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1) Enuncie e discuta sucintamente alguns dos principais elementos da economia política

clássica, destacando o papel da teoria do valor e da distribuição em Adam Smith e David


Ricardo. (2 pontos)

Até Adam Smith não se tinha a economia como uma ciência separada das demais, e embora se
tivessem algumas tentativas de postular princípios, como dos Fisiocratas, foi Smith que fundou
a economia como disciplina, com seus princípios inovadores em A Riqueza das Nações. David
Ricardo tentou construir em cima dessa disciplina, com algumas inferências no comércio
internacional, defendendo o livre comércio para o crescimento baseado nas vantagens
comparativas e na exploração da mão de obra assalariada.

As principais ideias inovadoras que Smith trouxe foram:

1) Aumentar a produtividade dos trabalhadores é a chave para o crescimento econômico, e


isso pode ser obtido com especialização e divisão do trabalho;

2) A teoria do valor-produto: afirmava que o valor de um produto é o valor do seu custo de


produção

3) A Mão Invisível: o mercado se regula automaticamente porque os agentes maximizam sua


utilidade. Assim a economia deveria ser auto regulada, sem intervenções do governo. O
governo seria útil apenas para coisas como leis, educação, infraestrutura, etc

Sua descrição rompia com a crendice dos mercantilistas que riqueza era o acúmulo de ouro, e
estabelecia que a riqueza das nações eram os produtos e serviços que se conseguiria obter
com ele, uma espécie de revolução copérnica em torno da produtividade humana em
detrimento do acúmulo de capital.

Ricardo, fazendo uma divisão em classes, estabelece uma nova perspectiva para o papel dos
capitalistas em relação aos pensadores fisiocratas, que agora ao invés de serem vistos como
“parasitas” têm um papel importante na estrutura social- uma visão mais modernizada
adequada à Revolução Industrial; Ricardo ainda inovou postulando que a dívida pública não
afeta a atividade econômica, que seria resgatado pelos keynesianos, e ainda mostrou que a
agricultura obedecia ao que anos mais tarde seria chamado de Utilidade Marginal
Decrescente, porque as terras exauriam seus nutrientes com a produção em massa. Essa teoria
agro também foi bastante inspiradora para Marx.

2) Caracterize os termos da controvérsia entre Malthus e Ricardo acerca da Lei de Cereais da


Inglaterra na segunda década do século XIX, relacionando o posicionamento de cada um
desses autores às ideias por eles defendidas em suas obras. (2 pontos)

As Leis de Cereais foram uma medida protecionista (pode-se dizer paternalista) que impunham
barreiras alfandegárias para a importação de milho e davam poder de mercado aos produtores
locais, aumentando os preços do milho naturalmente para o consumidor.

Para entender o porquê de eles terem tomado posições com relação às Corn Laws precisamos
primeiro passar pelo pensamento de cada um desses pensadores. Malthus tinha uma
perspectiva bem pessimista da humanidade, acreditando que a reprodução humana era
superior à sua capacidade de gerar recursos. A contribuição de Malthus foi importante para o
desenvolvimento da História Econômica, uma vez que durante praticamente toda a história da
humanidade não se observou grandes aumentos da renda per capita, uma vez que as pessoas
se reproduziam mais quando se tinha acesso a mais recursos e assim a qualidade de vida não
tinha grandes melhoras. Ironicamente no tempo de Malthus foi a exceção conhecida como
“Grande Divergência” (Pomeranz), uma vez que na Revolução Industrial se observou um
considerável aumento do bem estar, contrário às suas previsões. Outro ponto importante no
pensamento de Malthus era que ele criticava duramente a chamada Lei de Say tão cara aos
autores clássicos, que em suma postulava que os preços de uns bens deveriam ser medidos em
outros bens, mas Malthus apontava que se isso fosse verdade se teria uma superprodução,
que não acontecia na realidade. Assim, quando se trata das CORN LAWS, Malthus se
posicionou a favor, porque em sua visão se desse mais poder de consumo ao pobre ele iria
gastar com bens supérfluos e ainda estimularia uma maior reprodução sexual da população,
levando a um ciclo de empobrecimento da população. Malthus ainda tinha uma noção
primitiva de poupança agregada, e acreditava que o poder de mercado dos agricultores
poderia fazer com que eles aquecessem a economia numa situação de recessão, caso tivessem
poupança.

Ricardo, por outro lado, era contrário a essa lei. Isso porque a teoria de Ricardo girava em
torno de gerar vantagens comparativas para permitir o crescimento econômico. Na visão dele,
o camponês deveria ganhar um salário suficiente apenas para a sua subsistência, então assim o
camponês iria ganhar um salário menor e possibilitar maiores lucros aos proprietários, que
pela lei das vantagens comparativas seria maior com mais liberdade econômica. Para Ricardo
os detentores de capital tenderiam a reinvestir o excedente obtido, então seria “ótimo” que
eles se apropriassem desse excedente, por mais absurdo que isso pareça hoje em dia.

3) Entre 1871 e 1874, Jevons, Menger e Walras escreveram, de maneira quase independente
um do outro, suas principais obras econômicas, consideradas fundantes da abordagem
marginalista. Apresente os principais elementos desta escola de pensamento, no que
concerne à definição do objeto e ao método de análise. Descreva sucintamente de que
maneira cada autor estabelece a relação entre valor e utilidade. (4 pontos)

Menger, precursor da Escola Austríaca, evitava fórmulas matemáticas muito complexas, ao


passo que Jevons e Walras tentaram formular suas teorias com rigor matemático. Mas as três
teorias ainda eram bastante parecidas, girando em torno da Teoria da Utilidade Marginal
Decrescente. Essa teoria postula que, embora o consumidor esteja sempre disposto a
consumir mais, proporcionalmente quando se tem muito de um bem ele tende a não se
valorizar tanto com o aumento da quantidade. Por exemplo, para alguém, que tem sede o
valor da água pode ser muito alto inicialmente, mas quando se mata a sede a água vai
perdendo o seu valor. Assim, diferentemente do que pensavam as escolas antigas se tinha o
valor como algo relativo e dependente do estado psicológico das pessoas. Essa Teoria Marginal
também seria importante para explicar o comportamento dos produtores, uma vez que
conforme se aumentava a disponibilidade de um único insumo sem o aumento de outros
insumos a tendência era de que eles não fossem tão úteis na produção. É claro que existia
particularidades em cada autor, como a definição de bens como algo que deve ser tangível e
necessário para Menger, ou o hedonismo grego em Jevons, mas a formalização matemática fez
com que a teoria escalasse muito rapidamente com outros autores, como Bohm-Bawerk e
Clark, servindo de base para a teoria microeconômica que é convencional até hoje em dia.
Logo, a teoria consideraria coisas como o valor no tempo dos bens, faria mensurações sobre
essas funções matemáticas e seria utilizada numa miríade de aplicações, e seria utilizada
inúmeras vezes como tentativa fazer contraposição ao marxismo. Eu diria que a obra de
Menger foi muito importante para pensadores do direito como Hayek e na divulgação da
economia para não economistas, uma vez que a explicação não matematizada é atraente para
não acadêmicos, e isso pode ser visto com a criação do Instituto Mises. Jevons e Walras, por
outro lado, criaram a base da economia na forma que é estudada até hoje.

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