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Lucas Rafael de Andrade AS Historia Ec Geral

Questão 1 (3,5 pontos)


Em sua opinião, as possibilidades de convergência dos níveis de renda per capita
das economias dos países mais pobres àqueles exibidos pelos países mais ricos era
a mesma na virada do séc. XIX para o XX do que na virada do séc. XX para o XXI?
Sim? Não? Em termos? Justifique a sua resposta.

Em primeiro lugar, cabe aqui fazer uma diferenciação entre o que é chamado de
“Globalização Clássica” e “Globalização Contemporânea”(também conhecidas como 2ª e
4ªs fases da globalização).
Na globalização Clássica temos um número pequeno de potências industriais, em geral
comércio de bens tangíveis, e a utilização do Padrão Ouro. Na Globalização
Contemporânea temos uma quantidade maior de imigrações, utilização de moedas
fiduciárias, industrialização generalizada nos países, em especial as industrias que não
precisam de mão de obra especializada. O progresso da tecnologia e a melhor alocação
de recursos caracteriza o processo moderno de globalização pelo comércio de serviços
significativamente maior em comparação com a Globalização Clássica.
Em segundo, vale uma rápida observação do gráfico:

(retirado do excelente livro de Johan Norberg, Progress: Ten Reasons to Look Forward to
the Future)
Então, se for analisado de forma max-min, vemos que de uma forma geral a pobreza no
mundo tende, de forma geral, a diminuir.
Porém, a distribuição entre os países é um fator que difere muito os dois períodos
estudados. Ou seja, durante o fim do século XIX o que se observava era uma tendência de
divergência(A Grande Divergência) entre os países, em especial na Europa, enquanto que
ao fim do século XX já se observa a convergência de diversos países, como os Tigres
Asiáticos, o Japão, entre outros, como estudado por Nakaoka. Além disso, pode se
observar abaixo, a China e a Índia apresentaram um crescimento econômico muito
expressivo- o que faz com que o Gini(que não difere localidades) tenha aumentado no
mundo.

Embora como criticado por De Long, o crescimento econômico nem sempre convirja (por
questões institucionais e de capital humano), se considerarmos o crescimento expressivo
desses países asiáticos vemos que as possibilidades de convergência são muito mais
promissoras na virada do século XX para o XXI do que o da virada do XIX para o XX.
Porém, vale notar que o processo de liberalização econômica que alguns países
passaram, segundo Dani Rodrik, pode ter atrapalhado o desenvolvimento de economias
emergentes nesse período. Analisando o estudo de Wacziarg, podemos formular a
hipótese de que, apesar de ter havido convergência numa escala global, as esperanças
sustentadas na década de 80(pelo consenso de Washington, por exemplo) de que o livre
comércio traria a convergência para todos os países subdesenvolvidos foram frustradas.
Questão 2 (3,5 pontos)
Em sua opinião, qual configuração do ‘trilema’ de Mundell se mostrou superior,
historicamente, em termos de permitir maior estabilidade à economia internacional e
taxas maiores de crescimento econômico? Justifique a sua resposta.

De acordo com o modelo IS-LM-BP, desenvolvido por Robert Mundell, é impossível que se
tenha, ao mesmo tempo, câmbio fixo, política monetária independente e liberdade no fluxo
de capitais ("Tríade Impossível", ou “Trilema de Mundell-Fleming”).

Quando se usava o Padrão Ouro Clássico, os governos não faziam uso de políticas
monetárias para poder manter a convertibilidade entre suas moedas e o ouro. Porém
nessa época os governos não tinham grandes objeções à diminuição de salário dos
trabalhadores, então não tinham grandes preocupações com relação a eventuais
recessões. No Sistema de Bretton Woods, foi sacrificada a liberdade no fluxo de capitais,
para que se pudessem fazer políticas monetárias de forma a manter o emprego (onde o
equilíbrio interno assume papel central). Ou seja, para ajustar as taxas de câmbio as
economias interferiam o fluxo de capitais diretamente, apesar que geralmente não eram
feitos ajustes nas taxas de câmbio (porque se houvesse expectativa de desvalorização da
moeda, havia fuga de capitais, numa espécie de ciclo de desvalorização).

Em 1958 deixaram de ser feitos controles sobre transações comerciais, possibilitando o


superfaturamento das importações para repatriar capital sem efetuar transações
financeiras (que eram controladas, mas depois deixaram de ser), dificultando a
determinação da situação do BP(sem saber como, portanto, determinar o câmbio ideal- ver
Pauly, páginas de 155 a 179, edição de Oxford)

Como os gastos dos Estados Unidos na Guerra Fria geraram um clima de desconfiança
com relação à conversibilidade dólar-ouro, então a América decide unilateralmente
abandonar o sistema em 1971, no Nixon Shock, que torna o dólar fiduciário, então foi
adotado o sistema de câmbio flutuante e as restrições dos fluxos de capitais foram
relaxadas.

Vale mencionar também um ‘trilema’ importante na economia moderna criado por Dani
Rodrik, que afirma ser impossível se ter integração global, estado-nacional e democracia
ao mesmo tempo.

Nas décadas seguintes, a América e as instituições internacionais continuam a influenciar


medidas econômicas liberalizantes nos países subdesenvolvidos. Por exemplo, os países
América latina tiveram suas economias devastadas com a política monetária de Volcker
em 1979, em resposta ao Segundo Choque de Petróleo, fazendo com que as dívidas
explodissem nesses países, levando a uma década perdida nos anos 80(aqui não está
sendo dito que a “culpa é do fed”, pois o motivo pelo qual os países latino-americanos
contraíram essas dívidas se deve em grande parte ao fato de estarem sob ditaduras). Além
desse exemplo, vale mencionar por exemplo os apoios a medidas liberalizantes (redução
de impostos, cortes de gastos, privatizações, entre outros) estão nos governos de
Babaginda na Nigéria, e Corazon Aquino nas Filipinas.

Dessa forma, ao final do século XX, com a ‘configuração do modelo de Mundell-Fleming’


de forma a permitir os fluxos de capitais de forma livre, além da abertura econômica
causada pela dissolução da União Soviética(obs:a União já havia implementado uma
política de liberalização econômica na década de 80, “perestroika” e “glasnost”, mas a
Dissolução de certa forma eliminou de vez a “ameaça soviética”, ou seja, a influência da
União Soviética na economia e política de alguns países), questões internas dos países e
o retorno da influência da América(e outros países desenvolvidos), fez com que o cenário
internacional se tornasse de certa maneira bastante homogêneo. Assim, nesta última
configuração pode-se dizer que se permitiu uma maior estabilidade no equilíbrio externo- já
que por exemplo no Sistema de Bretton Woods era priorizado o equilíbrio interno.

Porém, na minha opinião, quando se trata de crescimento econômico, não se pode dizer
que o sistema monetário tem tamanha influência. Em primeiro lugar, é bem conhecido na
literatura que o crescimento econômico é afetado por variáveis como capital humano,
tecnologia, quantidade de terras, etc(ver material do Barro e Lucas, nas referências). Em
segundo lugar, o regime monetário adotado está muito relacionado com a estrutura
institucional(na minha opinião, mas não tenho referências que comprovem isso) do país,
então quaisquer coincidências estão relacionadas com outras questões institucionais do
país(por exemplo, se há ditadura ou não, se há intenção política de integração econômica,
entre outros), e essas questões institucionais que podem estar influenciando o crescimento
econômico e o regime monetário(em econometria chamamos de problema de
endogeneidade da variável omitida, quando uma mesma variável causa dois efeitos, mas
dá a impressão de que essas consequências estão correlacionadas).
Questão 3 (3,5 pontos)
É comum dizer-se que os Estados Unidos aprenderam com os erros cometidos no
pós-1a Guerra e que tal aprendizado condicionou a sua estratégia de reconstrução
da economia mundial no pós-2ª Guerra. Quais foram as ‘lições’ aprendidas pelos
norte-americanos após a ‘Grande (1ª) Guerra’? Como é que elas informaram suas
políticas e as instituições que eles ajudariam a colocar de pé após a 2ª Guerra?
Elabore.
Cabe aqui dar uma explicação dos “erros” cometidos no pós-Guerra.
Em primeiro lugar, a Alemanha foi responsabilizada por causar a Grande Guerra, fazendo
com que a situação econômica da Alemanha no pós guerra ficasse fragilizada e deixasse
um clima de revanchismo na população alemã(no “diktat” de Versalhes, nos artigos de 231
a 247, a Alemanha ficaria responsável por reparar as nações da Tríplice).
Outro erro cometido por vários países na saída da 1ª Guerra foi a falta de uma
infraestrutura financeira, causada por um sistema monetário internacional débil, falta de
competência fiscal e sistema financeiro também pouco desenvolvido. A situação foi
agravada pela crise de 29, levando ao caos em diversos países pela Europa.
Desde o fim da 1ªGuerra existia um forte interesse em uma integração pacífica entre as
principais potências industriais, para que houvesse uma convivência pacífica entre as
nações e que priorizassem uma harmonia sinérgica e pacífica entre elas. Um exemplo de
tentativa de unificação foi a “Liga das Nações”, em 1919. Porém, com os problemas
mencionados acima, a Segunda Guerra aconteceu de qualquer forma. Durante a Segunda
Guerra, porém, ocorreu um planejamento para o cenário global no pós-guerra. Em 1939,
com a liderança do Departamento de Estado dos EUA, é lançada a “Declaração das
Nações Unidas”, que serviria de base para a formação da ONU.
Os Acordos de Bretton Woods no pós-2ªGuerra são uma tentativa de unificação do
sistema monetário das potências industriais, que utiliza do lastro das moedas em ouro
como um dos pilares para a organização de um sistema monetário eficiente que permite
uma maior integração do comércio internacional.
Instituições econômicas internacionais também são criadas, como o FMI e o Banco
Mundial, após os Acordos de Bretton Woods, todos parte de um longo planejamento
expressos na “Carta do Atlântico”, por exemplo. Os Estados unidos lançam, então, o
Plano Marshall, que concede recursos aos países com acordos de abertura econômica e
modernização da indústria em troca de suporte financeiro.
Depois da Segunda Guerra, o Plano Marshall incluía a Alemanha na lista de países a
serem reparados, assim havia uma tentativa de quebrar o revanchismo, seguindo a ideia
de Keynes em Consequências Econômicas da Paz
Houveram planos semelhantes na Ásia, que não entram na contabilidade do Plano
Marshall, de acordo com Bayard (1955), pg 368. Não obstante segundo Martin(2001),
diferentes estudos consideram diferentes elementos de ajuda americana como parte do
plano Marshall.
Houveram críticas ao Plano Marshall por alguns economistas notáveis da época, como
Röpke, Hazlitt e Mises, que influenciaram profundamente as decisões do chanceler
Erhard(segundo o próprio, em Erhard(1966), p22, versão encontrada no Jstor ) na
Alemanha. Segundo esses economistas deveria se deixar de lado o planejamento central e
investir em uma desregulamentação econômica, que em sua autobiografia, Greenspan
afirma ter sido determinante para a ocorrência do Milagre Alemão e que influenciou a
recuperação de vários países da Europa.
Concluindo, o que difere o cenário no pós-guerra entre as Grande Guerras está na
solidariedade adotada pelos Estados Unidos em reconstruir a Europa, além de um
amadurecimento das relações econômicas internacionais. Porém, ainda é difícil categorizar
essas diferenças como “lições apreendidas”, seria mais fácil utilizar-se da expressão
“oportunidade aproveitada” dos Estados Unidos em aumentar a sua influência e combater
o bloco soviético

Referências

Nakaoka, T. (1990) International Comparisonof Technological Formation-social capability of


industrialization.

René Vilarreal (1984), A CONTRA-REVOLUÇÃO MONETARISTA, Ed. Record, Rio de


Janeiro

Eirc Helleiner; Louis W Pauly; et al. (2005). John Ravenhill (ed.). Global Political Economy.

Lucas, Robert E., Jr. (2003) The Industrial Revolution: Past and Future
Barro, Robert J. (1997) Determinants of Economic Growth: A Cross-Country Empirical
Study.

Price, Harry Bayard (1955). The Marshall plan and its meaning

Erhard, Ludwig(1966), In Memoriam Wilhelm Röpke

Schain, Martin (2001). The Marshall Plan: Fifty Years After

Maurício Mesquita Moreira(1999)- A Indústria Brasileira nos Anos 90. O que já se Pode
Dizer?(Em “A Economia Brasileira nos Anos 90”)

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