Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Uma tal forma de produção pressupõe uma organização deliberada do trabalho. Por
conseqüência, o trabalho é aí imediatamente social. Dizer organização deliberada do
trabalho não significa necessariamente organização consciente (nem certamente
científica), nem organização minuciosa. Muitas coisas podem ser deixadas ao acaso,
precisamente porque a atividade econômica não preside qualquer tendência para o
enriquecimento. Os costumes, os hábitos ancestrais, os usos, os ritos, a religião, a
magia, podem determinar a alternância e o ritmo das atividades produtivas. Mas estas
são sempre essencialmente destinadas à satisfação de necessidades imediatas das
coletividades e não à troca ou enriquecimento tornado um fim em si.
Embora tenha havido múltiplas formas de pequena produção mercantil teve o seu
principal desenvolvimento entre os séculos XIV e XVI, na Itália do norte e do centro,
bem como nos Países Baixos do sul e do norte, devido ao desaparecimento da servidão
nessas regiões e nessa épocas, e ao fato de que os proprietários de mercadorias, que se
reuniam no mercado, eram aí, em geral, livres e mais ou menos iguais em direitos.
3. A lei do valor
É a própria maneira como a troca é governada que assegura seus resultado, pelo menos
a médio prazo. As mercadorias trocam-se segundo as quantidades necessárias de
trabalho para as produzir. Os produtos de uma jornada de trabalho de um tecelão.
Precisamente no alvor da pequena produção mercantil, em que a divisão do trabalho
entre o artesão e o camponês não passa de rudimentar, em que muitas atividades
artesanais são exercidas ainda no centro rural, é evidente que a troca apenas em
semelhante equivalência pode fundar-se. Caso contrário, uma ou outra atividade
produtiva menos compensadora do que outra, depressa seria abandonada. Produzir-se-ia
então uma penúria neste domínio. Essa penúria faria subir os preços e, logo, a
recompensa obtida por esses determinados produtos. Por este fato, as atividades
produtivas redistribuir-se-iam entre os diferentes setores de atividade, restabelecendo a
regra de equivalência: para uma mesma quantidade de trabalho fornecido, mesma
quantidade de valor obtida na troca.
Chamamos “lei do valor” a lei que governa a troca das mercadorias e, por seu
intermédio, a repartição da forças de trabalho e de todos os recursos produtivos,
entre os diferentes ramos de atividade. Trata-se pois claramente de uma lei
econômica que se funda essencialmente sobre uma forma de organização do
trabalho, sobre relações estabelecidas entre os homens, distintas daquelas que
presidem à organização de uma economia planificada segundo os costumes ou
segundo as opções conscientes de produtores associados.
É por isso que a equivalência das jornadas de trabalho, assegurada pela lei do
valor, é uma equivalência de trabalho à media social de produtividade. Esta média,
numa sociedade pré-capitalista, é geralmente estável e por todos conhecida, porque
a técnica produtora não evolui ou só muito lentamente o faz. Dizemos pois que o
valor das mercadorias é determinado pela quantidade de trabalho socialmente
necessário para as produzir.
4. O aparecimento do capital
Na pequena produção mercantil, o pequeno agricultor e o pequeno artesão vão ao
mercado com os produtos do seu trabalho. Vendem-os a fim de comprar os produtos de
que necessitam para o seu consumo corrente e que eles próprios não produzem. A sua
atividade no mercado pode resumir-se na fórmula: vender para comprar.
O capital – porque é dele que se trata, sob a sua forma inicial e elementar de
capital-dinheiro – é todo o valor que procura apropriar-se de uma mais-valia, que
é lançado na busca de uma mais-valia. Esta definição marxista do capital opõe-se à
definição corrente dos manuais burgueses segundo a qual o capital seria simplesmente
todo o instrumento de trabalho, ou até, de forma ainda mais vaga, “todo bem durável”.
Por esta definição, o primeiro macaco que tivesse varejado uma bananeira com um pau
para apanha uma banana, teria sido o primeiro capitalista.
5. Do capital ao capitalismo
A existência do capital não se identifica com o modo de produção capitalista. Pelo
contrário, capitais existiram e circularam durante milênios antes da eclosão do
modo de produção capitalista na Europa ocidental, nos séculos XV e XVI.
6. O que é a mais-valia?
Na sociedade pré-capitalista, os proprietários de capitais, quando atuam
essencialmente na esfera da circulação, não podem apropriar-se de uma mais-valia
senão explorando de forma parasitária os rendimentos de outras classes da
sociedade. A origem desta mais-valia parasitária pode ser, ou uma parte do excedente
agrário (por exemplo, da renda feudal) de que a nobreza ou o clero são os proprietários
iniciais, ou uma parte dos magros rendimentos dos artesãos e camponeses. Esta mais-
valia é essencialmente o produto do embuste e da rapina. A pirataria e a pilhagem, o
comércio de escravos, desempenharam um papel essencial na formação das fortunas
iniciais de mercadores árabes, italianos, franceses, flamengos, alemães e ingleses, na
Idade Média. Mais tarde, o fato de comprar mercadorias em mercados longíquos abaixo
do seu valor para os vender acima desse valor em mercados mediterrânicos ou da
Europa do Oeste ou Europa central, desempenhou um papel similar.
Quando o operário inicia o seu trabalho na fábrica, ao princípio de sua jornada (ou da
sua semana) de trabalho, incorpora um valor às matérias-primas que elabora. Ao fim de
um certo número de horas (ou de jornadas) de trabalho, reproduziu um valor que é
exatamente o equivalente do seu salário quotidiano (ou semanal). Se suspendesse o
trabalho nesse preciso momento, o capitalista não obteria sequer um centavo de mais-
valia. Mas, em tais condições, o capitalista não teria evidentemente nenhum interesse
em comprar esta força de trabalho. Tal como o usurário ou o mercador da idade média,
ele “compra para vender”.
Compra a força de trabalho para obter dela um produto mais elevado do que o
que gastou para comprar. Este “suplemento”, este “excedente”, é precisamente a
sua mais-valia, o seu lucro. Entende-se pois que, se o operário produz o equivalente ao
seu salário em 4 horas de trabalho, trabalhará não apenas 4 mas 6, 7, 8 ou 9 horas.
Durante essas 2, 3, 4 ou 5 horas “suplementares”, produz a mais-valia para o capitalista,
em troca da qual nada recebe.
Porque esta massa de proletários não tem liberdade de escolha – a não ser a
escolha entre a venda de sua força de trabalho e a fome permanente – é obrigada a
aceitar como preço da sua força de trabalho o preço ditado pelas condições
capitalistas normais no mercado do trabalho, quer dizer, o mínimo vital
socialmente reconhecido. O proletariado é a classe dos que são obrigados, por esta
coação econômica, a vender a sua força de trabalho de maneira mais ou menos contínua.
Bibliografia