramos e setores, da indústria e da agricultura. Quando as pessoas se referem a esta expansão do capitalismo no campo, elas se referem a dois fatores, o primeiro é a questão do crescimento dos camponeses expulsos da terra expropriada, assim gerando, como consequência, uma massa de proletários rurais, de trabalhadores sem-terra. É deste modo que se dá a relação capitalista, o trabalhador esta liberto de qualquer propriedade que não seja a sua própria força de trabalho, não são detentores nem dos instrumentos de trabalho e nem da matéria prima e se veem obrigados a vender sua força de trabalho. Juridicamente são iguais ao seus patrões, fazendo contratos entre sim de compra e venda desta força.
O autor segue falando da apropriação do trabalho pelo capital e
da questão da mais-valia onde a força de trabalho consegue acrescer valor ao valor que está já contém através do tempo de trabalho necessário à produção de determinada mercadoria, fala do salário como a recriação do trabalhador, para que este supra suas necessidades e volte a trabalhar no dia seguinte, e como isto representa ao mesmo tempo liberdade e sujeição. Martins então mostra a contradição, sendo ambos iguais e livres, trocando coisas diferentes e opostas (força de trabalho e salário) como podem no final saírem com coisas diferentes? O trabalhador com o necessário para no dia seguinte tornar a trabalhar e o capitalista com um lucro que acrescerá sua fortuna tornando ela maior a cada dia. Isto ocorre pois a força de trabalho nada é para o trabalhador além de algo para trocar por algo que permita sua sobrevivência.
Assim, a relação social capitalista é aparentemente igual no que
diz respeito a liberdades individuais mas que ao mesmo tempo apresenta resultados econômicos dispares, o salário e o lucro. O trabalho produz riqueza, mas esta é através da exploração transformada em produto do capital, assim os detentores da força de trabalho não conseguem acumular a riqueza que estes mesmos produzem. Esta é uma relação alienadora e ilusória, deste modo ele não se vê mais como igual e como livre, é um estranho dentro de seu próprio trabalho, não enxerga mais sua existência como pessoa, apenas como um detentor de uma força que interessa ao capital.
Martins diz que esta reflexão sobre o trabalho e sobre o capital
como produto do trabalho é necessária para entendermos esta expansão dita anteriormente e para que possamos compreender um aspecto que difere está expansão do capitalismo na agricultura, a questão da terra. Erroneamente a terra é considerada capital, mas como vimos capital é fruto do trabalho acumulado, a terra é um bem natural finito, que não pode se originar deste trabalho. A terra é um instrumento de trabalho, diferente dos outros meios de produção, nela se trabalha para a produção de frutos desta terra mas não para a produção da própria terra. A terra pode ser apropriada pelo capital assim como o trabalho, deste modo se transformando em mercadoria, desta forma esta adquire um preço e pode ser comprada e vendida, a licença para sua exploração é dependente de um pagamento ao seu proprietário, este é a “renda da terra”.
A terra é uma imobilização do capital, ela transforma um capital
investido em apenas renda, ela sozinha não é extratora de riquezas, é necessário o emprego de ferramentas, adubos, inseticidas, aliado à força de trabalho para esta terra originar frutos. A apropriação da terra é necessária para que o trabalho que se dá nela, o trabalho agrícola, se torne subordinado ao capital, deste modo ela se torna socialmente parecida com o capital, porém o que está produz é diferente, enquanto o capital produz lucro e o trabalhador salário, a terra produz renda. Martins define que a terra não é paga pelo trabalhador nem pelo capitalista mas sim pelo conjunto das relações destes.
Martins começa o terceiro tópico falando da diferenciação entre o
proprietário de terra e o capitalista em si, e tratará das diferenças entre a concentração de terra e a concentração de capital, o fato de serem duas classe antagônicas não significa que não podem ser personificadas dentro de uma mesma figura, a do proprietário de terra que também detém o capital. Martins continua sua diferenciação da terra e do capital e também mostra como a visão da posse desta terra hoje se difere da época feudal, o autor fala sobre a questão da valorização da terra e como isto está associado a fatores externos a esta.
Ele fala sobre o investimento do capital em terra, transformando
este em renda capitalizada, o acumulo de terra se diferencia do acumulo de capital pois não está ligado à capacidade produtiva do trabalhador e a extração direta de mais-valia, ela está ligada a apropriação da mais-valia social, através de seu aluguel, de sua divisão e de um processo menos imediato de venda à partir da valorização desta.
No tópico quatro, Martins fala sobre a apropriação da renda pelo
capital, comenta sobre a errônea tentativa de dissociar terra e capital como pertencentes a modos de produção distintos, ele fala de como as obras de Marx sobre sujeição do capital ajudariam a explicar a articulação do capital sobre a agricultura familiar e o controle deste sobre o comercio. Porém esta sujeição não está ligada a uma mudança no processo de trabalho, a única coisa que muda é que o trabalhador não trabalha mais para si mesmo porém a forma de trabalho continua a mesma, esta é a fase chamada “manufatura”. O processo seguinte é a implementação das linhas de produção e a fragmentação total do trabalho, cada trabalho participa apenas de um pedaço do processo que origina o produto final. Assim antes o trabalhador que antes possuía conhecimento necessário para produzir um produto final, agora sabe apenas exercer uma função de algo coletivo e fora deste meio é inútil. Deste modo José de Souza Martins faz uma ligeira observação, dando um exemplo sobre os pequenos produtores do sul do Brasil, ele menciona que estes ainda se caracterizam como proprietários e donos dos instrumentos de trabalho, e assim quebra o argumento de que o capitalismo se reproduz no campo igualmente da forma citada anteriormente, neste caso o vínculo não é de sujeição formal do trabalho ao capital, mas de uma sujeição da renda da terra ao capital, através da compra e da criação de uma relação de dependência do proprietário com o capitalista, por meio da criação de dívidas com os bancos, frutos de empréstimos para investimento e custeio das lavouras, assim se extraindo a renda da terra sem mesmo ser proprietário dela.
O autor então conclui que esta expansão se dá pela sujeição da
terra ao capital e consequentemente sujeitando o trabalho que se dá nela também. Capital e terra foram unificados e já não há como lutar pela terra sem ter que lutar contra o capital, sem ter que enfrentar um barão muito maior do que os antigos barões do café, um grande capital nacional e multinacional.