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TEIAS DE NEGÓCIOS: UM PERFIL DA ATIVIDADE MERCANTIL E

DO CRÉDITO PRIVADO EM UMA ECONOMIA COLONIAL (MINAS


GERAIS, SÉCULO XVIII)*

Raphael Freitas Santos


Doutorando em História na UFF/Professor Substituto UFOP
raphaelfsantos@yahoo.com.br

Resumo: Na economia mineira setecentista, a maneira mais freqüente de se adquirir uma


mercadoria e de se pagar por um serviço prestado era por meio de operações de crédito. Diversos
grupos sociais se destacaram como agentes financiadores. Nesse artigo buscaremos traçar um perfil
de alguns dos mais importantes agentes financiadores privados que atuaram em uma comarca da
capitania de Minas Gerais, durante o período colonial. A partir da análise dos inventários post-
mortem desses personagens foi possível compreender melhor sobre a existência de um sistema de
crédito que, controlado pelo capital mercantil, entrelaçava consumidores, produtores e
comerciantes.
Palavras-chave: Crédito – Economia colonial – Comerciantes

Abstract: In the colonial Minas Gerais economy, the most common way to acquire something and
to pay for a job was through a credit operation. A lack of social groups stood out as financial agents.
This paper wants to analyze some of the most important private financial agents who acted in a
district of Minas Gerais, during the colonial period. Through postmortem inventories of these
characters we were able to understand about the credit system that controlled the capital market,
entwined consumers, producers and merchants.
Keywords: Credit - Colonial economy – Merchants

Nas Minas setecentistas, os indivíduos, em diversos momentos de sua vida cotidiana,


recorriam às práticas creditícias.1 Eram nas compras do dia-a-dia, nas quais teria sido impossível
apresentar moedas ou ouro em pó no momento de cada transação, que o crédito foi mais utilizado.
Imagine se toda vez que Paulo Alves de Sousa, morador na freguesia de Roça Grande, fosse
comprar farinha tivesse que levar ouro consigo. Por isso, as suas compras junto a Luis Carvalho
Ribeiro foram feitas fiadas. De acordo com seu testamento, Paulo Alves de Sousa declarou que
devia “a Luís Carvalho Ribeiro sem crédito 75 oitavas de ouro procedidas de farinha que lhe
comprei para meu sustento”.2
Além da impossibilidade de levar consigo ouro no momento de cada compra do dia-a-dia, os
habitantes das Minas recorriam às compras fiadas, e ao crédito de maneira geral, devido à

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sazonalidade da produção. Os roceiros, por exemplo, realizavam seus gastos cotidianos em compras
fiadas e assim que viesse a época da colheita, eles estariam aptos a saldar suas dívidas. O mesmo
acontecia com a atividade mineradora. Devido à irregularidade e os riscos da mineração, as
operações de crédito foram fundamentais para a manutenção e reprodução desse tipo de atividade.
Terras minerais, escravos, alimentos, ferramentas, pólvora; tudo isso era comprado a crédito ou
adquirido mediante a um empréstimo prévio.
Por tudo isso, a forma mais comum de vender um produto ou pagar por um serviço era por
meio de operações de crédito. Vejamos como era o funcionamento de algumas dessas práticas.

Algumas práticas creditícias: as venda a crédito e os empréstimos

Praticada por negociantes, lojistas, artesãos e prestadores de serviço em geral enquanto


credores – e por toda a população enquanto devedores –, as vendas fiadas estiveram estritamente
ligadas ao crédito privado. A cobrança de juro nesse tipo de transação eventualmente poderia
ocorrer, mas apenas, excepcionalmente, havia a necessidade de apresentar algum bem como
hipoteca ou nomear alguém abonado como fiador.
Em Lisboa, durante o século XVIII, o adiamento no pagamento era uma modalidade
praticada por quase 85% dos mercadores de tecidos e vestuário, 79% dos negociantes ou 69% dos
merceeiros, por exemplo.3 Apesar de não ter sido possível elaborar estatísticas análogas às
realizadas pela historiadora portuguesa Maria Manuela Rocha para Lisboa, é possível afirmar, por
meio da leitura dos inventários e testamentos setecentistas, que a venda a crédito era, sem dúvida, a
prática creditícia mais difundida nas Minas, durante o século XVIII.
Adiava-se o pagamento em diversas ocasiões: na compra cotidiana de gêneros alimentícios,
nos gastos suntuários, em momentos de necessidade do corpo ou do espírito, na educação dos
filhos. Manoel de Oliveira Dias, por exemplo, declarou em seu testamento que “devo cem mãos de
milho ou o que na verdade for a 6 vinténs de ouro a mão de João de Pontes”.4 O minerador Manoel
Maciel, morador na região próxima à Santa Luzia, tinha três filhas recolhidas no convento de
Macaúbas. Em seu testamento ele declarava uma dívida para com essa instituição. De acordo com
suas palavras, “declaro que tenho contas com o recolhimento de Macaúbas onde tenho minhas
filhas no dito recolhimento por uma escritura em que me obrigo a pagar os juros de 6000
cruzados”.5 Maria Cabral, de acordo com o inventário de seus bens, devia a Bento Pereira pelo
“ensino dos órfãos”, João de 16 anos e José de 14 anos, seus netos, que moravam no Rio de
Janeiro.6
Não era apenas nas compras cotidianas que se atrasava o pagamento. Na aquisição de bens
mais valiosos, como escravos e terras, essa também era uma prática comum. De acordo com uma

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escritura feita junto ao notário em 1768, José Teixeira de Carvalho vendeu a José Coelho da Mota e
a seu sócio Domingos Gonçalves Calado,

uma roça (...) com uns matos virgens e capoeira com suas casas de vivenda de sobrado cobertas de
telhas com seus engenhos a saber um engenho de pilões com doze mãos e outro com oito(...) dois
fornos de cobre (...) uma tenda de ferreiro (...) paiol um de 160 palmos outro ais de 90 palmos,
senzalas, casa da dita tenda de ferreiro de cangalhas e cobertas de telhas (...) 20 bestas muares de
serviço, um cavalo, 8 bois mansos e o gado que se achar na dita fazenda de 250 cabeças de porcos
um pouco mais ou menos mais 40 alqueires de milho plantados na dita roça a recolher são 80
alqueires e o feijão que se achar plantado, um quintal de cana (...)[e] um engenho com todas as
máquinas.7

Os compradores, no entanto, ficaram de pagar os 12:000$000, equivalentes ao preço da


propriedade, em 180 meses.
Algumas cartas de créditos vencidas foram transcritas em escrituras notariais com o objetivo
de serem novamente cobradas. Uma delas, passada pelo reverendo padre Antônio da Silva Porto,
continha os seguintes dizeres:

Devo que pagarei a Balthasar Dantas de Araújo 175 oitavas de ouro em pó procedidas de fazenda
que lhe comprei ao meu contento assim em preço como em bondade a qual quantia pagarei a ele dito
ou a quem este me mostrar perto do mês de outubro. Sem assim dispor dúvida alguma e por assim ser
verdade lhe dei este por mim feito e assinado hoje, V. R. de N. Senhora da Conceição / 22 de maio de
1717 / Devo mais 50 oitavas que pagarei na mesma conformidade.8

As cartas de crédito, bilhetes e recibos encontrados nos processos cartoriais nos dão a dimensão da
importância dessa prática no universo econômico e cultural mineiro. A venda a crédito foi
importante na medida em que estimulou a circulação dos produtos nas Minas. Por outro lado,
legitimou uma “economia moral”9 ancorada na confiança, no conhecimento e no preço justo, o que
pode ser visto em dizeres como o reproduzido acima (“a meu contento em preço como em
bondade”).
Diferente da venda a crédito, que derivava do adiamento do pagamento decorrente da
comercialização de algum gênero ou da prestação de algum serviço, nos empréstimos, o credor
entregava uma quantia em dinheiro ao devedor que se comprometia a devolver em um prazo
posterior, com ou sem uma taxa de recompensa ou de juro estipulada previamente. Os contratos que
sustentavam tal prática, na maioria das vezes, foram realizados apenas de palavra ou por meio de
escritura privadas. Por isso existem poucos registros sobre os empréstimos contraídos durante o
século XVIII. Porém, em inventários e testamentos, encontram-se, freqüentemente, menções à sua
utilização.
De acordo com o testamento de João Pereira da Fonseca, o Alferes Cristovão Fernandes, o
Padre José Duarte e Diogo Rodrigues lhe deviam “por um crédito que correm juros de seis e coarto
por cento”.10 Apesar desse caso, na maioria dos registros de empréstimos encontrados nos

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inventários e testamentos não há menção à cobrança de juros. Porém, quando essa cobrança existia,
a maior parte das taxas de interesse não ultrapassava os valores estipulados por lei.11
Não obstante as proibições em torno da usura, alguns credores exigiam taxas acima daquelas
permitidas pela coroa portuguesa.12 Jerônimo da Costa Vale, um viandante comerciante para
conseguir o dinheiro necessário para fazer seus negócios de trazer carregações da Bahia para Minas,
precisou contrair uma série de empréstimos durante sua vida. Alguns deles foram realizados de
acordo com os juros previstos por lei. Mas uma boa parte do capital adiantado foi adquirido sob
uma condição considerada extorsiva naquela época. Damião Pinto de Almeida e Felipe de Santiago
Rocha, por exemplo, emprestaram dinheiro para Jerônimo da Costa Vale “a juros de 1% ao mês”,
ou seja, 12% ao ano.13
A cobrança de juro nos casos de empréstimos existia quando estavam sendo negociadas
quantias mais avultadas. Pequenas somas eram negociadas, assim como as vendas a crédito, sem
escrituração, nomeação de bens a serem hipotecados ou fiadores e sem qualquer cobrança de
sobretaxa além da quantia principal. Porém, quando se tratavam de grandes somas, a situação,
geralmente, era diferente. A cobrança de juro passava a ser mais comum, assim como a fixação de
garantias e a sua escrituração, seja em documentos públicos, como os livros de notas, ou em
documentos privados, os “créditos”.
Apesar de, mesmo nos casos dos empréstimos a juros, a confiança ter sido um elemento
fundamental para o credor decidir se concedia crédito ou não, devido ao grande risco que o credor
corria ao adiantar dinheiro, eram tomadas algumas medidas de segurança e compensatórias. Isso
explica o porquê da cobrança, em alguns casos, de juro superior àquele regulamentado pela Coroa.
No caso de Jerônimo, citado anteriormente, o risco que seus credores corriam era muito grande,
uma vez que ele estava indo com o dinheiro para a Bahia, a negócios. Alguns deles, sabendo disso,
estipularam taxas nas quais estava embutido o preço desse risco.
Como medida de segurança, alguns credores registraram os empréstimos em cartório, como
o concedido pelo capitão Antônio de Araújo dos Santos a Manoel de Seixas da Fonseca, no valor de
“1640 oitavas de ouro a razão de juro de 6 e [um] quarto por cento para lhe pagar da feitura dessa
escritura a 13 meses principiando a correr o juro do primeiro dia do mês de janeiro próximo que
vem de 1719 em diante".14 Ainda como garantia, Manoel de Seixas deixou hipotecado "1 engenho
de água moente localizado em Rio das Velhas Acima".15
O reverendo padre Manoel Abrantes, morador na Vila de Sabará, emprestou, certa vez, a
Bonifácio Antunes e à sua esposa, Maria de Sacramento, "a quantia de 1066 oitavas de ouro limpo e
capaz de receber como faz parte dele do Rio das Velhas ( ...) cuja quantia tomão a juros de 6 e
coarto por cento por tempo de ano e meio para dar a pagar a dita quantia do fim do dito ano".16

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Como garantia, os devedores hipotecaram cinco escravos e “uma morada de casas em que vive cito
na Rua Direita desta vila [Real de Sabará]”.17
Em alguns casos, os credores não chegavam a recorrer ao notário para escriturar um contrato
de empréstimo. Seja devido ao custo das escrituras, a importância da palavra na sociedade
setecentista, ou a distância entre o domicílio dos envolvidos e o cartório, o fato é que muitos
credores registraram os empréstimos apenas em letras ou cartas de créditos. Assim aconteceu com
Luís da Rocha Barbosa que, de acordo com seu testamento, devia “a Sebastião Alves, morador na
Vila de Canheira, comarca da Bahia, 86$000 que corrrem juros de seis e coarto por cento como há
de constar de um crédito que tem em seu poder”.18
Raramente se encontram nos registros de empréstimos os motivos que levaram o indivíduo a
solicitá-lo. Quando se tratavam de grandes quantias, esses empréstimos, possivelmente, serviriam
para saldar uma dívida contraída anteriormente ou para investimentos em atividades produtivas. No
entanto, as práticas creditícias foram importantes não só nas inversões produtivas, mas, também,
para o acesso ao consumo e à ascensão social. De acordo com a lista de devedores de Domingos
Gomes da Silva, presente em seu testamento, lhe deviam “uns crioulos forros Cristóvão de
Mendonça e sua mulher Domingas Ramos 120 oitavas de ouro que lhe emprestei para a alforria de
sua mulher”.19 Nesse caso, recorreu-se ao empréstimo para comprar a liberdade de um escravo,
possibilitando, assim, uma eventual ascensão social.
Em suma, diferente das vendas a crédito, para conseguir um empréstimo as formalidades
eram maiores. No caso de valores elevados era preciso, muitas vezes, apresentar bens a serem
hipotecados, pagar taxas de juros e assinar contratos de cunho privado ou público. Além disso, ao
contrário das vendas a crédito, o empréstimo era uma prática mais comum entre os comerciantes do
que qualquer outro agente financiador privado da capitania de Minas Gerais. Vejamos o perfil de
algumas pessoas que se destacaram na condição de credores em uma comarca mineira setecentista.

Os comerciantes e o financiamento privado da economia mineira

Analisamos uma série composta por 379 processos de inventários post-mortem, escritos
entre 1713 e 1773, encontrados em Sabará, na Casa Borba Gato-IPHAN.20 Um dos resultados dessa
pesquisa pode ser encontrado nos quadros 1 e 2 (anexo), nas quais são apresentados os perfis dos
principais credores entre a população inventariada na comarca do Rio das Velhas.
Em linhas gerais podemos dizer que a maior parte dos grandes credores da Comarca não foi
casado, tem a maior parte do patrimônio composto por créditos e o comércio como atividade
majoritária. É preciso salientar que chamamos genericamente de “comerciante” aqueles que foram

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reconhecidos ao longo do processo de inventário como tal, ou que possuem como parte
considerável de sua riqueza estoques de secos e/ou molhados.21
Alguns deles possuíam vendas fixas como Antônio Francisco Pinto, morador do arraial de
José Couto, na freguesia de Roça Grande, próximo a Sabará. Antônio Francisco Pinto tinha apenas
dois escravos angola e uma escrava mina de nome Maria, que o auxiliavam na manutenção de seu
negócio. Sua riqueza não estava na sua casa (avaliada em 96$000) ou em seu plantel (avaliado em
250$000), mas nos créditos que possuía.22
Ao analisar o inventário dos bens de Antônio Francisco Pinto, percebe-se que além do
crédito rotineiro derivado das transações ocorridas em sua venda, o comerciante se dedicou também
ao empréstimo a juro e às vendas a crédito mediante cobrança de interesse. Foram identificadas
quarenta e oito “dívidas por créditos que correm juros” – conforme enunciado no próprio processo –
formando um montante em ativos de 1:116$469. Um exemplo foi a dívida contraída por “Manoel
Afonso da Silva por crédito que corre juros passado em 13 de abril de 1771 a esta herança a quantia
de 203 oitavas um quarto e dois vinténs de ouro”.23
Um relato feito pelo tutor dos filhos de Antônio Francisco Pinto, extraído dos autos do
processo de inventário de seus bens, ilustra com clareza a participação das dívidas no patrimônio do
comerciante e a dificuldade em cobrá-las.
Diz Antônio José Teixeira, tutor dos órfãos de Antônio Francisco Pinto, e também, seu testamenteiro,
que por constar aquela herança quase toda de dívidas de crédito, e rol ou contas de livros por ter
sido falecido mercador, haver muita miudeza, em que cresce o número de execuções pelo calamitoso
estado em que se acha o país; lhe foi preciso ajustar por ano a Miguel Ignácio da Costa Marinho
solicitado nos auditórios desta sentença para tratar de todas as dependências, demandas e execuções
da dita herança por se achar nele a capacidade precisa para o efeito e dar contas do que cobrar pelo
que ajustou por 50 oitavas por ano, em 01 de maio de 1773.24

Outro grande credor, cujo testamenteiro deve ter enfrentado semelhante inconveniente, foi
Domingos Gonçalves de Carvalho. Português, nascido em Lanhozo, Bispado do Porto, Domingos
era comerciante volante e estava nas Minas a negócio quando morreu de “um tiro que recebera
pelas partes do Paraopeba”.25 No momento em que recebeu o tiro, o comerciante carregava consigo
diversos cortes de tecido, além de pentes, canivetes e outros itens que eram vendidos em
estabelecimentos espalhados pelos confins da Comarca – iguais ao de Antônio Francisco Pinto. Ao
analisar seus créditos e dívidas, foram encontrados devedores de Domingos Carvalho em
Congonhas, em Morro Vermelho, em Riacho Fundo, em Penteado e em Paraopebas, onde foi
assassinado.26
Um dado importante e que vale ser destacado em relação aos créditos que possuía Domingos
Gonçalves de Carvalho, é que dos 169 devedores do comerciante, 59 (35%) são negros e pardos,
escravos ou forros.27 Isso é indicativo da difusão do sistema de créditos entre as várias camadas da
sociedade mineira. Por meio de operações de crédito, cativos e libertos puderam ter acesso ao

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mercado, adquirindo produtos para satisfazer suas necessidades de consumo ou para abastecer seus
pequenos negócios.
A difusão do sistema de crédito na sociedade mineira setecentista é confirmada quando
analisados os inventários post-mortem em série. Em 291 (aproximadamente 77%) dos 379
processos estudados foi feita alguma menção a dívida ativa e/ou passiva. Isso mostra a amplitude do
seu alcance e a importância que as dívidas assumiram na vida dos habitantes da Comarca do Rio
das Velhas.
Para o período recortado, um dos maiores credores da Comarca, cujos bens foram
inventariados, foi João de Souza Brito. Em meados do século XVIIII, João de Souza Brito era
responsável por abastecer de instrumentos para minerar, de tecidos e de “produtos do Reino” a
região de Paracatu e as minas de Goiás (onde o comerciante tinha uma casa). Seus devedores,
conforme consta em “bilhetes” e “escritos” apresentados pelo inventariante, são homens e mulheres
que compraram cargas de secos e molhados a crédito. Bento Soares de Araújo, por exemplo, devia
ao comerciante por “trinta e oito cargas de molhados”, a saber: “dezoito de vinho, dez de
aguardente, duas de vinagre, duas de azeite, quatro de farinha de trigo, duas de manteiga, uma de
bacalhau, uma de alavancas, meia de queijo”.28
Mas essa não era a única modalidade de crédito praticada por João de Souza Brito. Ele
emprestava dinheiro a juros e negociava por letras de câmbio, como consta em seu rol de devedores.
Além disso, encontramos dívidas procedentes de casas que alugava, de escravos que vendia, de
jornais que tinha a receber de escravos e até da alforria de uma negra – possivelmente coartada por
ele. 29 Entre seus devedores encontramos: licenciados, mestre carabina, padre, sargento-mor, juiz
ordinário, alguns escravos e forros.
Foi a inexistência de instituições de crédito de peso que “fazia com que a atividade
financeira se confundisse com o comércio, ou ainda, que tal atividade se fizesse por uma cadeia de
endividamentos”.30 Por isso, na capitania de Minas Gerais, os principais agentes financiadores eram
comerciantes como o Capitão Mathias de Crasto Porto.
Porto foi um dos maiores criadores de gado da capitania de Minas Gerais, na primeira
metade do século XVIII. No entanto, ele não se preocupava apenas em criar o gado. Participava de
toda a cadeia produtiva da carne: desde a engorda e o abate, até a venda nos açougues.
Encontravam-se açougues do capitão Mathias de Crasto Porto em duas importantes regiões da
comarca do Rio das Velhas: na longínqua, mas próspera, Paracatu e em Roça Grande, freguesia
próxima à Vila Real de Sabará. Seus investimentos não se restringiam à produção e distribuição de
carne. Porto possuía também escravos ferreiros e sapateiros, que trabalhavam em tendas por ele
equipadas, em troca de jornais; era proprietário, ainda, de prédios urbanos destinados ao aluguel e
de algumas lojas na Vila de Sabará e em Roça Grande. 31

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A única diferença entre Mathias de Crasto Porto e o restante dos comerciantes relacionados
nos quadros 1 e 2 (anexo), foi a percentagem que os créditos assumiram em relação ao monte-mor
acumulado por ele. Enquanto grandes credores, tanto em montante, quanto em números de dívidas,
como Domingos Gonçalves de Carvalho, Manuel José de Abreu e Antônio Francisco Pinto, tinham
nas dívidas ativas a maior parte de suas riquezas, apenas 18% da riqueza de Mathias de Crasto Porto
estava concentrada nelas. Isso devido a grande fortuna acumulada em terras e gado.
Porém vale destacar que o Capitão foi, entre os habitantes da Comarca cujos inventários
post-mortem temos acesso, aquele que tinha o maior número de devedores – conforme mostra o
quadro 1. Em uma cultura econômica típica de Antigo Regime, as práticas creditícias, mais do que
atos econômicos, eram atos sociais. Ter muitos devedores significava ter uma ampla rede clientelar,
formada por pessoas fiéis e prestativas, sempre em dívida de gratidão.32 Afinal, de acordo a
terminologia da época, “crédito” estava muito mais ligado à idéia de confiança, “fé que se dá a
alguma cousa”, “autoridade, estimação”, “favor, valimento”, do que a uma atividade econômica.33
Dessa forma, controlando terras, gado e – por meio de uma vasta cadeia de endividamento –
pessoas, o fazendeiro-comerciante Mathias Crasto Porto era, com certeza, um dos mais influentes
homens da Capitania de Minas Gerais na primeira metade do século XVIII.
Outro importante agente financiador da economia da mineira foi o Alferes Alexandre de
Oliveira Braga – conforme mostra o quadro 2. Ao examinarmos o inventário de seus bens, feito em
1771, percebemos que 86% dos seus investimentos estavam concentrados em dívidas ativas, que
somadas equivaliam a mais de 62 contos de réis. No entanto, todo esse valor esteve distribuído entre
cento e vinte dívidas, apenas.
Percebe-se, nesse ponto, uma diferença essencial entre o crédito fornecido pelos
comerciantes e por outros agentes privados: os comerciantes, em geral, emprestavam para um
grande número de pessoas, porém, pequenos valores. Em média as dívidas ativas de Mathias de
Crasto Porto foram de 5$958. Já as dívidas ativas de Alexandre de Oliveira Braga, que não era
comerciante (embora atuasse, eventualmente, como tal), apresentavam um padrão muito diferente:
uma média de 521$285 por devedor.
Morador do arraial de Raposos, o alferes Alexandre de Oliveira Braga tinha, conforme foi
inventariado,
uma fazenda de agricultura e terras minerais com lavra aberta em taboleiro com suas casas de
vivenda e outras contiguas de hospedaria e mais serventias que se oferessem, payol, senzalas e
estrebarias e moinho tudo coberto de telha e seu bananal tudo amurado, três regos de água que tudo
consta dos títulos tanto das terras minerais como das mesmas agoas 34

Tratava-se, portanto, de um grande minerador, que contava, inclusive, com “roda de minerar
com suas correntes” na exploração de suas datas.35 Essa informação é confirmada por uma lista
produzida a pedido da Coroa portuguesa, em 1756, na qual Alexandre de Oliveira Braga figura

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como o homem mais abastado do arraial de Raposos. De acordo com a lista, a atividade majoritária
do alferes era de fato a mineração.36
No entanto, Alexandre de Oliveira Braga possuía suas terras minerais em uma “propriedade
rural horizontal”,37 na qual a extração de ouro era acompanhada da produção de alimentos para a
subsistência da unidade produtiva e cujo excedente era comercializado no mercado. Além disso,
outra atividade exercida na propriedade do Alferes era a manufatura têxtil. Encontramos “dois
teares de tecer pano com seus aparelhos” e “uma urdideira de urdir pano” entre os bens
inventariados. Isso, somado ao estoque de, entre outras coisas, “treze côvados de baeta azul”,
“dezenove côvados de baeta amarela”, “onze côvados de pano azul ferete”, “quinze varas de pano
de linho” e “cento e quarenta oitavas de retrós de várias cores”, apontam para a diversidade de
investimentos do “minerador”.38
Além do comércio de tecidos, altamente lucrativo na Capitania de Minas Gerais, outra
atividade extremamente rentável – haja vista o pequeno grau de risco –, exercida por Alexandre de
Oliveira Braga foi o empenho de jóias. No momento de sua morte tinham em sua mão “vinte
pedrinhas de diamantes penhorado por D. Mariana Efigênia”, “cinco corais machos engrazados em
ouro penhorados por D. Mariana Efigênia”, “trinta e duas oitavas de ouro lavrado em peças
penhorado por Rafael Branco de Oliveira“, “cinco oitavas de ouro lavrado penhorados por Izabel de
Oliveira, preta forra”, “um rosicié e um anel de diamantes penhorados por Catarina da Piedade”,
“quatro oitavas de ouro penhorados por Salvador da Fonseca” e “sete oitavas de ouro penhorados
por Narciza, preta”.39
O empenho de jóias foi uma atividade exercida também por Caetano Pinto de Faria, um dos
maiores credores da região, conforme aponta os quadros 1 e 2. Faltam informações sobre esse
personagem. Sabemos apenas que ele era de origem portuguesa, que era morador do arraial de São
Luiz e Santana de Paracatu e que tinha a maior parte de seu patrimônio composto por créditos
(94%).
Com uma fortuna de aproximadamente 25 contos de réis, Caetano Pinto Faria, ao que tudo
indica, vivia da renda dos juros cobrados em operações de crédito como empréstimos e empenhos.
“Empenhadas na mão do testador" encontravam-se uma lista enorme de jóias, como: “uma corrente
de tranças com sua verônica de São Bento”, “uma faca com cabo de ouro”, “dois pares de brincos
de ouro esmaltados”, “um par de brincos antigos com seus diamantes” e “um rosicié de ouro
maciço”.40 Talvez estejamos diante de um morador da Capitania de Minas Gerais especializado no
financiamento. Uma espécie de banco privado da região de Paracatu.
Mas voltemos ao caso de Alexandre de Oliveira Braga. Além das dívidas por jóias
empenhadas em sua mão, deviam a ele, por “credito passado no Rio de Janeiro”, cerca de 15
pessoas, entre elas: Pedro Felmo Lima e Pedro José da Silva a quantia de 960$000; os irmãos

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Manoel Alves de Oliveira e Domingos Alves de Oliveira cerca de 1:250$000; Manoel Alves da
Silva a quantia de 2:547$600; José de Souza Silva e Manoel Ferreira o total de 3:120$400. Além
disso, no Rio de Janeiro, o Alferes deveria receber uma dívida de 12 contos de réis.41 Podemos
concluir que Alexandre de Oliveira Braga teve uma atuação destacada no financiamento da
economia mineira, na medida em que emprestava dinheiro (a juros ou sob empenho de jóias),
vendia a crédito e, principalmente, financiava carregações do Rio de Janeiro em direção a Minas
Gerais.
Além de Alexandre de Oliveira Braga outros agentes financiadores da economia na região
do Rio das Velhas possuíam conexões que extrapolavam os limites da Comarca. O já mencionado
comerciante Mathias de Crasto Porto, por exemplo, para abastecer suas lojas recorreu a diversos
comerciantes e casas comerciais cariocas. Um de seus credores foi João Martins Pinto, morador no
Rio de Janeiro, que adiantou ao comerciante mineiro 3:126$250 em fazendas. Mathias de Crasto
Porto devia, ainda, à casa comercial carioca de Manuel Rodrigues Pontes e Companhia, duas
dívidas no valor de 660$587, “procedidas igualmente de fazendas”.42
Assim como Mathias Crasto Porto, alguns dos comerciantes mineiros estiveram ligados, de
alguma forma, às casas comerciais baianas, cariocas e/ou portuguesas. Conforme afirmou João
Fragoso,
a leitura dos processos tramitados na Real Junta de Comércio nos informa que o funcionamento das
atividades empresariais se dava através do adiantamento de mercadorias e de créditos, isto é, os
negócios se faziam por meio de uma infinita cadeia de dívidas ativas e passivas.43

Comerciantes residentes no litoral, não raramente, adiantavam dinheiro e/ou mercadorias e


recebiam parte do lucro, ou juro, após a sua venda na capitania de Minas Gerais. No entanto, o
inverso também acontecia, inclusive com alguma freqüência. Isso é o que nos mostrou os casos de
Alexandre de Oliveira Braga, que tinha dinheiro a receber no Rio de Janeiro, proveniente de
negócios feitos nessa praça.
Podemos encontrar vários outros exemplos de habitantes da comarca do Rio das Velhas que,
apesar de não figurar entre os maiores credores, financiaram o comércio entre a região e o litoral. É
o caso de Domingos Vieira de Sousa, morador na Vila Real de Sabará, que entregou a João
Cerqueira Porto 900$000 “para ir ao Rio de Janeiro a buscar fazendas por minha conta e dele, de
que somos sócios na dita fazenda”.44 Outro exemplo foi o comerciante mineiro chamado Agostinho
Correa Rego, que declarou em seu testamento que lhe era “devedor Manoel da Costa Valle,
morador no Sabará, 360 oitavas de mil e quinhentos [réis cada oitava] procedidos de dois negros
que lhe entreguei na cidade da Bahia e ele os trouxe para estas Minas por minha conta e risco”.45
Portanto, se, por um lado, “era hábito os comerciantes atacadista do Rio de Janeiro e Bahia
adiantarem estoques, ou emprestarem dinheiro, para os comerciantes nas Minas, criando laços de
endividamento”; por outro, “os grandes atacadistas estabelecidos em Minas tornaram-se

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importantes linha de crédito interno, o que fez com que o pequeno comércio recorresse a esses em
busca de financiamento”.46Dessa forma, é possível pensar que, mesmo subordinados, em parte, às
casas comerciais cariocas, baianas ou metropolitanas, teria havido a possibilidade de acumulações
regionais por parte de alguns comerciantes mineiros – muito embora com uma margem de lucro
inferior àquelas conseguidas pelos comerciantes litorâneos. E isso foi possível devido às inúmeras e
complexas cadeias de endividamento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na capitania de Minas Gerais, durante o século XVIII, as dívidas eram feitas com objetivos
diversos: satisfazer necessidades de consumo, de ascensão social ou de investimentos no setor
produtivo. Contraíram-se dívidas, também, em momentos de sofrimento da carne e do espírito, na
busca de ajuda junto a doutores, boticários e padres para assistência nas horas de necessidade. Os
artesãos, os jornaleiros, os boticários e os produtores de alimentos adiantavam seus produtos ou
seus serviços a crédito. Mas foram os comerciantes os principais responsáveis pelo emaranhado de
dívidas que se proliferou por todas as camadas sociais. A própria prática comercial exigia deles um
contato cotidiano com operações de crédito. Por isso é possível afirmar que o crédito privado na
Capitania era uma atividade reconhecidamente atrelada à atividade mercantil.
E não só grandes negociantes atacadistas representaram o capital mercantil comercial.
Vendedores ambulantes e pequenos atravessadores também foram agentes fundamentais para o
desenvolvimento do mercado interno durante o período colonial, na medida em que, adiantando
mercadorias e/ou emprestando dinheiro, financiaram empreendimentos comerciais, garantiram a
manutenção de unidades produtivas e permitiram o consumo de produtos produzidos dentro e fora
da Colônia.
O capital mercantil local foi um importante agente na reprodução da sociedade colonial, assim
como de sua economia.47 Isso porque, as cadeias de endividamento que viabilizaram o crédito, e,
conseqüentemente, a própria reprodução da economia, se encerravam, não raramente, em agentes
residentes na própria Colônia. Esses agentes que, frequentemente, podiam ser encontrados em
grandes praças comerciais da Colônia, como o Rio de Janeiro e Salvador, também ocupavam
regiões periféricas da América portuguesa, como a capitania de Minas Gerais, mas quase sempre
estavam longe de serem homens de “grosso trato”.

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ANEXO 1
TABELA 1 – Perfil dos maiores credores em números de ativos (1713-1773).

Atuações
Numero de Montante dos Monte-mor Ativos / Monte- Condição profissionais
Inventariado devedores ativos acumulado mor(%) jurídica majoritárias.
Fazendeiro e
Matias de Crasto Porto 307 1:829$226 10:164$809 18% Solteiro Comerciante
Minerador e
José Corrêa Silva 281 7:391$413 26:237$293 28% Casado Fazendeiro
Antônio Francisco Pinto 237 4:064$269 5:705$970 71% Solteiro Comerciante
Domingos Gonçalves de
Carvalho 169 2:729$677 1:444$859 189% Solteiro Comerciante
João de Souza Brito 168 14:592$108 17:475$334 84% n/c Comerciante
Manuel Pereira Pinto Neves 160 4:134$303 4:661$917 89% Solteiro Comerciante
João de Souza Neto 138 1:397$680 2:298$421 61% n/c Fazendeiro
Domingos Fernandes de
Carvalho 132 4:287$628 5:979$038 72% n/c Comerciante
Alexandre de Oliveira Braga 120 62:554$236 72:347$728 86% Solteiro Fazendeiro
Caetano Pinto de Faria 105 23:385$918 24:927$256 94% Solteiro Indefinida
Manuel José de Abreu 105 9:664$923 11:868$976 81% Solteiro Comerciante
Antônio Ribeiro da Silva
Guimarães 102 2:186$578 2:475$318 88% Solteiro Comerciante

TABELA 2 – Perfil dos maiores credores em montante de ativos (1713-1773).

Atuações
Monte-mor Ativos / Monte- Numero de Condição profissionais
Inventariado Montante dos ativos acumulado mor(%) devedores jurídica majoritárias
Alexandre de Oliveira
Braga 62:554$236 72:347$728 86% 120 Solteiro Fazendeiro
Caetano Pinto de Faria 23:385$918 24:927$256 94% 105 Solteiro Indefinida
João de Souza Brito 14:592$108 17:475$334 84% 168 n/c Comerciante
Comerciante
Joana de Souza Araújo 12:946$583 12:891$730 100% 62 Casado (marido)
Manuel José de Abreu 9:664$923 11:868$976 81% 105 Solteiro Comerciante
Minerador e
José Corrêa Silva 7:391$413 26:237$293 28% 281 Casado Fazendeiro
Reverendo Doutor João Reverendo
Batista Lopes 5:610$757 5:960$758 94% 81 Solteiro Doutor
Domingos Fernandes de
Carvalho 4:287$628 5:979$038 72% 132 n/c Comerciante
Manuel Pereira Pinto
Neves 4:134$303 4:661$917 89% 160 Solteiro Comerciante
Antônio Francisco Pinto 4:064$269 5:705$970 71% 237 Solteiro Comerciante
Domingos Gonçalves de
Carvalho 2:729$677 1:444$859 189% 169 Solteiro Comerciante
Antônio Ribeiro da Silva
Guimarães 2:186$578 2:475$318 88% 102 Solteiro Comerciante

FONTE: Banco de Dados de Inventários e Testamentos da Comarca do Rio das Velhas – século
XVII

Revista Eletrônica de História do Brasil, v. 10 n. 1 e 2, Jan.-Dez., 2008 57


* Pesquisa financiada pelo Cnpq.
1
Entendemos por prática creditícia não apenas a mera transação de dinheiro em forma de empréstimos, mas um
conjunto de práticas e mecanismos de adiantamento de produtos e serviços. Sobre a concepção de crédito adequada ao
século XVIII mineiro, ver: Raphael F. Considerações sobre as atividades creditícias na sociedade mineira setecentista.
IN: XII Seminário sobre Economia Mineira. Diamantina: CEDEPLAR, 2006.
2
MO-Casa Borba Gato/IPHAN: Testamentos (CPO) Códice 02(06), fls. 02-05v – 29/06/1738.
3
ROCHA, Maria Manuela Ferreira Marques. Crédito privado num contexto urbano. Lisboa, 1770-1830. Florença, 1996
(Tese de doutorado em História e Civilização). Instituto Universitário Europeu, p. 317.
4
MO-Casa Borba Gato/IPHAN: Testamentos (CPO) Códice 01 (01), fls. 180-186v – 14/04/1722.
5
MO-Casa Borba Gato/IPHAN: Testamentos (CPO) Códice 08 (16), fls. 361v-369 – 31/08/1750.
6
MO-Casa Borba Gato/IPHAN: Inventários (CPO) Ref. Ant. 01(07) – 11/07/1731.
7
MO-Casa Borba Gato/IPHAN: CPO – Livros de Notas: Códice s/n – 1768, fls. 110v - 112v.
8
MO-Casa Borba Gato/IPHAN: CPO – Livros de Notas: Códice 01(05) – 1718, fls. 119v/121.
9
Sobre o conceito de “economia moral” ver: THOMPSOM, E. P. Economia moral da multidão inglesa no século
XVIII. IN: Costumes em Comum. Estudos sobre a cultura popular tradicional. Trad. Rosaura Eichemberg. São Paulo:
Companhia das Letras, 2002.
10
MO-Casa Borba Gato/IPHAN: Testamentos (CPO) Códice 02 (06), fls. 5v-11 – 27/07/1738.
11
De acordo com a legislação portuguesa até 1757, a taxa máxima de juros permitida era 6,25% (ou “seis e coarto por
cento” conforme aparece na documentação setecentista) e, a partir dessa data, de 5%. Ver Additamentos – Alvará de 17
de janeiro de 1757. Código Philipino ou Ordenações do Reino compiladas por mandado Del Rey D. Phillipe II. XIV
edição. RJ: Tipografia Instituto Philomático, 1870.
12
13
MO-Casa Borba Gato/IPHAN: Testamentos (CPO) Códice 03 (08), fls. 107-116v – 28/07/1740.
14
MO-Casa Borba Gato/IPHAN: CPO – Livros de Notas: Códice 01(05) – 1718, fls. 211-212.
15
Ibidem.
16
MO-Casa Borba Gato/IPHAN: CPO – Livros de Notas: Códice s/n – 1748, fls. 47v-48.
17
Ibidem.
18
MO-Casa Borba Gato/IPHAN: Testamentos (CPO) Códice 02 (06), fls. 02-05v – 29/06/1738.
19
MO-Casa Borba Gato/IPHAN: Testamentos (CPO) Códice 01(01), fls. 70-74 – 31/12/1717.
20
As informações quantitativas foram potencializadas por meio da utilização de uma base de dados informatizada,
gentilmente cedida pela Profa. Beatriz R. Magalhães, coordenadora do projeto “Banco de Dados de Inventários e
Testamentos da Comarca do Rio das Velhas – século XVIII”, do qual fui pesquisador e hoje sou colaborador. O
resultado dessa pesquisa pode ser encontrado em nossa dissertação de mestrado. Ver:
21
Semelhante aos padrões de investimentos dos comerciantes analisados por PEDREIRA, Jorge M. V. Os Homens de
Negócio da Praça de Lisboa de Pombal ao Vintismo (1755-1822). Diferenciação, Reprodução e Identificação de um
grupo social. Lisboa, 1995. (Tese de Doutorado em Sociologia e Economia Históricas). Universidade Nova de Lisboa
22
O estoque de sua venda – composto por tecidos de várias cores e procedências; além de objetos como livros de
novena, botões, pentes, pregos até fechaduras de porta – não foi avaliado, já que seria dividido entre as herdeiras, as
duas filhas ilegítimas Bernarda e Francisca.
23
MO-Casa Borba Gato/IPHAN: Inventários (CSO) Ref. Ant. 06(09) – 13/10/1772.
24
Ibidem. A partir desse relato, percebe-se como parte significativa da riqueza dos comerciantes estava concentrada em
crédito. Outro documento exemplar desse processo é uma solicitação ao Juiz de Órfãos, feita pelo tutor e testamenteiro
de Antônio Francisco Pinto, pedindo autorização para despender uma parte da herança deixada pelo inventariado na
contratação de um profissional especializado em cobrar dívidas.
25
MO-Casa Borba Gato/IPHAN: Inventários (CSO) Ref. Ant. 22(05) – 20/12/1755.
26
Ibidem.
27
Ibidem.
28
MO-Casa Borba Gato/IPHAN: Inventários (CPO) Ref. Ant. 95(05) – 27/11/1772.
29
A junção entre uma ampla rede urbana e a diversificação da economia, acompanhada de um amplo mercado
consumidor, possibilitou aos ex-escravos, algumas vezes, a ascensão econômica e social. Isso era possível por meio dos
processos de coartação em que os escravos compravam sua liberdade parceladamente. Nesse sentido, a coartação pode
ser classificada, também, como uma prática creditícia, na medida em que se tratava da compra, a prazo e em parcelas,
que um escravo poderia fazer da sua carta de manumissão. SANTOS, Raphael F. Devo que pagarei: sociedade,
mercado e práticas creditícias na comarca do Rio das Velhas - 1713-1773. Belo Horizonte, 2005. (Dissertação de
mestrado em História). Universidade Federal de Minas Gerais, p. 133.
30
FRAGOSO, João Luís. Homens de Grossa Aventura: Acumulação e Hierarquia na Praça Mercantil do Rio de Janeiro
1790-1830. 2ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998, p. 321.
31
MO-Casa Borba Gato/IPHAN: Inventários (CPO) Ref. Ant. 02(18) – 10/10/1742.
32
HESPANHA, Antônio Manuel e XAVIER, Ângela. As redes clientelares.. In: MATTOSO, José (Org). História de
Portugal; o antigo regime. v. 4. Lisboa: Editoral Estampa, 1993.
33
Conforme a entrada relativa ao termo “crédito” do Vocabulário Português e Latino, escrito por D. Raphael Bluteau
por volta de 1712, apenas como a última das definições aparece o sentido de “crédito entre mercadores, abono de

Revista Eletrônica de História do Brasil, v. 10 n. 1 e 2, Jan.-Dez., 2008 58


cabedal e correspondência entre os mais”. Ver: BLUTEAU, D. Raphael. Vocabulário Português & Latino. Coimbra:
Colégio das Artes da Companhia de Jesus, 1712.
34
MO-Casa Borba Gato/IPHAN: Inventários (CSO) Ref. Ant. 31(01) – 17/06/1771.
35
Ibidem.
36
AHU – Conselho Ultramarino – Brasil/MG – cx. 70, doc. 40. 24/07/1756.
37
De acordo com Kenneth Maxwell, “a economia regional, com suas propriedades rurais horizontais integradas era
particularmente capaz de absorver o choque das transformações que vieram após a exaustão do ouro aluvial”.
MAXWELL, Kenneth. A devassa da Devassa. A Inconfidência Mineira. Brasil – Portugal, 1750-1808. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1977, p. 112.
38
MO-Casa Borba Gato/IPHAN: Inventários (CSO) Ref. Ant. 31(01) – 17/06/1771.
39
Ibidem.
40
MO-Casa Borba Gato/IPHAN: Inventários (CPO) Ref. Ant. 05(05) – 11/10/1772.
41
MO-Casa Borba Gato/IPHAN: Inventários (CSO) Ref. Ant. 31(01) – 17/06/1771.
42
MO-Casa Borba Gato/IPHAN: Inventários (CPO) Ref. Ant. 02(18) – 10/10/1742.
43
FRAGOSO, João Luís. Homens de Grossa Aventura: Acumulação e Hierarquia na Praça Mercantil do Rio de Janeiro
1790-1830. 2ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998, p. 243.
44
MO-Casa Borba Gato/IPHAN: Testamentos (CPO) Códice 02 (06), fls. 111-120v.
45
MO-Casa Borba Gato/IPHAN: Testamentos (CPO) Códice 18 (29), fls. 154-158v –12/05/1772. Manoel da Costa
Valle foi um dos comerciantes relacionados na lista produzida, em 1756, a pedido da Coroa Portuguesa, para saber
quem eram os Homens mais abastados da Capitania de Minas Gerais a época. Ver: AHU – Conselho Ultramarino –
Brasil/MG – cx. 70, doc. 40. 24/07/1756.
46
FURTADO, Júnia Ferreira. Homens de Negócio: A interiorização da metrópole e do comércio nas Minas
setecentistas. São Paulo: HUCITEC, 1999, p.124
47
De acordo com o modelo desenvolvido por Fragoso e Florentino, a acumulação foi um importante elemento de
reiteração no tempo e no espaço de estruturas arcaicas do Antigo Regime português. FRAGOSO, João Luís;
FLORENTINO, Manolo. Arcaísmo como projeto: mercado atlântico, sociedade agrária e elite mercantil no Rio de
Janeiro, c. 1790 – c. 1840. 3ª ed. Rio de Janeiro: Sette letras, 1998.

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