Você está na página 1de 4

A Economia Política do

Sistema Colonial
Nesse artigo, Jorge Pedreira busca estudar as transformações da
economia política que acometeram o sistema colonial. Transformações essas
que reforçavam cada vez mais o papel do Brasil como joia da Coroa das
colônias lusitanas. Como um importante burocrata afirmou na época, “é
evidente que sem o Brasil, Portugal é uma insignificante potência; e que o
Brasil sem forças é um precioso tesouro abandonado a quem o quiser
ocupar”. Pode-se perceber assim que o Brasil não era visto apenas como
fornecedor de prosperidade e segurança, mas como a própria garantidora de
Portugal como Estado independente.
Assim, Portugal foi condenado a uma posição paradoxal: os mesmos
domínios ultramarinos o comércio colonial que alçaram Portugal de um
pequeno reino a um grande império, também suscitaram a cobiça de outros
impérios, criando riscos à integridade territorial lusitana e à Coroa. O
equilíbrio de poderes entre os Estados europeus e a possibilidade de escolher
entre alianças alternativas permitiram conter a ameaça de desmembramento
do Império. Contudo, a desproporção de força das potências atlânticas
mantinha viva a ameaça, tanto na Europa quanto nos próprios domínios.
Vale destacar que uma consequência da falta do Império lusitano,
desproporcional à extensão e dispersão do Império, levaram muitas colônias a
serem responsáveis pela própria defesa. O autor destaca ainda que após a
Guerra de Sucessão Espanhola, Portugal deixou de desempenhar um papel
ativo na arena continental, passando a confiar na Aliança Inglesa como
contrapeso às outras ameaças regionais.
Entre os diversos conflitos luso-espanhóis em seus domínios
americanos, o mais significativo foi pela Colônia de Sacramento, um enclave
português próximo a Buenos Aires e que funcionava como um entreposto de
contrabando. Inúmeros tratados foram assinados na tentativa de encerrar os
confrontos, mas muitas vezes a resistência dos colonos de trocar de suserania
sustavam os acordos.
O autor agora avança para o período em que Sebastião José de
Carvalho de Melo, mais conhecido como Marquês de Pombal, é designado
primeiro-ministro de Portugal. Há no senso comum a crença de que seu
governo não possuía um programa bem definido, simplesmente respondendo
aos problemas circunstanciais à medida que surgiam. Essa visão tende a omitir
o fato elementar de que a própria definição desses problemas como tais,
subordinava-se à apreciação que Pombal fazia deles, essa por sua vez ligada às
suas crenças e concepções. Dessa forma, talvez não tenha havido um
programa, mas sem dúvida houve um sistema.
Analisando de forma global, o Marquês de Pombal era um seguidor do
mercantilismo, defendendo que o comércio internacional era um jogo de
soma zero. Pombal também defendia a primazia do comércio colonial sobre o
estrangeiro, pois baseava-se nas vantagens da segurança, estabilidade e um
competição limitada. Por fim, ele era um defensor de grandes companhias
monopolistas, por defender que estas tinham maior capilaridade para
competir com estrangeiros e davam ao estado uma maior arrecadação.
Acerca das colônias, o principal princípio que guiava a política colonial
pombalina é de que nada valia a posse desses domínios e sua defesa para o
Estado português se este não pudesse usufruir plenamente das vantagens, isto
é, das riquezas que essa posse lhes pode trazer. Dessa forma, seu primeiro
foco foi sobre os recursos que de forma mais imediata podiam ser colocados
ao dispor da Coroa, como o ouro, por meio do régio e do quinto.
Pombal também introduziu mudanças na regulação geral do comércio e
da navegação entre Portugal e o Brasil e em particular, na circulação das
mercadorias que mais animavam o movimento mercantil, o açúcar e o tabaco.
Essas medidas permitiram reduzir o contrabando e introduzir um maior
controle sobre os preços e a qualidade dos produtos, contudo, foram
ineficazes para restituir a Portugal o pleno controle do tráfego de seus
domínios.
Além disso, essas medidas foram incapazes de quebrar a forte
influência dos comerciantes ingleses, considerados por Pombal os culpados
pela decadência e sujeição da nação. Na sua visão, os negociantes britânicos
eram privilegiados por tratados desiguais que lhes permitiram possuir uma
evidente ascendência sobre o comércio português, com as nações estrangeiras
e com os próprios domínios.
De forma prática, Pombal acreditava que os negociantes ingleses
estabelecidos em Portugal controlavam o comércio, estabelecendo a
quantidade, qualidade e data do fornecimento, assegurando para só a maior
parte dos lucros. Para isso, esses negociantes exploravam as vantagens de
amplos recursos sobre o capital para comandar um sistema de crédito que
sustentava o comércio luso-brasileiro. Os comerciantes portugueses se
beneficiavam de longos prazos para os bens que adquiriam com os britânicos,
e por sua vez, cediam esses créditos aos seus principais no Brasil, lubrificando
o comércio. Dessa forma, graças a sua capacidade de oferecer créditos de
longo prazo, os ingleses acabaram por dominar o comércio luso-brasileiro.
Pombal, visando desmantelar esse sistema, teve que forjar novas
instituições e agentes que pudessem expandir o comércio sem depender do
crédito português. Para isso, Pombal criou várias companhias monopolistas
que controlariam o comércio dentro do brasil, a mais famosa sendo a
Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão. Os jesuítas se opuseram
fortemente à formação dessas companhias, por temerem perder o controle
das grandes propriedades e companhias mercantis que tinham constituído.
Pombal foi implacável e prendeu os líderes dos protestos, iniciando uma
relação conflituosa com essa parte do clero que durou até o fim do seu
governo.
Paralelamente, Pombal precisava de uma instituição que substituísse
aquela irmandade para efeitos de representação da comunidade mercantil,
criando para isso a Junta do Comércio. A Junta passou a conceder aos
homens de negócio um regime fiscal especial, que os distinguia dos lojistas
comuns e lhes permitiram acender socialmente. Dessa forma, Pombal
mostrava compreender que para consolidar o corpo mercantil, não bastava
lhes dar acesso a novas oportunidades de lucro, era necessário erguer essa
profissão a um patamar social mais elevado.
Voltando às companhias monopolistas, elas foram bem-sucedidas em
promoover o comércio e a agricultura em regiões menos dinâmicas e para
manter o controle dos nacionais sobre essas atividades, mas nunca serviram
para aumentar as finanças da Coroa. Pelo contrário, seus incontáveis
privilégios provavelmente chegaram a drenar recursos do império. Um outro
papel crucial dessas corporações foi favorecer a emergência de uma elite
mercantil-capitalista, que viria a substituir os senhores de engenho como o
novo topo do estrato social brasileiro.
Após a morte do rei Dom José, Pombal foi afastado do ministério e
várias petições foram encaminhadas à rainha, extremamente católica,
solicitando a supressão dessas companhias. A rainha acabou por decidir a
favor dos jesuítas e negociantes privados e ordenou a liquidação da
companhia. Contudo, o enraizamento de atitudes rentistas entre as
comunidades mercantis já estava consolidado, o que teve amplas
consequências para o futuro do Império.
Analisando o período pombalino de forma mais ampla, pode-se
constatar que Pombal não seguia os preceitos mercantilistas de forma
dogmática. Ele acreditava que o comércio era uma guerra por posições no
sistema internacional, mais eficiente e rentável que a própria guerra, e para
tanto estava empenhado em restituir o monopólio do comércio colonial aos
portugueses, contudo, ele não impedia o desenvolvimento, nas margens do
sistema, do comércio entre as colônias. Na perspectiva global do Império, ele
considerava essas relações indispensáveis ao funcionamento do sistema, de
forma que o pacto colonial, pelo menos na sua visão mais restritiva, não
representava um objetivo da política pombalina.

PEDREIRA, J. A economia política do sistema colonial. In: ______ O Brasil Colonial. [S.l.]: [s.n.],
v. III, Cap. 8, p. 419-460.

Você também pode gostar