Você está na página 1de 8

Raphael Freitas Santos* zyxvutsrqponmljihgfedcbaZXVUTSRPONMLJIHGFEDCBA

Juramentos de alma
Indícios da importância da palavra no universo colonial mineiro utsromecbaRA

Resumo
Uma característica marcante da América portuguesa, em o século XVIII foi a precária circulação monetária
- mesmo na capitania de Minas Gerais. Por isso, a própria sociedade forjou, no cotidiano, uma solução: efetivou
como uma nova moeda, no conjunto das transações diárias, a palavra, escrita ou falada, que coexistiu com a
circulação de outras moedas, principalmente do ouro em pó. Em ambos os casos, entretanto, a confiança foi o
principal pilar que sustentou uma estrutura tão frágil quanto às cadeias de dividas ativas e passivas. Esta confiança
na capacidade do devedor vir a pagar sua dívida era acompanhada por constrangimentos de ordem social que
pesavam sobre os devedores. O não pagamento de uma dívida poderia afetar negativamente a reputação de um
indivíduo, além de causar transtornos legais como citações para comparecer em audiências judiciais. Exemplos
de "transtorno judicial" foram os processos de ação de alma. Nesses processos, as pendências financeiras e
outros conflitos eram resolvidos por meio de um juramento sobre os livros sagrados do Evangelho. Lançaram
mão desse artificio jurídico, principalmente, aqueles que foram lesados em alguma transação comercial - seja
ela escriturada em documentos privados ou públicos, ou apenas feitas de palavra. Parte de uma dissertação de
mestrado, o texto buscará, a partir da documentação cartorial, analisar a importância da palavra e da honra no
universo colonial mineiro. Para tanto, serão comparados os resultados encontrados em duas comarcas mineiras:
Rio das Velhas e Ouro Preto. ywvtsronlhedcbaTPKF
Palavras-chave: Crédito, Ação de Alma, Minas Gerais, século XVIII.

Abstract
An outstanding characteristic of Portuguese America in the XVIIIth Century was a precarious monetary circulation
- even in the Captaincy of Minas Gerais. For that reason society itself forged, in its daily life, a solution: the
word, written or spoken, became a new currency in everyday transactions and coexisted with the circulation
of other currencies, mainly, gold in powder. In both cases, however, trust was the main pillar that maintained
a structure as fragile as the chains of passive and active debts. The trust in the capacity of the debtor to pay his
debt was accompanied by constraints of social order that weighed on debtors. The non-payment of a debt could
affect negatively the reputation of an individual. Besides, it could cause legal problems, such as convocations
to appear in judicial hearings. Examples of "legal problems" were the ações de alma (Trials of the Soul). In
those civil trials, financial disputes and other conflicts were resolved through an oath over the Bible. Such legal
stratagem was used mainly by those who were wronged in a commercial transaction - written in private or public
documents, or only made orally. Part of a Master Dissertation, this text will attempt, through the documentation
produced by public notaries, to analyze the importance of speech and honor in the universe of Eighteenth-
Century Minas Gerais. In order to do so we will compare the results for two comarcas (Districts) of Minas
Gerais: Rio das Velhas e Ouro Preto.
Keywords: Credit, Trial of the soul, Minas Gerais, XVIIIth Century.

Mestre em História Social da Cultura/U FM G; Prof. da Faculdade ASA - Brumadinho/MG.

491
Juramentos de alma zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Indícios da importância da palavra no universo colonial mineiro
Raphael Freitas Santos

O crédito e a historiografia mineira

A . s operações de crédito realizadas durante o período colonial foram fundamentais


para fazer circular produtos de origens diversas no interior da América portuguesa. O costume de
comprar fiado, por exemplo, era tão difundido nas Minas que os testamentos e inventários post-mortem,
principalmente de comerciantes, eram repletos de listas de seus devedores e credores. Comprava-se de tudo
fiado: pães, farinha, carne, casas, tecidos, escravos, cachaça, indumentárias em geral, animais, artigos de
luxo, propriedades rurais.
No entanto, a historiografia sobre as Minas setecentistas, muito pouco disse, até agora, a respeito das
atividades creditícias nessa sociedade. Isso porque, a existência de uma intensa atividade creditícia nas
Minas só passou a ser considerada a partir do momento em que um comércio vivaz, inclusive de produtos
voltados para o mercado interno, começou a ser detectado na Capitania. Além disso, não faria sentido
analisar atividades creditícias em regiões em que habitava, apenas, uma população nômade e aventureira. 1
A utilização de práticas creditícias, nas trocas comerciais, inicialmente, foi vista com certo espanto.
De acordo com Zemella, "as transações nas Gerais, por incrível que pareça, eram mais comumente feitas a
crédito do que mediante pagamento à vista". 2 O espanto se justificaria já que "parece estranho que populações
que viviam direta ou indireta da extração do ouro, não tivessem esse metal para saldar suas obrigações". 3
Ainda nessa perspectiva, o crédito, ou melhor, o endividamento, corroborando o discurso dos
memorialistas e funcionários da Coroa, 4 foi considerado como um dos motivos da decadência da economia
mineira. U m a vez que "o delírio do crédito embriagava os mineradores, (...) e muitos deles acabaram se
arruinando". 5 "Foi na compra de escravos que o abuso do crédito chegou ao auge. Os mineradores, na sede
insaciável de extrair ouro da terra, e sabendo que quanto mais escravos possuíssem, mais ouro obteriam,
empenhavam-se com os mercadores da mão de obra negra, na esperança de poder pagá-los com os lucros
das faisqueiras". 6
Essa situação, somada aos gastos com a importação de misteres básicos para as Minas, gerou um elo
de endividamento estabelecido a partir da região mineradora que reforçou a situação de dependência da
economia mineira ao "capital mercantil/usurário" internacional. "Esse sistema empenhava o explorador das
minas em face dos comerciantes locais; estes por sua vez, deviam as praças do Rio e Bahia, e os últimos, em
elos sucessivos, deviam aos negociantes de Lisboa, os quais também deviam somas importantes à feitoria
britânica". 7
A cadeia de endividamento descrita acima reproduz a idéia de que a economia colonial, por estar
extremamente subordinada ao mercado internacional, tinha sua riqueza totalmente apropriada por agentes
externos, não possibilitando, dessa forma, qualquer acumulação interna. Nesse sentido, o crédito foi
entendido, em um primeiro momento, apenas enquanto um instrumento do "sistema colonial", responsável
por um outro caminho de transferência da riqueza gerada na Colônia, para fora dela. 8 A inexistência de
todos os setores produtivos em um mercado interno para a reprodução da formação colonial, aliado às
cadeias de endividamento, teria impedido a possibilidade de existir uma acumulação autocentrada - o que
reforçaria a posição de dependência da América portuguesa em relação ao mercado europeu.
Entretanto, conforme vem demonstrando a historiografia recente, assim como existia a presença
significativa de um mercado interno que possibilitaria a retenção de parte do excedente colonial, existia,
também, "uma elite mercantil, originárias de tais acumulações endógenas à qual caberia a apropriação e
controle de parte do excedente retido na formação colonial". 9 O capital mercantil residente surgiu, nesse
Sentido, como um agente importante na reprodução da sociedade colonial, assim como de sua e c o n o m i a . I s s o
porque, as cadeias de endividamento que viabilizaram o crédito, e, conseqüentemente, a própria reprodução

492
da economia mercantil, poderiam se encerrar em agentes residentes na própria economia considerada. Por
sua vez, esses agentes, que tinham a praça do Rio de Janeiro um dos seus núcleos, também se estendiam a
outras regiões na América portuguesa e fora dela."
Essas verdadeiras "cadeias de dívidas" nos dão uma dimensão precisa do mecanismo de endividamento
na sociedade colonial. 12 Elas funcionavam mais ou menos da seguinte forma: no cume da pirâmide mercantil
estavam aqueles que João Luís Fragoso chamou de "homens de grossa aventura" - sejam eles do Reino,
da Inglaterra, ou do Rio de Janeiro - que emprestavam ou adiantavam produtos aos seus comissários,
responsáveis por abastecer e/ou fornecer empréstimo para uma casa comercial de alcance regional. 13 Esta,
por sua vez, financiava à credito seus produtos às lojas e vendas, nas quais o proprietário negociava fiado o
produto com os consumidores finais.14 Os lucros obtidos pelos negociantes por grosso eram os maiores, por
que se tratava da acumulação do sobretrabalho de uma série de pessoas a eles subordinadas.
Entretanto, é impossível imaginar que os comerciantes mineiros estavam completamente subordinados
economicamente às grandes casas comerciais externas à Capitania. Possivelmente eles auferiam significativos
lucros nessas transações - embora uma parte dele fosse utilizada, de fato, para saldar suas dívidas. Se, por
um lado, "era hábito os comerciantes atacadista do Rio de Janeiro, Bahia e Portugal adiantarem estoques,
ou emprestarem dinheiro, para os comerciantes nas Minas, criando laços de endividamento";' 5 por outro,
"os grandes atacadistas estabelecidos em Minas tornaram-se importantes linha de crédito interno, o que fez
com que o pequeno comércio recorresse a esses em busca de financiamento".16
Dessa forma, é possível pensar que, mesmo subordinados, em parte, às casas comerciais cariocas e/ou
metropolitanas, teria havido a possibilidade de acumulações regionais por parte de alguns comerciantes
mineiros - muito embora com uma margem de lucro bastante inferior àquelas conseguidas pelos comerciantes
litorâneos. Além disso, os comerciantes mineiros não só faziam a ligação com o litoral, mas também entre
os mercados regionais - onde eram produzidos gêneros necessários ao abastecimento da população das
Minas.
Nesse sentido, o capital mercantil nas Minas Gerais teria desenvolvido seus próprios "homens de
grossa aventura", ainda que em proporções bem menores, que financiaram o consumo da Capitania por
meio de atividades creditícias. Esses comerciantes apesar de auferirem lucros bem menores que seus
correspondentes litorâneos, por outro lado, estavam menos subordinados às flutuações externas, já que boa
parte da riqueza provinha do comércio de gêneros produzidos e consumidos regionalmente.
Devido à ausência de instituições bancárias e de crédito no Brasil colonial, os comerciantes, não
obstante, freqüentemente, adiantarem mercadorias, se apresentaram como os principais agentes financiadores
da economia mineira setecentista. 17 Por esses e outros motivos - como a irregularidade das receitas e a
sazonalidade da produção - desenvolveu-se nas Minas uma enorme variedade de práticas creditícias,
Mas essas operações, na maioria das vezes, foram realizadas à moda do Antigo Regime: garantidas
por meio "de um fio de bigode", conforme expressão usada na época. Apesar de ter conhecimento de
várias técnicas mercantis, como "compras e vendas de mercadorias, o empréstimo a juros, a técnica do
câmbio, as letras de feira e de câmbio, a escamoteação da usura pelozyxvutsrqponmljihgfedcbaZXVUTSRPONMLJIHGFEDC
trinus contractus, e, principalmente,
a contabilidade sua forma mais acabada e desenvolvida das partidas dobradas", 18 o homem setecentista
carregava uma visão de mundo na qual economia, religião e cultura se entrelaçavam em uma tecedura fina
e indissociável.

O crédito e a palavra

As operações de crédito estavam ancoradas, principalmente, em conhecimentos pessoais e baseadas


na confiança que advinham desse mesmo conhecimento. Esta confiança na capacidade do devedor vir a
pagar sua dívida foi acompanhada por constrangimentos de ordem social que pesavam sobre os devedores.
O não pagamento de uma dívida poderia afetar negativamente a reputação de um indivíduo, além de causar
transtornos legais como citações para comparecer em audiências judiciais - como no caso dos processos
de ações de alma - movidas por credores. Quando condenados, os devedores poderiam ter seus bens
penhorados ou, ainda, se viam ameaçados de prisão.
Para falarmos de confiança enquanto fundamento indispensável das relações de crédito, será importante
nos ater ao próprio significado do termo "crédito". A associação entre os termos "crédito" e "confiança"
era tão grande, que chegaram a ser utilizados como sinônimos. Por isso que os bilhetes, recibos e letras
de crédito, apesar de terem sido escriturações em que o compromisso de pagamento se dava em termos
493
monetários (em réis, patacas ou oitavas de ouro), foram, como todas as práticas creditícias cotidianas,
lastreadas, também, na palavra."
De acordo com a terminologia da época, o termo "crédito" estava muito mais ligado à idéia de confiança,
"fé que se dá a alguma cousa", "autoridade, estimação", "favor, valimento", do que a de uma atividade
econômica - conforme a entrada relativa ao termo "crédito" do Vocabulário Português e Latino escrito
por D. Raphael Bluteau por volta de 1712.20 Apenas como a última das definições para o termo, aparece
o sentido de "crédito entre mercadores, abono de cabedal e correspondência entre os mais". 21 Portanto,
"crédito", na sociedade setecentista, estava mais ligado a um sentido social do que econômico - se é que
traçar um limite entre essas duas esferas, naquele momento histórico, possa ser uma tarefa possível.
Tanto em Minas como em Lisboa, "a realização do próprio acto de empréstimo assumia-se como
tão importante quanto o bem emprestado em si. A relação de crédito surgia como indicativa de um laço
social que ligava ambas as partes". 22 Por isso, durante o século XVIII, o termo "crédito", mesmo quando
empregado na esfera da atividade econômica, continha uma conotação moral associada à honestidade
individual, à presteza e à confiança.
Em uma sociedade pretensamente estamental, marcada pela hierarquização social e onde a palavra era
um elemento essencial para, entre outras coisas, ter acesso ao mercado, a honra tinha uma importância que
extrapolava a esfera social.
A honra 23 é um estado moral que provêm da imagem que cada um tem ou aspira ter de si. Por um lado,
é a soma das aspirações dos indivíduos e, por outro, é o reconhecimento que os outros lhe concedem. Ela
é, ao mesmo tempo, individual e coletiva; está ligada à virtude embora não se confunda a ela. Isso porque
a honra, além da vontade individual, depende, mais ainda, do consentimento do outro.
Desde tempos remotos a sociedade portuguesa compartilhava um sentimento comum em torno de
valores como virtude, distinção e honra. Exemplo disso são as mercês: "uma velha prática da sociedade
lusa que, segundo Nuno Monteiro, tratava-se de um tipo de economia de serviços, em que a elite cortesã
monopolizava os principais cargos, ofícios no paço, no exército e nas colônias. Como remuneração por
tais serviços, ela recebia novas concessões régias que poderiam ser acumuladas e ainda adquirir a forma de
novos serviços, como a administração de outros bens da coroa ou de postos com mais prestígio". 24
A concessão de mercês, assim como várias outras práticas de Antigo Regime, também foi importante
nos Trópicos. A concessão de sesmarias e de cargos militares é ilustrativa da importância que as mercês
assumiram na sociedade colonial. Isso porque, uma das principais distinções jurídicas naquela sociedade,
relacionava-se à presença ou não da fidalguia. Fortuna, domínio senhorial, autoridade sobre dependentes,
manutenção e promoção da linhagem, e dedicação às armas constituíam os elementos do ideal de nobreza
que estava presente na sociedade colonial e se apresentava como meta a ser atingida.
Nos processos de inventárioszyxvutsrqponmljihgfedcbaZXVUTSRPONMLJIHGFEDCBA
post-mortem analisados, foi possível identificar a importância da palavra
empenhada durante o século XVIII. Em muitos casos os credores sequer faziam algum tipo de anotação
de quem seriam seus devedores e de quanto eles estariam devendo. Isso aconteceu, porém com maior
intensidade, entre os devedores. Vários deles, inclusive, declararam quais eram seus credores, mas não
especificaram quanto estariam devendo - conforme aponta a tabela 1. ywvtsronlhedcbaTPKF

Tabela 1 - Dívidas ativas e passivas inventariadas em que não foram registrados seus valores
Dívidas passivas em que Dívidas ativas em que não
Períodos não constam os valores constam os valores
1713 - 1733 10,1% 1,9%
1734 - 1753 6,4% 1,7%
1754 - 1773 3,5% 2,9%
MEDIA 6,6% 2,1%

Fonte: Banco de Dados de Inventários da Comarca do Rio das Velhas - século XVIII

Durante o início do século XVIII, quando a racionalidade capitalista e as técnicas comerciais, ou


mesmo o simples ato de fazer contas 25 , não faziam parte do universo cultural de muitos indivíduos, o índice
de dívidas sem seus respectivos valores foi superior a 10% do total de dívidas passivas inventariadas. No
entanto, observa-se um decréscimo nesse índice com o decorrer do século.
Mas, o que a tabela acima traz de mais precioso é a diferença no comportamento de um credor e de um

494
devedor. Ao que tudo indica, a própria condição de devedor fazia com que a dívida ganhasse uma dimensão
muito maior do que a financeira; ela adquiria uma carga social muito grande. Antônio Vieira da Silva,
em seu testamento, escrito em 1720, declarou que devia "as moedas que disser minha mulher a Gonçalo
Pacheco". O testador declarou, ainda, uma dívida contraída junto a Rui de Melo Coutinho - que era seu
testamenteiro e, portanto, homem de sua confiança - na qual pediu para que lhe pagasse "o que disser sua
consciência". 26
Algumas dívidas, assim como a de Antônio Vieira da Silva, tornaram-se "dívidas de consciência".
Como, por exemplo, a declarada por Sebastião Pereira de Aguilar em seu testamento:

Declaro que vindo da Bahia para essas Minas me vali de alguns bois amontoados que matei para a minha
condução e pelos foros que tomei do dito gado vim em conhecimento de seus donos a que paguei e dos que não
conheço sou devedor que pouco mais ou menos eram sete reses para desencargo de minha consciência pessoal
meus testamenteiros dêem de minha fazenda 21 $000 aos esmoleiros da terra Santa por tenção de que quer que
for seus donos.27

Encontra-se algo semelhante no testamento de Manuel da Costa Pontes. O testador comprou um


cavalo e nunca havia quitado completamente a dívida, por isso, antes de morrer, segundo suas palavras,
"Declaro que devo mais vinte e cinco oitavas de um cavalo a um homem que lhe não sei o nome nem lhe
passei clareza há muitos anos, qual por ser já falecido e não lhe saber os herdeiros, meus testamenteiros por
desencargo de minha consciência mandarão dizer as ditas vinte e cinco oitavas em missas pela sua alma. 28
A gratidão do devedor pelo ato social realizado pelo credor ao lhe conceder crédito, chegou, em vários
momentos, a se tornar uma postura de subordinação. Essa subordinação do devedor frente ao seu credor
pode ser percebida em expressões como "devo o que disser" ou "devo o que constar", que aparecem em
inúmeros testamentos setecentistas.
A título de conclusão preliminar, é preciso dizer que as práticas creditícias possibilitaram a tecedura
de uma resistente rede feita a partir de uma fina teia de relações sociais, capaz de sustentar, com eficiência,
a circulação material nas Minas setecentistas. A aparente fragilidade na relação entre credores e devedores,
escondia uma sólida estrutura social, alicerçada na confiança mútua, na compensação das dívidas e no
imaginário religioso, no qual era mais indicado poupar sua alma dos suplícios do purgatório, do que
aumentar a fortuna em algumas oitavas de ouro. E, de fato, a maioria dos mineiros que tiveram que fazer
uma escolha entre "a bolsa e a vida" 29 , escolheram a vida. É o que aponta a análise dos processos de ação
de Alma. zyxvutsrqponmljihgfedcbaZXVUTSRPONMLJIHGFEDCBA

As ações de Alma

São ilustrativos da importância da palavra, escrita ou falada, nas transações comerciais, os processos
sumários movidos junto aos cartórios durante todo o século XVIII que eram conhecidos como "ações de
Alma". Nesses processos cíveis, as pendências financeiras e outros conflitos eram resolvidos por meio de um
juramento sobre os livros sagrados do Evangelho. Lançaram mão desse artifício jurídico, principalmente,
aqueles que foram lesados em alguma transação comercial - seja ela escriturada em documentos privados
ou públicos, ou apenas feitas de palavra.
Curiosamente, nas ações de Alma, a falta de compromisso com a palavra de um devedor era resolvida
também por meio da palavra. O processo funcionava da seguinte forma: o autor da queixa encaminhava
o pedido ao juiz conforme o exemplo abaixo: "Diz Dr. Antônio Xavier da Silva que ele quer fazer citar
a Francisco Borges para jurar pessoalmente se o suplicante recebeu dele 100 oitavas de que lhe passou
recibo declarando nele o porque as recebia, confessando tê-lo em seu poder, seja condenado a repô-lo em
juízo". 3 "
Em seguida, o juiz fazia a citação "por carta ou Porteiro, ou por outra maneira, para vir [o réu] perante
a ele" jurar junto aos Santos Evangelhos se procedia a acusação, ou não. 31 Em 1743, por exemplo, o juiz fez
"citar ao mestre de campo André Gomes Ferreira por ação, [para] pessoalmente na presente audiência jurar
a vista de um escrito se lhe era devedor ou não da quantia de 24 oitavas de ouro fino e 10 oitavas e % de
ouro grosso", de acordo com o pedido feito pelo testamenteiro do comerciante Mathias Crasto Porto para
dar prosseguimento a testamentária do falecido. 32
Segundo a legislação vigente na época, se a "parte citada por juramento dos Evangelhos negar o que
lhe o autor demanda, absolva-o logo o juiz desta demanda, e condene o autor nas custas que lhe por causa
495
desta citação fez citar". 33 Ou seja, tudo dependia do próprio réu.
Apesar da aparente fragilidade desse aparato de cobrança, é preciso salientar que se tratava de uma
sociedade permeada pelo imaginário do Antigo Regime, no qual a palavra e a honra adquiriam significados
que se perderam ao longo do tempo. Além disso, "como o próprio nome dessas ações indica, jurar em falso
e negar uma dívida real poderia implicar dificuldades para a salvação da alma" que era, provavelmente,
mais importante que o lucro financeiro na sociedade em questão. 34
Acompanhemos u m processo de "juramento de Alma" mais detalhadamente. Esse processo foi movido
pelo procurador Braz Roiz da Costa - encarregado dos negócios de Antônio Pinto dos Santos - , contra
Maria do Prado e seu filho, "por fazendas que compraram" junto ao seu constituinte. 35
De acordo com o rol das fazendas por eles compradas, anexado junto ao processo, as dívidas são
relativas a, entre outros produtos, "uma peça de bertanha" (bretanha: tecido de lã fina proveniente da
Inglaterra) no valor de 2 oitavas, "50 pregos de pau a pique", "1 livra de chumbo e % de pólvora", "9/3
côvados de baeta (baeta: tecido felpudo de lã muito usado na época)", "3 meados de linha", "4 varas de
pano de linho", "3 meados de retrós" (retrós: fio de seda torcido para costura), "4 varas de cadarço", "2
côvados de tafetá" (tafetá: tecido de seda cuja trama é muita fina), "4 e Vá côvados de olanda crua" (holanda:
tecido luxuoso oriundo da região dos Flandres) e "1 terça de aniagem de capas" (aniagem: pano grosseiro
de linho, juta ou outra fibra vegetal análoga). 36
A petição encaminhada ao juiz dizia que:

Antônio de Souza Guimarães procurador do autor Braz Rodrigues da Costa foi dito requerido que a instância
ao dito seu constituinte por aquela primeira audiência tinham citados os réus Maria de Prado Silva e [seu] filho
João da Costa Veloso para jurarem ou ver jurar em sua alma se são ou não devedores ao dito seus constituinte
das quantias de 73 oitavas de resto do crédito que apresentava e outro assim mais sem crédito da quantia de 24
oitavas e 2 vinténs tudo procedido do que constava o crédito e conta que lhe apresentava e os juros de seus 4%
do resto do crédito^7

Encaminhado o pedido, o juiz determinou ao oficial de justiça, no dia 9 de dezembro de 1749, que
entregasse a citação. Cinco dias depois, o, então, escrivão do juizado dos órfãos, Manoel da Costa Oliveira,
certificava que o suplicado havia sido citado.
Os réus não compareceram ao julgamento no dia 2 de janeiro de 1750 para jurar sobre os Evangelhos
que eram devedores, ou não, da quantia reivindicada pelo suplicante, de acordo com uma letra, supostamente
passada por eles em 31 de agosto de 1746, no valor de 73 oitavas e 6 vinténs. Por isso, foram julgados, à
revelia, e condenados a pagar a quantia estipulada pelo suplicante. O custo do processo foi de 9$000, 'A e 6
vinténs (nove mil réis, um quarto e seis vinténs), que deveriam ser pagos, também, pelos condenados.
A execução das dívidas muitas vezes era severa, embora, talvez, nem sempre eficaz. Como, por
exemplo, na ação movida por Antônio Luis Pereira, tutor e testamenteiro de Francisco Luis Pereira, contra
João Roiz Alves, que não comparecera à audiência. Por isso,

foi requerido que no termo de vinte e quatro horas depois de requerido for lhe pague ou nomeie bens quantos
para o pagamento da quantia de 3 oitavas e Vá a dever de principal em que foi condenado como também dentro
do referido termo lhe dará e pagará mais todos os mais custos que no caso fizeram (...) logo não pagando
nem nomeando bens serão penhorados em tantos de seus bens móveis e de raiz quantos bens bastem para os
pagamentos das referidas quantias e das mais custas.38

Como nos exemplos acima, muitos foram os réus que não compareceram às audiências. De acordo
com as Ordenações Philipinas, "se o citado não quiser jurar, e recusa o juramento, e o autor jurar, que o réu
lhe é obrigado, em aquilo, que lhe demanda, o juiz condene o réu por sentença no em que o autor jurar, que
o réu lhe é obrigado pagar, pois o réu, em cujo juramento o autor o deixava, não quis jurar". 39 Com isso,
foram muitos os casos em que os réus foram julgados a revelia. Não comparecendo ao julgamento, os réus
assumem serem devedores, já que, caso contrário, bastaria comparecer e afirmar não ter contraído dívida
alguma.
Foram analisados todos os processos de ações de alma disponíveis para consulta na Casa Borba Gato/
Museu do Ouro, em Sabará, durante o período que compreende os anos de 1713 e 1773. São 25 processos,
poucos na verdade, mas que somados aos resultados encontrados por Marco Antônio Silveira para Vila
Rica, apontam para conclusões importantes sobre a sociedade mineira setecentista. Segundo Silveira, "de
53 ações de alma transcritas, em 41 casos, o citado não compareceu e o processo, correndo a revelia, levou
à condenação. Nos outros doze, nove foram a juízo e afirmaram a dívida e apenas dois a negaram". 40
Os resultados encontrados na documentação sabarense são bastante semelhantes aos encontrados por zyxvutsrqponmlji
496
Silveira. Dos vinte e cinco processos analisados, dezesseis citados não compareceram, Inácio de Lima
Rego, que devia a Francisco Luis Pereira foi um desses ausentes. O réu, tendo em vista "ser citado para
jurar em sua alma pessoalmente e não comparecendo a audiência que lhe foi avisada", foi condenado a
pagar a dívida e as custas dos autos, conforme a sentença dada pelo juiz no dia 17 de maio de 1765.41
Outra parte dos réus, sete no total, compareceu, pessoalmente ou representada por procuradores, e
assumiu a dívida. Como por exemplo, Cristóvão Nogueira, por exemplo, foi citado "para vir pessoalmente
jurar ou ver jurar ser ou não devedor da quantia de 3 oitavas e % e 6 vinténs procedidas de toucinhos"
que comprou junto a Caetano da Costa Nogueira. O réu enviou um procurador que, "em nome do dito
confessava para nela ser condenado de preceito e requeria 10 dias de equidade para pagar". 42
Em dois processos foi impossível a transcrição completa devido ao seu estado bastante danificado. O
mais surpreendente foi que em nenhum dos processos analisados o réu compareceu para negar a dívida.
Uma das conclusões possíveis de serem retiradas dessa análise é que "o fato de o réu ter o poder para negar e
livrar-se legalmente da obrigação, mas não fazê-lo, é forte sinal de que a palavra tinha importância capital"
nessa sociedade. 43 É preciso destacar, também, a eficácia do controle exercido pelo imaginário religioso na
vida cotidiana do homem setecentista, que demonstrava, constantemente, uma grande preocupação pela
salvação de sua Alma.
Dessa forma, a palavra - que possuía inclusive suporte institucional, haja vista a legislação vigente na
época - foi um importante sustentáculo para a circulação eficaz de bens e produtos, por meio de operações
de crédito, na sociedade mineira setecentista. Para ter fácil acesso ao crédito era preciso, portanto, ser uma
pessoa de palavra, reconhecidamente honrada perante a sociedade; e esse objetivo foi perseguido por vários
habitantes da região. zyxvutsrqponmljihgfedcbaZXVUTSRPONMLJIHGFEDCBA

Notas
1
Kstudos recentes vêm demonstrando que o crédito funcionou como um importante elemento da economia e da sociedade colonial. Abordei
esse tema em: SANTOS, Raphael F. Divida e endividamento. In: ROMEIRO, Adriana; BOTELHO, Ângela Vianna. Dicionário Histórico das
Minas Gerais - Período Colonial. Belo Horizonte: Autêntica, 2003. Ver também: SILVEIRA, Marco Antônio. O Universo do Indistinto: Estado e
Sociedade nas Minas Setecentistas (1735-1808). São Paulo: HUCITEC, 1997. SAMPAIO, Antônio Carlos Jucá de. Crédito e circulação monetária
na colônia: o caso fluminense, 1650-1750. Caxambu: ABPHE, 2003; . O mercado carioca de crédito: da acumulação senhorial á acumulação
mercantil (1650-1750). ESTUDOS HISTÓRICOS, Rio de Janeiro, n° 29, 2002; ESPÍRITO SANTO, Cláudia Coimbra do. O endividamento
em Minas colonial: estratégias sócio-econômicas cotidianas em Vila Rica no decorrer do século XVIII. ANAIS DO XI SEMINÁRIO SOBRE
ECONOMIA MINEIRA. Diamantina: Cedeplar/UFMG, 2004; SANTOS, Raphael F. Usuras paliadas e práticas creditícias na comarca do Rio das
Velhas no século XVIII. XIV ENCONTRO REGIONAL DE HISTÓRIA. Juiz de Fora: ANPUH-MG/UFJF, 2004; . Trânsito material e
práticas creditícias na América Portuguesa - Comarca do Rio das Velhas, Minas Gerais, século XVIII. ANAIS DA V JORNADA SETECENTISTA.
Curitiba: CEDOPE/UFPR, 2003.
2 ZEMELLA, Mafalda P. O abastecimento da capitania de Minas Gerais no século XVIII. São Paulo: [s.n.] 1951, p. 165.
3
Ibidem, p. 165.
4
Como por exemplo, D. Rodrigo de Menezes que escreveu em sua "exposição sobre o estado de decadência da Capitania de Minas Gerais
e meios de remediá-lo". RAPM, 21:311-27, 1897, que era necessário "vivificar estas minas cadavéricas" (p. 320). Uma boa análise sobre o discurso
dos memorialistas pode ser encontrada em SILVEIRA, op. cit.
5
ZEMELLA, op. cit., p. 167.
6
Ibidem, p. 167.
7
LEVY, Maria Bárbara. Crédito e circulação Monetária na economia da Mineração. III SEMINÁRIO SOBRE ECONOMIA MINEIRA.
Belo Horizonte: CEDEPLAR FACE/UFMG, 1986, p. 35. Grande parte do ouro extraído nas Minas que seguiu para Portugal de forma direta (por
meio de impostos) e de forma indireta (por meio do comércio e das cadeias de endividamentos), circulou por toda a Europa, aquecendo o mercado
local. O comércio Franco-Português, por exemplo, estimulou o crescimento econômico francês no incremento da demanda por manufaturados e
no aumento dos stocks de moedas dc ouro. Foi observado que grande parte das moedas de ouro entesouradas e/'ou em circulação na França durante
o século XVIII era originária da América portuguesa. Ver: MORRISSON, Christian; BARRANDON, Jean-Nõel; MORRISSON, Cécile. Or du
Brésil, monnaie et croissance en France au XVII! siècle. Paris: CNRS, 1999. A despeito disso, há quem conteste a importância significativa do
capital das chamadas economias periféricas (particularmente, as colônias) no desencadeamento da Revolução Industrial inglesa. Ver: O'BRIEN,
Patrick. Eureopeans economic development: the contribuition of the perifery. ECONOMIC HISTORY REVIEW, v. 35, n.l, 1982.
8
De acordo com Maria Bárbara Levy, teria sido o sistema de crédito aquele que consumiu a maior parte da riqueza criada nas Minas. Ver:
LEVY, op. cit. p. 25.
9
FRAGOSO, João Luís. Homens de grossa aventura: Acumulação e Hierarquia na Praça Mercantil do Rio de Janeiro 1790-1830. RJ:
Civilização Brasileira, 1998, p. 157.
111
Inclusive porque segundo o esquema desenvolvido por Fragoso em parceria com Florentino, a acumulação foi um importante elemento
dc reiteração no tempo e no espaço de estruturas arcaicas do Antigo Regime português. Ver: FRAGOSO, João Luís; FLORENTINO, Manolo.
Arcaísmo como projeto: mercado atlântico, sociedade agrária e elite mercantil no Rio de Janeiro, c. 1790 - c. 1840. 3ed. Rio de Janeiro: sette letras,
1998.
" Como foi o caso do comércio entre Rio de Janeiro e Angola, por exemplo. Ver: FLORENTINO, Manolo Garcia. Em costas negras: uma
história do tráfico de escravos entre a África e o Rio de Janeiro (séculos XVI11 e XIX). São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
12
O caso do comerciante português Francisco Pinheiro nos dá uma dimensão ainda mais precisa da complexidade das relações intrínsecas às
cadeias de endividamento. Ver: LISANTI FILHO, Luís. Negócios coloniais: uma correspondência comercial do século XVIII. Brasília. Ministério
da Fazenda, 1973 c FURTADO, Júnia Ferreira. Homens de Negócio A interiorização da metrópole c do comércio nas Minas setccerlistas. São

497
Paulo: HUCITEC, 1999.
13
A historiadora portuguesa Maria Manuela Rocha oferece um relato bastante ilustrativo dessas cadeias de endividamento. De acordo com
a autora: "Os gêneros circulavam entre a metrópole e os portos brasileiros (com os quais era realizado o maior volume do comércio desenvolvido
pelos homens de negócio) sem que a cada transacção se fizesse corresponder o respectivo pagamento. Os produtos fluíam nos dois sentidos através
de um sistema de compensações, que evitava a entrega de numerário ou de letras de câmbio. Os negociantes da metrópole enviavam as fazendas
para os seus correspondentes ou sócios no Brasil, os quais se encarregavam de remeter com destino a Lisboa os produtos brasileiros. O valor de cada
uma das remessas entrava na conta corrente estabelecida entre os negociantes instalados nos dois lados do Atlântico, sendo os saldos contabilizados,
mas não pagos. O apuramento dos saldos era necessariamente realizado aquando da feitura do inventário e daí a freqüente menção a este tipo de
dívidas nas listas deixadas pelos homens de negócios [portugueses]". ROCHA, Maria Manuela Ferreira Marques.zyxvutsrqponmljihgfedcbaZXVUTSRPONM
Crédito privado num contexto
urbano. Lisboa, 1770-1830. Florença: Tese de doutorado apresentada ao departamento de História e Civilização do Instituto Universitário Europeu,
1996, p. 17.
14
Segundo Júnia Furtado, "a Coroa utilizou do mecanismo de endividamento em seu favor. Os crédito que os comerciantes acumulavam
permitiam que grande parte do ouro extraído nas Minas se transferisse para as mãos dos comerciantes, sendo mais facilmente tributadas".
FURTADO, op. cit., p. 216.
15
FURTADO, op. cit., p. 124.
16
Ibidem, p. 124.
17
Segundo Júnia Furtado, "Na inexistencia de instituições bancárias ou de crédito, o capital comercial toraava-se importante fonte de
financiamento de pessoas e de outros comerciantes, especialmente porque chegava às suas mãos grande parte do ouro extraído". FURTADO,
op. cit., p. 122. Mesmo em regiões em que existiam instituições bancárias, o capital mercantil foi importante fonte de financiamento. Nos conta
Braudel que o Banco de Amsterdã, um banco de empréstimos fundado em 1614, "torna-se em 1640 uma espécie de montepio e deixa esse papel aos
capitalistas privados". BRAUDEL, Fernand. Civilização Material, Economia e Capitalismo, Séculos XV-XVIII. O jogo das trocas. Lisboa: Editora
Cosmos, 1985, p. 342. Na América espanhola, mais especificamente no Peru, mesmo existindo um Banco controlado pelo Estado, "los problemas
con el crédito estatal llevaron a los mineiros a tener que alternar con el crédito privado, ya fuera éste en dinero o en insumos". Ver: SUAREZ,
Margarita. Desafíos Transatlánticos: Mercaderes, banqueros e el estado em el Peru virreinal, 1600-1700. Lima: Pontificia Universidad Católica
Del Peru, 2001, p. 178. No México, "deux 'banquiers' (Francisco de Fagoaga et Francisco de Valdivieso) assuraient à la fois le 'rachat' du minerai
d'argent contre du numéraire, la séparation de l'or de l'argente et des opérations de crédit indispensables à la fourniture d'av/os". Ver: LANGUE.
Frédérique. Mines, terres et société a Zacatecas (Mexique) de la fin du XVIIe siècle a l'indépendance. Paris: Publications de la Sobonne, 1992, p.
89.
18
ARRUDA. José Jobson de A. O Brasil no comercio colonial. São Paulo: Editora Ática, 1980, p. 30.
19
O mesmo pode ser dito sobre as atividades creditícias na América Espanhola. Segundo Lopes-cano, "Hay indicios para suponer que la
mayoría de los préstamos no se escrituraron ante notario, sino que se concedieron de 'palabra'. LÓPES-CANO, Pillar Martínez. La Genesis del
Crédito Colonial: Ciudad de México, Siglo XVI. México: IIH-UNAM, 2000, p. 48.
20
BLUTEAU, D. Raphaël. Vocabulário Português & Latino. Coimbra: Colégio das Artes da Companhia de Jesus, 1712.
21
Ibidem.
22
ROCHA, op. cit., p. 16-17.
23
"Originalmente, a palavra 'honra' (em latim: honos) designava uma divindade que representava a coragem na guerra. Por consequência,
significava a concessão de terras, merecidas com a vitória: depois, essa base material serviu à elaboração de um conceito moral de extrema
complexidade, para não dizer ambigüidade". Ver: PITT-R1VERS, Julián. A doença da honra. In: CZECHOWISKY, Nicole (org.). A honra: imagem
de si ou ideal de si - um ideal equívoco. Porto Alegre: L&PM, 1992.
24
FRAGOSO, João, BICALHO, Maria Fernanda; GOUVÊA, Maria de Fátima (Orgs.). O Antigo Regime nos Trópicos: a dinâmica imperial
portuguesa (séculos XV1-XVIII). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001, p. 44.
25
No caso dos comerciantes há alguns indícios que apontam para um conhecimento mais apurado da habilidade de 1er, escrever e contar,
entre esse grupo. Ver: MAGALHÃES, Beatriz R.; SANTOS, Raphaël F.; AMARAL, Flávia. A. Vestígios de formas elementares da instrução
em uma comarca mineira setecentista: o 1er, escrever e contar. II CONGRESSO DE PESQUISA E ENSINO EM HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO.
Uberlândia: UFU, 2003.
26
MO-Casa Borba Gato/IPHAN: Testamentos (CPO) Códice 01(01), fls. 87v-102 - 24/04/1720.
27
MO-Casa Borba Gato/IPHAN: Testamentos (CPO) Códice 01(01), fls. 21 v - 3 2 v - 26/10/1716.
28
MO-Casa Borba Gato/IPHAN: Testamentos (CPO) Códice 24(37), fls. 48v-54 - 26/04/1769.
29
LE GOFF, Jacques. A bolsa e a vida. A usura na Idade Média. São Paulo: Brasiliense, 2004.
30
MO - Casa Borba Gato/IPHAN - CPO: Ações de Alma - 1748.
31
Ver: livro 3 título LIX, parágrafo 5 do Código Philipino ou Ordenações do Reino compiladas por mandado Del Rey D. Phillipe II. XIV
edição. RJ: Tipografia Instituto Philomático, 1870.
32
MO - Casa Borba Gato/IPHAN - CPO: Ações de Alma - 1743.
33
Ver: livro 3 título LIX, parágrafo 5 do Código Pliilipino ou Ordenações do Reino compiladas por mandado De! Rey D. Phillipe II. XIV
edição. RJ: Tipografia Instituto Philomático, 1870.
34
SILVEIRA, op. cit., p. 103.
35
Esse processo indica a complexidade de algumas redes comerciais desenvolvidas nas Minas. Nelas os homens de negócio possuem
diversos funcionários responsáveis por seus estabelecimentos e por defender seus interesses. Sobre as redes comerciais ver: FURTADO, Júnia F.
Homens de Negócio: A interiorização da metrópole e do comércio nas Minas setecentistas. São Paulo: HUCITEC, 1999, p. 123.
36
MO - Casa Borba Gato/IPHAN - CPO: Ações de Alma - 1749.
37
Ibidem.
38
MO - Casa Borba Gato/IPHAN - CPO: Ações de Aima - 1764.
39
Ver: livro 3 título LIX, parágrafo 5 do Código Philipino ou Ordenações do Reino compiladas por mandado De! Rey D. Phillipe II. XIV
edição. RJ: Tipografia Instituto Philomático, 1870.
40
SILVEIRA, op. cit., p. 104. Recentemente foi feita uma nova pesquisa com base nos processos cíveis de Ações de Alma encontrados no
Arquivo Museu da Inconfidência Casa do Pilar/Ouro Preto, mas, dessa vez, utilizando um corpus documental muito maior - 320 processos movidos
entre os anos de 1730 a 1770. Ainda sim, os resultados corroboram o que já vem sendo dito sobre o assunto. Ver: ESPIRITO SANTO, op cit.
41
MO - Casa Borba Gato/IPHAN - CPO: Ações de Alma - 1765.

498

Você também pode gostar