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HISTÓRIA DO BRASIL COLONIAL II / FLH 242 / 2 O . SEM.

2023
EXERCÍCIO FINAL PARA AVALIAÇÃO DO APROVEITAMENTO DO CURSO
NOME:
NUSP:
TURMA:

Questão 1:
No contexto da fragilidade da colonização portuguesa no século XVII, que
começou a enfrentar a concorrência de outras potências europeias mediante
ataques constantes, como ocorreu nas invasões holandesas no nordeste.

A presença de africanos fugitivos que buscavam refúgio no interior para


escapar da escravidão não representava uma novidade, sendo relatada desde os
primórdios do uso de mão de obra africana no Brasil. No entanto, o adensamento
dessas comunidades tornou-se um ponto crucial durante a invasão holandesa.

As estratégias de penetração nos sertões, fundamentadas na pecuária,


expandiram as fronteiras da colônia cada vez mais para o interior, intensificando os
conflitos não apenas com a população indígena, mas também com os
agrupamentos de ex-escravizados.

Outra característica desse momento, como defendido por Alencastro 1, é que


esse conflito estava presente em ambas as margens do Atlântico, estando
conectado ao estágio da colonização de Angola e aos conflitos nos quilombos no
Brasil.

O trecho visa denunciar que, durante a guerra travada contra os quilombos,


havia grupos de proprietários que colaboraram com os quilombos e prejudicava os
portugueses. Indicando que o medo exercia uma pressão considerável num
momento em que a falta de força no combate contra os quilombos empurrava os
proprietários para o abismo, forçando-os a negociar com o inimigo em busca de
proteção.

Uma das denúncias presentes no trecho é que Portugal falhou em proteger os


colonos dos quilombos, sendo incapaz de combater esses inimigos que
corromperam os servos do rei. No entanto, também se denuncia a ação dos
proprietários que, para evitar punições imediatas, preferiam suportar futuras
penalidades decorrentes do crime de auxiliar inimigos de guerra.

1 Luis Felipe de Alencastro, “História Geral das Guerras Sul-Atlânticas: o episódio de Palmares” in:
Flávio Gomes (org.), Mocambos de Palmares. História, historiografia e fontes. Rio de Janeiro,
7Letras, 2009, pp. 62.
Portanto, fica evidente que essa situação beneficiava apenas os quilombos, que
obtinham acesso a armas, pólvora e ouro em detrimento da coroa, destacando a
necessidade de uma intervenção mais enérgica de Portugal na destruição dos
quilombos.

Questão 2:

O vínculo entre o sistema escravocrata e a mineração é evidenciado nas


disposições relacionadas à distribuição de datas de exploração de ribeiros auríferos.
O documento estabelece que a repartição das terras para exploração seria
influenciada pelo número de escravos que cada indivíduo possuía. Aqueles que
detinham doze escravos ou mais eram beneficiados com uma data mais extensa, de
trinta braças, conforme o estilo da época. Por outro lado, aqueles que não atingiam
esse número de escravos recebiam uma distribuição proporcional de duas braças e
meia por cada escravo.

Essa prática evidencia a dependência do sistema escravocrata para a viabilidade


econômica da atividade mineradora. A posse de mão de obra escrava era
fundamental para a exploração eficiente das minas de ouro, e a quantidade de
escravos detidos por um indivíduo determinava não apenas sua capacidade
produtiva, mas também a extensão da área que poderia explorar.

Além disso, o método de distribuição mediante sorteio, como descrito no


documento, visava garantir uma aparente imparcialidade na repartição das terras,
evitando que acusações de favorecimento ou dolo surgissem.

Esse sistema, no entanto, não mitiga a injustiça intrínseca do sistema escravocrata,


que subjuga os indivíduos escravizados, enquanto favorecia aqueles que detinham
maior quantidade de mão de obra cativa.

Em resumo, o trecho do documento destaca como o sistema escravocrata


desempenhava um papel central na organização da atividade mineradora na colônia
portuguesa, influenciando diretamente a distribuição de terras e recursos entre os
colonos envolvidos na exploração aurífera.

Questão 3:

a - Minas como Motor Inicial da Interiorização

No trecho "a", busca-se analisar o processo de integração da economia brasileira


com foco na produção de ouro em Minas Gerais, e como isso possibilita a conexão
das ilhas isoladas de produção regional, principalmente no interior.
Dessa forma, as cadeias produtivas de diferentes pontos do Brasil são direcionadas
para alimentar a produção de ouro em Minas Gerais, impulsionando uma máquina
que vai conectando e integrando economicamente o território da colônia portuguesa
nas Américas.

A abertura desse novo campo produtivo estruturou o caminho para a constituição de


diversos polos isolados no Brasil colonial, desenvolvendo pela primeira vez relações
internas suficientemente fortes para construir novas formas de interligação,
distintas das anteriores.

b - Mercado Interno e Fragmentação na América Portuguesa

No outro trecho, o mercado interno é definido como um mercado integrado, não


isento de barreiras como uma sociedade de mercado, mas com forças que se
alimentam e interagem entre si.

Entretanto, na argumentação, observa-se que a América portuguesa possuía um


mercado interno ainda bastante fragmentado, onde as relações entre diferentes
partes do território serviam à lógica de metrópole e colônia.

A existência de um mercado não revela uma relação necessária de caminhos.


Discute-se se o mercado é um organizador da sociedade ou um resultado dela. Essa
tese pode ser associada às queixas de políticos baianos, conforme descritas por
Virgílio Noya Pinto2.

Nesse sentido, questionam o foco da coroa em Minas, em detrimento ao comércio


de açúcar, que via suas formas de subsistência declinando e sendo direcionadas
para Minas. Portanto, há uma intenção por parte dos atores econômicos, que
desenvolvem dinâmicas e situações inexplicáveis apenas pelo mercado,
considerando-o como o resultado das ações desses atores.

A lógica predominante do comércio está na relação da colônia com a metrópole,


sendo os atores econômicos os principais definidores da organização econômica,
com o mercado sendo o resultado dessas decisões que buscam a hegemonia.

No primeiro trecho, busca-se definir as forças do mercado como elementos que


alimentam e organizam a sociedade, destacando a construção desse cenário a
partir das descobertas das minas de ouro, as quais contribuem para o
desenvolvimento de um mercado compartilhado.

2 Virgílio Noya Pinto, “O ouro brasileiro” (cap. 2) in: idem O ouro brasileiro e o comércio anglo-
português. São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1979, pp. 57.
No entanto, surge um ponto de confronto na direção dessa concepção no segundo
trecho. Este defende que essa dinâmica continua vinculada ao papel da metrópole, a
qual direciona outras camadas da sociedade em direção às minas de ouro.
Simultaneamente, questiona-se o apagamento dos atores que desempenham um
papel crucial para o funcionamento do comércio durante a colonização do Brasil.

Questão 4:

Portugal iniciou uma transformação significativa na sua abordagem de ocupação na


América, orientada pela busca por uma gestão mais racional do espaço e pelo
estabelecimento de fronteiras mais concretas. Esse redirecionamento estratégico
se desdobrou em meio a um cenário de acirrada competição entre as potências
europeias, todas ávidas por consolidar suas posições no vasto continente
americano.

A necessidade de intensificar a presença no interior do território derivou não apenas


da concorrência entre as potências colonizadoras, mas também dos critérios
exigidos para a reivindicação efetiva de territórios. A interiorização do Brasil, assim,
tornou-se uma busca contínua para Portugal, que por longo período manteve sua
presença majoritariamente nas margens litorâneas.

A fronteira nebulosa do interior do Brasil, entretanto, transformou-se em um campo


altamente disputado, especialmente com a descoberta do ouro, que emergiu como
uma base produtiva crucial para o desenvolvimento econômico e estratégico do
Brasil colonial.

Outro elemento dinâmico crucial foi a expansão em direção à Amazônia. Esta vasta
região encontra-se fora do controle efetivo português. Contudo, à medida que
planos estratégicos foram delineados, a Amazônia assumiu um papel central nas
aspirações de Portugal,

O trecho do documento revela a intenção das monarquias de Espanha e Portugal em


resolverem as disputas territoriais entre si, especialmente aquelas relacionadas aos
Tratados anteriores. .constituindo uma forma de arranjo analisado pela Júnia
Furtado3, que defende que depois desse tratado se tem uma invenção do Brasil
tendo cartografia com campo de batalha.

3 Júnia Furtado, “Às vésperas do Tratado de Madri: a diplomacia e o uti possidetis” e “A invenção do
Brasil?: uma guerra de imagens” in: idem, O mapa que inventou o Brasil. Rio de Janeiro, Versal,
2013, 352-360
Essa declaração é crucial para a história da presença portuguesa na América, ao
denotar um esforço diplomático em definir limites territoriais de consenso. E regular
as disputa políticas entre as potências, reunindo posições dos diversos tratados
anteriores, e será essencial na formação do Brasil como ele é no presente.

REFERENCIAS:
Júnia Furtado, “Às vésperas do Tratado de Madri: a diplomacia e o uti possidetis” e “A invenção do
Brasil?: uma guerra de imagens” in: idem, O mapa que inventou o Brasil. Rio de Janeiro, Versal,
2013, 352-360
Luis Felipe de Alencastro, “História Geral das Guerras Sul-Atlânticas: o episódio de Palmares” in:
Flávio Gomes (org.), Mocambos de Palmares. História, historiografia e fontes. Rio de Janeiro,
7Letras, 2009, pp. 62.
Virgílio Noya Pinto, “O ouro brasileiro” (cap. 2) in: idem O ouro brasileiro e o comércio anglo-
português. São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1979, pp. 57.

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