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Estudos A2 - FEB

A2 2019
Q1)
Egerman e Sokoloff argumentam em seu texto no sentido de sustentar a
hipótese de que o desenvolvimento de instituições mais desiguais, inicialmente
durante a colonização e perdurando no tempo; de países como Brasil e Argentina
provocou um atraso relativo dos mesmos em relação a sociedades mais igualitárias,
como os Estados Unidos e Canadá. Para isso, eles se utilizam de três principais
comparações de instituições que teriam sido melhor desenvolvidas - em termos de
promover igualdade – no segundo grupo de países. São elas: terra, capital humano e
direito ao voto. Dentre elas, entendo o exemplo do direito ao voto como o mais
significativo e que é, na verdade, oriundo de um outro tipo de desigualdade de origem
econômica.
Os autores sugerem na parte mais inicial do texto que, as colônias da América
Latina que apresentavam altos índices de desigualdade e alta heterogeneidade
populacional vieram a apresentar experiências de desenvolvimento piores no longo
prazo. Nesse contexto, eles explicam que sociedades em que a parcela de imigrantes
europeus era menor relativamente à de escravos e nativos (alta heterogeneidade) o
poder tendia a se concentrar na mãos de poucos (elite). Com isso, era mais fácil para
esse grupo com maior influência política criar condições para a manutenção desse
poder, em especial se possui mais recursos para tal.
Dessa maneira, deter a capacidade de influenciar as decisões políticas faz com
que um grupo garanta o acesso às oportunidades de seus iguais, mas não o acesso de
forma universal. Em especial, é do interesse desse grupo que apenas ele vote em
eleições para, de tal forma, fazer a manutenção de sua posição política dominante. É
nesse sentido que os autores ressaltam que, países que aplicaram o sufrágio mais
tardiamente tinham menores ou não tinham condições de garantir a grupos com
menor poder aquisitivo (ou menor acesso a terras) a participação política.
Em outras palavras, o governo era um instrumento das elites que detinham o
acesso às terras (e, portanto, tinham influência direta em sua distribuição) e definiam
para onde seriam direcionados os investimentos do governo. Dessa forma, os autores
também apontam que sociedades que tiveram poucos investimento em educação e
infraestrutura se tornaram menos igualitárias no longo prazo, o que também explicaria
o seu menor desenvolvimento econômico.
Leff escolhe explicar o atraso relativo através das lentes do século XIX, durante
o qual o Brasil apresentou estagnação virtual de sua renda per capita. Durante esse
tempo, o autor identifica problemas que teriam impedido o país de se desenvolver,
dentre eles os altos custos de transporte, o pouco investimento estrangeiro e a
estrutura centralizada de governo. Ao mesmo tempo, os principais produtos de
exportação que costumavam ser açúcar e algodão encontravam dificuldade de
prosperar no mercado internacional; no caso do açúcar por conta da queda dos preços
e do algodão pelo crescimento da produção americana.
Enquanto esses dois produtos apresentavam performances de vendas ruins, o
café crescia no Sudeste e, portanto, observa-se uma especialização do país na
produção e venda dessa commoditie. Com isso, houve uma inversão da área mais
produtiva do país e a consequência disso foi uma dificuldade do país em crescer como
um todo. Na medida em que o Sudeste se tornava mais atrativo, existia uma
impossibilidade do Nordeste de acompanha-lo dado que as condições físicas no
segundo não eram próprias para o plantio do café. Esse descompasso tornou evidente
o problema de mobilidade no Brasil do século XIX que impossibilitava a migração da
mão de obra nordestina em direção ao Sul por conta dos altos custos de transporte.
O autor aponta que a extensão da malha ferroviária do país teria tido grande
impacto na mudança de crescimento que o país encarou na passagem para o século
XX. Contudo, no século anterior, o Brasil não era o país mais atrativo em termos de
investimento de grandes empresas ferroviárias no século XIX: os retornos tendiam a
não ser significativos o bastante para justificar o investimento.
Por outro lado – e aqui Leff dialoga com Egerman e Skoloff no argumento da
democracia – a existência de um governo centralizado dava pouca autonomia às
províncias no Brasil e, portanto, os investimentos governamentais tendiam a favorecer
mais uma região do que a outra. Isto é, um sistema mais democrático de governo teria
permitido aos agentes como um todo ter maior influência sobre o destino do dinheiro
público. O autor prova esse argumento com o fato de que, em 1889, com a instauração
de uma República Federativa, governos estaduais e locais responderam ao estímulo de
maior autonomia com o aumento do gasto em infraestrutura.
Na minha opinião, o ponto dos autores de ressaltar, cada um à sua forma, que
estruturas mais democráticas de governo promovem melhor desenvolvimento
econômico no longo prazo é o que melhor explica o atraso relativo do Brasil. Ambos
mostram que, governos que tendem a trabalhar em favor de elites não cumprem o seu
papel de desenvolver o país como um todo, gerando desigualdades estruturais de
acesso à educação, à vida política, à renda, à mobilidade...

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