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Aluno: Vítor Hugo dos Santos Reis RA: 728108

Disciplina: Geografia Agrária Prof.ª Neusa de Fátima Mariano

Fichamento do texto:

MARTINS, José de Souza. A sujeição da renda da terra ao capital e o novo


sentido da luta pela reforma agrária. (p.151-179). In: MARTINS, José de
Souza. Os camponeses e a política no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1995.

José de Souza Martins começa seu texto falando da grande


associação que é estabelecida hoje em dia entre o mundo rural e a expansão
do capitalismo, e a utilização dessa associação como um “conceito mágico”
que explicaria tudo para diversas áreas como a da economia, sociologia,
antropologia e dos movimentos sociais diversos. Martins aponta para o erro de
apenas empregar este conceito para aplicar veracidade e assim tornar simples
algo muito mais complexo.

Martins pontua que sim, o capitalismo está em expansão, tanto no


campo quanto na cidade e que a tendência do capital é tomar conta de todos
os ramos e setores, da indústria e da agricultura. Quando as pessoas se
referem a esta expansão do capitalismo no campo, elas se referem a dois
fatores, o primeiro é a questão do crescimento dos camponeses expulsos da
terra expropriada, assim gerando, como consequência, uma massa de
proletários rurais, de trabalhadores sem-terra. É deste modo que se dá a
relação capitalista, o trabalhador esta liberto de qualquer propriedade que não
seja a sua própria força de trabalho, não são detentores nem dos instrumentos
de trabalho e nem da matéria prima e se veem obrigados a vender sua força de
trabalho. Juridicamente são iguais ao seus patrões, fazendo contratos entre
sim de compra e venda desta força.

O autor segue falando da apropriação do trabalho pelo capital e


da questão da mais-valia onde a força de trabalho consegue acrescer valor ao
valor que está já contém através do tempo de trabalho necessário à produção
de determinada mercadoria, fala do salário como a recriação do trabalhador,
para que este supra suas necessidades e volte a trabalhar no dia seguinte, e
como isto representa ao mesmo tempo liberdade e sujeição. Martins então
mostra a contradição, sendo ambos iguais e livres, trocando coisas diferentes e
opostas (força de trabalho e salário) como podem no final saírem com coisas
diferentes? O trabalhador com o necessário para no dia seguinte tornar a
trabalhar e o capitalista com um lucro que acrescerá sua fortuna tornando ela
maior a cada dia. Isto ocorre pois a força de trabalho nada é para o trabalhador
além de algo para trocar por algo que permita sua sobrevivência.

Assim, a relação social capitalista é aparentemente igual no que


diz respeito a liberdades individuais mas que ao mesmo tempo apresenta
resultados econômicos dispares, o salário e o lucro. O trabalho produz riqueza,
mas esta é através da exploração transformada em produto do capital, assim
os detentores da força de trabalho não conseguem acumular a riqueza que
estes mesmos produzem. Esta é uma relação alienadora e ilusória, deste modo
ele não se vê mais como igual e como livre, é um estranho dentro de seu
próprio trabalho, não enxerga mais sua existência como pessoa, apenas como
um detentor de uma força que interessa ao capital.

Martins diz que esta reflexão sobre o trabalho e sobre o capital


como produto do trabalho é necessária para entendermos esta expansão dita
anteriormente e para que possamos compreender um aspecto que difere está
expansão do capitalismo na agricultura, a questão da terra. Erroneamente a
terra é considerada capital, mas como vimos capital é fruto do trabalho
acumulado, a terra é um bem natural finito, que não pode se originar deste
trabalho. A terra é um instrumento de trabalho, diferente dos outros meios de
produção, nela se trabalha para a produção de frutos desta terra mas não para
a produção da própria terra. A terra pode ser apropriada pelo capital assim
como o trabalho, deste modo se transformando em mercadoria, desta forma
esta adquire um preço e pode ser comprada e vendida, a licença para sua
exploração é dependente de um pagamento ao seu proprietário, este é a
“renda da terra”.

A terra é uma imobilização do capital, ela transforma um capital


investido em apenas renda, ela sozinha não é extratora de riquezas, é
necessário o emprego de ferramentas, adubos, inseticidas, aliado à força de
trabalho para esta terra originar frutos. A apropriação da terra é necessária
para que o trabalho que se dá nela, o trabalho agrícola, se torne subordinado
ao capital, deste modo ela se torna socialmente parecida com o capital, porém
o que está produz é diferente, enquanto o capital produz lucro e o trabalhador
salário, a terra produz renda. Martins define que a terra não é paga pelo
trabalhador nem pelo capitalista mas sim pelo conjunto das relações destes.

Martins começa o terceiro tópico falando da diferenciação entre o


proprietário de terra e o capitalista em si, e tratará das diferenças entre a
concentração de terra e a concentração de capital, o fato de serem duas classe
antagônicas não significa que não podem ser personificadas dentro de uma
mesma figura, a do proprietário de terra que também detém o capital. Martins
continua sua diferenciação da terra e do capital e também mostra como a visão
da posse desta terra hoje se difere da época feudal, o autor fala sobre a
questão da valorização da terra e como isto está associado a fatores externos
a esta.

Ele fala sobre o investimento do capital em terra, transformando


este em renda capitalizada, o acumulo de terra se diferencia do acumulo de
capital pois não está ligado à capacidade produtiva do trabalhador e a extração
direta de mais-valia, ela está ligada a apropriação da mais-valia social, através
de seu aluguel, de sua divisão e de um processo menos imediato de venda à
partir da valorização desta.

No tópico quatro, Martins fala sobre a apropriação da renda pelo


capital, comenta sobre a errônea tentativa de dissociar terra e capital como
pertencentes a modos de produção distintos, ele fala de como as obras de
Marx sobre sujeição do capital ajudariam a explicar a articulação do capital
sobre a agricultura familiar e o controle deste sobre o comercio. Porém esta
sujeição não está ligada a uma mudança no processo de trabalho, a única
coisa que muda é que o trabalhador não trabalha mais para si mesmo porém a
forma de trabalho continua a mesma, esta é a fase chamada “manufatura”. O
processo seguinte é a implementação das linhas de produção e a
fragmentação total do trabalho, cada trabalho participa apenas de um pedaço
do processo que origina o produto final. Assim antes o trabalhador que antes
possuía conhecimento necessário para produzir um produto final, agora sabe
apenas exercer uma função de algo coletivo e fora deste meio é inútil.
Deste modo José de Souza Martins faz uma ligeira observação,
dando um exemplo sobre os pequenos produtores do sul do Brasil, ele
menciona que estes ainda se caracterizam como proprietários e donos dos
instrumentos de trabalho, e assim quebra o argumento de que o capitalismo se
reproduz no campo igualmente da forma citada anteriormente, neste caso o
vínculo não é de sujeição formal do trabalho ao capital, mas de uma sujeição
da renda da terra ao capital, através da compra e da criação de uma relação de
dependência do proprietário com o capitalista, por meio da criação de dívidas
com os bancos, frutos de empréstimos para investimento e custeio das
lavouras, assim se extraindo a renda da terra sem mesmo ser proprietário dela.

O autor então conclui que esta expansão se dá pela sujeição da


terra ao capital e consequentemente sujeitando o trabalho que se dá nela
também. Capital e terra foram unificados e já não há como lutar pela terra sem
ter que lutar contra o capital, sem ter que enfrentar um barão muito maior do
que os antigos barões do café, um grande capital nacional e multinacional.

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