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Abstract: In the colonial Minas Gerais economy, the most common way to acquire something and
to pay for a job was through a credit operation. A lack of social groups stood out as financial agents.
This paper wants to analyze some of the most important private financial agents who acted in a
district of Minas Gerais, during the colonial period. Through postmortem inventories of these
characters we were able to understand about the credit system that controlled the capital market,
entwined consumers, producers and merchants.
Keywords: Credit - Colonial economy – Merchants
uma roça (...) com uns matos virgens e capoeira com suas casas de vivenda de sobrado cobertas de
telhas com seus engenhos a saber um engenho de pilões com doze mãos e outro com oito(...) dois
fornos de cobre (...) uma tenda de ferreiro (...) paiol um de 160 palmos outro ais de 90 palmos,
senzalas, casa da dita tenda de ferreiro de cangalhas e cobertas de telhas (...) 20 bestas muares de
serviço, um cavalo, 8 bois mansos e o gado que se achar na dita fazenda de 250 cabeças de porcos
um pouco mais ou menos mais 40 alqueires de milho plantados na dita roça a recolher são 80
alqueires e o feijão que se achar plantado, um quintal de cana (...)[e] um engenho com todas as
máquinas.7
Devo que pagarei a Balthasar Dantas de Araújo 175 oitavas de ouro em pó procedidas de fazenda
que lhe comprei ao meu contento assim em preço como em bondade a qual quantia pagarei a ele dito
ou a quem este me mostrar perto do mês de outubro. Sem assim dispor dúvida alguma e por assim ser
verdade lhe dei este por mim feito e assinado hoje, V. R. de N. Senhora da Conceição / 22 de maio de
1717 / Devo mais 50 oitavas que pagarei na mesma conformidade.8
As cartas de crédito, bilhetes e recibos encontrados nos processos cartoriais nos dão a dimensão da
importância dessa prática no universo econômico e cultural mineiro. A venda a crédito foi
importante na medida em que estimulou a circulação dos produtos nas Minas. Por outro lado,
legitimou uma “economia moral”9 ancorada na confiança, no conhecimento e no preço justo, o que
pode ser visto em dizeres como o reproduzido acima (“a meu contento em preço como em
bondade”).
Diferente da venda a crédito, que derivava do adiamento do pagamento decorrente da
comercialização de algum gênero ou da prestação de algum serviço, nos empréstimos, o credor
entregava uma quantia em dinheiro ao devedor que se comprometia a devolver em um prazo
posterior, com ou sem uma taxa de recompensa ou de juro estipulada previamente. Os contratos que
sustentavam tal prática, na maioria das vezes, foram realizados apenas de palavra ou por meio de
escritura privadas. Por isso existem poucos registros sobre os empréstimos contraídos durante o
século XVIII. Porém, em inventários e testamentos, encontram-se, freqüentemente, menções à sua
utilização.
De acordo com o testamento de João Pereira da Fonseca, o Alferes Cristovão Fernandes, o
Padre José Duarte e Diogo Rodrigues lhe deviam “por um crédito que correm juros de seis e coarto
por cento”.10 Apesar desse caso, na maioria dos registros de empréstimos encontrados nos
Analisamos uma série composta por 379 processos de inventários post-mortem, escritos
entre 1713 e 1773, encontrados em Sabará, na Casa Borba Gato-IPHAN.20 Um dos resultados dessa
pesquisa pode ser encontrado nos quadros 1 e 2 (anexo), nas quais são apresentados os perfis dos
principais credores entre a população inventariada na comarca do Rio das Velhas.
Em linhas gerais podemos dizer que a maior parte dos grandes credores da Comarca não foi
casado, tem a maior parte do patrimônio composto por créditos e o comércio como atividade
majoritária. É preciso salientar que chamamos genericamente de “comerciante” aqueles que foram
Outro grande credor, cujo testamenteiro deve ter enfrentado semelhante inconveniente, foi
Domingos Gonçalves de Carvalho. Português, nascido em Lanhozo, Bispado do Porto, Domingos
era comerciante volante e estava nas Minas a negócio quando morreu de “um tiro que recebera
pelas partes do Paraopeba”.25 No momento em que recebeu o tiro, o comerciante carregava consigo
diversos cortes de tecido, além de pentes, canivetes e outros itens que eram vendidos em
estabelecimentos espalhados pelos confins da Comarca – iguais ao de Antônio Francisco Pinto. Ao
analisar seus créditos e dívidas, foram encontrados devedores de Domingos Carvalho em
Congonhas, em Morro Vermelho, em Riacho Fundo, em Penteado e em Paraopebas, onde foi
assassinado.26
Um dado importante e que vale ser destacado em relação aos créditos que possuía Domingos
Gonçalves de Carvalho, é que dos 169 devedores do comerciante, 59 (35%) são negros e pardos,
escravos ou forros.27 Isso é indicativo da difusão do sistema de créditos entre as várias camadas da
sociedade mineira. Por meio de operações de crédito, cativos e libertos puderam ter acesso ao
Tratava-se, portanto, de um grande minerador, que contava, inclusive, com “roda de minerar
com suas correntes” na exploração de suas datas.35 Essa informação é confirmada por uma lista
produzida a pedido da Coroa portuguesa, em 1756, na qual Alexandre de Oliveira Braga figura
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na capitania de Minas Gerais, durante o século XVIII, as dívidas eram feitas com objetivos
diversos: satisfazer necessidades de consumo, de ascensão social ou de investimentos no setor
produtivo. Contraíram-se dívidas, também, em momentos de sofrimento da carne e do espírito, na
busca de ajuda junto a doutores, boticários e padres para assistência nas horas de necessidade. Os
artesãos, os jornaleiros, os boticários e os produtores de alimentos adiantavam seus produtos ou
seus serviços a crédito. Mas foram os comerciantes os principais responsáveis pelo emaranhado de
dívidas que se proliferou por todas as camadas sociais. A própria prática comercial exigia deles um
contato cotidiano com operações de crédito. Por isso é possível afirmar que o crédito privado na
Capitania era uma atividade reconhecidamente atrelada à atividade mercantil.
E não só grandes negociantes atacadistas representaram o capital mercantil comercial.
Vendedores ambulantes e pequenos atravessadores também foram agentes fundamentais para o
desenvolvimento do mercado interno durante o período colonial, na medida em que, adiantando
mercadorias e/ou emprestando dinheiro, financiaram empreendimentos comerciais, garantiram a
manutenção de unidades produtivas e permitiram o consumo de produtos produzidos dentro e fora
da Colônia.
O capital mercantil local foi um importante agente na reprodução da sociedade colonial, assim
como de sua economia.47 Isso porque, as cadeias de endividamento que viabilizaram o crédito, e,
conseqüentemente, a própria reprodução da economia, se encerravam, não raramente, em agentes
residentes na própria Colônia. Esses agentes que, frequentemente, podiam ser encontrados em
grandes praças comerciais da Colônia, como o Rio de Janeiro e Salvador, também ocupavam
regiões periféricas da América portuguesa, como a capitania de Minas Gerais, mas quase sempre
estavam longe de serem homens de “grosso trato”.
Atuações
Numero de Montante dos Monte-mor Ativos / Monte- Condição profissionais
Inventariado devedores ativos acumulado mor(%) jurídica majoritárias.
Fazendeiro e
Matias de Crasto Porto 307 1:829$226 10:164$809 18% Solteiro Comerciante
Minerador e
José Corrêa Silva 281 7:391$413 26:237$293 28% Casado Fazendeiro
Antônio Francisco Pinto 237 4:064$269 5:705$970 71% Solteiro Comerciante
Domingos Gonçalves de
Carvalho 169 2:729$677 1:444$859 189% Solteiro Comerciante
João de Souza Brito 168 14:592$108 17:475$334 84% n/c Comerciante
Manuel Pereira Pinto Neves 160 4:134$303 4:661$917 89% Solteiro Comerciante
João de Souza Neto 138 1:397$680 2:298$421 61% n/c Fazendeiro
Domingos Fernandes de
Carvalho 132 4:287$628 5:979$038 72% n/c Comerciante
Alexandre de Oliveira Braga 120 62:554$236 72:347$728 86% Solteiro Fazendeiro
Caetano Pinto de Faria 105 23:385$918 24:927$256 94% Solteiro Indefinida
Manuel José de Abreu 105 9:664$923 11:868$976 81% Solteiro Comerciante
Antônio Ribeiro da Silva
Guimarães 102 2:186$578 2:475$318 88% Solteiro Comerciante
Atuações
Monte-mor Ativos / Monte- Numero de Condição profissionais
Inventariado Montante dos ativos acumulado mor(%) devedores jurídica majoritárias
Alexandre de Oliveira
Braga 62:554$236 72:347$728 86% 120 Solteiro Fazendeiro
Caetano Pinto de Faria 23:385$918 24:927$256 94% 105 Solteiro Indefinida
João de Souza Brito 14:592$108 17:475$334 84% 168 n/c Comerciante
Comerciante
Joana de Souza Araújo 12:946$583 12:891$730 100% 62 Casado (marido)
Manuel José de Abreu 9:664$923 11:868$976 81% 105 Solteiro Comerciante
Minerador e
José Corrêa Silva 7:391$413 26:237$293 28% 281 Casado Fazendeiro
Reverendo Doutor João Reverendo
Batista Lopes 5:610$757 5:960$758 94% 81 Solteiro Doutor
Domingos Fernandes de
Carvalho 4:287$628 5:979$038 72% 132 n/c Comerciante
Manuel Pereira Pinto
Neves 4:134$303 4:661$917 89% 160 Solteiro Comerciante
Antônio Francisco Pinto 4:064$269 5:705$970 71% 237 Solteiro Comerciante
Domingos Gonçalves de
Carvalho 2:729$677 1:444$859 189% 169 Solteiro Comerciante
Antônio Ribeiro da Silva
Guimarães 2:186$578 2:475$318 88% 102 Solteiro Comerciante
FONTE: Banco de Dados de Inventários e Testamentos da Comarca do Rio das Velhas – século
XVII