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História do Pensamento Econômico I.

Iago Becker.

1. Malthus formulou a ideia que o excedente de produção seria uma causa do


aumento da renda dos proprietários de terra e este excedente teria sua origem em
melhorias agrícolas ou redução de salários. Os termos qualitativos da terra aqui são
relevantes também para a formação de renda. O fator que diminuiria a renda da terra
seria um sistema de cultivo ruim e a queda na população, que forçaria o aumento do
preço dos salários e diminuiria a disputa por terras para produção. Malthus já se via
preocupado em relação ao aumento da produção de alimentos, que segundo ele, não
acompanharia o aumento populacional. Claro que aqui o pensador não conseguiu prever
os grandes ganhos de produtividade que a agricultura viveu. Neste contexto de
preocupação com a expansão demográfica que Malthus elaborou sua famosa teoria da
superpopulação juntamente com ferramentas sádicas de controle desta expansão.
A teoria de superprodução de Malthus que foi sua maior contribuição ao
conhecimento econômico, consiste numa análise da renda das três classes da sociedade.
Notou que ao contrário dos proprietários de terras e trabalhadores, a classe capitalista
poupava parte de sua renda ou investia em mercadorias de capital. Ou seja, a causa da
superprodução devia-se aos lucros excessivos dos capitalistas. Apoiava políticas de
distribuição de renda da classe capitalista para a classe de proprietários de terra. Uma
política que teve esse claro intuito foi a Lei dos Cereais que proporcionou conflitos
sociais entre as classes. Para Malthus a renda da terra era um excedente legítimo que
pertencia aos proprietários de terra, que ao gastá-lo, gerariam a demanda agregada
necessária para evitar uma crise no sistema capitalista, causada por um possível excesso
de mercadorias sem compradores (superprodução). Malthus via na classe proprietária de
terras a resposta à crise mencionada.
2. David Ricardo (1772-1823) nasceu já em uma família rica inglesa e desde cedo
investiu na bolsa de valores, antes dos trinta anos já era um homem muito rico. No
início de sua carreira, bebeu da fonte de Adam Smith e até sua morte se dedicou a
escrever acerca do tema da economia política. Com sucesso, diga-se de passagem,
conseguiu ser insuperável em sua época e influente nos dias de hoje. Assim como
Malthus, Ricardo foi contemporâneo à uma acirrada tensão política e social entre os
capitalistas e proletários. Tudo no contexto pós-revoluções industrial e francesa, o que
indiscutivelmente influenciou sua carreira. Importante frisar que diante do contexto,
Ricardo se dissociou de Malthus principalmente quanto à defesa dos interesses dos
capitalistas, embora fosse um grande admirador do ensaio acerca da superpopulação de
seu amigo.
A teoria da renda da Terra fundamentada pelo economista consiste em dizer que a
concorrência entre os capitalistas levaria à uma tendência próxima a 0 na diferença dos
seus respectivos lucros, isso porque os fazendeiros (donos das terras) trabalhavam com
os incentivos dos capitalistas. De maneira prática funcionava assim: coexistindo a terra
A e B, com o emprego do mesmo capital e mão de obra, há uma discrepância na
produtividade das terras. Digamos que a terra A produz 100 unidades de determinado
produto enquanto a terra B somente 85 unidades do mesmo produto. Se a capacidade de
produção da terra A é maior, logo há maior incentivo para produzir nela do que em
relação a terra B, sendo assim os capitalistas estariam dispostos a pagar mais pela terra
A. Ou seja, essa parcela que estão dispostos a pagar a mais pela terra A faz com que
apesar da maior produtividade, o diferença do produto líquido entre as terras tende a
zero.

3. Para Smith, os produtos a serem comercializados (atento que aqui estamos nos
referindo ao período pré-capitalista) têm seu valor diretamente proporcional ao trabalho
aplicado na matéria prima ou no meio de produção da matéria. Conceito retirado da
seguinte frase escrita pelo economista clássico:
“O trabalho era o primeiro preço, o dinheiro da compra inicial que era pago por
todas as coisas. Não foi com o ouro nem com a prata, mas com o trabalho, que
toda a riqueza do mundo foi inicialmente comprada”.

Da teoria valor trabalho de Smith, promovida também por Ricardo, que surge a
principal discordância entre os dois economistas. Para Say, o valor não estava
proporcionalmente ligado ao trabalho aplicado ao produto, mas sim na utilidade do
produto para o comprador. Explicou ainda que é impossível aumentar a utilidade de um
produto somente aumentando seu preço. Para Say, “[...] o valor de troca, ou preço, é um
índice da utilidade reconhecida de certa mercadoria.”
A Lei de Say, cujo aspectos já haviam sido abordados por Smith e Ricardo e que
posteriormente seria criticada por demais economistas, consiste em dizer que no Laissez
Faire, os fatores de produção, a demanda, a oferta e o desemprego, todos tendem a um
equilíbrio que traz o bem-estar econômico. Essa concepção ainda tem como conteúdo a
ideia de que a oferta de um produto cria uma demanda da mesma magnitude, pois
argumentava Say que numa economia de mercado era uma economia em que produtores
especializados trocavam seus produtos e essa disposição levaria a economia ao
equilíbrio. Para discordar desta tese, basta analisarmos a história econômica. A maior
crise econômica dos EUA, o crash de 29, teve como um dos principais fatores uma crise
de superprodução e alto desemprego, tudo isso em meio a uma economia
demasiadamente livre

4. “Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem
sob circunstâncias de sua escolha, e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente,
legadas e transmitidas pelo passado”
Essa frase de Marx escrita no livro 18 de brumário carrega consigo parte da ideia
de materialismo dialético, visto que imputa a ideia de que apesar dos homens poderem
construir o mundo e mudar a realidade, tudo que fazem tem influência direta da
realidade pré-existente aos seus atos. Desse contexto é que conseguimos aplicar o
conceito na realidade econômica, pois de nada adianta você ter uma nação com uma
cultura comunista enquanto a realidade das trocas entre as camadas da sociedade
perpetua uma relação capitalista. A lógica é que os fatos sociais da realidade
influenciam os ideais da sociedade e não o contrário. Essa concepção é o motivo pelo
qual chamamos Marx de materialista.
Para Marx, o valor de troca e o valor de uso de uma determinada mercadoria,
eram dissociáveis a partir do ponto que visavam termos diferentes. Enquanto o valor de
uso tinha como característica fundamental termos qualitativos de uso e bem-estar,
devido ao fato de que o valor de uso tem relação direta entre a coisa material e as
pessoas, diferentemente do que é estabelecido no valor de troca, visto que é uma análise
onde termos qualitativos não são levados em conta, mas sim aspectos quantitativos de
troca, conforme diz Marx:
“Como valores de uso, as mercadorias são, acima de tudo, de diferentes qualidades,
mas, como valores de troca, são meramente quantidades diferentes”
Sendo assim, o valor de uso não poderia ser a base do valor de troca, pois não
eram diretamente comparáveis por não refletirem as relações sociais da sociedade
capitalista.

5. Como pontapé inicial da discussão, Marx colocou a circulação de moeda e


produtos como um fator presente numa economia capitalista, mas não exclusivo deste
sistema, o que na verdade acaba sendo um senso comum de críticos às suas ideias. A
partir desse ponto, Marx elaborou dois esquemas distinto da circulação de mercadoras.
O primeiro MDM (mercadora – dinheiro – mercadoria), onde a produção de um item
seria o fator inicial da troca e o intuito de sua produção seria para trocar por outro bem,
usando o dinheiro somente como ferramenta para auxiliar as trocas. O resultado desse
processo é a troca de uma mercadoria por outra, a circulação de trabalho social
materializado atingindo o fim do processo. Já num segundo esquema, o capitalista,
teríamos um modelo de especulação. Funciona no esquema DMD (dinheiro – mercadora
– dinheiro), sendo que o capitalista utiliza já o seu estoque de dinheiro na fabricação de
uma mercadoria, claro que não estamos falando de uma ação benevolente e sem
disposição ao lucro que traria riscos sem retorno financeiro para este agente. O intuito
deste segundo esquema seria revender em um preço maior do que foi alocado no
começo do esquema. Desta ideia então é derivado um novo modelo de circulação de
mercadorias e dinheiro, o DMD’ (dinheiro – mercadoria – dinheiro’), sendo D’ maior
que D. O resto de D’ – D seria equivalente ao capital acumulado pelo capitalista neste
processo. Temos aqui a criação de riqueza pelo sistema capitalista. Uma crítica muito
válida ao modelo não capitalista exposto por Marx é que depois do processo concluído,
não há um aumento nos bens produzidos, perpetuando uma estagnação no processo de
trocas. Já no modelo capitalista, a disposição pela fabricação de bens para venda
endossada pelo lucro acaba criando mais capital com potencial produtivo. Para o
crescimento econômico contínuo, o segundo modelo se sobressai ao primeiro.

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