Você está na página 1de 3

BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO GERAL

Desde os acontecimentos que culminaram na Revolução Francesa, ainda que


externamente distante de alcançar seu verdadeiro objetivo, as sociedades caminharam
para um novo começo, e por diversos rumos, caminhos e sendas.
No estudo e investigação do objeto que nos compete e, lógica e obviamente
marcados pelo influxo de dita revolução, duas questões se sobressaem à primeira vista;
decorrentes do Tratado de Viena, os dois problemas podem resumidos, e concatenados
como:
I. Ordenação do território, estruturação, coordenação do território e sua
formação constitutiva.
E, por outro lado, a organização formal, ou seja, as distintas formas tipológicas,
regulamentares, constitucionais etc., pelas quais os vários países, Estados, ou ainda,
“pseudo-Estados” porquanto e, sobretudo, muitos deles ainda se encontravam em estado
embrionário de formação, senão, tão somente em vias de se formar e, consequentemente
ensejar a segunda grande questão a qual nos referimos, que fora posta pelo Tratado, a
saber:
II. A forma constitucional, segundo a qual se exercitaria o poder político,
econômico, bem como a dominação social formal que se instauraria dentre e entre eles.
Assim sendo e, tendo em vista o intuito inglês, de fortalecer a “Europa central
para, com isso, fazer frente a qualquer pretensão hegemonica continental, [...] adquire,
suma importância a questão da Unidade Alemã”1, não só para os povos constituintes da
Prússia, Áustria, Alemanha e territórios subjacentes, vizinhos, mas também surge como
um problema de importância internacional.
Do ponto de vista das conjunturas históricas mundiais até então, em suas linhas
gerais, podem ser caracterizadas pelas intestinas lutas em prol, ou como na França, pela
abolição da Monarquia Absolutista, tentativas ou extinção do sistema feudal, cuja nova
sociedade, ou melhor dito, a nova forma de organização societária recaía sobre as
camadas burguesas; que poderiam, com no caso da Rússia, em sua luta contra o poder
absolutista perdurar ou ser postergada por décadas.
O forte antagonismo social entre o sistema feudal e os correspondentes
detentores do antigo poder, e o capitalismo, ou seja, entre a monarquia e a nascente
burguesia, foi menos marcado, demonstrou menos força, enfim foi menos pronunciado
1
KOSELLECK, R. p.194
na Alemanha, no recorte temporal que compreende nosso objeto de investigação, pois
estes antagonismos, tanto classistas, políticos, economicos, nos séculos XVII e XVIII
eram menos evidentes e, até mesmo, até certo ponto, “inexistentes” se comparados aos
conflitos já deflagrados em Inglaterra, por exemplo; ou se existiam eram mais
“brandos”, porquanto, essa “fragilidade” conflitual deveu-se a uma série de fatores, tais
quais: o relativo lento desenvolvimento economico e social do país:

Este antagonismo era menos forte na Alemanha do que foi na França


em vésperas da revolução, em razão do lento desenvolvimento
economico e social do país durante os séculos XVII e XVIII.
Arruinada pelo descobrimento da América e da rota marítima das
Índias, que a separava dela, em benefício das potências litorâneas
com saídas para o Atlântico. Privada de seus elementos
revolucionários pelo fracasso da guerra dos camponeses, dizimada
pela Guerra dos Trinta Anos desmembrada pelo Tratado da
Westfália e impotente para recuperar-se desse desastre por causa da
decadência economica, a Alemanha havia permanecido dois séculos
a margem da grande revolução industrial [...].2

O que, por sua vez se traduzia nas mais diversas formas organizativas, isto é, a
existência de várias “Constituições” internas, e/ou distintas formas de regulamentar e
produzir leis, direitos etc., bem como, a necessidade gerada por um debate mais amplo,
um debate geral, no qual: “introduziu nos estados ordenamentos muito diversos, desde
as antigas formas dos estamentos, até formas constitucionais” 3
Nas primeira, seguindo a tradição dos antigos estamentos germânicos, as
instituições, de maneira genérica, seguiam sendo relativamente autonomas, ou seja,
somente representavam a si mesmas; a antiga nobreza tomava e desempenhava um
papel preponderam, ao formar, corporativamente parte nas Dietas locais, o que
mantinha o poder em mãos dos antigos senhores e limitavam ao extremo mínimo
possível e necessário a participação dos camponeses.
Em outras regiões, como as que formavam a dita Alemanha Meridional, por sua
vez, admitiam um sistema bicameral; nestes a representatividade não era entendida, nem
portanto, exercida de forma estamentária; nestas regiões que contavam com o sistema
bicameral, os estamentos se concebiam como representantes de todos os “cidadãos”. O
que, se não remete diretamente, ao menos, nos recorda, nos remonta, sobretudo os
antigos direitos de sistemas individuais, isto é, os distritos eleitorais eram organizados
segundo as profissões.4 Estes são apenas alguns exemplos para ilustrar e dar uma ideia
2
CORNU, A. P.15
3
KOSELLECK, R. op. cit. p.199.
4
Idem, p.201
muito geral das cores componentes deste vasto mosaico que era então a região que
compreende o que seria a Alemanha. Que, tanto para o bem, quanto para o mal, jogou
um papel de relevante importância histórica ao longo dos séculos.
Em seus primórdios, marcada pelo fraco desenvolvimento industrial, como
tivemos a oportunidade de demonstrar, visto as séries de dificuldades nacionais, ou mais
precisamente, pela inexistência de uma unidade nacional coesa capaz de definir
objetivos internos e externos à sua política, o que por si só constituiria um notável
impeditivo para o seu desenvolvimento, relacionado a isto, também suas dificuldades
geográficas, se comparadas à outras potências da época, guerras e subsequentes
desmembramentos territoriais que apenas poderiam lançá-la à impotência, decadência
economica, atraso industrial e tecnológico, que fizeram-na permanecer nas margens da
Revolução Industrial, tendo suas tentativas de fomento à manufaturas naufragado.
Quais seriam as estruturas econômicas, políticas e sociais que poderiam
desenvolver-se nesta “terra arrasada”? Como, por onde, o que a levou e possibilitou,
apesar de todo este atraso, à Alemanha trazer ao mundo várias das mentes mais
perspicazes, brilhantes e sagazes que a humanidade jamais viu? Quais suas principais
características históricas? Como se desenvolveram estas muitas e distintas regiões?
Quais seus principais aspectos históricos, políticos, geográficos, sociais, culturais etc.?
Como se dividiam e organizavam-se? O que predicavam? Quais suas proposições
econômicas, socais e políticas? O que conseguiram? E o que nos legaram? Estas e
outras questões, tentaremos responder no decorrer deste trabalho, algumas de maneira
mais explicita e profunda, outras segundo uma perspectiva interrelacional das
conjunturas históricas.

Você também pode gostar