As revoluções burguesas têm como características cruciais as alterações
drásticas na realidade social, econômica e principalmente políticas da época,
mudanças que chegam para mudar a história por completo. Entendemos por si só que revoluções caracterizam um marco na história, de certa forma, um rompimento com paradigmas e dogmas pré-existentes e a revolução burguesa não é diferente. Retomando o contexto histórico pautado nesse marco, tínhamos uma sociedade europeia pautada no regime feudal e absolutista, tínhamos o clero como uma autoridade praticamente absoluta junto com o Rei, a fé católica tornava tudo uníssono, enraizado de tal forma que tudo que provinha da igreja tinha-se como lei. A queda do regime medieval e todo esse paradoxo que o acompanhava, foram colocados em cheque quando os ideais revolucionários começaram a vir à tona. Os burgos eram pequenas “cidades” mais afastadas dos feudos, dos grandes centros, serviam de palco para as feiras de caráter comercial, onde esses comerciantes eram denominados como burgueses. O comércio entre regiões estava surgindo e tomando cada vez proporções maiores, constituindo então a burguesia. Outro fator fundamental para a derrocada desse sistema foi o surgimento de uma nova vertente religiosa, aquela que não só era uma nova alternativa, mas sim, se colocava contra o catolicismo, questionando suas crenças e autoridades do clero, surge o Protestantismo, fragmentando o cristianismo e deixando um novo caminho para que as pessoas pudessem se desgarrar daquele absolutismo da igreja católica, muitos reis regionais, donos de feudos e a população, aderiram também ao protestantismo, fazendo com que assim houvesse mais separações entre os povos, fomentando a necessidade de mudança dentro da sociedade que já começava a dar indícios. A subordinação aos imperadores e religiosos foi perdendo a força gradativamente, tendo em vista que tinha-se o lucro nas mãos, o comércio se expandindo e agora, fora do domínio absoluto da Igreja Católica e suas definições de “usuras”. Estava se dando início a uma modificação de mentalidade popular, o impulsionamento do comércio foi tão significativo que se consolidou de tal forma que só o mercantilismo passou a limitar sua expansão, ou seja, passou-se a considerar que sim, precisavam de uma política de livre comércio, buscando crescimento e não mais se limitar apenas aos burgos ou a reis absolutistas que ainda detinham muito poder. A fé católica já tinha perdido sua força, diminuindo sua importância dentro da sociedade, o mercado, a cultura que começava a se solidificar dentro da economia, fomentou a racionalização das pessoas, ou seja, a sociedade já não mais agia simplesmente porque estava na biblía ou movida pela religião, agora a razão se tornou um fator importante para as tomadas de decisões, para a criação de identidades, esse movimento deu surgimento ao Iluminismo, conjunto de valores pautados na liberdade e razão, ideais esses que estavam pautando toda essa transposição cultural vigente na época, moldando a sociedade a partir desses ideais revolucionários. As primeiras revoluções burguesas aconteceram na Inglaterra (revolução Inglesa de 1642) em seguida Revolução Americana de 1776 e Revolução Francesa de 1789, marcada pelos ideais burgueses que influenciaram o globo, inclusive até os dias atuais. Temos como exemplo, a influência que reverberou sob a América Latina na época, com os novos padrões de civilização de sociedade que estavam em surgimento, muitas práticas já não se eram adotadas e não só isso, eram condenadas por esse novo “regime” europeu, como por exemplo a mão de obra escrava que ainda era predominante nos países sul americanos (predominantemente composto por colônias que foram de exploração), além de baratear o custo de maneira total (uma vez que o trabalho era forçado e não se existia remuneração e nem custos para isso), representava uma desvantagem comercial para os demais países que passavam a criar regulamentações e novas ordens sociais. Em linhas gerais as sociedades latino-americanas que surgiam a partir desse processo, ainda baseiam-se em princípios coloniais mesmo com a queda dos países Ibéricos como Portugal e Espanha, principais colonizadores, continuaram baseados na produção de bens primários, sempre voltados para a exportação, mantendo seu cerne. Tínhamos novos protagonistas no sistema internacional, um novo domínio que apenas enfatizou que esses países latinos, ainda iriam atuar conforme demandas externas.
QUESTÃO 2
Seguindo a linha do tempo, comecemos pelo Congresso de Viena, tal congresso
surge após duas décadas de instabilidade europeia, não só pelas revoluções que antecederam, mas também pelas guerras napoleônicas. Neste momento tinha-se a preocupação em restaurar a ordem absolutista, de recolocar os monarcas no poder e se assegurar da não separação entre Estado e religião, a prioridade era restaurar o equilíbrio perdido e também reparar a tremenda posse de territórios em nome da França devido a Napoleão. Foi um congresso inovador ao ser um tratado coletivamente assinado por potências europeias, deixando importante bagagem para as relações internacionais. Os atores envolvidos (Áustria, Rússia, Prússia, França, Grã-Bretanha, Portugal) se prontificaram a instaurar um processo do direito internacional, com a redefinição das fronteiras na europa, a retistuição de monarcas destituídos por napoleão, o congresso também tratou da questão da escravização, tratando de abolir o tráfico de escravos, também instituiram a questão da diplomacia, regulamentaram a livre navegação marítima, tendo em vista essa evolução, tanto no âmbito do direito internacional como nas relações multilaterais (que era uma novidade para época, ter países dentro de um congresso, contendo várias assinaturas), o direito internacional ganhou maior relevância e se tornou de fato eficiente, tornando-se também intervencionista em questões posteriores deste cunho. Após o fim do congresso, outras assinaturas importantes resultaram no Concerto Europeu (que foram as assinaturas do Tratado da Santa Aliança, do Tratado da Segunda Paz de Paris e também Quádrupla Aliança), como já dito, tais assinaturas, novos tratados subsequentes ao de Viena, serviram para buscar soluções para eventuais questões que representassem ameaças dentro do sistema internacional, ou até mesmo, questões humanitárias, de grande relevância. Ou seja, temos no congresso de Viena uma preocupação aparente com o sistema internacional e em como se restituir a ordem dentro do mundo pós-guerra, não só se preocuparam em sanções à França, mas sim em deixar um legado para as relações internacionais e caminhar para um progresso em diversas áreas, a redistribuição dos territórios foi pautada em cima de devolver territórios tomados e recolocar monarcas depostos no poder, já em contrapartida, não vemos nem rastros disso no Tratado de Versalhes, no pós primeira guerra mundial. No dia 8 de junho de 1919, a Primeira Guerra Mundial chegou ao seu fim, onde se assinou o Tratado de Versalhes, contendo a assinatura dos países: Estados Unidos da América, Império Britânico, França, Itália e Japão e a perdedora da guerra, Alemanha. Muitos questionamentos podem ser feitos ao analisarmos esse tratado de paz, será mesmo que o intuito era pacifíco? Ao compararmos os dois, vemos que enquanto o congresso de Viena tinha como prioridade a reestruturação do sistema internacional, o Tratado de Versalhes tinha um caráter punitivo a derrotada Alemanha. As sanções impostas vão desde uma dívida estratosférica, a também desmilitarizar totalmente o Estado Alemão, abrir mão de portos e cargas, enfim, foi punida de todas as formas a ponto de quebrar o país e desvalorizar totalmente os alemães, assim reafirma Keynes: “O sistema econômico alemão, tal como existia antes da guerra, dependia de três fatores principais: I. O comércio exterior, representado por sua marinha mercantil, suas colônias, seus investimentos estrangeiros, suas exportações e as conexões externas de seus comerciantes; II A exploração de seu carvão e ferro e as indústrias construídas sobre eles; III Seu sistema de transporte e tarifa. Destes, o primeiro, embora não menos importante, foi certamente o mais vulnerável. O Tratado visa a destruição sistemática dos três, mas principalmente dos dois primeiros.” (KEYNES, 1920, p. 43, cap.4)
A desmoralização alemã e todo esse cenário, contribuiram para tornar a
Alemanha um terreno fértil para futuras guerras, hoje se é possível compreender que tais sanções dariam vazão para a ascensão do partido nazista. Em nenhum momento o tratado de Versalhes colocou em pauta uma reestruturação do plano econômico, não assegurou os Estados, o caráter vingativo com a Alemanha se sobrepõe aos verdadeiros pontos que deveriam ter sido colocados como prioridade em um cenário pós guerra. Após a primeira guerra mundial, a economia (que ainda era no padrão ouro) mergulharam em crise, a inflação subiu muito (principalmente em território alemão), apenas as grandes potências da Guerra, como EUA e Inglaterra eram exceções, a europa se encontrava em completa instabilidade, esse período foi marcado por significativos índices de desvalorização da moeda (não havia restrições para a impressão de notas), desemprego em passa e principalmente a inflação. Como dito anteriormente, tal cenário se tornou propício para novas guerras, o contexto de instabilidade traz desequilíbrio e vazões para que outras nações enxerguem e consigam oportunidades de crescimento, tendo em vista que o sistema internacional estaria enfraquecido. A indignação alemã é um exemplo claro disso, as sanções sofridas e a desvalorização, compuseram toda uma base para o surgimento e crescimento de Hitler com o nazismo, culminando futuramente na Segunda Guerra Mundial.