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32 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — FEV.

1945

A mo e d a e s c r i t u r a !
R ic h a r d L e w in s o h n
D r . rer. p o l .

I. O PAG AM EN TO C O M CHEQUE cessidade, as contas internacionais, e dar ao mes­


mo tempo à moeda nacional uma base psicológica
E NO SÉCULO passado alguém perguntasse e um limite. A estatística do Departamento do
' em que consiste a moeda, a resposta seria Tesouro dos Estados Unidos registra ainda as re­
unânime : em peças metálicas, de ouro ou de prata. servas de ouro como parte do “stock of money” ao
O mesmo não aconteceria quanto à moeda-papel, lado das outras espécies de moedas metálicas ( “sil-
que muitos economistas e também o público con­ ver dollar” , “subsidiary silver” ) e da moeda-papel.
sideravam uma obrigação do Estado ou do banco • Todavia, é mais comum nos Estados Unidos de­
de emissão, ou seja o reconhecimento de uma dí­ signar as reservas de ouro e os outros elementos
vida, resgatável em metal precioso. Somente al­ que constituem a base do sistema monetário como
guns teóricos atrevidos, com o T hornton (1 ), “standard mcney” para distinguí-los do “effective
T ooke (2 ), W agner (3 ), ousavam então compa­ money”, isto é, a moeda realmente utilizada pelo
rar os depósitos bancários com a moeda, assim público. A primeira função da moeda, senão a
mesmo com extrema prudência. Quando muito única, é servir de meio de pagam ento; uma vez
atribuía-se aos fundos manejáveis por meio de que a moeda-ouro não está mais na circulação ela
cheque a qualidade de sucedâneo monetário, mas cessou virtualmente de existir.
ninguém afirmava claramente tratar-se de moeda. Essa constatação não passa porém de resposta
H oje as respostas àquela pergunta são diferen­ negativa à pergunta inicial, e resta saber qual a
tes. Em tôda parte a moeda-ouro desapareceu da moeda característica de nosso tempo. As respostas
circulação e em muitos países é até proibido aos não são uniformes. Não há dúvida que a moeda
particulares adquirir ou guardar moedas antigas. A inconversível assumiu importância capital e nin­
moeda fabricada com prata ou outros metais tem guém pode mais contestar que se trata da mosda
pouca importância para a quantidade total da moe­ verdadeira. Porque, apesar das delicadezas e ata-
da circulante, e seu teor metálico é em geral tão vismos das leis monetárias, ela é efetivamente re­
fraco comparado a seu valor nominal, que pertence conhecida em tôda parte como a moeda legal, que
mais à moeda fiduciária do que à moeda-mercado- o público e o Estado estão obrigados a aceitar em
ria, visto que o pêso da moeda deve corresponder todos os pagamentos estipulados em têrmcs mo­
ao valor comeircial do metal. Se hoje falamos do netários .
curo como metal monetário, temos em vista as re­ Todavia, como meio de pagamento, a moeda-
servas de ouro que o Estado ou os bancos centrais papel é igualada e mesmo excedida em muitos paí­
conservam com o fim de regular, em caso de ne- ses pela moeda escriturai. Em vez de utilizar as
cédulas emitidas pelo governo ou pelo banco cen­
(1 ) H E N R Y T h o r n t o n , An Enquiry into the Nature tral, o públicoi faz a sua própria m oeda., O senhor
and E fíects o í the Paper Credit in Great Btitain (1802) .
(2 ) T h o m a S T o o k e , Ccnsiderations on the State oí fulano tem uma conta em um banco ou em uma
Currency (1 8 2 6 ). caixa econômica; se êle tem um pagamento a fa­
(3 ) A dolf W agner, BeitrUge zur Lehre voti den
Banken (1 8 5 7 ). zer, tira do bôlso um caderno de cheques e lança
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em um formulário muito simples a importância a O sistema da compensação de cheques é certa­


pagar e, eventualmente, o beneficiário. Èle pode mente uma das maiores realizações da organização
também emitir um cheque ao portador, utilizável moderna. Iniciado sobretudo pelo famoso Bankers’
por todo o mundo com o uma verdadeira cédula. Clearing-House, de Londres, que funciona desde
Se a pessoa que recebe o cheque o apresenta 1775, alcançou enorme extensão nos países anglo-
imediatamente ao feuichet do banco contra o qual saxônicos já no século passado. Em 1874-75 os
foi emitido, para converter em espécie o total in­ cheques compensados em Londres atingiram o va­
dicado, o ato não difere sensivelmente de uma or­ lor de 6 bilhões de libras esterlinas, ou seja cêrca
dem que o gerente de uma emprêsa dá ao caixa de seis vêzes a renda nacional inglêsa na mesma
para pagamento de determinada soma a uma ter­ época ( 4 ) . Nos Estados Unidos calculou-se que
ceira pessoa. O que acontece é que o caminho em 1896 cêrca de 86 % e em 1909 cêrca de 91-%
pode ser longo. O pagamento com cheque é às de todos os pagamentos foram efetuados com che­
vêzes um processo pouco racional, principalmente que ( 5 ) . Cálculos mais recentes (6 ) indicam
se o endosso do beneficiário não serve ao mesmo igualmente 90 % ou mais para os Estados Unidos
tempo de recibo para o emitente. Mesmo se o pa­ e mais ou menos a mesma porcentagem para a In­
gamento com cheque é mais côm odo do que o pa­ glaterra e o Canadá.
gamento em espécie, para o emitente, é quase sem­ O significado desta proporção dos pagamentos
pre trabalhoso para o beneficiário, e se se calculas­ por meio de cheque pode ser demonstrado com
se o tempo perdido diàriamente com o recebimen­ alguns dados mais concretos. O Federal Reserve
to de pequenas importâncias paga3 com cheque, Collection System (as Câmaras de Compensação
chegar-se-ia a somas apreciáveis. D o ponto de vis­ instaladas junto aos bancos centrais dos Estados
ta monetário, o cheque resgatado no guichet de Unidos) compensou antes da guerra mais de 2 1/2
um banco não tem vantagens palpáveis, uma vez milhões de cheques por dia, no valor de mais de
que os bancos são obrigados a manter, para essas 600 milhões de dólares ( 7 ) . N o ano de 1940 o
transações, uma grande quantidade de dinheiro número de cheques elevou-se a 1 bilhão, cento e
em caixa. oitenta e quatro milhões e trezentos e cinqüenta

O resultado é diferente se o beneficiário tem seis mil, no valor global de 280 bilhões de dóla­

também uma conta bancária, seja no mesmo ban­ res ( 8 ) . Todavia, apenas cêrca de um têrço dos

co seja em outro, e se êle entrega o cheque direta­ cheques emitidos nos Estados Unidos passa pelo
sistema central de compensação. Os outros são
mente em sua própria conta ou, — em casos mais
compensados por organizações locais. Também no
raros — na conta de uma terceira pessoa a quem
Brasil a compensação de cheques atingiu dimen­
tem algum pagamento a fazer. Em tal hipótese,
sões impressionantes. As onze câmaras de com­
um pagamento ou mesmo vários pagamentos são
pensação organizadas junto ao Banco do Brasil
realizados sem utilização da moeda corrente, com
compensam atualmente cêrca de 15.000 cheques
um simples movimento de escritas nos livros dos
bancos. A conta do emitente diminui, a conta do
(4 ) P a u l C A U W È s, Précis de Cours d'Economie Po1i~
beneficiário aumenta. Se ambos têm conta no mes­ tique (Paris, 1879-80). V ol. I— pág. 5X8; V ol. II __
pág. 494.
mo banco, a compensação se faz automaticamente, , (5 ) I r v i n g F i s h e r , The Purchasing Power oi M oney
(N ew York, 1931), pág. 318.
mas se as contas se acham em dois bancos dife­
(6 ) R o l l t n G . T h o m a s , Our M odem Banking and
rentes, é necessária uma compensação inter-bancá- M onetary System (N ew York, 1942), pág. 10*9.
(7 ) W . R a n d o l p h B u r g e s s , The R eserve Banks and
ria. Para isso existem hoje, em quase todos os
ihe M on ey M arket (New York, 1936), pág. 109.
países, Câmaras de Compensação, junto do banco (8 ) Twenty Seventh Annual R eport ol the Board oi
Governcrs oi the Federal R eserve System ior the Year
central, ou sob a forma de associações de bancos. 1940 (Washington, 1941), pág. 39.
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por dia, e o valor total dos cheques compensados banco a prazo fixo, ou não pode ser retirada sem
em 1944 excedeu, até novembro, a 100 bilhões de aviso prévio. Só os depositos à vista ( demand
cruzeiros'. deposits) podem ser utilizados a todo momento
T odo êsse imenso trabalho é realizado com uma como meio de pagamento. Mas mesmo nesse caso
precisão e rapidez admiráveis. Entretanto,. por é necessária uma discriminação. Na maior parte
mais perfeita que seja, a técnica jamais constitui dos países — não na estatística do Banco do Brasil
em si mesma um critério para se medir a utilidade — são eliminados da moeda escriturai os depósitos
de uma instituição. A expansão dos pagamentos inter-bancários, que os bancos comerciais mantêm
com cheques compensados corresponde certamente no banca central ou em outro banco como reserva
a uma necessidade econômica. Reduzindo a quan­ seja para enfrentar situações excepcionais, seja
tidade de dinheiro em caixa, a moeda escriturai como garantia dos cheques que devem ser recolhi­
simplifica um ramo importante da administração, dos. A estatística norte-americana deduz ainda os
além de oferecer certas vantagens do ponto de vis­ depósitos governamentais, embora êsses não se dis-
ta da segurança. A moeda que só existe nasi escri­ tingam em princípio dos depósitos particulares.
tas dos bancos não está exposta ao roubo, ao fogo Ainda com essas limitações o total da moeda
e a outros acidentes, ainda, que as experiências da escriturai ( M ’ ) é várias vêzes maior que o total do
guerra na Europa talvez modifiquem a opinião so­ meio circulante (M ), principalmente se se levar
bre a indestrutibilidade absoluta da moeda escri­ em consideração o papel-moeda que os bancos
turai . mantêm em caixa para pagar os cheques apresen­
Ora, antes de mais nada, a moeda escriturai per­ tados ao guichet e que está virtualmente fora da
mite a concentração e a expansão do crédito e circulação. Atualmente a relação M ’ :M é, na maior
adapta-se com mais facilidade do aue a moeda
parte dos países, inclusive no Brasil, de 2-3:1.
corrente às flutuações da conjuntura. Mas o seu
Antes da guerra, ela era freqüentemente mais ele­
papel não é puramente passivo. Como instrumen­
vada, e no período ultra especulativa, antes do
to de crédito ela pode exercer influência sôbre a
“krach” de 1929, alcançou a proporçãoi de 6:1 nos
conjuntura econômica e, segundo a opinião de mui­
Estados Unidos.
tos peritos, essa influência chega a ser incisiva.
Como é possível semelhante cousa? Segundo
Precisamente contra essa faculdade de influir na
uma versão muito difundida todos os depósitos em
conjuntura é que se dirigem as críticas. Economis­
banco constituem um fundo de capital, formado
tas eminentes atribuem à moeda escriturai grande
parte da responsabilidade pelos excessos da con­ pelas economias do país. A moeda escriturai ele­

juntura nos sentidos inflacionista ou deflacionista. vada seria, por conseguinte, prova de riqueza. Por

Para compreender êste racionínio é preciso pri­ isso, ela teria maior volume em tempo de prospe­
meiro ver com o se forma a moeda escriturai. ridade e menor em tempo de depressão. À primei­
ra vista, a explicação parece plausível. No entanto
II. A F O R M A Ç Ã O DOS D E P Ó S ITO S é completamente errada. Na realidade, a moeda
escriturai não é um fundo mas uma corrente; é
A moeda escriturai ou bancária (em inglês bank
sempre a mesma água que se mede em vários
money, deposit currency, credit money, check book
m oney) não consiste na massa dos cheques com­ pontos do circuito. O processo pode ser demons­

pensados, mas nas contas bancárias contra as quais trado por um exemplo, cujo autor é particularmen­

os depositantes podem emitir cheques. Não nos te competente nesta questão: W . Randolph Bur-
referimos à totalidade dos depósitos, porque gran­ gess, antigo alto funcionário do Federal Reserve
de parte dêles ( time deposits) é emprestada ao System e atualmente vice-presidente do National
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City Bank of New York e presidente da American , os vende ao Banco Central (Federal Reserve
Bankers Association. Bank) . Êste faz o pagamento creditando ao banco
Em seu livro já citado sóbre os bancos centrais comercial 1.000 dólares. Êsse crédito é, para o
e o mercado monetário dos Estados Unidos, M r.
banco comercial, um fundo de movimento com o
Burgess descreve com o podem ser formados, com
qual pode operar. Na hipótese de cada banco ter
um fundo de 1.000 dólares, 10.000 dólares de em­
préstimos bancários e 10.000 de moeda escritu­ de manter junto ao Banco Central uma reserva

rai. Um banca comercial (Banco n.° 1) possui tí­ legal igual a 10 % de seus depósitos à vista, o pro­
tulos governamentais do valor de 1.000 dólares e cesso evolui da maneira seguinte ( 9 ) :

ank 1 lends $ 1000 to A who pay3 it to B who deposits $ 1000 in Bank 2 which sets asido $ 100 for reserves and has $ 900 lef
» 2 » 900 > C > » » D » > 900 » » 3 » » » 90 » » » » 810 >
» 3 » 810 » E » » » F > » 810 » » 4 » » » 81 » » » » 729 »
» 4 > 729 G > » » II > 729 5 » » » 73 > > » » 626 »
» 5 » 650 I » » » » J » » 656 » > 6 > » » 66 » » > > 590 »
» 6 » 590 » K » * » » L > 590 7 » > » 59 > > » > 531 »
» 7 » 531 » M » » N » » 531 > » 8 » » 53 > » » > 478 >
» 8 » 478 0 » » P > 478 » » 9 » » 48 » » » » 4S0 »
» 9 » 430 » Q » * » > R » > 430 > > 10 » » » 43 * » > » 387 »
» 10 » 3S7 » s » » » T > » 3S7 > > 11 » » > 39 » > > » 348 »

And so on, until follo-


wing totais are reached:

Total Total Total


loans $ 10 000 deposits $ 10 000 reserves $ 1000

No exemplo de M r. Burgess o processo começa os depósitos à vista — a moeda escriturai — po­


com uma operação pela qual o Banco n.° 1 utiliza dem atingir o décuplo do depósito inicial.
os seus próprios fundos. Não é necessário que êle O esquema traçado por Burgess é evidentemen­
se dirija em seguida ao Banco Central a fim de te uma simplificação das diversas transações. Su­
mobilizar os títulos governamentais que lhe per­ põe que todos os depósitos terão o caráter de um
tencem. Poderá também vendê-los na Bôlsa e co­ depósito à vista e que nenhum depósito diminuirá
locar o produto em circulação, emprestando-o a to m um cheque pagável em moeda corrente. Mas
um cliente. Também nessa hipótese a operação êle mostra claramente o ponto essencial que nos
inicial seria um empréstimo bancário e os depósi­ interessa : que a expansão da moeda escriturai de­
tos dela resultantes seriam, de acôrdo com a ter­ pende principalmente da reserva legal que os ban­
minologia de Keynes (1 0 ), criados “actively” . cos devem manter contra seus depósitos. Se a re­
Mas a operação pode também começar com o re­
serva mínima é 10 % , os depósitos, através dos
curso a fundos provenientes de fora. Um novo empréstimos, poderão decuplicar; se a reserva
cliente inicia um depósito na banco, ou um antigo
mínima é 20 % , êles poderão apenas quintuplicar;
cliente aumenta o seu. O banco emprega êsses
se a reserva mínima é 5 % , a moeda escriturai po­
meios adicionais, depois de pôr de lado uma parte derá, com o mesmo fundo original, aumentar vin­
com o reserva, para emprestá-los a outro cliente. te vêzes e se nenhuma reserva é prescrita em lei,
Trata-se, no caso, de um depósito criado “passive-
não há teoricamente nenhum limite à expansão da
íy ” , isto é, sem a iniciativa do banco. Entretanto, moeda escriturai.
o processo não deixa de ser o mesmo, e se o banco
Essas relações podem ser generalizadas com duas
n.° 1 e os outros bancos implicados se limitam a
fórmulas algébricas simples. Se chamarmos, como
reserva legal de 10 % , os empréstimos tanto como
o fêz Phillips (1 1 ), o fundo original “primary de-

(9 ) B u r g e s s , op c it., pág. 7.
' (1 0 ) J o h n M a y n a r d K e y n e s , A Treatise on M oney (1 1 ) C. A. P h il l ip s , Bank Credit (New York, 1920),
(Londres, 1930), V ol. I, pág. 24. págs. 33-40.
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posit” ( P ), os depósitos dêle resultantes “deriva- caso durante a grande crise econômica, pois da
tive deposits” ( D ) e designarmos a porcentagem mesma fcrma que a moeda escriturai se forma pela
da reservja mínima (por exemplo 10 /1 0 0 ) pela multiplicação mágica dos depósitos primários, ela
letra r, podemos definir os “derivative deposits” pode também encolher se uma parte relativamen­
te pequena dos depósitos fôr retirada. A fim de
P— (P + r ) P (l— r) evitar ou atenuar êsses duplos riscos, várias su­
D = ------------------ = ----------
gestões de reformas foram feitas nos Estados Uni­
r r
dos e em outros países. O plano mais radical é da
e a moeda escriturai (M !) autoria do célebre economista da Yale University,
P (1 — r) I r v in g F is h e r ( 1 3 ) . Recomenda a supressão com ­
M’ •
— P+D = P H------------------- pleta dos “derivative deposits” . Para cada depó­
r sito à vista, os bancos comerciais deverão manter
a mesma quantia em reserva nos bancos centrais.
P ( r + 1— r ) P
Os bancos comerciais, por êsse motivo, não pode­
r r rão utilizar os depósitos para atender a emprésti­
mos que se transformem em novos depósitos. Dêsse
Poder-se-á supor que uma expansão semelhante modo o público receberia em lugar de uma moeda
da moeda escriturai não será possível senão na fictícia “ 100 per cent money” .
base de uma moeda fraca, mal protegida contra os Na prática, o plano conduziria a uma grande
perigos da inflação. Tal não é o caso. Nos Esta­ restrição dos empréstimos bancários a curto prazo
dos Unidos a emissão monetária está ligada a con­ <e, conseqüentemente, a uma profunda mudança
dições severas. A moeda-papel necessita de um nos hábitos comerciais. As autoridades monetá­
lastro ouro mínimo de 40 % . Os Federal Reserve rias americanas não foram tão longe, mas tomaram
Banks que emitem moeda-papel devem manter disposições visando entravar a criação da moeda
em garantia dos depósitos que lhes são confiados escriturai. A reserva mínima para os depósitos à
pelos bancos comerciais uma reserva de 35 % em vista que de 1 9 1 7 a 1 9 3 6 foi de 1 0 - 1 3 % , dupli­
moeda corrente e os bancos comerciais devem cou-se. A expansão da moeda escriturai foi com­
manter, com o garantia dos depósitos a vista de batida ainda com outras medidas. A lei bancária
seus clientes, uma reserva de 20 % nos Federal de 1935 proibiu nos Estados Unidos o pagamento
Reserve Banks. Isso quer dizer que, com uma re­ de juros para os depósitos à vista. Isso não im­
serva de ouro de §10 poderão ser criados $25 de pediu que, nos últimos dez anos, a moeda escritu­
papel-moeda com os quais os Federal Reserve rai passasse de 18 bilhões a 65 bilhões de dólares.
Banks podem ter $71,43 de depósitos, e, deposi­ Mas o papel-moeda — livre de encaixe dos bancos
tando essa importância nos Federal Reserve Banks, — aumentou em proporções ainda maiores. Se an­
os bancos comerciais podem ter $357 de depósi­ tes a moeda escriturai tendia a substituir a moeda
tos à vista. Afinal de contas, mesmo sob uma le­ corrente, certa tendência, parece manifestar-se no
gislação monetária tão rigorosa com o a dos Esta­ sentido oposto — o que aliás é um fenômeno ob­
dos Unidos, 10 dólares em ouro bastam com o apoio servado em tôdas as inflações.
para quase 36 x 10 dólares em moeda escriturai.
Em outros países, a evolução é mais ou menos
Eis porque a estrutura monetária já foi comparada
semelhante. Certamente seria prematuro concluir
a uma pirâmide invertida (1 2 ) .
que a grande era da moeda escriturai tenha passa­
Os perigos dessa construção consistem não só do. E ’ mais provável que,, depois da guerra, os
nos efeitos inflacionistas resultantes de uma ex­ graves problemas que a existência de uma moeda
pansão monetária, mas principalmente em uma privada, hiper-elástica e quase incontrolável im­
brusca contração da moeda escriturai, como foi o plica, surgirão de novo e exigirão solução.

(1 2 ) G eorge N. H alm , M onetary Theory (F ila d é lfia , (1 3 ) Ir v in g F is h e r , 100 Per Cent M oney (New York,
1942), pág. 32. 1935).

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